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Harry Potter e o Cálice de Fogo - J.K. Rowling

18 de março de 2020

Título: Harry Potter e o Cálice de Fogo - Harry Potter #4
Autora: J.K. Rowling
Ilustrações: Jim Kay
Editora: Rocco
Gênero: Fantasia/Infanto juvenil
Ano: 2019
Páginas: 464
Nota:★★★★★
Sinopse: Verão, Harry Potter, agora com 14 anos, sente sua cicatriz arder durante um sonho bastante real com Lord Voldemort, o qual não consegue esquecer; três dias depois, já em companhia da família Weasley, com quem foi passar o restante das férias, na final da Copa Mundial de Quadribol, os Comensais da Morte, seguidores de Você-Sabe-Quem, reaparecem e alguém conjura a Marca Negra – o sinal de Lord Voldemort – projetando-a no céu pela primeira vez em 13 anos, causando pânico na comunidade mágica. Será que o terrível bruxo está voltando? Tudo indica que sim...


Resenha: Antes de voltar para Hogwarts, em seu quarto ano na escola, Harry, que agora está com quatorze anos, tem a chance de assistir a um jogo profissional entre Irlanda e Bulgária, na Copa Mundial de Quadribol. O que ninguém esperava era que o acampamento bruxo montado em volta do estádio fosse atacado por Comensais da Morte, nome dado aos seguidores do Lorde das Trevas. Quando a chamada "marca negra", é conjurada no céu de forma misteriosa, todos começam a temer a volta daquele-que-não-deve-ser-nomeado.
Como se isso já não fosse o bastante para preocupar a todos, o ano letivo já começa num clima bastante agitado. Olho-Tonto Moody, um auror que lutou contra bruxos das trevas no passado e se aposentou, foi convidado por Dumbledore a ser o novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, e os métodos dele são bastante peculiares.

Este ano, além do grande Baile de Inverno, Hogwarts vai sediar o Torneio Tribruxo, uma competição amistosa entre as três maiores escolas de bruxaria da Europa, e com isso vai receber Beauxbatons e Durmstrang. Pelas tarefas serem bastante perigosas, somente alunos com pelo menos dezessete anos podem se inscrever depositando seus nomes no Cálice de Fogo para tentarem concorrer a uma vaga de campeão e, assim, poderem competir no evento afim de demonstrarem suas habilidades adquiridas durante os anos de estudo, a coragem e suas capacidades de enfrentar o perigo.

Porém, de alguma forma inexplicável, Harry é escolhido pelo Cálice e se torna o quarto campeão que vai competir no Torneio Tribruxo junto com Cedrico Diggory, o primeiro campeão selecionado de Hogwarts; Fleur Delacour, campeã de Beauxbatons; e Viktor Krum, que além de ser o campeão de Durmstrang, também é o famoso apanhador do time profissional de Quadribol da Bulgária (de quem Rony é um grande fã). Assim, ele tem permissão para participar do torneio com intuito de descobrirem quem foi o responsável por inscrevê-lo e porquê. Será que Lorde Voldemort está por trás disso?

Diferente dos três volumes anteriores, este já começa com o primeiro capítulo dedicado a contar um pouco mais da família Riddle e alguns mistérios que cercam a morte deles, levando o leitor a um senhor, que, na época, foi o principal suspeito das mortes, mas ainda assim permaneceu como o fiel caseiro da família. Cinquenta anos depois, quando o velho percebeu uma movimentação estranha na casa, ele vai averiguar, vê um homem cuidando de uma criatura pavorosa, dona de uma cobra gigantesca, e acaba morto. Somente após essa cena trágica, vamos à casa dos Dursley, onde Harry continua levando aquela vida miserável com os tios, com a diferença que agora ele se aproveita da ideia de Sirius Black, seu padrinho "criminoso" que fugiu da prisão de Azkaban, possa fazer alguma coisa caso descubra que o afilhado está sendo maltratado, basta que o menino mande uma coruja pra lhe contar, o que rende alguns momentos bem engraçados com tio Válter apavorado de tanto medo de confrontar alguém dessa "laia". Os Weasley vão buscá-lo e todos partem rumo à Toca.

Narrado em terceira pessoa, é impossível não se empolgar com a leitura, com os detalhes desse universo mágico e fantástico e com o bom humor que a autora insere na história. Confesso que algumas passagens descrevendo detalhes de partidas de quadribol são bem extensas, um tanto cansativas e não acrescentam muito à trama de uma forma geral, a não ser reforçar a paixão dos bruxos por esse esporte e o quanto ele é importante em suas vidas, assim como o futebol, por exemplo, é para os trouxas.

Alguns pontos a serem destacados e que não podem ser vistos no filme (que foi bastante modificado pra adaptar o livro), é a presença de novos personagens que são bastante importantes pro desenvolvimento da história, como Winky, uma elfo-doméstico que é expulsa da família a quem serve (para sua completa desgraça) e vai trabalhar em Hogwarts, e o retorno de Dobby (a vergonha dos elfos por ter sido libertado e absurdamente exigir pagamento por seus serviços), o que acaba gerando a revolta de Hermione em ver o quanto essas criaturas são "exploradas" de forma injusta (na visão dela) a ponto de ela criar uma associação em prol dos direitos e da liberdade dos elfos-domésticos, o F.A.L.E., e sair militando exaustivamente por aí, tentando convencer os bruxos dessa nobre causa enquanto os próprios elfos, horrorizados com a decisão dela, só querem viver suas vidas servindo felizes e satisfeitos aos seus senhores da melhor forma possível.
Outros personagens também movimentam a história e prometem algo mais pro futuro, como a jornalista sensacionalista Rita Skeeter, Madame Maxime, diretora de Beauxbatons, e a abordagem de várias criaturas mágicas e novos feitiços que enriquecem ainda mais esse universo.

Assim, em meio a tantos desafios no torneio e na escola, tanta coisa nova pra se aprender, e diante dos conflitos internos que todo adolescente tem, este volume mostra o início do amadurecimento do garoto e também marca uma nova e terrível realidade para o mundo bruxo. Daqui pra frente, as coisas vão ficar bem mais pesadas e perigosas do que já estavam, não só para Harry e seus amigos, mas para toda a comunidade bruxa.


Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban - J.K. Rowling

9 de março de 2020

Título: Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban - Harry Potter #3
Autora: J.K. Rowling
Ilustrações: Jim Kay
Editora: Rocco
Gênero: Fantasia/Infanto juvenil
Ano: 2018
Páginas: 336
Nota:★★★★★
Sinopse: Durante 12 anos o forte de Azkaban guardou o prisioneiro Sirius Black, acusado de matar 13 pessoas e ser o principal ajudante de Voldemort, o Senhor das Trevas. Agora ele conseguiu escapar, deixando apenas uma pista: seu destino é a escola de Hogwarts, em busca de Harry Potter. Neste livro o leitor estará mais uma vez mergulhando no mundo mágico de Hogwarts e participando de aventuras repletas de imaginação, humor e emoção, que repetem o encantamento proporcionado pelos livros anteriores dessa maravilhosa série de J. K. Rowling.


Resenha: Depois de aturar a irmã do tio Válter, tia Guida, que ficara hospedada por uma longa e eterna semana na casa dos Dursley, Harry se desentende com a intragável mulher por ela não parar de falar abobrinhas para humilhar o garoto, a transforma num balão que sai voando pelos céus de Londres afora, e foge de casa no meio da noite. No meio do caminho ele se depara com um enorme cão preto que parecia vigiá-lo, mas acaba sendo salvo pelo Nôitibus Andante, um transporte bastante peculiar que resgata bruxos que se encontram em casos de emergência. Harry vai para o Caldeirão Furado, no Beco Diagonal, e fica por lá até que as aulas comecem. Ao tomar o Expresso de Hogwarts, Harry, Rony e Hermione se deparam com uma das criaturas mais malignas que habitam no mundo, os Dementadores, seres sombrios que se alimentam da felicidade das pessoas e guardam a Prisão de Azkaban.


Os Dementadores estavam vasculhando o expresso em busca do notório assassino e partidário do Lorde das Trevas, que fugiu da prisão, Sirius Black. Os rumores contam que Sirius, além de ter sido acusado de matar treze pessoas e ter destruído um bruxo de nome Pedro Pettigrew, e que a única coisa que sobrou do coitado foi um único dedinho encontrado, foi o maior responsável pela morte de Lílian e Tiago Potter, os pais de Harry, quando ele os traiu e os entregou a Lord Voldemort. E agora, com sua fuga de Azkaban, ele iria atrás de Harry para, enfim, terminar o serviço.


Agora, em seu terceiro ano em Hogwarts, Harry vai lidar com os novos desafios e matérias da escola, vai ter Hagrid como o novo professor de Trato das Criaturas Mágicas, a excêntrica Sibila Trelawney como a professora de Adivinhação, o misterioso Remo Lupin como o novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas (nenhum professor dura mais de um ano nesse cargo amaldiçoado), e ainda vai precisar se proteger da suposta ameaça que corre ao ser caçado por Sirius.
Quando Harry ganha o curioso Mapa do Maroto dos gêmeos Weasley para poder ver não só todas as passagens secretas da escola, mas também o local onde estão e o que todos na escola estão fazendo para escapar de Hogwarts e visitar o povoado bruxo de Hogsmead com sua capa da invisibilidade, ele percebe que o nome de Pedro aparece no mapa. Mas como poderia se ele foi morto? Será que o mapa mágico está com algum defeito? Ou será que há muito mais coisas escondidas por trás da história de Sirius que ninguém ainda não sabe? E o que significa esse cão, chamado de Sinistro, que parece estar sempre a espreita?


Esse volume é um dos melhores da série, seja por ter muito mais toques de bom humor, por trazer mais elementos desse universo mágico que se expandiu pra fora da escola, quanto pela introdução de Sirius Black e a importância que ele traz pra série de uma forma geral, assim como Lupin com suas frases inteligentes e de efeito (só não tanto quanto as de Dumbledore) e tudo o que ele tem a ensinar a Harry e as crianças.
Com treze anos, Harry já é um adolescente, e mesmo que tenha preocupações em aprender as matérias da escola, e agora que pensa estar correndo risco de vida, ele também começa a se interessar por garotas, mostrando que ele também tem características e comportamentos comuns de garotos dessa idade.
Rony continua engraçado e meio sonso, e está bem preocupado com Perebas, seu rato de estimação que anda se comportando de forma estranha ultimamente, principalmente agora que Hermione arrumou um novo bicho de estimação, Bichento, um gato amarelo de focinho achatado que não deixa o rato em paz e é muito inteligente.


Hermione, estudante voraz, de alguma forma misteriosa anda frequentando todas as aulas para não perder nenhum tipo de conteúdo e aprender tudo sobre esse universo, mas o que ninguém sabe é como ela pode estar em mais de uma aula ao mesmo tempo. Ela continua afiada com toda sua inteligência e lógica, e sempre age com a razão, alertando e repreendendo Harry mesmo que isso o contradiga e faça com que os meninos passem a ignorá-la deixando-a arrasada. Ela inclusive perde a paciência com a professora de Adivinhação, pois pra ela, tudo que Sibila diz não passa de falácia e charlatanismo, mas no final descobrimos que, por mais que ela seja exagerada em suas falas e pareça mesmo uma fraude, ela tem grande importância na história de vida do próprio Harry.
Agora que Hagrid se tornou professor de Hogwarts, ele, com todo o seu amor pelas criaturas mágicas, quer impressionar os alunos e mostrar a beleza desses bichos, e aí é que entra o hipogrifo Bicuço, que também tem uma grande participação e importância na trama.


O professor Lupin foi considerado o melhor professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, seja pela sua forma de ensino divertida quanto por ele mesmo ser um homem inteligente, legal e bastante compreensivo, o problema é que ele parece guardar um segredo, de vez em quando se ausenta e ninguém sabe pra onde ele vai, o que acaba sendo visto com desconfiança pelo trio de amigos. Através de Lupin, Harry consegue entender o que são e o que realmente fazem os Dementadores, descobre porque ele é mais afetado do que os outros na presença deles, e aprende um feitiço avançado chamado "Expecto Patronun", que conjura um Patrono para combater essas criaturas. Cada bruxo tem um Patrono representado por um animal que tem algum tipo de ligação com sua personalidade ou experiência de vida. É um feitiço bastante avançado pra idade de Harry, mas Lupin acredita no potencial do garoto.

Um dos pontos mais interessantes do livro é a ideia de que a autora, enquanto o escrevia, passava por uma época bastante pesada em que sofria de depressão, e os Dementadores foram criados baseados nessa condição. Uma criatura que suga a felicidade das pessoas até que ela definhe por completo, trazendo suas piores lembranças à tona e fazendo com que a pessoa perca a vontade de viver. Logo a forma de combater os dementadores com Patrono, que deve ser conjurado através de uma lembrança feliz, não foi por acaso. Até na pior situação, J.K. consegue ser genial, é incrível.


O quadribol também é bastante explorado, mostrando o quanto esse esporte é importante para Harry e a equipe da Grifinória.
Talvez esse seja o livro cuja adaptação cinematográfica foi a que mais "sofreu", pois são tantas coisas que ficaram de fora e/ou foram modificadas e resumidas para contar a história, que chega a dar desgosto. Uma das coisas que senti falta foi Sir Cadogan, um cavaleiro de armadura, baixinho e invocado que perambula pelos quadros mágicos da escola e que usa de um vocabulário "rebuscado" e hilário para tratar os garotos, brandindo sua espada para enfrentá-los, chamando-os de "patifes", "cães desprezíveis", "vilões" e coisas do tipo. Quando ele precisa substituir a Mulher Gorda, as cenas são impagáveis, pois ele vive dificultando a vida dos alunos.

A edição ilustrada e em capa dura dispensa maiores comentários. Pra quem é fã, é artigo essencial na coleção. Não digo que a revisão é perfeita, porque é comum encontrarmos um monte de erros, mas a história é tão boa e prende tanto que supera esse detalhe.


Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban traz muitas informações novas sobre o mundo bruxo, sobre Hogwarts, sobre o passado de Harry e sobre o passado de Tiago Potter e sua turma enquanto eles eram estudantes da escola. Mesmo que as descobertas de Harry e os acontecimentos envolvendo Sirius representam algo muito maior, fica evidente que Lord Voldemort está conseguindo retornar e que as coisas tendem a ficar bem mais perigosas a partir daqui.

Harry Potter e a Câmara Secreta - J.K. Rowling

20 de fevereiro de 2020

Título: Harry Potter e a Câmara Secreta - Harry Potter #2
Autora: J.K. Rowling
Ilustrações: Jim Kay
Editora: Rocco
Gênero: Fantasia/Infanto juvenil
Ano: 2017
Páginas: 272
Nota:★★★★★
Sinopse: Os Dursley estavam tão anti-sociais naquele verão, que tudo o que Harry queria era voltar às aulas da Escola de Bruxarias de Hogwarts. No entanto, quando já terminava de fazer suas malas, Harry recebe um aviso de um estranho chamado Dobby, que diz que um desastre acontecerá caso Potter decida voltar à Hogwarts. Harry não liga para aquela mensagem e o desastre realmente acontece. Naquele segundo ano estudando em Hogwarts, novos horrores surgem para atormentar Harry, incluindo o novo professor Gilderoy Lockhart e um espírito chamado Murta-que-Geme, que assombra o banheiro feminino, além de olhares indesejados da irmã mais nova de Ron Weasley, Gina. Todos esses problemas, no entanto, parecem menores quando o verdadeiro problema começa e algo transforma os alunos de Hogwarts em pedra. Dentre os suspeitos: o próprio Harry.

Resenha: Depois de enfrentar o Lorde das Trevas e sobreviver mais uma vez pra contar a história, Harry volta para a casa dos tios para passar as férias enquanto aguarda o início das aulas em Hogwarts mais uma vez. Porém, enquanto seus tios o mantém preso e escondido em seu quarto numa tentativa de evitar que ele se comunique com seus amigos "anormais", Harry recebe a visita inesperada de uma criatura curiosa, Dobby, um elfo doméstico que vive se autocastigando, mas que está alí para tentar impedir que Harry volte para Hogwarts. Segundo Dobby, há algo muito perigoso sendo tramado por lá, e um grande desastre irá acontecer caso Harry volte. É claro que Harry não pode deixar de voltar pra escola, pois lá é seu lugar de verdade. Resgatado por Rony, Fred e Jorge num carro enfeitiçado, Harry consegue fugir da casa dos Dursley e vai para A Toca, a casa da família Weasley, onde aguarda o início das aulas ansioso.


Gilderoy Lockhart é o novo - e convencido - professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, e agora, no segundo ano, as crianças começam a praticar alguns feitiços de ataque e defesa para aprender a desarmar oponentes, mas quando um feitiço não dá muito certo e Harry demonstra ter uma habilidade incomum entre os bruxos e ouvir vozes ameaçadoras que mais ninguém escuta, o menino começa a ser visto com muita desconfiança pelos alunos. E isso piora quando o real perigo começa a surgir e alguns alunos nascidos trouxas começam a ser encontrados petrificados. Harry é o principal suspeito pois sempre está no lugar errado, na hora errada, mas ele precisa provar para todos que ele não só é inocente, como descobrir quem está por trás dos ataques, e é quando o professor (e fantasma) Binns, de que leciona História da Magia, conta aos alunos sobre a lendária câmara secreta, e que lá existe um monstro que só pode ser controlado pelo herdeiro de Salazar Slytherin, o fundador de Sonserina. Mas quem será essa pessoa? E será que a Câmara realmente existe ou não passa de lenda para assustar crianças?


Narrado em terceira pessoa, a história se mantém fluída, com detalhes maravilhosos, toques de muito bom humor e é impossível de largar. No segundo ano de Harry Potter em Hogwarts, já temos uma noção muito boa sobre o funcionamento da sociedade bruxa e da escola em si, mas sempre aparece alguma informação nova para incrementar a história e nos surpreender. Outra coisa super legal nos livros é que J.K. sempre insere alguma situação ou informação que, aparentemente, parece não ser tão importante ou que acaba sendo um obstáculo a ser enfrentado, mas acaba tendo uma ligação com algo que acontece lá na frente e tudo de encaixa, como mágica.


Harry já está mais familiarizado com o universo bruxo, com o quadribol, com os professores, e com os perigos que sempre estão a espreita, e dessa vez não seria diferente. O Lorde das Trevas ainda representa uma ameaça e sempre está buscando meios de retornar, e Harry não vai hesitar em estar alí para tentar impedir.
Rony, por mais que seja o amigo bobalhão de Harry, mostra que apesar de ter pavor de aranhas, ele é corajoso e também enfrenta o perigo quando necessário, mesmo com uma varinha quebrada que causa destruição se utilizada. E a ideia de Gina, sua irmã mais nova, ter ido pro seu primeiro ano em Hogwarts e estar correndo perigo, o deixa ainda mais preocupado em fazer alguma coisa para ajudar a resolver o mistério acerca do monstro da câmara secreta.


E mais uma vez, Hermione, com sua astúcia e inteligência, consegue resolver problemas aparentemente impossíveis, desvendando mistérios que ninguém, em décadas, soube resolver. Hermione sempre deixa se guiar pela razão, mesmo que isso signifique contrariar as ideias de Harry, e é incrível como a menina, de uma forma até irritante, sempre está certa.
Snape está mais odioso do que nunca, perseguindo os garotos e destilando toda a sua antipatia pela vida contra as crianças. Gilderoy é aquele tipo de embuste que se acha o centro das atenções, que gosta de espalhar seus grandes feitos por aí como se ele fosse alguém famoso e muito importante. Desde o início fica claro o quanto ele é ridículo e narcisista - o que chega a ser inacreditável e muito engraçado - mas a reviravolta que ele sofre no final é perfeita, pois mostra que as pessoas não são o que fazem questão de aparentar ser.
Através das memórias em um diário mágico, sabemos um pouco mais sobre Tom Riddle, um estudante de Hogwarts de décadas atrás, que mostra algumas passagens ocorridas na escola a fim de trazer algumas respostas para Harry, e que acaba se tornando alguém bastante conhecido no mundo bruxo futuramente...


Não posso deixar de falar sobre a estadia de Harry n'A Toca e é uma pena enorme que as cenas que se passam lá ficaram de fora do filme. A Toca é uma casa torta e mágica, com direito a vampiro que mora no sótão e um jardim enorme que precisa ser desgnomizado com frequência, pois os gnomos - criaturas muito diferentes daquelas parecidas com um mini papai noel que os trouxas insistem em usar para enfeitar seus jardins - são pragas que infestam o terreno e destroem as plantas. O processo de dar fim nos bichos é hilário e muito criativo. Outra passagem super interessante é o aniversário de morte do fantasma Nick-quase-sem-Cabeça, do qual o trio de amigos foi convidado a participar e ficam totalmente abismados, e a ideia de que o zelador da escola, Argo Filch, é um aborto (que nasce em uma família bruxa mas não tem poderes, o que seria o oposto da Hermione, que nasceu bruxa numa família de trouxas).


Enfim, eu poderia ficar aqui falando sobre os detalhes do livro, da saga em si, de como a autora começou a introduzir a questão do preconceito e das diferenças entre bruxos e trouxas, e do quanto eu amo esse universo mágico e fantástico criado pela genial J.K. Rowling eternamente, mas vou me conter e só dizer que é livro cuja leitura - e releitura - é mais do que recomendada.

Harry Potter e a Pedra Filosofal - J.K. Rowling

19 de fevereiro de 2020

Título: Harry Potter e a Pedra Filosofal - Harry Potter #1
Autora: J.K. Rowling
Ilustrações: Jim Kay
Editora: Rocco
Gênero: Fantasia/Infanto juvenil
Ano: 2016
Páginas: 256
Nota:★★★★★
Sinopse: Conheça Harry, filho de Tiago e Lilian Potter, feiticeiros que foram assassinados por um poderosíssimo bruxo, quando ele ainda era um bebê. Com isso, o menino acaba sendo levado para a casa dos tios que nada tinham a ver com o sobrenatural pelo contrário. Até os 10 anos, Harry foi uma espécie de gata borralheira: maltratado pelos tios, herdava roupas velhas do primo gorducho, tinha óculos remendados e era tratado como um estorvo. No dia de seu aniversário de 11 anos, entretanto, ele parece deslizar por um buraco sem fundo, como o de Alice no país das maravilhas, que o conduz a um mundo mágico. Descobre sua verdadeira história e seu destino: ser um aprendiz de feiticeiro até o dia em que terá que enfrentar a pior força do mal, o homem que assassinou seus pais, o terrível Lorde das Trevas.
O menino de olhos verdes, magricela e desengonçado, tão habituado à rejeição, descobre, também, que é um herói no universo dos magos. Potter fica sabendo que é a única pessoa a ter sobrevivido a um ataque do tal bruxo do mal e essa é a causa da marca em forma de raio que ele carrega na testa. Ele não é um garoto qualquer, ele sequer é um feiticeiro qualquer; ele é Harry Potter, símbolo de poder, resistência e um líder natural entre os sobrenaturais.


Resenha: Harry Potter é um garoto de dez anos, magricela, com olhos verdes, uma cabeleira desgrenhada e uma cicatriz em forma de raio na testa. Ele foi criado pelos tios preconceituosos e intragáveis, os Dursleys, num armário debaixo da escada, depois de ter ficado órfão quando ainda era apenas um bebê. Desde que foi deixado na porta dos Dursleys, Harry sempre foi rejeitado e tratado com desprezo, sempre apanhava de Duda, seu primo mimado, sempre era castigado por nada, e, para os tios, sempre foi um grande estorvo. Ainda assim, ele aceitava sua vidinha miserável pois os Dursleys era a única família que lhe restou, infelizmente. Ao completar onze anos, Harry descobre ser um bruxo quando, depois de muitas mentiras e sabotagens por parte dos tios e do primo, ele recebe uma carta entregue por Hagrid, o guardião das chaves da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, onde ele iria pra estudar e aprender tudo sobre esse universo mágico, e se tornar o grande bruxo que ele está destinado a ser. Seus tios abominam qualquer coisa relacionada a mágica e esconderam tudo o que podiam do garoto. Sendo trouxas (nome dado a quem não é bruxo) os Dursleys, mesmo que façam de tudo pra fingir que não existe, são um dos poucos que sabem do mundo mágico, pois Lilian, a falecida mãe de Harry e irmã de tia Petúnia, também era bruxa, o que causava asco na irmã.


O que Harry ainda não sabia, é que no mundo bruxo, desconhecido pelo garoto até então, ele é muito famoso, conhecido como "o menino que sobreviveu". Seus pais não morreram num acidente de carro como ele fora levado a acreditar, mas sim foram assassinados por um bruxo terrível que, ao tentar matar Harry também, foi atingido de alguma forma misteriosa e desapareceu. Porém, por mais que o Lorde das Trevas, também conhecido como "aquele-que-não-deve-ser-nomeado" ou "você-sabe-quem", seja somente uma lembrança que ainda assusta e é evitada a todo custo por muitos bruxos, ele não morreu definitivamente, e planeja voltar para terminar o serviço.
Agora, depois de passar pelo Beco Diagonal para comprar todo o material que precisa, e ainda ganhar uma coruja de estimação, ele embarcará na plataforma 9 ½, na estação de Kings Cross, rumo ao seu primeiro ano em Hogwarts, Harry finalmente está feliz, fez novos amigos e se sente em casa pela primeira vez, mas o perigo está mais próximo do que todos imaginam, principalmente quando ele e seus amigos começam a perceber que há algo de estranho e misterioso acontecendo na escola envolvendo a lendária pedra filosofal.

Narrado em terceira pessoa, a história é muito bem humorada e tão fluída e envolvente que pode ser lida em questão de poucas horas. Cada detalhe, cada cenário, cada frase de efeito dita por Dumbledore só mostra o quanto J.K. é genial. Não importa se você tem 8 ou 80 anos, a leitura é simplesmente maravilhosa. Mesmo que o primeiro livro seja mais introdutório, é perfeitamente possível imaginar e imergir nesse universo fantástico e mágico como se fosse algo real.


Lugares mágicos que só podem ser vistos por bruxos, correspondência através de corujas, a ideia que os bruxos passam 7 anos na escola aprendendo e aprimorando suas habilidades para, quando adultos, executarem os mais diversos feitiços, criarem poções, terem conhecimento da história da magia em geral e ainda seguir alguma carreira no mundo bruxo. A sociedade bruxa mantém um sistema que funciona plenamente, mantendo sua existência em segredo dos trouxas para que eles não achem que todos os problemas que arrumam possam ser resolvidos com mágica, e tem suas próprias regras criadas pelos responsáveis pelo Ministério da Magia e vária outras peculiaridades.
A ideia da autora em incluir a vassoura como elemento da bruxaria também foi super bacana, pois aqui ela é um item principalmente esportivo, que os bruxos usam pra voar enquanto jogam o famoso - e perigoso - Quadribol, que tem regras rígidas, campeonatos e equipes profissionais por todo o mundo. Harry inclusive demonstra ser bastante habilidoso com a vassoura e logo entra no time na posição de Apanhador.


Não acho que seja lá muito justo escolher só alguns personagens para falar quando existem dezenas deles e todos são ótimos e relevantes na trama.
O universo criado por J.K. Rowling é simplesmente fantástico, cheio de bom humor e encantador, mesmo que a vida de Harry até seu ingresso em Hogwarts tenha sido de dar dó. Todos os personagens são interessantes e possuem várias camadas e pontos de personalidades marcantes, sendo possível identificá-los facilmente pela forma como falam ou agem, e sentir empatia (ou não) por cada um deles.

Harry está numa fase de aprendizado, é seu primeiro ano na escola, e por mais que a ideia de ser um bruxo tenha feito com que ele ficasse surpreso e até um tanto incrédulo, ele logo consegue se familiarizar com muita facilidade em sua nova realidade. Mesmo que tenha crescido num lar onde sempre foi tratado da pior maneira possível, o que muitas vezes é revoltante, ele ainda tem seus valores, é um bom menino, tem coragem pra enfrentar o que for preciso, mas não nega que sempre precisa de ajuda. Ele nunca faz nada totalmente sozinho e muitas vezes depende de auxílio e conselhos dos amigos, de Hagrid ou de Dumbledore, o diretor da escola, um dos bruxos mais poderosos, respeitados - e mais engraçado -  desse universo mágico.
Rony vem de uma família de bruxos, todos ruivos, bastante simples. Eles são pobres e passam por algumas dificuldades, mas são muitos amorosos e companheiros. A mãe de Rony, Molly, toma Harry praticamente como filho, tanto por sua história trágica, quanto por ter feito amizade com Rony. Seu pai, Arthur, trabalha no Ministério da Magia, na seção de Mau Uso dos Artefatos de Trouxas. Rony é meio sem noção, esfomeado e engraçado, e se torna o melhor amigo e confidente que Harry jamais sonhou que teria um dia. Rony é o sexto filho, de sete, e esse é seu primeiro ano em Hogwarts, assim como Harry.
Hermione é filha de trouxas e foi uma surpresa quando ela recebeu sua carta. Sim, é possível que nasça um bruxo numa família de trouxas (como a própria Lilian, mãe de Harry). Ela é super inteligente, aluna dedicada, devoradora de livros e nada supera sua capacidade de lógica. Se não fosse pela ajuda dela, Harry mal sairia do lugar pra resolver seus problemas.
Draco Malfoy, um menino pálido de cabelo platinado, veio de uma família importante e muito rica no mundo bruxo, e ele adora se aparecer ou tirar alguma vantagem por causa disso. Ele também é aluno do primeiro ano, foi escolhido pra Sonserina, é se tornou arqui inimigo de Harry. Desde o início os dois não se bicaram e vivem pra implicar um com o outro.


Os professores também são ótimos e desde o início demonstram o quanto são fundamentais no desenvolvimento de Harry e na trama em si. Alvo Dumbledore, o diretor de Hogwarts, é um velho sábio e bem humorado, que adora sorvete de limão, mas muito misterioso e um tanto reservado. Minerva McGonagall, professora de Transfiguração, é uma bruxa com poder de se transformar num gato e é tão rígida quanto justa. Ela também adora Quadribol e se empolga muito com Harry no time da Grifinória. Severo Snape, o professor de Poções, é mal encarado, mau humorado, e parece odiar Harry com todas as suas forças. Ele não pensa duas vezes quando o assunto é implicar com Harry ou perder a paciência com Hermione, e tira o máximo de pontos de Grifinória que ele pode. O professor Quirrell, de Defesa Contra as Artes das Trevas, parece ser muito medroso, ainda mais por viver gaguejando e se assustar com muita facilidade. Hagrid é um homem gigante com uma barba e uma cabeleira indomável que trabalha em Hogwarts e mora numa cabana dentro dos limites da propriedade. Ele tem uma sombrinha cor-de-rosa e foi proibido de usar magia por algum motivo. Hagrid tem a total confiança de Dumbledore, adora todo tipo de criatura mágica e desenvolve uma relação de amizade com as crianças que é tão adorável quanto engraçada.

A escola em si já é cheia de curiosidades na forma como funciona e é um lugar que devia existir de verdade, de tão incrível. Cheia de passagens secretas, lugares proibidos, quadros com fotografias que se mexem, fantasmas ilustres e escadas que mudam de lugar. Ela é dividida em casas, e o Chapéu Seletor, um chapéu pontudo mágico e inteligente que fala e canta muito, separa e encaminha todos os alunos recém chegados pra cada uma de acordo com suas personalidades e ambições (ou falta delas). Grifinória (a casa pra onde Harry, Rony e Hermione vão), Sonserina, Corvinal e Lufa-Lufa são as quatro casas de Hogwarts, que ganharam esses nomes devido aos seus fundadores. Cada casa tem suas cores, um animal como símbolo e seu próprio lema. Grifinória é a casa dos bruxos corajosos e companheiros. Corvinal é destinada aos bruxos mais sábios e criativos (Hermione poderia estar nela). Sonserina é uma casa onde os bruxos são astutos e não medem esforços para conseguirem o que querem, e ficou conhecida de uma forma negativa, pois todos os bruxos que seguiram o caminho das trevas foram de Sonserina. E por último, a Lufa-Lufa, onde seus moradores são leais, amigos e pacientes. Lufa-lufa é a casa mais inclusiva e flexível de Hogwarts, e muitos acham que nela só vão os bruxos mais fracos, mas na verdade são os mais sinceros, bondosos, persistentes e justos. No final do ano letivo, a casa que faz mais pontos ganha a Taça das Casas e é reconhecida como a casa vencedora até o próximo ano.


Não que isso tenha me feito desgostar da saga, mas talvez o único ponto negativo do livro seja a bendita tradução. E não digo isso pela tradução de muitos termos e nomes próprios pra aproximá-los do equivalente em português (James Potter, o pai de Harry, virou Tiago Potter; Charlie Weasley, irmão do Rony, virou Carlinhos; Vernon Dursley, o tio odioso de Harry, virou Válter; Fang, o cachorro de Hagrid, virou Canino; "muggle" virou "trouxa"; e por aí vai...), coisa que em alguns pontos não faz muito sentido pois alguns dos nomes, mesmo sendo em inglês, também podem ser bem familiares em português. A própria plataforma mágica e secreta, onde os bruxos embarcam no Expresso que os levam a Hogwarts, foi alterada na tradução, sendo que a original (que se pode ver nos filmes também) é a plataforma 9 ¾. Num contexto geral, a tradução de Lia Wyler (RIP) é muito boa, facilita a leitura pra crianças, e fica bem evidente que foi feita uma pesquisa minuciosa a fim de trazer as origens e o melhor sentido dos nomes pro correspondente em português, mas ainda assim, a tradução dos nomes das casas, pra mim, é um pouco problemática por questões "mitológicas". Como os nomes das casas são os sobrenomes dos seus respectivos bruxos criadores, não faz sentido manter o nome da casa traduzido e o sobrenome não, pois a referência acaba se perdendo nesse sentido. Um leitor mais desatento ou que não conhece a saga mais a fundo pode não fazer essa associação, e talvez fosse melhor que os sobrenomes deles também fossem traduzidos juntamente com os nomes das casas, ou que os das casas fossem mantidos nos originais.
Levando tudo isso em consideração, além de ficar aquela sensação de que teve muita coisa perdida (por mais que a história seja super rica em muitos sentidos), em vários momentos a gente se depara com erros na revisão da tradução também, como personagens com nomes trocados, ou ora traduzidos, ora não, como é o caso da Professora Minerva que uma hora aparece como "Morague MacGonagall", ou a artilheira de Quadribol (Quidditch no original), Cátia Bell, que às vezes não tem o nome traduzido e aparece como "Kate". E pra uma série de livros que teve incontáveis edições depois de tantos anos, qualquer fã (#iludido #xatiado) esperava que tais erros fossem corrigidos, mas não foram (nem a versão do audiolivro, que fiz questão de acompanhar e ouvir, foi).


Essa edição com capa dura em particular é maravilhosa, com ilustrações lindas feitas por Jim Kay, com uma disposição de texto que se encaixa bem com os desenhos, e é edição obrigatória pra se ter na estante quando se é um fã e colecionador. É meio incômodo ler essa edição pelo seu tamanho e peso, mas a história é tão boa, cheia de reviravoltas e detalhes geniais que o esforço - e o preço - sempre vai valer a pena.

Enfim, Harry Potter e a Pedra Filosofal deu início a uma saga épica, clássica, viciante e inesquecível que reuniu uma legião de fãs pelo mundo inteiro - inclusive essa pessoa que vos fala - e que, ainda bem, não vai acabar tão cedo. Se ainda não leu, ou só conhece a saga pelos filmes, volte pra Terra e faça esse favor a você mesmo: LEIA, é sério!
É livro pra ser lido, relido e guardado no coração, pra sempre!

Sem Coração - Marissa Meyer

20 de junho de 2019

Título: Sem Coração
Autora: Marissa Meyer
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Fantasia/Jovem adulto/Releitura
Ano: 2018
Páginas: 416
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Catherine era uma das garotas mais desejadas do País das Maravilhas e a favorita do ainda solteiro Rei de Copas, mas seus interesses eram outros. Por seu talento na cozinha, ela só queria abrir uma confeitaria em sociedade com sua melhor amiga e oferecer ao Reino de Copas os mais deliciosos doces e bolos.
Porém, de acordo com sua mãe, era uma ideia inaceitável para a jovem que poderia ser a próxima rainha. Em um baile real em que o rei pretende pedi-la em casamento, Cath conhece Jest, o belo e misterioso bobo da corte. Pela primeira vez, sente a força da pura atração. Mesmo correndo risco de ofender o rei e contrariar os pais, ela e Jest iniciam um relacionamento intenso e secreto.
Cath está determinada a escolher o próprio destino e se apaixonar nos seus próprios termos. Mas em uma terra repleta de magia, loucura e monstros, o destino tem outros planos...

Resenha:  Pra quem gosta de releituras de fantasias clássicas, principalmente no que diz respeito ao universo das princesas e outras personagens icônicas da literatura, Marissa Meyer é autora mais do que indispensável. Depois de ter sido fisgada com a série Crônicas Lunares, não consegui resistir quando soube do lançamento de Sem Coração, que contaria a história das origens daquela que se tornou a impiedosa Rainha de Copas. Como não ficar com as expectativas nas alturas?

Assim, acompanhamos a jovem Catherine Pinkerton, uma garota literalmente doce e sonhadora, uma confeiteira de mão cheia, que queria abrir uma confeitaria com sua melhor amiga, Mary Ann, e viver todas as emoções de um primeiro amor um dia. Porém, sua mãe não aceita que ela siga seus sonhos. Por Cath ser desejada pelo Rei de Copas, seu destino é ser rainha, mesmo que contra sua vontade. E durante um baile onde ela seria pedida em casamento pelo Rei, ela conhece o Bobo da Corte, Jest, e a atração entre os dois é inevitável, mas escolher seu próprio destino não é algo que Cath possa fazer.

Partindo dessa premissa, vamos acompanhando o processo de transformação de Cath, uma garota doce e gentil, se tornando alguém muito cruel devido a tudo que precisou enfrentar, e que foi impedida de ser e fazer o que mais queria de sua vida: ser feliz.

No início, a autora se dedica a apresentar e construir os personagens, com suas características particulares e personalidades únicas, assim como detalhar (de forma bastante cansativa e repetitiva) cada pedacinho ou aroma dos doces e bolos divinos feitos por Cath, e até as roupas que todos usam, e eu demorei muuuito pra avançar a leitura até, mais ou menos, a metade do livro, pois tudo estava se arrastando demais e nada me deixava empolgada pra continuar. Foi um século pra conseguir ler a metade, e a outra metade eu li num pulo só. Depois percebi que foi um artifício importante para situar o leitor nesse universo, e contextualizar personagens e suas condições para que a história continuasse sendo desenvolvida com a devida maestria até seu desfecho que, embora já esperado, não deixa de surpreender. Muitas cenas são chocantes, muitos personagens nos decepcionam profundamente e acabam mostrando que o destino pode, sim, mudar de acordo com atitudes infelizes e escolhas erradas que são tomadas por ambição ou ganância, mas talvez sejam essas reviravoltas dolorosas que tornaram a história única e com elementos que justificam o destino da protagonista e o desfecho do livro. Por mais horrível e triste que seja, conseguimos entender o que, de fato, motivou Cath a se tornar alguém tão amarga, tão vingativa e cruel. Nem sempre vamos ter um felizes para sempre, e isso não significa que a história não seja marcante ou digna de admiração.

A história é cheia de referências ao universo de Alice no País das Maravilhas, e quando personagens já conhecidos dão o ar da graça, como o Gato Cheshire, o Chapaleiro Maluco, o Coelho Branco, e outros, é impossível não sentir aquela satisfação por já termos uma certa familiaridade com eles.

No mais, Sem Coração é um livro que arrasa nosso emocional, seja por fazer com que saibamos que existem situações terríveis e dolorosas o bastante para transformar alguém tão doce em alguém tão amarga, como mostrar que, talvez, o fascínio por corações de copas espalhados pelo reino seja um reflexo para projetar o que ela perdeu: seu coração.

A Herdeira da Morte - Melinda Salisbury

18 de fevereiro de 2019

Título: A Herdeira da Morte - A Herdeira da Morte #1
Autora: Melinda Salisbury
Editora: Fantástica Rocco
Gênero: Fantasia/Jovem adulto
Ano: 2016
Páginas: 320
Nota:★★★★☆
Sinopse: Twylla tem 17 anos, vive num castelo e, embora seja noiva do príncipe, não é exatamente um membro da corte. Ela é o carrasco. Primeiro de uma surpreendente série de fantasia, Herdeira da Morte conta a história de uma garota capaz de matar instantaneamente qualquer pessoa que ela toca. Até mesmo seu noivo, cujo sangue real supostamente o torna imune ao toque fatal de Twylla, evita sua companhia. Porém, quando um novo guarda chega ao castelo, ele enxerga a garota por trás da Deusa mortal que ela encarna, e um amor proibido nasce entre os dois. Mas a rainha tem um plano para acabar com seus inimigos, e eles incluem os dons de Twylla. Será que a jovem se manterá fiel a seu reino ou abandonará tudo em nome de um amor condenado?

Resenha: Aos treze anos, Twilla, que era a filha da Devoradora de Pecados num vilarejo modesto do reino de Lomere, foi levada pela própria rainha depois de acreditarem que ela era a Daunem Encarnada, a reencarnação da filha dos deuses Daeg (Sol) e Naeg (Lua). Assim, ela deveria ser treinada para manter a esperança do reino, como futura rainha. Mas, enquanto ela não se casa com o príncipe, sua função é comparecer a um ritual em que deve ingerir a Praga-da-Manhã, um veneno letal, e sobreviver. Isso prova que ela é, de fato, a reencarnação da filha dos deuses. Porém, esse ritual fez com que a pele de Twilla se tornasse mortal devido ao veneno, e qualquer um que recebesse seu toque, mesmo que sem intenção, estaria fadado à morte. Esse "dom" fez dela o carrasco da rainha, e todos aqueles considerados traidores seriam tocados por Twilla como castigo e para reforçar a ideia de que os deuses, assim como a ira deles contra os descrentes, são reais.

Twilla já se sentia solitária por não poder ter muito contato com ninguém, e mesmo sendo vigiada por guardas da rainha o tempo todo, ela se torna ainda mais reclusa depois do melhor amigo ter sido considerado um traidor e ela ter sido obrigada e tocá-lo.
Quatro anos se passaram desde a chegada da garota ao castelo, e Twilla, já com seus dezessete anos, espera pelo príncipe e pelo casamento que está próximo. Até que Dorin, o guarda de confiança mais antigo de Twilla, adoece, e ela passa a ser protegida por um novo guarda, Lief, um jovem bonito que veio de um reino inimigo, e que a trata como se ela fosse normal, como se seu toque não representasse nenhum risco para ele. Por tratá-la como igual, Lief desperta a curiosidade de Twilla, e a chegada do rapaz acaba mudando a rotina da mocinha. mas, mesmo que Twilla seja noiva do príncipe, ela, agora, ficará entre seus deveres e seus mais novos sentimentos...

Narrado em primeira pessoa, acompanhamos Twilla e o fardo que ela carrega ao desempenhar um papel no reino que, ao mesmo tempo que dá esperança e mantém o povo sob controle, gera temor para aqueles que, aos olhos da rainha, não andam na linha. Dessa forma, embora não seja perfeita, é possível ter empatia e entender o comportamento da protagonista, pois por mais que ela viva num castelo cheio de luxos, fartura e tenha o maior conforto possível, ela foi moldada para um propósito e deve servir aos caprichos mais cruéis da rainha, e ainda obedecer a qualquer ordem que lhe é dada. Isso torna Twilla uma jovem infeliz, vazia, isolada devido a sua condição, e que sempre fora usada por aqueles que a tiraram de sua verdadeira família, sem ter poder de escolha, cujo destino não pode ser determinado por ela mesma.

Embora o livro dê essa ideia irritante de um triângulo amoroso entre Twilla, Lief, e Merek (o príncipe), a autora dá um rumo diferente para os acontecimentos, e o conflito emocional que existe aqui não fica inteiramente voltado para essa questão, e isso fica bem evidente quando Twilla e Merek acabam se conformando com a situação e passam a ter pequenos encontros para se conhecerem melhor, mas o incômodo, por sempre estarem pisando em ovos ao fazerem algo em nome de uma tradição que eles são obrigados a seguir, é inevitável. E em contrapartida, é inegável a curiosidade que Twilla passa a ter por Lief e seu jeito descontraído e despreocupado de formalidades. Assim, com a ideia de um casamento arranjado e com chegada de Lief, Twilla começa a enxergar o mundo à sua volta com outros olhos e, aos poucos, vai tomando as rédeas da própria vida, fazendo escolhas pela primeira vez. É um desenvolvimento lento, difícil, mas que rende experiências incríveis e muito satisfatórias a ela, mesmo que Twylla tenha precisado desses dois personagens masculinos para cair em si, em vez de ter se dado conta de tudo sozinha.

Por se tratar do primeiro volume, este livro é bastante introdutório, com várias descrições e detalhes para situar o leitor nesse universo, mas que muitas vezes acabam interrompendo a fluidez da leitura e a deixando um pouco fragmentada. Enquanto Twilla explica determinada situação, ela já aproveita de um gancho para explicar outra coisa, e até retornar e continuar com a primeira, é provável que já tenhamos esquecido do que ela estava falando. Então por mais que eu tenha achado a história bem interessante e original, esse recurso narrativo tornou a leitura um pouco cansativa, e, talvez, se essas explicações tivessem sido encaixadas de outra forma, com capítulos próprios talvez, teria sido melhor.

No mais, A Herdeira da Morte foi um livro que me surpreendeu bastante, não só pela capa bonita e cheia de detalhes, mas por trazer uma história sobre uma garota que descobriu que seu poder é muito maior do que ela poderia imaginar.

A Fogueira - Krysten Ritter

13 de janeiro de 2018

Título: A Fogueira
Autora: Krysten Ritter
Editora: Fábrica 231/Rocco
Gênero: Suspense/Thriller
Ano: 2017
Páginas: 288
Nota:★★★★☆
Sinopse: Abby Williams é uma advogada de 28 anos especializada em questões ambientais. Hoje uma mulher independente vivendo em Chicago, Abby teve uma adolescência problemática numa cidadezinha no estado de Indiana que até hoje ela luta para esquecer. Mas um caso de contaminação envolvendo uma grande empresa obriga Abby a voltar à pequena Barrens e confrontar seu próprio passado. Quanto mais sua equipe avança nas investigações sobre a Optimal Plastics, mais Abby se aproxima também da verdade sobre o misterioso desaparecimento de sua antiga melhor amiga anos atrás e de outros acontecimentos até então sem resposta.

Resenha: Abigail Williams tem vinte e oito anos e é uma advogada especializada em direitos ambientais. Ela é uma mulher independente, desapegada e muito bem sucedida. Abby nasceu em Barrens, uma cidadezinha bem pequena no estado do Indiana onde ela não foi muito feliz, mas já faz vários anos que ela mora em Chicago.
Aparentemente tudo ia bem na vida dela, até que Abby se depara com um caso relacionado a Optimal Plastics, a principal fonte de economia de Barrens. A empresa foi acusada de contaminar a água da cidade com seus poluentes, o que desencadeou várias doenças nos moradores.
Assim, depois de dez anos, Abby precisará retornar para sua cidade natal a fim de descobrir o que está acontecendo e em paralelo ao caso, ela descobre que sua antiga amiga de infância, Kaycee, desapareceu, e quanto mais ela investiga, mais próxima fica de uma verdade inquietante e rodeada por mistérios.

A história é narrada pelo ponto de vista de Abby e embora seja muto fluída e com detalhes o bastante para ambientar o leitor à trama, alguns deles bastante pesados inclusive, não traz elementos realmente novos. Obviamente a história tem seu próprio rumo, que confesso ser bem surpreendente, mas a impressão é de que a autora juntou fórmulas de várias histórias que todos nós já vimos em algum lugar, e é impossível ler sem levar este ponto em consideração.

Abby e Kaycee eram melhores amigas na infância, mas as coisas mudaram durante a adolescência. Abby passou a ser constantemente humilhada por Kaycee, que se tornou uma "Regina George" do colégio, cheia de súditas que sempre faziam o que ela queria, exatamente como no filme "Meninas Malvadas". Assim, após sofrer muito bullying, depois de se formar, ela partiu pra Chicago e só queria esquecer todos aqueles traumas. Porém, retornar a Barrens faz com que todas as suas mágoas viessem à tona, principalmente porque a cidade não evoluiu, as pessoas são as mesmas e continuam podres, a diferença é que Kaycee sumiu.
Ao mesmo tempo em que Abby precisa lidar com seu passado trágico, ela faz as investigações e descobre uma rede de corrupções além de outras questões mais pesadas, e, pra mim, essa parte além de previsível e nada envolvente, inicialmente lembrou um pouco da história de "Erin Brockovich". Só não me recordo agora de algum filme ou livro em específico que toca no ponto da personagem que retorna às origens e enfrenta seus demônios particulares, mas não acho que seja difícil encontrar algo do gênero. Os conflitos pessoais da protagonista foram trabalhados de uma forma bem mais interessante e que, devido ao teor, mexem muito mais com nossos sentimentos. O fato de que Abby bebe em excesso não seria um problema se isso não afetasse seu juízo e a própria voz narrativa em si. Se ela esquece de algo, nós leitores, como expectadores dependentes do ponto de vista dela, ficamos igualmente a ver navios. Ao meu ver o caso envolvendo a empresa foi um elemento que poderia ser substituído por qualquer outro, e o que importava mesmo era a história de Abby.

Abby é uma personagem introspectiva, que não se abre com facilidade e vive de mal humor (não sei até onde a autora se deixou influenciar pela personagem que ela interpreta nas telinhas, mas são idênticas), e acompanhar a história através do seu ponto de vista foi interessante pois as descobertas dela também são as nossas. Ao sabermos mais dos detalhes de seu passado, ficamos comovidos com tudo o que ela sofreu, e a forma como ela lida com esses assuntos inacabados também é algo fundamental para o desenrolar no caso como da trama em si.

Enfim, A Fogueira não foi uma leitura que trouxe algo realmente novo ou original, mas rendeu bons momentos e é livro indicado pra quem tem interesse em temas polêmicos da atualidade, como corrupção, abuso, misoginia e bullying de uma forma bem diferente do que já vi por aí.

A Ascensão do Mal - Danielle Paige

12 de janeiro de 2018

Título: A Ascensão do Mal - Dorothy Must Die #2
Autora: Danielle Paige
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Fantasia/Jovem Adulto/Releitura
Ano: 2017
Páginas: 240
Nota:★★★★☆
Sinopse: Meu nome é Amy Gumm - e eu sou a outra garota do Kansas.
Depois que um tornado destruiu o estacionamento de trailers onde eu morava, acabei indo parar um Oz.
Mas não era a Oz que eu conhecia dos livros e filmes.
Dorothy tinha retornado, mas agora era uma ditadora implacável. Glinda não podia mais ser chamada de Bruxa Boa. E as bruxas do mal que sobraram? Unram Forças para criar a Ordem Revolucionária das Malvadas e queriam me recrutar.
Minha missão? Matar Dorothy.
Só que minha tarefa de assassina não saiu conforme planejado. Dorothy ainda está viva. A Ordem desapareceu. E o lar que eu tanto queria deixar para trás pode estar em perigo.
De algum jeito, numa terra distorcida e dividida, preciso encontrar a Ordem, proteger a verdadeira soberana de Oz, matar Dorothy e seus capangas - e tentar descobrir o que eu realmente estou fazendo aqui. Mas, num lugar onde a linha entre o bem e o mal se desloca de acordo com a rajada do vento, em quem afinal eu posso confiar?
E quem é realmente do mal?
Resenha: O mundo de Oz mudou... Dorothy, obcecada pelo poder, se tornou uma governante cruel que sugava a magia do lugar para si. Isso precisava ter um fim...
Quando Amy Gumm, outra garota do Kansas, é sugada por um tornado e levada a Oz, ela é recrutada pela Ordem Revolucionária das Malvadas para salvar o mundo. Para isso ela deveria matar Dorothy e seus fieis capangas - o Homem-de-Lata, o Leão e o Espantalho -, enfrentando perigos, desvendando segredos, e descobrindo verdades sobre sua própria história.

Mas Amy falhou em sua missão, e por muito pouco conseguiu ser salva da morte por seus mais novos amigos. Agora, os membros da Ordem desapareceram e Amy não sabe para onde ir. O problema agora é ser caçada por Dorothy e sua perversa aliada, Glinda, mas não se Amy encontra-las primeiro, ela só precisa de ajuda. Assim, ela parte em busca da Ordem ao mesmo tempo em que tenta reverter o que aconteceu com Ozma, a melhor governante que Oz já viu... Com o coração do Homem-de-Lata em mãos, resta conseguir o coração do Leão e o cérebro do Espantalho para dar continuidade em sua arriscada missão e livrar Oz, o lugar que se tornou seu lar, da tirania.

Narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Amy, a autora nos conduz por esse universo mágico e curioso, onde as perguntas vão sendo gradualmente respondidas a medida que a protagonista progride em seus objetivos. Enquanto o primeiro volume tinha um ritmo intenso no que diz respeito aos acontecimentos, neste segundo, mesmo que nos deparemos com conspirações secretas, perseguições alucinantes e batalhas sangrentas, as coisas fluem um pouco mais devagar. A autora se preocupa em descrever todos os detalhes do que compõe o mundo mágico de Oz e isso torna a leitura um pouco enfadonha devido ao excesso.

O que pra mim foi um problema, e que quebrou muito desse clima, foi Amy constantemente divagando sobre suas inseguranças, vivendo um dilema meio sem sentido com relação a se deixar corromper pelo atual sistema de Oz, um romance forçado e que não tinha a menor necessidade de existir, e sua falta de direção quando ela sabia que tinha coisas importantes a serem resolvidas. Mas a medida que a história avança ela se torna mais confiante e arregaça as mangas para fazer o que era preciso, ou pelo menos tentar, que é salvar seu lar. E pra isso ela só pode confiar em si mesma já que ninguém parece ser o que aparenta... Mas gostei bastante das informações acerca do motivo de Amy ter ido para Oz e a ligação desse mundo com o estado do Kansas.

No mais, pra quem gosta de uma aventura cheia de fantasia com toques sombrios, vai curtir a leitura da série. Por mais que o desenvolvimento de A Ascensão do Mal seja um pouco mais lento do que o livro anterior, a ideia de acompanhar Amy num cenário tão rico e curioso já vale a leitura.

Vulgo Grace - Margaret Atwood

8 de janeiro de 2018

Título: Vulgo Grace
Autora: Margaret Atwood
Editora: Rocco
Gênero: Drama
Ano: 2017
Páginas: 496
Nota:★★★★★
Sinopse: Inspirado num caso real, Vulgo Grace conta a trajetória de Grace Marks, uma criada condenada à prisão perpétua por ter ajudado a assassinar o patrão e a governanta da casa onde trabalhava, na Toronto do século XIX. Com uma narrativa repleta de sutilezas que revelam um pouco da personalidade e do passado da personagem, estimulando o leitor a formar sua própria opinião sobre ela, Atwood guarda as respostas definitivas para o fim. Afinal, o que teria levado Grace Marks a cometer o crime? Ou será que ela estaria sendo vitima de uma injustiça?

Resenha: Vulgo Grace é um romance de ficção especulativa baseado no caso real de Grace Marks, uma jovem imigrante irlandesa de dezesseis anos que, junto com James McDermott, foi acusada de ter assassinado seu empregador, Thomas Kinnear e sua governanta/amante Nancy Montgomery, no Canadá de 1843. Embora ambos tenham sido condenados da acusação, talvez pela falta de provas concretas, somente Grace escapou da pena de morte, mas passou muitos anos da sua vida em um manicômio e em numa prisão, até ter sido libertada e desaparecido. O fato é que, por mais que haja vários registros históricos sobre Grace, o caso da bela criada ainda é um mistério devido às várias contradições existentes em confissões, relatos, entrevistas, artigos e afins escritos sobre ela.
Grace foi uma jovem intrigante em varios sentidos, e por ter sido retratada como dona de várias personalidades distintas, nunca ficou claro se ela sofria de algum distúrbio mental ou se ela era uma manipuladora mentirosa e fatal.

Assim, utilizando o caso como base, a renomada escritora Margaret Atwood construiu uma trama fascinante onde o leitor é desafiado a descobrir o que faz ou não parte a ficção, quando é convidado a acompanhar o jovem psiquiatra Dr. Simon Jordan, que fora contratado por uma comissão local que quer provar a inocência da condenada, em uma tentativa de não só desbloquear várias memórias desaparecidas, como desvendar os mistérios da mente de Grace.
"De qualquer modo, Assassina é uma palavra forte para estar associada à sua pessoa. Tem um odor característico, essa palavra, almiscarado e sufocante, como flores mortas em um vaso. Às vezes, à noite, eu a sussurro para mim mesma: Assassina, Assassina. Ela produz um som farfalhante, como uma saia de tafetá pelo assoalho."
- Pág. 33
A escrita de Margaret Atwood é poética, com detalhes e descrições que transportam o leitor para a atmosfera que ela construiu através dos olhos de Grace. Embora tudo seja descrito com perfeição, seja os fragmentos dos fatos pesquisados ou ficção, há momentos em que nos questionamos sobre a veracidade do que Grace, como personagem, diz e cada frase pode ter um significado oculto que poderá fazer diferença no futuro...
É interessante acompanhar a problemática de Grace, que devido a falta de memória, não consegue distinguir se ela realmente matou o casal ou se foi apenas uma cúmplice do verdadeiro assassino. E tanto por sua beleza como pela forma como ela narra os acontecimentos, Dr. Jordan se impressiona e parece que o interesse vai além do que somente investigar a mente da mulher. Ele fica tão envolvido com o caso que começa a ser afetado de uma forma curiosa e bem intrigante, e isso é perceptível através de seus atos e pensamentos.

Além dos elementos verídicos, a história se completa com poemas, sonetos, documentos, citações e afins intercalados em meio a narrativa de forma a construir uma trama plausível e muito convincente, principalmente quando a cultura e os costumes da época são evidenciados a fim de tornar a história muito mais rica do que parece.

Este é o segundo livro que li da autora, o primeiro foi O Conto da Aia, e assim como ele, Atwood incorpora questões envolvendo o patriarcado, a sociedade machista, a opressão, os abusos que as mulheres sofrem, e Grace não fica de fora disso. É aquele tipo de leitura que fere, que causa indignação e repulsa, mas ainda assim serve para abrir os nossos olhos.
Muito do que as mulheres sofriam na mãos dos homens era encarado como algo normal da época, e na maioria das vezes a culpa sempre recaía sobre a mulher pelo simples fato de ela ser mulher.

Enfim, a história tem todo um clima de mistério e é impossível não se envolver com o caso e com os personagens, por mais complexos e imperfeitos que sejam. Confesso que devido ao excesso de detalhes a leitura em alguns momentos é um pouco cansativa e lenta, mas penso que sejam necessários para retratar o século XIX com a devida fidelidade e situar o leitor à época. Vulgo Grace é uma leitura imperdível sobre uma das mulheres mais enigmáticas da época cujo mistério ainda causa fascinação.


Archie Greene e o Segredo dos Magos - D.D. Everest

13 de dezembro de 2017

Título: Archie Greene e o Segredo dos Magos - Archie Greene #1
Autor: D.D. Everest
Editora: Rocco Jovens Leitores
Gênero: Fantasia/Infantojuvenil
Ano: 2017
Páginas: 260
Nota:★★★★★
Sinopse: No seu aniversário de 12 anos, Archie Greene recebe um pacote misterioso de um homem que ele não conhece; um pacote contendo um livro antigo escrito numa língua que ele não consegue identificar. Ele não faz ideia de que está prestes a descobrir um mundo em que estantes de livros são encantadas, bibliotecários são magos e feitiços ganham vida.
Logo Archie se torna um aprendiz de restaurador para os Guardiões da Chama, um grupo devotado a encontrar e preservar livros mágicos. Com a ajuda de seus primos, Amora e Cardo, Archie tenta desvendar o mistério por trás do presente enigmático, mas começa a perceber que o livro é muito mais poderoso do que imaginava.

Resenha: Archie Greene é um garoto órfão criado pela avó. Eles vivem felizes, mesmo que sejam pobres. Quando Archie completa doze anos, ele recebe um livro bastante suspeito de presente de um homem misterioso que ele não conhece. Um livro que havia quatrocentos anos que estava guardado... A capa de couro velha, o cheiro de queimado, o idioma desconhecido e um símbolo misterioso tornam o livro o início de uma viagem incrível até Oxford, onde Archie, junto com Amora e Cardo, os primos que ele acabou de descobrir que existem, vão descobrir que livros mágicos existem e são procurados e preservados pelos Guardiões da Chama num enorme museu.
O livro que Archie ganhou é um mistério, e parece estar sendo procurado por alguém com planos nada agradáveis... Qual será o segredo por trás deste presente?

As primeiras páginas do livro trazem informações sobre os tipos de magia que existem, assim como as habilidades de um aprendiz e os mandamentos da prudência mágica, que funcionam como leis para o universo que o autor criou.
OS TRÊS TIPOS DE MAGIA

Magia Natural
A mais pura forma de magia vem de seres e plantas mágicos e das forças elementares da natureza, como o Sol, as estrelas e os mares.
Magia Mortal
É produzida pelo homem. Inclui instrumentos mágicos e outros dispositivos criados por magos para canalizar o poder mágico.
Magia Sobrenatural
O terceiro e mais sombrio tipo de magia usa o poder de espíritos e outros seres sobrenaturais.
A história é narrada em terceira pessoa, é cheia de elementos engraçados e tem muitos detalhes que deixam a leitura divertida e muito empolgante. É um universo rico em detalhes mas muito fácil de entender e gostar, o que fez com que eu considerasse o livro um dos meus favoritos.
O autor não deixa a desejar e entrega uma história empolgante, cheia de magia e aventuras, vivida por um herói muito simpático que faz descobertas incríveis e encantadoras.
Fiquei fascinada pela livraria encantada, onde os livros falam, tem sentimentos e mudam de lugar quando querem; pelas criaturas que saem das páginas e causam muita confusão; pelo museu escondido embaixo da Biblioteca e como as pessoas têm acesso a ele; e pelos personagens engraçados, excêntricos e que sempre estão em alguma situação cômica.
O desejo de explorar esse universo e descobrir mais sobre esse mundo faz com que Archie e seus primos embarquem numa pequena investigação que se transforma numa jornada mágica e incrível onde percebemos que livros são verdadeiros tesouros e que através deles Archie descobre ter um lugar especial no mundo.

Os capítulos são bem curtinhos (são 40 capítulos para 260 páginas), mas todos tem informações o bastante para manter nossa curiosidade para seguir para o próximo.
A capa ilustrada combina bem com a história e é muito bonita.

A história de Archie Greene pode até lembrar algumas coisas do universo de Harry Potter, mas tem elementos novos e muito divertidos que vão agradar e encantar leitores que gostam de fantasia, sem importar que idade tenham.

O Gabinete Paralelo - Maureen Johnson

12 de dezembro de 2017

Título: O Gabinete Paralelo - Sombras de Londres #3
Autora: Maureen Johnson
Editora: Fantástica/Rocco
Gênero: Suspense/Fantasia/Jovem Adulto
Ano: 2017
Páginas: 352
Nota:★★★★☆
Sinopse: A vida de Rory está de cabeça para baixo. Sem tempo para respirar, mesmo após ser salva de um sequestro, a situação sái rapidamente de controle quando a morte inesperada de um amigo abate o esquadrão. Rory, um terminal humano, pensa que teve tempo suficiente para transformá-lo em fantasma, mas se é assim, onde ele está? E quanto a Jane Quaint e seu culto, o que pretendem? O que querem com Charlotte? Com tantas perguntas se avolumando no horizonte, Rory e seus amigos correm contra o tempo para descobrir os segredos de uma antiga sociedade secreta, muito mais poderosa do que jamais poderiam imaginar...

Resenha: O Gabinete Paralelo é o terceiro volume da série Sombras de Londres, escrita pela autora Maureen Johnson e publicado no Brasil pelo selo Fantástica da Editora Rocco.

Este volume parte do onde o segundo parou e esta resenha pode ter spoilers.

Desde que chegou a Wexford, a vida de Rory está uma loucura. No final do livro anterior (No Limite da Loucura), Rory, Callum e Bu estão no hospital junto com Stephen, seu amor, que está a beira da morte. Sem saber como lidar com a perda dele, Rory, aproveitando dos poderes que tem, pensa em mantê-lo por perto como um fantasma. Mas as coisas acabam não saindo conforme ela planejou...
Quando Jane Quaint, a antiga psicóloga de Rory, revela que não é nada do que todos imaginaram e ainda sequestra Charlotte, os membros do esquadrão que monitora os fantasmas em Londres, do qual Rory e seus amigos fazem parte, precisam agir de alguma forma, tanto por Stephen quanto por buscar pistas para encontrar a garota.
No meio de toda essa confusão, surge alguém com poderes bem semelhantes aos de Rory e dos membros do esquadrão: Freddie Sellars também consegue enxergar fantasmas. E não só isso, ela também usou de sua astúcia para pesquisar sobre o esquadrão e o papel desempenhado por cada um deles alí. Assim, quando ela se une ao grupo eles podem contar com a inteligência dela.
O que Rory não esperava era Jane aparecer outra vez com uma oferta que ela não poderia recusar: trazer Stephen de volta.

Como o segundo livro ficou em aberto, este dá continuidade aos acontecimentos mas também deixa várias pontas soltas que deverão ser esclarecidas no próximo volume.
Narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Rory, temos uma narrativa mais ágil e cheia de adrenalina, que já é iniciada com a ação e a tensão que o final do livro anterior deixou.
Percebi que este volume teve um tom diferente dos demais, seja pela falta do bom humor ou pela adição de elementos que até então não faziam parte do enredo, como a mitologia egípcia e a mudança de rumo ao considerar Jack, o estripador, como inspiração. São coisas que parecem terem vindo do nada e sem maiores explicação do motivo de estarem alí.

Um ponto que pode agradar, ou não, é o fato de que a autora não perde tempo em resumir acontecimentos anteriores para refrescar a memória do leitor. Isso pra mim foi um problema pois devido ao intervalo de lançamento entre os livros, muitos detalhes eu já havia esquecido e em algumas situações acabei ficando um pouco perdida. Talvez isso não aconteça com quem tem uma memória muito boa ou que leia um livro atrás do outro.

Não sou fã de romances em livros que envolvem suspense e mistério, e neste não é diferente. Ainda procuro respostas sobre como a protagonista tem atitudes desesperadas e aflitas com um relacionamento que não vai além de bitocas sem sal. Ela até é bastante simpática, mas algumas atitudes, pra mim, são injustificáveis e não fazem muito sentido no contexto geral.
Os personagens secundários são ótimos, bem construídos e interessantes, mesmo que alguns diálogos pareçam forçados, mas por mais que eu tenha gostado da Freddie, achei que sua presença era sempre muito conveniente para trazer respostas e soluções rápidas para os problemas mais difíceis.
Se no primeiro volume os pais de Rory são apresentados como relapsos, desta vez eles mostraram mais preocupação com a filha e se comportaram como pais de verdade, e eu gostei que a autora tenha trabalhado nesse ponto para reparar esse relacionamento que antes era bastante estranho.

Os detalhes acerca do cenário são bons, mas não chegam no nível do que foi apresentado no primeiro livro. Se antes era possível considerar Londres como parte fundamental da história, desta vez as descrições não foram o suficiente para sentir toda aquele atmosfera e a história poderia ter se passado em qualquer outro lugar.

O projeto gráfico é muito bacana e segue o mesmo padrão das anteriores, com respingos de "sangue" sujando a capa, que traz um dos túneis subterrâneos que faz parte dos cenários da história. A diagramação também é ótima, e as páginas destinadas ao início do capítulo possuem molduras e ornamentos. Os capítulos são numerados e não percebi erros da revisão.

Tudo indica que o quarto volume da série seja lançado este ano, e embora não seja a minha série favorita, tenho curiosidade para saber o que mais Rory vai encarar.
De forma geral, a história tem suas falhas de desenvolvimento e a protagonista em alguns momentos é irritante, mas pra quem curte suspenses juvenis com o toque do universo sobrenatural é uma série que vale a pena de ser lida.


O Livro do Cemitério - Neil Gaiman

11 de dezembro de 2017

Título: O Livro do Cemitério - O Livro do Cemitério #1
Autor: Neil Gaiman
Ilustrador: P. Craig Russell
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: HQ/Fantasia/Jovem Adulto
Ano: 2017
Páginas: 192
Nota:★★★★★
Sinopse: Bestseller do The New York Times e premiado com as medalhas Newberry (EUA) e Carnegie (Reino Unido), o romance O livro do cemitério, do cultuado escritor Neil Gaiman, ganha versão em quadrinhos adaptada por P. Craig Russell. O livro é o primeiro de dois volumes que acompanham a trajetória de Ninguém Owens, ou Nin, um garoto como outro qualquer, exceto pelo fato de morar em um cemitério e ser criado por fantasmas. Cada capítulo nesta adaptação de Russell acompanha dois anos da vida do menino e é ilustrado por um artista diferente, apresentando uma variedade fascinante de estilos que dão ainda mais vida à atmosfera ao mesmo tempo afetuosa e sombria da história.

Resenha: O Livro do Cemitério, de Neil Gaiman, foi publicado em 2010, mas, agora no final de 2017, foi lançado numa adaptação em quadrinhos. A história foi dividida em dois volumes e, neste primeiro, conhecemos a história de Ninguém Owens, ou Nin, um bebê que conseguiu fugir de casa enquanto sua família foi assassinada por um homem frio e cruel chamado Jack.
Nin engatinhou até chegar ao cemitério próximo e lá passou a ser criado por um casal de fantasmas e protegido por Silas, um guardião misterioso e de aparência sombria, que persuadiu Jack a ir por outro caminho após seguir os rastros do menino.
O tempo passa e Nin cresce protegido pelo cemitério e pelos seres que lá habitam. Ele recebe a Liberdade do Cemitério, podendo transitar por onde quiser dentro dos limites do lugar, aprende a ler através das inscrições nas lápides, aprende que os mortos têm poderes especiais e faz alguns amigos improváveis que não se restringem a apenas fantasmas, mas viver confinado sem poder conhecer o que existe lá fora, devido aos perigos que o aguardam caso ele saia, causa muita tristeza no garoto.
Mas quando ele, enfim, consegue sair, percebe que o mundo dos vivos não é nada do que ele pensou... As pessoas não parecem ser gentis, sempre estão tentando levar vantagem ou sendo maldosas com os outros por que sim.

Embora a história comece de forma trágica e tenha o cemitério como cenário, o que ganha destaque é a ideia de que Nin está vivo num ambiente que simboliza o fim, e por ter se escondido de Jack e do perigo que ele representa, acabou se tornando uma sombra do que ele gostaria de ter sido. Embora ele viva muitas aventuras ao explorar o cemitério, pra Nin, o mundo exterior é um mistério que ele gostaria de desvendar, mas suas expectativas não são superadas como ele imaginou...

E tudo isso nos leva a refletir sobre o significado daquilo que chamamos de lar, o que a família representa e o que a vida e a morte tem a nos ensinar.

Cada capítulo corresponde a dois anos da vida de Nin e é ilustrado por um artista diferente, e por esse motivo é possível perceber a diferença dos traços de cada um, mesmo que alguns sejam bem sutis. O que importa é que a essência da história foi mantida, e cada ilustração representa o momento e as emoções dos personagens com muita fidelidade.

Enfim, pra quem gosta de histórias contadas em quadrinhos com ilustrações muito ricas de um garotinho curioso, corajoso e determinado em seu mundo tão peculiar, não pode perder. A história e a forma como ela é contada envolve, diverte, faz refletir e faz o coração ficar quentinho com a pureza, com a inocência e com a mente aberta para as mais diversas fantasias infantis que se pode imaginar.