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Lore Olympus (vol. 4) - Rachel Smythe

5 de junho de 2024

Título: Lore Olympus - Histórias do Olimpo #4
Autora: Rachel Smythe
Editora: Suma
Gênero: Graphic Novel/Fantasia/Mitologia Grega
Ano: 2023
Páginas: 384
Nota:★★★★☆
Sinopse: Hades busca apoio na vida pessoal, Zeus faz pouco-caso dos seus sentimentos e Minte volta a ter comportamentos abusivos. Por mais que tente impor seus limites, o rei do Submundo continua sozinho e perdido.
Perséfone, igualmente isolada depois que seus colegas de faculdade se afastam por causa da sua relação com Hades, sequer encontra refúgio em casa, onde Apolo insiste em aparecer sem ser convidado. Como se não bastasse, Ares, o tempestuoso deus da guerra, está de volta para desenterrar sua história com a deusa da primavera, ameaçando trazer o passado da jovem à tona e arruinar ainda mais sua reputação.
Apesar de concordarem em ir devagar, Perséfone e Hades se veem irremediavelmente atraídos um pelo outro em meio ao caos, e não há como negar a força do destino.

Resenha: Dando continuidade ao livro anterior, o quarto volume da série Lore Olympus traz os episódios 76 a 102 do webcomic e alguns esboços inéditos das ilustrações que a autora não incluiu na história e que vieram com exclusividade no livro impresso.

Seguindo com a trama, Hades ainda mantém seu relacionamento com Minte, a ninfa, mas ela não consegue se livrar do seu comportamento abusivo e destrutivo, levando a Hades a reconsiderar essa decisão. Ele e Perséfone estão indo devagar agora que decidiram ser amigos, e eles continuam mantendo o relacionamento profissional no trabalho. Essas questões levam Hades a buscar apoio emocional pra poder lidar melhor com a situação pela qual está passando, mas seu irmão, Zeus, não dá a mínima e ele acaba encontrando consolo na própria Perséfone. O problema é que ela não anda muito bem, tanto pela questão de Apolo continuar perseguindo-a por acreditar que eles devem ficar juntos, quanto pelo incidente com Hades e o papparazzi que fotografou os dois lá no início da história e fez surgir muitos boatos sensacionalistas pelo Olimpo. A "lição" que ele deu no pobre fez com que Perséfone ficasse isolada na faculdade porque todos estão evitando-a por medo de Hades, e ela se sente péssima com essa rejeição e passa a exigir que ele repare o mal que fez.
Assim, quando eles passam momentos juntos, fica claro que, devagarinho, eles estão evoluindo e estreitando o que têm enquanto levam essa amizade, além de falarem sobre algumas situações do passado que explicam algumas coisas e aprofundam melhor quem eles são de verdade.



Depois de se manter tão passiva diante dos outros e continuar lidando com as consequências do que Apolo lhe fez, gradualmente (e finalmente) Perséfone começa a retomar o controle da sua vida, mas é revoltante ver as situações pelas quais ela passa até que tome coragem para se impor e enfrentar quem ela não quer por perto.

Talvez o problema maior do livro seja o ritmo dos acontecimentos e algumas cenas que não tem muita importância, como se estivessem alí só pra preencher espaço. Por mais que a história retrate a ideia do que acontece quando alguém sofre um abuso e como ela lida e se molda a partir disso, as coisas acontecem devagar demais e parece que não avança, seja pela passividade e ingenuidade de Perséfone ou em relação a Hades que prefere reprimir seus sentimentos e seguir o oposto do que seu coração manda. Ele está tentando ser alguém melhor mas, além de ser a personificação da melancolia, parece que o caminho pra isso é mais longo do que ele imaginava.



Os toques de bom humor e algumas outras abordagens enriqueceram a história, como a relação entre Hades e Hera, a dinâmica do casamento falido entre Hera e Zeus, a fofocaiada que não tem fim no Olimpo, as histórias de fundo que falam de outros deuses, e Ares que apareceu pra causar.

A arte dispensa maiores comentários. As ilustrações são lindíssimas, a escolha das cores foi certeira, os personagens são expressivos e transmitem muito bem o que estão sentindo. É super satisfatório acompanhar uma história onde a autora consegue evidenciar a personalidade dos personagens através de gestos e expressões, além de combinar questões da atualidade e a modernidade tecnológica com a mitologia grega e a adaptação dos deuses.

O volume 4 de Lore Olympus traz uma história mais leve, e mesmo que aborde assuntos delicados, ainda consegue ser divertido e empolgante. Curiosa pelo próximo livro.

Na Telinha - Wish

13 de maio de 2024

Título:
Wish - O Poder dos Desejos (Wish)
Distribuidora: Disney
Elenco: Ariana DeBose, Chris Pine
Gênero: Aventura, Fantasia, Musical, Animação
Ano: 2024
Duração: 1hr42min
Classificação: Livre
Nota: ★★★☆☆
Sinopse: Essa é a história de Asha, de dezessete anos, uma jovem otimista, com uma inteligência afiada que se preocupa infinitamente com sua comunidade. Em um momento de desespero, Asha faz um apelo apaixonado às estrelas, que é respondido por uma força cósmica, uma pequena bola de energia ilimitada chamada Estrela. Juntos, elas enfrentam o mais formidável dos inimigos para salvar sua comunidade e provar que quando a vontade de um humano corajoso se conecta com a magia das estrelas, coisas maravilhosas podem acontecer.
Wish - O Poder dos Desejos, é uma animação que se passa no reino mágico de Rosas e conta a história de Asha, uma jovem de dezessete anos de mente bastante afiada, que mora com a mãe e o avô, e que carrega consigo uma enorme preocupação pela sua comunidade. Rosas é governado pelo rei Magnífico, um feiticeiro bastante poderoso que coleta os desejos mais profundos dos habitantes depois que eles completam dezoito anos, e decide qual deles vai ser realizado, logo quando acontece a celebração anual, todos ficam bastante ansiosos para que seus desejos sejam escolhidos e realizados já que tem gente esperando isso há anos e mais anos.



Às vésperas do aniversário de cem anos de seu avô, Asha tinha esperanças de que o rei Magnífico pudesse realizar o desejo dele em consideração a esse grande marco, afinal, desde os dezoito anos ele espera por isso, e a garota aproveita para fazer esse pedido ao rei, mas ela acaba descobrindo que Magnífico não era bem quem ela imaginava e que o desejo do seu avô jamais seria realizado.
Num momento de desespero e preocupação, Asha faz um pedido para as estrelas e algo acontece em todo reino a ponto dos habitantes sentirem essa energia mágica. O desejo da jovem acaba sendo respondido por uma pequena estrela que vai ao seu encontro, e juntas elas vão tentar salvar a comunidade das garras de um grande inimigo, além de provar que é possível realizar coisas grandiosas quando a força, a fé e a coragem das pessoas se conecta com a energia das estrelas.



Wish é uma mistura entre 2D e 3D que lembra o estilo das animações do Aranhaverso e de O Gato de Botas 3. Enquanto o cenário é em 2D, os personagens tem a profundidade do 3D, mas possuem contornos suaves como se estivessem em processo de transição para algo mais realista e "palpável". É bem bonito e colorido, mas algumas cenas parecem se passar num "fundo verde" devido a diferença de traços.
As músicas são estranhas, mais faladas do que cantadas, não são memoráveis e sequer parecem se encaixar muito bem no ritmo das batidas.

Os personagens, em sua maioria, lembram personagens de outras animações pois realmente são referências, seja por alguma característica física, algum traço de personalidade, ou algum acessório que usam. Os sete amigos de Asha, por exemplo, são uma referência clara aos Sete Anões, desde o garotinho que é super ranzinza e desconfiado como o Zangado, o outro que vive espirrando feito o Atchim, o dorminhoco igual o Soneca, até a confeiteira e melhor amiga de Asha, que lembra o Mestre. Ela é a "líder" do grupo e até usa um óclinhos redondo igual ao dele.
Os elementos presentes na história são bastante conhecidos, principalmente a "jornada do herói", como a mocinha que precisa enfrentar uma força maligna e poderosa para atingir seu objetivo enquanto tem ajuda de amigos e bichinhos fofos e falantes. A diferença aqui é que Asha é órfã de pai, não é e nem se torna uma princesa, e não existe nenhum personagem que possa sugerir algum romance. Ela é uma jovem comum como qualquer outra da comunidade, só que é corajosa, inteligente, questionadora e bastante justa, então quando ela percebe que o rei está em posse dos desejos que ele não pretende realizar e nem devolvê-los, ela decide fazer algo a respeito.



Assim como todos os clássicos da Disney, o rei Magnífico como vilão é super caricato e facilmente identificado logo no início pelas suas características "pontudas" e seus movimentos e expressões exageradas que lembram personagens icônicos como Scar, Malévola, Úrsula e afins. Ele é bonitão, cavanhaque e cabelinho na régua, narcisista e realmente se acha a última coca-cola do deserto. Quando suas motivações vem à tona, dá pra ficar indeciso se o que ele faz é realmente tão errado assim, pois apesar de tirar o livre arbítrio alheio, dá pra entender seus motivos. Ele veio de um reino que foi destruído pela ganância e agora que construiu seu próprio reino quer evitar que a mesma coisa aconteça em Rosas. Dessa forma ele usa seu poder pra coletar os desejos das pessoas assim que atingem a maioridade (que imediatamente se esquecem daquele desejo) e não oferecem risco, analisar se vai ser algo bom ou perigoso para a comunidade e, assim, ter controle do reino, condicionando as pessoas ao que ele quer e mantendo a comunidade pacificada e esperançosa. O problema é que o poder sobe pra cabeça dele cada vez mais, e Magnífico fica descontrolado feito um maníaco.

A estrela é um personagem bem curioso, pois se pararmos pra pensar, não é a primeira animação que envolve personagens fazendo pedidos a ela, e isso acaba sendo mais uma referência a tantos outros desenhos mais antigos, e talvez seja possível que se trate até da mesma estrela, porém tomando formas diferentes.



O alívio cômico fica por conta de Valentino, o bodezinho que faz companhia para Asha e tem uma voz bastante grossa fazendo um enorme constraste com sua fofurice. Ele faz várias piadinhas, a maioria com referências a outras animações também.

Não sei se devo entrar no mérito das insconstâncias relacionadas aos desejos das pessoas, mas fiquei me perguntando durante toda a animação por que diabos aquelas pessoas não correm atrás dos próprios desejos em vez de ficarem esperando a boa vontade do rei. Tudo bem que algumas tem desejos mirabolantes, como sair voando pelo céu com passarinhos, mas as que sonham em casar e ter filhos, terem uma família feliz, ou terem um trabalho reconhecido, por exemplo, não dependem da magia do rei pra isso...



Acredito que trazer personagens estereotipados assim seja para remeter às fórmulas das animações passadas fazendo algum tipo de homenagem, mas o problema é que isso acaba tirando toda a originalidade da história tornando ela super genérica, e quem espera por algo novo, ou pelo menos esperou por algo marcante em comemoração aos 100 anos da Disney, vai ficar a ver navios. A impressão que eu fiquei no final foi que a história, por mais que tenha uma boa intenção e tenha elementos bonitos, não tem a menor importância, desde que o amontoado de easter eggs e referências a todos os clássicos estivessem alí. Wish remete a nostalgia e é uma homenagem a esse percurso centenário, principalmente pra quem cresceu acompanhando os clássicos da Disney, mas penso que se a ideia fosse fazer esse apanhado, um documentário ou um especial do tipo funcionaria melhor.

A Rainha Sol - Nisha J. Tuli

9 de maio de 2024

Título: A Rainha Sol - Artefatos de Ouranos #1
Autora: Nisha J. Tuli
Editora: Seguinte
Gênero: Fantasia/New Adult
Ano: 2024
Páginas: 368
Nota:★★☆☆☆

Sinopse: Lor e seus irmãos estão há onze anos em Nostraza, a prisão do Reino de Aurora, e o último lugar em que qualquer um gostaria de estar. Até que, depois de uma libertação inesperada, Lor descobre que foi convocada para participar das Provas da Rainha Sol, uma competição de vida ou morte entre dez mulheres cuja vencedora se tornará a nova esposa do rei.
A jovem não está nem um pouco interessada em casamento ou amor ― mas sim na liberdade (e na possibilidade de vingança) que a vitória significa. Porém, Lor definitivamente não pertence àquele lugar, e precisará confiar nas pessoas certas e dar tudo de si para sobreviver às Provas ― e qualquer passo em falso pode pôr tudo a perder.

Resenha: A Rainha Sol é o primeiro volume da série (que parece ser de 4 livros) Artefatos de Ouranos, escrito pela autora Nisha J. Tuli e publicado no Brasil pela Seguinte.

Num mundo fantástico onde humanos e féericos coabitam em reinos, Lor é uma jovem que passou os últimos 12 anos na terrível prisão de Nostraza, no Reino de Aurora, junto com seus irmãos Tristan e Willow. Lá ela passa fome, vive na miséria e na imundície, é abusada de todas as formas (às vezes, utilizando isso como moeda de troca pra conseguir o mínimo), mas sempre enfrenta sem medo quem cruze seu caminho. Por ter crescido e passado mais da metade da vida num ambiente tão hostil, é essa a sua dura realidade que fez com que ela deixasse de confiar nos outros e se tornasse uma garota bem perspicaz  e casca grossa. Até que depois de alguns acontecimentos, Lor acaba sendo sequestrada e levada para Ouranos, o reino vizinho, onde vai participar das Provas da Rainha do Sol. Nesse evento, ela vai se ver obrigada a competir com outras nove Tributos enfrentando uma série de provações muito perigosas, onde a vencedora irá ocupar o trono e governar o reino ao lado de Atlas, o Rei Sol.
A princípio, quando ela começa a ter noção do que está acontecendo alí, Lor não ter o menor interesse romântico em quem quer que seja. A vítoria só lhe importa pelo fato de que, com o poder que teria como rainha, ela poderia ser livre, salvar os irmãos e ainda se vingar do Rei Aurora, que a manteve presa por todos esses anos.
Porém, todo o luxo e requinte do palácio, assim como a presença das demais Tributos, só serve pra fazer Lor se sentir inferior e mostrar que ela não pertence aquele lugar. Ela vai precisar usar sua inteligência para não somente lidar com as adversárias, mas para identificar em quem pode confiar e de quem pode se aproximar para não cometer erros e se tornar rainha.

O livro é narrado com capítulos alternados entre Lor (em primeira pessoa), e Nadir (em terceira pessoa). Nadir é o príncipe herdeiro do Reino de Aurora, e seu ponto de vista aparece para que o leitor possa acompanhar o que está acontecendo por aquelas bandas enquanto eles tentam descobrir como Lor foi sequestrada e como trazê-la de volta, mostrando que ela é bem mais importante do que parece já que tem dois reis de olho nela. Os capítulos são curtos, a história tem um ritmo acelerado e a leitura pode ser feita bem rápida porque - ainda bem - não tem enrolação.
Mas, mesmo que a autora seja direta ao descrever os acontecimentos, percebi algumas coisas, além do excesso de "inspiração" em outros livros, que me incomodaram durante a leitura, como mudanças de personalidade da protagonista sem o menor motivo, atitudes questionáveis de todo mundo, rumo da trama previsível, e cenas hot gratuitas que parecem estar alí só pra forçar uma química entre Lor e Atlas que, simplesmente, não existe.

Desde o início dá pra perceber quem é confiável ou não, mas Lor, que é quem deveria ser a primeira a enxergar isso (já que foi apresentada como alguém inteligente, observadora, fria e sagaz), vive chorando pelos cantos, imaginando como será seu próximo encontro secreto e cheio de fuego com Atlas (que está tão cercado por ouro e a cor dourada que mais parece o rei Midas), e morrendo de ciúme por pensar que ele pode estar se encontrando com outras Tributos e fazendo as mesmas coisas que faz com ela. Lor é retratada como alguém forte, corajosa e determinada, mas ela perde toda essa firmeza, e até a credibilidade, quando está junto de Atlas e se deixa levar pela sua fala mansa e nada convincente. Tudo bem que ela pode estar deslumbrada com a vida no palácio, mas imagino que uma pessoa com ela, que carrega traumas horrorosos acumulados por mais de uma década, não seria convencida tão fácil por um único sujeito, tanto que ela vive enfrentando e brigando com Gabriel, o chefe da guarda real, bonitão e dono de asas enormes, que deveria protegê-la mas que, além de um completo ogro (será mesmo?), aparentemente prefere se enfiar em todo tipo de orgias que vê pela frente.

A fantasia em si é subaproveitada pois só é relevante em, no máximo, três cenas. Os personagens fantásticos que vivem centenas de anos, ou outros que tem asas gigantescas e podem sair voando por aí, poderiam desempenhar o mesmíssimo papel caso fossem humanos comuns sem que fizesse diferença. Ou eu perdi alguma coisa ou simplesmente não entendi o propósito de encaixar a história nesse gênero.

A competição em si só está alí pra promover cenas de ação e violência, onde as participantes se machucam feio ou morrem numa tentativa de deixar o leitor abismado, o que é tão cruel quanto sem sentido. Desde o início da história fica claro que Atlas sabe de algo e tem planos, e que esses planos envolvem a protagonista. E por decidir as coisas sem que ninguém o questione, ele poderia simplesmente escolher quem ele quisesse no meio do povo sem necessidade de fazer as garotas passarem por prova alguma...

Enfim, o livro não é nada original e tráz aquela fórmula batida da mocinha badass e com passado misterioso que precisa enfrentar mil e um desafios pra conseguir alguma coisa importante, topa com alguém insuportável que depois se torna sua aliada, conhece um cara ignorante com quem tem conflitos mas que acaba despertando sua simpatia, e aquele que parece ser bonzinho é um completo embuste que mostra quem é de verdade no final das contas. Acho que vale sugerir a leitura pra quem ainda não leu livros de séries como A Seleção, Jogos Vorazes, Trono de Vidro e afins, pois a autora parece ter combinado todos os elementos e situações de livros com essa fórmula pra escrever esse aqui. Caso tenha lido, sinto informar que vai ser impossível passar pelas páginas e não ficar com aquela sensação incômoda de já ter lido essa mesma história em outro lugar.

O Rei Aurora, continuação desse primeiro volume, já tem data de lançamento: 18 de Junho de 2024.

Na Telinha - O Conto da Princesa Kaguya

6 de abril de 2024

Título:
O Conto da Princesa Kaguya (Kaguya-hime no monogatari)
Produção: Studio Ghibli
Elenco: Aki Asakura, Kengo Kora, Takeo Chii
Gênero: Animação/Fantasia/Drama
Ano: 2013
Duração: 2h 17min
Classificação: Livre
Nota:★★★★★
Sinopse: Esta animação é baseada no conto popular japonês "O cortador de bambu". Kaguya era um minúsculo bebê quando foi encontrada dentro de um tronco de bambu brilhante. Passado o tempo, ela se transforma em uma bela jovem que passa a ser cobiçada por 5 nobres, dentre eles, o próprio Imperador. Mas nenhum deles é o que ela realmente quer. A moça envia seus pretendentes em tarefas aparentemente impossíveis para tentar evitar o casamento com um estranho que não ama. Mas Kaguya terá que enfrentar seu destino e punição por suas escolhas.

A animação O Conto da Princesa Kaguya, produzida pelo Studio Ghibli, é baseada numa lenda popular narrada desde o século X, O Cortador de Bambu, que faz parte da cultura japonesa e é uma das mais antigas e famosas que existem.
Ela conta a história de um casal de camponeses bem pobres e idosos que não tiveram filhos, mas criam uma garotinha que nasceu de um broto de bambu. Ela cresce e se desenvolve muito rápido, o que intriga bastante as crianças do vilarejo que logo se tornam seus amigos, principalmente um garoto chamado Sutemaru, que tem um enorme carinho por ela.




Vivendo numa casinha simples, ela brinca com os amigos, corre pela floresta e pelas montanhas, e sempre apronta alguma peripécias junto com as outras crianças. Apesar de serem pobres e passarem algumas dificuldades, ela não poderia ser mais feliz.
Mas tudo muda quando seu pai, o cortador de bambu, começa a encontrar ouro e tecidos finos no bambuzal. Ele acredita que toda essa riqueza foi enviada pelos céus para que ele possa fazer de sua filha uma princesa. E assim, ele parte com a família para a cidade, onde passam a morar num grande palácio levando um estilo de vida digno da nobreza.
Na cidade, a garota começa a aprender com a Srta. Sagami sobre os modos da corte para poder se portar como uma verdadeira dama, mas todos os luxos que lhe foram proporcionados jamais trariam a mesma alegria que ela tinha quando vivia no vilarejo, e ela passou a se sentir aprisionada por ser obrigada a seguir por um caminho que ela nunca quis.


Até que depois de um grande banquete promovido pelo seu pai, cinco pretendentes na nobreza se interessam em tomá-la como esposa, até mesmo o próprio imperador. Sem intenção de se casar com um daqueles homens, Kaguya começa a dar tarefas impossíveis de serem cumpridas numa tentativa de se livrar desses pretendentes mas, a medida que o tempo passa, suas escolhas começam a definir seu inevitável destino.


O Conto da Princesa Kaguya é uma das animações mais bonitas e sensíveis que já assisti. É uma história tocante e triste que traz reflexões profundas não apenas sobre as consequências das escolhas tomadas, mas também sobre o silenciamento e a objetificação da mulher que perdura por séculos.
A animação mostra muito da antiga cultura japonesa no que diz respeito à transformação que a mulher precisava passar para se adequar aos padrões de beleza da época, à sociedade e ao seu futuro marido, como ter o corpo modificado, os dentes escurecidos e várias outras características dolorosas que tornavam a mulher submissa. Desde o início Kaguya já demonstrava uma enorme relutância em aceitar essas imposições, ela questiona a Srta. Sagami e trata seus ensinamentos como brincadeira, ela se recusa a "ter modos", e no fundo o que ela queria era brincar com os amigos na floresta e ser livre para escolher o que quisesse. Porém, essa "rebeldia" é repreendida por todos à sua volta e Kaguya passa a acreditar que seu comportamento inadequado traz infelicidade e desgosto para seus pais, e unindo isso a obsessão do seu pai em fazer dela uma nobre princesa a qualquer custo, o que resta à garota é ceder as vontades do pai e mergulhar cada vez mais fundo num sentimento de vazio e não pertencimento...
Sua mãe entende o quanto Kaguya está sofrendo, mas não tem o que fazer a não ser consolá-la pois, por ser mulher, ela não pode confrontar o marido e faz o papel de esposa submissa e obediente.




Frustrada, deprimida, silenciada e presa na própria solidão, ela se agarra às suas lembranças mais felizes do passado, e aqui eu tenho que destacar como os traços e as cores da animação mudam conforme os sentimentos de Kaguya. O que antes parecia uma pintura em aquarela e tons pastéis, se torna rabiscos agressivos e escuros que demonstram toda a agonia, raiva e angústia sentidas pela protagonista, o que a leva a implorar para os céus que a tirem daquela situação terrível já que ninguém que seja próximo dela dá importância para o que ela realmente quer.

Eu ainda me pergunto como pode essa animação ter perdido o Oscar para Operação Big Hero, da Disney. Não que esse segundo seja ruim, mas em comparação com a obra de arte que é O Conto da Princesa Kaguya, pelamordedeus... É um pecado, quase um crime.

É uma animação com poucos diálogos, o que faz com que quem esteja assistindo acabe apreciando não só os desenhos feitos à mão com a maior delicadeza desse mundo, mas também os momentos de silêncio e contemplação dos personagens em meio a simplicidade da vida no campo em meio a natureza ou aos luxos de um palácio repleto de requinte. As coisas acontecem devagar, vão sendo digeridas aos poucos, o que acaba dando um toque tão agridoce quanto amargo diante dos acontecimentos.










Penso que por mais que o conto exista há mais de mil anos, é impossível não se surpreender com uma adaptação tão atemporal e que traz questionamentos tão relevantes sobre o papel da mulher na sociedade (que muitas vezes é impedida de ser quem ela é), sobre a felicidade poder ser encontrada nas pequenas e mais simples coisas da vida, e sobre as pessoas só darem valor ao que elas têm quando perdem...

A Rainha Traidora - Danielle L. Jensen

9 de outubro de 2023

Título:
A Rainha Traidora - 
A Ponte Entre Reinos #2
Autora: Danielle L. Jensen
Editora: Seguinte
Gênero: Romance/Fantasia/New Adult
Ano: 2023
Páginas: 392
Nota:★★★★☆
Sinopse: Lara é uma rainha traidora. Ao compartilhar informações secretas sobre a defesa de Ithicana, a jovem não só quebrou a confiança de seu povo como possibilitou que a ponte fosse dominada pelo rei de Maridrina, seu pai. Em exílio, Lara se sente impotente diante de tanta morte e destruição, mas quando descobre que seu marido, Aren, foi capturado em batalha, ela decide fazer de tudo para se redimir -- e salvar o homem por quem se apaixonou perdidamente.
Arriscando a vida em mares revoltos, Lara volta para Ithicana com planos não só para libertar Aren, mas todo o Reino da Ponte. Para isso, ela pretende usar as armas mais letais que seu pai já criou: suas irmãs. Contudo, o palácio de Maridrina é praticamente impossível de invadir, e há peças demais nesse jogo em que inimigos e aliados trocam de lugar a todo momento. Para piorar, talvez seu maior adversário seja justamente o homem que ela está tentando libertar.

Resenha: A Rainha Traidora é o segundo volume de uma duologia (que pertence a série The Bridge Kingdom - que já conta com uma segunda duologia em andamento que conta a história de outros personagens, e um conto extra sobre Lara e Aren chamado The Calm Before the Storm) iniciada em A Ponte Entre Reinos, da autora Danielle L. Jensen, que conta a história de Lara Veliant, uma das filhas do rei de Maridrina, que passou a vida sendo treinada como uma assassina para se infiltrar em Ithicana, o reino inimigo, e matar o rei devido aos conflitos políticos relacionados ao controle de uma enorme ponte que existem entre os reinos. Lara se torna rainha de Ithicana quando se casa com o rei Aren mas, apesar de não conseguir matá-lo por perceber que ele não é nada daquilo que foi levada a acreditar a vida toda e ter se apaixonado por ele, ela segue as ordens de Silas, seu pai, e compartilha informações secretas sobre a defesa do reino. Silas, então, consegue dominar a ponte e Lara não só quebra a confiança do povo de Ithicana, como passa a ser conhecida como a rainha traidora. Lara é exilada e começa a se sentir impotente e culpada por ter iniciado essa guerra onde várias pessoas estão sofrendo e morrendo. E no meio do caos, Lara descobre que Aren foi capturado em batalha.
Agora, como forma de se redimir, Lara vai arriscar a vida para voltar para Ithicana numa tentativa desesperada de libertar seu marido e o próprio Reino da Ponte num jogo político onde ela nunca sabe realmente quem é seu inimigo ou seu aliado.

Mantendo o mesmo padrão do livro anterior, a história é narrada em terceira pessoa com capítulos que se alternam entre os pontos de vista de Lara e Aren, e dá pra perceber uma diferença bem considerável na qualidade da escrita quando comparada ao primeiro volume. A narrativa parece estar bem mais fluída e completa, mantendo um ritmo frenético envolvendo batalhas ferozes, tramas políticas, surpresas e muitas emoções.

Lara e Aren estão melhores desenvolvidos e mais maduros, numa posição onde precisam tomar decisões importantes que vão mudar não só os seus destinos, mas de todo um reino. Vamos acompanhando Lara mostrando suas habilidades letais seja em batalhas ou em brigas corpo a corpo, e em fugas e perseguições tão alucinantes quanto exaustivas em meio ao deserto (com direito a um camelo e tudo). Enquanto luta e tenta sobreviver, fica bem evidente que devido aos erros que cometeu anteriormente, a jornada de Lara está ligada com a ideia dela encontrar uma maneira de se redimir enquanto se culpa e se odeia pelo que fez. Por outro lado, Aren está alí determinado e lutando com todas as suas forças para defender seu reino, mas também fica o tempo inteiro tentando odiar Lara e falhando miseravelmente.

Os personagens secundários, embora tenham sua importância na trama, não são muito aprofundados e deixam aquela impressão de potencial perdido, principalmente com relação às irmãs de Lara.
Gostei da inserção dos personagens Keris e Zarrah. Aqui eles já demonstram terem camadas interessantes, funções importantes, e acho que os livros 3 e 4 da série, que são protagonizados por eles, prometem bastante.

A construção de mundo é cheia de detalhes e é possível nos imaginarmos naqueles cenários de deserto escaldante ou dos mares revoltos. A complexidade do Reino da Ponte, assim como todas as questões políticas que estão envolvidas, é super interessante e torna a leitura bastante imersiva. Por causa das longas viagens que os personagens fazem, eles não se prendem num único lugar, e isso acaba expandindo ainda mais esse universo mostrando detalhes que vão além dos apresentados no primeiro livro. Senti falta da parte do alívio cômico que estava presente no livro anterior, aqui a história está focada na ação e nos conflitos emocionais de Lara e Aren então acaba sendo mais "pesada" e até mais sangrenta. A autora investiu bastante nos detalhes, mas em alguns pontos senti que fiquei perdida com os saltos temporais e não sabia se o tempo decorrido entre uma cena e outra tinham sido dias, semanas ou até meses. Na questão dos detalhes, há uma cena bastante "caliente" que mostra o quanto o casal, apesar de suas diferenças, tem química, mas pra mim foi totalmente dispensável e desnecessária visto que tinha uma guerra acontecendo lá fora.

Enfim, eu gostei do desfecho, achei que as coisas ficaram bem resolvidas e bem amarradas levando todo o contexto em consideração, e apesar dos pequenos infartos que tive a cada tragédia que acontecia, achei que A Rainha Traidora fechou bem o arcos dos personagens e a trama principal. Fiquei curiosa pra ler o conto dos dois e espero que a Seguinte publique nem que seja em formato digital só pra termos um gostinho do que aconteceu depois do final.

Na Telinha - Elementos

3 de outubro de 2023

Título: Elementos (Elemental)
Distribuidora: Disney/Pixar
Elenco: Leah Lewis, Mamoudou Athie, Ronnie Del Carmen, Wendi McLendon-Covey, Mason Wertheimer
Gênero: Aventura, Fantasia, Animação
Ano: 2023
Duração: 1hr42min
Classificação: Livre
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Em uma cidade onde os habitantes de fogo, água, terra e ar convivem, uma jovem mulher flamejante e um rapaz que vive seguindo o fluxo descobrem algo surpreendente, porém elementar: o quanto eles têm em comum.
Cidade Elemento é uma cidade onde os elementos Terra, Água e Ar sempre conviveram em harmonia desde que foram chegando para povoar o lugar. A cidade é cheia de vida, cheia de cores, com bastante água e todo mundo vive feliz, alegre e contente. Mas, quando um casal de imigrantes da Terra do Fogo, Brasa Luz e Fagulha (Bernie Lumen e Cinder no original), chegam na cidade em busca de uma vida melhor, eles não se sentem muito bem recepcionados e acolhidos pois o Fogo não é muito bem visto pelos outros seres já que podem queimar tudo. A cidade sequer havia sido projetada pensando nas necessidades ou na segurança deles, e ninguém liga se ter água pra todo lado poderia simplesmente apagar o Fogo e acabar com a existência deles. Brasa e Fagulha acabam indo morar mais afastados num bairro abandonado e caindo aos pedaços depois de terem sido rejeitados em todos os imóveis que visitaram. E, a medida que mais imigrantes de Fogo vão chegando na cidade, eles vão se reunindo no único local onde poderiam ser bem recebidos e terem segurança, formando assim a Vila do Fogo. Com o passar dos anos, a cidade foi crescendo, mas não se misturar com o Fogo acabou se tornando algo normal pra todo mundo e vida que segue.



Faísca (ou Ember no original) é a filha do casal Luz, que nasce tão logo eles chegam a cidade e se instalam na casa arruinada que conseguiram, e ela cresceu ouvindo do pai que ela herdaria a loja de conveniências que ele abriu pra poderem sobreviver alí. Agora que já está na faixa dos vinte e poucos anos, Faísca continua ajudando o pai na loja e vive questionando quando ela vai ser a dona do negócio da família. O problema é que, apesar de ela ser sempre muito eficiente no que diz respeito às demandas da loja e ter uma habilidade incrível para manipular o vidro, ela não sabe lidar com clientes sem razão, e fica descontrolada a ponto de, literalmente, explodir. Esse comportamento faz com que seu pai, por mais que já esteja mais velho e debilitado, fique adiando a própria aposentadoria por acreditar que ela ainda não está pronta pra tomar conta da loja e que precisa de mais tempo pra aprender a controlar seu temperamento.

Mas tudo começa quando Brasa deixa a filha no controle da loja numa espécie de teste. A loja, em dia de ofertas, cheia de clientes empolgados e malucos, deixa a coitada desorientada, e num dos seus momentos de surto ela corre pro porão da loja pra "explodir" longe do pessoal. A explosão acaba danificando o encanamento e o porão começa a se alagar. E como se o transtorno já não fosse grande o suficiente, Gota (Wade), um ser de Água, foi sugado pelos canos enquanto trabalhava em outro local e acabou indo parar alí sem querer. O que Faísca não esperava era Gota ser um fiscal municipal que estava fazendo uma inspeção no momento do acidente e, aproveitando que estava alí, acabou notificando a loja por várias irregularidades. Agora, sob risco de ter a loja fechada, Faísca precisa dar um jeito no problema não só pra manter a loja aberta, mas para provar que ela tem capacidade de gerenciar a loja que está prestes a herdar sem decepcionar o pai. E diante de um prazo super curto de uma semana, ela e Gota acabam se aproximando numa tentativa de resolverem esse problemão, caso contrário ela estaria acabando com o sonho da vida de seu pai. Apesar da aproximação, eles precisam ter muito cuidado pois não podem se tocar: Faísca poderia fazer Gota evaporar, ou Gota poderia simplesmente extinguir Faísca. Eles só não imaginaram que com essa convivência, mesmo sem poder se tocar e sendo o total oposto um do outro, eles combinariam tanto e que o amor seria capaz de superar todas as diferenças entre eles.



O diretor Peter Sohn, apesar de não ter tido intenção de fazer uma autobiografia, usou a própria experiência de vida quando teve a ideia da animação. Ele ainda era criança quando saiu da Coreia com a família rumo a Nova York, nos EUA, em busca do "sonho americano", logo ele se inspirou nessas experiências para contar uma história envolvente que, embora aborde a xenofobia e o racismo de forma nada velada, fala principalmente sobre um amor improvável entre dois seres completamente diferentes, seja com relação a cultura, aos costumes, a "raça", a influência da família e aos privilégios (ou a falta deles) em meio a sociedade formada majoritariamente por Água.

Enquanto o povo de Água já é estabelecido e ocupa as mais altas classes sociais dessa sociedade (como se fossem os brancos, talvez?), o povo do Fogo acaba representando os imigrantes que chegam num país novo em busca de melhores oportunidades de vida, dando um contraste bem visível e apelativo entre oriente médio e ocidente, e que acabam sendo tratados com preconceito a ponto de viverem segregados, principalmente por representarem algum tipo de "risco". Segundo o diretor, a cidade de Elemento foi inspirada na Ilha Ellis, na Nova York dos anos 60 e 70, numa época em que a imigração era algo bastante comum e foi responsável pela diversidade que existe lá até hoje sendo a maioria dos habitantes descendentes de imigrantes, mas não há menções de que país ou região exata serviu de base para a construção do povo de Fogo. Penso que talvez seja uma mistura de vários locais e tradições diferentes, mas que sofrem do mesmo preconceito. A paleta de cores quentes puxada pro vermelho, laranja e amarelo; as comidas típicas bem quentes e apimentadas; as crenças; as roupas; a trilha e efeitos sonoros com uma vibe meio árabe; e até barreira linguística passam a impressão de que possam, talvez, serem de origem muçulmana.



Uma das coisas que percebi e achei bem legal é a associação da personalidade dos personagens com os elementos no aspecto espiritual da coisa, onde o fogo representa a iniciativa, a impulsividade, a energia, o temperamento esquentado, a criatividade e o poder de ação, enquanto a água é totalmente ligada às emoções, aos sentimentos e ao fato do "deixar fluir". Podemos ver isso de uma forma bem evidente em Faísca, que é cheia de atitude e faz as coisas primeiro pra pensar depois, e Gota, que vive emocionado, fica aos prantos por qualquer motivo e em qualquer oportunidade, mas consegue inspirar, cativar e dar rumo a qualquer coisa. Até a mãe da Faísca é bastante ligada a esse universo espiritual/místico sendo capaz de ler a fumaça do destino dos casais e ainda sentir o cheiro do amor.

Faísca é uma personagem bem construída, que tem suas qualidades e defeitos assim como qualquer outra pessoa. Ela entende a situação e as dificuldades do seu povo, e é bastante grata por todos os sacrifícios que seus pais fizeram para serem bem sucedidos com a loja até chegar onde chegaram, logo ela acredita que precisa continuar esse legado em respeito e em gratidão a todo esse trabalho duro. Em contrapartida, Gota, por já viver e estar acostumado com os privilégios do povo da Água por vir de uma família mais rica, não faz a menor ideia do que é fazer parte de uma minoria oprimida oiu como a vida pra eles é muito mais difícil e sofrida. Gota simplesmente não sabe o que é viver num mundo que não foi feito pra ele.

Mas o que importa é que mesmo que eles sejam diferentes e pertençam a mundos diferentes, quando eles estão juntos, um consegue completar o que falta no outro, e pra mim o ponto alto da animação foi exatamente esse. Esse romance vai se construindo aos poucos a medida que Faísca passa a ver uma pessoa de Água, povo que ela sempre olhou com desconfiança, com outros olhos. Gota consegue suavizar o temperamento esquentado de Faísca fazendo com que ela fique menos ansiosa e consiga perceber os pequenos prazeres ao seu redor. E do outro lado, Faísca consegue mostrar pra Gota que ele também pode se impor quando necessário em vez de simplesmente aceitar tudo que aparece.



Além do tema principal de Elementos ser o romance entre Faísca e Gota, a animação também aborda a relação entre pais e filhos de uma forma bastante emocionante. Enquanto o povo da Água expressa suas emoções e sentimentos da forma mais gratuita e exagerada possível, chorando escandalosamente sem nenhuma vergonha, o povo de Fogo já é mais reservado, mais fechado, e não expressa as emoções através de palavras justamente por causa da cultura que eles tem, principalmente os homens. Eles demonstram amor nas pequenas atitudes, no cuidado com o outro no dia-a-dia e até na forma mais rígida de criação por acreditarem ser o melhor para seus filhos, e vão passando isso adiante. Apesar de Faísca respeitar os pais e fazer de tudo pra não desapontá-los a ponto de abrir mão das próprias vontades, a animação também aborda a ideia de pais que, seguindo os costumes, não só impõe aos filhos o que eles devem ou não fazer, ou com quem devem ou não se casar, como também projetam seus sonhos neles sem considerar que são indivíduos com personalidade, desejos e sonhos próprios, e que nem sempre eles irão corresponder a essas expectativas. Esse é um ponto que o pai de Faísca acaba tendo que aprender a lidar devido a experiência que ele teve com o próprio pai.

Não posso deixar de falar sobre o visual que é um show a parte. Os personagens, justamente por serem elementos, não tem contornos sólidos e "lisos". Eles são fluídos, estão em movimento constante, conseguem se adaptar e se enfiar em qualquer espaço, já que tomam qualquer forma (com exceção do povo de Terra que geralmente são plantas, cristais e afins mas que, infelizmente, não são muito abordados aqui, assim como o povo do Ar que também são só coadjuvantes) e não consigo imaginar o trabalho mega difícil e minucioso de se animar algo desse tipo, principalmente quando os personagens interagem e se "misturam" num cenário 3D. A composição de cores, iluminação e detalhes também é deslumbrante e a experiência visual como um todo é uma das coisas mais bonitas que a Disney/Pixar já fez.



Elementos é uma animação típica desses romances água com açúcar de sessão da tarde com uma história que todo mundo já viu em algum lugar, tipo amor proibido e enemies to lovers, a diferença é que dessa vez são elementos da natureza no lugar de pessoas, além de toda aquela magia da Disney que todo mundo se encanta, mas algumas incongruências no roteiro me incomodaram um pouco. A ideia de Faísca ficando responsável por solucionar um problema estrutural na cidade só pra forçar essa união entre ela e Gota, problema este que deveria ser de inteira responsabilidade da prefeitura, não me convenceu. Eles poderiam ter se unido devido a outra ameaça qualquer que fizesse um pouco mais de sentido, até mesmo porque o tal problema coloca a Vila do Fogo toda em risco. Quando os sentimentos de Faísca começam a interferir na solução que ela arranja pro problema, mostrando que ela tem suas fraquezas e fragilidades (por mais que aparente ser forte), e que isso se extende para além do seu próprio ser, fiquei com aquela cara de "é sério isso, meudeus?", mas ainda é um ponto positivo da personagem que foi abordado no meio de uma situação nada a ver.
Assisti em inglês, depois vi alguns trechos na versão dublada a título de comparação, e por mais que eu seja uma grande admiradora do trabalho de dublagem brasileiro, não achei que toda a carga emocional dos personagens conseguiu ser passada da mesma forma do que na versão original. Continuo insistindo na ideia de ver o original pois a experiência, pelo menos pra mim, é muito mais divertida e satisfatória.

No mais, apesar de ter alguns defeitos e não entrar na lista de animações favoritas, Elementos é um suspiro no meio dessa infinidade de lançamentos e live-actions desnecessários e sem a menor graça que a Disney/Pixar vem lançando ultimamente. Ele toca em pontos delicados da sociedade ao mesmo tempo que traz uma história de amor entre opostos que se atraem, contada de forma simplesmente adorável.

O Demônio na Floresta - Leigh Bardugo

26 de agosto de 2023

Título:
O Demônio na Floresta: Uma graphic novel de Sombra e Ossos
Autora: Leigh Bardugo
Ilustrações: Dani Pendergast
Editora: Planeta/Minotauro
Gênero: Fantasia/Jovem Adulto/Graphic novel
Ano: 2023
Páginas: 208
Nota:★★★★★
Sinopse: Antes de Ravka ser liderada pelo Segundo Exército, antes da criação da Dobra das Sombras, e muito antes de ele se tornar o Darkling, havia um garotinho solitário oprimido pelo seu próprio poder extraordinário.
Eryk e sua mãe, Lena, passaram suas vidas inteiras fugindo. Mas eles nunca encontrarão o refúgio que tanto buscam. Eles não são somente Grishas – eles são os mais raros e perigosos desse grupo.
Temidos pelos que querem destruí-los e perseguidos pelos que desejam explorar seus dons, Eryk e Lena precisam mascarar suas habilidades a todo momento. Mas os segredos mais perigosos são os mais difíceis de esconder...

Resenha: O Demônio na Floresta é uma graphic novel que faz parte do GrishaVerso criado pela autora Leigh Bardugo. Ele antecede em muitos e muitos anos todos os acontecimentos que se passam na trilogia principal.

Nele vamos conhecer uma pequena passagem da vida de Aleksander Morozova, numa época em que ele era um jovem subestimado e oprimido pelo próprio poder, que só tinha Baghra, sua mãe, como companhia e a única em quem podia confiar. A história se passa antes de Ravka ser liderada pelo Segundo Exército, antes da criação da Dobra das Sombras, num período em que o mundo não era um lugar seguro para os Grishas, e antes dele se tornar o Darkling - o temido Conjurador das Sombras desse universo cheio de fantasia e muita ação.

Aleksander e sua mãe, que também é uma Conjuradora das Sombras, vivem fugindo de um lugar pra outro e mudando seus nomes para não serem encontrados por caçadores de bruxas, também chamados de drüskelle, que os perseguiam. Desta vez eles vão se passar por "Eryk" e "Lena" e, cansados de fugir, só queriam um lugar pra poderem permanecer por mais tempo sem levantar suspeitas. A próxima parada é um pequeno acampamento de Grishas que os acolhem e que, aparentemente, é seguro. O problema é que quanto mais tempo eles passam num local, mais vulneráveis ficam, consequentemente, mais perigoso é. O poder de Eryk precisa ser escondido até mesmo dos próprios Grishas, pois eles também poderiam se aproveitar desse poder para benefício próprio.











Não há muitos personagens e o formato da história limita um maior aprofundamento sobre eles, mas o pouco que há é suficiente pra conhecermos quem são, o que fazem e como suas personalidades e poderes os afetam. No acampamento, Eryk conhece as irmãs Annika e Sylvi. Annika é a irmã mais velha, uma jovem Hidro cujo poder não é forte o bastante, o que a deixa bastante frustada já que vive sendo diminuída pelo filho irritante do Ulle, o líder o acampamento. Sylvi é uma criança bastante curiosa, impulsiva e um tanto teimosa (e irritante), e seus poderes não se manifestaram, o que a deixa bastante inquieta e ansiosa. Logo ela se mete em situações perigosas e precisa da proteção da irmã a todo momento.
Lena é uma mulher forte e que se impõe para não ser subjugada por ninguém, mas ela se preocupa tanto com o filho que não mede esforços para fazer qualquer coisa que for preciso para protegê-lo. Qualquer coisa. Desde seus ensinamentos brutais até suas medidas extremas.

Quando os Grishas decidem que precisam caçar um Amplificador, um enorme Urso que andava pela floresta, as coisas começam a sair do controle e Eryk percebe que aqueles Grishas não são exatamente quem ele pensava que fossem. Essas situações vividas por ele acabam por moldá-lo para que, no futuro, ele se torne o Darkling que conhecemos. O pouco que acontece na história mostra que Eryk, até então, tem boas intenções mas, ao que parece, a maldade e a ganância daqueles que cruzaram seu caminho acabaram por fazer com que ele deixasse de acreditar que poderia confiar em alguém. Assim, sem ter mais recortes de sua vida, fica difícil afirmar se ele é mesmo esse vilão tão terrível, ou se era um herói incompreendido que se permitiu ser corrompido a medida que se decepcionava cada vez mais.


As ilustrações feitas por Dani Pendergast são maravilhosas e trazem uma paleta de cores que misturam cores frias e quentes de uma forma super agradável e bonita de se ver. Os personagens são expressivos e as cenas são retratatas com a devida intensidade para que as imagens possam valer mais do que as palavras. Os balões de pensamento de Eric em forma de sombras foram uma sacada genial e que representam bem seu interior.

O único ponto negativo do livro é que a história é curtinha e ele acaba rápido demais. É impossível não ficarmos curiosos com mais detalhes da vida de Aleksander e como ele passou a lidar com seu poder até se tornar o Darkling.
Pra quem gosta da saga e quer ter mais detalhes sobre esse vilão que amamos odiar (ou talvez odiamos amar), é leitura super indicada e espero que a autora continue investindo nesse formato de graphic novel para se aprofundar e trazer mais detalhes do que aconteceu até o auge do Darkling.

Nimona - N.D. Stevenson

17 de agosto de 2023

Título:
Nimona
Autor: N.D. Stevenson
Editora: Intrínseca
Gênero: HQ/Fantasia
Ano: 2016
Páginas: 272
Nota:★★★★★
Sinopse: A graphic novel protagonizada pela anti-heroína mais surpreendente, kick-ass e fora dos padrões que você vai conhecer.
Nimona é uma metamorfa sem limites nem papas na língua, cujo maior sonho é ser comparsa de Lorde Ballister Coração-Negro, o maior vilão que já existiu. Mas ela não sabia que seu herói possuía escrúpulos. Menos ainda uma deliberada missão.
Até conhecer Nimona, Ballister fazia planos que jamais davam certo. Felizmente, a garota tem muitas sugestões para reverter esse quadro. Infelizmente, a maioria envolve explosões, sangue e mortes. Agora, Coração-Negro não só tem que enfrentar seu arqui-inimigo e ex-amigo, o célebre e heroico Sir Ambrosius Ouropelvis, mas também impedir que a fiel comparsa destrua todo o reino ao tentar ajudá-lo.
Uma história subversiva e irreverente que mistura magia, ciência, ação e muito humor sobre camadas e mais camadas de reflexão; entre uma batalha e outra, é claro.

Resenha: Publicada em 2016 pela editora Intrínseca e criado por N.D. Stevenson, Nimona voltou a ganhar holofotes depois que a Netflix produziu sua adaptação para as telinhas.
Na graphic novel, conhecemos Nimona, uma metamorfa e anti-heroínma que se torna comparsa de Lorde Ballister Coração-Negro que, amargurado, se tornou o maior vilão que já existiu depois de ser sido descartado pela "Instituição de Heroísmo & Manutenção da Ordem" por ter perdido um braço durante uma justa (nada justa) com Sir Ambrosius Ouropelvis. O que Nimona não sabia era que Ballister tinha seus motivos nobres pra deixar que o povo acreditasse que ele era mesmo um vilão, mas na verdade ele tem um bom caráter, um enorme coração e só quer fazer justiça. E entre confrontos e discussões com seu agora arqui-inimigo e ex-amigo Ambrosius, Ballister precisa impedir que Nimona exploda e destrua o reino na intenção de ajudá-lo a se vingar e a desmascarar as tramas obscuras da Instituição, comandada pela Diretora, e livrá-lo de várias perseguições.

Confesso que meu interesse na HQ de Nimona se deu após eu ter assistido a animação na Netflix e gostado muito, e imaginei que a obra que deu origem a ela seria ainda melhor, mas já vou avisando desde já que, embora muito boa, não é melhor. Esse é um dos poucos casos em que a adaptação conseguiu superar o original, criando arcos bem mais interessantes, oferecendo uma maior fluidez à história devido a forma como foi contada, e dando camadas bem mais profundas aos personagens.

A história se inicia com Nimona abordando Ballister e se oferecendo para ser sua comparsa. Embora ele inicialmente relute, acaba por "contratar" Nimona. A partir daí, uma relação fraterna, divertida e repleta de cumplicidade surge entre os dois.


Quando o assunto é história em quadrinhos, as imagens muitas vezes acabam falando mais do que as palavras, principalmente quando os personagens conseguem demonstrar seus sentimentos ou aflições através de suas expressões, e com Nimona não é diferente. Os traços são simples e caricatos, mas conseguem demonstrar todos esses pontos dando a devida intensidade em cada situação, seja ela mais engraçada ou mais dramática. As cores são bastante agradáveis, principalmente quando combinadas em paletas que tem tudo a ver com o ambiente ou com a situação personagens se encontram.


Mesmo que não tenha tanto aprofundamento ou muitas explicações de origens e afins (como na animação), e da pegada LGBTQIA+ ser tratada de forma quase imperceptível, eu gostei bastante da construção dos personagens, suas motivações, seus conflitos, como seus traumas e mágoas os afetam, e o que eles fazem pra tentar reparar essas coisas.
Os diálogos são engraçados e remetem bastante à época medieval, com frases do tipo "alto lá, vilão!", mas outros conseguem ser bastante profundos e intensos, mesmo que curtos, e causam impacto e algumas reflexões não só nos personagens envolvidos, mas no próprio leitor.

Ballister tem toda aquela pose estereotipada de vilão, se parece e se veste como um vilão, bola planos malignos, sai por aí na companhia de Nimona fazendo coisas de vilão (como roubar um banco, por exemplo), gosta de ciências e até se comporta como um cientista maluco fazendo algumas descobertas e experimentos suspeitos, mas ele está longe de ser um vilão como fazem parecer. O lance dele é fazer justiça, é provar o quão problemática é a Instituição e como ela faz mal não só aos Heróis, mas ao povo do reino. Mesmo que seja seu chefe, ele se apega a Nimona e se preocupa bastante com a segurança dela, e quando percebe que a Instituição quer matá-la por ela representar um suposto risco, ele não hesita em tentar protegê-la ainda mais e faz de tudo pra revelar como aqueles que se dizem Heróis, incluindo a Instituição, são na verdade uns farsantes.

Ambrosius, seguindo ordens da diretora, é o famoso Herói imponente e amado pelo povo que não sai da cola de Ballister e Nimona, mas justamente por seguir as ordens da Diretora, seu título de Herói é totalmente questionável. Ele sempre se pega num enorme dilema pois, apesar de não assumir o motivo, não consegue fazer nada de mal a Ballister. Eles discutem e brigam sempre que se encontram, independente da situação que esteja acontecendo, mas demora um pouco até que apareça a explicação do motivo de toda aquela tensão que existe entre eles e do enorme ressentimento que Ballister carrega por Ambrosius ter explodido seu braço.

Nimona é a estrela da história, claro. Ela é umas das anti-heroínas mais divertidas e engraçadas que já tive a oportunidade de acompanhar, e por mais que ela saia por aí explodindo as coisas, quebrando estruturas, tacando fogo em tudo e matando inimigos, ainda consegue achar espaço pra fazer uma piada e demonstrar seu afeto por Ballister. Ela tem uma aparência que foge bastante dos padrões e isso só mostra o quanto ela é única. Alguns detalhes sobre as coisas que ela é capaz que fazer e que vão além de se transformar em animais e outras pessoas são omitidos de Ballister, mas ela faz isso justamente pra tentar evitar que ele se preocupe. Foi uma pena que o passado dela não foi tão abordado a ponto de nem sabermos direito sobre seu dom, mas a medida que a história se desenrola, percebemos a necessidade que ela tem em ser aceita como é, e que isso tem tudo a ver com a relação dela com seu chefe, pois ele não só a aceita, mas a acolhe.

Acho que vale falar um pouco da Diretora que, pra mim, representa toda a sujeira, preconceito e corrupção que existem quando se tem algum poder. Ela é manipuladora, impõe sua opinião e suas crenças goela abaixo dos outros, manipula todo mundo e ainda distorce a verdade sempre que pode pra obter vantagem e fazer com que os outros acreditem no que ela quer. Odiosa é um adjetivo até educado que pode ser usado definir essa criatura.




O que achei mais interessante nessa graphic novel foi a crítica super certeira sobre como o maniqueísmo é prejudicial para a formação de conceitos e opiniões na sociedade, dando uma visão bastante ampla sobre o significado de bem e mal, ou herói e vilão. A midia também é retratada com maestria quando, submetidos ao governo, podem servir como um meio de desinformação para influenciar e manter a população na ignorância, ou serem censurados quando tentam se opor e mostrar a realidade. Através de uma história simples e bastante rápida de ser lida, é possível compreender como a maioria fica em desvantagem perante uma minoria que faz qualquer coisa pra se manter no poder, e aqueles que poderiam se opor e lutar contra o sistema acabam levando o rótulo de vilões, sendo perseguidos numa tentativa de serem silenciados. Isso soa bem familiar nessa época em que vivemos, né?

Infelizmente, o livro se encontra esgotado em todas as lojas online e livrarias, pelo menos até momento dessa postagem, e não sei se a Intrínseca vai liberar uma nova tiragem depois da animação ter feito tanto sucesso. Eu espero que sim, pois uma obra dessas, além de ser bastante divertida, aborda assuntos importantes de forma leve, envolvente e descontraída, e super vale a pena tê-la na estante.
Nimona é uma história sobre aceitação, superação, amor e amizade que, por mais que faça piadas com vários elementos e situações dando a impressão de ser "bobinha", consegue passar uma mensagem bonita, importante e muito necessária. Meu único arrependimento aqui é não ter lido e dado a atenção que ela merecia quando foi lançada lá em 2016.

Na Telinha - Nimona

12 de agosto de 2023

Título
: Nimona
Distribuidora: Netflix
Elenco: Chloë Grace Moretz, Riz Ahmed, Eugene Lee Yang, Frances Conroy, Lorraine Toussaint, Beck Bennett, Indya Moore, RuPaul Charles, Julio Torres, Sarah Sherman
Gênero: Aventura, Fantasia, Animação
Ano: 2023
Duração: 1hr42min
Classificação: +12
Nota: ★★★★★
Sinopse: Um cavaleiro é acusado de um crime que não cometeu, e a única pessoa que pode ajudá-lo a provar sua inocência é Nimona, uma adolescente que está determinada a acabar com o mundo que a abandonou, que muda de forma e que também pode ser um monstro que ele jurou matar. Mas será que Nimona é realmente a vilã ou uma heroína disfarçada?

Nimona é uma das mais recentes animações lançadas pela Netflix baseada na HQ homônima criada por ND Stevenson (publicada em 2016 no Brasil pela Editora Intrínseca). A história começa com a lenda de Gloreth, uma guerreira jovem e muito corajosa que derrotou um monstro terrível que ameaçava destruir o reino onde vivia. A partir daí, ela se tornou rainha e determinou que um exército de Heróis deveria proteger o reino da ameaça de outros monstros, e que os descendentes desses heróis também se tornariam heróis, aumentando a linhagem para perpertuar esse legado e continuarem protegendo o reino da ameaça de outros monstros que poderiam surgir em algum momento.



Mil anos se passaram desde então, a sociedade vive sob um regime de monarquia que permanece com características medievais, porém bastante futurístico e com muita tecnologia, e a rainha atual, por mais que seguisse Gloreth, decide que não seria mais necessário ter sangue de Herói.
Ballister Coração Bravo (Ballister Boldheart no original), que desde criança já treinava pra se tornar um cavaleiro e, agora que se tornou adulto, era um forte candidato a ser nomeado como um Herói do Reino. Um cavaleiro que não herdou o título da família era algo que assustava assustava as pessoas, que tinham bastante preconceito com essa ideia, pois elas não sabiam se poderiam confiar suas vidas e a segurança do reino nas mãos de alguém que não era Herói de sangue como ele, mesmo que Ballister já tivesse demonstrado sua força, sua coragem, suas habilidades com a espada e conquistado a confiança da rainha. No dia da nomeação, algo dá muito errado e Ballister é acusado de um crime que não cometeu. Ele perde um braço na confusão e consegue fugir pra não ser capturado, mas fica conhecido como vilão do reino e se torna procurado.



Enquanto permanecia escondido, Ballister recebe a visita inesperada de Nimona, uma adolescente rebelde, com visual descolado, sem papas na língua, aspirante a vilã e metamorfa, que está se candidatando a "vaga" de ajudante de vilão para ajudar Balli a descobrir quem armou pra ele e, assim, poder se vingar. Mas, quando os dois unem forças, eles vão perceber que as aparências vilanescas enganam, e que há coisas bem mais profundas que vão descobrir um no outro.

Nimona me surpreendeu de uma forma super positiva, pois como não conhecia, fui assistir com expectativas zero e nem imaginei que fosse me emocionar tanto e chorar tanto com as diversas críticas sociais, com a representatividade e com a jornada incrível que os personagens adentram para se encontrarem.



A arte da animação é muito bonita, cheia de cores, movimentos fluídos e personagens com expressões marcantes, além de bater de frente com qualquer animação feita pela Disney/Pixar (que numa hora dessas deve estar bem arrependida por ter ignorado essa produção), principalmente pela abordagem audaciosa na questão do relacionamento de Ballister e Ambrosius Ouropelvis (o Herói que tem descendência direta com Gloreth e é super famoso), que embora seja discreto, existe. A trilha sonora incrível e, em conjunto com o roteiro, só torna o desenho mais emocionante.
Embora desde o começo da história já fique explícito a orientação sexual de Ballister e que existe o tema LGBTQIA+ na trama, todas as adversidades que ele precisa enfrentar não tem a ver com isso, mas sim com a armadilha que ele caiu por alguém não aceitá-lo como Herói já que ele não herdou isso de ninguém a ponto de fazer com que todos o enxerguem como vilão. Ele sofre, sim, um preconceito e passa a ser perseguido e odiado por ter se tornado esse "vilão", mas nada disso está relacionado à sexualidade dele. Com relação a Nimona não dá pra dizer o mesmo, pois mesmo que não esteja explícito, penso que seu dom de se transformar no que ela quiser está bastante ligado à fluidez de gênero, algo que ainda é tratado como tabu por grande parte das pessoas, e justamente por ela não estar encaixada dentro de um determinado padrão, ela é vista como um "monstro", como aberração que deve ser excluída da sociedade e tratada de forma hostil. Logo ela fica deslocada, nunca teve amigos, carrega um trauma bastante delicado relacionado a esse tipo de preconceito, e pensa que nunca será aceita nessa sociedade, por isso a rebeldia. Ela demora a revelar seu passado, mas quando ele vem à tona, preparem os lencinhos...



Nimona é uma animação é indicada para todas as idades por passar uma mensagem maravilhosa e super emocionante sobre amizade, aceitação, perdão, superação e ainda mostra que o conceito de herói e vilão é totalmente relativo. Às vezes o "monstro" não é exatamente um monstro. Ela ainda faz uma crítica super válida e importante sobre os falsos moralistas, os mesmos que querem controlar a sociedade através do pânico desencadeando um verdadeiro caos, fazem qualquer tipo de atrocidade e cometendo várias injustiças em nome da liberdade e dos "bons costumes".

Só posso dizer que Nimona já se tornou uma das minhas animações favoritas da vida.