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O Demônio na Floresta - Leigh Bardugo

26 de agosto de 2023

Título:
O Demônio na Floresta: Uma graphic novel de Sombra e Ossos
Autora: Leigh Bardugo
Ilustrações: Dani Pendergast
Editora: Planeta/Minotauro
Gênero: Fantasia/Jovem Adulto/Graphic novel
Ano: 2023
Páginas: 208
Nota:★★★★★
Sinopse: Antes de Ravka ser liderada pelo Segundo Exército, antes da criação da Dobra das Sombras, e muito antes de ele se tornar o Darkling, havia um garotinho solitário oprimido pelo seu próprio poder extraordinário.
Eryk e sua mãe, Lena, passaram suas vidas inteiras fugindo. Mas eles nunca encontrarão o refúgio que tanto buscam. Eles não são somente Grishas – eles são os mais raros e perigosos desse grupo.
Temidos pelos que querem destruí-los e perseguidos pelos que desejam explorar seus dons, Eryk e Lena precisam mascarar suas habilidades a todo momento. Mas os segredos mais perigosos são os mais difíceis de esconder...

Resenha: O Demônio na Floresta é uma graphic novel que faz parte do GrishaVerso criado pela autora Leigh Bardugo. Ele antecede em muitos e muitos anos todos os acontecimentos que se passam na trilogia principal.

Nele vamos conhecer uma pequena passagem da vida de Aleksander Morozova, numa época em que ele era um jovem subestimado e oprimido pelo próprio poder, que só tinha Baghra, sua mãe, como companhia e a única em quem podia confiar. A história se passa antes de Ravka ser liderada pelo Segundo Exército, antes da criação da Dobra das Sombras, num período em que o mundo não era um lugar seguro para os Grishas, e antes dele se tornar o Darkling - o temido Conjurador das Sombras desse universo cheio de fantasia e muita ação.

Aleksander e sua mãe, que também é uma Conjuradora das Sombras, vivem fugindo de um lugar pra outro e mudando seus nomes para não serem encontrados por caçadores de bruxas, também chamados de drüskelle, que os perseguiam. Desta vez eles vão se passar por "Eryk" e "Lena" e, cansados de fugir, só queriam um lugar pra poderem permanecer por mais tempo sem levantar suspeitas. A próxima parada é um pequeno acampamento de Grishas que os acolhem e que, aparentemente, é seguro. O problema é que quanto mais tempo eles passam num local, mais vulneráveis ficam, consequentemente, mais perigoso é. O poder de Eryk precisa ser escondido até mesmo dos próprios Grishas, pois eles também poderiam se aproveitar desse poder para benefício próprio.











Não há muitos personagens e o formato da história limita um maior aprofundamento sobre eles, mas o pouco que há é suficiente pra conhecermos quem são, o que fazem e como suas personalidades e poderes os afetam. No acampamento, Eryk conhece as irmãs Annika e Sylvi. Annika é a irmã mais velha, uma jovem Hidro cujo poder não é forte o bastante, o que a deixa bastante frustada já que vive sendo diminuída pelo filho irritante do Ulle, o líder o acampamento. Sylvi é uma criança bastante curiosa, impulsiva e um tanto teimosa (e irritante), e seus poderes não se manifestaram, o que a deixa bastante inquieta e ansiosa. Logo ela se mete em situações perigosas e precisa da proteção da irmã a todo momento.
Lena é uma mulher forte e que se impõe para não ser subjugada por ninguém, mas ela se preocupa tanto com o filho que não mede esforços para fazer qualquer coisa que for preciso para protegê-lo. Qualquer coisa. Desde seus ensinamentos brutais até suas medidas extremas.

Quando os Grishas decidem que precisam caçar um Amplificador, um enorme Urso que andava pela floresta, as coisas começam a sair do controle e Eryk percebe que aqueles Grishas não são exatamente quem ele pensava que fossem. Essas situações vividas por ele acabam por moldá-lo para que, no futuro, ele se torne o Darkling que conhecemos. O pouco que acontece na história mostra que Eryk, até então, tem boas intenções mas, ao que parece, a maldade e a ganância daqueles que cruzaram seu caminho acabaram por fazer com que ele deixasse de acreditar que poderia confiar em alguém. Assim, sem ter mais recortes de sua vida, fica difícil afirmar se ele é mesmo esse vilão tão terrível, ou se era um herói incompreendido que se permitiu ser corrompido a medida que se decepcionava cada vez mais.


As ilustrações feitas por Dani Pendergast são maravilhosas e trazem uma paleta de cores que misturam cores frias e quentes de uma forma super agradável e bonita de se ver. Os personagens são expressivos e as cenas são retratatas com a devida intensidade para que as imagens possam valer mais do que as palavras. Os balões de pensamento de Eric em forma de sombras foram uma sacada genial e que representam bem seu interior.

O único ponto negativo do livro é que a história é curtinha e ele acaba rápido demais. É impossível não ficarmos curiosos com mais detalhes da vida de Aleksander e como ele passou a lidar com seu poder até se tornar o Darkling.
Pra quem gosta da saga e quer ter mais detalhes sobre esse vilão que amamos odiar (ou talvez odiamos amar), é leitura super indicada e espero que a autora continue investindo nesse formato de graphic novel para se aprofundar e trazer mais detalhes do que aconteceu até o auge do Darkling.

Sol e Tormenta - Leigh Bardugo

14 de janeiro de 2022

Título:
Sol e Tormenta - Grishaverso #2
Autora: Leigh Bardugo
Editora: Planeta/Minotauro
Gênero: Fantasia/Jovem adulto
Ano: 2021
Páginas: 352
Nota:★★★★☆
Compre: Amazon
Sinopse: O boi sente o jugo, mas será que o pássaro sente o peso de suas asas? Na aguardada continuação de Sombra e Ossos, Alina e Maly precisam fugir das garras do Darkling após o terrível confronto na Dobra das Sombras. Apesar de finalmente ter se reunido com a pessoa mais importante de sua vida e de se ver livre do controle de Darkling e das pressões da corte, Alina está atormentada pela culpa depois dos acontecimentos na Dobra. Mas não há tempo para reflexões quando o seu principal objetivo é sobreviver. Nessa fuga frenética, em que precisa correr por sua vida e pelo destino de seu país, a Conjuradora do Sol acaba encontrando aliados – e inimigos – em figuras que nunca imaginou, como no corsário misterioso que é muito mais do que aparenta ser. Por sua vez, o Darkling está mais poderoso e determinado do que nunca. Com um novo poder assustador e extremamente perigoso, ele não irá poupar esforços para encontrar Alina e conquistar o trono de Ravka. O cerco está se fechando.

Resenha: Sol e Tormenta é o segundo volume da trilogia Grisha, escrita pela autora Leigh Bardugo, e dá sequência aos acontecimentos finais de Sombra e Ossos. Por esse motivo, a resenha pode ter spoilers do livro anterior!

O livro parte do ponto onde o anterior parou, com Alina e Maly fugindo do Darkling. Por estar sendo caçada por ele, ela esconde seu amplificador para que ninguém veja, e os dois vão tentando ao máximo possível passar despercebidos em meio as pessoas. Como Alina pára de usar seus poderes a fim de não chamar atenção de ninguém, ela começa a ficar pálida e fraca, então Maly continua fazendo papel de protetor, sempre cuidadoso e preocupado. Mas isso não foi o suficiente, e o Darkling não demora a encontrá-los. Com a ajuda do corsário Steamhold e sua tripulação, eles cruzam o Mar Real,  e nessa viagem ela encontra tanto inimigos quanto aliados, e a busca por um segundo amplificador começa... E quando ele é encontrado, tudo muda, e Alina decide, com ajuda de Nikolai, o segundo filho do rei, partir pra Osalta numa tentativa de tomar o comando do segundo exército para reunir forças contra as ameaças do Darkling. Porém, devido ao conflito que aconteceu da Dobra das Sombras, muitas pessoas acreditaram que Alina não tinha sobrevivido, então, quando ela chega ao Palácio, ela vai precisar lidar com a desconfiança do rei, que não sabe se ela é capaz de comandar um exército inteiro de Grishas (que também desconfiam dela) e quais são suas reais intenções (já que em sua fuga ela deixou o povo pra trás), e começa a tratá-la como se ela fosse uma pessoa qualquer. Alina, então, vai precisar conquistar a confiança de todos para provar que é capaz de derrotar o Darkling se tiver a ajuda necessária. 
Nesse meio tempo, ela acaba tendo acesso ao livro "A Vida dos Santos", e Alina faz uma associação do conteúdo desse livro com a posição em que ela se encontra, um tipo de "santa" da qual as pessoas tem fé e acreditam ser a salvação. Ela acredita que as informações do livro são pistas do que ela deve fazer e seguir, e a partir dalí ela vai em busca desses itens para se fortalecer, numa tentativa de vencer essa guerra.

Narrado em primeira pessoa, vamos acompanhando o ponto de vista de Alina nessa saga contra o Darkling. Ela ganhou um novo poder e começou a refletir sobre tudo, se questionando sobre o que é certo e errado, lidando com o sentimento de solidão constante mesmo que esteja cercada de gente, se sentindo culpada por tudo o que aconteceu e pelo "novo" comportamento de Maly, principalmente quando Nikolai sugere uma aliança com Alina que, embora aparentemente pudesse ajudar nessa jornada, tiraria Maly do sério. Mesmo que ela tome algumas decisões questionáveis e fique num vai e vem de evolução/retrocesso, ela é esperta, pega muitos detalhes úteis no ar, e está aprendendo cada vez mais a se impor quando pensa no quão importante é seu papel nessa guerra terrível, logo ela não poderia se dar ao luxo de se preocupar com as birras (sim, birras ridículas) que Maly faz. O abençoado está mais egoísta, inseguro e infantil do que nunca, acha que namorar com Alina lhe dá o direito de controlá-la ou tomar decisões por ela, não consegue aceitar e lidar com a ideia de que ela se tornou uma pessoa poderosa desde que descobriu ser uma Grisha, fica se lamentando porque sente falta da Alina sem poderes de antes, e fica se fazendo de vítima, se colocando numa posição inferior para que ela se sinta culpada por ele estar infeliz e por ela não colocá-lo em primeiro lugar em sua vida, mesmo que uma fucking guerra gigante esteja pondo a vida de toda a Ravka em risco. Ele parece um peso morto que ela precisa carregar sem motivo nenhum. A criatura não parece entender que a realidade agora é outra, que os poderes dela talvez sejam a única chance que eles tem, e que se apegar no passado ou no que poderia ter sido se fosse diferente não serve de nada. E como Alina ama esse completo imbecil, sua dependência emocional fica evidente, ela realmente se culpa em vez de mandá-lo pastar, e esse "romance" irritante e sem um pingo de química acaba tirando boa parte da graça da história. No começo cheguei a considerar que o problema com Maly pudesse estar na narrativa que traz exclusivamente o ponto de vista de Alina, e quem sabe ela estivesse o interpretando errado, não é mesmo? Penso que se a autora tivesse escrito um mísero capítulo com o ponto de vista de Maly, talvez fosse possível compreender esse comportamento detestável, mas não. Quanto mais páginas se passam, mais birra o dito cujo faz, a ponto dele achar que ir lutar com os Grishas, como se ele fosse um galo de briga querendo mostrar que é dono de si e sabe se virar sozinho, fosse uma boa ideia. É vergonhoso. E a coisa toda fica pior pro lado dele quando Nikolai entra em cena, porque, por mais que ele seja sarcástico e "liso", ele não só incentiva, mas mostra e ensina pra Alina o que é ser uma verdadeira líder, e em companhia dele, ela literalmente brilha e fica cheia de atitude.

Dito isso sobre esse romance miserável que ganhou muito mais espaço do que deveria, basicamente são os personagens secundários que carregam o livro nas costas, principalmente Nikolai que chega roubando todo o protagonismo da história sem pedir licença. A coisa toda fica pior pro lado de Maly quando ele entra em cena, porque por mais que Nikolai seja sarcástico e impossível, ele não só incentiva e apoia, mas mostra e ensina pra Alina o que é ser uma verdadeira líder, e em companhia dele, ela literalmente brilha, pra desgosto e ofuscamento eterno do mala do Maly. Nikolai é super inteligente e carismático, e quando há um diálogo divertido e afiado, pode ter certeza que a fala partiu dele.

O Darkling também tem uma presença marcante nas poucas vezes em que aparece, e ele continua sagaz, implacável, manipulador, e mais cruel do que nunca, seja pelo grande poder que tem, ou pelas estratégias que ele vai colocando em prática acima de tudo e todos pra conquistar seus objetivos sombrios. O fato de Alina ter várias "visões" com ele trazem momentos de bastante tensão pro desenrolar da trama.

No mais, Sol e Tormenta amplia esse universo dos Grisha mostrando todo o potencial que a história tem e ainda pode ter, mas é um volume que, por mais reviravoltas que tenha, se arrasta em muitos pontos sem que nada aconteça, com dramas descartáveis e com esse romance deplorável demais pra se aturar. Não acho que o livro tenha sido atingido com a "maldição do segundo volume", é uma boa continuação, com acontecimentos importantes e necessários para dar prosseguimento à saga, mas se a autora não tivesse gastado tantas páginas tentado enfiar esse romance falido goela abaixo dos leitores, a experiência teria sido muito melhor.
Agora fico aqui, iludida e shippando Alina com Nikolai, e desejando que Maly seja desintegrado e vire pó... Seria pedir muito?

Sombra e Ossos - Leigh Bardugo

2 de maio de 2021

Título:
Sombra e Ossos - Grishaverso #1
Autora: Leigh Bardugo
Editora: Planeta/Minotauro
Gênero: Fantasia/Jovem adulto
Ano: 2021
Páginas: 288
Nota:★★★★☆
Compre: Amazon
Sinopse: Em um país dividido pela Dobra das Sombras – uma faixa de terra povoada por monstros sombrios – e no qual a corte real está repleta de pessoas com poderes mágicos, Alina Starkov pode se considerar uma garota comum. Seus dias consistem em trabalhar como cartógrafa no Exército e em tentar esconder de seu melhor amigo, Maly, o que sente por ele. Quando Maly é gravemente ferido por um dos monstros que vivem na Dobra, Alina, desesperada, descobre que é muito mais forte do que pensava: ela é consegue invocar o poder da luz, a única coisa capaz de acabar com a Dobra das Sombras e reunificar Ravka de uma vez por todas. Por conta disso, Alina é enviada ao Palácio para ser treinada como parte de um grupo de guerreiros com habilidades extraordinárias, os Grishas. Sob os cuidados do Darkling, o Grisha mais poderoso de todos, Alina terá que aprender a lidar com seus novos poderes, navegar pelas perigosas intrigas da corte e sobreviver a ameaças vindas de todos os lados.

Resenha: Escrita pela autora israelita Leigh Bardugo, a Trilogia Grisha foi publicada em 2013 aqui no Brasil pela Editora Gutemberg. Agora, a trilogia está sendo relançada pelo selo Minotauro da Editora Planeta, que adquiriu os direitos de publicação e está lançando a trilogia sob novo - e mais bonito - projeto gráfico, e com nome de "Grishaverso" (achei feio, viu).

Num universo onde os humanos convivem com os Grishas, pessoas dotadas de poderes muito especiais chamados de "pequena ciência" e que fazem com que eles sejam capazes de controlar energia e elementos ao seu redor, Alina Starkov é uma jovem órfã e comum que serve o primeiro exército do rei de Ravka. Ela faz parte da equipe de Cartógrafos da linha de frente, responsáveis por desenhar mapas a fim de guiar os soldados. Alina cresceu num orfanato junto com seu melhor e inseparável amigo Malyen Oretsev, ou Maly, e ele serve o mesmo exército na função de Rastreador, seguindo pistas para definir o melhor caminho a ser seguido, além de ter muita facilidade para caçar e encontrar pessoas.

Ravka é uma monarquia, e mesmo que o rei tenha dois exércitos para protegê-lo, o primeiro formado por humanos na linha de frente, e o segundo exército por Grishas como soldados de elite liderados pelo Conjurador das Sombras, ou Darkling, desde que o país foi dividido por um mar de trevas, tudo se tornou um grande problema...

Conta a velha lenda que, há centenas de anos, um Grisha dotado de poderes incomparáveis e sombrio, conhecido como Herege Negro, conjurou uma densa e gigantesca onda feita de escuridão que dividiu o país, mais especificamente a cidade de Kribirsk. A faixa negra passou a ser chamada de Dobra das Sombras, ou Não-Mar, e é habitada pelos Volcras, monstros alados e terríveis que atacam e destroçam tudo o que adentra a escuridão. Era praticamente impossível que alguém conseguisse atravessar e sobrevivesse pra contar a história. Com o passar dos anos, a Dobra continuava sendo o pior e mais perigoso problema que Ravka precisava enfrentar, pois com a rota principal bloqueada, o país ficou estagnado, não se comunicava como deveria, e costumava ser alvo de ataques vindos dos países vizinhos. E nem o próprio Darkling, o único em Ravka com o poder de controlar as trevas, era capaz de destruir o Não-Mar. Devido aos inúmeros conflitos, também não era possível simplesmente contornar a Dobra pois era tão arriscado quanto atravessá-la. Enquanto Shu Han, ao sul, capturava Grishas para fazer experimentos a fim de tentar descobrir a fonte desse poder, Fjerda, ao norte, os caçava feito animais acreditando que se tratavam de bruxos perigosos e nada confiáveis. Logo, fora de Ravka, os Grishas além de não estarem seguros, eram tratados com muito preconceito, como se fossem a escória da humanidade. A esperança de todos era que um dia um Conjurador do Sol aparecesse e usasse seus poderes de luz para destruir de uma vez por todas a Dobra, mas ninguém nunca havia visto um...

Partindo dessa premissa, tudo começa quando um grupo de soldados dos dois exércitos, incluindo Alina e Maly, precisam atravessar a dobra numa missão, mas tudo dá errado. Maly é atacado por um Volcra, e numa tentativa desesperada de salvar o amigo, Alina acaba revelando um poder que, até então, ela desconhecia ter, e não só salvou Maly, como destruiu os Volcras que atacavam o esquife.
Alina, então, foi reconhecida como uma Grisha, mas não uma Grisha qualquer, pelo poder que ela havia manifestado durante a travessia na Dobra, tudo indicava que era a Grisha lendária, a tão esperada Conjuradora do Sol, aquela que seria capaz de destruir a Dobra de uma vez por todas. Mas será esse um fardo que Alina pode carregar?

Narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista da própria Alina, a escrita da autora é muito fluída e os detalhes da construção de mundo tornam a leitura um tanto empolgante. Vamos acompanhando a jornada de Alina se descobrindo como Grisha, aprendendo a controlar seus poderes com a ajuda, proteção - e proximidade - do Darkling, lidando com a ideia de ser um tipo de santa que veio pra salvar o mundo das trevas, mas vista por outros como uma abominação que merece a morte. E por essa parte da fé que as pessoas de Ravka depositam em Alina, é possível perceber que a autora consegue fazer uma crítica nada sutil sobre o poder da fé e como ela afeta as pessoas, seja pelo lado positivo de acreditar que as coisas vão melhorar desde que se tenha esperanças, como pelo lado negativo incluindo o fato de como é possível manipular os outros através dessa fé, assim como os absurdos do fanatismo e da ignorância (que nem sempre é uma benção). E ainda tem aqueles que só acreditam se puderem ver com os próprios olhos, e quando vêem, não acreditam.

Alina é uma personagem em processo de amadurecimento, auto aceitação e autodescoberta. Apesar dela ficar deslumbrada por sair do lixo e ir viver no luxo do palácio, ela precisa lidar com o fato de que muitas pessoas acreditam que ela é uma fraude total que deve ser impedida, e ela precisa provar pros outros e pra si mesma que ela tem sim os tais poderes de luz, fazendo demonstrações a todo momento para o rei enquanto é humilhada por humanos intolerantes e também por Grishas invejosos que se aproveitam por ela ainda não saber controlar muito bem seus poderes durante os treinamentos.
Diante dessa situação, ela acaba se apegando muito ao Darkling, pois desde que ela descobriu suas habilidades, ele tem sido o único que entende a real grandeza do seu poder, faz qualquer coisa pra mantê-la em segurança, e sabe usar as palavras pra confortá-la - e despertar seu interesse - como ninguém. Mas, ela também sente a falta de Maly, afinal, antes disso tudo acontecer e sua vida ter virado de cabeça pra baixo, era ele o seu porto seguro, a única pessoa que ela tinha, e não ter noticias dele desde que foi para Os Alta se apresentar pro rei a deixa angustiada. O problema é que entre Alina e Maly não existe química, talvez porque a amizade se evidencie mais que qualquer outro interesse, mas com o Darkling a coisa pega fogo, meudeus (mesmo que eu tenha achado isso meio forçado). Talvez a ideia de unir esses dois seja aquela história dos opostos se atraírem, mas por mais que ela tivesse o apoio dele desde o início, eu ainda ficava desconfiada de que tinha alguma coisa de errado e que boa coisa essa história não ia dar.

Sabe aquele meme "O INÍCIO DE UM SONHO/DEU TUDO ERRADO"? Pois ele resume bem a situação de Alina do início ao fim, coitada.

Como a construção desse universo tem muitos detalhes, confesso que demorei quase metade do livro pra entender todas as classificações dos Grishas e pronunciar os nomes esquisitos dos personagens, mas depois as coisas ficaram mais fáceis.

Sendo assim, vou colocar aqui o resumão que me ajudou a entender a divisão das Ordens e classificação dos poderes dos Grishas, é só clicar no botão abaixo e o texto vai ser expandido. Não deixei aberto pra resenha não ficar gigantesca e maior do que já está, e pra dar opção pra quem não quiser ler não precisar ficar procurando o trecho onde acabam as explicações. Talvez possa facilitar pra quem teve um pouco de dificuldade para acompanhar a construção de mundo enorme e cheia de detalhes da autora, mas caso já saiba ou não queira ler sobre isso agora, ignore o botão.

Os Grishas são divididos em três Ordens, os Corporalki, os Etherealki, e os Materialki, e elas são divididas em subcategorias que definem o que exatamente eles manipulam/controlam. Além disso, cada Ordem é representada por uma cor, que é usada nas vestes oficiais dos Grishas, chamadas de keftas. Além da cor básica da ordem, cada kefta traz ornamentos e detalhes bordados com uma segunda cor que representa a subcategoria da tal Ordem.

Os Corporalki são a Ordem dos Vivos e dos Mortos, e eles são capazes de manipular o corpo humano. Dentro dos Corporalki, existem duas subcategorias principais: os Sangradores, que basicamente controlam o corpo afim de causar alguma mudança em seu funcionamento ou algum tipo de dano (letal ou não), e isso faz com que sejam muito temidos em confrontos já que conseguem causar danos e até matar oponentes a distância; e os Curandeiros, que curam feridas, doenças, salvam enfermos, e etc. Ainda dentro dos Corporalki existe a subcategoria dos Artesãos, que têm o dom de mudar a aparência dos outros e de si mesmos temporariamente. Artesãos, embora raros, são considerados inferiores e não tem uma cor definida em suas keftas. Os Grishas da ordem dos Corporalki vestem keftas vermelhas. As keftas dos Sangradores tem detalhes bordados em preto, e a dos Curandeiros tem detalhes cinza.

Os Etherealki são a Ordem dos Conjuradores, e eles são capazes de conjurar e manipular elementos. Dentro dos Etherealkis, existem três subcategorias principais, e duas especiais que são extremamente raras. Os Aeros controlam o ar, formando rajadas de vento, aumentando ou diminuindo a velocidade do ar; Os Hidros, que controlam a água; e os Infernais, que manipulam o fogo
A kefta que os Etherealki vestem é azul. Os detalhes da kefta dos Aeros é cinza, dos Infernais é vermelho, e dos Hidros é azul claro.
As subcategorias especiais dos Etherealki são de conjuradores únicos e ainda mais raros: o Conjurador das Sombras, que sempre se veste todo de preto, o temido Darkling; e o lendário - e jamais visto - Conjurador do Sol. O Darkling tem o poder de detectar e invocar os poderes dos outros Grishas, assim como amplificar seus poderes, mas o poder principal dele é controlar as sombras e as trevas, trazendo a escuridão absoluta, e ainda sendo capaz de transformar a sombra em matéria para atacar - e fatiar em pedaços - os inimigos. O Conjurador do Sol é o completo oposto do Conjurador das Sombras, pois ele é capaz de conjurar e emitir grandes feiches de luz, assim como invocar o calor do sol iluminando e aquecendo tudo a sua volta.

Os Materialki são a Ordem dos Fabricantes, que conseguem detectar e controlar materiais compostos para fabricarem itens úteis aos Grishas. As subcategorias dos Materialki são os Durastes, que trabalham com materiais sólidos como metais, aços, vidros e etc (inclusive são eles que fabricam as keftas fazendo com que sejam blindadas a fim de proteger os Grishas de ataques com armas e flechas); e os Alquimistas, que lidam com compostos químicos líquidos, podendo fabricar poções, venenos e etc. Eles vestes keftas roxas. As keftas dos Durastes tem detalhes cinza, e a dos Alquimistas tem detalhes vermelho. Os Materialki não são muito úteis para lutar em batalhas, mas são úteis para fabricar itens que podem ser usados nelas, principalmente artefatos que amplificam o poder dos Grishas.

Como acontece com a maioria dos primeiros volumes de trilogias ou séries, Sombra e Ossos não fugiu muito dessa "regra", e funciona mais como uma introdução a esse universo fantástico. Sabemos sobre a origem da Dobra, sabemos como é a vida dos Grishas dentro e fora de Ravka, mas algumas partes são meio repetitivas (principalmente no que diz respeito a Alina e sua teimosia, ou quando está no modo iludida), assim como a falta de maiores detalhes da história de alguns personagens que tem uma certa relevância na trama. Outra coisa que não me agradou muito foi o fato de várias situações serem descobertas com suposições feitas por qualquer um, o que tornou algumas situações tensas ou perigosas um tanto convenientes. A impressão que tive é que ninguém pode tentar passar despercebido em paz, porque surge alguém do além dotado de inteligência afiada pra desmascarar quem vem lá com essas suposições e atrapalhar tudo.
No final das contas, eu gostei muito da história, principalmente pela construção de mundo com relação aos países e às características das pessoas de cada um deles, quanto pelo universo dos Grishas. Achei bem original. Mas não posso dizer o mesmo com relação aos personagens, pois além de ter sentido falta de mais informações sobre alguns deles, principalmente de Genya (a Artesã da corte que serve a rainha pra mantê-la sempre bonita) houve sim vários clichês que acabaram empobrecendo a experiência com a leitura. Não tenho muita paciência com possíveis preocupações românticas no meio do apocalipse, muito menos quando há qualquer possibilidade pra um triângulo amoroso onde a protagonista fica dividida entre dois amores e/ou não é capaz de enxergar a cilada que está se metendo.
Pra quem procura por uma história envolvente e muito bem construída, cheia de intrigas, perigos, traições e esperança, Sombra e Ossos é livro mais do que recomendado.
PS.:  E se você pretende assistir a série na Netflix, recomendo muito que o livro seja lido primeiro pra experiência ser ainda melhor. Se eu não tivesse lido, não teria entendido nada e não teria passado do primeiro episódio até hoje.