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Felizmente, o Leite - Neil Gaiman

23 de julho de 2016

Título: Felizmente, o Leite
Autor: Neil Gaiman
Ilustrações: Skottie Young
Tradutor: Edmo Suassuna
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Fantasia/Infantojuvenil
Ano: 2016
Páginas: 128
Nota: ★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Uma prosaica ida até o mercado se transforma numa incrível aventura no mais recente livro infantil do celebrado escritor britânico Neil Gaiman, que coloca um estranho objeto prateado no caminho de um pai que só queria comprar um pouco de leite para o café da manhã. Aliás, aquele disco prateado gigantesco estacionado em plena rua Marshall, com seres verdes um tanto gosmentos e bastante ranzinzas querendo reformar o (nosso) mundo, é só a primeira de muitas surpresas que esperam pelo zeloso pai de família na história, que inclui ainda viagens no tempo e no espaço num balão, um dinossauro inventor, navios piratas, vulcões e outras maluquices. Será que o café da manhã das crianças está a salvo? Com ilustrações incríveis de Skottie Young, Felizmente, o leite é uma história de fantasia com uma boa dose de nonsense e o senso de humor peculiar de Neil Gaiman.
Resenha: Felizmente, o Leite, escrito pelo ilustre autor britânico Neil Gaiman e graciosamente ilustrado pelo artista Skottie Young, é uma aventura hilária que traz uma metáfora bastante inteligente e apropriada para várias questões familiares e contemporâneas.

Tudo começa quando uma tradicional família fica desfalcada da mãe, que precisa viajar a trabalho e deixa o casal de filhos sob os cuidados do pai. Antes de ir ela deixa instruções sobre o funcionamento da casa e da rotina dos filhos, mas tudo indica que o pai parece estar perdido e não faz ideia do que fazer. Na primeira manhã, quando as crianças vão tomar café, elas se deparam com uma tragédia: O leite para o cereal acabou!
O pai, então, precisa sair para comprar o bendito leite, mas demora tanto que é questionado pelos filhos. Ele não tem outra saída a não ser contar sobre todas as aventuras mirabolantes pelas quais passou para conseguir trazer a garrafinha do precioso leite são e salvo e garantir o sucesso do café matinal e a satisfação das crianças.

A narrativa é feita pelo filho mais velho, desconfiado da história do pai, que inventa as mais fantasiosas e absurdas desculpas pela demora praticamente eterna em trazer o leite que as crianças tanto precisam. A filha mais nova adora essa história incrível e se deixa levar pelas mais malucas situações que o pai viveu enquanto trazia e protegia a garrafinha de leite, numa jornada inusitada com direito a abdução alienígena, dinossauro inventor, piratas, aborígenes, pôneis, viagens em máquinas do tempo e muitas confusões impossíveis e repletas de reviravoltas e outras improbabilidades.

Embora seja voltado ao público infantil, a história é muito bem construída e vai arrancar risadas e levar reflexões até mesmo para os mais velhos, mostrando que as responsabilidades pela casa e pelos filhos não devem cair exclusivamente sobre a mãe e que o casal precisa achar um equilíbrio, dividindo as tarefas domésticas e sendo responsáveis por igual pelas crianças, tudo isso através de uma narrativa lúdica, leve, recheada de criatividade e muito divertida!
As ilustrações também não ficam atrás, pois o artista consegue acompanhar e ilustrar perfeitamente bem e de forma cômica e encantadora, passando as ideias geniais de Gaiman para o papel.

Neil Gaiman não cansa de nos surpreender. Felizmente, o Leite é uma aventura divertida e super nonsense que vai agradar leitores de todas as idades.
Já li para meus pequenos e eles adoraram e riram tanto quanto eu! ♥


Jovens de Elite - Marie Lu

28 de maio de 2016

Título: Jovens de Elite - Jovens de Elite #1
Autora: Marie Lu
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: YA/Fantasia
Ano: 2016
Páginas: 304
Nota: ★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Bestseller do The New York Times com excelente repercussão entre público e crítica, Jovens de Elite é o primeiro de uma série de fantasia ambientada na era medieval e protagonizada por jovens que desenvolvem estranhas cicatrizes e poderes especiais ao sobreviverem a uma febre que dizimou boa parte da humanidade. Entre eles está Adelina, que, após se rebelar contra o destino imposto a ela por seu pai, encontra um novo lar na sociedade secreta Jovens de Elite, vista por alguns como um grupo de heróis, por outros como seres com poderes demoníacos. Heroína ou vilã? Num mundo perigoso no qual magia e política se chocam, Adelina descobre o lado sombrio de seu coração. Da mesma autora da aclamada trilogia Legend, Marie Lu, Jovens de Elite é o início de uma saga arrebatadora. Perfeita para fãs de histórias de fantasia medieval como Game of Thrones, com vilões dignos de Star Wars e X-Men.

Resenha: Jovens de Elite é o primeiro volume da trilogia homônima escrita pela autora Marie Lu, a mesma de Legend, e publicado no Brasil pelo selo Jovens Leitores da Editora Rocco.

O ano é 1361. Uma terrível doença aniquilou grande parte da população. Os sobreviventes não conseguiram escapar totalmente ilesos da febre. Seus DNA's sofreram um tipo de mutação e, por terem tido suas características físicas modificadas que os marcaram e os diferenciavam dos normais, passaram a ser chamados de Malfettos.
Os Malfettos são jovens e têm em média a mesma idade e, além de serem diferentes no que diz respeito a aparência devido as sequelas da febre de sangue, também desenvolveram alguns poderes "mutantes", logo foram humilhados, marginalizados, perseguidos pela Inquisição e condenados a fogueira.
E em meio a esse cenário, somos apresentados a Adelina, uma jovem de dezesseis anos que também teve a febre e ficou marcada com as mudanças genéticas que sofreu. Ela perdeu um olho - arrancado a fogo pelos médicos - ganhando uma cicatriz no lugar, e seus cabelos, sobrancelhas e cílios ficaram prateados. Adelina é um Malfetto e assim como os demais, também é mal vista e discriminada. Em meio a miséria que assolava os Distritos, seu pai, precisando de dinheiro, a negocia com um comerciante, mas sem intenção nenhuma de pertencer a um velho que abusaria dela, Adelina decide fugir... Mas seu plano não foi bem sucedido. Ao ser pega pelo pai, seu odio desencadeia sua força interior, ele acaba morto e Adelina é capturada pelos inquisidores e presa. Condenada a morte, a garota acaba sendo resgatada pelos Jovens de Elite. Seus poderes são únicos e logo desperta o interesse de Enzo, o líder da Sociedade dos Punhais composta pelos mais habilidosos Jovens de Elite, e a partir daí, ela seria treinada para aprimorar seu dom, que a fará mostrar o que realmente existe dentro de si...

Adelina Amouteru
Narrado em primeira pessoa de forma muito fluida e direta, acompanhamos a saga de Adelina ao fazer parte dos Jovens de Elite e seu ingresso ao Punhais. Alguns capítulos são destinados a Teren, Rafaelle e Enzo, e esses são narrados em terceira pessoa. A trama em si é muito bem construída e seu desenvolvimento é lento, o que pode deixar a leitura um pouco arrastada em alguns pontos, mas acredito que por Adelina fugir de estereótipos e clichês de protagonistas, este ritmo foi necessário para que os leitores possam se acostumar com suas características peculiares, e como ela aprimora suas habilidades - que até então ela desconhecia - de forma progressiva.
Não considerei o livro como sendo distópico, pois a única parcela da população que é perseguida e vive em condições de extrema opressão e privação são os Malfettos. O restante do povo, apesar das dificuldades e da pobreza que os assola, ainda podem ser considerados livres.
Adelina é forte e determinada, mas por tudo o que passou, ela acabou nutrindo medo e raiva, se tornando muito imprevisível e até cruel, o que, de certa forma, a caracteriza como uma anti heroína. Mesmo que o medo e a insegurança possam atrapalhar um pouco, é do ódio que Adelina carrega dentro de si que ela tira suas forças, e, diante disto, seus poderes são muito perigosos ao ponto de não ser possível distinguir o que é ilusão e o que é realidade. A personagem acaba abandonando seu senso de moralidade e se precisar manipular os outros, usar seus poderes para se dar bem em diversas situações ou até trair alguém em nome do que acredita ou quer, ela não hesita. Ao meu ver foi uma das melhores personagens do gênero que já tive o prazer de acompanhar, pois da mesma forma como ela fica indignada e se rebela contra as injustiças que as pessoas como ela sofrem, ela também se preocupa com o bem estar da irmã mostrando que apesar de tanta raiva, ela também consegue amar e se importar com os outros.
Uma das coisas que mais me agradaram no livro, além da protagonista ser uma anti-heroína, foi o fato de que houve uma mescla com fatos históricos da era medieval a fim de que o enredo tenha ganhado toques de autenticidade, como por exemplo, a carta que inicia o livro falando a respeito da misteriosa doença que acometeu os Distritos do Sudeste de Dalia, na Kenettra, datada de 1348. Embora os locais sejam fictícios, esse foi o ano em que a Europa sofreu com a Peste Negra, e em consequência da doença, a população teve sequelas irreversíveis e muitos passaram a viver às margens da sociedade, sendo considerados como a escória. Então, a ideia de que esse fato histórico possa ter servido de base para a construção de Jovens de Elite foi algo simplesmente genial! As intrigas que cercam a monarquia também foram bem construídas, mas pelo fato de este livro ser mais introdutório, espero reviravoltas grandiosas no futuro.
A autora também não economiza personagens, então se apegar a alguém pode ser uma furada visto que qualquer um podem morrer a qualquer momento...

Mesmo que o destaque maior fique em Adelina, eu gostei dos demais personagens, pois todos têm algo a acrescentar e cada um deles têm sua própria história e particularidades que os tornam únicos. Eles não são perfeitos, alguns deles tem grandes ambições que podem torná-los perigosos, mas outros são muitos amáveis e carismáticos. Enzo é o líder dos Punhais, sabe que Adelina tem grande potencial e acredita na capacidade dela. Rafaelle é o braço direito de Enzo. Ele é sempre fiel, dedicado e atencioso, e a construção da amizade com Adelina é algo bastante convincente. Ele é um jovem com gostos particulares, e sua beleza e requinte acrescentam muito à história. É como se ele trouxesse um pouco de esperança e beleza a um mundo feio e cruel, e pela sua forma de agir e ver o mundo, ele acabou se tornando meu personagem favorito.
Teren é um personagem que me deixou com várias dúvidas e ainda não formei uma opinião muito concreta sobre o rapaz... Ele é o líder dos Inquisidores, é forte e corajoso, mas ao que parece sua ligação com a rainha é algo que beneficia somente ela, e me fez acreditar que ele nada mais é do que um capacho...

O trabalho gráfico, apesar de simples, é bastante significativo, e a espada remete bem à era medieval. As páginas são amarelas e não lembro de ter encontrado erros na revisão. Há trechos de obras fictícias do universo medieval e eles sempre antecedem os capítulos destinados a Adelina. Alguns capítulos são bem curtos, e outros são mais longos de acordo com o desenvolvimento da cena em questão.

No mais, Jovens de Elite superou bastante minhas espectativas por conseguir transformar um material que poderia ser batido e clichê em algo único e original. Pra quem procura por uma aventura que promete, com personagens de moral duvidosa e dotados de poderes assustadores, é uma ótima pedida.


Meu Coração e Outros Buracos Negros - Jasmine Warga

14 de maio de 2016

Título: Meu Coração e Outros Buracos Negros
Autora: Jasmine Warga
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Drama/YA
Ano: 2016
Páginas: 312
Nota: ★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Um tema amargo, mas necessário. Em Meu coração e outros buracos negros, a estreante Jasmine Warga apresenta aos leitores um romance adolescente que aborda, de forma aberta, honesta e emocionante, o suicídio. Aysel, a protagonista, enfrenta problemas com a família e os colegas de escola, como tantos jovens por aí, e, aos 16 anos, planeja acabar com a própria vida. Mas quando ela conhece Roman num site de suicídio, em busca de um cúmplice que a ajude a planejar a própria morte, num pacto desesperado, a vida dos dois literalmente vira de cabeça para baixo. Aos poucos, Aysel percebe que seu coração ainda é capaz de bater alegremente. E ela precisará lutar por sua vida, pela vida de Roman e pelo amor que os une, antes que seja tarde.

Resenha: Meu Coração e Outros Buracos Negros, é o primeiro livro escrito pela autora Jasmine Warga e publicado no Brasil pelo selo Jovens Leitores da Editora Rocco.

Aysel Seran é uma jovem de dezesseis anos e totalmente deprimida. Além de não ter amigos, ela faz questão de afastar as pessoas ao seu redor. Aysel morava com o pai, mas após ele ter cometido um crime terrível, ela precisou ir morar com a mãe e sua família "perfeita" a qual ela sempre se sentiu deslocada e excluída. Ela trabalha como operadora de telemarketing na TMC (Tucker's Marketing Concept) oferecendo pacotes de viagens para clientes impacientes e detesta seu emprego, mas aproveita o acesso livre à internet pra poder visitar seu site favorito, o Passagens Tranquilas. Trata-se de um site para reunir pessoas que não têm mais vontade de viver e querem se suicidar de forma eficaz.
"O problema do suicídio, que a maioria das pessoas não percebe, é ser algo realmente difícil de concretizar. Eu sei, eu sei. As pessoas sempre ficam de mimimi dizendo que o 'suicídio é uma saída covarde'. E acho que é mesmo... quer dizer, estou desistindo, me rendendo. Fugindo do buraco negro que é meu futuro, me impedindo de crescer e virar a pessoa que tenho pavor de me tornar. Mas o fato de ser uma saída covarde não garante que vá ser fácil."
- Pág. 15-16
E é no Passagens Tranquilas que Aysel se depara com a mensagem de "RobôCongelado", apelido de seu "parceiro de suicídio", Roman. Quando eles se encontram e começam a acertar os detalhes da morte, que seria em menos de um mês, Aysel não compreende o motivo de um garoto popular, cercado de amigos, bonito e amado pela família ter chegado a esse ponto de querer acabar com a própria vida. Mas a medida que eles se aproximam mais, Aysel descobre que ainda é possível encontrar a felicidade, e ela começa a se questionar se morrer vai resolver seus problemas e se é algo que valerá a pena... O problema é que Roman já está decidido...

Depressão é um tema delicado e bastante pesado a ser tratado, e neste livro, em particular, a autora conseguiu abordá-lo mostrando o problema da forma como ele é de forma nua e crua, mas com naturalidade o bastante pra poder dar toques de bom humor. Então embora seja carregado de melancolia e morbidez, o que com certeza vai emocionar qualquer leitor, ainda consegue mostrar o amor numa forma pura e bonita entre personagens fortes e autênticos, mas pungentes e imperfeitos.
A escrita da autora beira o poético, pois o texto é repleto de significados e é possível tirar várias frases de efeito que realmente faz com que o leitor reflita sobre o quão são verdadeiras, principalmente para aqueles que já sofreram de depressão em algum momento da vida ou apenas conviveram com alguém afetado. Levando isso em consideração, a sensação é de que o livro foi escrito especialmente pra essas pessoas, ou pelo menos vão ser as que mais irão se identificar com a situação.
Narrado em primeira pessoa, temos o ponto de vista da protagonista para tudo o que está a sua volta, desde o quanto seu emprego a incomoda, como ela encara a questão do suicídio, como ela sente que é vista pelos outros devido ao crime que seu pai cometeu, como ela encara o relacionamento em casa com a mãe e os meio-irmãos até como ela se sente quando está ao lado de Roman.

A capa possui uma tipografia que lembra tinta, e acredito que o preto utilizado foi proposital pra ilustrar a "lesma preta" (a depressão) de que Aysel tanto fala.Os capítulos são datados com uma contagem regressiva de quantos dias faltam para Aysel colocar seu plano em prática.
Aysel consegue expor seus sentimentos de forma confusa mas verdadeira. Ela é impaciente e não tem muito bom humor, mas consegue ser engraçada em suas atitudes. Como ela é uma grande amante de física, vários de seus questionamentos e teorias tem a ver com tais conceitos, como o da energia potencial e o que acontece com a energia de um corpo quando a pessoa morre.
E Roman é o tipo de personagem relutante, teimoso e ele simplesmente não quer ter esperanças. Ele decidiu que não quer que nada seja um motivo pra ele desistir do suicídio que planejou, logo é perceptível que seu problema é sério e que isso o deixou arruinado, e confesso ter ficado com o coração na mão por diversas vezes ao ler as descrições de Aysel a respeito dele e do que acontecia.
Eles são personagens ácidos e o que os tornou assim foi a própria depressão, mas é exatamente esse ponto na personalidade dos dois que torna a leitura mais leve, inteligente e envolvente.

Meu Coração e Outros Buracos Negros é um livro comovente, que lida com a depressão de forma realista mas mostra que, apesar de toda a escuridão que a pessoa pode se encontrar, sempre haverá uma esperança, basta a pessoa ter forças para se agarrar a ela.


Pela Noite Eterna - Veronica Rossi

12 de maio de 2016

Título: Pela Noite Eterna - Never Sky #2
Autora: Veronica Rossi
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Distopia/YA
Ano: 2016
Páginas: 304
Nota: ★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Ambientada 300 anos após uma catástrofe que devastou a Terra, num mundo dominado por um governo autoritário disposto a manter o poder a qualquer preço, a trilogia Never Sky acompanha a saga da jovem Aria, ex-moradora de Quimera, um núcleo de civilização protegido por um domo e sem qualquer contato com o mundo exterior, e Perry, considerado um Forasteiro. Se no primeiro volume da série, Sob o céu do nunca, os destinos dos jovens se cruzam numa improvável (e perigosa) aliança pela sobrevivência, agora, em Pela noite eterna, eles anseiam por um reencontro. Mas muitos obstáculos e algumas armadilhas se impõem no caminho dos dois. Fantasia, ação, ficção científica e uma história de amor inesquecível fazem da série de Veronica Rossi um mundo perigoso e cruel, mas ao mesmo tempo belo e digno da tradição de sagas como Jogos Vorazes e Divergente.

Resenha: Pela Noite Eterna é o segundo volume da trilogia Never Sky, escrita pela autora brasileira Veronica Rossi e publicado pelo selo Jovens Leitores, da Editora Rocco.
A continuação se passa logo após os acontecimentos do primeiro livro, Sob o Céu do Nunca.

Alguns meses se passaram desde que Perry se tornou o líder dos Soberanos de Sangue em sua comunidade e que Ária descobriu o que aconteceu com sua mãe. Prestes a se reencontrar, o casal anseia por ficar juntos, mas a tribo não aceita Ária muito bem já que ela é uma ex-Ocupante.
A Tempestade de Éter vem piorando cada vez mais, Perry lida com as dificuldades de liderar a comunidade e a única esperança que lhes resta é encontrar Azul Sereno, um paraíso que muitos não acreditam existir. E em meio a tantos perigos e questões de sobrevivência, Ária e Perry não sabem como enfrentarão a noite eterna.

O livro é narrado em terceira pessoa e os capítulos se alternam entre Ária e Peregrine.
A escrita da autora é ótima, fluída e mantém o leitor envolvido o tempo todo. As descrições dos personagens são muito bem feitas mas o destaque fica para o cenário, principalmente devidos aos sons e odores que os envolvem. É praticamente possível nos imaginarmos junto com os personagens, vendo e sentindo as mesmas coisas que eles. O cenário em si ganha muito destaque devido ao territóio hostíl e áspero além das consequências trazidas pelo Éter.
O primeiro livro havia sido publicado em 2013 pela Prumo, que pertencia à Rocco, mas com o fim do selo ele foi relançado sob novo projeto gráfico para acompanhar a obra original e combinar com a capa desse segundo volume. Eu gostei mais da primeira capa pois os detalhes e o efeito realmente lembram um ar etéreo, mas as capas novas também são bem bonitas apesar da aparência "limpa" dos modelos nas capas não combinarem muito bem com o que imagino no cenário hostíl em que a história se passa.

Esta sequência traz novos personagens além dos personagens anteriores estarem bem mais desenvolvidos, mantém os elementos chave da trama que é apresentada com um avanço considerável, e ainda se aprofunda aos detalhes tornando o livro ainda melhor do que o primeiro, principalmente por esclarecer questões que ficaram em aberto anteriormente. O ritmo é acelerado, os relacionamentos são bem aprofundados e desenvolvidos, os personagens possuem personalidade forte e as dinâmicas de caráter são bem trabalhadas, há ação, emoção e todos esses aspectos tornam Pela Noite Eterna uma história de tirar o fôlego.
Os personagens secundários ganham destaque e mostram que são fundamentais para o desenrolar da história, todos bem construídos e marcantes.
Ária é uma protagonista que demonstra um grande crescimento ao longo da trama, tanto físico quanto emocional. Ela é independente e, apesar de ainda precisar amadurecer em alguns pontos, suas atitudes e escolhas evidenciam o quanto ela é corajosa.
Perry já enfrentou muitas dificuldades e ainda carrega muitos conflitos internos em si, mas ele também progride bastante sem deixar sua dedicação às pessoas que estão à sua volta de lado. Suas caracterírticas são preservadas de forma que, apesar de seu crescimento, ele não tenha sofrido mudanças drásticas de personalidade ou caráter.
O romance não fica atrás. Ária e Perry formam um dos casais mais brilhantes do gênero. O romance é crível e verdadeiro e, embora seja um fator importante, não se sobrepõe a outros elementos da história.
Gostei muito do relacionamento de amizade verdadeira entre Ária e Roar. A dinâmica é pontual e comovente e mostra que é possível, sim, haver amizade entre homem e mulher sem envolver outras intenções. Fica claro que eles são unidos, se preocupam um com o outro de forma muito especial e o sentimento que eles têm um pelo outro nunca irá ultrapassar as barreiras da amizade.

Pela Noite Eterna é uma das melhores sequências que já li e o final foi perfeito! Pra quem gosta de distopias voltadas ao público jovem adulto com todos os elementos necessários pra que ela seja um sucesso, vai adorar!


O Túmulo da Borboleta - Anne Cassidy

20 de fevereiro de 2016

Título: O Túmulo da Borboleta - The Murder Notebooks #3
Autora: Anne Cassidy
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Tradutora: Viviane Diniz
Gênero: Juvenil/Policial/Mistério
Ano: 2016
Páginas: 272
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Depois de Hora morta e A morte de Rachel, a série de suspense The Murder Notebooks chega ao seu terceiro volume, O Túmulo da Borboleta, levando os jovens Rose e Joshua a Newcastle, onde o tio de Joshua está internado e onde os dois descobrirão fatos surpreendentes sobre seus pais e o mistério que cerca seu desaparecimento. Decididos a investigar o paradeiro de Kathy, mãe de Rose, e Brendam, padrasto da garota e pai de Joshua, os dois adolescentes se veem enredados numa trama de perigos e segredos que envolve uma tatuagem de borboleta e seis cadernos com anotações em código, mapas e foto que eles terão que desvendar se quiserem descobrir o que realmente aconteceu. E principalmente se quiserem sobreviver.

Resenha: The Murder Notebooks é uma série composta por quatro livros que giram em torno de Rose e Joshua e dos mistérios que rondam suas vidas. Os livros são de autoria de Anne Cassidy e no Brasil são publicados pelo selo Jovens Leitores da Editora Rocco.
No primeiro volume somos apresentados ao casal de irmãos postiços que após o sumiço dos pais foram morar com parentes até se reencontrarem, e a partir daí passaram a procurar os pais enquanto investigavam algum mistério envolvendo assassinatos que eles acabam envolvidos.

Em O Túmulo da Borboleta, terceiro livro da série, a história é iniciada com um acidente nos penhascos de Cullercoats que o tio de Joshua, Stuart Johnson, sofreu, Tio Stu é levado para o hospital em Newcastle e Joshua e Rose partem para a cidade a fim de tomar conta do tio. A presença na cidade onde Joshua e o amigo cresceram é ótima, de uma nostalgia sem tamanho, mas o que eles não esperavam era descobrir uma pilha de provas sobre um caso de assassinato que ocorreu há vários anos além de descobrirem que tio Stu guarda segredos, incluindo o fato de que ele ainda tem contato com o pai de Joshua, Brendam. Com a ajuda de Skeggsie, os garotos conduzem a própria investigação sem imaginar as surpresas que viriam a descobrir...

A leitura é fácil, mas mesmo que seja um thriller voltado ao público juvenil não achei muito fluída, talvez pelo próprio gênero a que se destina. Mas mesmo que o ritmo da leitura e dos acontecimentos sejam lentos, tudo é bastante interessante de se acompanhar.
O livro é narrado em terceira pessoa e um ponto bacana é que a voz narrativa também faz indagações acerca de acontecimentos dos quais os protagonistas estão envolvidos, e dessa forma o leitor é convidado a questionar os detalhes, se atentar às pistas que são deixadas e ter um envolvimento maior com a trama, principalmente no que diz respeito ao desaparecimento dos pais de Joshua e Rose. Enfim é possível saber o que diabos está acontecendo com os pais de Joshua e Rose e esse fato dá um gás maior à leitura pelas peças, enfim, começarem a se encaixar, então posso dizer que a ideia de ler os livros fora de ordem não é tão boa assim, mesmo que os casos paralelos sejam resolvidos em cada um deles...
A trama continua tendo o mesmo estilo dos livros anteriores, em que o mistério principal fica a cargo do desaparecimento dos pais enquanto há outros em pararelo, e nesse caso o mistério é sobre a queda de Sturat nos penhascos e a descoberta do assassinato ocorrido há anos entitulado o Caso Borboleta.
Esse caso também é bastante interessante pois ele é sobre uma garota de dez anos que foi encontrada morta após ter se passado cinco dias em que desapareceu num estacionamento de supermercado e o culpado nunca foi acusado, logo fica no ar o que tal caso tem a ver com tio Stu e o mistério dos pais dos dois protagonistas.
Os personagens sofrem algumas mudanças e um acontecimento inesperado com um deles é responsável por toda uma reviravolta na história.
Joshua costumava ser um jovem tranquilo e pé no chão, mas passa a se tornar bastante grosseiro com Rose além de ficar extremamente individualista e mal humorado. Já Rose passa a ficar acuada devido as represálias de Joshua, mas é partir desses pontos que ela mostra que embora seja tímida e insegura, principalmente com relação ao que sente por ele, tem os sentidos aguçados e é muito inteligente, tanto que decide investigar as coisas sem depender dele.
Um dos pontos que mais gostei foi a exploração acerca do passado de Rose e mais sobre a vida de Joshua e o amigo Skeggsie que se desenrolaram antes do início da série.

A capa também é bem sugestiva pois além de evidenciar a borboleta (que está presente em todos os livros, seja na capa ou na diagramação) mostra o penhasco que é cenário do acidente abordado na história. A tipografia também é ótima pois lembra um scrapbook ou algo relacionado a arquivos. A capa é fosca e há aplicação de verniz sobre a borboleta, títulos e nome da autora, dando um visual bem bonito e caprichado à ela.
As páginas desta edição são brancas, os capítulos são apresentados através de numerais romanos e a cada início deles há uma borboleta ilustrando o canto superior da página. Não percebi erros na revisão e de forma geral o trabalho gráfico é super satisfatório, principalmente pelas capas da série combinarem entre si.

O Túmulo da Borboleta é um volume bastante importante e que acrescenta muito à série e, mesmo que tenha uma carga emocional maior do que os outros livros, já que tráz o passado à tona e ainda se aprofunda num crime bárbaro envolvendo uma criança indefesa mexendo com os sentidos dos protagonistas, mostra personagens vulneráveis mas mais maduros. O mistério é bem desenvolvido e unido isso ao fato de a leitura ser bem sólida, fiquei super curiosa para saber o que virá no próximo livro.


Cress - Marissa Meyer

8 de janeiro de 2016

Título: Cress - As Crônicas Lunares #3
Autora: Marissa Meyer
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Distopia/Juvenil/ Ficção
Ano: 2015
Páginas: 496
Nota: ★★★★★
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Neste terceiro livro da série Crônicas Lunares, Cinder e o capitão Thorne estão foragidos e agora levam Scarlet e Lobo a reboque. Juntos, eles planejam derrubar a rainha Levana e seu exército. Cress talvez possa ajudá-los. A garota vive aprisionada em um satélite desde a infância, com a companhia apenas de telas, o que fez dela uma excelente hacker. Coincidência ou não, infelizmente ela também acabou de receber ordens de Levana para rastrear Cinder e seu bonito cúmplice. Quando um ousado plano de resgatar Cress dá errado, o grupo se separa. Cress enfim conquista a liberdade, mas o preço a se pagar é alto. Enquanto isso, Levana não vai deixar que nada impeça seu casamento com o imperador Kai. Cress, Scarlet e Cinder talvez não tenham a intenção de salvar o mundo, mas muito possivelmente são a última esperança do planeta.

Resenha: Quando iniciei a série As Crônicas Lunares, confesso que, inicialmente, fui fisgada pela capa de Cinder, mas não esperava nada grandioso que me fizesse ficar maluca pela história. Obviamente minhas expectativas foram totalmente superadas e me tornei uma enorme fã da série, da autora e das personagens únicas que ela criou ao se basear em personagens vindas de contos de fadas.
Afinal, o que esperar de uma versão meio ciborgue da Cinderela que trocou o sapatinho por uma perna biônica e muita graxa? Como não amar uma versão de Chapeuzinho Vermelho que trocou a cesta de doces por um revólver e caiu nas graças de um lutador chamado Lobo? Cinder e Scarlet, as protagonistas, me conquistaram a primeira vista e por mais que cada livro seja destinado a uma personagem diferente, a vida de todas estão entrelaçadas devido as questões políticas que envolvem a iminente guerra entre Luna e o planeta Terra.
Eis que a autora conseguiu inovar ainda mais no terceiro livro da série. Depois de tantas questões envolvendo política e poder, temos Cress, baseada em Rapunzel.

Enquanto o príncipe Kaito está em apuros devido ao seu casamento nada desejado com a rainha Levana estar próximo, há sete anos Cress vive presa em um satélite servindo como instrumento para ajudar na dominação da Terra. Sua única companhia, além de si mesma, é seu protótipo com inteligência artificial que ela chama de Pequena Cress. Ela é uma hacker e frequentemente obtém informações da Terra para Sybil, a taumaturga braço direito da terrível rainha Levana. Com Cinder sendo procurada, sua missão principal é encontrá-la através dos rastros deixados em quaisquer vias de comunicação online além de fornecer qualquer tipo de informações que colabore para a conquista.
Mas sua curiosidade pela Terra e pela cultura do povo vão além dos interesses que a mantém hackeando sistemas e, devido aos últimos acontecimentos, e por não ser nada ingênua, ela acaba ajudando Cinder e seus aliados, Scarlet, Lobo, Thorne e Iko (Iko ♥) que estão a bordo da Rampion em segredo. Ela sempre soube a localização da tripulação, mas escondeu tudo o que sabia de Sybil passando algumas informações inúteis que não a levava em lugar algum.

Após um contato breve, Cress dá sua localização e espera ser resgatada por Cinder, mas o plano ousado acaba não saindo conforme deveria... Apesar de ter conseguido fugir do satélite, o grupo fica desfalcado de alguns membros que, por motivo de força maior, acabam seguindo por um outro caminho... Agora, ao lado Cinder e Thorne, Cress mostra que sua disposição para entrar na batalha não vai ser perdida tão facilmente e, mesmo que pareça frágil, toda a sua força virá a tona.

Narrado em terceira pessoa em capítulos curtos e alternados, Cress é um tipo de leitura completamente viciante. A fluidez da escrita somada à criatividade e à originalidade da trama surpreendem. A sensação é de puro êxtase do início ao fim. Os capítulos se alternam de forma que os personagens, independente de onde tenham ido parar, ganhem foco e destaque.
Eu adorei Cress, ou como é seu nome verdadeiro, Lua Crescente. Cress não é apresentada como uma jovem inteiramente sã. Por mais inteligente que seja, os anos em confinamento e solidão meio que foram responsáveis por deixá-la meio maluca e desajeitada. Em suas horas livres seu passatempo era ler romances, buscar informações sobre os tripulantes da Rampion, ler mais romances, stalkear Thorne, ler mais, e idealizar uma vida pra si mesma longe daquele satélite, longe de Sybil, sonhando como seria se fosse livre e pudesse estar nos braços de um cara forte e corajoso, como Thorne... É claro que ela tem consciência de que um "anti-herói do bem" como Thorne jamais poderia ser considerado um príncipe encantado e esses pontos construíram uma personalidade que fez dela uma personagem única e divertida, que deu um ar leve e descontraído para que a história não fosse totalmente sangrenta, sombria e pesada.

A autora mantém as personagens dos livros anteriores e dá espaço a todas elas sem que nenhuma fique de lado ou com menos importância. Cada uma das protagonistas tem um papel distinto e a cada nova descoberta aprendem mais, ganham mais experiência e amadurecem.
A série, de forma geral, parece estar numa fase diferente da que encontramos nos outros livros, já que é possível perceber que devido a situação política, a realidade está mudando e se tornando ainda pior do que antes, e é isso que dá o ar sombrio à história. As Crônicas Lunares é um conto de fadas sangrento, a questão da Letumose ganha uma nova abordagem e as coisas estão bem piores do que imaginavámos...

Os personagens são ótimos, suas personalidades são marcantes e os tornam únicos. Ao lermos os pontos de vistas de cada um deles, podemos distinguir um do outro com facilidade pois a personalidade e o jeito de ser parece estar entranhado em cada atitude ou modo de falar.
É um livro rápido de ser lido pois tudo é muito ágil e dinâmico, sempre está acontecendo algo com alguém em algum lugar e não há brechas para tédio. As caminhadas no deserto parecem ser cansativas a princípio, mas acabam sendo uma grande aventura, perfeita para nos aprofundarmos um pouco mais nos personagens e conhecê-los e admirá-los ainda mais já que se metem em situações não muito favoráveis.

Achei Kaito um tanto idiota pois a rainha parecia sempre estar dez passos a frente dele. Ele deveria ter mais maturidade para governar e bolar estratégias de guerra, ou pelo menos algo que pudesse ser usado para impedir ou atrapalhar o glamour dos lunares (o poder de "hipnose" que eles tem, resumindo a ideia). Se não sabe nada ou tem medo, chame alguém que saiba e possa ajudá-lo! Mas não... É completamente angustiante acompanhar o desespero dele e perceber o quanto ele está despreparado quando o assunto é a rainha, o casamento e o que tal golpe iria implicar para o império caso ela tomasse o poder na Terra, e em vez de ele tomar uma atitude digna da posição que ocupa, prefere ficar encolhido pelos cantos. Vamos crescer e aparecer, amigo.
Um ponto hilário é o sarcasmo de Thorne. O que é esse cara, gente? As cenas dele com Cress são impagáveis e dignas de risadas altas. Ele se tornou um dos meus personagens preferidos por ser tão impossível.

A capa dispensa maiores comentários. É linda de viver e ilustra até a mania de Cress ao enrolar o próprio cabelo no braço. A diagramação é caprichada. O livro é dividido em quatro partes e cada uma delas tem ornamentos e uma frase que serve de entrada para o capítulo que vem a seguir separando bem a história. As páginas são amarelas e a revisão está impecável.

Posso dizer que Cress deu um up na série e é o melhor dos três até agora. O livro tem ação, consegue emocionar, causa indignação devido as injustiças que acontecem e ainda nos arranca risadas!
Eu estou simplesmente morta feat. enterrada com essa série viciante que consegue misturar tantas questões sérias sem tornar nada confuso, e não vejo a hora da Rocco lançar a sequência, Winter. A capa consegue ser ainda mais linda do que as dos outros livros juntas, espiem:


Série mais do que recomendada!

A Arte de Ser Normal - Lisa Williamson

7 de dezembro de 2015

Título: A Arte de Ser Normal
Autora: Lisa Williamson
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Romance/YA
Ano: 2015
Páginas: 384
Nota: ★★★★★
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: David Piper tem 14 anos e um desejo: "Quero ser uma menina". Mas este é um segredo que ele compartilha apenas com Essie e Felix, seus únicos amigos, pelo menos até a chegada de Leo Danton à escola Parque Éden. Apesar de muito diferentes e cada um guardando um segredo próprio, David e Leo iniciam uma profunda amizade, que é a base do elogiado romance de estreia da atriz e escritora britânica Lisa Williamson. Com diálogos engraçados e relatando situações cotidianas na vida de adolescentes, a autora consegue abordar a delicada e muito atual questão da identidade de gênero de maneira leve e nada apelativa, numa narrativa que conquista o leitor da primeira à última linha.

Resenha: Muitas crianças sonham com o que serão quando crescerem... médicos, bombeiros, professores, mas David Piper, de 14 anos, quer ser uma menina.
Essie e Félix são os melhores - e únicos - amigos que sabem de seu segredo, e David só quer ter coragem para assumir sua condição diante de seus pais. Ele se sente infeliz estando preso num corpo de menino. No fundo ele sabe o que precisa fazer para se tornar quem é realmente, só não teve oportunidade ainda e continua mantendo seu segredo bem guardado.

Leo Danton é o garoto novo que acabou de chegar na escola no meio do ano letivo. Tudo o que ele queria era passar o ano despercebido e invisível, mas acaba chamando atenção quando defende David durante um ataque de bullying que ele estava sofrendo de um dos valentões da escola.
Após o ocorrido, David faz de tudo para se aproximar e ter uma amizade com Leo. O que ele não sabia, era que Leo mudou de escola por uma razão em particular, e David está prestes a ser o único a saber de seu segredo.
A aproximação é inesperada e a partir daí as histórias desses dois adolescentes, que tem vidas diferentes e um segredo em comum, começa a se desenrolar.

David vem de uma família tradicional, com pais amorosos que lhe proporciona uma vida confortável e, até certo ponto, feliz, numa casa acolhedora e aconchegante. Seu corpo vem se desenvolvendo de uma forma que não o agrada e ele faz relatos do seu descontentamento com relação às inspeções que faz em si próprio e o quanto odeia aquele órgão intruso no meio de suas pernas.

Ao contrário de Leo que se encontra numa realidade oposta, e junto com as irmãs vive numa casa deplorável com a mãe relapsa que troca de namorado como quem troca de roupa.
Leo é misterioso quando chega ao colégio e gosta da ideia de que sua cara fechada e o suspense que faz sobre seu passado serem fatores que colaboram para que os outros mantenham distância, por medo dele, do que é capaz ou coisa do tipo. Porém seu plano não é muito bem sucedido quando ele conhece Alicia e quando David de aproxima dele forçando uma amizade que, a princípio, ele não queria.

As duas histórias comovem a sua própria maneira, e dão o equilíbrio certo a trama quando o assunto é desenvolvimento e sensibilidade, além de ter toques de muito bom humor.

Narrado em primeira pessoa com pontos de vista bem distintos que se alternam entre David e Leo, é possível perceber que A Arte de Ser Normal não é um livro, como o próprio título diz, sobre o "problema" da transexualidade. David não vê problemas em ser transgênero e se considera uma pessoal normal como qualquer outra, ele só se preocupa com a forma como irá comunicar sua condição à família. Sua mãe, por exemplo, desconfia que ele seja gay, mas não toca no assunto. Na escola ele é tratado como "Show de Aberrações" e ele só quer terminar logo o ensino médio pra ficar livre disso tudo.

Os diálogos são dinâmicos em meio a um enredo que evidencia as situações rotineiras de adolescentes que estão crescendo e descobrindo sobre a própria sexualidade. O fato de David ser um transgênero é só um detalhe que define sua condição e que faz com que ele não esteja completamente feliz e satisfeito com quem ele é.

Confesso ter sentido falta de um aprofundamento maior sobre detalhes com relação a características físicas e até a construção de personagens secundários que fazem diferença e tem importância na vida de David e Leo, mas o tema central foi desenvolvido de uma forma tão bonita que acabei relevando tais considerações.

A Arte de Ser normal é o tipo de leitura que desafia a ideia do que ser "normal" significa e não vacila em momento algum ao abordar os temas que engloba. A autora consegue abordar esse assunto, que ainda é bastante polêmico e delicado, de maneira nada apelativa ou forçada, sem cair no clichê de construir uma história que tem o bullying como base. O bullying existe, não nego, mas ele serve apenas de estopim para a construção de algo que vai além.
A história fala sobre a diversidade, o sistema de classes, família, amizade, incertezas, aceitação, amor e de relacionamentos conturbados que adolescentes normais enfrentam no dia a dia.

É o primeiro livro que tive o prazer de ler que oferece uma abordagem sobre a identidade de gênero, assim como a sexualidade e seus dilemas, que tem o poder de ser bastante esclarecedor pra quem tem dúvidas ou preconceitos contra a questão da transexualidade. A autora presenteia os leitores com um romance juvenil e contemporâneo escrito com sutileza, emoção e muito respeito.

É um livro muito delicado e bonito, que traz uma mensagem maravilhosa e que deveria não ser apenas lido, mas também apreciado e sentido com o coração.

Alma Negra - Holly Black

5 de dezembro de 2015

Título: Alma Negra - Mestres da Maldição #3
Autora: Holly Black
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Juvenil/Fantasia/Sobrenatural
Ano: 2015
Páginas: 336
Nota: ★★★★★
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Cassel Sharpe cresceu achando que era um ser humano comum, sem habilidades especiais, até descobrir que estava sendo manipulado por seus irmãos para se tornar um trapaceiro e assassino. Afinal, ele é um tipo raro e muito poderoso de mestre da maldição, capaz de transformar objetos e seres vivos em algo completamente diferente com um simples toque. Depois de Gata Branca e Luva vermelha, o jovem está decidido a deixar o passado de fora da lei para trás. Mas para isso tem que tomar decisões difíceis, como se afastar de seu grande amor, e reaprender a distinguir a linha tênue que separa o certo do errado, a verdade da mentira – mesmo com seu coração, e sua vida, correndo risco. Com uma trama envolvente, Alma negra é o eletrizante desfecho da trilogia Mestres da Maldição.

Resenha: Alma Negra é o terceiro volume da trilogia Mestres da Maldição, escrita pela autora Holly Black e publicada no Brasil pelo selo Rocco Jovens Leitores.

Por se tratar de uma continuação, a resenha contém spoilers dos livros anteriores!

Cassel Sharpe é um adolescente que cresceu num mundo onde a magia é considerada um crime e sua própria família se aproveitava disso para darem golpes nos outros. Ele pensava que não possuia habilidades mágicas, mas acabou se surpreendendo quando descobriu que ele era um Mestre da Transformação, cujo poder era o maior e mais raro no meio mágico... No passado, seus irmãos mais velhos se aproveitaram de tal dom e em seguida apagaram a memória de Cassel para que ele não se lembrasse do que havia feito de terrível. Ele ainda acreditava ter matado sua melhor amiga por quem era apaixonado, Lila, mas com o passar do tempo descobriu que ela havia sido transformada em gata.
O problema maior era que a garota era filha de mafiosos e Cassel se viu numa situação perigosa demais para lidar de forma fácil. Zacharov, o pai de Lila, queria que Cassel trabalhasse pra ele, pois seus poderes eram muito valiosos. O garoto acabou ficando entre o certo e o errado pois os federais também ficaram em seu encalço. Entre servir à máfia ou o FBI, Cassel resolveu ficar do lado da lei, mas tal escolha fez com que ele e Lila se afastassem.

O FBI quer que Cassel use seus poderes para neutralizar Patton, o governador e também ex-namorado de sua mãe. patton é o cabeça da caça aos Mestres da Maldição.
Obviamente, Zacharov não ficou nada satisfeito com a recusa de Cassel em trabalhar pra ele, então sequestra sua mãe e o chantageia para que ele recupere um tesouro que poderia por sua vida em risco, mas se Zacharov descobrir que Cassel está ajudando o FBI, sua vida também estará em risco.

O livro é narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Cassel e a escrita continua uma delícia de se acompanhar. Envolvente, fluida e viciante!
A jornada de Cassel para encontrar seu lugar no mundo continua, sem descanso, e nada na vida desse garoto é simples ou fácil, principalmente quando sua própria família quer usá-lo e o resto do povo vive o ameaçando, chantageando ou lhe prometendo coisas impossíveis. Cassel só tem que decidir o que é o certo, escolhendo um lado a seguir, mas que lado seria esse?

A autora, enfim, deu explicações para o que ficou em aberto no livro anterior e as coisas parecem fazer mais sentido. O livro tem um foco bem grande nas consequências das escolhas de Cassel, então o garoto luta para que suas decisões sejam as mais corretas possíveis. Até mesmo na Academia Wallingford vemos que Cassel faz de tudo para ter boas notas e não transgredir regras para não ser visto como um problema.
Um ponto bacana é que Cassel continua hilário e várias de suas atitudes ou pensamentos nos fazem rir alto. O coitado ainda fica num enorme dilema quando o assunto é Lila, pois ela deu grandes indícios de que seguiria no mundo do crime, se integrando à máfia junto com seu pai.

A capa é bonita e combina com as demais, o título é em alto relevo e a diagramação é simples. Páginas brancas, fonte num tamanho agradável e não lembro de ter percebido erros na revisão.

Alma Negra, se comparado aos demais livros da trilogia, parece ter uma profundidade e peso maior no que diz respeito as maldições pois, enfim, o leitor fica por dentro dos perigos reais que a magia oferece, além de abordar temas como intolerância e até tráfico humano. É um livro um pouco mais sombrio devido aos temas e a alguns acontecimentos, mas ainda assim escrito de uma forma leve o bastante para torná-lo divertido, sem contar com o humor negro que torna o livro bastante peculiar.
Cassel é um ótimo protagonista e somando sua personalidade e seus feitos com o enredo, só posso dizer que a trilogia foi fechada com chave de ouro.
O mundo criado por Holly Black é único, incrível e muito rico, e se você procura por uma fantasia urbana bastante original e viciante, corre pra ler!

A Bela e a Adormecida - Neil Gaiman

2 de dezembro de 2015

Título: A Bela e a Adormecida
Autor:  Neil Gaiman
Ilustrações: Chris Riddell
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Juvenil/Fantasia/Releitura
Ano: 2015
Páginas: 70
Nota: ★★★★★
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Em uma sombria e fascinante história, as mais queridas princesas dos contos de fadas são reinventadas de maneira brilhante pelo inglês Neil Gaiman e o ilustrador Chis Riddell.
Em A Bela e a Adormecida, uma jovem rainha é informada, na véspera de seu casamento, sobre uma estranha praga que assola as fronteiras do seu reino, um sono mágico que se espalha pelo território vizinho e ameaça os seus domínios. Na companhia de três anões, a rainha abandona o fino vestido da festa, pega sua espada e armadura e parte pelos túneis dos anões para o reino adormecido. Uma viagem repleta de ação e suspense que leva a uma surpreendente descoberta. Misturando o conhecido e o novo com perfeita sintonia, Gaiman cria mais uma obra repleta de magia e aventura capaz de hipnotizar o mais exigente dos leitores.

Resenha: A Bela e a Adormecida é uma releitura que mescla dois contos de fadas reinventados de uma forma genial pelo autor inglês Neil Gaiman. As ilustrações de Chris Riddell colaboram imensamente para que o livro possa ser considerado uma verdadeira obra de arte.

No conto, os nomes de personagens não são mencionados, mas sabemos de quem se trata devido a pequenas informações dadas no decorrer da leitura.
Uma jovem rainha está pra se casar e três anões decidem presenteá-la com a melhor e mais bonita seda do mundo, mas durante a viagem para conseguirem tal presente, eles são alertados de que uma jovem do reino pra onde estavam indo fora amaldiçoada quando nasceu, e a praga estaria se alastrando para os vilarejos vizinhos, fazendo com que todos caíssem em sono profundo. A jovem dormia em seu castelo e, embora muitos tenham tentado atravessar a floresta, todos falharam na tentativa de acordá-la de seu sono mágico pois nem ao menos conseguiram chegar até ela.
Temerosos, os anões retornam para contar à rainha sobre a maldição. Os anões acreditavam que a experiência da rainha de ter dormindo por um bom tempo poderia ajudar para que tal maldição fosse quebrada, tirando a princesa de seu sono eterno. Ela deixa seu vestido fino e delicado de lado, veste sua armadura, empunha sua espada, e, na companhia dos três anões, parte para o reino adormecido.


O trabalho gráfico é maravilhoso e bastante requintado. O livro é grande e em formato hardcover. A jacket possui transparência de forma que a ilustração da capa apareça e os detalhes nas ilustrações internas são dourados. As ilustrações de Chris Riddell possuem traços finos, por vezes emaranhados já que são só contornos e somente alguns detalhes são preenchidos com dourado, mas revelam as expressões dos personagens de maneira incrível e realista.


A Bela e a Adormecida já andava sendo bastante comentado, principalmente pela ideia de que quem tira a donzela de seu sono eterno com um beijo não seria um príncipe, afinal, porque as mulheres devem ser salvas por homens? E porque, obrigatoriamente, deve haver amor nessas questões?
O feminismo fica explícito quando Gaiman quebra tais paradigmas e cria uma releitura com um ar sombrio, cheia de originalidade e que surpreende bastante ao trazer duas personagens conhecidas numa versão inédita e livre de estereótipos, afinal, quem esperaria por uma rainha, aparentemente delicada e passiva, que é determinada em suas decisões e busca a solução para os problemas com coragem e bravura sem depender de nenhum príncipe encantado?

Recomendo pra todos aqueles que gostam de releituras de contos que, de forma moderna e sem preconceitos, traz nas entrelinhas mensagens sobre a força das mulheres, a importância da amizade e o poder de escolha que todos podemos ter.

Lobos de Loki - K.L. Armstrong e M.A. Marr

21 de outubro de 2015

Título: Lobos de Loki - Crônicas de Blackwell #1
Autoras: K.L. Armstrong e M.A. Marr
Ilustradora: Vivienne To
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Fantasia/Aventura/Infanto Juvenil
Ano: 2015
Páginas: 320
Nota: ★★★☆☆
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Aos 13 anos, Matt Thorsen, não dava muita importância ao fato de ser um dos descendentes de Thor, o deus do Trovão. Até porque, na pequena Blackwell, a maior parte da população é descendente de deuses. Mas, quando as runas revelam que o Ragnarok – uma batalha capaz de provocar o fim do mundo – está próximo, Matt se vê obrigado a cumprir um destino pelo qual ele não esperava e embarca numa incrível aventura para salvar o mundo, com a ajuda dos primos Fen e Laurie, descendentes do deus Loki. Repleto de ação, fantasia e reviravoltas, Lobos de Loki é um início arrasador para uma saga única. 

Resenha: Lobos de Loki é o primeiro volume das Crônicas de Blackwell escrito pelas autoras K.L. Armstrong e M.A. Marr. O livro é uma publicação da Rocco Jovens Leitores no Brasil.

A história se passa na pequena cidade de Blackwell, Dakota do Sul. A maioria das pessoas são descendentes diretos de Thor e Loki, deuses nórdicos de Asgard. Matt Thorsen é um garoto de treze anos e, pra ele, família e tradição são as coisas mais importantes do mundo. Não é só questão de orgulho ser um descendente de Thor, mas uma questão de responsabilidade, afinal, é Thor quem deve liderar os deuses em sua batalha final quando o fim do mundo chegar. Mas, Thor está morto, assim como todos os outros deuses nórdicos. Então, quando há sinais de que o Ragnarök está chegando, as principais famílias de Blackwell se reúnem para encontrar os que vão substituir os deuses nessa batalha final.

Desta reunião, as Nornes - conhecedoras do futuro e do destino de deuses e humanos - jogaram as runas e fizeram uma grande revelação: O Ragnarök está próximo e Matt é o escolhido para representar Thor na batalha contra a Serpente de Midgard. Tal revelação surpreende a todos, incluindo Matt que fica totalmente desanimado com a nova tarefa de montar uma equipe de novos deuses, e sem ajuda de ninguém da família. Ele deve encontrar outros descendentes e sua ideia é começar pelos descendentes de Loki, mais especificamente Jen e Laurie. Ao começar a leitura já percebemos como o relacionamento dos dois é arisco. Os garotos não se batem, brigam feito loucos e parece que se odeiam, logo, Matt não sabe como fazer Fen lutar ao seu lado já que são "rivais" e as brigas fazem com que Laurie ainda se afaste de Matt por achá-lo um porre.
Mas querendo ou não, Laurie e Fen devem trabalhar juntos com Matt para encontrar as outras crianças que descendem dos outros deuses, além de encontrar artefatos mágicos que pertenceram a Thor para servir de auxílio na tentativa de livrar o mundo do seu iminente fim.

A narrativa se alterna entre Matt e os primos Fen e Laurie. Sendo em terceira pessoa, o leitor não fica limitado a pensamentos particulares de cada um e isso acaba dando um tom mais diversificado para a história, mostrando as coisas de uma forma geral e mais ampla.
Não nego que a premissa não seja boa e interessante, mas não é lá muito original: Um bando de garotos que vão combater um monstro terrível prestes a desencadear o fim do mundo enquanto eles são guiados por lendas antigas para tentarem mudar esse destino trágico. Pra quem leu a série Percy Jackson vai ver claramente que a comparação é inevitável.

Dentro do contexto eu gostei dos personagens. Matt é um garoto que vive frustrado por tentar sem sucesso agradar e família e ser exemplo de filho perfeito. Como é o irmão mais novo, ninguém acredita em seu potencial e os pais pensam que ele deveria ser como os irmãos. Como não é, ele se vê como uma grande decepção. Diferente da família que gosta de futebol, ele gosta de boxe, e talvez essa seja a maneira que ele encontrou para canalizar sua raiva, e consequentemente faz com que ele se revele um ótimo lutador e ainda um bom líder.
Confesso que gostei de ver o crescimento do garoto e a descoberta de seus dons especiais Ele inicialmente estava inseguro com sua tarefa mas ao final se superou ao se transformar em um líder que aprendeu e ensinou o trabalho em equipe.

Fen é aquele personagem antipático e que não conquista a simpatia do leitor logo de cara. Ele é problemático, atrevido e parece gostar se ser visto como alguém encrenqueiro. Mas a medida que a história se desenrola, vemos que ele tem uma ligação muito forte com Laurie e como ele é preocupado com a segurança dela. Ele faria qualquer coisa pra proteger a prima mas confesso ter achado um pouco estranho o fato de eles serem tão próximos assim. Como ele é descendente de Loki, ele consegue se transformar em lobo e tal poder tem tudo a ver com a história.
Eu gostei de Laurie pois ela serve como uma mediadora entre Matt e Fen quando os dois estão em conflito. Ela também é preocupada com o primo e parece ter uma enorme necessidade de cuidar dele.
Há outras crianças que se juntam ao grupo e têm importância na história, alguns guardam segredos, outros têm habilidades incríveis, mas todos colaboram para os acontecimentos.

Pelo fato de ser um livro infanto juvenil, acho até justo que os heróis estejam numa faixa etária que corresponda ao público para o qual o livro se destina: crianças e pré adolescentes. Não que o livro não possa ser aproveitado por leitores mais velhos, mas, para leitores mais exigentes, a falta de aprofundamento no desenvolvimento da história ou outros acontecimentos "inexplicáveis" podem incomodar. Acho muito legal quando autores inserem alguma mitologia conhecida num ambiente atual e que possa remeter ao dia-a-dia, desde que sejam críveis mas aqui não há uma explicação sobre o motivo dos descendentes dos deuses viverem reunidos em Blackwell e a questão do Ragnarök e as catástrofes que antecedem este evento não foram bem pensadas se levarmos em consideração o ambiente e a época em que a história se passa, pois se os desastres naturais são provocados por figuras mitológicas, no caso a Serpente de Midgard, o que a ciência fez pra explicar eventos desse tipo durante todo esse tempo para os meros cidadãos que não têm conhecimento sobre os deuses? E o Monte Rushmore que é composto por trolls que saem vagando por aí? Quando eles saem ninguém percebe que algo está faltando naquela montanha enorme que pode ser vista a quilômetros de distância?

Talvez eu não teria percebido essas "falhas" ou não faria esses questionamentos se fosse uma leitora mais jovem e poderia encarar como mera fantasia, então precisei relevar e tentar ler como se eu fosse uma, mas foi difícil me conectar à história, principalmente por achar a narrativa um pouco arrastada e pouco envolvente. Só senti um gás no final do livro e por isso bateu a curiosidade de continuar a série. Então, para um livro voltado ao público infanto juvenil, acredito que a trama e a construção dos personagens foi, de certa forma, satisfatória e o que foi desenvolvido, apesar do primeiro livro ser mais introdutório, é o bastante pra termos noção da personalidade de cada personagem e nos familiarizarmos com o universo criado pelas autoras.

Com relação desenvolvimento da história, posso dizer que as coisas tiveram uma evolução bem rápida e dinâmica mas o que resume tudo é o progresso da amizade entre dois garotos que não se davam bem quando precisam arriscar as próprias vidas ao lutarem lado a lado contra monstros.

O projeto gráfico do livro é super caprichado. A capa é bem chamativa e bonita e já dá uma boa ideia do tipo de aventura que as crianças enfrentam. A diagramação é perfeita. Cada início de capítulo tem o nome do personagem da vez seguido por um título e há várias ilustrações representando alguma cena de destaque da história. As páginas são amarelas e tamanho de fonte e das margem são ótimos.

Lobos de Loki é um livro que não é só feito de aventuras e mitologia. Ele fala de amizade verdadeira e laços familiares, mas também inseguranças, decepções e sobre encontrar um lugar onde você se encaixa e pertence.

O Mundo de Anne Frank - Janny van der Molen

9 de outubro de 2015

Título: O Mundo de Anne Frank - Lá fora, a guerra
Autora: Janny van der Molen
Ilustradora: Martijn van der Linden
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Juvenil/Não ficção
Ano: 2015
Páginas: 184
Nota: ★★★★★
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Se o diário em que a jovem Anne Frank relata os dias vividos num esconderijo em Amsterdã com a família durante a Segunda Guerra Mundial dispensa maiores apresentações, o lançamento O mundo de Anne Frank, de Janny van der Molen, merece ser conhecido pelo leitor brasileiro. O título, que chega às livrarias em meio aos 70 anos do fim do conflito e da morte da jovem, é resultado de extensa pesquisa, feita com o apoio da Fundação Anne Frank, e recria a história da jovem judia de forma acessível para todas as idades, (re)contando a história de Anne Frank com sensibilidade, a partir de seu famoso diário e de informações históricas, fotografias e belas ilustrações.

Resenha: Escrito pela autora holandesa Janny van der Molen e publicado no Brasil pelo selo Rocco Jovens Leitores, O Mundo de Anne Frank é uma adaptação do clássico O Diário de Anne Frank, uma obra que após ter sido publicado tornou a adolescente um ícone depois de sua narração para os fatos de como foi sua vida no período da Segunda Guerra Mundial, em que ela, a família e mais um grupo de pessoas, por serem de origem judaica, precisaram viver escondidos num Anexo secreto num edifício comercial a fim de não serem descobertos ou capturados pelos nazistas.


Em O Mundo de Anne Frank, muita pesquisa foi feita também fora do Diário e isso possibilita ao jovem leitor saber um pouco sobre como era a vida de Anne antes de ela ser confinada no esconderijo, como era feliz e aproveitava a infância como qualquer criança normal deveria fazer mas ainda assim estava sempre atenta às coisas que acontecia ao seu redor.
O durante mostra como tudo foi feito as pressas e as escondidas quando rumores de que os judeus estavam sendo assassinados ou enviados a lugares para trabalhar até a morte começaram a surgir. A ideia do Diário surgiu quando Anne ouviu no rádio uma mensagem de que estavam em busca de provas das atrocidades dos alemães, assim como relatos de quem testemunhou qualquer coisa que fosse, e a vontade de Anne era contribuir, escrevendo tudo com a esperança de que um dia suas palavras pudessem ser imortalizadas quando publicasse um livro. Também é possível saber o que aconteceu após as famílias serem capturadas e levadas aos terríveis campos de concentração nazistas assim como o que aconteceu lá.
"Lá fora, a guerra. Então eles permaneceram lá dentro. Dia após dia. Escondidos, aguardavam em silêncio e com medo o final daquela terrível guerra. Mal lembravam como era abrir a porta da frente e andar em plena luz do dia. Sentir o sol, o ar fresco, rir e andar pela rua, pegar um bonde, fazer o que bem entendessem... O mundo lá fora se tornou o inimigo. O mundo lá fora dava medo."
- Pág. 85

Este pode ser considerado como um livro de não ficção narrativa pois a autora usa uma história real e seus fatos para romantizá-la, tornando a leitura fácil, fluída e bastante acessível para o público infantil e juvenil. A repressão que os judeus sofreram, como foram vetados de serem pessoas livres, como foram perseguidos e massacrados são pontos que vemos na história, de acordo com a visão inocente de Anne, dando um toque bem sutil de forma a manter a leitura bem leve. Por mais que Anne relate vários fatos do que via ou ouvia falar em seu diário (que ela chamava de Kitty), a história também tem foco no relacionamento da garota com a família, com a irmã Margot, com o jovem Peter e os demais moradores da casa que nem sempre eram tão amigáveis como era de se esperar, afinal, as pessoas estão presas e escondidas, desconfortáveis, vivendo de restos ou comida estragada, não podem dar sinais de que estão alí e conflitos surgiriam mais cedo ou mais tarde. Era uma situação deplorável, que levaria qualquer ser humano a atingir seus limites.

O livro é um projeto único e maravilhoso, e traz um dos relatos mais importantes acerca do Holocausto e seus horrores. A diagramação é uma graça e as ilustrações em cores da artista Martijn van der Linden também colaboram para a riqueza da obra ao mostrar algumas das situações que a protagonista vivenciou, seja antes, durante ou depois de se esconder no Anexo.

Uma história bonita com um final trágico, agora contada de forma simples e com muita sensibilidade, mas que ainda envolve e emociona.



Sonho de Prata - Neil Gaiman, Michael Reeves e Mallory Reaves

2 de outubro de 2015

Título: Sonho de Prata - EntreMundos #2
Autores: Neil Gaiman, Michael Reeves e Mallory Reaves
Tradutora: Viviane Diniz
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Fantasia/Sci-fi/Juvenil
Ano: 2015
Páginas: 248
Nota: ★★★☆☆
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Na esperada continuação de Entremundos, Neil Gaiman, Michael Reaves e Mallory Reaves retomam a fantástica história de Joey Harker, um garoto comum que até pouco tempo se perdia no simples percurso de seu quarto a cozinha, mas que finalmente conseguiu dominar sua habilidade de “andar” entre as dimensões e encontrou seu lugar como um Andarilho, um agente do Entremundos, organização responsável por manter a paz nos vários universos e dimensões. Em sua nova aventura, Joey tem que enfrentar a desconfiança dos demais membros da organização, enquanto luta contra o tempo para impedir que os Binários dominem todas as terras conhecidas do Altiverso. Escrito a seis mãos, Sonho de prata é uma aventura fantástica com o carimbo de qualidade e imaginação de Neil Gaiman. 

Resenha: Sonho de Prata é o segundo volume da trilogia EntreMundos e voltamos a acompanhar as aventuras do Andarilho Joey Harker. Recaptulando a história, Joey é um garoto que possui o dom de "Andar", conseguindo assim transitar entre mundos e dimensões. Mas tal dom chama atenção daqueles que querem poder, pois a ideia de viajar entre dimensões abre várias possibilidades de conquistar novos territórios...

Depois de muitas surpresas e aventuras, inclusive ter se deparado com várias versões dele mesmo, Joey, que agora quer ser chamado de Joe, dominou a habilidade de andar entre dimensões e se tornou um agente do Entremundos, a organização que é responsável por manter a paz no universo.
Ele, juntamente com suas versões que vieram de Terras de universos paralelos, irá tentar impedir que as terras do Altiverso sejam dominadas, mas quando uma jovem chamada Acacia Jones aparece e consegue seguir Joey e sua equipe até a Cidade Base (um tipo de quartel-general), as coisas mudam de cenário pois ninguém sabe quais as reais intenções que ela possui, nem de onde ela veio, como conseguiu acompanhá-los e como pode saber tanto sobre Entremundos.

Tudo o que Joey sabia é abalado pois a ideia de uma nova Andarilha desconhecida é de assustar pois a partir do momento em que ela chega e depois some, muitas coisas estranhas começam a acontecer e tudo indica que algo está errado...
As forças do mal de HEX e binário estão se unindo e não são todos em Entremundos que parecem ser confiáveis. Agora resta a Joey lutar contra o tempo para impedir que o Altiverso seja dominado pelos Binários ao mesmo tempo em que enfrenta desconfianças por parecer ser ele a principal causa de levar problemas para Entremundos.

Narrada em primeira pessoa, a história segue o ritmo da anterior. Tem bastante ação, humor e muito geek, e assim como o primeiro livro, é bastante complexa e com detalhes bizarros que acabam tornando a história diferente.
Agora Joey tem dezesseis anos, quase dezessete, e seu amadurecimento é perceptível. Sabe aquelas situações em que tudo parece estar no lugar e no momento errado? Joey parece ter inventado isso pois é mestre em se meter nessas. Ele se desligou bastante do passado e do que deixou pra trás, mas se preocupa muito com a opinião alheia e isso é algo que não me agrada muito.
Joey possui várias versões de si mesmo, até versões femininas, e a enorme quantidade de personagens cujos nomes começam com a letra J soou um tanto ridículo e até confuso. Joey, J/O, Jai, Jakon, Jo, Josef... Alguns deles intelectuais demais a ponto de usarem palavras difíceis das quais Joey não sabe o significado e viva "reclamando" que precisa de um dicionário.

Acho que captei a ideia de os personagens possuírem a mesma essência e serem versões diferentes dela por virem de mundo diferentes, mas num determinado ponto, pois mais que haja um excesso de explicações, me perdi na história e o restante da leitura se tornou arrastada.
Talvez aqueles leitores vorazes do gênero sci-fi tenham uma percepção diferente e consigam captar melhor os acontecimentos malucos da história, e ainda que eu tenha ficado com a ideia de que teoricamente todos em Entremundos são a mesma pessoa, só no próximo volume é que espero respostas concretas.

Gosto da ideia do "Andar", desse lance de aventura interdimensional e viagens no tempo e espaço, mas acho que para um livro voltado ao público juvenil, tudo estava "difícil" demais de acompanhar.
Acho que é uma série que não deve ser lida com um grande intervalo entre os livros, pois são muitos detalhes apontados que, embora sejam relembrados superficialmente, podem deixar o leitor perdido. Então tive que voltar no primeiro livro (que li já faz mais de um ano) e ler alguns trechos para que eu pudesse lembrar e me situar melhor nessa continuação, então foi algo que me incomodou um pouco.

A capa faz o mesmo estilo da primeira e de perto é bem bonita. As páginas são amarelas e a diagramação é simples. Não percebi erros de revisão.
Pesquisei um pouco sobre a questão da autoria do livro e ao que parece, ainda que a ideia da história tenha sido de Neil Gaiman e o primeiro livro tenha seu dedo, este segundo livro não foi escrito por ele, mas sim por Micheal e a filha, Mallory Reaves, e talvez isso explique o tipo de escrita e alguns pontos fracos na trama.

De forma geral é um bom livro e recomendo para aqueles que curtem história de ficção científica com aventuras entre dimensões.

Na Porta ao Lado - Luiza Trigo

7 de setembro de 2015

Título: Na Porta ao Lado - Meus 15 Anos #2
Autora: Luiza Trigo
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Juvenil/Literatura Nacional
Ano: 2015
Páginas: 256
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Carol tem mania de fazer listas. Escreve sobre tudo: livros favoritos, melhores momentos das férias, músicas prediletas, frustrações…
Mas nunca pensou que registraria em suas listas novidades tão surpreendentes: o casamento de sua mãe com o namorado; a mudança da casa onde viveu por 15 anos e guardava as memórias do pai; a vida sob o mesmo teto que o padrasto e seu filho insuportável. Imagina que inferno!
Carol conta com o apoio das suas quatro amigas - Bia, Pri, Amanda e Beta –, com as quais pode desabafar e se divertir. E se o clima em casa está ruim, ainda bem que na escola não acontece o mesmo, principalmente depois da chegada de um novo aluno que irá mexer com o seu coração.

Resenha: Na Porta ao Lado, escrito pela autora Luly Trigo e publicado no Brasil pelo selo Jovens Leitores da Rocco traz de volta as "Valentinas", um grupo de amigas formado por Carol, Bia, Beta, Pri e Amanda.
No primeiro livro, Meus 15 Anos, a personagem Bia ganha mais destaque quando está prestes a comemorar seu aniversário de 15 anos com direito a uma festa mais do que inesquecível em companhia de suas amigas.
Em Na Porta ao Lado, Carol é a personagem da vez e vamos acompanhar uma fase bastante complicada de sua vida. Depois de ter ficado oito anos sozinha após a morte do marido, a mãe dela decide se casar outra vez, e essa decisão é algo que viraria a vida da garota de cabeça para baixo pois, além dela ter que se mudar da casa onde morou durante sua vida inteira - e onde guardava várias memórias de seu pai - para um apartamento, ela ainda ganhou um padrasto e um novo "irmão" insuportável no pacote, Tomás.

Carol já estava acostumada com a rotina de viver somente com a mãe e, quando se vê nesse novo ambiente, tenta se adaptar como pode. Mas Tomás não parece querer facilitar as coisas pra ela já que também não está muito contente com essa mudança... Ela tenta ser amigável mas ele vive fingindo que ela não existe. E para piorar as coisas, seu padrasto é professor em sua nova escola, e Tomás é da mesma sala que ela.
É claro que suas amigas estão alí para o que der e vier e vão ajudá-la a passar por tudo isso, mas algumas situações vão fazer com que Carol se sinta traída e chateada. Em meio a esse turbilhão de coisas que Carol precisa lidar, ela conhece Bernardo, um garoto novo na escola por quem ela fica super interessada, e assim vamos acompanhando a nova fase da vida dela e se todas essas mudanças inevitáveis serão para melhor, ou não...

O livro é narrado em primeira pessoa e a leitura é super simples e fácil de atingir o público a que é destinada.
Os títulos dos capítulos vão soar bastante familiar para os mais aficionados por leitura pois cada um tem o nome de algum livro conhecido e eles ainda meio que resumem bem a cena que se desenrola no capítulo em questão, mesmo que não tenha nada a ver com a história do livro propriamente dito. Carol adorar ler, sempre fala sobre os livros que leu, faz anotações sobre eles e me identifiquei bastante com suas preferências. Ela gosta de correr, tem mania fazer listas e faz questão de registrar tudo em seu diário, então ao longo do livro podemos espiar algumas "páginas" dele.
"À noite, depois do lanche, me retirei para o quarto ansiosa para escolher a minha próxima leitura. Fiquei namorando a estante, tentando decidir, mas eram tantas opções. Eu compro mais livros do que sou capaz de ler, então a fila está sempre enorme."
- Pág. 59
Ainda que o foco principal seja em Carol, as outras meninas também têm presença marcante na história e, ao que tudo indica, terão outros livros com foco em cada uma delas. É bacana ver como a amizade se fortalece e as meninas amadurecem ainda que tenham muitas dúvidas, medos e fiquem frustradas com algo que não dá certo em suas vidas.
Tanto o primeiro livro quanto este retratam com bastante fidelidade o universo adolescente no que diz respeito a conflitos internos e a forma, muitas vezes, dramática com que as coisas são encaradas pelas garotas. Problemas familiares são complicados e difíceis de ser contornados até por adultos, logo é bastante compreensível que adolescentes pensem que qualquer coisa pode ser o fim do mundo, principalmente quando existe alguém pra atrapalhar o que já está difícil.
A sensação que o livro causa é de uma enorme nostalgia pois quem nunca brigou com uma amiga, ficou caidinha pelo garoto fofo da escola, se sentiu melhor na escola do que em casa como forma de fuga, ou se revoltou com os pais por algo que eles fizeram e que não estávamos de acordo? É impossível não achar uma personagem com quem se identificar, independente da idade.

Falando da parte física, o livro é uma fofura! As cores da capa são super harmônicas e os pequenos detalhes de carinhas e corações tem aplicação em verniz para terem destaque. A diagramação também é bem caprichada pois em cada início de capítulo há um ornamento que parece ter sido rabiscado em "giz" e ao fim há várias carinhas como na capa.
Em meios aos diálogos vemos conversas por mensagens e, claro, as listas de Carol. As páginas são brancas e a revisão é impecável.

Um livro que aborda a amizade do jeito que ela deveria ser: verdadeira, cheia de cumplicidade e para sempre.
Leitura super indicada às jovens leitoras, mas também as que já passaram dessa fase e querem relembrar os vários momentos vividos na adolescência através dessas queridas amigas.

Feitiço - Nancy Holder e Debbie Viguié

20 de julho de 2015

Título: Feitiço - Wicked #4
Autoras: Nancy Holder e Debbie Viguié
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Fantasia
Ano: 2015
Páginas: 320
Nota: ★★★☆☆
Sinopse: Desde que descobriu ser a mais nova de uma linhagem de bruxas, a antiga Confraria das Cahors, a vida de Holly Cathers passou por muitas mudanças. E não seria para menos. Sua família vivia há séculos uma rixa com outra confraria de bruxos, os Deveraux, e ela acabou se envolvendo justamente com um deles, o jovem Jer. Depois de Bruxaria, Maldição e Legado, em Feitiço, o quarto livro da série Wicked, Holly terá que enfrentar o líder dos Deveraux, o perigoso Michael. Se ela já salvou a vida de Jer no passado, agora é a vez de o rapaz resgatar sua alma gêmea. Contudo, um novo bruxo chega à cidade. Será que o futuro de Holly está a salvo?

Resenha: Feitiço é o quarto volume da série Wicked, escrita pelas autoras Nancy Holder e Debbie Viguié e publicado no Brasil pelo selo Jovens Leitores da Editora Rocco.

Por se tratar de continuação, a resenha pode ter spoiler dos livros anteriores.

Após os acontecimentos de Legado, em que Holly havia sido possuída por demônios quando saiu do Tempo dos Sonhos, a Confraria Tripla está bastante desorganizada pela ausência dela. O chefe da Suprema Confraria, Sir William Moore, estava satisfeito por todo o caos e mortes dos quais as bruxas de Seattle haviam sido acometidas. O único porém era que três bruxas ainda viviam: Holly e as irmãs gêmeas, Amanda e Nicole. Michael Deveraux ainda não conseguira destruí-las e Sir William tomou a tarefa para si. Com objetivos sombrios, o servo do mal realizou um ritual macabro para enviar seus Golens atrás de Nicole para matá-la.
Enquanto isso, Amanda estava em Seattle com Tommy, confiante por saber que a Deusa sabe do paradeiro dos outros já que Holly estava possuída e louca, e Nicole havia sido levada por Eli e James, os filhos de Michael. Ela agora estava presa em Avalon e se tornara serva de Philippe. Sua única companhia era Astarte, a gata.
Amanda acreditava que Holly pudesse inclusive estar morta mas mal sabia que Michael tinha planos terríveis para controlá-la pois, com a garota sendo subserviente a ele, a hora seria perfeita para tentar tomar o Trono dos Crânios e ser líder da Suprema Confraria.
Diante desta situação desesperadora, resta que Jer tente resgatar Holly, sua alma gêmea, para salvá-la das garras de seu pai. A Confraria Tripla está em perigo e a única salvação é se Holly voltar a si...

Narrado em terceira pessoa e com alguns trechos em itálico evidenciando o pensamento em primeira pessoa de algum personagem, Feitiço segue com a escrita complexa e muitas vezes confusa já que muitos dos fatos presentes são narrados no tempo passado enquanto se misturam com pensamentos atuais. Parece que a ideia é situar ou relembrar o leitor do que se passa, mas a confusão está justamente nessa mistura ao mostrar o que está acontecendo agora, porém, sendo descrito no passado. Tais descrições aparecem com frequência e quando o fato ocorreu há muitos e muitos anos atrás pode-se confundir como sendo algo recente e vice versa, mesmo que haja indicação de tempo e local. É esse o problema com os livros dessa série, pois por mais que o enredo seja interessante e a trama seja muito boa, a narrativa é um fator que atrapalha e confunde devido ao tempo verbal que as autoras utilizam.

A abordagem da magia negra é de arrepiar e não há censura nas descrições macabras ou malignas para os rituais que envolvem espíritos, sangue e morte, o que torna a história bastante pesada para leitores mais jovens ou de estômago fraco.
Nesse volume em especial posso dizer que gostei e me envolvi mais com a história pois várias coisas estão acontecendo ao mesmo tempo e é angustiante ver Holly na posição em que ela se encontra enquanto seu eu interior está aprisionado e ela luta para conseguir escapar das garras dos demônios que estão dentro de seu corpo a controlando, principalmente porque Michael quer controlá-la também.
Alguns pontos me soaram um tanto absurdos, como a gravidez mágica de Nicole que despertou a atenção de Eli a ponto de fazê-lo mudar a própria personalidade de bad boy pra "pai" preocupado quando na verdade sabemos que nem sempre um filho é o real responsável pela mudança de caráter de alguém. Os ataques a Seattle que destruíram a cidade não me convenceram porque a história se passa num mundo onde existem pessoas comuns além das bruxas e acho que tudo deve acontecer dentro da nossa realidade para se tornar crível. As pessoas vêem todo aquele caos e ai?

Enfim... Os vilões estão cada vez mais perigosos e posso afirmar que nunca vi em nenhuma outra série personagens tão malignos e com propósitos tão sombrios como em Wicked. O mal e o caos que os vilões estão dispostos a causar vão além do nível de qualquer maldade que já acompanhei em qualquer história e tudo que eles fazem é de dar medo.
Os personagens secundários, tanto os vivos quanto os espíritos, são bastante bem construídos e enfim os personagens "irrelevantes" tiverem a morte que eu tanto esperei. Acho que o excesso de personagens era um fator que estava colaborando para que a série se tornasse arrastada e confusa com personagens que não tinham um desenvolvimento maior. Alex Carruthers é um personagem que chegou a cidade, bonito e cheio de carisma, e sua presença pode abalar algumas estruturas... Sua intenção é ajudar a salvar a Confraria Tripla mas acaba se envolvendo com coisas e pessoas além do propósito inicial...
Há reviravoltas emocionantes envolvendo redenção de quem menos se esperava, incluindo a morte de um vilão que pensei que não deixaria de atormentar os outros tão cedo. O final é chocante, Holly faz escolhas que jamais imaginei que faria e muitas perguntas sobre personagens e outros acontecimentos ficam no ar.

A capa, seguindo o mesmo padrão das anteriores, é bem bonita e chamativa. Ela é aveludada, com aplicação de verniz no títulos e nomes das autores. A contracapa também tem um efeito em verniz que lembra sangue espirrado e é bem legal. A diagramação é simples, seguindo a mesma linha dos anteriores, os capítulos são iniciados com um cântico, a revisão está ótima e as páginas são amareladas.

Não digo que Wicked seja a melhor série fantástica sobre bruxaria que já li, pois como mencionei anteriormente, a escrita das autoras continua confusa até para os leitores mais atentos. Elas não hesitam em matar personagens sem a menor piedade, ou descrever cenas macabras sem a menor censura, mas vale a leitura pela ideia da história, com certeza.