Caixa de Correio #129 - Dezembro

31 de dezembro de 2022

Mais um mês de loucura passou e com ele o ano chega ao fim. Nem acredito que o blog tá prestes a comemorar 11 anos de vida, e quando olho pra trás e vejo esse pedação que já caminhei, nem consigo acreditar. Mês de natal, eu aproveitei pra me dar presentes e não poderia ficar mais feliz.
Não vou me alongar muito porque faltam 3 minutos pra virada e nem sei o que tô fazendo aqui em vez de ir curtir.

#fui

Livros:
  • Lore Olympus vol.1 - Rachel Smythe
  • O Livro das Respostas - Carol Bolt
  • A Longa Marcha - Stephen King
  • Vermelho, Branco e Sangue Azul (ed. colecionador) - Casey McQuiston
  • Caderno de Exercícios para Praticar a Lei da Atração - Slavica Bogdanov
  • Caderno de Exercícios para se Organizar Melhor e Viver sem Estresse - Christel Petitcollin

Jogos de Tabuleiro:
  • Everdell - Bellfair
  • Robinson Crusoe
  • Flamecraft (Deluxe Edition)
  • Salem 1692 (Cidades Sombrias #2)
  • Bristol 1350 (Cidades Sombrias #4)
  • Munchkin 9 - Jurássico Sarcástico

Top 10 #10 - Melhores Leituras de 2022

30 de dezembro de 2022


Esse ano eu lembrei da lista, então bora lá.
Já adianto que, apesar de não ter lido a quantidade de livros que eu gostaria, li uma variedade de gêneros até razoável. Teve livro divertido, emocionante, nostálgico, de revirar os olhos de preguiça, e dessa vez vou listar na ordem, do último pro primeiro lugar. Teve livro 4 estrelas na lista, sim, mas não é porque não favoritei o livro que o bendito não seja bom. Teve livro que recebi esse ano mas vou ler agora em janeiro. Talvez tenha perdido alguma coisa que não entrou nessa lista por ter empurrado pra frente? É possível, mas se merecer, entra na do ano que vem (prometo não esquecer, eu espero).

Review - Flamecraft (Edição Deluxe)

29 de dezembro de 2022


Título:
Flamecraft (Edição Deluxe)
Editora/Fabricante: Galápagos
Criador: Manny Vega
Idade recomendada: 14+
Jogadores: 1-5
Nota:★★★★★
Descrição: Seja bem-vindo à Flamecraft, um mundo onde dragõezinhos artesãos e humanos convivem em harmonia!
No mundo fantasioso de Flamecraft, humanos e pequenos dragões convivem pacificamente, usando suas diferentes habilidades para se ajudarem. Nesse mundo, dragões artesãos, versões menores e magicamente talentosas de seus primos maiores (e destrutivos), são procurados pelos lojistas para que possam encantar os clientes e ajudar com os negócios!
Os jogadores assumem o papel de Guardachamas, pessoas com habilidade de conversar com dragões e responsáveis por alocar os dragões nos diferentes comércios da cidade, assim construindo sua reputação. Como os dragões possuem diferentes especialidades (pão, carne, ferro, cristal, planta e poção), jogadores precisam ser inteligentes na alocação de seus amigos répteis!
Durante uma partida, os jogadores visitam lojas para ganhar itens e favores de um dos dragões lá, e usam os itens coletados para encantar as lojas, ganhando reputação e os favores de todos os dragões da loja – faça os combos mais criativos e corra atrás de objetivos secretos para ganhar mais reputação ainda!
Um jogo estratégico, mas que é fácil de aprender e mais fácil ainda de se apaixonar! Ganhe o jogo ao ser nomeado Mestre do Ofício Ígneo – o Guardachama com a melhor reputação da cidade!

Flamecraft é um jogo com temática de fantasia, onde dragões e humanos trabalham juntos e convivem em harmonia. O objetivo é ser o melhor "Guardachamas", um tipo de treinador de dragões, com a maior reputação e, pra isso, é necessário alocar os dragões artesãos nas lojas disponíveis da cidade, e fazer uma boa gestão de recursos para fazer as melhores combinações que rendem recompensas e que vão somar mais pontos.

Aqui temos cartinhas de dragões artesãos (que são alocados nas lojas e dão habilidades para o jogador de acordo com o tipo de dragão), dragões de elite (que podem ser adquiridos ao coletar recompensas e ativados durante a partida ou ao final do jogo para dar mais pontos ao jogador), companheiros (uma espécie de bichinho de estimação opcional que pode ser usado uma vez e dá uma única vantagem ao ser ativado), encantamentos (baralho roxo pra partidas iniciantes, e baralho dourado pra partidas um pouco mais avançadas) e as cartas de loja, que é onde os dragões vão pra coletar recursos e disponibilizam suas habilidades. Todas as cartas de dragões e lojas possuem ilustrações únicas, e cada dragão tem seu próprio nome que tem a ver com seu tipo, porém, a habilidade de acordo com o tipo de dragão sempre será a mesma, ou seja, dragões de pão, como o "Docinho de Coco" ou a "Carolina", sempre vão dar a habilidade de comprar um novo dragão artesão; dragões de poção, como a "Jasmin", ou o "Pingado", permitem trocar os dragões alocados de lugar; dragões de planta permitem ganhar pontos de reputação ao dar um recurso pra outro jogador; dragões de cristal permitem que o jogador pegue 3 recursos diferentes além dos já coletados na loja visitada; e dragões de carne permitem que o jogador aloque um dragão em alguma loja da cidade. Os dragões de elite também tem nomes diferentes, e já adianto que não tenho maturidade nenhuma com os nomes desses dragõezinhos fofos.


A mecânica do jogo é bastante simples e consiste em visitar as lojas e escolher a ação desejada (coletar ou encantar) para formar os melhores combos antes dos adversários e seguir na trilha de reputação marcando pontos. Durante as rodadas, quando o baralho de compras de encantamento ou o baralho de compras de dragões artesãos acaba, o último turno é ativado e o jogo chega ao fim (e aqui eu tenho que confessar que deixava de comprar cartas ou encantar lojas pra prolongar o jogo por mais um tempinho numa tentativa de fazer mais alguns pontos).

Os tipos de lojas e dragões se dividem em pão, planta, poção, ferro, carne e cristal (e atenção para os nomes peculiares e bem engraçados das lojas e dos dragões). Ao visitar uma loja de pão, por exemplo, e o jogador quiser fazer a ação de coletar, ele coleta pão e guarda para depois usar como pagamento em algum encantamento ou pra ativar a habilidade de algum dragão de elite específico. A medida que mais dragões de um determinado tipo forem sendo alocados nas lojas, ou se a loja for encantada, o jogador também coleta a quantidade de itens que aparecem em todas as cartas alocadas alí, logo, quanto mais cartas forem dispostas na loja, mais itens o jogador poderá coletar, desde que não ultrapasse o limite de 7 itens de cada tipo e 6 cartas de dragões artesãos na mão (os de elite não tem limite). Quando uma loja for preenchida com 3 cartas de dragões, uma nova loja aleatória da pilha de compras é inaugurada na cidade dando mais possibilidades aos jogadores de coletar recursos, recompensas e ganhar mais pontos.

Um ponto interessante que destaco aqui é que, como os recursos dos outros jogadores ficam visíveis pra todos, é possível ter uma ideia do que ele está planejando fazer com relação aos encantamentos, e é possível montar uma estratégia pra atrapalhar o coitado ou partir pra um plano B caso a gente perceba que não teremos os itens suficientes para fazer o tal encantamento a tempo. Isso só não acontece com os dragões de elite, que ficam fechados na mão do jogador com objetivos específicos, logo ele pode sair ativando esses dragões ao cumprirem o que eles pedem, fazendo um bando de pontos no meio ou no final do jogo que ninguém esperava, e aqui podemos ter grandes reviravoltas na pontuação, e quem estava lá na frente pode ficar pra trás, #xatiado.


Apesar da temática de dragões e encantamentos, o jogo em si poderia ter qualquer outro tema sem interferir na mecânica ou na jogabilidade, pois basicamente vamos coletar recursos, alocar personagens, usar alguma habilidade pra ter alguma vantagem e somar pontos. Essa edição deluxe (que é o dobro do preço da outra) traz o mesmo tabuleiro de neoprene, mas é ainda mais bonita devido aos componentes de madeira, plástico e metal, mas não acho que muda a experiência durante o jogo se comparado a edição standart. O insert também é todo organizado pra cada coisinha ser guardada no devido espaço e ainda vem uma bolsinha de tecido pra guardar as moedinhas, bem pesadas por sinal. Acredito que a diversão vai ser a mesma e só faz diferença pra quem realmente é colecionador e gosta desse tipo de detalhes que deixam o jogo mais "rico".


O manual do jogo é super bem organizado, e as informações vem de forma bem clara e com alguns exemplos pra ensinar como jogar direitinho. Cada jogador tem uma carta de referência com o resumo do que pode ser feito no seu turno. É possível que no meio da partida apareça uma carta com algum comando referente a ativação de habilidades que possa gerar alguma dúvida ou confusão, mas o manual já traz a explicação de cada habilidade de dragão ou loja especial, basta procurar o nome da carta na lista para entender e saber o que fazer.

Com relação a rejogabilidade, pra ser bem sincera, não achei que há tanta assim, e as diferenças pra cada partida vão ser bem sutis. Além da possibilidade de se jogar sozinho (o que ainda não testei), o jogo traz 2 baralhos de encantamento para escolhemos um deles de acordo com o nível de dificuldade e uma boa variedade de lojas. A ideia de separar os encantamentos é interessante, mas acabei não percebendo muita diferença entre os encantamentos a não ser pelas moedas. Algumas cartas do baralho dourado proibem o uso de moedas como coringas, e outras cobram a moeda junto com outros itens para realizar o tal encantamento em alguns deles, enquanto no baralho roxo o uso das moedas em substituição a algum item para comprar aquele encantamento é livre, e nenhum encantamento obriga o jogador a pagar alguma moeda. O problema aqui é que as moedas são recompensas que o jogador ganha por alocar um dragão em algum espaço vazio na loja que dá esse recurso, logo, se um jogador alocou o dragão alí e ganhou a moeda, outro jogador não poderá realizar essa ação naquele local e terá que tentar conseguir a bendita moeda em outra loja que ainda tenha essa recompensa disponível, e isso acaba gerando uma pequena disputa.


As cartas de loja também promovem essa rejogabilidade já que não são todas que entram na jogada, e cada partida vai trazer lojas diferentes, com opções e habilidades diferentes, mas o diferencial está nas lojas especiais cujos símbolos são ícones de dragões ou moedas. Essas lojam em particular não podem ser encantadas e tem uma que nem aceita que dragões sejam alocados, o que limita o ganho de pontos, mas permitem que os jogadores coletem dragões ou moedas sem depender da alocação e da recompensa. Então, além de precisar de uma certa estratégia, também é preciso um pouco de sorte pras melhores cartas de lojas saírem ao embaralhar.

Enfim, Flamecraft é um jogo lindo de viver (principalmente essa edição deluxe), seja pela arte ou pelos componentes de excelente qualidade, super colorido e muito divertido. Uma partida dura em média 1hr (ou pouco mais). A classificação dele é de 14+ por conta da legislação brasileira, mas meu filho de 8 anos entendeu direitinho logo na primeira partida, e jogamos tranquilamente. Não tem nada impróprio pra crianças pequenas nesse jogo.

Apesar de ser fácil de entender e aprender, devido a quantidade de ações que podem ser feitas e que podem confundir um pouco numa primeira jogada, não acho que seja um jogo de entrada indicado pra quem está iniciando no hobbie. Acho que Flamecraft é um jogo intermediário que requer um pouquinho de planejamento e até de malícia pra se dar bem, mas pra quem gosta de jogos competitivos que envolvem alocação de personagens, gestão de recursos e combinação de itens pra pontuar e que podem bloquear (e atrapalhar muito) os outros jogadores, é jogo mais do que recomendado. Mal chegou e já é um dos favoritos na mesa aqui de casa.

Conto de Fadas - Stephen King

28 de dezembro de 2022

Título:
 Conto de Fadas
Autor: Stephen King
Editora: Suma
Gênero: Fantasia
Ano: 2022
Páginas: 624
Nota:★★★★☆
Sinopse: Aos dezessete anos de idade, Charlie Reade parece ser um garoto comum: pratica esportes, é um filho atencioso e aluno de desempenho razoável. Suas lembranças, entretanto, não são feitas apenas de momentos felizes. Após perder a mãe em um grave acidente quando tinha apenas dez anos, Charlie precisou aprender a cuidar de si e do pai, que, enlutado com a perda da esposa, buscou refúgio na bebida.
Certo dia, ao pedalar pela rua de casa, Charlie atende um pedido de socorro vindo do quintal de um dos vizinhos: Howard Bowditch. O homem recluso e rabugento, que amedrontava as crianças do bairro, cai de uma escada e se machuca gravemente. O chamado por ajuda veio de Radar, a fiel pastor alemão, tão idosa quanto seu dono.
Enquanto Bowditch se recupera, Charlie passa a ajudar o vizinho com tarefas domésticas e com o cuidado de Radar, e assim o rapaz faz duas grandes amizades. Quando Howard morre, Charlie se depara com uma fita cassete que revela um segredo inimaginável: um portal para outro mundo.

Resenha: Charlie Reade é um jovem de dezessete anos que teve a infância e a adolescência bastante conturbada após perder a mãe num acidente de carro. Como se a morte da mãe já não fosse uma tragédia traumática o bastante, Charlie ainda teve que lidar com o pai que, desolado pela perda, acabou afogando as mágoas na bebida, se tornando alcóolatra. Toda a situação fez com que Charles amadurecesse muito cedo ao acabar sendo o responsável pelos cuidados com o pai passando por anos de muita luta.
Até que um dia Charlie escuta a cadela Radar uivando sem parar, numa tentativa de pedir ajuda para seu dono, o velho Howard Bowditch, que havia sofrido um acidente na escada de casa. Depois de ajudar Bowditch, Charlie se aproxima desse senhor recluso e rabugento para ajudá-lo nas tarefas de casa e com os cuidados de Radar enquanto ele se recuperava, e a amizade que surge entre eles vai mudar tudo na vida do garoto. Bowditch está rodeado de mistérios que desperta a curiosidade de Charlie, mas quando Bowditch morre é que o garoto descobre que o velho escondia um segredo que ninguém jamais poderia imaginar: um portal para outro mundo. 

A história pode ser dividida em três partes, onde a primeira tráz o contexto da relação do protagonista com o pai e as dificuldades pelas quais ele passou, e ainda assim mostrando o quanto Charlie não é um garoto perfeito, mesmo que seja bondoso, esforçado e leal aos seus valores; a segunda parte com o desenvolvimento da amizade entre ele, Bowditch e Radar; e a terceira parte onde ele entra no portal e embarca numa jornada cheia de aventuras e referências a diversos contos de fadas em suas versões mais sombrias.
O livro é narrado em primeira pessoa num ritmo bem lento, e vamos acompanhando o próprio Charlie contando essa história de vida, permitindo ao leitor ter uma experiência literária a la King, com descrições minuciosas a se perder de vista acerca dos mistérios da cidadezinha, da fantasia propriamente dita no mundo de Empis, e das camadas que envolvem os personagens, mostrando as questões referentes ao amadurecimento precoce de Charlie e seus dilemas, a amizade improvável com o velho implicante da vizinhança e com as responsabilidades que ele toma pra si mesmo.

Não vou negar que em diversos momentos eu não consegui enxergar Charlie como se fosse um garoto de dezessete anos, pois muitos de seus pensamentos e atitudes parecem não corresponder muito com a idade dele e ele parece ser bem mais velho (não sei se entra a questão do próprio autor parecer estar parado no tempo e não estar nada familiarizado com os "xóvens" de hoje em dia). Outra coisa é que, mesmo que haja uma explicação (que parece ter sido mais uma desculpa), não me soou muito convincente um adolescente como Charlie abrir mão de tudo pra cuidar de um velho chato que apavorava as crianças da rua, mas, tirando isso, acompanhá-lo nessa jornada do herói num mundo fantástico e cheio de perigos estando acompanhando de Radar foi até bem satisfatório. Tudo bem que nada tira da minha cabeça que o autor inseriu Radar na história pra atingir o ponto fraco dos leitores amantes de doguinhos, mas ainda assim ela é um ótimo exemplo de amizade leal e verdadeira que alguém pode ter na vida e fez toda a diferença aqui.

Acho que o livro tem partes um pouco cansativas e repetitivas, o que arrastou a leitura mais do que eu imaginei. Talvez, se fosse enxugado para que tivesse umas 400 páginas, a história poderia ser contada da mesma forma, porém com mais fluidez e agilidade. Eu gosto dos livros do King e, quando vejo algo que foge um pouco do seu terror clássico, fico animada e cheia de expectativas, porém, por mais interessante que tenha sido acompanhar Charlie nessa jornada e ter gostado muito da primeira parte do livro, a história não trouxe nada de inovador ou surpreendente, pelo menos pra mim.

Talvez pra quem ainda não conhece o estilo e a escrita de King, este não seja o melhor livro pra se começar, pois ele é bem diferente dos seus outros clássicos de terror e, mesmo que tenha toques de horror e suspense, está mais pra algo no estilo "contador de histórias", mas, pra quem gosta de fantasia com referências a se perder de vista, eu recomendo.

O Cavaleiro dos Sete Reinos - George R. R. Martin

16 de dezembro de 2022

Título:
 O Cavaleiro dos Sete Reinos (Edição especial)
Autor: George R. R. Martin
Editora: Suma
Gênero: Alta Fantasia
Ano: 2022
Páginas: 264
Nota:★★★★★
Sinopse: Décadas antes dos acontecimentos descritos em As Crônicas de Gelo e Fogo, O cavaleiro dos Sete Reinos narra as aventuras do cavaleiro Dunk e de seu jovem escudeiro Egg ― que se revelam importantes figuras de Westeros. Edição especial em capa dura, com novas ilustrações.
Sor Duncan, o Alto, ou apenas Dunk para os íntimos, não teve uma vida fácil. Filho bastardo de uma prostituta, ele nunca pertenceu a nenhuma Casa, e suas oportunidades de vida parecem bastante reduzidas. Mas a esperança de alcançar a glória não está perdida, e Dunk está decidido a se tornar um grande guerreiro em Westeros. Dentre todos os grandes, Dunk quer escrever o seu nome na história como um verdadeiro Cavaleiro dos Sete Reinos. O único problema é que existem muito mais pretendentes do que posições disponíveis.
A sorte começa a mudar quando ele encontra Egg, um garoto careca e cheio de atitude que se prontifica a ser o seu escudeiro. Quanto mais Dunk conhece o menino, porém, mais Egg parece o oposto de ser um mero plebeu, demonstrando uma inteligência muito além de sua idade.
Juntos, eles viajam em busca de trabalho e aventuras ― sem jamais revelar a verdadeira identidade do menino àqueles que encontram pelo caminho. Uma grande amizade nasce entre esses dois heróis improváveis, que persiste mesmo quando, anos mais tarde, eles assumem papéis centrais na estrutura de poder de Westeros.
Reunindo os três primeiros contos protagonizados por Dunk e Egg ― “O cavaleiro andante”, “A espada juramentada” e “O cavaleiro misterioso” ―, O cavaleiro dos Sete Reinos é o livro perfeito para quem quer se aventurar no fantástico mundo criado por George R.R. Martin e para aqueles que anseiam por mais histórias de Westeros, dos Targaryen e do fascinante universo de As Crônicas de Gelo e Fogo.

Resenha: O Cavaleiro dos Sete Reinos é um spin-off de As Crônicas que Gelo e Fogo que reune três contos ("O Cavaleiro Andante", "A Espada Juramentada" e "O Cavaleiro Misterioso") que narram as primeiras aventuras de Sor Duncan, o Alto, e seu jovem escudeiro Egg, que se revelam personagens bem importantes em Westeros e no universo criado por George R.R. Martin.

Já adianto que é um livro indicado pra quem já conhece os outros livros do autor, pois a história começa depois do que se passa em Fogo e Sangue, oitenta anos depois da lendária e fatídica Dança dos Dragões e da morte do último dragão, mas noventa anos antes dos acontecimentos de Gelo e Fogo.

Quando garoto, Dunk foi adotado por um Cavaleiro e mais tarde, quando o homem morre, ele se apossa de seu título e se torna "Sor Duncan, o Alto". Lutando pela sobrevivência e pela vitória em seu primeiro torneio para ser reconhecido como cavaleiro em Westeros, ele conhece "Egg", um garotinho esperto e muito falante com seus nove anos de idade mais ou menos. Egg se torna escudeiro de Sor Duncan e agora eles vão embarcar em algumas aventuras, e várias encrencas que, além de entreter o leitor com várias conspirações, cenas de ação e os famosos jogos de poder, ainda dá várias informações que complementam alguns eventos importantes que acontecem nos outros livros. Os nomes que vão surgindo que fazem ligações com personagens já conhecidos das Crônicas só enriquecem a trama e vão preenchendo as lacunas que o autor deixou pelo caminho de propósito pra matar os leitores de curiosidade e desespero (20 anos pra escrever um livro, oshe). A cada nova revelação, mais interessante e envolvente a história fica, mas ainda ficamos sedentos por mais, porque é claro que Martin não vai entregar tudo de bandeja sem fazer o povo mofar por uns anos até nascer cabelos brancos nas nossas cabeças...

O interessante é que os contos se passam em meio a terras menos conhecidas por serem menores e com casas/famílias pequenas, e o autor acaba engajando o leitor a conhecer mais sobre a vida do povo comum e de menor destaque de Westeros, como eles lidam estando a beira de uma guerra iminente e como vão parar dentro dela. E contos do tipo só servem pra enriquecer ainda mais esse universo fantástico e épico criado pelo autor, a ponto do povo discutir detalhes como se não se tratasse de pura ficção. 

Mesmo que os contos sejam isolados, é recomendado que sejam lidos na ordem pra manter a cronologia dos fatos, e por ser curtinho, pode ser lido em questão de poucas horas (e é o que realmente acontece, pois quando iniciamos a leitura não dá pra parar nunca mais). Não vou dar mais detalhes pra não estragar a surpresa que envolve o segredo que Egg guarda, mas posso dizer que os contos trazem emoção e perigos na medida certa pra qualquer um que gosta desse universo ficar ainda mais envolvido e curioso por ele. Dunk e Egg são carismáticos mesmo sendo tão diferentes um do outro, e é muito legal acompanhar Dunk sempre preocupado em proteger e ensinar as coisas ao seu pequeno amigo. Eles desenvolvem uma amizade sincera que vai perdurar por toda a vida.

O livro já havia sido publicado pela Editora Leya em 2014 sob um projeto gráfico que combinava bem com os demais livros da série inacabada do autor publicados na época, mas agora foi relançado pela Suma numa edição especial em capa dura, detalhes dourados e ilustrações lindíssimas, muito caprichada e bonita.

Pra quem é fã (ou pra quem gosta dos seriados e tem curiosidade em conhecer a escrita do autor), é livro praticamente obrigatório que só acrescenta e enriquece ainda mais esse universo gigante. Só leiam.

Eu Beijei Shara Wheeler - Casey McQuiston

15 de dezembro de 2022

Título:
Eu Beijei Shara Wheeler
Autora: Casey McQuiston
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem adulto/Romance
Ano: 2022
Páginas: 352
Nota:★★★★☆
Sinopse: Chloe Green está a um passo de terminar o ensino médio e deixar False Beach, a cidadezinha ultraconservadora onde vive, para trás. Mas, antes disso, ela tem um último objetivo a cumprir: ser eleita a melhor aluna do colégio e a oradora da turma. Seu único obstáculo? Shara Wheeler, a garota mais popular da cidade, que arranca suspiros por onde passa.
Só que, faltando pouco mais de um mês para a formatura, Shara simplesmente desaparece. Todos são pegos de surpresa, mas Chloe tem um motivo a mais para ficar chocada: um dia antes, Shara a tinha beijado na boca sem maiores explicações.
Decidida a encontrá-la para tirar a história a limpo, Chloe logo se vê em uma busca bastante inusitada: Shara espalhou vários cartões pela cidade, dando pistas sobre o seu paradeiro e revelando uma personalidade até então desconhecida ― e que pode mudar completamente os planos de Chloe.

Resenha: Faz quatro anos que Chloe e suas mães saíram do sul da Califórnia para irem viver em False Beach, Alabama, uma cidadezinha ultraconservadora que não aceita muito bem nada que foge do tradicional. Agora, Chloe não vê a hora de se formar no ensino médio e dar no pé rumo a faculdade. Frequentar a Escola Cristã Willowgroove, uma escola conservadora, ainda mais dada sua composição familiar, não é nada fácil, mas o que mais preocupa e desperta o espírito de competição em Chloe, é a rivalidade entre ela e Shara Wheeler, a it-girl da escola e garota mais popular da cidade. Chloe está muito perto de vencer Shara se tornando a oradora da turma e terminar o ano com chave de ouro, mas faltando pouco mais de um mês pra formatura, Shara simplesmente desaparece. Como se isso já não fosse suspeito o bastante, Shara ainda lascou um beijo em Chloe sem maiores explicações antes de sumir no mundo, deixando a garota a beira de um ataque de nervos, chocada.

Depois de descobrir que Shara também beijou Rory, o vizinho, Chloe se junta a ele e invadem a casa da desaparecida em busca de pistas, e após isso eles tem a ideia de procurar o namorado de Shara para tentar decifrar as cartas que receberam. A partir daí, os três se juntam para formar uma aliança improvável numa tentativa de descobrir mais pistas sobre o paradeiro de Shara e solucionar esse verdadeiro mistério, e pra isso eles vão sair por aí invadindo todos os lugares possíveis e inesperados em busca de qualquer informação. Até que Chloe começa a perceber que Shara, através de pequenos detalhes encontrados, é bem diferente e parece ter mais camadas do que ela pensou, e que talvez ela devesse dar uma chance pra si mesma de permanecer em False Beach.

Narrado em terceira pessoa, os capítulos são curtos e bem fluídos, bem no estilo divertido, queer, atraente e emocionante da autora. Os capítulos vem em forma de uma contagem, mostrando quantos dias Shara está sumida e quantos dias faltam para a formatura.
Quem gosta da autora e acompanha seus livros já deve ter percebido que a construção dos personagens é a alma do negócio. São todos adoráveis, humanos, às vezes irritantes, e longes da perfeição. Mesmo que muito jovens, eles possuem camadas, são complexos em suas individualidades mas muito interessantes, cada um a sua maneira. Acompanhar o desenvolvimento da amizade, até então inimaginável, entre Chloe, Rory e Smith foi muito satisfatório, principalmente quando se trata de adolescentes que aprendem alguma coisa de útil com a experiência e demonstram inteligência. Chloe é sarcástica e as piadinhas em meio aos diálogos não abrem nenhuma brecha pra qualquer tédio durante a leitura, e achei que o bom humor ajudou bastante a trazer uma leveza para a trama de uma forma bem natural, mesmo quando alguns temas mais delicados, como racismo, homofibia e fanatismo religioso, eram abordados. A questão da cidade e a própria escola serem conservadoras acabam pesando nesses temas, pois vemos a influência da religião na educação e na maneira como os moradores se enxergam, logo também entramos na questão da criação da pessoa. A autora tem um cuidado muito grande em abordar o que a religião significa para os demais personagens que não são cristãos ou conservadores sem passar a ideia de que tudo é errado, ou de que tudo é preconceito, como se só existisse um lado da história, e isso acaba fazendo o leitor refletir sobre julgamentos. Há uma quantidade significativa de personagens queer, onde muito deles estavam em diferentes estágios de descoberta ou jornada sobre quem são e onde querem chegar dentro da comunidade.

Os momentos que a autora promove entre os amigos são engraçados, são sensíveis, há partes onde um apoia o outros em situações bem difíceis, e é impossível não torcer por eles a medida que eles vão sendo mais explorados e trazendo à tona as características de suas identidades e personalidades.

Confesso que Chloe não é uma personagem muito fácil de lidar, porque em alguns pontos a obsessão dela por Shara chega a ser meio esquisita e, às vezes, ela parece se achar superior aos outros por ter vindo da Califórnia a ponto de eu ficar a fim de dar um sacode nela. Outra coisa que me incomodou um pouco foi a questão da busca pelas pistas, que começa muito legal, mas vai chegando num ponto que se torna meio cansativa.

No mais, é um livro excelente sobre ser adolescente em processo de amadurecimento e descobertas num momento de incertezas e dilemas, em meio a sentimentos conflitantes que vão se desencadeando a partir de novas experiências. É uma história sensível e emocionante sobre ser você mesmo, sobre ir atrás do que se quer, e, inesperadamente, encontrar no meio do caminho.

Destruidor de Espadas - Victoria Aveyard

14 de dezembro de 2022

Título:
Destruidor de Espadas - Realm Breaker #2
Autora: Victoria Aveyard
Editora: Seguinte
Gênero: Alta Fantasia/Jovem Adulto
Ano: 2022
Páginas: 560
Nota:★★★★☆
Sinopse: No segundo volume dessa fantasia épica viciante, Corayne chega mais perto de se tornar uma heroína ― mas uma nova ameaça está à espreita.
Corayne não imaginava o que vinha pela frente quando um imortal e uma assassina bateram à sua porta. Eles anunciaram que ela era a única capaz de deter Taristan, um homem sedento por poder que estava abrindo portais para outros mundos, lares de criaturas aterrorizantes. Desesperada por uma aventura, ela partiu determinada a cumprir essa missão, com a ajuda de uma espada especial e de um grupo improvável de aliados.
Depois de uma batalha que quase lhes custou a vida, Corayne e os Companheiros conseguiram fechar um dos portais. Mas eles sabem que essa guerra está longe de acabar… Afinal, Taristan avança ao lado da rainha Erida, conquistando mais e mais territórios pelo caminho.
Quando percebem que o cerco está se fechando, resta aos Companheiros formar seu próprio exército. Num esforço de unir reinos há muito tempo divididos, eles vão enfrentar assassinos ardilosos, feras terríveis e mares tempestuosos. Tudo isso enquanto descobrem da pior forma que Taristan libertou um perigo ancestral, capaz de colocar em risco até a vida dos guerreiros mais poderosos.

Resenha: Destruidor de Espadas, de Victoria Aveyard, é o segundo volume da trilogia Realm Breaker que dá continuidade aos acontecimentos de Destruidor de Mundos.

Essa resenha pode ter spoilers do primeiro livro.

Depois de vários portais que dão acesso a outros mundos perigosos terem sido abertos pelo rei Taristan para espalhar o caos, Corayne, portando a espada que pertenceu a seu pai, conseguiu fechar um dos Fusos por ser a única capaz de realizar tal feito. O Fuzo que fora fechado deixa de ser uma ameaça, mas há outros espalhados que precisam ser fechados também. Assim, Corayne e a guilda de heróis composta por Sorasa, Andry, Dom, Valtik, Sigil e Charlie, que passou a ser chamada de "Os Companheiros", precisam correr contra o tempo para impedir que o pior aconteça, o problema é que eles não precisam lidar apenas com as ambições e os planos terríveis de Taristan, mas também com a rainha Erida. Ela quer se tornar imperatriz de Todala e que todos se curvem aos seus pés, mesmo que pra isso ela precise derramar sangue de inocentes e o povo que lute.

Levando em consideração a escrita do primeiro livro e dos outros livros da autora, eu já esperava que esse seguiria o mesmo padrão, mas confesso que fiquei exausta com a leitura deste. Capítulos gigantescos, arrastados e intermináveis, com descrições minuciosas pra cada grão de poeira que aparece e que poderiam ser retiradas sem afetar a história tornando a leitura muito mais fluída e rápida, economizando pelo menos metade das páginas. Admito que talvez ela compense essa enrolação com cenas de ação e aventura bem emocionantes, mas não achei que o equilíbrio foi justo. Também fiquei com aquela sensação meio amarga de que a autora cria aquela tensão em uma situação desesperadora ou que envolva algum romance para ficarmos na expectativa mas nada de terrível acontece, então num certo ponto, quando aparece outra cena desesperadora, já não há mais espaço pra preocupações, pois já sabemos que não passa de mais um susto e que daqui a pouco passa. A reviravolta é legal, mas é previsível. A tensão "amorosa" (entre aspas mesmo, porque aquilo tá mais pra alguma doença) entre Taristan e Erida é sofrível, e o tempo que a autora enrola pra eles darem um beijo chega a dar vontade de desistir.
Outra coisa que não me desce de jeito nenhum é a forma como Taristan é um vilão caricato e genérico, e as motivações que ele tem pra atingir seus objetivos são ridículas. E tenho que ser sincera em dizer que odiei com todas as minhas forças a tirania de Erida e como foi forçada a ideia dela ser odiada pelos nobres só por ser mulher. Ah, vá... Ela é odiada porque é uma maníaca que sai despejando atrocidades por onde passa, mas ainda assim não consegui engolir essa figura de rainha má que ela faz tanta questão de mostrar pros outros porque me soou tudo muito gratuito, e a ideia dela ter uma dependência emocional do rei também não combina muito bem com essa opressão que ela sai espalhando e com a liberdade que ela sempre afirma ter.

O ponto alto pra mim, assim como no primeiro volume, foi a construção das relações entre os personagens. Os Companheiros, mesmo que em maioria sejam super estereotipados dentro de suas funções, são leais uns aos outros e se tornaram uma verdadeira família, e os momentos que eles passam juntos, seja enfrentando perigos e passando por provações, ou em momentos de pequenas descontrações e descanso, é muito legal de acompanhar, principalmente pelos diálogos bem humorados e inteligentes.
Há um contraste bem interessante entre os relacionamentos entre Corayne e Andry, e Sorasa e Dom, mas sem partir para o romance descarado e meloso. Enquanto o primeiro mostra o papel da juventude e como eles terão as vidas marcadas numa guerra enquanto mantém a esperança de que tudo vai dar certo no final, o segundo foca no peso das escolhas que são feitas a partir de uma vasta experiência de vida, logo há esse equilíbrio em vez de só focar num drama adolescente que ninguém aguenta mais, e muitas cenas são bem sensíveis e emocionantes. As coisas são bem sutis pois o que está em jogo é a vida das pessoas, e o romance eles resolvem depois. Prioridades... O que acho o máximo é que por mais que Dom e Sorasa vivam brigando, no fundo a gente sabe que eles se importam um com o outro e que mais cedo ou mais tarde eles vão ceder.

Enfim, não achei que esse segundo volume superou o primeiro em qualidade e emoção, mas foi uma boa continuação que só atiçou ainda mais minha curiosidade pelo desfecho que deve sair em 2023. Pra quem gosta de alta fantasia, RPG, guildas, campanhas e muitas reviravoltas de tirar o fôlego, são livros mais do que recomendados. Os pontos que, pra mim, foram negativos são super contornáveis quando pensamos na grandiosidade da história e do que aparentemente está por vir.

Fumaça Branca - Tiffany D. Jackson

13 de dezembro de 2022

Título:
Fumaça Branca
Autora: Tiffany D. Jackson
Editora: Seguinte
Gênero: Suspense/Terrror
Ano: 2022
Páginas: 320
Nota:★★★☆☆
Sinopse: Mari não vê a hora de recomeçar. Prestes a se mudar com a família para uma cidadezinha no interior dos Estados Unidos, tudo o que a garota quer é esquecer dos traumas e acreditar que o futuro lhe reserva algo melhor.
Porém, assim que chega a Cedarville, Mari nota que o lugar é um pouco estranho. Os vizinhos aparentam esconder algum segredo, e a casa onde a família vai morar ― uma construção antiga, enorme e suntuosa ― parece não receber bem os novos habitantes. Quando coisas incomuns começam a acontecer, como luzes que se apagam do nada e objetos que desaparecem, Mari se vê envolvida em uma perigosa teia de mistérios.
Mas talvez seja tudo fruto da sua imaginação. Afinal, se o pior já ficou para trás, nada mais pode dar errado…
Ou pode ?

Resenha: Marigold Anderson é uma adolescente que precisa de um novo rumo pra sua vida depois de sofrer uma overdose. Ela desenvolveu um trauma após uma infestação de percevejos e além de ter compulsão por limpeza, ela sofre de alguns transtornos psicológicos e, mesmo que tenha vontade de ficar limpa de qualquer tipo de droga depois daquele episódio, ela acredita que fumar maconha é o melhor remédio para tratar seu alto grau de ansiedade. Mari se muda com a família (sua mãe, seus irmãos, seu padrastro e a filha dele) para Cedarville, uma cidadezinha interiorana, para esse recomeço.
A fundação Sterling, num processo de gentrificação urbana, oferece uma casa histórica em reforma para a família de Mari desde que um membro da família contribua para a cidade de forma artística (a mãe de Mari é escritora), mas algo parece estar bem errado com a casa e com o bairro em si. As coisas somem, as luzes se apagam sozinhas, o porão trancado (onde eles são proibidos de ir) exala um cheiro de morte, os pedreiros fogem a partir de um determinado horário, os vizinhos são super desconfiados e estranhos, a cidade tem um histórico de violência assustador, e tudo isso deixa Mari muito intrigada. Mas a mudança era necessária, ou pelo menos é o que Marigold vem repetindo pra si mesma como parte do seu processo de cura. O que importa é que a família está confiante de que agora as coisas irão dar certo, e ignoram as coisas estranham que cercam o lugar. 

Narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Marigold, Fumaça Branca é um livro de suspense com cenas que causam desconforto e até revolta, pois além das cenas que deveriam ser assustadoras que se passam dentro da casa, os acontecimentos fora dela são absurdos e abordam temas pesados como uso de drogas, fanatismo religioso, racismo e outros mistérios que demonstram claramente que algo de muito errado vem acontecendo alí.

A escrita da autora é boa no que diz respeito aos mistérios e acontecimentos, mas além de não conseguir visualizar os detalhes do cenário e da casa propriamente dita por falta de melhores descrições, não consegui me conectar muito com a leitura pois todas as coisas estranhas que acontecem parecem ter o propósito de afastar o leitor em vez de manter a curiosidade dele, mesmo que haja temas importantes a serem discutidos sobre a sociedade num geral. Achei que o ritmo da história oscila bastante e não mantém um padrão de acontecimentos, principalmente porque termina de forma abrupta e deixa o leitor sem respostas (e sem acreditar). Eu não sei se a experiência com livros de terror mais assustadores pode ter comprometido minha experiência com a leitura deste, mas fiquei com aquela sensação de que, apesar da história trazer aquela atmosfera sobrenatural, não era realmente assustadora o suficiente, só desconfortável. É como se a autora quisesse misturar os traumas da protagonista com o uso de drogas a ponto dela não saber o que é realidade e fantasia, e como a narrativa é em primeira pessoa, não sabemos se podemos confiar na palavra dela. Por um lado isso é muito interessante pois ficamos tentando decifrar as coisas junto com Mari, mas a quantidade de coisas acontecendo ao mesmo tempo acaba trazendo mais confusão do que entendimento.

Mari é totalmente paranoica com a questão dos percevejos e de limpeza, o que é doentio, e em meio a narrativa sempre há uma nota dela fazendo alguma observação sobre eles, mostrando o quanto esse "tique" causa incômodo e pavor tanto nela quanto no leitor.

A dinâmica da família de Mari era interessante, pelo menos inicialmente quando eles se mudam com um propósito, mas depois as coisas começam a ficar estranhas, os problemas vão aparecendo e o único sentimento que tive foi uma grande antipatia por todos eles, mesmo que a vontade deles fosse de recomeçar.

A autora fala muito sobre a questão da revitalização e habitação do bairro, a criminalização de drogas e a prisão em massa das pessoas, e como as pessoas podem ser cruéis quando são beneficiadas de alguma forma, e de outro lado ela fala sobre esse lado sombrio dos fantasmas que tornam a casa "mal-assombrada", e fiquei com aquela sensação de que a autora quis abordar mais temas do que a história comporta, e no final nenhum deles teve o devido aprofundamento. Não achei que o aspecto sobrenatural combinou com as questões sociais levantadas aqui. Imagino que possa ser um livro pra quem tem curiosidade pelo gênero de terror e suspense, que incomode, mas não queira nada muito apavorante ou cheio de reviravoltas.

Wishlist #15 - Board Games - Coleção Cidades Sombrias

12 de dezembro de 2022

A Coleção Cidades Sombrias traz uma série de jogos que se passam em alguma cidade que fez parte da História por algum acontecimento marcante e até sombrio. Cada um deles tem uma temática diferente, o que vai agradar fãs de jogos de vários estilos. Tortuga tem a temática pirata e tesouros, Salem é sobre bruxas e aldeões, Deadwood é de faroeste, e Bristol tem uma temática medieval que gira em torno da peste bubônica que assolou os moradores. São jogos que basicamente envolvem dedução, blefe e gerenciamento de mão, mas alguns também requerem jogadas em equipe, outros votação e eliminação de jogadores, e outros rolagem de dados. E mesmo que sejam bastante diferentes no que diz respeito ao tema, eles formam uma coleção bem diferente dos jogos tradicionais, pois a caixa deles é em formato de livro e a coleção junta fica a coisa mais linda ao ficarem enfileirados na estante.
São jogos pra se jogar com várias pessoas quando a galeria tá reunida, e é quase certeza que vai rolar aquela briga marota que só um party game é capaz de proporcionar. Quero todos na minha mesa/estante já.

Cidades Sombrias #1 - Tortuga 1667
Editora/Fabricante: Galápagos
Criadores: Travis Hancock e Sarah Keele
Idade recomendada: 14+
Jogadores: 2-9
Descrição: Estamos em 1667, e você é um pirata cruzando os mares do Caribe. Um Galeão Espanhol veleja por perto, e você convenceu sua tripulação a trabalharem juntos para roubar todos os tesouros do navio que se aproxima cada vez mais. Mas o que você não disse aos seus camaradas piratas é que não tem nenhuma intenção de compartilhar o tesouro quando puser as mãos nele. Você ainda é leal ao seu país, e ter todo esse tesouro só para si lhe ajudaria a comprar algum respeito quando voltar para casa. Sua tripulação lhe jura lealdade e prometem que lhe ajudarão a abandonar os piratas gananciosos que estão em seu navio na rochosa ilha Tortuga. Porém, você viu as pistolas carregadas de seus amigos, e não consegue ignorar a desconfiança crescente ao vê-los sussurrando algo sobre um motim. É melhor não confiar em ninguém.

Cidades Sombrias #2 - Salem 1692
Editora/Fabricante: Galápagos
Criadores: Travis Hancock e Sarah Keele
Idade recomendada: 14+
Jogadores: 4-12
Descrição: O ano é 1692. A cidade é Salem, no estado de Massachusetts. O mal está à espreita e você tem certeza de que alguns de seus vizinhos são Bruxas! Durante a partida, você compra e joga cartas para acusar os jogadores nos quais não confia e ajudar aqueles participantes que você acha que estão do seu lado.
Quando o baralho acaba e a Carta da Noite é revelada, as Bruxas tentam matar um jogador inocente. Os jogadores que tiveram uma Carta de Julgamento de Bruxa em qualquer momento do jogo serão sempre Bruxas, e vencem se tiverem matado todos aqueles que não forem Bruxas. Os jogadores que nunca tiveram uma carta de Bruxa durante todo o jogo (os moradores da cidade) vencem a partida se forem capazes de revelar todas as Cartas de Julgamento nas quais está escrito “Bruxa”.
Durante a partida, a Carta de Conspiração move as Cartas de Julgamento, e alguém em quem você confia pode se tornar uma Bruxa no meio do jogo. Você tem que agir rápido ou será o único Puritano virtuoso em uma cidade dominada pelo mal! 

Cidades Sombrias #3 - Deadwood 1876

Editora/Fabricante: Galápagos
Criadores: Travis Hancock e Sarah Keele
Idade recomendada: 14+
Jogadores: 2-9
Descrição: Há ouro nas Colinas Negras (Black Hills), em Dakota do Sul, e você veio para encontrar (ou roubar) o seu quinhão. Você se hospedou em um dos três maiores estabelecimentos da cidade, e
planeja, com seus comparsas, roubar alguns dos cofres cheios de ouro espalhados pelo local.
Mas você suspeita que seus “sócios” estão juntando armas em segredo. Para quê? Para poderem usá-las contra você em um confronto final e depois ficarem com todo o seu ouro. Será que você está preparado para atirar neles antes que eles atirem em você pelas costas?


Cidades Sombrias #4 - Bristol 1350
Editora/Fabricante: Galápagos
Criadores: Travis Hancock, Holly Hancock e Sarah Keele
Idade recomendada: 14+
Jogadores: 1-9
Descrição: A temida peste bubônica atingiu a cidade de Bristol. Bristol 1350 é um jogo semicooperativo que mistura mecânicas de corrida, blefe e dedução social. Vocês são aldeões tentando escapar da peste bubônica, pegando carona em carroças saindo da cidade. Se a sua carroça for a primeira a sair de Bristol e estiver cheia de aldeões saudáveis, você e seus companheiros de carroça ganham o jogo. No entanto, se durante a partida algum aldeão contrair a temível peste, ele deve esconder seus sintomas e escapar em uma carroça para vencer – e nesse processo contaminar todos a bordo. Se você, uma pessoa saudável, escapar na mesma carroça que o aldeão contaminado, você vai contrair a praga e seus dias estarão contados. Use qualquer meio egoísta para sair da cidade o mais rápido possível sem a praga – descubra quem é o contaminado e empurre o para fora da carroça antes que seja tarde demais.

O Livro das Respostas (Moon Edition) - Carol Bolt

11 de dezembro de 2022

Título:
 O Livro das Respostas (Moon Edition) - A sabedoria está na simplicidade
Autora: Carol Bolt
Editora: Darkside
Gênero: Oráculo
Ano: 2022
Páginas: 352
Nota:★★★★★
Sinopse: Todos nós queremos bons conselhos para perguntas fundamentais em nossa vida. Um insight, uma simples palavra são capazes de nos colocar novamente no rumo das nossas conquistas e desejos. Devo abrir meu coração para este poderoso sentimento? Amar como se não houvesse amanhã? Dar uma segunda chance para aquela pessoa da família? Fazer uma longa viagem para me reencontrar? A resposta para essas e outras perguntas você encontra em O Livro das Respostas, um pequeno oráculo capaz de falar conosco de forma profunda e intimista.

Resenha: O Livro das Respostas, da autora Carol Bolt e publicado pela Darkside, é um pequeno oráculo capaz de responder perguntas pro dia a dia e trazer reflexões para os leitores que curtem o lado místico da vida.


O engraçado é que ele vem com instruções de uso, mas basicamente, basta se concentrar e mentalizar uma pergunta, girar o livro e abrir numa página aleatória. E mesmo que seja aberto de cabeça pra baixo, ele tem o lado invertido e vai dar uma resposta, sempre curta e direta, da mesma forma.



Eu adoro esse tipo de livro que faz esse tipo de interação com o leitor pois, às vezes, a única coisa que a gente precisa é de uma direção, seja quando bate aquele aperto, quando há dúvidas, ou quando ficamos curiosos por algo, e nesse sentido o livro funciona direitinho e de forma bastante descomplicada, às vezes sensível, ou às vezes bem direta, pra quem acredita nesse lado da espiritualidade.

A Darkside já havia lançado a Secret Edition (da capa preta), mas fiquei aguardando a Moon Edition pois achei bem mais chamativa e bonita. A capa dura e os detalhes no interior só deixam o livro ainda mais bonito e super rico.




As fases da lua dispostas na lateral são pretas, e a mandala na capa faz um degradê entre marrom e bege que simula um efeito dourado, mas não é dourado, não.

No mais, eu super indico pra quem curte e acredita no tema, gosta de oráculos e procura por conselhos rápidos e certeiros pras mais diversas questões. Tenho certeza que a experiência vai ser tão legal quanto surpreendente.

Vermelho, Branco e Sangue Azul (Ed. de colecionador) - Casey McQuiston

10 de dezembro de 2022

Título:
Vermelho, Branco e Sangue Azul (Ed. de colecionador)
Autora: Casey McQuiston
Editora: Seguinte
Gênero: New Adult/Romance
Ano: 2022
Páginas: 416
Nota:★★★★★
Sinopse: O que pode acontecer quando o filho da presidente dos Estados Unidos se apaixona pelo príncipe da Inglaterra?
Quando sua mãe foi eleita presidente dos Estados Unidos, Alex Claremont-Diaz se tornou o novo queridinho da mídia norte-americana. Bonito, carismático e com personalidade forte, Alex tem tudo para seguir os passos de seus pais e conquistar uma carreira na política, como tanto deseja.
Mas quando sua família é convidada para o casamento real do príncipe britânico Philip, Alex tem que encarar o seu primeiro desafio diplomático: lidar com Henry, irmão mais novo de Philip, o príncipe mais adorado do mundo, com quem ele é constantemente comparado - e que ele não suporta.
O encontro entre os dois sai pior do que o esperado, e no dia seguinte todos os jornais do mundo estampam fotos de Alex e Henry caídos em cima do bolo real, insinuando uma briga séria entre os dois.
Para evitar um desastre diplomático, eles passam um fim de semana fingindo ser melhores amigos e não demora para que essa relação evolua para algo que nenhum dos dois poderia imaginar - e que não tem nenhuma chance de dar certo. Ou tem?

Resenha: Neste mês de dezembro de 2022, a Seguinte lançou uma nova edição de Vermelho, Branco e Sangue Azul, da autora Casey McQuiston. A história conquistou milhares de leitores no Brasil e agora chega com capa dura, novo design, guardas ilustradas, laterais coloridas, páginas amarelas, e ainda tráz um capítulo inédito narrado pelo ponto de vista de Henry.

Alex é o filho da presidente dos Estados Unidos. Queridinho pela mídia, bonito, talentoso e carismático, o jovem já faz parte do meio político e tem tudo para se dar bem se seguir os passos da mãe. Quando sua família é convidada para o casamento real do príncipe britânico Philip, ele não esperava ter que lidar com Henry, irmão do príncipe e que é sempre comparado a Alex, o que ele ODEIA e faz com que ele o considere uma enorme pedra em seu sapato. Até que uma situação inusitada faz com que eles pareçam inimigos frente à mídia, causando ameaças aos acordos entre os governos dos países. A fim de evitar maiores problemas, eles são obrigados a se comportar como se fossem melhores amigos para manter as aparências e afastar qualquer fofoca, mas esse lance vai acabar fazendo com que os dois se aproximem mais do que pensaram ser possível...

Já trouxe a resenha do livro no blog em 2020, clique aqui pra conferir, mas não resisti a essa edição lindíssima e tive que incluí-la na coleção. Então, vim deixar fotos pra vocês ficarem babando como eu fiquei, espiem:











Realmente a edição está uma riqueza só. Capa dura, gramatura das páginas excelente, ilustrações super fofas nas guardas (a parte interna da capa), laterais coloridas fazendo um degradê entre o vermelho e o azul, enfim... É aquela edição que não pode faltar na estante de quem é fã.

Lore Olympus (vol.2) - Rachel Smythe

9 de dezembro de 2022

Título:
Lore Olympus - Histórias do Olimpo #2
Autora: Rachel Smythe
Editora: Suma
Gênero: Graphic Novel/Fantasia/Mitologia Grega
Ano: 2022
Páginas: 368
Nota:★★★★★
Sinopse: Perséfone estava pronta para começar uma nova vida quando deixou o Reino Mortal para viver no Olimpo. Porém, ela logo descobriu o lado sombrio do novo e deslumbrante lar, e agora tenta encontrar seu lugar no mundo dos deuses, sempre em constante e rápida mudança. Hades também está abalado, lutando contra seus sentimentos pela jovem Deusa da Primavera, enquanto mantém seu reinado solitário do Submundo. Conforme se aproximam, os dois precisarão desatar os nós do passado e do presente para construir um futuro juntos.
O segundo volume da série contém os episódios 26 a 49 do webcomic, além de um conto exclusivo e inédito.

Resenha: Dando continuidade ao livro anterior, este segundo volume traz os episódios 26 a 49 de Lore Olympus, mais um capítulo extra que ficou de fora da publicação original.

Partindo de onde parou, Hades e Perséfone continuam se aproximando cada vez mais. Com o início das aulas, Perséfone começa a se dedicar aos estudos, mas ainda pensa muito em Hades e em como ele mexe com os sentimentos dela. E Hera, sabendo do interesse de Hades, mas sem saber que a jovem deusa é uma candidata a DEV (Deusas da Eterna Virgindade), tenta dar um empurrãozinho fazendo uma indicação para que Perséfone vá trabalhar para o deus dos mortos no submundo como estagiária, para deixar os pombinhos mais próximos. E com Perséfone por perto, Hades vai ficar cada vez mais balançado pela deusa cor-de-rosa.

Percebi algumas mudanças em relação ao primeiro volume e fiquei muito satisfeita: apesar de Perséfone ter ficado traumatizada com o abuso que sofreu, não há tantos gatilhos para temas sensíveis/pesados, e a leitura é bem mais leve e agradável, mesmo que haja algumas cenas mais tristes. Além disso, as personagens parecem ter passado por uma reformulação em seus corpos esculturais, fugindo daquele padrão de gostosonas peitudas em posições sensuais e nada a ver. A tradução também evitou expressões abrasileiradas.

Mesmo que Perséfone ainda seja bastante ingênua diante de alguns fatos, como é o caso da exposição sensacionalista que tentam fazer para sujar sua reputação, ela está começando a se impor e a enfrentar quem se aproveita dessa sua inocência. Acredito que ela ainda tem muito a aprender, mas ao que tudo indica, ela já está no caminho.

Hades parece estar muito mais fragilizado em relação aos seus conflitos internos, pois finalmente está considerando o absurdo que é um deus matusalênico de mais de 2 mil anos se envolvendo com uma adolescente de 19. Levando em conta a questão da DEV, ele enfrenta vários bloqueios e começa a lutar contra esses sentimentos, mesmo sabendo que Perséfone é a única que desperta o melhor nele. Com isso, ele mostra ser muito diferente de seus irmãos, que fazem o que querem sem se importar com as consequências, enquanto ele tenta agir com razão para proteger os envolvidos do pior. Senti pena dele, pois precisa manter a pose de líder inabalável quando, por dentro, está completamente destroçado. A carta que ele escreve para expressar seus sentimentos (como forma de terapia) me deixou arrasado, principalmente porque acompanhamos cenas de alguns acontecimentos envolvendo Perséfone que intensificam ainda mais esse drama.

Não havia mencionado o envolvimento entre Hades e Minte, a ninfa, que ocorre no primeiro volume. É algo que eles têm antes de Hades conhecer Perséfone, mas não é sério nem oficial, já que a família de Hades a detesta. Minte e Hades tinham uma relação que parecia ser mais sexual do que qualquer outra coisa, e ela costumava tratá-lo mal, acreditando que isso o mantinha preso a ela. Com a presença de Perséfone, ele acaba se afastando da ninfa, o que desperta sua revolta. Agora, Minte tem um motivo para causar problemas, pois simplesmente não aceita ser "trocada", o que vai gerar alguns conflitos na trama.


Outra coisa é que, mesmo que a autora use as referências da Mitologia, como por exemplo, os outros nomes dos quais os deuses são conhecidos, algumas das características que existem em seus mitos ou o egocentrismo que todos sabem fazer parte da personalidade desses deuses, a história de amor em si, apesar de ser bem fofa e legal de acompanhar, não apresenta nada demais se compararmos com outros romances. Então, levando isso em consideração, a história poderia ser contada da mesma forma, mesmo sem essa inspiração na Mitologia, especialmente considerando as várias mudanças que ocorrem por se tratar de uma releitura.

Ainda assim, cada episódio deixa a história mais envolvente e muita coisa fica sem uma resolução, pois Perséfone não fala nada quando sofre alguma injustiça. Ficamos na expectativa de como Hades irá descobrir e qual será a consequência que os responsáveis irão enfrentar quando a verdade vier à tona. No final, a curiosidade de correr pro WebToon e continuar acompanhando a história pra descobrir o que está por vir é quase incontrolável. Mas, tô aqui me segurando pra manter a surpresa e vou tentar aguardar os lançamentos impressos da Suma com paciência. Socorro.

Continuo recomendando pra quem curte quadrinhos e romances fofos, e agora resta esperar pelo próximo volume.

Lore Olympus (vol.1) - Rachel Smythe

8 de dezembro de 2022

Título:
Lore Olympus - Histórias do Olimpo #1
Autora: Rachel Smythe
Editora: Suma
Gênero: Graphic Novel/Fantasia/Mitologia Grega
Ano: 2022
Páginas: 384
Nota:★★★★☆
Sinopse: Perséfone, a jovem Deusa da Primavera, acabou de chegar no Olimpo. Criada no reino mortal pela mãe de pulso firme, Deméter, ela recebe a permissão para viver no mundo dos deuses enquanto se prepara para seguir a vida como uma virgem sagrada.
Quando a amiga Ártemis leva Perséfone para uma festa, sua vida muda completamente: lá ela conhece Hades, e o charmoso e incompreendido líder do Submundo desperta nela uma chama. Agora, Perséfone precisa aprender a lidar com as relações e as políticas confusas que regem o Olimpo, enquanto descobre seu lugar e seu próprio poder.
O primeiro volume da série reúne 25 episódios do webcomic, além de um conto exclusivo e inédito.

Resenha: Lore Olympus é uma graphic novel bastante aclamada da autora Rachel Smythe, que fez uma releitura da história dos deuses da Mitologia Grega, Perséfone e Hades. A série em quadrinhos vem tendo publicações semanais que podem ser lidas (em inglês) na plataforma WebToon, e os livros impressos estão sendo publicados pela Suma aqui no Brasil. Este primeiro volume reúne os primeiros 25 episódios e mais um conto exclusivo (seria o episódio 10), que acabou ficando de fora da publicação original para dar uma maior fluidez à trama.

Nesta releitura, Perséfone cresceu no mundo mortal e longe dos deuses sob a superproteção de sua mãe, Deméter, que só permitiu que, agora aos 19 anos, ela viesse para a cidade por ter ganhado uma bolsa financiada pela deusa Héstia, das Deusas da Eterna Virgindade, o que significa que ela é uma candidata a virgem sagrada que levará uma vida modesta a serviço dos outros por toda a eternidade. Ártemis, que também é candidata, hospedou Perséfone como colega de quarto para ajudá-la nessa jornada e ficar de olho na moça. Até que em sua primeira noite na cidade, Ártemis leva Perséfone a uma das festas de Zeus para ela conhecer gente nova, já que passou a vida isolada sob a constante vigilância de Deméter.
Na festa, quando ela é vista por Hades, ele fica encantado por sua beleza e faz um comentário com seus irmãos, Zeus e Poseidon, sobre Perséfone deixar Afrodite, a deusa do amor e da beleza, no chinelo. Afrodite ouve aquilo e não gosta nada do comentário, e Perséfone se torna um tipo de alvo de vingança para a recalcada. Afrodite obriga/chantageia Eros, seu filho, a embebedar Perséfone e a colocá-la no banco de trás do carro de Hades para que ela "aprendesse uma lição". Assim, sem querer, Hades a leva pro submundo, e quando percebe sua presença, ele acaba sendo bastante respeitoso com ela. Eles passam alguns momentos juntos, e em meio a conversas, flertes, um casaco de peles de presente e uma apresentação para cada cachorro que Hades tem, a química que começou alí é instantânea. No dia seguinte, Hades leva Perséfone de volta pra casa, mas a partir dalí, mesmo que nada demais tenha acontecido, eles não conseguem esquecer um do outro, e talvez esse seja o início de muitas confusões...


Confesso que embora não seja uma pessoa fanática por Mitologia Grega, este é um tema que me chama atenção e fiquei bastante curiosa pra saber como seria uma releitura do famoso mito do deus que sequestra a própria sobrinha e a leva para o submundo para tomá-la como esposa (por que choras, Targaryens?) e que tipo de adaptação seria feita pra tornar essa história no mínimo romântica. Mesmo que eu só tenha ouvido falar de Lore Olympus quando a própria Suma anunciou o lançamento, eu fiquei bem animada com uma HQ trazendo essa história de Perséfone e Hades, então tratei de ler sem antes me dar ao trabalho de pesquisar nada sobre o volume pra não me deixar influenciar ou pegar spoilers, e, embora tenha curtido bastante como essa adaptação foi feita, tenho algumas ressalvas que acho válido pontuar.

Antes de mais nada preciso dizer que eu adoro HQ's num geral e eu amei de paixão admirar as ilustrações de Lore Olympus. As expressões dos personagens conseguem passar muita coisa sem que haja necessidade de descrições mais detalhadas, e por mais que os personagens sejam parecidos uns com os outros e tenham detalhes mínimos que os diferenciam além de suas cores ou seus penteados, essa questão das expressões é absurda de bem feita. Até alguns quadros em preto e branco que indicam algum momento mais sombrio foram bem colocados para intensificar uma determinada situação. A combinação de traços irregulares e rabiscados com as cores em aquarela é de encher os olhos. Sobre as ilustrações, só não curti muito as mulheres sempre terem um corpão tipo ampulheta, com cintura finíssima, peitões e quadris largos, e aparecerem em alguma posição sugestiva numa situação nada a ver. Achei um tanto desnecessário.
A tradução foi feita adaptando boa parte dos diálogos em termos abrasileirados e alguns palavreados, e eu confesso que quando li a palavra "mamacita", entre outras expressões, eu dei uma revirada de olhos de leve porque acho que é mais um recurso desnecessário na tradução.


Perséfone aparece como uma jovem inexperiente e muito inocente frente a esse mundão que ela está descobrindo e a esse bando de deuses de personalidades peculiares que ela ainda não conhecia, e essa inocência é tanta que chega a doer, pois ela já tem uma experiência péssima em meio a essa sociedade tão cruel. Ela não sabe se impor, é altamentre manipulável e a sensação de pena e raiva são inevitáveis, pois se ela fosse um pouquinho mais firme talvez teria evitado algo terrível. É aí que entra os assuntos delicados que trazem os devidos alertas de gatilho que a autora aborda, como abuso psicológico e sexual, relacionamentos abusivos e saúde mental, e por mais que não haja nada explícito, achei um tanto pesada a cena de abuso que Perséfone sofre na história, e a forma como ela encara o momento é de partir o coração.

Em contrapartida, por mais que a diferença de idade seja gritante, Hades é um deus com várias camadas, tão experiente quanto misterioso, mas que tráz um certo equilíbrio na vida de Perséfone embora seja um tanto imcompreendido. Em Lore Olympus ele está longe de ser um vilão, muito pelo contrário, pois assim como Perséfone, ao que tudo indica, eles vão aprendendo com os erros e encontrando apoio um no outro sempre que têm a oportunidade de se encontrarem. A aproximação dos dois é devagar, eles vão se conhecendo aos poucos e de uma forma bastante lenta e delicada, o que torna esse primeiro volume bastante introdutório. Em alguns pontos a história pode ser até um pouco confusa por não haver uma contextualização sobre os mitos pra quem não conhece, até mesmo pelo fato de que a autora também aborda questões dos outros deuses, como é o caso de Afrodite, Eros e Psiquê, Hera e Zeus, Apolo (esse grandessíssimo filho da p*ta) e etc...

No mais, é um livro de leitura muito rápida (recomendo até reler em seguida pra pegar algumas referências e entender melhor os acontecimentos), mas a sensibilidade das situações realmente foram capazes me me tocar e me deixar bastante emocionada. Pra quem gosta de HQ's e ilustrações num geral, de romances sensíveis que se desenvolvem de forma bem lenta e gradual, e curte releituras da Mitologia Grega, Lore Olympus é mais do que indicado.

Wishlist #14 - Board Games - Flamecraft

7 de dezembro de 2022

Costumo acompanhar o Spoiler Board da Galápagos e há meses eu vinha suspirando pelo Flamecraft sem sequer saber como seria a mecânica do jogo, pois não tinha nenhuma informação a não ser a foto da caixa. Já fiquei apaixonada só pela arte lindíssima e colorida, e pelo jogo ter uma temática de dragões fofos. Agora que ele já foi lançado e alguns canais de board games já começaram a fazer videos de regras e gameplay, só posso dizer que minha intuição sobre o jogo ser do estilo que gosto nunca falhou. Quero na minha mesa pra ontem, sim ou com certeza?
Editora/Fabricante: Galápagos
Criador: Manny Vega e Sandara Tang
Idade recomendada: 14+
Jogadores: 1-5
Descrição: Seja bem-vindo à Flamecraft, um mundo onde dragõezinhos artesãos e humanos convivem em harmonia!
No mundo fantasioso de Flamecraft, humanos e pequenos dragões convivem pacificamente, usando suas diferentes habilidades para se ajudarem. Nesse mundo, dragões artesãos, versões menores e magicamente talentosas de seus primos maiores (e destrutivos), são procurados pelos lojistas para que possam encantar os clientes e ajudar com os negócios!
Os jogadores assumem o papel de Guardachamas, pessoas com habilidade de conversar com dragões e responsáveis por alocar os dragões nos diferentes comércios da cidade, assim construindo sua reputação. Como os dragões possuem diferentes especialidades (pão, carne, ferro, cristal, planta e poção), jogadores precisam ser inteligentes na alocação de seus amigos répteis!
Durante uma partida, os jogadores visitam lojas para ganhar itens e favoresde um dos dragões lá, e usam os itens coletados para encantar as lojas, ganhando reputação e os favores de todos os dragões da loja –faça os combos mais criativos e corra atrás de objetivos secretos para ganhar mais reputação ainda!
Um jogo estratégico, mas que é fácil de aprender e mais fácil ainda de se apaixonar! Ganhe o jogo ao ser nomeado Mestre do Ofício Ígneo –o Guardachama com a melhor reputação da cidade!

Na Telinha - Wandinha

5 de dezembro de 2022

Título
: Wandinha (Wednesday)
Temporada: 1 | Episódios: 8
Distribuidora: Netflix
Elenco: Jenna Ortega, Gwendoline Christie, Catherine Zeta Jones, Luis Guzmán, Christina Ricci, Emma Myers, Hunter Doohan, Percy Hynes-White, Riki Lindhome, Georgie Farmer, Joy Sunday, Moosa Mostafa, 
Gênero: Sobrenatural/Fantasia/Mistério
Ano: 2022
Duração: 55min
Classificação: +12
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Inteligente, sarcástica e apática, Wandinha Addams pode estar meio morta por dentro, mas na Escola Nunca Mais ela vai fazer amigos, inimigos e investigar assassinatos.

Baseada nos personagens clássicos de A Família Addams, Tim Burton e companhia produziram a série Wandinha, que traz a adolescente de olhar penetrante, fria e calculista, e que despreza tudo e todos, de volta às telinhas ao incorporar uma detetive astuta que se vê ligada a um tipo de profecia macabra e se dedica a passar por cima da polícia para desvendar enigmas mirabolantes e investigar uma série de assassinatos misteriosos que acometem a fictícia cidadezinha de Jericho e a Academia Nunca Mais, a escola/internato pra onde ela é enviada contra sua vontade depois de ter sido expulsa da anterior por "tentativa de homicídio", onde seus pais estudaram quando eram adolescentes, e onde os "excluídos, aberrações, criaturas sobrenaturais e afins" aprendem a dominar suas habilidades numa época contemporânea e cheia de referências às tecnologias e redes sociais da atualidade, tecnologias estas que Wandinha se recusa a utilizar e tem uma opinião sólida e formada sobre.
"As redes sociais são um vazio de afirmações insignificantes"
Addams, Wandinha

Com a ajuda de Mãozinha, conforme Wandinha investiga os mistérios da cidade e da escola para descobrir quem é o assassino, ela também equilibra as investigações fazendo amizades e inimizades por aí, e ainda tem sessões de terapia compulsória numa tentativa de controlar melhor seu temperamento bizarro e seu instinto assassino.

A série tem vários toques de bom humor e traz várias referências que, num geral, casam bem com as cenas um pouco mais pesadas que envolvem violência, sangue esguichando, partes de corpo espalhadas e feridas abertas e horrorosas. Mas apesar de ser divertida e bem instingante, o que não curti muito foi exatamente o aproveitamento dos personagens da família Addams, que inclusive já foi bastante explorada, pra criar uma história que poderia ter sido feita com qualquer outro personagem nesse estilo a la Tim Burton (tornando as coisas um pouco mais originais talvez?). Essa pegada adolescente de primeiro amor, primeiro beijo, paixões não correspondidas, enemies to friends e afins não parecem se encaixar muito bem na atmosfera mórbida e obscura da qual quem cresceu assistindo Família Addams se lembra, e a nostalgia acabou ficando prejudicada pra mim nesse sentido. Muitos personagens não foram bem aproveitados, como é o caso de irmão de Wandinha, Feioso, que só aparece pra comer; Tio Chico, que acaba aparecendo pra ser um facilitador de enredo, fazendo uma participação um tanto conveniente para o desenrolar dos fatos; e os próprios pais, Mortícia e Gomez, que parecem estar deslocados e sem personalidade alguma.

Outra coisa é que em meio a essa investigação sobrenatural da qual Wandinha deposita toda a sua energia, ao final quando a identidade do monstro enfim é revelada, fiquei com aquela sensação de que qualquer um poderia ter assumido esse papel e a série poderia ter tido dezenas de finais diferentes de acordo com a conveniência.



Na série, Wandinha está aprendendo mais sobre seu dom sobrenatural há pouco descoberto, que é ter visões do passado e do futuro quando encosta em alguém ou em alguma coisa ligada a determinado acontecimento, o que, obviamente, a ajuda muito durante suas investigações. Quando ela entra em transe durante as visões é um tanto assustador, pois ela fica com os olhos vidrados e joga o corpo pra trás de repente como se fosse se partir ao meio, e acredito que o incômodo que essa esquisitice causa em quem assiste, assim como a expressão firme e mega rígida da personagem que não pisca uma vez sequer e faz qualquer um pensar que ela seja uma maníaca, é totalmente proposital - e bem colocada inclusive. A ideia dela estar num ambiente que faz com que ela demonstre o quanto é forte, corajosa e amadureça com essas experiências é bastante interessante e fortalece essa personalidade peculiar, e penso que seja mais interessante do que os momentos em que ela começa a ceder a ponto de demonstrar um pouco de humanidade, compaixão e, pasmem, sentimentos. É quase a mesma coisa que esperar que, por exemplo, uma Miranda Priestly da vida (Meryl Streep em O Diabo veste Prada) peça desculpas pra alguém. Inconcebível.


Enfim, o visual da série é super adequado ao que se propõe, pois parece ampliar a atmosfera sombria da família pra outros ambientes, fazendo com que a protagonista leve o preto e branco por onde passa. O ar de lugubridade que cerca Wandinha promove um enorme constraste com a escola e a cidade, principalmente no que diz respeito a sua colega de quarto, Enid Sinclair, uma adolescente que descende de uma família de lobisomens, feliz, sorridente e saltitante, sempre empolgada com qualquer coisa, viciada em redes sociais, maquiagem, contato físico e mais cores do que Wandinha é capaz de suportar.


Sei que as propostas são diferentes, mas ainda acho que Angelica Houston como Mortícia, e Christina Ricci como Wandinha da família Addams dos anos 90 são insuperáveis, inclusive Ricci também faz parte do elenco interpretando Marilyn Thornhill, a professora de Herbologia (se não me engano) de Nunca Mais e que parece ter muitos segredos. Achei super legal a participação dessa atriz na série.


No mais, penso que seja uma série pra assistir sem compromisso, pra se divertir e curtir, e pra se curar de uma ressaca de outra série mais pesada. Tem suas falhas, tem seus clichês, talvez funcione melhor com um público que teve pouco ou nenhum contato com o material original para evitar comparações, mas não nego que gostei e maratonei até acabar.