Título: A Poção Secreta - Diário de Uma Garota Alquimista #1
Autora: Amy Alward
Editora: Jangada
Gênero: Fantasia/Juvenil
Ano: 2017
Páginas: 368
Nota:
★★★☆☆
Sinopse: A Princesa do Reino de Nova toma acidentalmente uma poção do amor, e se apaixona por si mesma! Para encontrar um antídoto que possa curá-la, o rei mobiliza todos numa expedição chamada Caçada Selvagem. Competidores do mundo todo saem em busca dos mais raros ingredientes em florestas mágicas e montanhas geladas, enfrentando perigos e encarando a morte para encontrar a fórmula da poção secreta. Dentre eles, está Samantha, uma garota comum que herdou dos seus ancestrais alquimistas o talento para preparar poções. Esta pode ser a oportunidade para reerguer a decadente loja de poções da família, afinal o mundo todo estará acompanhando a Caçada nas mídias sociais. Será que ela conseguirá descobrir a cura e salvar a Princesa?
Resenha: Em pleno século XXI, o Reino de Nova é um lugar mágico cujos súditos possuem habilidades distintas. Embora convivam juntos, a sociedade é dividida entre Talentosos e Comuns.
No passado, o primeiro monarca de Nova criou a Caçada Selvagem, um evento com a finalidade de encontrar a pessoa mais habilidosa para proteger a família real, dando a ela títulos importantes e muita riqueza. O que sinaliza a necessidade de uma Caçada é um artefato mágico muito poderoso conhecido como Chifre de Alden, e sempre que algum membro da realeza corre qualquer tipo de perigo ele convoca todos aqueles que são aptos à Caçada Selvagem, porém, pela segurança que a realeza veio construindo em torno de si desde então, as Caçadas não são realizadas há sessenta e cinco anos. O reino é cheio de magia e fantasia, mas a tecnologia também é algo que faz parte da vida das pessoas. Eventos importantes são televisionados, a dependência de mídias sociais e celulares é algo normal alí e a própria Caçada é um verdadeiro reality show.
E em meio a esse cenário, conhecemos Samantha, uma jovem de dezoito anos que vive na cidade de Kingstown e descende de uma tradicional família de Alquimistas (são pessoas Comuns que possuem o dom de usar e manipular ingredientes mágicos sem corrompê-los). Ela é aprendiz do avô pois o dom da alquimia pulou uma geração e seu pai nasceu um Comum (sem o dom, os Comuns têm a capacidade de exercer os demais trabalhos envolvendo a tecnologia e afins). A família Kemi tem uma vocação incomparável quando o assunto é alquimia. Eles conhecem poções, distinguem as propriedades de cada ingrediente e são entendedores dos mais diversos tipos de processos de cura. Porém, a glória dos Kemi acabou faz tempo. No passado o avô de Sam venceu a Caçada, mas, desde que perdeu o título, a família tenta tirar o sustento da pequena loja de poções naturais que possui. Mas com o avanço tecnológico e a fabricação sintética de poções da última geração em grandes e sofisticados laboratórios da Corporação ZoroAster, as coisas não estão indo muito bem pra nenhum boticário tradicional na cidade, e a Loja de Poções dos Kemi é a única que restou.
O maior propósito dos Kemi é investir no futuro de Molly, a irmã mais nova de Sam. Ela é uma Talentosa (que possui o dom da magia e consegue canalizá-lo através de algum objeto), e o sonho da família é que ela aproveite todas as oportunidades que seu talento pode oferecer. Pra isso, eles estão investindo tudo o que tem em seus estudos para que ela possa ingressar na Escola Especial de Talentosos e garantir seu futuro. O problema é que com a falta de dinheiro, realizar tal objetivo poderia ser mais difícil do que parece, principalmente com clientes idosos que se recusam a comprar poções sintéticas nas grandes farmácias, mas vivem comprando fiado na botica dos Kemi por terem "esquecido suas carteiras".
Quando a princesa Evelyn completa dezoito anos, um grande concerto seria realizado e televisionado para toda Nova em comemoração ao seu aniversário. Mas os planos da festança acabam indo por água abaixo quando a princesa fica totalmente fora de si. Com intenção de fazer Zain, seu amigo e crush, se apaixonar por ela, Evelyn faz uma poderosa poção do amor, prática que há muito foi proibida, mas em vez de dá-la ao rapaz, ela a bebe por engano e acaba se apaixonando perdidamente por si mesma! Sua mente envenenada faz dela, e de suas obrigações como princesa, uma verdadeira ameaça para o reino. Assim, o Chifre de Alden não demora a perceber o perigo e fazer o chamado para a próxima Caçada Selvagem!
Então, os melhores (e mais inesperados) Alquimistas e Talentosos do Reino de Nova são convocados a fim de descobrirem a cura para Evelyn, e Samantha, claro, está entre eles... O que Sam não esperava era entrar numa competição acirrada e cheia de perigos em busca dos ingredientes raríssimos para a poção que irá salvar a princesa, e cujo prêmio, de quebra, vai deixar o vencedor milionário! Sam não teria uma oportunidade melhor para tentar reerguer a loja de poções de sua família e pagar os estudos da irmã, e não pensa duas vezes ao embarcar nessa aventura. Será que Sam vai conseguir vencer essa competição, salvar a princesa e ajudar a própria família?
A capa desse livro é muuuito fofa, dá vontade de apertar. Eu adoro ilustrações com traços irregulares que parecem ter sido feitos à mão e com detalhes em aquarela, e a tipografia escolhida para o título não poderia combinar mais, deixando tudo ainda mais descolado. As cores em harmonia são uma graça e o detalhe dourado da coroa e dos ornamentos deram um toque de charme ao projeto.
Os capítulos se alternam entre Sam, que são narrados em primeira pessoa, e Evie, em terceira. A escrita da autora é boa mas peca um pouco na narrativa no que diz respeito a detalhes de informações passadas e originalidade. Algumas brincadeiras com palavras também me soaram um tanto infantis. O próprio sobrenome "Kemi", que penso ter sido tirado da pronúncia da palavra em inglês "chemistry", é bem bobinho, mas não tanto quanto "Zoro Aster" e afins. Se o livro fosse infantil, ok, mas não é pra tanto, até mesmo porque os personagens são jovens adultos.
É bem óbvio que a maioria dos elementos utilizados para a construção de mundo não é novidade e a impressão que fica é de que já vimos aquilo em outro lugar. Funções específicas na sociedade, preparo de poções e magia, termos em latim, um artefato mágico que convoca competidores e aceita inscrições, um torneio cheio de fases e perigos, vilões trapaceiros e usurpadores, seres encantados ou assustadores, um tipo de teletransporte como forma de locomoção, e até uma escola especial e requisitada fazem parte desse universo, e mesmo que os personagens tenham sido moldados para seguir por um caminho distinto com propósitos diferentes, e aqui entra a parte contemporânea com tecnologia e reality shows da vida, não consegui deixar de fazer comparações com o mundo de Harry Potter, por mais que eu odeie isso. A narrativa pelo ponto de vista de Samantha em alguns momentos também se tornou um pouco problemática, pois é através dela sabemos os detalhes desse universo e muitas vezes ela interrompe o que está sendo dito para explicar outras coisas que ela (ou a autora) julga necessárias para um melhor entendimento. Já os capítulos de Evelyn, em terceira pessoa, nem sempre acrescentam algo realmente útil e, talvez, se fossem narrados em primeira pessoa, faria com que o leitor pudesse compreender melhor suas motivações, pois partiriam dela e não de um narrador onisciente falando por ela.
Levando em consideração de que se trata de um primeiro livro de trilogia e que este geralmente tem uma função mais introdutória, a história não é de todo ruim, pelo menos não a ideia dela. Alguns pontos até me fizeram refletir bastante, como o próprio envenenamento de Evelyn. Ela está idiotamente apaixonada pelo próprio reflexo, a quem passou a chamar de Lyn, como se fosse outra pessoa. Acho que as conveniências impostas pela autora na história meio que subestimam a inteligência do leitor, principalmente quando quem está em ação é Sam. Em meio a tantos competidores inteligentes e habilidosos, ela é a única que parece se atentar a detalhes, a única que tem intuição e sentido pras coisas, a única que percebe o problema de Evelyn...
A Poção Secreta é uma fantasia contemporânea que, embora peque na originalidade e não apresente personagens totalmente desenvolvidos, é divertida de se ler e ideal para sair de uma ressaca causada por uma leitura anterior mais densa. Pra quem gosta de fantasias que trazem a oportunidade de se explorar a alquimia de uma forma interessante, o livro é indicado.