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Holly - Stephen King

15 de novembro de 2023

Título:
 Holly
Autor: Stephen King
Editora: Suma
Gênero: Suspense/Mistério/Policial
Ano: 2023
Páginas: 448
Nota: ★★★★★
Sinopse: Holly Gibney surgiu tímida e reclusa em Mr. Mercedes e se tornou uma detetive particular talentosa. Neste romance inédito de Stephen King, ela retorna para enfrentar dois adversários perversos.
Penny Dahl está desesperada para encontrar a filha, Bonnie, que sumiu sem deixar vestígios. Em busca de ajuda profissional, ela liga para a agência Achados e Perdidos, sob o comando de Holly Gibney. A detetive reluta em aceitar o caso, porque deveria estar de licença, mas algo na voz de Penny faz com que Holly não consiga ignorar o pedido.
A poucos quarteirões de onde Bonnie foi vista pela última vez, moram Rodney e Emily Harris. Um casal de acadêmicos octogenários, dedicados um ao outro, eles simbolizam a banalidade da classe média suburbana. No entanto, no porão de sua casa bem cuidada e repleta de livros, os dois escondem um segredo terrível, que pode estar relacionado ao desaparecimento de Bonnie.
Descobrir a verdade se torna uma tarefa quase impossível, e Holly dependerá de seus talentos extraordinários para desmascarar os professores ― antes que eles ataquem novamente.

Resenha:
 Ambientado em plena pandemia de Covid 19 em 2021, a detetive particular Holly Gibney se depara com um caso de desaparecimento do qual ela não pôde recusar, mesmo que estivesse de licença. Bonnie sumiu sem deixar vestígios e sua mãe, desesperada, vai até a agência "Achados e Perdidos" pedir ajuda para Holly e convencê-la a encontrar a filha.
A poucos quarteirões de onde Bonnie foi vista pela última vez, há uma casa bem cuidada onde vive um casal de professores acadêmicos octogenários que, aparentemente, estão acima de qualquer suspeita. O que ninguém imagina é que há algo de sinistro acontecendo no porão dessa casa e que pode ter relação com o sumiço de Bonnie, logo cabe a Holly usar seu talento para descobrir a verdade, desmascarar os professores e impedir outro ataque.

Antes de dar minha opinião, vou dizer que não li a trilogia Bill Hodges, onde a protagonista aparece pela primeira vez. As resenhas disponíveis aqui no blog foram feitas pelo Lucas, na época em que ele ainda era colaborador, e eu acabei não tendo a oportunidade de ler esses livros (ainda). Talvez fizesse alguma diferença ou desse uma noção melhor do que esperar dela pois, pelo que pesquisei, há muita informação sobre Holly e seu passado na trilogia que não é abordada nessa obra. Claro que é possível ler este sem ter lido os outros livros e sem risco de se perder, mas com um conhecimento prévio talvez a experiência poderia ter sido diferente, não sei.

Diferente de histórias policiais onde o autor segura a identidade do vilão até a última página, aqui os maníacos já são revelados no começo. A expectativa é acompanhar pra saber quando vão ser descobertos e como (e se) isso vai acontecer. King já fez isso em outros de seus livros e é um formato que funciona muito bem pois ele consegue conduzir a história mantendo o suspense e o mistério para os personagens que estão envolvidos alí mas não sabem o que está acontecendo. Narrado em terceira pessoa, com capítulos que se alternam entre presente e passado dos personagens, vamos acompanhando Holly em meio às investigações, além dos detalhes dos crimes horrendos cometidos pelo casal de professores. As motivações para os crimes são expostas, assim como o modus operandi desses dois, que é usar a aparência inofensiva para atrair e capturar as vítimas até que sejam levadas ao porão. Várias cenas são desesperadoras, causam muito desconforto, são bizarras, e o nível de crueldade chega a revirar o estômago. É uma representação muito extrema do que é a maldade humana.

Eu realmente gostei muito da história, fiquei super envolvida e até agoniada em diversas cenas bizarras e apavorantes. A Covid 19 foi praticamente um personagem da história e fiquei com a impresão de que o autor estava um tanto indignado e quis politizar o tema, não só se posicionando contra o governo da época, mas mostrando o contraste enorme entre aqueles que levam o perigo da doença a sério e se protegem, e os birutas negacionistas que não estão nem aí ou recorrem a "tratamentos" que não existem. Essas questões políticas e sociais acabam trazendo muita realidade à trama, até mesmo porque também representa o que vivenciamos aqui no Brasil. O autor retrata os acontecimentos que o mundo inteiro passou, assim como incorpora o comportamento das pessoas em quarentena diante da insegurança, da confusão e do medo de não saberem o que estava por vir.

Holly é uma mulher madura e muito persistente que precisa lidar com os próprios desafios pessoais enquanto se dedica ao trabalho com bastante afinco. A história, que já é rica devido aos detalhes do mistério que gira em torno dos crimes, fica ainda mais interessante quando as camadas da vida de Holly começam a ser reveladas. E tudo isso em meio a pandemia onde todas as pessoas ou estão sem saber o que fazer por nunca terem tido uma experiência desse nível na vida, ou estão se comportando feito loucas por não acreditarem que aquilo é real.
Os demais personagens também são bem construídos e desempenham papeis relevantes e importantes para Holly no que diz respeito às investigasções e até a sua própria rotina.

Um ponto que achei genial é a dualidade criada por King ao retratar esse casal. Ao mesmo tempo em que eles representam a banalidade da classe média que vive no suburbio, eles representam o que há de pior no ser humano, mostrando que por trás de uma aparência inofensiva, algo de terrível pode estar escondido e não se pode confiar em ninguém.

No mais, pra quem é fã de Stephen King, já sabe o que esperar do mestre. Recomendo muito a leitura, principalmente pela ideia do autor de inserir o tema da pandemia à história de forma orgânica e imersiva, mostrando que o horror vai além do true crime, e que a vida de milhões esteve nas mãos de pessoas limitadas, imbecis, egocêntricas e só tomaram decisões horríveis que resultaram no que todos nós testemunhamos, não só nos EUA, mas por aqui também...

Conto de Fadas - Stephen King

28 de dezembro de 2022

Título:
 Conto de Fadas
Autor: Stephen King
Editora: Suma
Gênero: Fantasia
Ano: 2022
Páginas: 624
Nota:★★★★☆
Sinopse: Aos dezessete anos de idade, Charlie Reade parece ser um garoto comum: pratica esportes, é um filho atencioso e aluno de desempenho razoável. Suas lembranças, entretanto, não são feitas apenas de momentos felizes. Após perder a mãe em um grave acidente quando tinha apenas dez anos, Charlie precisou aprender a cuidar de si e do pai, que, enlutado com a perda da esposa, buscou refúgio na bebida.
Certo dia, ao pedalar pela rua de casa, Charlie atende um pedido de socorro vindo do quintal de um dos vizinhos: Howard Bowditch. O homem recluso e rabugento, que amedrontava as crianças do bairro, cai de uma escada e se machuca gravemente. O chamado por ajuda veio de Radar, a fiel pastor alemão, tão idosa quanto seu dono.
Enquanto Bowditch se recupera, Charlie passa a ajudar o vizinho com tarefas domésticas e com o cuidado de Radar, e assim o rapaz faz duas grandes amizades. Quando Howard morre, Charlie se depara com uma fita cassete que revela um segredo inimaginável: um portal para outro mundo.

Resenha: Charlie Reade é um jovem de dezessete anos que teve a infância e a adolescência bastante conturbada após perder a mãe num acidente de carro. Como se a morte da mãe já não fosse uma tragédia traumática o bastante, Charlie ainda teve que lidar com o pai que, desolado pela perda, acabou afogando as mágoas na bebida, se tornando alcóolatra. Toda a situação fez com que Charles amadurecesse muito cedo ao acabar sendo o responsável pelos cuidados com o pai passando por anos de muita luta.
Até que um dia Charlie escuta a cadela Radar uivando sem parar, numa tentativa de pedir ajuda para seu dono, o velho Howard Bowditch, que havia sofrido um acidente na escada de casa. Depois de ajudar Bowditch, Charlie se aproxima desse senhor recluso e rabugento para ajudá-lo nas tarefas de casa e com os cuidados de Radar enquanto ele se recuperava, e a amizade que surge entre eles vai mudar tudo na vida do garoto. Bowditch está rodeado de mistérios que desperta a curiosidade de Charlie, mas quando Bowditch morre é que o garoto descobre que o velho escondia um segredo que ninguém jamais poderia imaginar: um portal para outro mundo. 

A história pode ser dividida em três partes, onde a primeira tráz o contexto da relação do protagonista com o pai e as dificuldades pelas quais ele passou, e ainda assim mostrando o quanto Charlie não é um garoto perfeito, mesmo que seja bondoso, esforçado e leal aos seus valores; a segunda parte com o desenvolvimento da amizade entre ele, Bowditch e Radar; e a terceira parte onde ele entra no portal e embarca numa jornada cheia de aventuras e referências a diversos contos de fadas em suas versões mais sombrias.
O livro é narrado em primeira pessoa num ritmo bem lento, e vamos acompanhando o próprio Charlie contando essa história de vida, permitindo ao leitor ter uma experiência literária a la King, com descrições minuciosas a se perder de vista acerca dos mistérios da cidadezinha, da fantasia propriamente dita no mundo de Empis, e das camadas que envolvem os personagens, mostrando as questões referentes ao amadurecimento precoce de Charlie e seus dilemas, a amizade improvável com o velho implicante da vizinhança e com as responsabilidades que ele toma pra si mesmo.

Não vou negar que em diversos momentos eu não consegui enxergar Charlie como se fosse um garoto de dezessete anos, pois muitos de seus pensamentos e atitudes parecem não corresponder muito com a idade dele e ele parece ser bem mais velho (não sei se entra a questão do próprio autor parecer estar parado no tempo e não estar nada familiarizado com os "xóvens" de hoje em dia). Outra coisa é que, mesmo que haja uma explicação (que parece ter sido mais uma desculpa), não me soou muito convincente um adolescente como Charlie abrir mão de tudo pra cuidar de um velho chato que apavorava as crianças da rua, mas, tirando isso, acompanhá-lo nessa jornada do herói num mundo fantástico e cheio de perigos estando acompanhando de Radar foi até bem satisfatório. Tudo bem que nada tira da minha cabeça que o autor inseriu Radar na história pra atingir o ponto fraco dos leitores amantes de doguinhos, mas ainda assim ela é um ótimo exemplo de amizade leal e verdadeira que alguém pode ter na vida e fez toda a diferença aqui.

Acho que o livro tem partes um pouco cansativas e repetitivas, o que arrastou a leitura mais do que eu imaginei. Talvez, se fosse enxugado para que tivesse umas 400 páginas, a história poderia ser contada da mesma forma, porém com mais fluidez e agilidade. Eu gosto dos livros do King e, quando vejo algo que foge um pouco do seu terror clássico, fico animada e cheia de expectativas, porém, por mais interessante que tenha sido acompanhar Charlie nessa jornada e ter gostado muito da primeira parte do livro, a história não trouxe nada de inovador ou surpreendente, pelo menos pra mim.

Talvez pra quem ainda não conhece o estilo e a escrita de King, este não seja o melhor livro pra se começar, pois ele é bem diferente dos seus outros clássicos de terror e, mesmo que tenha toques de horror e suspense, está mais pra algo no estilo "contador de histórias", mas, pra quem gosta de fantasia com referências a se perder de vista, eu recomendo.

Carrie - Stephen King

19 de maio de 2022

Título:
 Carrie
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Gênero: Suspense/Fantasia
Ano: 2022
Páginas: 208
Nota:★★★★☆
Compre: Amazon
Sinopse: O primeiro livro de Stephen King em edição especial com capa dura, nova tradução e conteúdo extra. Clássico moderno, Carrie conta a história da adolescente com poderes telecinéticos, do bullying que sofreu e de sua jornada violenta de vingança ― até hoje, a estreia revolucionária do mestre do terror é um dos romances mais inovadores e chocantes de todos os tempos.
Carrie White é uma adolescente tímida, solitária e oprimida pela mãe, cristã ferrenha que vê pecado em tudo. A rotina na escola não alivia o dia a dia em casa. Para os colegas e professores, ela é estranha, não se encaixa e, por consequência, é alvo constante de bullying.
O que ninguém sabe ainda é que, por trás da aparência frágil e indefesa, Carrie esconde um enorme poder: ela consegue mover objetos com a mente. Trancar portas. Derrubar velas. Dom ou maldição, isso mudará para sempre o destino das pessoas que algum dia lhe fizeram mal.
Resenha: Publicado pela primeira vez em 1974, Carrie foi o primeiro livro escrito por Stephen King e se tornou um clássico moderno da literatura que já teve várias edições e cinco adaptações cinematográficas.
Agora em 2022, a Suma trouxe a obra para compor a belíssima coleção Biblioteca Stephen King (que, diga-se de passagem, é indispensável para os fãs do autor) sob nova tradução, capa dura e novo projeto gráfico.

A história vai falar sobre Carrieta White, ou Carrie, uma adolescente que vivia na cidade de Chamberlain, no Maine. Carrie tinha a aparência frágil e indefesa, era muito solitária e retraída, e que além de ser muito oprimida pela mãe, uma fanática religiosa que vê pecado em tudo e todos, ainda era vítima de constantes episódios de bullying na escola. O que ninguém sabia é que Carrie tem o dom da telecinese, que a torna capaz de mover objetos com o poder da mente. Ter sido convidada pro baile da escola pra ser alvo de mais uma "brincadeira" de mal gosto foi a gota d'água, e por estar saturada de ser alvo de tantas humilhações, ela chega ao seu limite a ponto de usar seus poderes para se vingar de todos aqueles que lhe fizeram mal.

A narrativa do livro é um apanhado feito por um jornalista sobre a investigação e tudo o que foi publicado a respeito do caso: transcrições de relatos, entrevistas, depoimentos e trechos extraídos de livros e artigos que foram feitos sobre a vida de Carrie, seu poder, e a fatídica noite do famigerado baile. Não há capítulos, mas sim uma alternância entre tempo e foco pra falar sobre as características e particularidades dos personagens, que, de alguma forma, tiveram algum envolvimento ou ligação com a protagonista. Esse formato epistolar de escrita, apesar de ter sido um pouco confuso, é interessante, pois, mesmo que seja fictício, deixa o leitor bem envolvido com a história, como se tivesse acesso a um tipo de dossiê sobre o ocorrido em Chamberlain e as explicações para o poder sobrenatural de Carrie.

Mesmo que Carrie tenha sido o primeiro livro escrito pelo autor, já fica evidente o talento dele em criar suspenses envolventes e com detalhes que deixam a história bastante rica. Confesso que me incomodou um pouco a forma como ele descreve as situações que envolvem a primeira menstruação da protagonista, mas acabei relevando por entender que foi um fator utilizado para que a pobre da Carrie fosse ainda mais humilhada do que já costumava ser, o que contribuiu para que seu ódio e seu desejo por vingança contra todos aqueles trastes só aumentassem mais. A aflição de acompanhar Carrie tendo cada passo reprimido e condenado pela mãe lunática e dominadora, assim como as constantes implicâncias e agressões que os alunos da escola fazem com ela, simplesmente por ela ser diferente, é inevitável.

No final das contas não acho que esse livro seja uma leitura de terror, mas sim um suspense com toque sobrenatural sobre uma garota que depois de viver reprimida por toda sua vida, chegou ao seu limite e se vingou de um bando de hipócritas intolerantes. Pessoas estas que fingem ser idôneas e decentes, mas a única coisa que sabem fazer é prejudicar o próximo pra se darem bem e fazer o mal contra quem, aparentemente, não pode se defender, e ainda se fazem de vítimas quando a hora de enfrentar as consequências dos próprios atos chega. Sendo assim, talvez seja possível considerar que Carrie não foi atrás de vingança, mas sim de justiça.

Essa nova edição que compõe a Coleção Biblioteca Stephen King é bem caprichada e ainda tráz um texto do autor sobre o processo de escrita do livro. Pra quem gosta de suspenses clássicos e quer experimentar uma leitura mais leve de King, Carrie é uma boa pedida.

Trocas Macabras - Stephen King

19 de janeiro de 2021

Título:
 Trocas Macabras
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Gênero: Suspense/Fantasia
Ano: 2020
Páginas: 656
Nota:★★★★☆
Sinopse: Castle Rock, na Nova Inglaterra, é um lugar tranquilo para se viver. Mas a chegada de Leland Gaunt desestabiliza a cidade através do preconceito, ódio, fraqueza e cobiça, provocando mortes e sofrimentos. Gaunt consegue isto através de uma loja de utilidades, que sempre tem algo especial para cada morador, que para conseguirem o que desejam pagam um preço simbólico para Leland, além de conceder a ele um simples “favor”.

Resenha: Castle Rock, que serve como pano de fundo de várias outras histórias horripilantes de Stephen King, é uma cidadezinha pacata, com moradores ilustres e suas questões banais, onde tudo - de pavoroso - pode acontecer. Desta vez, a chegada do misterioso Leland Gaunt e a inauguração da "Artigos Indispensáveis", uma loja que vende de tudo que se possa imaginar, vai despertar o interesse dos moradores e, consequentemente, desencadear situações e acontecimentos tão inevitáveis quanto terríveis.

Basicamente, quem entra na loja sempre vai encontrar aquilo que mais deseja, e mesmo que o preço seja inacreditavelmente simbólico, vai variar pra cada cliente, incluindo o fato de que para levar o item, também é preciso fazer alguns favores ao Sr. Gaunt, os quais definem bem o título da obra. E embora pareçam favores bobos e inofensivos, alguns inclusive que não passam de travessuras infantis, aos poucos, desestabilizam a cidade e vão se tornando cada vez mais sombrios, causando dor, sofrimento e mortes, e virando uma gigantesca bola de neve, afinal, todo desejo tem seu preço, e cabe a pessoa ser capaz de enxergar se é um preço que realmente vale a pena pagar, ou se vai haver tempo pra se arrepender...

Em meio a toda essa "diversão", Gaunt sabe que o xerife da cidade, Alan Pangborn, é o único entre os moradores que pode estragar seus planos, sendo assim, ele vive criando situações "urgentes" pra desviar a atenção de Alan a fim de impedir que ele entre na Artigos Indispensáveis e essa apresentação seja formalizada.

Sendo assim, com o desenrolar dos fatos e várias tragédias acontecendo, o xerife consegue pistas que apontam pro dono da loja e o mistério começa. A curiosidade do leitor em saber quais as consequências de um favor e quem vai ser a vítima da vez, e quando, enfim, Gaunt será confrontado e desmascarado, é inevitável.

Gaunt é uma figura demoníaca, manipuladora e extremamente cruel, que traz à tona o que há de pior nas pessoas, e assim como todos os livros de King, este também tem personagens bem construídos, consistentes e cheio de camadas, que mostram o quanto o passado de cada um deles foi marcado por alguma tragédia que deixou cicatrizes que eles carregam até hoje. E, claro, Gaunt conhece as feridas mais profundas que eles possuem e, astutamente e da forma mais manipuladora possível, vai usar isso a seu favor.

O ritmo da leitura é lento e um tanto arrastado, pois uma das características na escrita do autor é dar todos os mínimos detalhes possíveis, seja de cenários, personagens, o que estão fazendo, o que estão sentindo e o que estão pensando, fazendo uma construção completa de cada um e mostrando quem é e o que fez para o conhecermos melhor. Ao saber do passado e do presente desses personagens, vemos que sua existência não serve apenas pra preencher as páginas, mas que se estão alí não é por acaso, é por algum propósito maior e que mais cedo ou mais tarde o futuro deles virá a tona após percebermos que todos têm alguma ligação entre si, formando um grande arco de desastres.
Um ponto bem interessante e curioso é que o leitor vai encontrar referências e alguns spoilers de outras obras do autor, mostrando o que aconteceu com alguns dos personagens, como é o caso de A Metade Sombria, Zona Morta e Cujo, que também se passa em Castle Rock. Pra quem não leu esses livros, não vai fazer muita diferença, e pra quem leu, tenho certeza que vai curtir bastante a ideia de saber um pouco mais desses personagens.

No mais, é leitura obrigatória para os fãs de Stephen King, que traz todos os elementos que mexem com nossas emoções: causam medo, apreensão e ansiedade, independente do quão absurdos e exagerados possam ser, e Trocas Macabras se destaca por mostrar explicitamente que o valor do que se quer é definido pela necessidade que se tem.

IT - Stephen King

10 de janeiro de 2020

Título: IT
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Gênero: Terror/Sobrenatural
Ano: 2014
Páginas: 1104
Nota:★★★★★
Sinopse: Durante as férias de 1958, em uma pacata cidadezinha do Maine, Bill, Richie, Stan, Mike, Eddie, Ben e Beverly aprenderam o real sentido da amizade, do amor, da confiança... e do medo. O mais profundo e tenebroso medo.
Naquele verão, eles enfrentaram pela primeira vez a Coisa, um ser sobrenatural e maligno que deixou terríveis marcas de sangue em Derry. Quase trinta anos depois, os amigos voltam a se encontrar. Uma nova onda de terror tomou a pequena cidade. Mike Hanlon, o único que permaneceu em Derry, dá o sinal. Precisam unir forças novamente. A Coisa volta a atacar e eles devem cumprir a promessa selada com sangue que fizeram quando crianças. Só eles têm a chave do enigma. Só eles sabem o que se esconde nas entranhas de Derry.
O tempo é curto, mas somente eles podem vencer a Coisa. Neste clássico de Stephen King, os amigos irão até o fim, mesmo que isso signifique ultrapassar os próprios limites.

Resenha: Derry é uma cidadezinha no Maine e a cada 27 anos a Coisa, uma criatura maligna e sanguinária, aparece. No verão de 1958, Bill, Richie, Stan, Mike, Eddie, Ben e Beverly, as crianças que formam o Clube dos Otários, tentam impedir novos ataques depois de George, o irmão mais novo de Bill, ser morto brutalmente. Quase trinta anos depois, a Coisa retorna, e Mike, que continua em Derry, entra em contato com seus amigos a fim de reuni-los para que impeçam a Coisa de atacar novamente.

Vou ter que ser sincera em dizer que é meio impossível que um calhamaço de mais de mil páginas não tenha detalhes, trechos ou diálogos expositivos e desnecessários que parecem estar ali só pra engrossar o livro, afinal, quem mais além de Stephen King gastaria sei lá quantas páginas só para descrever um barquinho de papel? Mas a história em si, mesmo tendo sido escrita há mais de trinta anos, ainda é atual por abordar temas delicados que são pertinentes até hoje, e se desenrola de uma forma tão envolvente, conhecemos os personagens tão a fundo, que é impossível não ficarmos fascinados com a leitura e com esse universo envolto por puro horror, cenas de revirar o estômago e outros gatilhos bastante pesados.

A narrativa em si, no mínimo, curiosa, pois embora seja feita em terceira pessoa, é um "autor/personagem" quem está contando a história que transita entre a infância e a fase adulta dos personagens. Diferente dos filmes, que foram divididos entre as fases da vida dos personagens, o livro foi dividido em cinco partes, no início dá o contexto da história com a morte de George, se aprofunda na vida dos personagens já adultos e seguindo suas vidas nos anos 80, e depois retorna aos momentos da infância no final dos anos 50, intercalando a narrativa, mostrando flashbacks ou avançando no tempo, e tudo isso sem ser confuso
"O terror, que só terminaria 28 anos depois (se terminasse), começou, até onde sei ou consigo saber, com um barco feito de uma folha de jornal flutuando por uma sarjeta cheia de água da chuva."
- Pág. 13
King, como de costume, não deixa nenhuma vírgula de fora e descreve os mínimos detalhes a fim de não só construir cada personagem da história, assim como a ambientação para que o leitor possa visualizar tudo o que acontece.
A personificação do medo representado pela entidade mais apavorante da literatura (e do cinema) que aparece em forma de palhaço e outras coisas terríveis mais, é tenebroso e causa, no mínimo, alguns pesadelos na gente.

Como são muitos personagens não vou me alongar muito falando sobre cada um pra não deixar a resenha muito extensa, mas posso resumir a amizade deles como algo bastante crível. É construída aos poucos e se torna bonita e verdadeira. O terror acaba sendo responsável por unir e fortalecer o que eles têm juntos. Eles tem virtudes e defeitos como qualquer um, com o diferencial de algum ponto na personalidade que os destaca mais em relação ao outro.

Não me agradou muito a forma como Beverly foi construída pois ela acabou sendo sexualizada demais, mesmo criança, mesmo sendo abusada, mesmo sofrendo nas mãos do próprio pai. A gente fica esperando alguma coisa de feliz na vida dessa coitada, mas em vão. Não sei se isso era algo comum de ser retratado na época, mas achei desnecessário alguns detalhes sobre ela ser linda e chamar atenção de meninos e homens, além de uma cena ridícula em específico envolvendo elae  os garotos no esgoto que deve estar no livro depois de uma viagem nas drogas muito louca do autor, não tem condições.

Embora a Coisa seja uma criatura assustadora, são as cenas e as descrições de violência e abusos que me deixaram mais abismada. Não vou entrar em detalhes a fim de evitar spoilers, mas o que Henry em companhia de seus comparsas faz com os garotos do Clube dos Otários, ou mesmo com animais indefesos, ou o que Beverly passa com o pai (quando criança) e com o namorado (já adulta) é horrível, de embrulhar o estômago, de dar vontade de chorar e sair gritando. A maioria das cenas envolvendo Henry conseguem ser piores do que as da Coisa, e isso talvez mostre que ele é um tipo de antagonista que consegue ser tão perturbado e causar tanta desgraça na vida alheia que é um adversário à altura do sobrenatural de King quando o assunto é horror.

Derry é uma cidade construída de uma forma tão intensa que pode ser considerada um personagem junto com os demais. O comportamento da maioria dos habitantes é tão horroroso e tão carregado de todo tipo de preconceitos que a pior cidade mal assombrada do mundo parece um parquinho perto daquilo.

Sobre a parte impressa, a edição que li possui a jacket do capítulo dois do filme, mas a capa interna permanece a original. Letras miúdas também não poderiam faltar, mas o trabalho de diagramação em si é ótimo.

Enfim, depois de mais de mil páginas é difícil simplesmente não gostar. O livro tem algumas falhas, sim, mas é um livro de terror clássico e deveria ser leitura obrigatória para os fãs do gênero e do autor. Além das cenas terríveis, a história no geral fala de amizade, dos infortúnios da vida e sobre a batalha travada contra os piores medos das pessoas.

A Casa Negra - Stephen King e Peter Straub

17 de dezembro de 2019

Título: A Casa Negra - O Talismã #2
Autores: Stephen King e Peter Straub
Editora: Suma de Letras
Gênero: Fantasia/Suspense/Terror
Ano: 2014
Páginas: 704
Nota:★★★★★
Sinopse: Vinte anos se passaram e Jack Sawyer não é mais um menino. Aos trinta e dois anos, não se lembra dos acontecimentos terríveis que o levaram, quando tinha apenas doze, a um estranho universo paralelo - os Territórios. Em busca de um valioso talismã, o pequeno Jack enfrentou inimigos perigosos e situações de grande risco, tudo para salvar a mãe desenganada.
Agora Jack é um detetive aposentado, depois que um acontecimento suspeito o forçou a deixar a polícia, e leva uma vida tranquila, protegido de recordações perigosas. Mas sua tranquilidade está prestes a acabar.
Uma série de assassinatos macabros faz com que o chefe de polícia local, amigo de Jack, lhe implore para ajudar um policial inexperiente a encontrar o assassino. O universo parece desejar que Jack retorne aos Territórios.
Atormentado por mensagens enigmáticas que lhe aparecem como que em sonhos, Jack decide enfrentar o desafio e acertar as contas com o próprio passado.
Em A casa negra, a aguardada sequência de O talismã, grande sucesso de Stephen King e Peter Straub, Jack Sawyer precisará encontrar forças para entrar em uma casa medonha, perdida em uma floresta, e enfrentar os males insanos que a habitam. Jack não se recorda dos tormentos que teve que enfrentar quando menino, mas, de alguma forma, sabe que o pior ainda está por vir.

Resenha: Vinte anos se passaram desde que Jack se aventurou pelos Territórios e enfrentou perigos inimagináveis em busca do talismã. Agora, aos trinta e dois anos, ele não se lembra de nada do que viveu aos doze anos de idade. Jack é um detetive aposentado que, depois de ter sido forçado a deixar a polícia, leva sua vida de forma tranquila e sem lembranças que possam atormentá-lo. Para todos, ele aparenta ser uma pessoa marcada, que viu coisas e teve experiências que ninguém nunca teve.
Até que uma série de assassinatos na pequena cidade de French Landing deixa a polícia em polvorosa e Jack é requisitado para ajudar na busca pelo assassino conhecido como O Pescador, um canibal que ataca crianças. O que ele não esperava era retornar a um universo já esquecido para acertar as contas com seu passado pois os assassinatos brutais cometidos pelo Pescador pode afetar a Terra e outros mundos...

Embora tenha umas páginas 50 páginas a menos do que o primeiro livro, a leitura é mais rápida tanto pela história ser mais envolvente, quanto pelo tamanho da fonte que é maior e mais confortável.
Diferente do primeiro livro, talvez pelo fato de que não há mais o toque infantil de um protagonista de doze anos, a narrativa é mais sombria e voltada para as investigações acerca dos crimes terríveis que tanto preocupam as pessoas e a polícia. A narrativa se mantém em terceira pessoa, mas com o diferencial de que o narrador convida o leitor a observar os acontecimentos contados por ele de forma onipresente. É como se estivéssemos lá, acompanhando tudo, mas sem poder interferir em nada.
Como de costume em todos os livros do autor, o início da história, com suas descrições ricas e minuciosas, é um tanto monótona, mas com o desenrolar do enredo vamos ficando cada vez mais curiosos, os momentos de adrenalina crescem e as 700 páginas acabam passando mais rápido do que imaginamos por causa da empolgação.

Mesmo que eu tenha gostado muito do primeiro livro, principalmente pelo fato dele ser mais fantasioso e mais leve pelo protagonista ser um menino que parte numa aventura pra salvar sua mãe, tenho que admitir que, embora não exista uma aventura/viagem real e tenha um estilo diferente, eu também gostei do tom mais adulto e macabro que essa continuação ganhou, até mesmo porque aqui as vítimas são as crianças, o que torna as coisas ainda mais aterrorizantes e até mais "dignas" do mestre do terror. Talvez isso possa dificultar um pouco a leitura de quem tenha o estômago mais fraco ou seja mais sensível, pois algumas descrições dos pequenos corpos, de torturas, e outros detalhes do tipo, são chocantes, assombrosas, e difíceis de acompanhar. Pra quem tem filhos, então, pode ser um desastre completo, principalmente pelas reações da população e dos pais das vítimas.

O problema talvez seja pelo pequeno detalhe de que essa (até então) duologia faz um crossover com a série A Torre Negra, e alguns acontecimentos acabam ficando meio vagos ou até incompreensíveis pra quem não leu pelo menos até o quinto volume (dos sete). Outro ponto que deixou o livro maior do que o necessário é devido ao tempo "perdido" pra desenvolver personagens que não são essenciais para a trama. Mas, os personagens importantes, são - e se mantiveram - complexos, e o que ganha destaque é a personalidade de cada um, a forma como eles enxergam o mundo e se moldam àquela realidade.

O final, apesar de não ser feliz, é satisfatório e faz sentido no contexto da trama, e pra quem gosta do estilo de King e de histórias com toques macabros, é leitura mais do que recomendada.

O Talismã - Stephen King e Peter Straub

12 de dezembro de 2019

Título: O Talismã - O Talismã #1
Autores: Stephen King e Peter Straub
Editora: Suma de Letras
Gênero: Fantasia/Suspense
Ano: 2014
Páginas: 752
Nota:★★★★★
Sinopse: Jack Sawyer, um garoto de 12 anos, está prestes a iniciar uma jornada fantástica: a empolgante e assustadora busca de um talismã. Jack sabe que correrá muitos riscos, que terá sua coragem e resistência física testadas a cada segundo, mas vai lutar até fim: de seu sucesso depende a vida de sua mãe...
Para atingir sua meta, Jack terá que lutar contra um inimigo furioso e cruel que está disposto a fazer qualquer coisa para destruí-lo e atravessar não apenas os Estados Unidos de costa a costa, mas também os Territórios, uma região assombrosa e ameaçadora.
Onde ficam os Territórios? Como chegar a esta região fantástica e mítica que não pode ser alcançada de modo comum? Em que plano de existência se situa esse mundo tão intrigante quanto a Atlântida? Jack vence estes mistérios ao atravessar para os Territórios. Aí, descobre a desconcertante existência dos "Duplos", reflexos de pessoas que conhece na Terra, como a Rainha Laura, o "Duplo" de sua mãe, que também está com a vida por um fio.
Jack não tem muito tempo e é longa a viagem. A cada passo de sua jornada, precisa enfrentar inimigos perigosos que o perseguem nos dois mundos. No entanto, ele persiste, pois só terá sossego quando o valioso talismã estiver em suas mãos.

Resenha:  Jack Sawyer só tem doze anos, mas a idade é suficiente para ele embarcar na maior, mais assustadora e mais empolgante aventura de sua vida. Órfão de pai, depois de descobrir que sua mãe está muito doente, Jack tem a chance de ir em busca de um valioso talismã, que, supostamente, não só pode salvar sua mãe de uma doença, quanto também salvar os mundos onde batalhas épicas entre luz e trevas ocorre. Ele vai cruzar os EUA e os Territórios, um universo paralelo onde irá fazer muitas descobertas sobre os mundos, e sobre si mesmo, além de enfrentar os maiores perigos que nunca imaginou.

É complicado falar sobre muitos detalhes dessa história para não estragar todas as surpresas que ela nos reserva, então vou tentar ser bem sucinta nessa resenha. Narrado em terceira pessoa e dividido em quatro partes, os dois autores se unem para equilibrar fantasia e horror em uma escrita única, criando, assim, uma história de aventura e esperança complexa, em meio a um universo fantástico, alternativo e sombrio. No começo, assim como a maioria dos livros do autor, há muita informação, sempre descrita de forma lenta e muito detalhada, o que torna a história um pouco cansativa e difícil de engatar, mas penso que isso não é por acaso, e, sim, para que o leitor possa se habituar à mitologia presente e se familiarizar com a jornada de Jack. A medida que a história avança, as coisas começam a se encaixar melhor e se tornam muito mais interessantes e empolgantes. São os detalhes que tornam a experiência com essa leitura algo único e surpreendente, pois a sensação é a de estar lá, ao lado de Jack, mesmo que algumas mudanças bruscas de cenário nos tirem a concentração.

Jack Sawyer é um protagonista incrível. Além de ser especial por ter a habilidade de transitar entre mundos, tudo o que ele aprende e enfrenta nesse percurso vão testar sua resistência ao máximo, e é exatamente essa experiência que o torna mais forte. Embora ele seja muito corajoso, há algumas situações que o deixam com muito medo, mas ele não pensa em desistir jamais.

Lobo é um dos melhores, se não o melhor, personagem desse livro. Ele é carismático e seu espírito protetor acaba fazendo com que ele seja aquele melhor amigo que sempre dá o ombro e estende a mão pra ajudar o outro. Ele é uma das melhores representações de lealdade e amizade verdadeira que já me deparei em qualquer livro que já li na vida.

Os vilões aqui, Morgan e Osmond, são um caso especial, pois embora sejam sádicos e oportunistas, são bem construídos e com motivações que realmente causam impacto e medo. A forma como usam e manipulam as pessoas através de suas fraquezas é doentia e cruel.

Enfim, não posso negar que este é um dos melhores livros do gênero que já li. A história é mágica, bastante original, cheias de surpresas e super emocionante. É impossível não se emocionar com a jornada de amadurecimento de Jack enquanto ele, aos poucos, vai deixando sua infância e sua ingenuidade para trás, ou com a mensagem implícita sobre as crueldades e os perigos do mundo.

A Incendiária - Stephen King

14 de outubro de 2019

Título: A Incendiária
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Gênero: Suspense/Sobrenatural/Sci-fi
Ano: 2018
Páginas: 450
Nota:★★★★☆
Sinopse: Uma criança com o poder mais extraordinário e incontrolável de todos os tempos. Um poder capaz de destruir o mundo.
Andy e Vicky eram apenas universitários precisando de uma grana extra quando se voluntariaram para um experimento científico comandado por uma organização governamental clandestina conhecida como “a Oficina”. As consequências foram o surgimento de estranhos poderes psíquicos — que tomaram efeitos ainda mais perigosos quando os dois se apaixonaram e tiveram uma filha. Desde pequena, Charlie demonstra ter herdado um poder absoluto e incontrolável. Pirocinética, a garota é capaz de criar fogo com a mente.
Agora o governo está à caça da garotinha, tentando capturá-la e utilizar seu poder como arma militar.
Impotentes e cada vez mais acuados, pai e filha percorrem o país em uma fuga desesperada, e percebem que o poder de Charlie pode ser sua única chance de escapar.

Resenha: Quando um grupo de universitários se voluntariam para um misterioso experimento científico comandado por uma organização governamental clandestina conhecida como A Oficina, eles não imaginavam quais seriam as consequências ao terem contato com o composto químico "lote 06"... Andy e Vicky foram cobaias sobreviventes ao experimento. Poderes psíquicos se manifestaram e alteraram seus DNA's. Eles passaram a ser capazes de mover objetos com a mente, se comunicarem através de pensamentos e até influenciar o pensamento alheio. Mas algo não previsto pela Oficina foi a união desses dois, e tudo mudaria quando o casal teve uma filha, Charlie. Ela tem sete anos, mas desde muito pequena já estava bem claro que ela havia herdado um poder grandioso e sobrenatural, o dom da pirocinese, o poder de criar fogo com a força da sua mente. Ela tenta controlar essa habilidade, mas quando o governo passa a persegui-la com intenção de usar os poderes dela como arma militar, Charlie e o pai, Andy, decidem fugir para contarem para o mundo a história real do que aconteceu, mas será que vão conseguir quando o mundo estiver em chamas?

O livro é narrado através da perspectiva de vários personagens, o que torna a trama bem mais interessante e dinâmica já que há um ponto de vista diferente para uma mesma situação de acordo com o personagem da vez.
A medida que o passado de Andy e da filha vem à tona, assim como o interesse real da Oficina em seu objetivo de capturar os dois, é possível estar na cabeça dos personagens, acompanhar suas angústias, seus medos e suas virtudes. E da mesma forma temos acesso a personalidade complexa de Rainbird, o agente que está os perseguindo. Sua frieza e crueldade na forma de agir chegam a ser assustadoras, e com certeza ele entra pro time de personagens icônicos e psicóticos do autor, com características peculiares que os tornam tão obsessores quanto maquiavélicos em seus terríveis objetivos.

Por ter sido inicialmente lançado nos anos oitenta, há diversas referências da época e é impossível não sentir aquela nostalgia devido ao estilo, pois como tudo é muito bem detalhado, é perfeitamente possível imaginar e visualizar todo o cenário que foi palco para grandes acontecimentos marcantes.

A Incendiária é uma leitura cheia de suspense cuja trama é movimentada de acordo com o desenvolvimento das relações entre os personagens e do constante perigo enfrentado por Charlie e seu pai enquanto fogem e tentam ficar um passo a frente dos vilões. No início, assim como a maioria dos livros de King, há muitos detalhes e descrições minuciosas acerca de acontecimentos e situações que ocorreram antes da fuga de pai e filha. Essas cenas se alternam, passado e presente, para uma melhor compreensão do que está acontecendo, e o que aconteceu antes que interferiu diretamente no destino dos dois. Porém, o excesso tornou algumas partes um tanto longas, com informações repetidas e até desnecessárias.
Sei que faz parte do estilo do autor, mas chega a ser um pouco cansativo acompanhar uma história que deveria ser frenética, mas que acaba sendo "quebrada" por tantas interrupções feitas pelo próprio autor.

O projeto gráfico do livro, assim como os demais da Coleção Biblioteca Stephen King, está divino. A capa com textura meio emborrachada e com detalhes em alto relevo enriquecem a obra, assim como a diagramação e os detalhes internos que simulam páginas "queimadas".

No mais, o livro talvez esteja mais pra um thriller com toques de ficção científica e muito suspense do que pro terror propriamente dito, mas é leitura muito indicada, principalmente para os fãs do autor.

O Iluminado - Stephen King

19 de setembro de 2019

Título: O Iluminado
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Gênero: Suspense/Sobrenatural
Ano: 2017
Páginas: 520
Nota: ★★★★★
Sinopse: O lugar perfeito para recomeçar, é o que pensa Jack Torrance ao ser contratado como zelador para o inverno. Hora de deixar para trás o alcoolismo, os acessos de fúria e os repetidos fracassos. Isolado pela neve com a esposa e o filho, tudo o que Jack deseja é um pouco de paz para se dedicar à escrita.
Mas, conforme o inverno se aprofunda, o local paradisíaco começa a parecer cada vez mais remoto... e sinistro. Forças malignas habitam o Overlook, e tentam se apoderar de Danny Torrance, um garotinho com grandes poderes sobrenaturais.
Possuir o menino, no entanto, se mostra mais difícil do que esperado. Então os espíritos resolvem se aproveitar das fraquezas do pai...
Um dos livros mais assustadores de todos os tempos, O iluminado é uma das obras mais consagradas do terror.

Resenha: O Hotel Overlook é um lugar paradisíaco que atrai muitos hóspedes e turistas por suas peculiaridades, mas que só fica aberto ao público durante a metade do ano. Durante o inverno ele fica fechado, pois o alto volume de neve impossibilita as visitas. Mas mesmo que não haja hóspedes, o Hotel requer um profissional faça a devida manutenção para que as coisas são se deteriorem enquanto permanece fechado. Assim, numa tentativa de recomeçar, deixar os problemas pra trás e se tornar um homem melhor, Jack Torrance acaba aceitando o emprego de zelador de inverno, assim ele poderia aproveitar o isolamento para se aproximar e melhorar o relacionamento, um tanto abalado, com sua esposa, Wendy, e o filho de cinco anos, Danny, e ter o merecido sossego para se concentrar e se dedicar à escrita. A família Torrance logo se muda para o Hotel, e a medida que o inverno se torna cada vez mais intenso e rigoroso, coisas estranhas começam a acontecer naquele local remoto e sinistro... O Overlook está tomado por forças malignas que mexem com seus novos moradores, criando visões e os perturbando de forma que eles não conseguem distinguir o que é real ou ilusão. Danny, o único filho de Jack, ainda não sabe, mas ele é dotado de poderes sobrenaturais e é, como dizem, um Iluminado. Os espíritos que habitam o Hotel fazem diversas investidas a fim de possuir o menino, mas isso acaba sendo uma tarefa mais difícil do que parece, pois mesmo sendo uma criança, Danny é muito poderoso... Assim, eles resolvem se aproveitar das fraquezas de Jack, que embora esteja tentando, não consegue se livrar dos fantasmas de seu passado e acaba ficando suscetível às investidas obscuras desses seres do mal.

O Iluminado é um clássico da literatura, e não poderia ser muito diferente visto que foi escrito pelo mestre Stephen King. O homem realmente faz jus ao seu nome. Embora o início seja um tanto monótono, com tantas descrições minuciosas a fim de apresentar personagens e o funcionamento do Overlook e seus detalhes, é inegável que o terror psicológico presente na narrativa prende o leitor do começo ao fim. A leitura em si flui bem, mas não é um livro rápido de ser lido. Eu demorei pra digerir os acontecimentos pois há uma carga dramática bastante pesada sobre os personagens, e o terror em volta deles deixa tudo ainda mais denso, usando do sobrenatural para evidenciar um lado sombrio e doentio do ser humano.

A história traz poucos personagens, e isso acaba dando mais espaço para que eles possam ser desenvolvidos, mostrando gradualmente suas evoluções a medida que a influência do Overlook, que também é um personagem, os afeta. Logo, a construção de personagens é um show a parte, e o misto de sensações que sentimos durante a leitura chega a ser inexplicável. Danny é um doce de garoto e é ele quem divide o protagonismo da trama com o Hotel. Mesmo que seja ingênuo e inocente como qualquer criança dessa idade, ele tem personalidade forte e uma inteligência fora do comum, fazendo com que ele praticamente bata de frente com qualquer adulto, gerando os melhores diálogos do livro.
Wendy é uma mãe dedicada cujo filho é seu bem mais precioso, e desde o início é possível perceber que, embora ela pareça submissa e esteja presa num fucking relacionamento abusivo, ela tem seus motivos plausíveis para não jogar tudo pro alto e ir embora. Na verdade ela é uma mulher que tira forças do além pra suportar o marido e manter ela e o filho seguros, e talvez o inferno que ela tenha passado foi justamente o que lhe deu a força necessária para que ela tenha conseguido fazer o que fez no final das contas.

Ver como eles lidam com Jack, que enlouquece cada vez mais, é impressionante. O homem está sob uma influência incontrolável que o torna cada vez pior, então tudo o que "aparentemente" ele fez "sem querer", acaba se intensificando ainda mais, e o que ele causa no leitor é um misto de pena com raiva. O pavor que o Hotel causa também não é algo a ser ignorado. Cheguei a arrepiar várias vezes em algumas cenas totalmente macabras. O melhor de tudo é que as cenas são descritas com uma sutileza ímpar, não há exposições baratas e horror gratuito, e o que mexe com nosso psicológico é a ideia de presenças malignas influenciando pessoas, trazendo o que há de pior nelas à tona. Angústia, desespero, medo e tensão são sensações inevitáveis durante essa leitura, e já fazia muito tempo que um livro não mexia comigo dessa forma. De causar aquela ressaca literária.

Quem viu o filme dirigido por Stanley Kubrick sabe que foi uma excelente adaptação (embora o final seja diferente), mas o livro... O livro, meus amigos, tem todo um estilo único que consegue ser infinitamente melhor.

A Metade Sombria - Stephen King

5 de agosto de 2019

Título: A Metade Sombria
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Gênero: Terror/Thriller
Ano: 2019
Páginas: 464
Nota:★★★★★
Sinopse: Criar George Stark foi fácil. Se livrar dele, nem tanto.
Há anos, Thad Beaumont vem escrevendo, sob o pseudônimo George Stark, thrillers violentos que pagam as contas da família, mas não são considerados “livros sérios” pelo escritor. Quando um jornalista ameaça expor o segredo, Thad decide abrir o jogo primeiro, e dá um fim público ao pseudônimo.
Beaumont volta a escrever sob o próprio nome, e seu alter ego ameaçador está definitivamente enterrado. Tudo vai bem. Até que uma série de assassinatos tem início, e todas as pistas apontam para Thad. Ele gostaria de poder dizer que é inocente, que não participou dos atos monstruosos acontecendo ao seu redor. Mas a verdade é que George Stark não ficou feliz de ser dispensado tão facilmente, e está de volta para perseguir os responsáveis por sua morte.

Resenha:  Thad Beaumont é um escritor desde seus onze anos de idade. Atualmente ele vive com a esposa e um casal de filhos gêmeos em Castle Rock. Seus livros, pelo menos aqueles que levam seu nome real, são considerados bem medianos pelo público, mas ele também escreve thrillers perturbadores, violentos e cheios de sangue, usando o pseudônimo "George Stark", e esses livros fazem um enorme sucesso entre os fãs do gênero. Thad inclusive se transformava completamente quando assumia a identidade de Stark, como se adotasse outra personalidade, uma "metade sombria", a ponto de assustar a própria esposa.
Até que um jornalista descobre que Thad está por trás desse pseudônimo e ameaça revelar sua verdadeira identidade ao público. Thad resolve se antecipar, e não só releva o próprio segredo numa matéria de revista, como também "mata" seu pseudônimo, com direito a um funeral simbólico e túmulo fictício, para ficar livre desse peso que tanto o atormenta.

Porém, pouco tempo depois do "funeral" de George Stark, algumas pessoas conhecidas de Thad e que estavam diretamente ligada ao seu segredo começam a morrer, e suas mortes são extremamente parecidas com as que aparecem nos livros assinados por Stark, e como se isso não fosse estranho o bastante, as digitais de Thad ainda são encontradas nas cenas dos crimes fazendo com que ele seja investigado pela polícia. Mas, embora Thad tenha vários álibis para provar sua inocência, ele sabe que seu pseudônimo está agindo de alguma forma por não ter aceitado ser morto. Foi Stark que deu fama e dinheiro a Thad e ele não iria aceitar ser enterrado e esquecido... Mas não seria fácil para Thad convencer as autoridades de que seu pseudônimo ganhou vida...

A Metade Sombria foi publicada pela primeira vez em 1989 e, pra quem é fã e acompanha as obras do autor, vai perceber que a história tem relação com o próprio King, que também usava o pseudônimo "Richard Backman" para escrever histórias ainda mais macabras dos que ele escrevia assinando seu próprio nome, até ser descoberto e "matar" Backman. Talvez a inspiração para escrever esta obra tenha vindo daí, e embora haja algumas repetições de informações, os elementos inesperados da trama, somados a fluidez e ritmo acelerado dos acontecimentos, acabam causando muita tensão no leitor, que fica envolvido e ansioso em meio aos conflitos de Thad/Stark, e para saber que fim tudo aquilo terá.

Esta edição é só elogios. Após o livro ter ficado esgotado por vários anos, ele foi relançado pela Suma de Letras através da coleção Biblioteca Stephen King, cujas edições vêm em capa dura, diagramação e revisão impecáveis. Quem é fã com certeza não pode deixar de ter essa maravilha na estante.

Como renomado escritor de livros de terror, King não poupa detalhes quando o assunto é morte e violência, e a forma utilizada por ele para mesclar suspense com drama é sem igual, então, para quem tem estômago fraco, talvez o livro seja meio pesado para se acompanhar. O livro ainda nos faz pensar sobre termos uma parte escondida e sombria dentro de nós, que pode ser capaz de coisas inimagináveis sem que saibamos.
Pra quem gosta de suspenses com toques sobrenaturais, muito sangue, uma trama envolvente e de quebra ainda conhecer um pouco mais sobre o próprio autor, é leitura mais do que recomendada.

A Zona Morta - Stephen King

20 de dezembro de 2017

Título: A Zona Morta
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Gênero: Suspense
Ano: 2017
Páginas: 480
Nota:★★★★★
Sinopse: Depois de quatro anos e meio, John Smith acorda de um coma causado por um acidente de carro. Junto com a consciência, o que John traz do limbo onde esteve são poderes inexplicáveis. O passado, o presente, o futuro – nada está fora de alcance. O resto do mundo parece considerar seus poderes um dom, mas John está cada vez mais convencido de que é uma maldição. Basta um toque, e ele vê mais sobre as pessoas do que jamais desejou. Ele não pediu por isso e, no entanto, não pode se livrar das visões. Então o que fazer quando, ao apertar a mão de um político em início de carreira, John prevê o que parece ser o fim do mundo?

Resenha: John Smith é um cara comum que leva uma vida comum. Ele é professor e está feliz em seu novo relacionamento com Sarah, também professora. Até que numa noite de sorte, ele ganha uma bela grana na Roda da Fortuna do parque de diversões, mas, mais tarde, ao deixar Sarah em casa e ir embora, ele sofre um acidente no táxi e entra em coma. Quase cinco anos depois, para a surpresa da família, já esgotada após tanto tempo, e dos médicos desesperançosos, Johnny acorda. Porém, ele acaba percebendo que não foi só o mundo que sofreu alguns avanços nesse tempo e mudou. Sarah seguiu com a vida, mas ele também está diferente: a zona morta, a área do seu cérebro que foi afetada, lhe deu alguns "poderes". Um simples toque em alguém, ou em algum objeto pertencente a uma pessoa, ele consegue ver o passado, o presente, e o futuro... Tal dom acabou desencadeando uma fama indesejada a John, pois todos passaram a ficar atrás dele, seja querendo saber do futuro, ou acusando-o de ser uma fraude. O problema se agrava ainda mais quando John conhece Greg Stillson, um candidato a deputado que faz qualquer coisa pra conseguir alcançar seus objetivos. A visão de John é de um futuro terrível caso Stillson consiga o que quer. O que John fará com seu dom (ou seria uma maldição?) e como ele irá lidar com o fato de um possível fim do mundo?

O livro é narrado em terceira pessoa e a história se desenvolve de forma bastante ampla, com muitos detalhes e descrições acerca de cenários, personagens e emoções. Penso que o excesso de descrições pode ajudar alguns leitores a se situarem melhor e a "encarnarem" o personagem, e por mais que a história tenha sido maravilhosamente bem escrita, bem fluída e prenda a nossa atenção, achei cansativa e um pouco arrastada em alguns pontos pois a impressão que fica é que o autor não tem pressa alguma para trabalhar e se aprofundar em todos os aspectos da história que quer apresentar aos leitores. O livro é extenso, gradual e lento, e isso requer uma boa dose de paciência.
Fora isso, a trama é carregada de tensão e a imersão na leitura é tanta que suas quase 500 páginas não demoram nada a serem devoradas.

O livro, publicado pela primeira vez em 1979, foi relançado agora em 2017 pela Suma de Letras sob novo projeto gráfico. A capa combina com os demais livros assinados pelo autor e, embora seja simples, representa bem um dos elementos da trama.

A Zona Morta é um livro que, mesmo que já tenha quase quarenta anos, consegue ser bastante atual no que diz respeito aos elementos e as discussões relevantes que pode trazer. A história tem um pé no drama e no sobrenatural devido ao dom do protagonista e seus dilemas, mas o misto que faz com os demais assuntos faz dela algo plausível e digna de reflexão, abordando questões que vão desde a corrupção política até o fanatismo religioso sem que nada se confunda e nenhum tema passe por cima do outro.

Esse foi o primeiro livro do mestre King que li, e só posso dizer que a experiência além de incrível, me fez pensar além acerca do governo e do funcionamento da sociedade. Livro mais do que indicado.

O Bazar dos Sonhos Ruins - Stephen King

19 de dezembro de 2017

Título: O Bazar dos Sonhos Ruins
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Gênero: Suspense/Terror/Contos
Ano: 2017
Páginas: 528
Nota:★★★★☆
Sinopse: Mestre das histórias curtas, o que Stephen King oferece neste livro é uma coleção generosa de contos – muitos deles inéditos no Brasil. E, antes de cada história, o autor faz pequenos comentários autobiográficos, revelando quando, onde, por que e como veio a escrever (ou reescrever) cada uma delas. Temas eletrizantes interligam os contos; moralidade, vida após a morte, culpa, os erros que consertaríamos se pudéssemos voltar no tempo... Muitos deles são protagonizados por personagens no fim da vida, relembrando seus crimes e pecados. Outros falam de pessoas descobrindo superpoderes – como o colunista, em “Obituários”, que consegue matar pessoas ao escrever sobre suas mortes; ou o velho juiz em “A duna”, que ainda criança descobre uma pequena ilha onde nomes surgem misteriosamente na areia – nome de pessoas que logo morrem em acidentes bizarros. Em “Moralidade”, King narra a vida de um casal que vai se despedaçando quando os dois mergulham no que, a princípio, parece um vantajoso pacto com o Diabo. Incríveis, bizarros e completamente envolventes, essas histórias formam uma das melhores obras do mestre do terror, um presente para seus Leitores Fiéis.

Resenha: O Bazar dos Sonhos Ruins é uma coletânea de vinte contos escritos por Stephen King e além de terem uma breve explicação que os antecede acerca do motivo de terem sido escritos, trazem temas relevantes e que permeiam o universo de suspense e terror dos quais o mestre faz parte, e claro, com o toque sobrenatural que faz parte de suas obras na maioria das vezes.
O autor fala sobre sua necessidade de escrever histórias curtas visando agradar seu "Leitor Fiel" e num misto de horror, drama, suspense e humor, o presenteia com esta antologia que, de fato, surpreende ao trazer tramas que abordam a morte e muitas de suas vertentes, assim como os demais sentimentos que sempre a rodeiam, evidenciando os aspectos e as consequências da perda e o sentido da própria vida.
A maioria dos contos são narrados em terceira pessoa e são bastante fluídos. Por serem independentes, sequer precisam ser lidos na ordem. Alguns são demasiados curtos ou terminam sem um final propriamente dito, o que pode ser um pouco frustrante para os leitores que se conectaram com a história e anseiam por mais.

Não acho necessário discorrer sobre cada conto em particular pois como são curtos, falar demais sobre cada um deles pode acabar estragando a surpresa. Alguns acabam ganhando mais destaque por chamarem mais a atenção devido ao teor da trama que é bem mais interessante do que os demais...
Milha 81 é a história é sobre um garotinho de dez anos, Pete, que quer viver uma grande aventura. Assim, cheio de coragem, ele adentra uma área abandonada munido de uma lupa e quando encontra um carro e duas crianças descobre que há um "monstro" alí. As referências deste conto são ótimas e por mais diferentes que sejam entre si funcionam muito bem no conjunto criado por King.
Garotinho Malvado faz o leitor imergir na história de um presidiário que fora condenado à morte, mas antes de cumprir sua pena decide fazer um relato sobre o crime que cometeu. Ele descarregou uma arma em um menino aparentemente inocente e desde então vive atormentado. Ler histórias que envolvem crianças diabólicas é uma experiência bem aterrorizante...
Como um diferencial, King deixa o leitor um passo a frente dos acontecimentos. Em Indisposta, já sabemos o que vai acontecer, mas ainda assim somos surpreendidos com o destino do protagonista, um publicitário que está enfrentando problemas no trabalho enquanto sua esposa permanece indisposta após ficar doente.
Em A Duna, sempre que um juiz aposentado vê um nome em uma duna, a pessoa morre. Ele faz o relato dos acontecimentos a um advogado e o final da história é incrível.
Obituários foi um dos meus favoritos, principalmente por me lembrar Death Note. Um jornalista começa a inventar e escrever obituários pra um site de fofocas até perceber que o que ele escreve acontece mesmo.

Enfim, com ou sem elementos sobrenaturais, em primeira ou terceira pessoa (ou combinando as duas), King constrói situações cotidianas, nostálgicas e que remetem aos clássicos, inesperadas ou previsíveis, que abordam a moralidade, perseverança, que trazem segredos obscuros, que falam sobre a sexualidade, vícios, poder e controle, preconceitos, sobre dar valor aos pequenos grandes momentos da vida, e até sobre brigas bizarras entre vizinhos que se odeiam.

O Bazar dos Sonhos Ruins é uma boa pedida pra quem ainda não conhece e quer ter um gostinho de como são as histórias de Stephen King. O livro traz contos com elementos de vários gêneros diferentes e com certeza vai agradar e surpreender os leitores ao ponto de torná-los fiéis.

Cujo - Stephen King

14 de janeiro de 2017

Título: Cujo
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Gênero: Suspense
Ano: 2016
Páginas: 376
Nota:★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Frank Dodd está morto e a cidade de Castle Rock pode ficar em paz novamente. O serial-killer que aterrorizou o local por anos agora é apenas uma lenda urbana, usada para assustar criancinhas. Exceto para Tad Trenton, para quem Dodd é tudo, menos uma lenda. O espírito do assassino o observa da porta entreaberta do closet, todas as noites. Você pode me sentir mais perto… cada vez mais perto. Nos limites da cidade, Cujo – um são Bernardo de noventa quilos, que pertence à família Camber – se distrai perseguindo um coelho para dentro de um buraco, onde é mordido por um morcego raivoso. A transformação de Cujo, como ele incorpora o pior pesado de Tad Trenton e de sua mãe e como destrói a vida de todos a sua volta é o que faz deste um dos livros mais assustadores e emocionantes de Stephen King.

Resenha: Cujo foi publicado originalmente em 1981 nos Estados Unidos e teve uma adaptação cinematográfica lançada em 1983. Na história, um São Bernardo dócil, que dá nome ao livro, é o protagonista. Essa amabilidade termina quando o cão é mordido por um morcego e contrai o vírus da raiva. Intercalando entre os pensamentos do cachorro e dilemas pessoais dos personagens, Cujo é uma trama cheia de tensão e com um enrendo muito original e diferente. A jornada do cachorro e seu dono Brett na pequena Castle Rock vale cada página lida.

A sinopse por si só já é peculiar o bastante para despertar a atenção do leitor: um cachorro raivoso que vira o terror de uma pequena cidade no Maine. Além desse curioso protagonista, Cujo traz ótimos personagens que complementam a trama com seus dilemas. Donna é uma dona de casa, mãe de um garoto de cinco anos, Tad, e vive com seu marido, Vic, num bairro de classe média. Charity, mãe de Brett, é casada com James, um homem carrancudo que não a trata com devido respeito. Essas duas famílias têm seus problemas e questão desenvolvidas de maneira exemplar por King ao longo da trama, uma vez que suas vidas se entrelaçam por causa de Cujo. Assim como em outros livros, Stephen cria em cada pessoa fictícia a personificação de alguém muito real. De um modo ou de outro, é fácil se identificar com a perspectiva de encarar certos problemas da vida do modo que os personagens fazem.

Esperar normalidade dos livros do autor é algo que não deve acontecer. Ele tem certas fórmulas ao construir uma história e isso é muito interessante. Há uma boa dosagem de suspense em Cujo, mas não o terror propriamente dito. A sinopse dá a ideia de que o cão colocará pânico em toda uma cidade, mas não é bem isso que acontece. O filme é muito caricato, enquanto obra literária consegue passar uma tensão enorme e os acontecimentos suscetivos dão um gás na trama, despertando a curiosidade para saber quem será a próxima vítima do São Bernardo. A narrativa tem o ponto de vista do cachorro, e a raiva traz a ele sentimentos muito conflituosos. É a partir daí que se cria toda expectativa para saber qual será o próximo passo dele.

Além de todos os pontos positivos e da excelência como King constrói tudo que escreve, há pequenas ressalvas quanto ao desenvolvimento e coerência de alguns fatos. Muito do que ocorre na trama parece "cômodo" demais, como se, por exemplo, a mocinha quebrasse o tornozelo ao correr do vilão. Apesar de toda a maestria do autor, isso é algo que incomoda. Ao terminar a leitura, resta a sensação de que alguns desfechos e acontecimentos poderiam ter sido diferentes de modo a tornar o livro mais crível.

Cujo tem uma história muito empolgante, com um final que surpreende e tem uma pequena moral. Os personagens são muito reais e seus dilemas são compreensíveis e podem se conectar a uma situação real da vida de cada leitor. O protagonista que dá nome ao livro, sem dúvidas, está entre um dos mais originais que se poderia ter em um livro. Excluindo alguns fatos que ficam inconcluídos ao fim da história e fogem um pouquinho do aceitável, Cujo é capaz de levar quem lê ao universo de Castle Rock sem sair de lá até descobrir o que o destino, ou melhor, Stephen King, reserva para o São Bernardo.

Último Turno - Stephen King

4 de dezembro de 2016

Título: Último Turno - Bill Hodges #3
Autora: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Gênero: Suspense/Policial
Ano: 2016
Páginas: 384
Nota: ★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Brady Hartsfield, o diabólico Assassino do Mercedes, está há cinco anos em estado vegetativo em uma clínica de traumatismo cerebral. Segundo os médicos, qualquer coisa perto de uma recuperação completa é improvável. Mas sob o olhar fixo e a imobilidade, Brady está acordado, e possui agora poderes capazes de criar o caos sem que sequer precise deixar a cama de hospital. O detetive aposentado Bill Hodges agora trabalha em uma agência de investigação com Holly Gibney, a mulher que desferiu o golpe em Brady. Quando os dois são chamados a uma cena de suicídio que tem ligação com o Massacre do Mercedes, logo se veem envolvidos no que pode ser seu caso mais perigoso até então. Brady está de volta e, desta vez, não planeja se vingar apenas de seus inimigos, mas atingir toda uma cidade.
Em Último turno, Stephen King leva a trilogia a uma conclusão sublime e aterrorizante, combinando a narrativa policial de Mr. Mercedes e Achados e perdidos com o suspense sobrenatural que é sua marca registrada.

Resenha: Último Turno, o terceiro volume da trilogia Bill Hodges, encerra a trajetória do detetive Kermit e seus amigos Holly e Jerome, que se iniciou em Mr Mercedes, na caçada pelo serial killer Brady Hartsfield. Achados e Perdidos, o segundo livro, mostrou uma história que não tinha o foco totalmente no assassino da Mercedes, mas funcionou como um pontapé de transição para o que viria no final. Neste desfecho, que tem o toque sobrenatural característico de King, o autor fecha a série com maestria e mais uma vez reafirma o porquê de ser o Rei do Terror.

No encerramento do volume anterior, ficou a certeza de que Último Turno viria com um pouco de sobrenatural, o que contraria a ideia de que a trilogia é inteiramente policial. A trama se desenrola de uma maneira que se torna crível e aceitável como sobrenaturalidade é inserida, apesar das reações dos personagens serem muito brandas quanto a isso. Em nota, King deixou explicado seu embasamento para aliar o tema suicídio com o sobrenatural. Este é, infelizmente, um problema real e que deve ser discutido.

Brady, o grande assassino do City Center, é a grande estrela de tudo. É até injusto com Hodges, que dá nome para a trilogia, não ser considerado o centro das atenções. Hartsfield, que passou um tempo em estado vegetativo no quarto 217, despertou e quer vingança. Mais uma vez, mantendo a personalidade afiada e malvada do personagem, o autor mostrou, no tempo que Brady apareceu, como ele merece todo mérito por tornar Último Turno o livro bom que é. Além da inteligência e humor mordaz, os pensamentos do vilão podem despertar tanto medo como humor de quem lê. É bom ver como um antagonista como ele consegue ser perverso e mesmo assim angariar certa simpatia por ser como é.

Já Bill, Holly e Jerome, que em suma poderiam ser acréscimos significativos para a trama, não têm um brilho muito grande. Hodges, que é acometido por um grande problema pessoal, passa boa parte da história se lamentando e se sentindo inseguro. Jerome, em sua pequena aparição, serve apenas como um “complemento” no que é necessário, como ajudar o detetive a ir atrás de Brady. Holly, antes instável e cheia de problemas emocionais, se mostrou uma mulher mais decidida e sua perspicácia é admirável. Entretanto, o trio não serve para engrandecer a trama; isso se dá devido a outros fatores, como o desenvolvimento do enredo e antagonista.

A narrativa é dividida em partes com títulos e em cada uma delas há uma situação diferente, que acontecem paralelamente para contribuir para o ato final. O ritmo acelerado da narração aliada a uma estrutura muito bem executada, em que cada capítulo é bem curto e traz sempre um acontecimento interessante que cria bons ganchos, contribuem para aguçar a curiosidade do leitor. Stephen trabalha de uma forma bem particular a personalidade de cada componente da trama e, como o livro tem retratos sobre suicídio, como o fascínio do próprio Brady, todos os pequenos trechos que não estão focados nos protagonistas são bem aproveitáveis e inseridos no momento certo.

Último Turno encerra a trilogia deixando uma missão cumprida. A estreia de King no universo policial foi feita com o pé direito, trazendo uma trama muito bem desenvolvida e um antagonista capaz de deixar saudades no leitor. O final, que é mostrado de uma forma um pouco rápida, deixa a sensação que faltou um trabalho maior no grand finale, já que o livro todo teve um nível altíssimo de tensão. As situações impostas aos personagens no fim são complexas demais para terem sido resolvidas tão facilmente. Porém, o que mais vale nas histórias de Stephen King são as viagens pelas quais elas nos levam, não importando o destino final.

Achados e Perdidos - Stephen King

12 de agosto de 2016

Título: Achados e Perdidos - Bill Hodges #2
Autora: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Gênero: Suspense/Policial
Ano: 2016
Páginas: 350
Nota: ★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: “- Acorde, gênio.”
Assim King começa a história de Morris Bellamy. O gênio é John Rothstein, um autor consagrado que há muito abandonou o mundo literário. Bellamy é seu maior fã e seu maior crítico. Inconformado com o fim que o autor deu a seu personagem favorito, ele invade a casa de Rothstein e rouba os cadernos com produções inéditas do escritor, antes de matá-lo. Morris esconde os cadernos pouco antes de ser preso por outro crime. Décadas depois, é Peter Saubers, um garoto de treze anos, quem encontra o tesouro enterrado. Quando Morris é solto da prisão, depois de trinta e cinco anos, toda a família Saubers fica em perigo. Cabe ao ex-detetive Bill Hodges e a seus ajudantes, Holly e Jerome, protegê-los de um assassino agora ainda mais perigoso e vingativo.

Resenha: Um fã maluco. Um escritor assassinado. Uma trama atemporal envolvendo uma pacata família americana após a crise de 2009. Na sequência de Mr Mercedes, Stephen King apresenta aos leitores a história de Bellamy, um fanático que matou um escritor famoso na década de setenta. Já no século XXI, conhecemos Peter Saubers, que de uma forma inesperada acaba tendo sua vida ligada aos fatos que ocorreram no passado. É ai que entra o detetive Bill Hodges, juntamente com Jerome e Holly, para resolver esse mistério. Achados e Perdidos é uma continuação inusitada e cheia de tensão, que me fisgou do começo ao fim.

A primeira parte do livro, exatamente cento e trinta e duas páginas, conta todo o decorrer dos fatos que envolvem Morris Bellamy, o assassino de John Rothstein, o gênio. Ao mesmo tempo, em capítulos intercalados, conhecemos Peter Saubers, um garoto de apenas 13 anos que descobre o tesouro enterrado pelo assassino do escritor da famosa trilogia O Corredor. Neste começo da trama, há uma introdução do que virá na segunda parte, e diga-se de passagem, foi tudo feito de maneira excelente. A narrativa de Stephen, mais uma vez belíssima, transcorre de forma natural ao apresentar os personagens. Ambos, o menino e o assassino, são trabalhados de forma a entregar somente um pouco da personalidade, deixando o melhor para depois. É como se o autor estivesse fazendo uma breve apresentação, inclusive à família de Peter. É dessa maneira que descobrimos também que Tom, o chefe da família Saubers, estava no massacre do City Center e que há uma relação. Sim, o incidente que tirou a vida de algumas pessoas, deixou uma dezena de feridos e do qual Bill Hodges foi responsável por prender o criminoso. Em um primeiro momento, pude jurar que o segundo livro traria uma história independente, mas me enganei.

A segunda parte começa com a aparição do ex-detetive aposentado, Bill. Junto com ele surgem Holly e Jerome. O dissabor começa aí, com uma trama que corre feito um foguete e não tem tempo hábil para mostrar um pouco mais do lado bom desses três personagens. Tudo transcorre de uma maneira acelerada, os mistérios são solucionados de forma fácil, como somar um mais um. É como se Holly, a mulher de meia idade que acompanha Hodges em suas investigações, tivesse uma intuição capaz de desvendar qualquer mistério. Desse modo, o que poderia se tornar uma boa charada e um quebra-cabeça, se dissolve totalmente. Jerome, o garoto negro, gosta de fazer umas piadas que não se encaixam no contexto. O trio por si só não consegue capturar totalmente a atenção para eles, e todos os holofotes são voltados para o vilão. Ele foi o responsável por me fazer ficar sentado na beira da cadeira, de fazer meu coração bater muito rápido com a sucessão de acontecimentos e de sua insanidade, tal como Brady, o vilão de Mr. Mercedes. Quem dá nome a trilogia, Bill Hodges, se mostra muito apático e sem brilho. É como se ele fosse um mero coadjuvante, deixando o espaço para Morris e Peter brilharem.

As motivações que levam Morris a matar o escritor e roubar os manuscritos não ficaram tão claras para mim. Acredito que aqui, é possível fazer uma comparação com casos conhecidos como John Lennon, que foi assassinado a tiros por um fã, ou a cantora Selena, que foi morta pela presidente de seu fã-clube oficial. Nessas situações a maior pergunta que nos fica é como funciona a mente de quem comete tais ações. Os demais acontecimentos que resultam no ato final são um pouco contraditórios, e Peter, que no começo me ganhou pelas atitudes nobres, acabou se mostrando completamente incapaz de pensar racionalmente, em vista da situação de perigo em que sua família estava.

Achados e Perdidos é uma ótima continuação para uma trilogia que se iniciou com Mr Mercedes. Aqui, infelizmente, não há um personagem principal louvável: Bill cumpre seu papel, mas está longe de ser o melhor mocinho que já conheci. Em compensação, King trouxe o melhor que há em termos de vilões e que me faz torcer desesperadamente por eles (será que tem algum mal nisso?). O primeiro volume foi o pontapé inicial de Stephen no gênero policial, que para mim parece mais um thriller, e a expectativa era grande sobre isso. Neste segundo, posso dizer que é um livro de altos e baixos. O autor pode não ter tido êxito na criação do detetive, mas ele com certeza é um bom contador de histórias e sabe como prender a atenção do leitor. O final, que com certeza me deu um bom susto, traz uma pitada do sobrenatural (característica marcante de King) e reforça a ideia que O Último Turno, o encerramento da trilogia, será o mais inusitado de todos.

Mr. Mercedes - Stephen King

21 de maio de 2016

Título: Mr. Mercedes - Bill Hodges #1
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Gênero: Suspense/Policial
Ano: 2016
Páginas: 400
Nota: ★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Ainda é madrugada e, em uma falida cidade do Meio- Oeste, centenas de pessoas fazem fila em uma feira de empregos, desesperadas para conseguir trabalho. De repente, um único carro surge, avançando para a multidão. O Mercedes atropela vários inocentes, antes de recuar e fazer outra investida. Oito pessoas são mortas e várias ficam feridas. O assassino escapa. Meses depois, o detetive Bill Hodges ainda é atormentado pelo fracasso na resolução do caso, e passa os dias em frente à TV, contemplando a ideia de se matar. Ao receber uma carta de alguém que se autodenomina o Assassino do Mercedes, Hodges desperta da aposentadoria deprimida, decidido a encontrar o culpado. Mr. Mercedes narra uma guerra entre o bem e o mal, e o mergulho de Stephen King na mente obsessiva e psicótica desse assassino é tão arrepiante quanto inesquecível.

Resenha: Qual é a verdade por trás das pessoas? Como podemos definir as ações de alguém? A obra de King (sim, um Rei) é sobre a engenhosidade da mente humana com uma abundância de perversidade. Mr Mercedes é um livro de construção perfeita, perspicaz e direta. Ao contrário de Sob a Redoma, único contato que tive com o autor, a história do detetive aposentado Bill Hodges é recheada com elementos mais cotidianos e menos fantasiosos: um assassinato em massa, uma investigação quase infrutífera e personagens comuns envoltos numa trama que flui perfeitamente.

Para aqueles que esperam uma narrativa recheada de elementos sobrenaturais, a Trilogia Bill Hodges vai totalmente na contramão. Na obra, Hodges é apresentado como um ex-detetive aposentado que passa sua vida de forma pacata, sentado no sofá acompanhando programas vespertinos diariamente. Entretanto, essa tranquilidade logo é quebrada por uma carta enviada de um remetente que dá nome ao livro. Após isso, a letargia se rompe na vida de Bill e uma caçada pelo assassino começa.

A princípio, podemos imaginar que estamos acompanhando apenas mais um enredo policial sem grandes surpresas, mas existe certo terror em Mr. Mercedes. Primeiro, porque o assassino é conhecido pelo leitor logo no início da trama. Curioso, não? Enquanto a maioria dos autores guarda o suspense de "quem matou fulano" para o final, Stephen já deixa a identidade de Brad Hartsfield clara desde o início. Mas quem seria esse pacato rapaz de vinte e poucos anos que vende sorvete pelas ruas num carro tocando uma música alegre? Há certa psicopatia no personagem, e isso é visível pelos pensamentos que são expostos ao longo da narrativa. O homem tem uma passado conturbado que pode, em partes, justificar suas atitudes presentes. Acompanhar todas as ações e pensamentos de Hartsfield é como estar diante de um noticiário no qual já estamos acostumados a ver, porém, aqui a mente do criminoso é exposta com muitos detalhes. O vilão é jovem, inteligente e dissimulado. Um tipo de pessoa que podemos conviver diariamente.

Do outro lado dessa moeda há Bill Hodges, um senhor na casa dos sessenta anos que se vê muito insatisfeito com sua pacata vida de aposentado. Enquanto Brad apresenta características de um assassino psicopata, o ex-detetive mostra mais vulnerabilidade e traços de depressão com o rumo que sua vida tomou. O grande xis da questão aqui é que os dois parecem muito semelhantes em alguns aspectos psicológicos, mas os sentimentos que os movem são completamente distintos. King abre espaço para aprofundamento em cada um deles, seus fantasmas passados e o que os tornou o que são hoje. Juntamente deles, há outros personagens que são bem elaborados e desempenham grande papel em todo o livro. Devo destacar a desmantelada Holly, que pode parecer uma louca no primeiro momento, mas é destemida e de grande ajuda ao ex-detetive.

Toda trama de Mr. Mercedes é engenhosa e cheia de situações muito cotidianas e personagens bem construídos. Tratado como o Rei do Terror, King apresenta aos leitores uma história mais comum com traços macabros de crueldade. A narrativa, muito linear, caminha para o final nada surpreendente, mas esperado, que não nos deixa completamente extasiados e surpresos. Então, o que a perseguição entre gato e rato que Stephen criou tem de atrativo? Dois homens aparentemente comuns que buscam intensamente seus objetivos. Brad Hartsfield é movido pelo desejo de matança. Bill Hodges quer detê-lo a qualquer custo. E assim temos a jornada de acontecimentos surpreendentes do primeiro volume da trilogia Bill Hodges: um livro ideal para os amantes de suspense.