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Na Sala dos Espelhos - Liv Strömquist

11 de maio de 2023

Título:
 Na Sala dos Espelhos
Autora: Liv Strömquist
Editora: Quadrinhos da Cia
Gênero: Não Ficção
Ano: 2023
Páginas: 168
Nota:★★★★☆
Sinopse: Por que as fotos que vemos rolar pelo feed das redes sociais podem nos levar a sentimentos de ansiedade, raiva, tristeza e frustração? Quando foi que criamos uma relação voyeurística crônica com nós mesmos? Como, afinal, enxergar a si próprio num mundo dominado pela hiperexposição? Depois dos sucessos de A origem do mundo e A rosa mais vermelha desabrocha, Liv Strömquist volta seu olhar para as imagens que brilham, sedutoras, nas telas dos nossos celulares. Do mito bíblico de Jacó à última sessão de fotos de Marilyn Monroe, da obsessão da imperatriz Sissi da Áustria com magreza e exercício físico ao roubo do busto de Nefertiti ― o rosto mais belo que já existiu ―, a artista sueca investiga o cânone que nos escraviza e tenta encontrar o que há de real atrás de filtros e selfies. Com a ajuda de reflexões de Susan Sontag, Naomi Wolf, Simone Weil, Eva Illouz e da madrasta da Branca de Neve, Na sala dos espelhos se pergunta como a inveja e o instinto competitivo alimentam o consumo compulsivo. Um livro raro, engraçado, com opinião e inteligência singulares.

Resenha: Na Sala dos Espelhos é a terceira HQ focada no universo feminista da autora sueca Liv Strömquist publicada pelo selo Quadrinhos da Cia aqui no Brasil. Nesse volume a autora vai abordar a questão da beleza como um produto a ser ofertado em meio a sociedade de consumo do capitalismo tardio, a necessidade de se vender uma padrão de beleza perfeito, e como esse tipo de conteúdo interfere na vida das reles mortais que acompanham, idolatram e almejam a aparência e o glamour de influenciadoras como Kylie Jenner e afins, fazendo com que existam as que vivem de internet criando de forma compulsiva, e as que vivem na internet consumindo esse conteúdo de forma tão compulsiva quanto.



Vamos acompanhando essa "trajetória" da beleza através de aspectos históricos, filosóficos, políticos e sociológicos e o motivo desse almejo de acordo com a própria concepção de realidade daquela pessoa, seja ele por interesse próprio, pelo interesse em se sentir aceito na sociedade, ou até mesmo pela necessidade de se conseguir ou de se manter um relacionamento.

A autora apresenta estudos e várias teorias de filósofos, sociólogos, escritores e outros, como René Girard, Zygmunt Bauman, Eva Illouz, Hartmut Rosa, Simone Weil e Chris Rojek; exemplos reais encontrados na cultura pop através de celebridades e influenciadores como Kylie Jenner, Kim Kardashian e Marylin Monroe; fatos históricos envolvendo figuras da aristocracia como a imperatriz Isabel da Áustria. Ela também mostra como o machismo, o patriarcado e até a religião estão inseridos nesse contexto mencionando eventos históricos, políticos e bíblicos e como essas questões perduram até a atualidade em tempos de redes acessíveis como Instagram, TikTok e sabe-se lá quais outras redes existem por aí. E, principalmente, como essa ilusão de perfeição e glamour interfere na vida das pessoas.
"Tomamos emprestado nosso desejo do outro, em um movimento tão fundamental, tão original, que o confundimos com a vontade de sermos nós mesmos." - Girard
- Pág. 18

"O essencial é sempre o Outro, um Outro que não importa quem seja, a encarnação de uma totalidade inexpurgável, presente em toda parte e em parte alguma, e que as pessoas insistem em querer seduzir. É o Outro como obstáculo insuperável" - Girard
- Pág. 22

"A fragilidade dos vínculos humanos é atributo proeminente, talvez definidor da vida líquido-moderna." - Bauman
- Pág. 43

"Uma série de novas indústrias ajudou a promover e legitimar a sexualização das mulheres e, mais tarde, dos homens. A sexualidade proporcionou ao capitalismo uma oportunidade fantástica de expansão, porque exigia das pessoas uma incessante encenação de si mesmas e oferecia inúmeras opções para criar um clima sexy. - Illouz
- Pág. 47

"A beleza não contém nenhum fim. A beleza sozinha não é um instrumento para outra coisa. Ela é boa em si, mas não encontramos nela nenhum bem." - Weil
- Pág. 119

"Uma coisa bela não contém nenhum bem senão ela mesma. Vamos até ela sem saber o que lhe pedir. Ela nos oferece a própria existência. Não desejamos outra coisa, possuímos isso, mas continuamos desejando. Não sabemos o quê. Queremos ver por trás da beleza, mas ela é apenas a superfície. É como um espelho que reflete nosso desejo pelo bem." - Weil
- Pág. 123
Assim como nos livros anteriores, a HQ tem ilustrações simples, com textos informativos, bem humorados, irônicos e reflexivos que conseguem transmitir a mensagem que a autora quer passar mesmo que este tenha um tom mais sério (talvez devido a complexidade do tema). O que fica em evidência é a ideia de se viver ilusões, sobre como as pessoas se escravizam e travam verdadeiras batalhas consigo mesmas em nome de um corpo e uma aparência perfeita baseada na aparência de alguém simplesmente inalcançável.

Inicialmente a sensação é que autora quer falar sobre a história da estética e mostrar todos os problemas que dizem respeito a essa busca incessante pelo corpo perfeito, pelo rosto perfeito e pela vida perfeita de influenciadoras que as pessoas encontram nas redes e almejam pra si mesmas a ponto de, em muitos casos, se tornar uma verdadeira obsessão. Isso acaba desencadeando comparações absurdas onde vai aparecer gente que se sinta inferior por não corresponder àquela imagem e tendo problemas seríssimos de autoestima, ou se sentindo pressionada a ser igual a quem acompanha. O livro inclusive lembra do caso em que várias pessoas entraram num desafio descabido de fazerem pressão com a boca num copo pra ficarem com os lábios enormes de tão inchados, porque essa imagem da boca grande e carnuda é a mais bonita, é a mais atrativa, é o que está na moda. A autora não só dá exemplos reais, como também procura na ciência explicações para esses fenômenos comportamentais em que várias pessoas começam a fazer coisas que naturalmente não fariam, se não fossem a influência de outra pessoa.



Ao final, os pontos abordados pela autora e que trazem diversas reflexões sobre essa questão da imagem são um meio de se chegar a mensagem que captei ao ler o livro, que fala da pressão social a que muitas pessoas estão submetidas, das mudanças de padrões que nem sempre são necessárias, da aceitação e autoestima que são os principais fatores submetidos a esses conteúdos, o contraste do que é mostrado nas imagens e o que fica nos bastidores, e principalmente da saúde mental fragilizada por vivermos numa era digital com informações vindas de pessoas que simplesmente definiram o que é beleza e saem por aí impondo e influenciando os outros sem ter a menor ideia das consequências que isso causa. Por mais que determinadas postagens tenham a intenção de mostrar um lado real (ou imperfeito) do que quer que seja, ela não deixa de fazer parte de uma performance consumível que continua alimentando a indústria de anúncios (engordando cada vez mais os bolsos da burguesia) e mantendo as pessoas cada vez mais dependentes de redes sociais e telas em geral.

No mais, acho que o título do livro serviu muito bem, pois ele vai se referir a necessidade que todos deveriam ter de olhar no espelho, em introspecção, pra descobrirmos quem somos na realidade, em vez de olhar e procurar no outro.

Todo Dia a Mesma Noite - Daniela Arbex

20 de janeiro de 2023

Título:
Todo Dia a Mesma Noite - A História Não Contada da Boate Kiss
Autora: Daniela Arbex
Editora: Intrínseca
Gênero: Não ficção
Ano: 2018
Páginas: 248
Nota:★★★★★
Sinopse: Reportagem definitiva sobre a tragédia que abateu a cidade de Santa Maria em 2013 relembra e homenageia os 242 mortos no incêndio da Boate Kiss.

Daniela Arbex reafirma seu lugar como uma das jornalistas mais relevantes do país, veterana em reportagens de fôlego - premiada por duas vezes com o prêmio Jabuti - ao reconstituir de maneira sensível e inédita os eventos da madrugada de 27 de janeiro de 2013, quando a cidade de Santa Maria perdeu de uma só vez 242 vidas.
Foram necessárias centenas de horas dos depomentos de sobreviventes, familiares das vítimas, equipes de resgate e profissionais da área da saúde - ouvidos pela primeira vez neste livro -, para sentir e entender a verdadeira dimensão de uma tragédia sobre a qual já se pensava saber quase tudo. A autora construiu um memorial contra o esquecimento dessa noite tenebrosa, que nos transporta até o momento em que as pessoas se amontoaram nos banheiros da Kiss em busca de ar, ao ginásio onde pais foram buscar seus filhos mortos, aos hospitais onde se tentava desesperadamente salvar as vidas que se esvaíam. Foi também em busca dos que continuam vivos, dos dias seguintes, das consequências de descuidos banalizados por empresários, políticos e cidadãos.

Resenha: Em 27 de janeiro de 2013 uma das piores tragédias já vistas no mundo aconteceu na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul: 242 jovens, com idade entre 18 e 30 anos, morreram no incêndio da Boate Kiss. 10 anos depois, a tragédia ainda causa muito abalo, seja por ter afetado as famílias das vítimas pra sempre, ou por todos os absurdos que vieram à tona durante as investigações e o julgamento dos responsáveis.
Todo dia a Mesma Noite, da jornalista Daniela Arbex, foi escrito 5 após após a tragédia, mas continua atual e muito necessário pra compreendermos o quanto as coisas no Brasil são tratadas com negligência quando o assunto envolve justiça, política, dinheiro e oportunismo. A Netflix já está prestes a lançar uma minisérie sobre o ocorrido após esses 10 anos de um enorme luto que se tornou e continua a ser uma luta.

A autora coletou centenas de horas de depoimentos dos familiares das vítimas, dos profissionais de saúde e das equipes de resgate que trabalharam incansavelmente, e dos sobreviventes para criar essa reportagem comovente, humana e cheia de detalhes em forma de livro, para que as pessoas entendessem que o acidente além de ter deixado vários mortos, ainda destruiu e mudou completamente a vida de quem ficou. É possível ver de perto a angústia e a dor das famílias ao procurarem desesperadamente por notícias e saber que o pior tinha acontecido, ou ainda ter que lidar com situações escabrosas vindas de pessoas sem um pingo de humanidade, como foi o caso das funerárias que superfaturaram vendas de caixões, de políticos tentando se promover, de pessoas "religiosas" que culparam os pais pela morte dos filhos por permitirem que eles frequentassem lugares do "diabo", do ministério público processando os pais enlutados e clamando por justiça por "calúnia", e até de outras criaturas abismais que tentaram tirar fotos dos corpos descobertos das vítimas enfileiradas no ginásio sem se preocupar com a violação terrível que estavam cometendo e pra fazer sabe-se lá Deus o que. Em contrapartida, a autora também fala sobre o altruísmo de boa parte da população que fez de tudo pra ajudar, como taxistas que levaram as pessoas aos lugares sem cobrar, moradores que ajudaram as pessoas com água e comida, e até pessoas que conseguiram escapar mas tiveram o instinto de voltarem pra boate pra tentar resgatar mais gente. Alguns sobreviveram, mas outros não tiveram essa sorte, pois na intenção de ajudar, acabaram perdendo suas vidas também.

Apesar de ser um livro com capítulos curtos e de leitura muito rápida, levei 3 dias pra ler, pra poder lidar com os fatos, pra digerir a tragédia, pra me recompor e ter um pouco de forças pra continuar, mas no final o esforço vale a pena. A autora fala tudo aquilo que precisa ser dito com empatia, respeito e solidariedade, mas sem diminuir a dimensão do que essa tragédia representou.
É uma leitura difícil e pesada, que emociona pela abordagem delicada sobre como era a vida de alguns desses jovens que perderam suas vidas, como eles eram, o que faziam, seus sonhos, SEUS NOMES, e o relacionamento com suas famílias que foram interrompidos por uma tragédia que poderia ter sido evitada se várias irregularidades não tivessem sido cometidas, causando uma grande revolta, mas acredito ser muito necessária pra podermos compreender que existe pessoas boas e dispostas a ajudar o próximo, mas também há muita podridão na sociedade que desmecere ou tenta lucrar em cima da dor e do sofrimento alheio.

Maternidades no Plural - Várias Autoras

14 de outubro de 2021

Título:
Maternidades no Plural: Retratos de diferentes formas de maternar
Autora: Annie Baracat, Deh Bastos, Glaucia Batista, Ligia Moreiras, Marcela Tiboni, Mariana Camardelli
Editora: Fontanar
Gênero: Não Ficção/Maternidade
Ano: 2021
Páginas: 236
Nota:★★★★★
Compre: Amazon
Sinopse: Não existe jeito certo de ser mãe: maternar é um amplo leque de possibilidades.
Annie Baracat, por exemplo, enfrentou resistência até de amigos quando adotou uma criança e se tornou mãe solo por opção. Já Ligia Moreiras nunca sonhou em ser mãe, mas aprendeu a percorrer o caminho da maternidade sozinha e hoje ajuda outras mulheres a fazerem o mesmo. Junto com seu primeiro filho, Deh Bastos nasceu como mãe e renasceu como mulher preta. Glaucia Batista não imaginava que teria que se adaptar à maternidade atípica, mas passou por esse processo duas vezes. Depois de abandonar o projeto hollywoodiano de família heteronormativa, Marcela Tiboni pôde vivenciar a dupla maternidade. Mariana Camardelli, por sua vez, aprendeu na prática que é possível maternar (e amar) filhos que não são seus.
Aqui estão algumas das muitas maneiras possíveis de cuidar e de ser mãe em um mundo cada vez mais diverso e aberto às diferenças.

Resenha: Como mãe, acredito que eu tenha um tico de propriedade pra falar sobre o que é a maternidade real e o quanto isso pesa na vida da mulher. Quem acompanha o blog já deve ter visto várias postagens onde faço desabafos sobre minhas dificuldades e sobre meu esgotamento físico e mental por ser mãe de quatro filhos e dona de casa em tempo integral. Não tenho com quem conversar sobre (talvez por isso use o blog pra escrever o que me deixa angustiada e isso acaba sendo de grande ajuda), não tenho rede de apoio, então tudo acaba sendo mais difícil do que eu acredito que deveria ser. Sempre que possível, procuro ler relatos de outras mães sobre suas experiências, e assim consigo ver que essas dificuldades não são só minhas, e foi por isso que resolvi ler esse livro.

Maternidades no Plural é um compilado de relatos sobre a experiências das autoras com a maternidade. Experiências estas que expõe os desafios de ser mãe, cada uma com a própria realidade, mostrando que não se tem e cria filhos somente dentro do conceito de "família tradicional". E ler esses relatos, vários deles contendo estatísticas de vários estudos sobre o tema, foi como ter uma conversa com as autoras, onde elas contam, cada uma a sua maneira, como elas vivem a maternidade, ao mesmo tempo que lidam com a sociedade atual, que não só romantiza a maternidade, como também não abre mão dos seus eternos julgamentos.

São relatos intensos e comoventes onde é impossível não se identificar com pelo menos um deles. Relatos que abordam as burocracias que parecem não ter fim e o preconceito dos outros quando duas mulheres casadas decidem ser mães; a conciliação da carreira com a maternidade solo e as conturbações da guarda compartilhada; os anseios, os desafios e os eternos aprendizados da maternidade atípica, por se ter um filho que está no espectro autista; a experiência de entrar num relacionamento onde o parceiro já tem filhos e a mulher além de passar a ter a posição de madrasta, aprende a amar incondicionalmente os filhos que não são seus mostrando que nem sempre a madrasta é aquela bruxa má dos desenhos infantis; a enorme mudança na vida de uma mulher que, solteira, decide adotar uma criança por ter o sonho de ser mãe mas não querer passar por um relacionamento e nem pela gravidez, mostrando a realidade da fila de adoção, das burocracias e dos anseios de acolher e criar uma criança que foi abandonada e já carrega esse trauma desde muito pequena; e, pra finalizar, a mulher que passou a vida inteira sofrendo preconceito por causa do racismo estrutural presente na sociedade, e que, ao se tornar mãe, viu a importância de lutar contra esse sistema e ensinar as crianças sobre o assunto, o que é um passo enorme para levantar inúmeros questionamentos e começar a fazer alguma mudança.
"Foi muito cedo que entendemos que parte da sociedade valida o abandono paterno diante da estatística de que mais de 6 milhões de cidadãos brasileiros não têm o nome do pai na certidão, mas recrimina um casal de mulheres por escolher ter filhos sem a presença masculina. Dois pesos, duas medidas, e nossa jornada só estaria começando." (Marcela Tiboni)
"Não há paz quando há sobrecarga materna. Pergunte para uma mãe solo cansada, exausta e invisibilizada se ela se sente em paz." (Ligia Moreiras)
"Misoginia é o ódio à mulher, tem a ver com sentimentos de repulsa e de aversão. Na nossa cultura, ela se manifesta de algumas formas: objetificação da mulher, comportamentos agressivos, depreciação, violência e feminicídio.
No caso das famílias recompostas, está ligada ao fato de admirarmos um homem que cria um filho de outro (padrasto), mas rechaçamos uma mulher que cria um filho de outra (madrasta). O primeiro é herói, merece crédito e honra. A segunda é apenas uma mulher competindo e tentando roubar o lugar da mãe. Essa narrativa ajuda a sustentar o sistema patriarcal, extremamente machista, sexista e desigual." (Mariana Camardelli)
Enfim, cada mãe falando da sua realidade na maternidade, e por mais que todos os casos sejam diferentes, com histórias de vida diferentes e experiências diferentes, todas têm em comum a jornada do aprendizado, o amor pelos filhos e a vontade de lutar de forma incansável pra fazer com que essas crianças sejam felizes. É necessário que a sociedade entenda que nenhuma mãe é igual a outra, que cada mãe tem sua própria realidade, e todas elas, juntamente com seus filhos, devem ser respeitadas e acolhidas em vez de serem inseridas em determinados estereótipos como se isso fosse legal e aceitável, como se a opinião alheia correspondesse à realidade quando a gente sabe que não é assim que funciona, principalmente quando se trata de uma mãe que se encaixa num desses modelos dos relatos.

Penso que esse é o tipo de livro com informações mais do que relevantes para se levar e se praticar na vida, que deveria ser lido por todos a fim de compreenderem não só o que é a maternidade real em todos os seus aspectos, e como ser mãe muda a vida da mulher pra sempre, mas também a importância do feminismo e desse tipo de ativismo para todas essas mulheres, que todo dia enfrentam essa sociedade que ainda não abandonou o patriarcado e nem os estereótipos construídos há séculos atrás.

Com que Roupa? - Giovanna Nader

8 de outubro de 2021

Título:
Com que Roupa?
Autora: Giovanna Nader
Editora: Paralela
Gênero: Não ficção
Ano: 2021
Páginas: 200
Nota:★★★★★
Compre: Amazon
Sinopse: Você já parou para pensar no impacto que uma única blusinha tem no meio ambiente? Uma peça simples como essa pode parecer inofensiva, mas, considerando os agrotóxicos e pesticidas utilizados nas plantações de fibras de tecido, a desigualdade social entre trabalhadores e consumidores e a quantidade de poliéster e microplásticos liberados por nossas roupas na lavagem, é impossível separar o mercado da moda da crise climática. Ao mesmo tempo, é impossível pensar na vida sem a existência da moda. Então qual é a melhor maneira de se relacionar com esse universo tão complexo e essencial?
Em Com que roupa?: Guia prático de moda sustentável, a comunicadora e ativista ambiental Giovanna Nader convida o leitor a participar de uma jornada para reinventar sua relação com a moda. Nestas páginas você vai encontrar dicas de estilo, técnicas para preservar mais as suas roupas e orientações para consumir menos e melhor.

Resenha: Giovanna Nader é ativista ambiental, consultora de moda e apresenta o programa Se Essa Roupa Fosse Minha na GNT, e em seu livro Com que Roupa?, publicado pelo selo Paralela da Companhia das Letras, a mineira vai mostrar aos leitores, através de um guia super prático de moda sustentável, que é importante que as pessoas se unam em prol de ajudar o planeta a partir de escolhas relacionadas ao consumo mais conscientes.

A autora se aprofunda em tópicos importantes, como os impactos causados no meio ambiente desencadeados pela alta produção, sobre condições de trabalho das pessoas que trabalham nesse meio de consumo e que muitas das vezes são bem precárias, e sobre como a indústria gira num ciclo vicioso e sem fim, que incentiva o consumismo desenfreado das pessoas cada vez mais, trazendo reflexões - e não soluções - sobre problemas sérios e atuais que estão presentes no cotidiano, mas que por costume ou ignorância acabamos nem percebendo os malefícios que comportamentos, aparentemente inofensivos que temos, podem causar.

Sendo assim, mesmo que não haja nenhuma imposição por parte da autora, podemos encontrar no livro alternativas inteligentes e informações esclarecedoras para impulsionar e melhorar hábitos, e ajudar a amenizar essa problemática trabalhada, tendo acesso a opções diversificadas para se renovar o guarda roupa, reaproveitar ou personalizar uma peça esquecida e "fora de moda", dicas de estilo e economia na hora de comprar, e etc.

É um livro super legal que todos deveriam ler, seja pra esfriar a cabeça e sair de uma ressaca literária após uma leitura mais densa, ou simplesmente a título de curiosidade sobre os impactos da moda em geral no meio ambiente. Recomendo muito!

"Por uma moda mais ética, humana e sustentável."

A Rosa Mais Vermelha Desabrocha - Liv Strömquist

6 de outubro de 2021

Título:
A Rosa Mais Vermelha Desabrocha - O amor nos tempos do capitalismo tardio ou por que as pessoas se apaixonam tão raramente hoje em dia
Autora: Liv Strömquist
Editora: Quadrinhos na Cia
Gênero: HQ/Não Ficção
Ano: 2021
Páginas: 176
Nota:★★★★★
Sinopse: Podemos controlar o amor? O que realmente acontece quando ele acaba? Como o amor deixou de ser considerado uma força misteriosa para se tornar algo racionalmente explicável? Por que procuramos ser mais amados do que amar?
Com muito humor e inteligência, e o título emprestado de um verso da poeta norte-americana Hilda Doolittle, A rosa mais vermelha desabrocha examina as engrenagens do amor nos tempos do capitalismo tardio. A partir de histórias como a de Sócrates, que traiu Alcibíades há mais de dois mil anos, ou a de Teseu, que abandonou a amada Ariadne de uma hora para outra na ilha de Naxos, e com a ajuda de Beyoncé, do filósofo Sören Kierkegaard, dos smurfs, da namorada alucinada de Lorde Byron, de Platão, de Jabba de Star Wars, e de outros especialistas na arte de amar, a artista sueca Liv Strömquist mais uma vez desconstrói mitos e se afirma como uma das quadrinistas mais relevantes da atualidade.

Resenha: Depois de conquistar os leitores com a HQ A Origem do Mundo, a autora sueca Liv Strömquist está de volta com A Rosa Mais Vermelha Desabrocha, publicado no Brasil pelo selo Quadrinhos na Cia, da Companhia das Letras.

O livro vai abordar de uma forma bem didática, utilizando de vários fundamentos acadêmicos, a evolução do amor desde a era medieval até os dias atuais, apontando seus prós e contras, e as diversas teorias filosóficas e seus embasamentos intelectuais que lhe são aplicadas para reforçar seus pontos e argumentos.

A autora evidencia e faz comparações relacionadas a vários ícones, de Sócrates a Leonardo DiCaprio, abordando alguns de seus relacionamentos, assim como levanta temas importantes, como fatores que interferem na autoestima e na confiança, de onde surgiu e quais as consequências do narcisismo, a responsabilidade afetiva, a falta de interesse em um amor duradouro, a diferença envolvendo ter privilégios ou não entre homens e mulheres, e afins, os estudando através de estatísticas e situações corriqueiras, e com base nos conhecimentos de grandes especialistas nas área da filosofia e da sociologia, sempre usando do bom humor. E por mais que haja bastante dados e informações, a leitura não fica cansativa, muito pelo contrário, só mostra que os fatos estão aí e não podem ser contestados, mas sim discutidos para que mais e mais pessoas se informem e reflitam sobre o assunto.




Pra quem gosta de HQs que trazem temas relevantes na sociedade atual, que é capaz de promover debates e fazer com que os leitores pensem de forma mais crítica sobre relacionamentos num geral, é uma excelente e esclarecedora leitura.

Suzane - Assassina e Manipuladora - Ullisses Campbell

28 de setembro de 2021

Título:
Suzane - Assassina e Manipuladora
Autor: Ullisses Campbell
Editora: Matrix
Gênero: True Crime/Biografia/Não ficção
Ano: 2020
Páginas: 258
Nota:★★★★☆
Sinopse: Suzane Louise von Richthofen é uma lenda do mundo do crime. Em 30 de outubro de 2002, ela abriu a porta de casa para guiar os matadores dos seus pais. Enquanto dormiam, Manfred e Marísia morreram com dezenas de pauladas, desferidas pelo namorado de Suzane e pelo irmão dele, Daniel e Cristian Cravinhos. O crime abalou o país. Pela monstruosidade, a assassina recebeu dois vereditos: o primeiro saiu do Tribunal do Júri em 2006, quando foi condenada a 39 anos de cadeia. A segunda sentença foi proferida pelo Tribunal do Crime, existente dentro das penitenciárias. A comunidade prisional não perdoa pedófilos, estupradores, nem filhos que matam os pais. A menina rica, branca e de cabelos loiros foi condenada. As mulheres sanguinárias do PCC receberam a missão de matá-la dentro da Penitenciária Feminina da Capital, ainda nos anos 2000. Esperta, extremamente manipuladora, Suzane sobreviveu. Este livro esquadrinha o caminho que a criminosa trilhou desde que foi presa pela primeira vez até o momento em que começou a sair da prisão. Para detalhar a vida da assassina, o repórter Ullisses Campbell realizou dezenas de entrevistas e mergulhou nos emaranhados universos do Direito Penal e da Psicologia Forense. A obra mostra uma Suzane que deseja se casar no religioso, virar pastora evangélica e que nutre um sonho agora revelado.

Resenha: Depois da estreia dos filmes sobre um dos homicídios mais escabrosos do Brasil ocorrido em 2002, o caso dos von Richthofen e dos irmãos Cravinhos voltou à tona, e muita gente começou a procurar mais fontes de informações sobre o que aconteceu e o que os envolvidos andam fazendo desde que tiveram a prisão decretada.

Manfred Alfred von Richthofen nasceu na Alemanha e veio com a família para o Brasil na década de 50 onde se naturalizaram como brasileiros. Manfred foi sobrinho neto de Manfred Albrecht Freiherr von Richthofen, um aviador alemão que ficou conhecido como Barão Vermelho. Ele fez parte da história, onde lutou na Primeira Guerra Mundial entre 1914 e 1918, servindo no braço aéreo do Exército Imperial Alemão, e se tornou o piloto de caça mais famoso da Alemanha por ter abatido cerca de 80 aviões de tropas inimigas. Manfred cultuava o mito pelo tio-avô e sempre foi um grande admirador de aeronaves, tanto que depois de já ter constituído sua família com Marísia, sua esposa, presenteou seu filho Andreas com um aeromodelo caríssimo em seu aniversário. Ao procurar um professor de aeromodelismo para montar o objeto e ensinar o filho a controlá-lo, ele acabou apresentando Suzane a Daniel, o professor de Andreas, e a partir daí o destino da família foi traçado.

Suzane e Daniel se conheceram no parque do Ibirapuera em 1999 durante uma dessas aulas de aeromodelismo do irmão Andreas, e pouco tempo depois engataram um namoro. No começo seus pais não deram muita importância, acreditaram se tratar de um namorinho adolescente e que acabaria logo, mas quando perceberam que a filha estava saindo dos trilhos, começaram a implicar e proibiram o namoro com Daniel. A diferença de classe também foi um dos motivos para que não aceitassem o namoro, pois os Richthofen era uma família muito rica da zona sul de São Paulo e os Cravinhos eram de classe média, "inferiores". Manfred era um engenheiro bem sucedido que inclusive participou do projeto de construção do Rodoanel Mário Covas, e Marísia uma psiquiatra bastante renomada. E por mais que, aparentemente, fossem pessoas frias, eles sempre deram do bom e do melhor para os filhos, mas faziam questão de controla-los impondo regras e condições que Suzane não queria mais seguir depois de ter experimentado a "liberdade" na companhia de Daniel, liberdade essa que incluía sexo, drogas e nenhum limite. Assim, acreditando que só poderiam viver esse amor avassalador para serem felizes se os pais de Suzana não existissem, eles arquitetaram um plano para não só matar Manfred e Marísia, mas também saírem impunes para que Suzane botasse as mãos na herança milionária e pudesse continuar usufruindo dos bens e da fortuna junto com o namorado. E mesmo com a tentativa de não deixar provas que os incriminassem, vários erros foram cometidos, incluindo o comportamento de Suzana frente à tragédia, resultando na prisão dos três num tempo relativamente curto após o crime.

Suzane - Assassina e Manipuladora é um livro escrito pelo jornalista paraense Ullisses Campbell, publicado em 2020 pela Editora Matrix, e depois de pesquisas intensas, acesso a documentos e reportagens, e várias entrevistas feitas com pessoas diretamente ligadas aos assassinos feita pelo autor, podemos encontrar no livro uma fonte de informações e curiosidades bastante rica sobre esse caso que explodiu na mídia e chocou (e ainda choca) o Brasil.

Além de discorrer sobre o crime, descrevendo os detalhes cruéis e chocantes do assassinato a sangue frio de Manfred e Marísia, o jornalista aborda o relacionamento doentio de Suzane e Daniel evidenciando, através de relatos, depoimentos e confissões, qual foi a motivação que os levaram a cometer essa atrocidade e as consequências disso. O autor também dedica espaço para falar sobre Andreas, como ele se comportava e idolatrava Daniel antes do assassinato dos pais, e o que ele fez depois da condenação de Suzane, principalmente com relação a herança, mas não se aprofunda muito numa versão dos fatos pela visão do garoto já que o mesmo preferiu se reservar e não ter mais contato com a irmã.

A escrita é simples, objetiva e bem didática, e percebemos um toque de dramatização através dos diálogos que aparecem nas cenas (dos quais, obviamente, não podemos ter certeza se realmente aconteceram daquela forma), que se misturam com as informações, com os fatos, e com os relatos apresentados a fim de trazer uma riqueza maior de detalhes. A partir desses acontecimentos não temos uma visão somente sobre a personalidade do trio, mas também sobre o funcionamento do sistema penal, a diferença de tratamento de crimes que se tornam midiáticos para os que  mal são noticiados, assim como o comportamento dos detentos nas penitenciárias, que também possuem um tipo de hierarquia e criam seus próprios tribunais de acordo com a gravidade do crime cometido pelo recém chegado. Campbell também explica como Suzane conseguiu sobreviver mesmo sendo um alvo dentro da prisão, e como conseguiu se tornar a líder da penitenciária e ter várias regalias através de incontáveis artimanhas, usando de manipulação, vitimismo, sedução e muita inteligência. O autor também aborda algumas entrevistas famosas, como a que foi feita para o Gugu e pro Fantástico, e fala dos crimes cometidos por outros presos e presas que acabam se aproximando e fazendo amizade com os assassinos, e chega a ser inacreditável saber do que o ser humano é capaz de fazer contra outro. São crimes tão terríveis, se não piores, do que o planejado por Suzane, só não ganharam holofotes.

"Um fantasma, um jardim, diabos e um corpo de cara virada"

Cada capítulo se inicia com uma imagem que faz parte do teste psicológico de Roschach seguido de uma descrição feita pela própria Suzane indicando o que ela vê em meios aquelas manchas. Esse teste costuma ser aplicado em alguns criminosos que pleiteiam o regime semiaberto. Embora tenha passado em outros testes mais simples e ter sido considerada apta a voltar a viver em sociedade por alguns profissionais (sabe-se lá como), ela não consegue passar no de Roschach, e o autor mostra as explicações de acordo com os estudos científicos.

Como li pelo Kindle, não posso opinar sobre a parte física em si, mas a revisão em muitos pontos deixou a desejar. Percebi alguns erros e alguns trechos mal escritos e confusos, mas fora isso, é aquele tipo de leitura empolgante, que não desgrudamos. Ao final também há algumas fotos dos criminosos e uma breve descrição do local e da situação em que foram tiradas.

Enfim, pra quem gosta de livros que abordam crimes reais e tem curiosidade de saber mais detalhes sobre o caso da família Richthofen e dos irmãos Cravinhos, é leitura mais do que indicada, pois há muito mais informação do que as passados nos filmes (que foram baseados apenas nos depoimentos que os acusados deram no julgamento), e mesmo que não seja possível "julgar", é possível termos plena noção do que essa moça é capaz e como sua cabeça funciona, e posso afirmar que é tão fascinante quanto assustador. Pra complementar, recomendo também entrevistas disponíveis no YouTube com o perito criminal que iniciou as investigações do caso, Ricardo Salada, e o livro "Casos de Família", da escritora Ilana Casoy.

A Terra Inabitável - David Wallace-Wells

2 de setembro de 2019

Título: A Terra Inabitável
Autor: David Wallace-Wells
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Não ficção
Ano: 2019
Páginas: 384
Nota: ★★★★☆
Sinopse: É pior, muito pior do que você imagina. O ritmo lento atribuído à mudança climática é um mito; talvez tão pernicioso quanto aquele que nega sua existência por completo. Mortes por calor, fome, enchentes, queimadas, queda da qualidade do ar, desertificação, colapso econômico... Essa é só uma amostra do que está por vir. E a mudança acontecerá muito rápido. Se não revolucionarmos por completo o modo como vivem bilhões de seres humanos, partes extensas do planeta se tornarão inabitáveis, e outras serão inóspitas, ao fim deste século que vivemos.
Nesta projeção do nosso futuro próximo, David Wallace-Wells joga luz sobre os problemas climáticos que nos aguardam: falta de alimentos, emergências em campos de refugiados, enchentes, destruição de florestas e desertificação do solo. Mas ele também fala de mudanças políticas e culturais que afetarão o mundo ainda neste século ― uma mudança radical na forma como entendemos a vida. A Terra Inabitável é uma história da devastação que trouxemos a nós mesmos, e também um chamado à ação.

Resenha: Em tempos de aquecimento global, desmatamento desenfreado, mudanças climáticas drásticas e ouras atrocidades que o homem comete contra o meio ambiente, A Terra Inabitável, escrito por David Wallace-Wells e publicado pela Companhia das Letras no Brasil, mostra a gravidade da situação de forma lírica e objetiva, mas ao mesmo tempo aterrorizante.

O autor aborda de forma bem didática, e um tanto alarmista, o que está acontecendo, como o problema afeta os países e o que pode resultar, quais as estratégias e medidas políticas estão sendo tomadas pelos governantes mais poderosos com relação aos problemas climáticos, por que os o projeto de ser humano continua destruindo tudo sem se importar com o futuro sombrio que o reserva, e o quê, a curto ou longo prazo, poderá ser desencadeado, nos levando por todas as catástrofes que, mais cedo ou mais tarde, irão condenar toda forma de vida e arrasar o planeta. Porém, por mais sério e convincente que ele possa ser, ele frisa bastante que seus apontamentos ainda são especulações.

Durante a narrativa, que acaba sendo bastante repetitiva, o autor expõe os fatores que estão desencadeando esse desastre global, que está ocorrendo mais rápido do que pensamos, e se concentra nas consequências de se viver num planeta que estará em risco, praticamente devastado, até o ano de 2100, enquanto as pessoas seguem complacentes e incapazes de enxergar o que está diante nos próprios olhos, mesmo que isso signifique que o futuro esteja destinado a ser um caos completo. O problema irá aumentar e se desenvolver cada vez mais, e daqui a algumas poucas décadas se tornará a realidade para os que estiverem começando a entender o mundo: os filhos dos nossos filhos, e seus filhos...

É impossível terminar esse livro sem ficar em choque, ou não se preocupar que a mudança é urgente e que cada um precisa fazer sua parte. Porém, o autor não traz soluções ou ideias do que pode ser feito, e nem toma a ciência como base para sua narrativa. São somente avisos e previsões do que poderá vir a acontecer daqui uns oitenta anos, e isso, em alguns momentos, pode ser um pouco desanimador pelo fato de que se não pudermos fazer nada pra impedir esse fim do mundo, então não adianta muito nos preocuparmos, até mesmo por que é perfeitamente possível que até lá alguma tecnologia nova possa ser desenvolvida para auxiliar nessas questões.

Mas apesar de pessimista, acho que a leitura é super válida. Se você não tem ideia da gravidade da situação, ler esse livro é um bom ponto de partida. É impossível não ter uma visão clara de um futuro apavorante que ninguém quer ter, mas que ninguém parece se importar em mudar...

Mulheres na Luta - Marta Breen e Jenny Jordahl

17 de março de 2019

Título: Mulheres na Luta - 150 anos em busca de liberdade, igualdade e sororidade
Autoras: Marta Breen e Jenny Jordahl
Editora: Seguinte
Gênero: HQ/Não Ficção
Ano: 2019
Páginas: 130
Nota:★★★★★
Sinopse: O movimento feminista em quadrinhos, para jovens e adultos. Há 150 anos, a vida das mulheres era muito diferente: elas não podiam tomar decisões sobre seu corpo, votar ou ganhar o próprio dinheiro. Quando nasciam, os pais estavam no comando; depois, os maridos. O cenário só começou a mudar quando elas passaram a se organizar e a lutar por liberdade e igualdade. Neste livro, Marta Breen e Jenny Jordahl destacam batalhas históricas das mulheres ― pelo direito à educação, pela participação na política, pelo uso de contraceptivos, por igualdade no mercado de trabalho, entre várias outras ―, relacionando-as a diversos movimentos sociais. O resultado é um rico panorama da luta feminista, que mostra o avanço que já foi feito ― e tudo o que ainda precisamos conquistar.

Resenha:  Trazendo um assunto tão importante nos dias de hoje, Mulheres na Luta, publicado pela Editora Seguinte, é um compilado de informações acerca do movimento feminista e da luta das mulheres que começaram há somente cento e cinquenta anos e marcaram o início de mudanças muito importantes para adquirirem direitos numa sociedade completamente machista. Ter direito aos estudos, ao trabalho remunerado, a votar nas eleições, e de decidir sobre o próprio corpo são algumas das lutas desse movimento que mostra que houve bastante progresso, mas que ainda assim é preciso muito mais.


O livro é dividido em partes que abordam diferentes tipos de lutas, apontando alguns fatos que foram decisivos para várias conquistas e mostrando que as mulheres são capazes de muito mais coisas do que ficarem confinadas em casa cuidando dos afazeres domésticos, de uma penca de filhos e servindo obedientemente ao seu marido. Se por um lado existiam homens que defendiam que "o homem é ativo e forte, enquanto a mulher é passiva e fraca", ou que "as mulheres devem ficar em casa com a família, em vez de ocupar a cabeça com outras coisas", existiam mulheres que refutavam essas ideias absurdas e começaram a lutar pelos mesmos direitos.


Embora os eventos tenham uma abordagem histórica, se concentrem principalmente em lutas de mulheres americanas e europeias, e sejam explorados de uma forma bastante enxuta e sem muitos detalhes, fica bem claro que muito se perdeu para que houvesse conquistas. Mulheres foram torturadas e mortas enquanto questionavam homens e lutavam por seus direitos, e é incrível perceber que hoje, em pleno século 21, isso ainda acontece no mundo inteiro.



Outras questões são trabalhadas além dos direitos conquistados gradualmente, como sexualidade, métodos contraceptivos e aborto, porém focando no corpo feminino como uma propriedade controlada por qualquer um, exceto pela mulher, e embora em alguns países as mulheres tenham direitos e sejam donas dos próprios corpos, ainda há lugares em que isso não acontece, o que gera reflexões sobre o quanto é preciso evoluir e rever não só conceitos, mas as leis também.


A edição gráfica do livro é muito bonita e caprichada, com capa dura, folhas mais grossas, ilustrações com traços simples, porém bastante expressivos, e cores monocromáticas em tons pastéis que se contrastam com o preto distribuídas ao longo do livro de acordo com o tema abordado no determinado capítulo. O visual é limpo e ajuda a transmitir a história de uma forma bastante clara, objetiva e funcional.


Assim, pra quem busca por livros que abordam a opressão do patriarcado e a temática feminista de uma forma didática, que citam nomes de mulheres que foram responsáveis por mudanças importante para a vida de todas as outras mulheres na sociedade e seus feitos, Mulheres na Luta é uma excelente porta de entrada para se ter noção do que é o feminismo e o quanto é necessário, de onde surgiu, o que as mulheres precisaram (e ainda precisam) enfrentar para conquistar espaço, e porquê a igualdade precisa ser alcançada tão urgentemente.

Curiosidade Mórbida - Mary Roach

15 de novembro de 2018

Título: Curiosidade Mórbida
Autora: Mary Roach
Editora: Paralela
Gênero: Não ficção
Ano: 2015
Páginas: 272
Nota:★★★★☆
Sinopse: Curiosidade mórbida é uma leitura cativante e divertida que explora a vida após a morte, mas não no sentido sobrenatural: a autora Mary Roach investiga o que acontece com os cadáveres, revelando que eles têm rotinas inesperadas e surpreendentes. Por dois mil anos, eles estiveram envolvidos nas descobertas e pesquisas científicas mais ousadas: foram cobaias nas primeiras guilhotinas da França e, os primeiros a navegarem em foguetes da Nasa e estiveram presentes em todos os novos procedimentos cirúrgicos, fazendo história de forma silenciosa.
Nesse relato fascinante, Mary Roach faz uma análise histórica dessas contribuições ao longo dos séculos e, com seu jeito único, revela o que nossos corpos fazem depois que os deixamos para trás.

Resenha: Mary Roach mostra com precisão o quão útil a rotina de uma pessoa morta pode ser. A autora detalha com precisão vários procedimentos e experiências feitas com defuntos e o resultado é uma variedade de informações e curiosidades muito interessantes sobre os cadáveres.

A narrativa é direta, simples e dividida em tópicos que possuem fotos ou ilustrações, e já deixa claro desde o início que os "objetos de estudo" consentiram em doar seus corpos para estudos em prol da ciência. Assim, vamos desde uma simples dissecação, passando por decapitação, testes de resistência a impacto em simulações de acidentes, decomposição, descarte dos corpos, doação de órgãos, estudo da alma e etc. São diversos temas trabalhados de forma bem minuciosa para trazer informações reais do que acontece e que abrem um leque de opções que mostram como essas experiências com os mortos funcionam, etapa por etapa, assim como evidenciam a utilidade delas para os vivos.

Ainda há questões envolvendo a sociedade de forma geral, e como isso acaba interferindo nos cuidados com o corpo do falecido, levantando questões culturais, emocionais, morais, filosóficas e, por que não, religiosas. A autora usa de bom humor para descrever alguns procedimentos, mas confesso que fiquei muito mais chocada do que rindo. Descobrir que um cérebro removido não pode ser encaixado de volta dentro do crânio já me fez imaginar coisas. Por favor, Deus, não deixe que quando eu morrer alguém preencha minha cabeça com nenhum jornal sensacionalista que tenha notícias de cunho político, futebol, ou fofocas sobre youtubers ou pseudocelebridades.

Curiosidade Mórbida é um livro de não ficção e aborda uma área da medicina que agrada a pouquíssimas pessoas: a morte e o corpo que jaz. Logo, se você não gosta ou não tem estômago forte o bastante quando o assunto é morte, dissecação, experimentação humana, gosmas, sangue, miolos, tripas e afins, talvez o livro não seja pra você. Mas, se você tem um pouco de curiosidade, e coragem, para ler sobre as inúmeras utilidades que um corpo tem no pós vida, assim como as descobertas incríveis que foram feitas, desde que consiga sair ileso de cenas bizarras, e muitas vezes nojentas, descritas pela autora, é algo bastante educativo e digno de se apreciar. Recomendo muito essa leitura para os fortes e para os curiosos de plantão.


A Origem do Mundo - Liv Strömquist

6 de setembro de 2018

Título: A Origem do Mundo - Uma História Cultural da Vagina ou A Vulva vs. O Patriarcado
Autora: Liv Strömquist
Editora: Quadrinhos na Cia.
Gênero: HQ/Não Ficção
Ano: 2018
Páginas: 144
Nota:★★★★★
Sinopse: Por que as sociedades alimentaram uma relação tão esquizofrênica com a vagina ao longo dos séculos? Por que a menstruação é um tema apagado de nossa cultura quando costumava ser algo sagrado para os povos ancestrais? A origem do mundo escancara interditos e desafia mitos e tabus. Um livro genial, catártico e absolutamente necessário.
Se “o pessoal é político”, como dizia o slogan da segunda onda feminista, iniciada nos anos 1960, Liv Strömquist criou um livro radical. Com humor afiado, a artista sueca expõe as mais diversas tentativas de domar, castrar e padronizar o sexo feminino ao longo da história. Dos gregos antigos a Stieg Larsson, das mulheres da Idade da Pedra a Sigmund Freud, de Jean-Paul Sartre a John Harvey Kellogg (o inventor dos sucrilhos), da fábula da bela adormecida a deusas hindus, de livros de biologia ao rapper Dogge Doggelito, A origem do mundo esquadrinha nossa cultura e vai até o epicentro da construção social do sexo. Para Liv, culpabilizar o prazer é um dos mais efetivos instrumentos de dominação — graças à culpa, a maçã é venenosa e o paraíso mantém seus portões fechados. Uma crítica hilária, libertadora e instrutiva sobre o sexo feminino.

Resenha: A Origem do Mundo, da artista sueca Liv Strömquist, traz informações super relevantes acerca do universo feminino que até hoje sofre o impacto causado pelo machismo na sociedade. O interesse fora do comum do homem pelo corpo da mulher e sua forma absurda de estudá-lo, assim como as ideias completamente descabidas que eles tiveram para tentar dominar, impor padrões e justificar comportamentos ou características femininas, são expostos -  e criticados - com um humor ácido e até de forma bastante radical. Embora a personagem criada para apresentar as questões levantadas seja irônica e até bem revoltada com tantos absurdos e atrocidades cometidas por "homens ilustríssimos" que eram considerados importantes em suas épocas, é impossível não se indignar junto com ela, pois justamente devido a esses verdadeiros embustes que meteram o bedelho onde não foram chamados, hoje o mundo gira em torno do pinto, que sempre é visto como um troféu, enquanto a vulva, que antigamente era visto como algo sagrado, passou a ser algo considerado sujo e digno de vergonha.



"A menstruação é nojenta e imunda, e por isso deve ser escondida" (absorvente sempre deve dar segurança e "frescor"). "A mulher que tem TPM é histérica, e por isso não pode conviver socialmente". "O sangue da menstruação drena a inteligência da mulher, e isso impede que elas se concentrem nos estudos". "Mulheres não deveriam trabalhar se tiverem que ser remuneradas, pois a menstruação causa oscilações no humor que interferem em seus rendimentos" (mas incrivelmente não interferem em nada pra cuidarem dos filhos e da casa em tempo integral, enquanto se atura um marido imbecil). "A cólica menstrual está diretamente ligada ao nariz, logo uma rinoplastia deveria resolver o problema com a dor". "Mulheres que só atingem orgasmo via clitóris, são frígidas". "Vaginas com protuberâncias 'estranhas' eram bruxas, e por isso deveriam ser queimadas na fogueira". "A clitoridectomia (a remoção cirúrgica do clitóris) é a cura para a depressão, dor de cabeça, histeria e 'desobediência', e medida importante e necessária a se tomar em caso de divórcio ou masturbação"! "É pecado a mulher sentir prazer". "A vagina não passa de um buraco oco a ser preenchido por um pênis". Essas são somente algumas das "sábias" afirmações despejadas na sociedade por, claro, homens, e que foram levadas a sério o bastante para impactar no comportamento humano dos dias atuais.
Nem no esgoto tais barbaridades deveriam ser despejadas... É pra matar qualquer mulher de desgosto...


O livro tem várias curiosidades e imagens históricas de várias épocas, e levanta questões que envolvem ciência e religião, mas sempre sob a perspectiva distorcida de homens, com intuito de construírem a base da sociedade às suas conveniências, ao mesmo tempo que inferiorizavam as mulheres, só por serem mulheres.
Assim, diante desta leitura rápida, cheia de ironias certeiras e bastante esclarecedora, podemos entender que o comportamento da sociedade atual não veio do nada. Esse comportamento teve uma origem criada por homens e para homens, e isso acabou fazendo parte da cultura por séculos a fio, e faz até hoje. São fatores que elevam o machismo e o patriarcado, e nunca favorecem as mulheres.


Posso dizer que só tenho que agradecer pelo feminismo estar cada vez ganhando mais forças e fazendo com que as mulheres se empoderem, se orientem mais buscando por informações de todo tipo, se aceitem como são (incluindo seus corpos), e o mais importante de tudo: lutando por igualdade de forma a impedir que homens continuem ditando todas as regras com sua "infinita sabedoria". Os tempos mudam, as pessoas evoluem, e graças a isso muita coisa mudou, mas muitos homens parecem estar presos no século IV até hoje. A Origem do Mundo é um livro, no mínimo, necessário.



Cartas Secretas Jamais Enviadas - Emily Trunko

19 de julho de 2018

Título: Cartas Secretas Jamais Enviadas
Autora: Emily Trunko (org)
Editora: Seguinte
Gênero: Não ficção
Ano: 2018
Páginas: 200
Nota★★★★★

Sinopse: Você já desejou poder voltar no tempo e dar conselhos para si mesmo? Já quis ter coragem de falar como é forte o amor que sente por alguém? Alguma vez já se perguntou por que uma pessoa importante na sua vida parou de falar com você? A partir de contribuições anônimas, Emily Trunko reuniu nesta coletânea cartas que revelam segredos profundos de quem as escreveu. Afinal, muitas vezes o único jeito de lidar com nossos sentimentos mais intensos — seja um amor incondicional ou uma perda irreparável — é botando tudo no papel. A leitura destas cartas nos permite mergulhar na vida de seus remetentes e, ao mesmo tempo, redescobrir nossa própria história e perceber que, mesmo nos piores momentos, não estamos sozinhos.

Resenha: Seguindo o mesmo estilo do primeiro livro (Últimas Mensagens Recebidas), Emily Trunko, autora do blog Dear My Blank, reuniu as cartas que seus seguidores/leitores escreveram anonimamente, e sem intenção de enviá-las aos seus destinatários.

As cartas abordam vários temas pessoais e o livro é dividido em partes, trazendo textos sobre amor (correspondido ou não), traição, amizade, família, mágoa e coração partido, perda, gratidão, e cartas escritas para um eu do passado, ou para qualquer um que ler e sentir que pode se identificar, ou que aquela mensagem serve exatamente para si, e posso dizer que algumas se encaixaram como uma luva a ponto de eu me emocionar e ficar com os olhos cheios de lágrimas.




Mesmo que o público seja mais adolescente, essas cartas mostram que muitas pessoas, independente da idade, guardam seus sentimentos mais profundos e secretos para si, e ao escreverem a fim de colocar tudo aquilo pra fora, mesmo que num pedaço de papel, conseguem desabafar de forma sincera e sem exporem a própria identidade, tirando o peso das costas e desfazendo aquele nó preso na garganta que tanto incomoda e faz mal. Tudo isso sem julgamentos.




Os textos são variados... Alguns são pequenas frases, outros são cartas que ocupam duas páginas inteiras, mas todos carregam as emoções mais sinceras daqueles que as escreveram de forma crua, expondo suas fraquezas, seus receios, suas dificuldades, suas mágoas, seus arrependimentos mas, também, suas alegrias, seus livramentos e suas vitórias. Talvez algumas delas soem um pouco contraditórias, como se não fizesse sentido ou não houvesse um motivo realmente plausível para que não fossem enviadas a quem deveria lê-la, mas somente quem escreve e está passando por aquele momento, seja difícil ou não, sabe o quanto pode ser complicado se expressar, ou até mesmo encarar aquela pessoa que acreditamos ter algum tipo de pendência, pois o receio por uma reação que não temos como prever pode ser maior do que a vontade de falar o que se tem vontade. O simples ato de escrever sobre nossos sentimentos já pode ser o suficiente para se ter um pouco de alívio, então é possível ter empatia e perceber que é muito mais comum do que parece também nos sentirmos assim. Não vamos encontrar respostas ou soluções para qualquer que seja o problema emocional passado a partir dessa leitura, mesmo que algumas cartas pareçam terem sido escritas por nós, ou para nós, mas acho válido ressaltar que por mais que algumas das situações pareçam ser difíceis, elas são fases. E como cada fase da vida, mais cedo ou mais tarde, elas passam.




Por se tratar de sentimentos e emoções, alguns textos acabam sendo bem preocupantes, e fica claro o quanto quem escreveu pode estar sofrendo. Traumas são difíceis de se enfrentar, a depressão é uma doença muito séria, mas não é impossível de ser superada. Ao final do livro a editora incluiu os contatos de grupos de apoio emocional e até de prevenção ao suicídio, o que é de grande importância dentro desse contexto.




A diagramação é fantástica. O livro tem a capa dura, as páginas são coloridas, há ilustrações, montagens, tipografias diferenciadas e de forma geral é um livro pra ler, reler, admirar, dar de presente e ser indicado pra todo mundo, sem distinção.




É uma leitura rápida e simples, que vai mostrar o lado mais humano e frágil das pessoas, e vai atingir cada leitor de uma maneira diferente, mas com certeza é tocante o bastante para que as pessoas não se sintam sozinhas e possam compartilhar seus sentimentos mais profundos, mesmo que em segredo. Essa não deixa de ser uma forma de desabafar e de seguir em frente.

Últimas Mensagens Recebidas - Emily Trunko

5 de janeiro de 2018

Título: Últimas Mensagens Recebidas
Autora: Emily Trunko (org)
Editora: Seguinte
Gênero: Não ficção
Ano: 2017
Páginas: 176
Nota:★★★★★
Sinopse: Quando uma mensagem é a última, ela pode significar um fim, uma perda, ou até um alívio. E se você fosse o destinatário?
A partir de contribuições anônimas, a jovem Emily Trunko reuniu nesta coletânea mensagens que contam histórias reais sobre os mais variados tipos de despedida: o fim de uma amizade, o término de um relacionamento ou até mesmo um acontecimento trágico que muda a vida do destinatário e do remetente para sempre.
Enviadas por celular, por e-mail ou pelas redes sociais, essas mensagens narram perdas profundas e inspiram muita reflexão. Será que não deveríamos expressar mais o amor que sentimos pelas pessoas enquanto isso ainda é possível? Ou, em alguns casos, nos afastar o quanto antes daquelas que nos fazem mal?

Resenha: Alguém já parou pra pensar na última coisa que nos foi dita por alguém que fez parte da nossa vida?
Emily Trunko tem apenas dezesseis anos, mas sua ideia de criar um blog para reunir as últimas mensagens recebidas ou enviadas a alguém após algum acontecimento marcante fez um enorme sucesso e acabou ajudando milhares de pessoas a conseguirem enfrentar e a superar o enorme peso que essas mensagens, ou as mensagens que elas pretendiam deixar por estarem pensando em tomar alguma atitude drástica, exercem em suas vidas.

Últimas Mensagens Recebidas é uma coletânea de mensagens ou frases ditas que marcaram o final de um relacionamento, uma amizade ou até mesmo a própria vida, e a forma como são apresentadas, a maioria delas seguidas por suas histórias reais, é capaz de mexer com nossos sentimentos e trazer reflexões acerca dos nossos próprios relacionamentos, a forma como lidamos com eles e como as pessoas são afetadas por alguma determinada escolha ou atitude.


Confesso que eu nunca parei pra pensar na última coisa que me disseram, ou na última coisa que eu disse antes que o afastamento e a distância ocupassem esse espaço entre nós, e após a leitura deste livro, percebi o quanto as palavras, dependendo de como são ditas, tem um poder enorme de não só nos tocar de forma indelével, como também de nos transformar pra sempre, de forma negativa ou positiva para quem as leu ou ouviu pela última vez.


As mensagens evidenciam amor, dor, alegria, raiva e decepções; retratam problemas delicados e pesados, como a depressão, o suicídio, o vício em drogas, o abandono, o abuso e até a indiferença e suas consequências quando o assunto é dar atenção a quem mais precisa dela; outras são bonitas e mostram que muitas vidas mudaram quando pessoas que partiram deixaram um pouco de seu brilho através de suas últimas palavras; mas todas elas são carregadas de verdades, e embora muitas machuquem, mostram o verdadeiro caráter daqueles com quem tínhamos alguma ligação.
As mensagens são profundas e algumas delas são tão fortes que chegam a arrancar lágrimas do leitor.


O projeto gráfico do livro é a coisa mais linda, desde a capa dura até as páginas coloridas com esquemas tipográficos que dão movimento às frases e as tornam ainda mais intensas com suas ilustrações tão particulares e especiais. No final ainda há páginas em branco dedicadas ao leitor para que ele possa escrever as próprias mensagens caso queira.

A gente nunca sabe qual será a última mensagem que trocaremos com alguém. Talvez seremos lembrados por aqueles que passaram por nossas vidas pelas últimas palavras que dissermos, e o livro acaba mostrando que não só devemos ter cuidado com o que falamos e da forma que falamos, como também o quanto é importante expressarmos nossos sentimentos enquanto o tempo ainda permite...

Vidas Muito Boas - J.K. Rowling

9 de dezembro de 2017

Título: Vidas Muito Boas - As vantagens do fracasso e a importância da imaginação
Autora: J.K. Rowling
Editora: Rocco
Gênero: Não ficção/Autoajuda
Ano: 2017
Páginas: 80
Nota:★★★★☆
Sinopse: "Como podemos aproveitar o fracasso?", "Como podemos usar nossa imaginação para melhorar a nós e os outros?". J.K. Rowling responde essas e outras perguntas provocadoras em Vidas Muito Boas, versão em livro do famoso discurso de paraninfa da autora da série Harry Potter na Universidade de Harvard, que chega às livrarias brasileiras no dia 7 de outubro. Baseado em histórias de seus próprios anos como estudante universitária, a autora mundialmente famosa aborda algumas das mais importantes questões da vida com perspicácia, seriedade e força emocional. Um texto cheio de valor para os fãs da escritora e surpreendente para todos que buscam palavras inspiradoras.

Resenha: Vidas Muito Boas é uma transcrição do discurso inspirador que J.K. Rowling fez na Universidade de Harvard, em 2008.
De forma resumida, ela fala das próprias experiências e de como sua trajetória não foi feita apenas de sucesso e de vitórias. Antes da fama ela teve muitas dificuldades, inclusive financeiras, mas consegue mostrar que foi preciso fracassar pra chegar onde chegou. O fracasso não só faz parte da vida, como pode servir de impulso para se melhorar ou dar valor às boas coisas, para crescimento pessoal, para autoconhecimento, para que nossos medos possam ser enfrentados e superados em vez de desistirmos.
"É impossível viver sem fracassar em alguma coisa, a não ser que vocês vivam com tanto cuidado que acabem não vivendo de verdade - e, neste caso, vocês fracassam por omissão."
- Pág. 34
As lições são poucas, mas o que fica é a ideia de que devemos acreditar em nós mesmos, na nossa capacidade de conquistar o que almejamos, de realizar nossos sonhos e de enfrentarmos os obstáculos, independente do que - ou de quem - sejam.
É claro que J.K. não poderia deixar de lado seu toque de bom humor e a grande razão do seu sucesso, logo ela faz pequenas referências ao universo de Harry Potter e à magia que cada um carrega dentro de si.
O discurso é tocante por evidenciar os ideais da autora, que embora tenha se tornado umas das mulheres mais ricas do mundo, é humilde, não esqueceu suas origens e se preocupa em ajudar crianças tentando fazer do mundo um lugar melhor, e isso acaba trazendo uma reflexão sobre nossos próprios atos, sobre o que queremos para o futuro, sobre valorizar nossa capacidade e sobre concentrar nossos esforços no que acreditamos.
"Não precisamos de magia para transformar nosso mundo; todos já temos dentro de nós o poder de que precisamos: o poder de imaginar melhor."
- Pág. 67
O projeto gráfico do livro é uma graça. Apesar de ser pequeno e ter poucas páginas, a edição é um hard cover com ilustrações em tons de vermelho e preto de Joel Holland, o que torna a obra mais descolada e enche os olhos de qualquer fã da autora.

Vidas Muito Boas é um discurso que traz palavras que inspiram, que motivam e que dão força para que possamos investir na imaginação, e não só entender, mas aceitar que não devemos temer o fracasso e nem desistir do que acreditamos por causa dele.

O Bom do Amor - Chris Melo e Laís Soares

3 de julho de 2017

Título: O Bom do Amor
Autora: Chris Melo
Ilustradora: Laís Soares
Editora: Fábrica 231/Rocco
Gênero: Tirinhas/Romance/Nacional
Ano: 2017
Páginas: 88
Nota:★★★★★
Sinopse: “O bom do amor é aumentar o volume do rádio quando a música preferida do outro toca.” “O bom do amor é gostar de dormir agarradinho no inverno e saber dividir o ventilador no verão.” “O bom do amor é apreciar cada qualidade, mesmo rodeada de defeitos.” O bom do amor reúne tirinhas de Chris Melo, autora de romances de sucesso entre o público feminino, e aquarelas de Laís Soares que retratam, de forma delicada, sincera e bem-humorada, os pequenos gestos que dão real significado a palavras como companheirismo e cumplicidade na vida de um casal. A cada página, o leitor encontra uma tirinha mostrando uma situação do dia a dia que comprova que o amor – e a felicidade – está nos pequenos prazeres do cotidiano.

Resenha: Quem lembra daqueles albúns de figurinhas do "Amar é..." que fez o maior sucesso nos anos 80? A proposta de O Bom do Amor, da autora Chris Melo em parceria com a ilustradora Laís Soares, é bem parecida, mas com um toque bastante original e que tem tudo a ver com a atualidade!

O Bom do Amor é um daqueles livros cujo propósito não é apenas ser fofo, mas mostrar através de frases verdadeiras e ilustrações delicadas que o amor é algo simples e descomplicado, e ter alguém com quem dividir os pequenos e grandes momentos do cotidiano, ou da vida, independente de serem bons ou ruins, é algo imensurável.


É um livro curtinho que pode ser lido em questão de minutos, mas embora pequeno, tráz uma reflexão bastante relevante quando o assunto é relacionamento.
As frases que acompanham as ilustrações descrevem muitos dos momentos que um casal pode vivenciar quando se amam de forma intensa e verdadeira, mesmo que haja altos e baixos ou que entre eles haja algumas diferenças. As ilustrações retratam com uma fidelidade sem igual o cotidiano de um casal que é "gente como a gente", com desejos, anseios e sonhos bem próximos aos de qualquer pessoa que está num relacionamento e só espera ser, e fazer, o outro feliz.


O bom do amor
é cuidar e ser cuidado.
- Pág. 49
A edição é linda demais, as ilustrações em aquarela são muito fofas, coloridas em tons leves e traços delicados, com as páginas são brancas, lisinhas e com uma gramatura superior as dos livros tradicionais.


Confesso que depois dessa leitura, olhei pro meu próprio relacionamento e percebi que sou resistente em muitos aspectos, e acabei considerando o livro uma motivação para que eu saia da minha "zona de conforto" e me esforce pra ser mais receptiva, mais paciente e mais amorosa com aquele com quem sou casada há doze anos, que amo demais mas demonstro de menos...

O Bom do Amor é um livrinho cheio de sensibilidade, que emociona e nos toca com detalhes pequenos e frases simples, mas muito verdadeiras e que ilustram com perfeição o significado do que o companheirismo deve ser. Simplesmente apaixonante!

Hyperbole and a Half - Allie Brosh

20 de fevereiro de 2017

Título: Hyperbole and a Half - Situações lamentáveis, caos e outras coisas que me aconteceram
Autora: Allie Brosh
Editora: Planeta
Gênero: Não ficção/Humor
Ano: 2014
Páginas: 224
Nota:★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Em Hyperbole and a half – situações lamentáveis, caos e outras coisas que me aconteceram, a autora apresenta alguns dos textos mais lidos e comentados em seu blog e também muito material novo, inclusive histórias sobre seus cachorros (um deles aparentemente com leves problemas mentais), sua luta para lidar com a depressão e a ansiedade que insistem em dominá-la, além de anedotas hilárias sobre sua tumultuada infância. Sim, Allie foi uma criança difícil. Talvez a mais difícil de todas. Por exemplo, uma vez ela comeu um bolo inteiro só de birra porque sua mãe a proibira. E ela também atazanou a vida da família quando ganhou um papagaio de brinquedo que repetia tudo – tudo – que ela queria. Inteligente, irônico e absurdamente engraçado, o livro traz o estilo inimitável de Allie nos textos e nas ilustrações, além de algumas de suas típicas reflexões que conquistaram o coração de inúmeros leitores.

Resenha: Hyperbole and a Half é uma complilação de várias histórias baseadas nas postagens do blog (em inglês) de mesmo nome e super popular da autora Allie Brosh. O livro foi publicado pela Editora Planeta de Livros em 2014 mas ainda assim é atual e memorável, afinal, quem nunca se deparou com essas ilustrações em memes nas redes sociais?


A narrativa em primeira pessoa, além de bem humorada, é muito verdadeira e é capaz de revelar muito do íntimo da autora, já que o que é apresentado são experiências aleatórias vivenciadas por ela em algum determinado momento de sua vida, de criança a adulta, abordando a família, gostos pessoais, sonhos, problemas e conflitos internos, obsessão por cães malucos e até o pavor de gansos psicopatas, o que permite que alguns leitores possam se identificar com seus pensamentos ou até com algumas das situações pelas quais ela passou. Algumas das experiências são mais profundas e intensas, cheias de significados que estão nas entrelinhas e requerem uma atenção maior para que possam ser melhor compreendidas, já outras, mesmo que exista uma mensagem acerca da experiência e de sua personalidade peculiar propriamente dita, são mais engraçadas e rendem algumas boas risadas.


O trabalho gráfico da obra é super caprichado, com páginas coloridas de acordo com o capítulo e várias ilustrações toscas e estilo "made in paint" feitas pela própria autora que são super engraçadas, algumas até mais do que a própria história em si. Os desenhos, embora muito simples e que parecem ter sido feitos por uma criança, conseguem se encaixar perfeitamente nas descrições feitas pela autora, assim como evidenciar expressões e emoções de uma maneira brilhante e que surpreende.
Essa mistura com HQ foi uma agradável surpresa.

A forma hilária como Allie conta suas experiências colabora ainda mais para arrancar um sorriso dos leitores, mas conforme os capítulos avançam, assim como a idade ou fase da vida que a autora narra, as situações vão ganhando um ar mais sério e carregados de autocríticas, e algumas das situações parecem até não fazer muito sentido se o leitor não se atentar bem ao que a autora tenta passar, já que adentram um universo mais sombrio do que diz respeito aos sentimentos, como a tristeza, o egoísmo, a indiferença e até a depressão. As observações acerca das situações narradas e descritas por Allie conseguem fazer uma abordagem certeira, não somente sobre seus sentimentos, sejam eles negativos ou não, mas das pessoas de maneira geral, que possuem falhas, inseguranças e outras características que nos fazem ser quem somos.



Recomendo para quem procura por um livro bem humorado e que aparentemente parece não ter nada a oferecer, mas que consegue fazer um retrato cru da realidade, mostrando que podemos passar por situações bizarras na vida e ainda assim seguirmos em frente se pudermos encarar as coisas com maturidade e bom humor.

PS.: Vou tentar fazer o teste de QI animal encontrado no livro com meus gatos pra saber se algum deles tem algum distúrbio mental ahahahahahaha!