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Escandalizados - Ivy Owens

16 de dezembro de 2023

Título:
Escandalizados
Autora: Ivy Owens
Editora: Paralela
Gênero: Romance/Policial/Conteúdo adulto
Ano: 2023
Páginas: 416
Nota: ★★☆☆☆
Sinopse: Quando Gigi e Alec se encontram no aeroporto de Seattle, faz catorze anos que não se veem, mas isso não impede que um reconheça o outro — e que eles se reconectem depois de tanto tempo. Alec foi a primeira paixão de Gigi, e passar uma noite com ele parece um sonho. A ligação dos dois é intensa, mas ao amanhecer Gigi desconfia que Alec talvez não seja quem ela pensa. Quando chegam ao aeroporto de Los Angeles e encontram pelo menos duzentas pessoas esperando por Alec, ela descobre que estava certa. Alexander Kim se tornou um ator muito conhecido na Coreia do Sul e na Inglaterra. Seus doramas também fazem muito sucesso nos Estados Unidos, mas Gigi não fazia ideia disso. Irritada por Alec não ter lhe contado a verdade, ela decide ir embora e fingir que a noite que passaram juntos nunca aconteceu.
Mas a conexão entre eles é forte demais para ser ignorada, e logo embarcam em um romance secreto. Enquanto isso, Gigi está investigando uma boate cujos donos são acusados de drogar e assediar mulheres, uma reportagem que pode mudar a trajetória de sua carreira como jornalista. Alec, por sua vez, pode ter informações importantes sobre a história — mas será que Gigi deve contar para seu chefe que está se relacionando com uma possível fonte? E Alec pode revelar o que sabe sem ameaçar sua carreira em ascensão e, mais importante, sua família? Será que o amor deles pode resistir a um escândalo internacional?

Resenha: Georgia, ou Gigi, é uma jornalista que viajou para Londres para investigar uma boate cujos donos são suspeitos de drogar e assediar mulheres. Essa reportagem é super importante pra ela pois poderia mudar e dar uma guinada em sua carreira. Quando Gigi vai pro aeroporto para esperar pelo voo que a levaria de volta pra casa, ela é surpreendida com a notícia de que o voo estava atrasado por causa de uma tempestade. Enquanto aguarda por mais informações da cia aérea, ela reencontra Alec alí no aeroporto, o irmão de sua melhor amiga que ela não via há uns 14 anos, o mesmo que foi seu crush da adolescêcia. Quando ela recebe a informação de que o voo seria adiado pro dia seguinte, é recomendado que ela fosse passar a noite num hotel, o mesmo hotel onde Alec estava hospedado. Obviamente eles dividem o quarto, tudo é uma loucura que nenhum dos dois planejava e aquilo mais pareceu um sonho. Mas, no dia seguinte, o que Gigi realmente não imaginava era que Alec fosse um ator de doramas super conhecido e famoso na Coreia do Sul e na Inglaterra. Por mais que ele também fosse conhecido nos EUA, Gigi não fazia a menor ideia de nada por não acompanhar esse universo. Ele fica irritada, se sentindo "enganada" e decide fingir que o que eles tiveram nunca aconteceu, mas ela não poderia simplesmente ignorar a conexão que eles tiveram e acabam decidindo levar esse romance em segredo. Agora, Gigi descobre que Alec pode ter informações importantes sobre o caso da boate, mas precisa pensar bem no que vai fazer já que usá-lo como informante pode colocar a carreira e a família dele em risco, além do escândalo internacional que isso poderia se tornar.

O livro é narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Gigi, e a história se passa num prazo de duas semanas. Não vou dizer que a escrita é ruim, muito pelo contrário, é bem fluída e envolvente e isso acaba sendo um ponto positivo em meio a uma imensidão de desgosto e olhos revirando. Gigi é aquele tipo de pessoa que parece precisar da validação alheia pra viver e se preocupa demais com o que os outros pensam mas, fora isso, é bastante intensa, leva tudo a sério e é muito boa no que faz. Alec é um cara perfeito cuja intenção, obviamente, é fazer as leitoras suspirarem. E isso soa forçado e até falso. Por mais que haja aquela química, as coisas não pareceram "orgânicas".
Fiquei com aquela impressão de que a autora só quis descrever um amontoado exagerado de cenas hots num contexto qualquer que, no final das contas, não faz a menor diferença visto que o aprofundamento, tanto de história quanto de personagens, é mínimo.
Alguns diálogos foram engraçadinhos, mas não passa disso. Tudo é muito raso e quanto mais eu lia, mais eu tinha certeza que a autora só quis apresentar um casal tão emocionado quanto em chamas pra quem lesse pensasse "nossa, uau, ôloko meu, que lindos, que fofos, meu casal, ui que delícia, ai se fosse comigo", mas eu... eu só revirava os olhos, mesmo.  Pra mim, toda aquela intensidade não poderia ser mais irreal. Tudo que acontece nessa história só termina de um único jeito: sexo. É o resumo, fim.

A questão do mistério acerca de um tema tão delicado foi uma das piores escolhas que já vi da minha vida. Além das frases clichês e do tema ficar totalmente banalizado, não acho que ele se encaixou de forma muito feliz em meio às experiências românticas e eróticas dos personagens principais. É como se a autora não tivesse muito propriedade pra falar sobre, mas precisava de um tema pra criar o suspense em torno das investigações de Gigi, então enfiou alí de qualquer jeito, sem aprofundamento, sem muita delicadeza e tratando como se fosse uma coisa qualquer, e seja o que Deus quiser. É um tema pesado e imagino o quão horrível deva ser para as vítimas que sofreram aqueles abusos, mas foi tudo explicado de forma rápida, fácil e conveniente, porém sem a devida conclusão. E eu fiquei só o meme do John Travolta confuso. Enfim, achei de péssimo tom.

Pra finalizar, se você procura por uma leitura rápida com um bando de cenas eróticas intensas, aleatórias e sem necessidade de muitas explicações, mas anda com preguiça de procurar contos no wattpad (ou coisa do tipo), é livro mais do que indicado. Mas, se é história de amor inesquecível em meio a uma investigação cheia de suspense (como a sinopse - erroneamente - faz parecer), não acho que seja a melhor referência e nem recomendo...

Uma curiosidade: Ivy Owens é o pseudônimo da autora Lauren Billings que, em conjunto com Christina Hobbs, escreveu a série Cretino Irresistível e outros livros assinados pela junção de seus nomes, "Cristina Lauren". Escandalizados foi escrito durante aquele paradoxo entre tédio e inspiração que a pandemia da covid-19 trouxe para a maioria das pessoas e, pela experiência que tive, talvez seja preferível assistir uma sessão da tarde e afins...

Holly - Stephen King

15 de novembro de 2023

Título:
 Holly
Autor: Stephen King
Editora: Suma
Gênero: Suspense/Mistério/Policial
Ano: 2023
Páginas: 448
Nota: ★★★★★
Sinopse: Holly Gibney surgiu tímida e reclusa em Mr. Mercedes e se tornou uma detetive particular talentosa. Neste romance inédito de Stephen King, ela retorna para enfrentar dois adversários perversos.
Penny Dahl está desesperada para encontrar a filha, Bonnie, que sumiu sem deixar vestígios. Em busca de ajuda profissional, ela liga para a agência Achados e Perdidos, sob o comando de Holly Gibney. A detetive reluta em aceitar o caso, porque deveria estar de licença, mas algo na voz de Penny faz com que Holly não consiga ignorar o pedido.
A poucos quarteirões de onde Bonnie foi vista pela última vez, moram Rodney e Emily Harris. Um casal de acadêmicos octogenários, dedicados um ao outro, eles simbolizam a banalidade da classe média suburbana. No entanto, no porão de sua casa bem cuidada e repleta de livros, os dois escondem um segredo terrível, que pode estar relacionado ao desaparecimento de Bonnie.
Descobrir a verdade se torna uma tarefa quase impossível, e Holly dependerá de seus talentos extraordinários para desmascarar os professores ― antes que eles ataquem novamente.

Resenha:
 Ambientado em plena pandemia de Covid 19 em 2021, a detetive particular Holly Gibney se depara com um caso de desaparecimento do qual ela não pôde recusar, mesmo que estivesse de licença. Bonnie sumiu sem deixar vestígios e sua mãe, desesperada, vai até a agência "Achados e Perdidos" pedir ajuda para Holly e convencê-la a encontrar a filha.
A poucos quarteirões de onde Bonnie foi vista pela última vez, há uma casa bem cuidada onde vive um casal de professores acadêmicos octogenários que, aparentemente, estão acima de qualquer suspeita. O que ninguém imagina é que há algo de sinistro acontecendo no porão dessa casa e que pode ter relação com o sumiço de Bonnie, logo cabe a Holly usar seu talento para descobrir a verdade, desmascarar os professores e impedir outro ataque.

Antes de dar minha opinião, vou dizer que não li a trilogia Bill Hodges, onde a protagonista aparece pela primeira vez. As resenhas disponíveis aqui no blog foram feitas pelo Lucas, na época em que ele ainda era colaborador, e eu acabei não tendo a oportunidade de ler esses livros (ainda). Talvez fizesse alguma diferença ou desse uma noção melhor do que esperar dela pois, pelo que pesquisei, há muita informação sobre Holly e seu passado na trilogia que não é abordada nessa obra. Claro que é possível ler este sem ter lido os outros livros e sem risco de se perder, mas com um conhecimento prévio talvez a experiência poderia ter sido diferente, não sei.

Diferente de histórias policiais onde o autor segura a identidade do vilão até a última página, aqui os maníacos já são revelados no começo. A expectativa é acompanhar pra saber quando vão ser descobertos e como (e se) isso vai acontecer. King já fez isso em outros de seus livros e é um formato que funciona muito bem pois ele consegue conduzir a história mantendo o suspense e o mistério para os personagens que estão envolvidos alí mas não sabem o que está acontecendo. Narrado em terceira pessoa, com capítulos que se alternam entre presente e passado dos personagens, vamos acompanhando Holly em meio às investigações, além dos detalhes dos crimes horrendos cometidos pelo casal de professores. As motivações para os crimes são expostas, assim como o modus operandi desses dois, que é usar a aparência inofensiva para atrair e capturar as vítimas até que sejam levadas ao porão. Várias cenas são desesperadoras, causam muito desconforto, são bizarras, e o nível de crueldade chega a revirar o estômago. É uma representação muito extrema do que é a maldade humana.

Eu realmente gostei muito da história, fiquei super envolvida e até agoniada em diversas cenas bizarras e apavorantes. A Covid 19 foi praticamente um personagem da história e fiquei com a impresão de que o autor estava um tanto indignado e quis politizar o tema, não só se posicionando contra o governo da época, mas mostrando o contraste enorme entre aqueles que levam o perigo da doença a sério e se protegem, e os birutas negacionistas que não estão nem aí ou recorrem a "tratamentos" que não existem. Essas questões políticas e sociais acabam trazendo muita realidade à trama, até mesmo porque também representa o que vivenciamos aqui no Brasil. O autor retrata os acontecimentos que o mundo inteiro passou, assim como incorpora o comportamento das pessoas em quarentena diante da insegurança, da confusão e do medo de não saberem o que estava por vir.

Holly é uma mulher madura e muito persistente que precisa lidar com os próprios desafios pessoais enquanto se dedica ao trabalho com bastante afinco. A história, que já é rica devido aos detalhes do mistério que gira em torno dos crimes, fica ainda mais interessante quando as camadas da vida de Holly começam a ser reveladas. E tudo isso em meio a pandemia onde todas as pessoas ou estão sem saber o que fazer por nunca terem tido uma experiência desse nível na vida, ou estão se comportando feito loucas por não acreditarem que aquilo é real.
Os demais personagens também são bem construídos e desempenham papeis relevantes e importantes para Holly no que diz respeito às investigasções e até a sua própria rotina.

Um ponto que achei genial é a dualidade criada por King ao retratar esse casal. Ao mesmo tempo em que eles representam a banalidade da classe média que vive no suburbio, eles representam o que há de pior no ser humano, mostrando que por trás de uma aparência inofensiva, algo de terrível pode estar escondido e não se pode confiar em ninguém.

No mais, pra quem é fã de Stephen King, já sabe o que esperar do mestre. Recomendo muito a leitura, principalmente pela ideia do autor de inserir o tema da pandemia à história de forma orgânica e imersiva, mostrando que o horror vai além do true crime, e que a vida de milhões esteve nas mãos de pessoas limitadas, imbecis, egocêntricas e só tomaram decisões horríveis que resultaram no que todos nós testemunhamos, não só nos EUA, mas por aqui também...

Na Telinha - Velma

4 de fevereiro de 2023

Título: Velma
Temporada: 1 | Episódios: 10
Distribuidora: HBO Max
Elenco: Mindy Kaling, Constance Wu, Glenn Howerton, Sam Richardson
Gênero: Aventura, Comédia, Policial, Animação
Ano: 2023
Duração: 25min
Classificação: +16
Nota: ★☆☆☆☆
Sinopse: Velma é uma série de comédia animada para adultos que conta a história de origem de Velma Dinkley, o cérebro subestimado por trás da gangue de Scooby-Doo.

Quando a HBO anunciou que lançaria uma animação para contar as origens da Velma, era mais do que óbvio que os fãs da franquia Scooby-Doo, criada por Hanna-Barbera em 1969, ficaram super animados com esse spin-off.
De todos os desenhos animados desse estúdio, eu particularmente gostava mais de Tom & Jerry (tanto que assisto até hoje), mas nunca rejeitei Scooby-Doo e admito que, quando criança, eu gostava daquela fórmula clichê dos mistérios que sempre eram solucionados depois de um perrengue tão mirabolante que os pobres dos personagens passavam, e me divertia com o óbvio.

Agora, depois de décadas, o que era pra ser uma série que, até onde se esperava, proporcionaria nostalgia e diversão, com um design de arte e efeitos bonitos e descolados, e com informações sobre a origem da Velma e a motivação dela pra juntar os amigos e começar a resolver mistérios, virou uma aberração total que sequer tem noção da essência da animação e nem tem um pingo de consideração pelos fãs que esperavam flores mas receberam tiros. Joe Ruby e Ken Spears, os criadores do Scooby-Doo original, devem estar se revirando no túmulo de tanto desgosto e tristeza. Os primeiros minutos já me fizeram revirar os olhos num looping infinito. Já assisti muitas animações adultas com humor ácido e pesado, que fazem piada com temas sensíveis, que são paródias de outras obras e ainda assim funcionam e são muito boas, mas com Velma não foi muito bem assim.


O mistério em si começa quando o corpo de Brenda, cuja cabeça foi literalmente desmiolada, cái de dentro do armário da Velma fazendo com que ela, inicialmente, se tornasse"suspeita" pelo crime. As detetives encarregadas de investigarem o caso, mães adotivas da Daphne, são a personificação da incompetência e precisam da ajuda dela pra descobrir quem é o assassino que anda matando as garotas populares do colégio para provar para o xerife que Velma é inocente. O problema é que Velma tem alucinações e ataques de pânico que a deixam a beira de um infarto cada vez que ela pensa em solucionar algum mistério, pois associa isso ao sumiço de sua mãe, Diya Dinkley. Velma desde criança gostava de resolver mistérios e ela acredita, sabe-se lá por que motivo, que sua mãe a abandonou por causa disso, e não consegue ficar livre dessa culpa. Assim, para tentar provar sua inocência, ela começa a seguir algumas pistas para investigar o caso do assassinato, mas ela também quer desvendar o mistério do sumiço de sua mãe numa tentativa de se curar desse trauma e parar com as alucinações. Mas outras garotas começam a aparecer mortas, outros suspeitos começam a surgir, e o caso fica pior do que já era.


Partindo dessa premissa, o primeiro ponto problemático é que, mesmo sendo sobre personagens adolescentes no ensino médio e classificação +16, a série é voltada ao público adulto. Há bastante violência gratuita e exagerada (quase no estilo Happy Tree Friends onde, por exemplo, "sem querer" um estudante aleatório tem um pé decepado), palavrões e incontáveis cenas e piadinhas infames de cunho sexual ou de estereótipos, que além de serem repetidas por milhares de vezes, não tem a menor graça e são extremamente forçadas. A primeira cena já mostra duas baratas transando do nada (???) antes de vermos um grupo de garotas adolescentes, nuas e hipersexualizadas tomando banho no vestiário do Colégio da Baía Cristal. A partir daí, já começam a utilizar do recurso da metalinguagem de forma desenfreada e completamente sofrível. O que poderia ter de relevante é completamente ofuscado pelas piadinhas esdrúxulas que se estendem ao longo dos episódios de forma repetitiva e insistente, sempre envolvendo sexo, drogas, violência, sangue, saúde mental e etc, e também por personagens secundárias, menores de idade, extremamente sexualizadas, assumidamente "vadias", que vivem fazendo caras, bocas e poses sugestivas de graça.

Quem for assistir esperando encontrar os personagens típicos com suas personalidades e características vai se frustrar. Não digo isso pela mudança de nacionalidade, etinia ou orientação sexual deles, isso é o que menos importa e inclusive acho que, às vezes, é até interessante esse tipo de mudança em prol da representatividade e afins, mas o problema é que, pelos acontecimentos se passarem antes de formarem a Mistérios SA. é muito esquisito acompanhar os personagens sob outras personalidades totalmente diferentes das quais estávamos acostumados. É como se durante esses acontecimentos eles estivessem passando por um período de amadurecimento de acordo com essas experiências que tiveram, mas o contraste é tão gritante que não fui capaz de assimilar como um personagem com características x conseguiu virar outro totalmente diferente. Por exemplo, aquela Velma esperta e sagaz do clássico deu espaço pra uma Velma incoerente, hipócrita e irritante que, mesmo traumatizada, mal dá pra ter pena, e que fica mendigando a atenção de quem ela gosta mesmo que seja desprezada, e despreza quem gosta dela no maior descaso possível.


Daphne agora é uma asiática patricinha que faz parte do grupinho de garotas populares da escola e tem um comportamento mui questionável. Ela foi a melhor amiga de Velma no passado, mas depois que se tornou popular passou a tratá-la como lixo e agora elas se odeiam. Ela namora Fred já faz um ano e não se conforma com ele evitando todas as suas investidas mais calientes, mas não desiste do boylixo pois ele também é popular na escola e eles formam um casal "bonito", até ele ser afastado dela a força.


Fred, o "galã adolescente", é o típico cara branco, rico e privilegiado que ninguém aguenta. Ele é aquele playboy inconveniente, mimado, imbecil, preconceituoso e enrustido que além de não ter amadurecido ainda fica fazendo de tudo pra conseguir a aprovação do pai, que nunca está satisfeito com nada. Ele também tem uns faniquitos disfarçados de ataque de fúria quando alguma coisa não sai conforme ele quer, e mesmo que Velma saiba o quanto ele é ridículo, ela ainda gosta dele baseado em nada, só pra rolar aquele conflito de sentimentos forçado entre o bonitão da escola, o amigo desprezado e a amiga que virou inimiga que "movimenta e traz mais emoção à trama", só que não.

E o pobre do Salsicha que era o sujeito mais good vibes  de todos, virou um streammer dependente emocional chamado Norville, engajado com terapia e causas anti-drogas (pois é) e apaixonado pela Velma. O problema é que ela o enxerga como irmão e quanto mais ele tenta se declarar e demonstrar esse sentimento pra tentar ganhar o coração da menina, mais ela ri (???). E o Scooby? Ninguém nunca nem viu.


Eu até cheguei a considerar que a adolescência é uma fase terrível e é mais do que normal haver conflitos emocionais, dramas desnecessários, exageros a se perder de vista, questões de autodescoberta e imaturidade, mas acho que o problema maior talvez seja pela série ter se vendido como algo inovador e que daria uma nova roupagem aos personagens acompanhando a atualidade, afinal, dos anos 60 pra cá as coisas já evoluíram bastante e a sociedade, apesar de ainda ter alguns atrasos, está bem diferente. Se formos comparar todas as versões de Scooby-Doo vamos encontrar diferenças e pequenas mudanças que são compreensíveis e aceitáveis. Mas em momento algum Velma dá a entender que a série seria uma paródia ou algo do tipo, parece que ela realmente se leva a sério como releitura e os roteiristas acharam que atirar lacre sem noção pra todo lado funcionaria. Se isso é algum tipo de estratégia pra justificar alguma reviravolta futura, ou só fazer com que todo mundo assista e comente, mesmo que seja pra falar mal, deu certo (a trouxa aqui comentando sobre), e não duvido que foi por causa desse hype que a segunda temporada já começou a ser desenvolvida.

Nem tenho nem vontade de comentar sobre o tema principal da série: saúde mental. Todos os personagens tem um trauma relacionado a alguma forma de abandono que reflete em seus comportamentos e precisam superar isso a medida que vão amadurecendo, e por mais que essa questão seja interessante, a abordagem é péssima, desde as crises de ansiedade e os ataques de pânico frequentes que Velma sofre e como são amenizados de um jeito impossível, até como práticas ilegais são justificadas como forma de se atingir um objetivo para pôr fim numa aflição.

Há um episódio onde passam rapidamente a ideia de que quem está de luto e deprimido pela perda de alguém quer transformar a morte alheia em algo sobre ele, como se sofrer fosse egoísmo ou sei lá. E uma observação para o mascote da saúde emocional do colégio, que se chama "Lelé" (ou "Nutso" no inglês). Porque querer fazer uma série para abordar a saúde emocional na maior parte do tempo e dar a entender que quem precisa de ajuda é "lelé da cabeça" deve ser de muito bom tom e muito engraçado.


Inclusive algumas cenas de crise estão alí de propósito pra forçar uma determinada situação entre personagens que passam longe de ser inclusivas ou sequer engraçadas, caso a ideia fosse fazer piada sobre, mas estão alí pra dar um empurrão no enredo e fazer as personagens ficarem confusas com seus sentimentos e com a própria sexualidade.

A impressão que tive é que tentaram ir pelo caminho das animações escrachadas e politicamente incorretas, dessas que estão pouco de lixando pro famigerado cancelamento que cutucam temas sensíveis sem o menor peso na consciência (como South Park ou Rick and Morty, por exemplo), mas falharam miseravelmente porque a forçação de barra pra tentar dar lições inúteis ou fazerem críticas aleatórias usando de "humor ácido" é insuportável, e é tanta coisa sendo alvo de piadas sem graça que é impossível saber ao certo quem deveria ser o público alvo desse troço. Conseguiram não só estragar, mas rebaixar o conceito de besteirol a um nível que chega a ser inacreditável. Mudaram toda a essência da coisa e transformaram os personagens só pra despejarem um monte de bobagens que brotam do além pra serem atiradas pra qualquer lado sem que façam o menor sentido dentro do contexto. Parece que só estão alí com o único propósito de se aproveitarem de temas sensíveis ou que envolvem lutas sociais, mas desvirtuando - e até invalidando - tudo como se não houvesse amanhã. Seria menos pior se criassem personagens originais pra construir uma série original em vez de se aproveitarem de uma franquia clássica só pra atrair quem já era fã e matar todos eles de decepção, afinal, as únicas coisas fiéis são os nomes que eles têm e as roupas que usam, o resto é invenção tirada da casa do chapéu. Teria risco de algo vindo do zero tomar hate por ser ridículo? Claro que sim, porque as piadas são ruins de verdade, mas pelo menos não iria gerar essa revolta e esse completo desgosto por terem destruído o que já havia se consolidado ao longo de décadas com essa ideia de "desconstrução".

Os últimos epísódios, apesar de seguirem o mesmo padrão ruim, começam a ficar menos piores porque já entram na resolução do mistério mirabolante, e mesmo que a Mistérios SA ainda não tenha sido criada, dá pra ter noção do caminho que os personagens vão seguir ao mesmo tempo que vemos que eles começam a adquirir pequenos toques da personalidade original, mas sabe-se lá quantas temporadas vão ser feitas até chegarem lá.

Enfim, não vou dizer que Velma foi a pior coisa que já assisti na vida porque tem muito lixo espalhado nas plataformas de streaming por aí, mas com certeza foi a que mais me fez revirar os olhos, tamanha a antipatia e ojeriza. Assisti esperando uma coisa nostálgica, mas saí com a sensação de que meu tempo vale menos do que duas baratas transudas.

Na Telinha - Dahmer: Um Canibal Americano

4 de outubro de 2022

Título
: Dahmer: Um Canibal Americano (Monster: The Jeffrey Dahmer Story)
Temporada: 1 | Episódios: 10
Distribuidora: Netflix
Elenco: Evan Peters, Richard Jenkins, Penelope Ann Miller
Gênero: Policial/Biografia
Ano: 2022
Duração: 55min
Classificação: +18
Nota: ★★★★★
Sinopse: Por mais de uma década, Jeffrey Dahmer conseguiu matar 17 jovens rapazes sem levantar suspeitas da polícia. Como ele conseguiu evitar a prisão por tanto tempo?

Dahmer: Um Canibal Americano, é uma minissérie de Ryan Murphy (mesmo produtor de American Horror Story) e distribuida pela Netflix, que conta boa parte da história do notório serial killer Jeff Dahmer, responsável pelo assassinato de 17 jovens entre os anos de 1978 e 1991, incluindo dois adolescentes de 14 anos, em sua maioria negros e imigrantes. A série explora a vida do assassino, desde a infância conturbada até sua vida adulta, e faz um panorama tão complexo quanto abominável da mente doentia por trás do monstro que ele foi, e como conseguiu agir por todo esse tempo sem ser capturado.

A série traz um conteúdo muito sensível no que diz respeito aos abusos, à violência, aos assassinatos e à dor das famílias das vítimas, e já deixo o alerta de gatilho desde já.

Nascido na cidade de Milwaukee em 21 de maio de 1960, Jeffrey Lionel Dahmer aterrorizou o estado de Wisconsin, onde foi pego em 1991, quando Tracy Edwards, um homem de 32 anos que fora atraído por ele, ter sobrevivido após horas de puro terror e conseguido fugir do apartamento 213 no complexo Oxford Apartaments, localizado num bairro afro-americano com alto índice de criminalidade e onde sequer existia patrulhamento policial. Dhamer se mudou para esse apartamento em maio de 1990, local onde fez mais 11 vítimas, além das outras 5 que ele já havia assassinado no porão da casa da avó paterna em West Allis durante o tempo que morou com ela, e a primeira vítima, um jovem de 18 anos que ele assassinou em sua própria casa, em 1978.
Após a fuga e a denúncia de Tracy, a polícia foi até seu apartamento e encontrou várias provas dos assassinatos. Dahmer foi preso, confessou e deu detalhes de todos os 17 assassinatos que cometeu durante todos esses anos. Após o julgamento em 1992, Dahmer recebeu 15 sentenças de prisão perpétua, o que somaria mais de 900 anos, e ficou preso no Columbia Correctional Institution, uma prisão de segurança máxima no estado de Wisconsin, onde foi assassinado pelo detento Cristopher Scarver, em 1994, aos 34 anos de idade.



Dahmer mantinha um modus operandi onde geralmente frequentava bares gays e saunas, atraía as vítimas (as quais ele considerava que ninguém sentiria falta) para seu apartamento, em sua maioria negros e homossexuais, e lá oferecia uma bebida batizada com soníferos fortíssimos para que ficassem inconscientes e imóveis, e era quando o horror se iniciava onde Dahmer considerava os corpos como objetos de prazer, com direito a estrangulamento, desmembramento, necrofilia, parafilia e canibalismo contra eles. Como se isso já não fosse macabro e bizarro o bastante, Dahmer guardava crânios e fotos terríveis do processo de desmembramento e multilação, e ainda armazenava partes dos corpos das vítimas na geladeira ou em um tambor de polietinelo cheio de ácido, onde mergulhava seus torsos para que fossem dissolvidos, fazendo com que o mau cheiro se espalhasse pelos dutos, invadindo os apartamentos dos vizinhos causando absoluta repulsa sem que soubessem o que, de fato, ocorria alí. Seus crimes hediondos o tornaram um dos serial killers mais conhecidos dos Estados Unidos, e o que mais choca nessa história toda é a ideia de que ele só conseguiu fazer tudo o que fez, por puro e total descaso por parte das autoridades em investigá-lo por ser um homem branco, até mesmo pelo fato de que, ao que tudo indica, ele não ter nenhuma mente brilhante...



Antes de mais nada tenho que falar sobre a atuação impressionante de todos os atores e como eles realmente passam toda a emoção, sofrimento e indignação por tudo aquilo, mas nada se compara a atuação de Evan Peters no papel de Jeff Dahmer. Se compararmos o comportamento percebido em entrevistas reais do assassino com o ator, parecem ser a mesma pessoa. Não sei se ter feito esse papel vai desgraçar a cabeça de Peters de alguma forma ou enfiá-lo em milhões de sessões de terapia pra superar tamanho peso, e eu espero do fundo do meu coração que ele não tenha ficado com nenhum tipo de trauma por causa disso, mas fiquei realmente impressionada de ver como ele se entregou a esse papel e parecia mesmo um psicopata, sádico e cruel, que me deixou abismada e apavorada. A presença dele nas cenas com aquela cara de que estava planejando atrocidades já causava um extremo desconforto, o olhar frio e calculista me causava pavor. Nenhum outro ator, em nenhum papel, me fez ficar tão horrorizada, socorro.



Enfim, embora a série seja uma espécie de dramatização e muitas cenas tenham sido criadas e adaptadas para as telas (como é o caso de Glenda Cleveland, uma senhora que morava no prédio do outro lado da rua, e não no apartamento ao lado como aparece na série), a história, mesmo que não siga a ordem cronológica dos fatos e fique transitando entre presente e passado sem muitos critérios, foi contada de forma satisfatória e compreensível, principalmente por não ter romantizado o assassino em momento algum e ter evitado ao máximo que se criasse qualquer situação que despertasse alguma simpatia por ele, mostrando a realidade do monstro que ele foi e como tinha consciência de tudo o que fez, e também a realidade daquelas pessoas negligenciadas e tratadas com total descaso pelas autoridades incompetentes, enfrentando racismo e homofobia. Acho que alguns episódios se alongam demais com cenas demoradas onde nada acontece, mas num geral é aquele tipo de série pra maratonar, tamanha a curiosidade pra saber o que vai acontecer e quando finalmente será feita justiça.

Talvez essa ideia de fazer com que quem esteja assistindo imagine o que aconteceu alí seja pior do que ver de fato, e confesso que desde que terminei a série estou com aquela sensação de assombro, chocada. Penso que seja um tanto problemático que existam produções que joguem holofotes sobre criminosos infames e o quanto isso deve afetar os familiares das vítimas, mas o propósito da série em mostrar que o assassino só agiu durante todos esses anos por falta de interesse das autoridades em investigar as várias denúncias que recebiam dos moradores, seja sobre o mau cheiro ou os sons horríveis de gritos e ferramentas que saíam do apartamento dele, foi feito com maestria. Inclusive a iluminação amarelada e esverdeada das cenas dentro do apartamento, ou até mesmo as cenas mais escuras, colaboram com essa imersão, dando aquele ar nauseante de imundície e podridão, e ver as expressões dos vizinhos diante do mau cheiro chega a causar um desconforto real pois chega a ser inimaginável viver num lugar que cheira a morte.



Pra se ter ideia do absurdo, Jeff já havia sido preso por se masturbar em público em frente a crianças, e por drogar e molestar um garoto do Laos de 13 anos que conseguiu escapar, mas basicamente acabou ganhando a liberdade condicional pelo juiz ter se compadecido e considerado que sua aparência - bonito, branco e loiro - era de bom moço, e mesmo que tenha ficado com ficha criminal e um registro de agressor sexual, nunca tinha essa ficha consultada pela polícia quando os moradores do complexo o denunciavam, deixando claro que os negros não tinham nenhuma voz e nunca tinham suas queixas levadas a sério quando o assunto era denunciar um homem branco. O sentimento de indignação e impotência aqui são inevitáveis, e imagino quando tudo foi descoberto o que se passou pela cabeça daquelas pessoas que não sabiam mais o que fazer quando quem deveria resolver o problema não movia um dedo sequer. E depois, mesmo que a polícia tenha sido obrigada a reconhecer o estrago gigantesco que o assassino causou numa tentativa de conter a população inflamada, nada foi feito para reparar os erros punindo os irresponsáveis que poderiam ter evitado várias mortes se tivessem agido a tempo.



Outro ponto interessante é a hipótese levantada sobre o comportamento do criminoso ter surgido devido aos incontáveis medicamentos que sua mãe tomava durante a gravidez (o que inclusive levanta um outro ponto incômodo sobre a necessidade de se conter uma suposta histeria feminina), ou as constantes brigas entre ela e o marido enquanto um Jeffrey criança claramente estava sendo negligenciado, o fato de o pai tentar consertar as coisas incentivando o menino a investir seu tempo em coisas que ele demonstrava interesse, interesse este que envolvia recolher pequenos animais mortos na estrada para dissecá-los, ou ter se tornado um alcoólatra aos 14 anos na intenção de "afastar maus pensamentos". Posteriormente sua obsessão por controle e dominação iriam se entrelaçar com suas habilidades de taxidermia aprendidas com o próprio pai, pois ele já sabia como usar produtos químicos para remover a carne dos ossos para preservá-los. Diante desses fatos, tanto pela ausência do pai quando pelo abandono da mãe que repudiava tudo que o filho fazia, a série passa a ideia de que Jeffrey era uma criança solitária, problemática, que sofria bullying na escola, e que nunca soube o que era ser amado, e essa rejeição supostamente poderia ter desencadeado tal comportamento. E chega a ser triste acompanhar o pai se culpando por todas as vezes que quis "se livrar" do filho o mandando pra faculdade ou pro exército como se isso fosse corrigí-lo, ou pra casa da avó quando ele é expulso e não tem pra onde ir, e quando fica arrependido por acreditar que se tivesse observado o filho mais de perto e lhe dado mais atenção, que ele não teria se tornado esse monstro.

Quando pensamos que o horror chega ao fim, a série ainda mostra que ainda existem pessoas por aí que se tornam fãs de assassinos, que enviam cartas, dinheiro, que tem interesse em colecionar seus pertences, que propõe relacionamentos a eles, que tatuam o rosto deles em seus corpos (???)... A mente humana realmente é um troço inexplicável, e por mais que eu entenda essa curiosidade natural que as pessoas têm por casos criminais, pra mim é inconcebível e inaceitável que alguém seja tão desprovido de bom senso e respeito quando acha uma boa ideia idolatrar um assassino tão diabólico.



No mais, a minha avaliação aqui é para a série de forma geral, pra atuação dos atores e como tudo foi retratado a fim de manter a exposição das vítimas na medida necessária pra se fazer entender e tentar respeitar as famílias (coisa que acho meio difícil, já que produzir a série já é uma forma de relembrar o sofrimento vivido ao colocar Jeff em evidência mais uma vez depois de tantos anos). Dahmer conta a história perturbadora desse assassino cruel, e mostra os horrores que ele foi capaz de fazer contra a vida de inocentes, mas também faz questão de colocar em evidência os nomes e algumas das histórias das vítimas, que são as pessoas que realmente deveriam ser lembradas no lugar do criminoso, e como as famílias ficam destruídas pra sempre.

O Golpe - Christopher Reich

4 de janeiro de 2020

Título: O Golpe - Simon Riske Series #1
Autor: Christopher Reich
Editora: Arqueiro
Gênero: Policial/Suspense
Ano: 2019
Páginas: 384
Nota:★★★☆☆
Sinopse: Simon Riske é um espião industrial freelance que, apesar da profissão, consegue ter uma vida relativamente tranquila evitando trabalhos arriscados e sujos e fazendo bicos para bancos, companhias de seguros e o serviço secreto britânico.
Até que o gângster Tino Coluzzi leva a cabo o assalto mais audacioso da história de Paris: o roubo de milhões, em dinheiro vivo, de um príncipe saudita – além de uma carta secreta tão explosiva que pode derrubar governos, redefinir alianças e alterar o equilíbrio de poder no mundo ocidental.
Riske é então contratado pelo governo americano para recuperar o documento, e para isso terá que acertar as contas com um antigo aliado.
No passado, ele e Coluzzi trabalharam juntos, mas a relação criminosa terminou com Riske na prisão. Agora, anos depois, os dois se enfrentam, seguidos de perto por um perigoso policial parisiense, por uma femme fatale russa e o chefe desequilibrado dela – e talvez até pela CIA.

Resenha:  Simon Riske teve um passado conturbado e agora tenta levar uma vida mais sossegada trabalhando em sua oficina, mas, na verdade, ele é um espião industrial com habilidades incríveis e ainda é muito requisitado por bancos, seguradoras e pelo serviço secreto britânico. Como são serviços que pagam bem, ele ainda aceita alguns desses trabalhos, mas dentro das suas próprias regras a fim de evitar maiores riscos. Porém, quando um criminoso se envolve num assalto milionário a um príncipe saudita, Simon é contratado para recuperar uma carta roubada que é importante o suficiente para mudar o cenário político do mundo inteiro e instaurar o caos absoluto se a bendita parar nas mãos erradas...

Esse é aquele tipo de livro que é impossível dar muitos detalhes sem estragar a surpresa, então vou tentar ser o mais sucinta possível pra não dar spoilers mas expressar minha experiência que foi bem positiva. Narrado em terceira pessoa, o enredo em si parece um filme de ação estrelado pelo próprio Jason Statham. Embora tenha alguns floreios e descrições em excesso, a escrita é fluída e empolgante devido ao ritmo frenético de acontecimentos imprevisíveis (?) pelo mundo do crime de Paris, e o autor nos conduz por um caminho, nos leva a acreditar em uma motivação específica, e apresenta reviravoltas mirabolantes depois. Se pensávamos que ia acontecer uma coisa baseado nas informações x e y, pensamos errado. A combinação em excesso de elementos como espionagem, o protagonista genial e super habilidoso, ladrões a solta, a máfia perigosa, traições e amarguras do passado, conspirações e intrigas políticas, perseguições loucas, um psicopata doentio, vingança, uma mulher gostosona (não podia faltar a femme fatale nessa confusão) e entre otras cositas más, torna a trama um tanto exagerada, com enredos simultâneos (se é que isso existe) para render mais sequências para a série.

Eu confesso que nada soa real nessa trama e ela praticamente beira a fantasia, mas tenho que admitir que a escrita do autor é muito boa e ele descreve cenas de ação como poucos. Os personagens, apesar de serem bem estereotipados dentro do gênero (ladrão, espião, mafioso, policial, etc), são bem construídos, principalmente no que diz respeito a personalidade e voz, os vilões tem motivos convincentes para seus propósitos absurdos e no final das contas, O Golpe é um livro que empolga e nos mantém bem entretidos por algumas horas. Pra quem curte suspenses recheados de ação a perder de vista, é leitura que, além de indicada, renderia uma ótima adaptação nas telinhas para os fãs do gênero.

Na Telinha - Inacreditável

16 de setembro de 2019

Título: Inacreditável (Unbelievable)
Temporada: 1 | Episódios: 8
Distribuidora: Netflix
Elenco: Kaitlyn Dever, Merritt Wever, Toni Collette, Danielle Macdonald
Gênero: Drama/Policial
Ano: 2019
Duração: 45min
Classificação: +16
Nota: ★★★★★
Sinopse: Uma jovem é acusada de falsa denúncia de estupro. Anos depois, duas investigadoras encaram casos assustadoramente parecidos.

Inacreditável é uma minissérie cujo roteiro foi uma adaptação bem fiel do livro Falsa acusação: Uma história verdadeira (publicado pela Editora Leya), baseado numa história real. Ela conta os detalhes da injustiça sofrida em 2008 por Marie Adler, uma jovem de dezoito anos que decide denunciar ter sido vítima de um estupro, mas além de ter sido desacreditada pela policia e por pessoas próximas, ainda foi levada a mudar seu depoimento inicial como se ela estivesse mentindo, e depois foi processada por falta acusação. Três anos depois, outro caso de estupro bem semelhante ao de Marie foi denunciado por outra jovem, mas agora, com Karen Duvall - uma mulher - a frente do caso, tudo é tratado de forma bem diferente. Durante as investigações, Karen encontra um padrão e acaba sendo levada a outros casos parecidos que ocorreram em outros distritos, e assim ela une forças com a investigadora Grace Rasmussen numa tentativa de não só descobrirem quem é o maníaco a solta que anda atacando mulheres, como também dar apoio às vítimas que carregariam as sequelas desses ataques para o resto de suas vidas.


Com um tema tão delicado sendo abordado, é impossível assistir à minissérie sem sofrer junto com as personagens, seja pela forma como elas lidam com essa tragédia, ou como as pessoas reagem a isso.
Marie Adler, que sempre viveu em lares adotivos, já não tinha uma vida muito fácil. Ela sempre foi uma garota introspectiva, sem muitos amigos e sem ter com quem contar. Com a agressão que sofreu, ela fica totalmente abalada, mas em vez de receber apoio, só recebe críticas, julgamentos e questionamentos acerca de seu depoimento que, pra polícia, "não faz sentido". Os investigadores não tem pistas do agressor, não há testemunhas, eles ficam insistindo a todo momento para que ela repita o mesmo relato por incontáveis vezes em busca de inconsistências - mas fazendo com que ela reviva aqueles momentos pavorosos em sua cabeça -,sua mãe adotiva a condena por ter um comportamento inadequado fazendo comentários desnecessários e levantando dúvidas diante dos investigadores sobre que tipo de garota ela é, ela passa por diversos procedimentos e exames médicos incômodos e invasivos em busca de provas, mas a única coisa que ela queria era que tudo aquilo acabasse. Mas, por sua reação ter sido considerada "inadequada", os policiais, totalmente incompetentes e sem terem a menor ideia do que fazer para pegar o criminoso por não haver pistas, começam a pressioná-la para que ela confesse que tudo não passou de invenção, que ela só fez aquilo para chamar atenção, e assim eles pudessem encerrar o caso. E Marie, acaba cedendo à pressão. Com isso ela passa a ser evitada por amigos por causa de sua "mentira", começa a ter problemas no trabalho, pensa em suicídio, suas feições mudam e a dor, a impotência e a apatia ficam estampadas em seu rosto, ela precisa se mudar de casa pra tentar se afastar dos julgamentos alheios, se sente perseguida e insegura a todo momento, sofre com as notícias sobre sua falsa acusação na mídia, e sua vida, além de ter ficado marcada pra sempre devido a agressão, ainda vira um verdadeiro inferno.


Em contrapartida, o tom dos episódios é bastante diferente quando são as mulheres que estão liderando as investigações dos demais casos de estupro. A sensibilidade em conversar com as vítimas, lhes dando tempo e compreendendo que cada uma reage de uma forma, e sem duvidar da palavra delas em momento algum, independente de quem sejam, mostra que só as mulheres realmente entendem o que é passar por algo do tipo. O empenho delas durante as investigações é incrível, e por mais que seja um trabalho muito exaustivo e que faz com que elas abram mão de boa parte de suas vidas sociais, mostra que a ideia é ajudar as mulheres a se sentirem mais seguras ao tirar esse maníaco de cena para que ele não faça mais vítimas. E, nesse caso, as vítimas não seguiam um padrão. Foram mulheres mais novas ou mais velhas; negras, ou brancas; gordas ou magras... não importava quem fosse, desde que ele pudesse estar no controle as tratando como presas, e cada uma lidou de forma diferente com o ocorrido. É impossível não ficar agoniada torcendo para que o canalha seja encontrado logo e apodreça atrás das grades para pagar por tudo o que fez a elas.


No desenrolar na série, mesmo que não seja o foco, há várias cenas e diálogos que levantam reflexões, apontando casos como exemplo em que há mulheres que só querem prejudicar o homem com quem se envolveram e o acusam falsamente, enfraquecendo o movimento ou fazendo com que a polícia perca tempo com mentiras, enquanto casos de verdade são desacreditados ou não tratados por causa desses outros. Porém, dentro do contexto da série, são informações dadas por homens, esses machistas idiotas e depravados que acham que se a mulher é estuprada foi porque ela "mereceu", porque se comportou de forma "imprópria", porque bebeu demais, porque se vestiu de forma "inadequada", e coisas do tipo. E é triste saber que também há mulheres que tem o mesmo pensamento, e a mãe adotiva de Marie é exemplo disso. Logo, fica claro que quando são homens que estão a frente do caso, o crime não é tratado da forma que deveria ser e muitas vezes em vez de ajudar, só piora tudo.


O único ponto que eu cheguei a considerar negativo na minissérie, foi alguns diálogos com exposições baratas contendo explicações para alguns procedimentos investigativos. Não sou nenhuma crítica de cinema profissional, mas eu reparo em várias coisas que podem ser consideradas "técnicas" e que acabam interferindo na minha experiência. O que quero dizer com isso é que alguns diálogos servem para que as personagens expliquem, por exemplo, o que é ou como funciona algum tipo de teste, exame, ou o que quer que seja que a policia faça na tentativa de identificar um suspeito, porém, essas explicações são dadas dentro de um contexto onde as personagens, que já são profissionais, não precisariam de explicações pois já sabem como funciona. Quem precisa de explicações é o público, logo essas informações poderiam ser dadas de forma diferente, para um personagem que não tivesse ligação com o trabalho da polícia ou que não tenha conhecimento sobre aquilo para que essas informações tenham uma verdadeira utilidade e a cena pareça mais crível.


No mais, a minissérie é excelente e muito realista, daquelas que mexem com nosso psicológico por dias a fio. A forma como as investigações são conduzidas até conseguirem chegar ao criminoso (com muita dificuldade por sinal) é genial, e a ligação que Marie tem com as investigadoras ao final é emocionante e recompensadora. Tudo mostra que quando são mulheres fazendo um trabalho para mulheres, as coisas mudam de figura e funcionam como deveria, pois só uma mulher consegue se colocar no lugar de outra e imaginar o que esse tipo de trauma pode causar. Pode ser um pouco difícil, doloroso e revoltante acompanhar os episódios, vendo as injustiças sofridas por Marie e como as vítimas tiveram suas vidas marcadas por essa tragédia, mas talvez seja necessário pra que muitas pessoas, inclusive homens, consigam enxergar o quanto esse trauma é devastador na vida da vítima.

Na Telinha - iZombie (1ª Temporada)

4 de maio de 2018

Baseada na HQ iZombie, da Vertigo (selo da DC Comics)
Título: iZombie (iZombie)
Temporada: 1 | Episódios: 13
Elenco: Rose McIver, Malcolm Goodwin, Rahul Kohli, Robert Buckley, David Anders, Aly Michalka, Robert Knepper
Gênero: Policial/Sobrenatural/Terror/Comédia
Ano: 2015
Duração: 42min
Classificação: +14
Nota:
Sinopse: Olivia "Liv" Moore é doce, disciplinada, e uma médica residente com sua trajetória de vida completamente traçada... até a noite em que ela vai à uma festa e se transforma, inesperadamente, em uma zumbi. Agora, como uma morta-viva, ela consegue um emprego em um necrotério para ter acesso aos cérebros dos quais deve se alimentar para manter sua sobrevivência. Mas, a cada cérebro que ela consome, ela herda as memórias de quem ele habitava.

Olivia Moore é uma médica que, após ter sido transformada em zumbi num verdadeiro massacre que aconteceu em uma festa no Lago Washington, abandona sua carreira no hospital e rompe com seu noivo, Major Lilywhite, para trabalhar no necrotério da polícia de Seattle, pois alí ela estaria muito bem servida, obrigada. Como zumbi, além de ficar com a pele pálida e o cabelo platinado, características padrão de zumbis, ela passa a ter a necessidade de comer cérebros, pois só assim ela não se transforma num monstro selvagem que poderia causar o apocalipse. Um zumbi bem alimentado é um zumbi feliz ♥.


Mas o que ninguém imaginava era que, ao comer os cérebros dos defuntos, Liv passa a ter pequenos flashes em primeira pessoa das memórias armazenadas e que antecedem suas mortes, e, para o caso da morte ser um crime, isso acaba sendo de grande ajuda nas investigações.
Agora, com a ajuda de seu chefe e confidente, o Dr. Ravi Chakrabarti, o único que sabe que ela é uma zumbi, Olivia faz de tudo para manter sua condição em segredo ao mesmo tempo que se passa por uma "vidente" para ajudar o detetive cético Clive Babineaux a investigar os crimes que, aparentemente, não parecem ter solução.


Pela série ser baseada na HQ homônima, tanto a abertura quanto as mudanças de "capítulos" são em forma de ilustrações, o que acaba dando um ar bastante descontraído à série. Encontramos mortes horríveis, bastante sangue e um cardápio bastante variado - e grotesco - , desde que se mantenha o ingrediente essencial - os miolos - e que sempre é apresentado através de uma receita diferente e bastante "apetitosa", e com direito a todos os tipos de pimentas das mais ardidas que podem ser encontradas nos supermercados.


A roupagem nova que os zumbis da série ganharam, onde eles podem viver em sociedade sem levantar suspeitas, desde que não lhes faltem cérebros, protetor solar, muita pimenta e, em alguns casos, tinta de cabelo e bronzeamento artificial, é bastante original e interessante e, embora cada episódio se destine a uma morte e um crime distintos, há uma trama que segue pela série onde o zumbi que transformou Liv, Blaine "DeBeers" McDonough, é o principal vilão.


Ele quer ser poderoso e cheio do dinheiro e, pra conseguir atingir seus objetivos, começa a transformar os maiores ricaços da cidade em zumbis para que ele seja o único fornecedor de cérebros para eles. Obviamente ele não recorre aos meios "legais" para tal, principalmente por saber que a existência dos zumbis ainda devem se manter em segredo, então muitos dos crimes a serem resolvidos estão ligados diretamente a esse "negócio" e o que seus capangas/funcionários fazem. O problema é que seus métodos para conseguir cérebros acaba interferindo no trabalho do ex-noivo de Liv, que é assistente social, pois vários garotos de rua começam a desaparecer e Major não pensa duas vezes quando decide fazer as próprias investigações, pois percebe que a polícia não o ajudaria da forma como ele gostaria.


Essa primeira temporada é introdutória, mas conseguiu apresentar os personagens do elenco principal de forma bastante satisfatória e divertida, tanto em objetivos quanto na questão da construção de cada um deles. Por mais que algumas questões acerca das mortes e dos crimes possam ser sérias e pesadas, ainda há espaço para tiradas hilárias e várias referências à cultura pop. Ravi, por exemplo, é um médico legista e cientista inglês (com aquele sotaque carregado) que nas horas vagas trabalha na cura a partir do que ele acredita ser a causa do zumbiismo, o que também dá espaço pra outros plots bem interessantes dentro da trama, mas ele também é super nerd, fã de Star Wars, games, RPG, HQ's e afins. As cenas mais engraçadas, em grande maioria, são protagonizadas por ele. E assim como Ravi, os demais personagens tem seus próprios arcos, sendo possível focar em outros tipos de acontecimentos de suas vidas que nem sempre estão ligados à Liv, como momentos do passado de cada um ou coisas que podemos esperar em episódios e temporadas futuras a partir de suas decisões.


Liv é uma das protagonistas mais peculiares que já acompanhei. Embora ela tenha sido apresentada como uma pessoa doce, certinha e decidida, a medida que ela come os miolos do defunto da semana, ela absorve a personalidade dele e seu comportamento muda drasticamente, seja no jeito de andar, agir, falar e vestir. O detetive Clive fica intrigado com tantas mudanças de comportamento de sua parceira, mas por não saber, e porque não iria mesmo acreditar na condição dela, ele só considera que ela é um tipo de vidente estranha. E ainda temos o relacionamento dela com Major, pois como ele é um cara super bacana, ela não quer perder o contato com ele, então por mais que ela ainda goste dele, e ele dela, Liv prefere manter as coisas na base da amizade para não colocar a vida dele em risco.


Eu realmente tenho que bater palmas para a atuação de Rose McIver para esse papel, pois não deve ser fácil interpretar tantas pessoas diferentes sendo uma só. E apesar do penteado de Liv ser uma graça, é impossível não notar que é uma baita peruca (o que é compreensível, afinal, manter um cabelo platinado não é algo tão fácil... Daenerys quem o diga)... Os cérebros de gelatina também não enganam muito, mas isso é um fator que deixa os episódios ainda mais nojentos (e engraçados).


Enfim, pra quem gosta do gênero policial/investigativo e gosta do universo sobrenatural dos zumbis, iZombie é uma ótima pedida. A série é viciante e deliciosamente divertida.

Deixada Para Trás - Charlie Donlea

19 de janeiro de 2018

Título: Deixada Para Trás
Autor: Charlie Donlea
Editora: Faro Editorial
Gênero: Policial/Suspense
Ano: 2017
Páginas: 368
Nota:★★★★★
Sinopse: Nicole Cutty e Megan McDonald são alunas do ensino médio na pequena cidade de Emerson Bay, Carolina do Norte. Quando elas desaparecem de uma festa na praia em uma noite quente de verão, a polícia inicia uma busca maciça. Nenhuma pista é encontrada e a esperança é quase perdida, até Megan milagrosamente aparecer depois de escapar de um bunker no fundo da floresta.
Um ano depois, o best-seller de sua provação transformou Megan de heróina local para celebridade nacional. É uma história triunfante e inspiradora, exceto por um detalhe inconveniente: Nicole ainda está desaparecida.
A irmã mais velha de Nicole, Livia, é uma perita forense e espera que em um breve dia o corpo de Nicole seja encontrado e entregue a alguém como ela para analisar as provas e finalmente determinar o destino que sua irmã teve. Em vez disso, a primeira pista para o desaparecimento de Nicole vem de outro corpo que aparece no necrotério, de um jovem ligado ao passado de Nicole. Livia vai até Megan para pedir ajuda, esperando descobrir mais sobre a noite em que as duas foram levadas. Outras meninas também desapareceram e Livia está cada vez mais certa de que os casos estão conectados.
Mas Megan sabe mais do que ela revelou em seu livro best-seller. Flashes de memória estão se juntando, apontando para algo mais escuro e mais monstruoso do que sua memória descreve. E quanto mais ela e Livia cavam, mais elas percebem que às vezes o verdadeiro terror está em encontrar exatamente o que você está procurando.

Resenha: Nicole Cutty e Megan McDonald são duas adolescentes que estão no ensino médio na pequena cidade de Emerson Bay, na Carolina do Norte. Durante as férias de verão, as duas desapareceram misteriosamente, o que comoveu a cidade e fez com que as autoridades agissem em busca delas. Duas semanas depois, Megan apareceu. Ela conseguiu escapar do cativeiro no meio da floresta e conseguiu ajuda ao chegar na estrada.

Um ano após o ocorrido, Megan continua tentando seguir em frente, levando a vida como pode, e fazendo terapia, e uma das formas que ela e seu psiquiatra encontraram para ajudar na superação do trauma, foi escrever um livro sobre a trágica experiência. Megan acaba se tornando uma celebridade nacional, e é reconhecida por todos como uma verdadeira heroína. Porém, as pessoas parecem ter se esquecido que Nicole ainda continua desaparecida, com exceção de Livia, irmã mais velha da garota, que não perdeu as esperanças de encontrá-la, nem que fosse para determinar a causa de sua morte.

Impulsionada pela tragédia, ela decidiu estudar patologia forense, e um dia acaba se deparando com um corpo de um rapaz com características que não batiam com a sua suposta causa da morte, e durante suas análises ela descobre que se tratava de Casey Delevan, e que ele conhecia sua irmã desaparecida. Livia não hesitou em investigar a vida do rapaz e começa a fazer descobertas tão sinistras quanto importantes, e por mais que as respostas que encontrava possam ser horríveis, ela estava cada vez mais perto de descobrir o que aconteceu com Nicole. Livia procura por Megan e pede sua ajuda para continuar com as investigações, e pensando que seria o mínimo que poderia fazer, principalmente quando está claro que o desaparecimento está ficando de lado, ela decide ajudá-la.

Deixada para Trás é um romance policial com toques de muito suspense e mistério. A narrativa é muito fluída e empolgante e envolve a rotina forense de uma forma muito realista e plausível, o que demonstra que o autor pesquisou exaustivamente para poder construir a trama da forma mais impecável possível. Os detalhes dos procedimentos de Livia durante suas análises e investigações são descritos com maestria, mas sempre com toques de mistério que envolvem o leitor e o convidam a investigar junto com a personagem, descobrindo as coisas junto com ela.

A própria edição já é um convite ao leitor, pois os capítulos se alternam entre presente e flashbacks do passado que antecedem o sequestro, onde a cor da página é acinzentada.
A narrativa é feita de forma a alternar os pontos de vista dos personagens, e ao mesmo tempo em que temos informações vindas de partes cruciais, também temos que nos atentar a pistas deixadas numa tentativa de solucionar o mistério. O livro é dividido em seis partes, e como os capítulos são curtos, a leitura que já tem um ritmo excelente acaba fluindo ainda mais rápido.

O mais interessante é que o quebra-cabeças que o autor propõe é algo totalmente inesperado, e por mais que o leitor tenha suas suspeitas sobre o autor dos crimes, é difícil prever algo e acertar, pois por mais que tudo esteja intrincado, as reviravoltas são constantes, e cada nova descoberta faz com que a gente perca o fôlego, e por isso o livro superou todas as minhas expectativas, seja pela minha aflição ou pela empolgação ao acompanhar o que estava acontecendo.
Pra quem gosta do gênero, o livro é altamente indicado, principalmente por ser viciante. Uma das minhas melhores leituras, sem dúvidas!

Querida Filha - Elizabeth Little

2 de setembro de 2017

Título: Querida Filha
Autora: Elizabeth Little
Editora: Rocco
Gênero: Suspense/Policial
Ano: 2017
Páginas: 368
Nota:★★★☆☆
Sinopse: A relação mãe e filha – e os segredos que podem se esconder em seus meandros – é o combustível do bem-sucedido romance de estreia de Elizabeth Little, lançamento da coleção Luz Negra, que reúne o melhor do suspense feminino contemporâneo. O livro acompanha a ex-it girl Janie Jenkins, que, ao sair da prisão 10 anos após ter sido condenada pela morte da mãe, só deseja fugir dos holofotes e encontrar o verdadeiro assassino. Só há um problema: Janie não tem certeza absoluta de que não cometeu o crime. E, seguindo a única pista que possui, inicia um périplo que a levará a uma pacata cidade em Dakota do Sul e a um revelador encontro com o passado.

Resenha: Após ter sido condenada pelo assassinato de sua mãe num caso muito mal conduzido e ter passado dez anos na prisão, Jane Jenkins acabou de ser libertada. Sem ter pra onde ir e pra quem voltar, Jane só quer passar despercebida pela imprensa, já que o caso lhe rendeu uma considerável fama, e descobrir quem foi o culpado, mesmo que ela não tenha certeza absoluta de que não cometeu o crime. Ela, então, segue a única pista que tem, uma lembrança de partes de uma conversa que ouviu da mãe antes de sua morte, que a leva para as cidades gêmeas de Ardelle e Adeline, na Dakota do Sul, e lá vai ter revelações inesperadas. Mesmo que o caso tenha tido vários erros e manipulações, a responsabilidade pelo assassinato ainda é considerada de Jane, e quando ela se encontra no anonimato para buscar por respostas, a imprensa, a fim de manter o caso e os rumores sobre o crime em alta, inicia uma verdadeira caçada contra a moça que, sob, pressão precisa agir rápido.

Narrado em primeira pessoa, acompanhamos a história pelo ponto de vista de Jane enquanto ela tenta descobrir quem foi a pessoa realmente responsável pelo assassinato de sua mãe. Em meio a isso, há dúvidas levantadas sobre a própria Jane ser ou não culpada pelo crime.
A premissa em si é bastante atraente, mas, talvez por ser um livro de estreia, não me surpreendi como pensei que me surpreenderia devido ao desenvolvimento da história. A protagonista não é alguém muito agradável e em muitos pontos é praticamente indecifrável. Há personagens construídos de forma a serem imperfeitos e desagradáveis de forma proposital, mas, depois de finalizar a leitura, não acho que a intenção da autora foi essa... Acho que a forma como Jane foi construída pecou em vários pontos. Jane tem vinte e seis anos, ficou muitos anos presa depois de ter sido acusada de matar a mãe, e tem uma personalidade que oscila, com características que não combinam por falta de coerência, o que me fez inclusive duvidar da idade dela. Ela é apresentada como uma it girl, uma patricinha rebelde sem causa, irritante, rasa, rica e com uma aparente necessidade de ser bastante popular, mesmo que tenha sofrido abusos por parte da mãe enquanto ainda era viva. Mais tarde, em suas tentativas de descobrir a verdade, ela ainda precisa lidar com a ideia de fugir dos holofotes e passa a adotar um nome falso, Rebecca, e se disfarçar para não atrair atenção de ninguém, principalmente por haver uma recompensa para quem avistá-la. No decorrer dos acontecimentos, Jane mostra o quanto é esperta e tem a mente aguçada, mas num nível tão além do esperado que não convence. Os mistérios são resolvidos muito facilmente, de forma quase impossível, e acabam subestimando a inteligencia do leitor.

Em meio a narrativa, nos deparamos com mensagens de texto que Jane troca com outros personagens, boletins de ocorrência registrados na polícia, notícias, áudios, emails, documentos e afins, e mesmo que isso seja um recurso já conhecido, de certa forma, dá um dinamismo à trama e até ajuda na compreensão de alguns fatos sem ser cansativo.

Senti que os demais personagens foram jogados no meio do enredo sem muita preocupação com seus papéis, pois ao mesmo tempo que parecem ser importantes para as investigações, ou suspeitos por qualquer motivo, há uma mudança repentina no comportamento, talvez com intenção de forçar a opinião de leitor sobre ele, ou são descartados com a mesma rapidez que apareceram.
Não acho ruim que livros de suspense tenham alguns toques pontuais de bom humor para proporcionar uma certa leveza à trama e servir como forma de escape depois de algumas situações mais tensas que aparecem, mas quando esse toque é excessivo, acaba fugindo da proposta do gênero tornando o desenvolvimento até confuso. E isso se estende até nos pensamentos de Jane e em seus diálogos, que acabam sendo bem fracos ou carregados de frases de impacto que parecem estar alí pra influenciar o leitor a um sentimento que a autora parece querer causar de forma forçada, principalmente com relação às metáforas terríveis que ela utiliza.

Um ponto que achei muito interessante foi o cenário utilizado para o desenrolar da trama, Ardelle/Adeline, pois acabou representando a dicotomia de Jane/Rebecca e o que ela espera descobrir sobre os segredos da família, já que eles poderão ser (ou trazer) as respostas que ela procura. O cenário tem detalhes o bastante e acaba podendo ser considerado como um personagem vívido e que realmente fez diferença em estar alí.

Enfim, não acho que comparar autores, principalmente quando se trata de um livro de estreia, seja algo construtivo nesse caso. Há livros do gênero melhores, é claro, mas mesmo com alguns defeitos, a ideia é promissora e o livro não é uma total perda de tempo. Vale a leitura, nem que seja pela ideia de refletir sobre como a mídia não descansa quando o assunto é o ibope gerado sobre algo de grande repercussão e como a vida dos envolvidos é afetada por isso.

Boneco de Pano - Daniel Cole

26 de junho de 2017

Título: Boneco de Pano - Detetive William Fawkes #1
Autor: Daniel Cole
Editora: Arqueiro
Gênero: Thriller/Policial
Ano: 2017
Páginas: 336
Nota:★★★★☆
Sinopse: O polêmico detetive William Fawkes, conhecido como Wolf, acaba de voltar à ativa depois de meses em tratamento psicológico por conta de uma tentativa de agressão. Ansioso por um caso importante, ele acredita que está diante da grande chance de sua carreira quando Emily Baxter, sua amiga e ex-parceira de trabalho, pede a sua ajuda na investigação de um assassinato. O cadáver é composto por partes do corpo de seis pessoas, costuradas de forma a imitar um boneco de pano.
Enquanto Wolf tenta identificar as vítimas, sua ex-mulher, a repórter Andrea Hall, recebe de uma fonte anônima fotografias da cena do crime, além de uma lista com o nome de seis pessoas – e as datas em que o assassino pretende matar cada uma delas para montar o próximo boneco. O último nome na lista é o de Wolf.
Agora, para salvar a vida do amigo, Emily precisa lutar contra o tempo para descobrir o que conecta as vítimas antes que o criminoso ataque novamente. Ao mesmo tempo, a sentença de morte com data marcada desperta as memórias mais sombrias de Wolf, e o detetive teme que os assassinatos tenham mais a ver com ele – e com seu passado – do que qualquer um possa imaginar.

Resenha: William Oliver Layton-Fawkes, mais conhecido como Wolf , é um detetive excepcional. Em 2010 ele foi responsável pela captura de um serial killer que matou vinte e sete adolescentes. Naguib Khalid, o "suposto" assassino, ficou conhecido como Cremador, pois além de dopar as vítimas, ainda ateava fogo nas jovens ainda vivas. O julgamento durou exaustivos quarenta e seis dias, e todas as provas resultantes da investigação de Wolf incriminavam o réu. Mas, numa reviravolta onde alguns fatos a favor de Khalid e contra a conduta de Wolf foram apresentados, os membros do júri, em sua grande maioria, determinaram sua inocência. Wolf se revoltou com a decisão e num acesso de fúria partiu para a agressão contra o réu inocentado promovendo uma enorme confusão no tribunal. Devido a sua reação violenta e o seu comportamento obsessivo durante as investigações, Wolf foi afastado da polícia e submetido a um tratamento psicológico e quatro anos depois foi convocado novamente quando um novo crime brutal foi descoberto: um corpo formado por partes de outros seis corpos, como um boneco de pano macabro, é encontrado num apartamento. E como se isso não fosse o bastante, a repórter e ex-mulher de Wolf, Andrea Hall, recebe fotos da cena do crime e uma lista com os nomes de seis pessoas seguidos por datas em que seriam assassinadas, e o nome de Wolf era o último da lista.
Wolf, então, se junta a sua ex-parceira, Emily Baxter, a fim de encontrar ligações entre as vítimas e impedir o assassino, que sempre está um passo a frente da policia, de matar mais pessoas. E em meio a tudo isso, Wolf não deixa de considerar que há algo de pessoal nessa história ligado ao seu passado...

A história é narrada em terceira pessoa e a escrita é muito fluída. O ritmo dos acontecimentos é bom, tem toques de humor, algumas referências sobre séries, música, literatura e afins, e descrições que detalham muito bem os cenários e as características de forma que o leitor possa visualizar cada momento como se estivesse lá. A trama é convincente e intrincada o bastante para trazer o devido mistério enquanto tentamos ligar vários pontos em meio ao turbilhão de acontecimentos que estão alí, mas há algumas pequenas ressalvas.
Em alguns momentos fiquei com a impressão de que em determinado ponto houve um outro personagem que teve mais destaque que o próprio protagonista, além do foco maior ter recaído sobre salvar as vítimas da lista. Dessa forma, a investigação sobre a identidade do assassino parece ter perdido a devida importância, e só voltou a ganhar espaço no final da trama, quando as pistas começaram a ser fornecidas até o confronto final. Eu não costumo ter muita paciência para aquelas cenas finais e bem clichês onde vilão começa a falar de seus planos e faz confissões sobre seus crimes acreditando que sairá impune por estar "por cima", enquanto o mocinho ainda perde tempo fazendo observações que prolongam ainda mais a situação de risco em vez de por logo um fim na história, e esse livro não é muito diferente disso. Mas ainda assim, apesar desses fatores terem deixado a história um pouco arrastada, ela é envolvente o bastante para prender nossa atenção, principalmente devido aos bons diálogos e a interação entre os personagens ao longo da trama.

Wolf é o detetive em conflito com seu senso de justiça, e isso trouxe consequências em sua vida. Seu apelido não se remete apenas às iniciais do seu nome, mas também define bem sua personalidade e sua forma de lidar com as coisas. Ele é o lobo solitário e comprometido com o que faz, sempre pensando que suas atitudes e escolhas devem ser em prol de um bem maior.
De forma geral, os personagens são bem desenvolvidos, pois possuem falhas, defeitos e complexidades particulares que os distinguem bem um do outro, assim como suas histórias de vida. Todos eles tem um papel de destaque e são importantes para o desenrolar da história.

O ponto que realmente me fez refletir sobre o livro foi o papel da mídia no caso, que, de certa forma, acaba ilustrando perfeitamente bem a realidade e a forma como os crimes são expostos para a população de forma sensacionalista e colaborando para que o pânico seja disseminado. Não importa a gravidade do que está acontecendo ou como a notícia é repassada, desde que haja audiência.

A capa é a mesma da original e condiz bastante com a história. A parte interna da capa segue o padrão da parte externa, com linhas e respingos de sangue. A diagramação é simples, os capítulos são curtos e seguem na mesma página onde o anterior termina.

Boneco de Pano é livro de estreia do autor inglês Daniel Cole, que inicialmente foi escrito como piloto de uma série de TV. É previsto que este seja o primeiro livro de uma série e acho que há material o bastante para tal, principalmente pelo final que me surpreendeu e me deixou bastante curiosa por ser totalmente comprometedor. Pra quem gosta do gênero, é leitura recomendada.

A Missão - Lena Valenti

8 de junho de 2017

Título: A Missão - Amos e Masmorras #3
Autora: Lena Valenti
Editora: Universo dos Livros
Gênero: Romance/Erótico/Policial
Ano: 2017
Páginas: 272
Nota:★★★★★
Sinopse: Desde o momento em que os agentes Markus Lébedev, da SVR, e Leslie Connelly, do FBI, se conheceram nas Ilhas Virgens, durante a missão Amos e Masmorras, algo tinha ficado bem claro: a tensão sexual e o desejo iam acabar com os dois. Agora, eles terão que trabalhar juntos para tentar desarticular uma das principais redes de tráfico humano da Rússia. Essa nova missão, nos Reinos Esquecidos, vai pôr à prova o profissionalismo, a ética e os valores de cada um. Nesse caso, dividido em duas partes, colocar o coração em risco pode significar perdê-lo para sempre.

Resenha: Nos livros anteriores, Cleo e Lion estavam infiltrados no torneio BDSM Dragões e Masmorras numa missão para resgatarem Les, agente do FBI e irmã de Cleo que fora sequestrada durante sua missão, além de desmantelarem uma rede de tráfico de mulheres e de drogas controlada pela máfia russa. Embora o foco tenha ficado sobre Cleo e Lion, o leitor teve maiores informações sobre o motivo do sequestro de Leslie além de mostrar que ela e Markus já começaram a desenvolver uma quimica explosiva desde quando se conheceram nas Ilhas Virgens. Agora, ao trabalharem juntos numa nova missão, eles terão que enfrentar vários perigos ao se envolverem com a máfia para tentar acabar de uma vez por todas com suas práticas criminosas, além de precisarem lidar com os próprios sentimentos quando só tem um ao outro com quem contar.

Narrado em terceira pessoa, a autora inicia a obra com um resumo sobre os acontecimentos dos primeiros livros para refrescar a memória das leitoras, seja em forma do relatório feito pela agente Cleo sobre a missão Amos e Masmorras, ou através da própria narrativa sobre os feitos de Leslie e algumas das situações que ela passou. Então, por mais que houvesse informações sobre seu envolvimentos com Markus, só agora é que essa relação ganha profundidade a ponto de podermos conhecê-los melhor.

Embora os dois primeiros livros tenham a temática BDSM como principal fator erótico, neste volume, mesmo que haja alguns poucos momentos esporádicos com conteúdo erótico explícito, a autora abre mão do BSDM e concentra a história no jogo de sedução e a tensão sexual entre Leslie e Markus e também no universo policial com mais seriedade, além de se aprofundar nas investigações sobre os crimes cometidos pela máfia russa e como os agentes pretendem acabar com isso.
Um dos pontos mais favoráveis do livro, além da escrita e narrativa super viciantes da autora, é sua habilidade invejável de mesclar temas distintos (e que aparentemente não tem nada a ver um com o outro) de forma orgânica, onde um é complemento do outro sem que nada pareça forçado ou absurdo já que é algo que impulsiona os personagens em suas decisões.

Leslie, agora com mais espaço para ser trabalhada como protagonista, se mostra uma personagem bastante humana e que diferente daquela Les que pareceu bastante fria e calculista, tem sentimentos apesar de ser resistente. Leslie é o oposto de Cleo se formos comparar. Obviamente tal resistência é uma característica esperada já que ela é uma agente da polícia e é comum que ela pareça uma fortaleza, mas é possível enxergar por trás disso quando a autora trabalha suas camadas, principalmente quando Markus entra em cena.
Markus é misterioso e tem seus segredos e diferente de Les, ele não demonstra muito o que sente, logo fica no ar a dúvida sobre ele realmente ser quem diz que é.
O casal não evidencia somente aquela química, principalmente por precisarem colocar de lado a atração que sentem um pelo outro por diversas vezes em nome da missão que se envolveram, mas também que é preciso ter confiança ao trabalharem em equipe.
Esse livro também tem muito mais ação do que os outros, o que é ideal pra quem prefere enredos voltados para investigações em vez de desenvolvimento de relacionamento, mas ainda assim mostra que não importa que aparência alguém tenha, ou o que faça para parecer forte e dominante, há pessoas que tem um coração enorme e só é possível perceber isso com muita convivência a ponto da pessoa sentir confiança e segurança para demonstrar e revelar o que há por trás daquela fachada.

O livro é dividido em 18 capítulos que fluem muito bem. A capa tráz esse homão maravilhoso e a tipografia de costume que combina com as capas dos outros livros da série. As páginas são amarelas e a diagramação está ótima.
O final me deixou clamando pelo próximo livro e foi totalmente inesperado, me deixou com a cara na poeira sem acreditar.

Pra quem já era fã da série, A Missão é leitura obrigatória. Pra quem ainda não conhece e procura por uma história que oferece romance, erotismo e um mergulho no mundo sombrio da máfia russa para que o gênero policial possa ser embutido em meio à trama e esta ter bastante adrenalina, é livro mais do que indicado e que entrou na lista dos favoritos.