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Ovelha - Gustavo Magnani

25 de novembro de 2015

Título: Ovelha - Memórias de um Pastor Gay
Autor: Gustavo Magnani
Editora: Geração
Gênero: Ficção/Literatura Nacional
Ano: 2015
Páginas: 228
Nota: ★★★☆☆
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Este livro, estreia impressionante de um jovem e talentoso escritor, é o relato pecaminoso de um decadente. A história de um homem religioso e carismático, temente a Deus, mas amante insaciável de sua própria carne exótica, a carne de outros homens. Um pastor gay, casado com uma ex-prostituta, filho de uma fanática religiosa. Neurótico e depravado. E agora condenado. Internado no hospital, debilitado e com um segredo de uma tonelada nas costas, este personagem atormentado decide libertar-se de seus demônios e relatar seu drama. Num relato cru e sem censura, ele literalmente vomita seus trinta anos de calvário e charlatanice na cara da congregação (e de qualquer um que se interesse por um bom inferno). Sexo, paranoia, corrupção e destruição são os ingredientes tóxicos dessa obra provocante, polêmica e inovadora.

Resenha: Escrito por Gustavo Magnani, Ovelha - Memórias de um pastor gay é um relato fictício de um pastor evangélico em conflito com sua fé e sua sexualidade e que precisa conviver com seu maior segredo de forma tortuosa durante toda a sua vida.
O livro é composto por crônicas em que o protagonista conversa com Deus em um diário autobiográfico buscando pelo perdão por ter escondido sua homossexualidade ao mesmo tempo em que tenta provar que tal condição é uma aberração da qual ele não conseguiu se livrar. A narrativa não segue um padrão ou uma ordem cronológica mas nem por isso os fatos se tornam confusos para quem lê.

Ao decidir fazer esse relato, ele está internado num hospital após ter contraído HIV, e volta ao início da vida, contando como passou a infância numa igreja, ouvindo sobre moralidade, pecados, o que pode e o que não pode, o que é e o que não é de Deus, até a atualidade, em 2014, quando vai contando de forma gradual e desordenada como foi parar lá, mas sempre ressaltando o que, de fato, gosta, o que sente falta, o que o excita e no que vivia pensando de forma crua, direta e sem censuras.
Desde os quinze anos de idade ele tem plena consciência de que é gay e, embora tenha tentado de todas as formas se curar desta "doença", não poderia fazer nada para mudar isso. Ter uma mãe jamais aceitaria um filho gay e que leva a religião com extremo fanatismo após a morte do pai só fez com que as coisas fossem mais difíceis e "sujas", principalmente por ser o filho "destinado" a se tornar um pregador da palavra. E, seguindo as vontades dela, ele abraça a religião evangélica se tornando pastor, mas ainda que pregue a palavra, ele entra em contradição quando condena pecados que ele próprio comete ao levar essa vida dupla.

O livro é uma enorme crítica à hipocrisia. Retrata a verdade sobre as questões que envolvem religião e homossexualidade e como aqueles que não conseguem ou não podem assumir suas condições, seja pelo motivo que for, vivem de mentiras que acabam por consumí-los internamente.

Acho que quando se escolhe um tema para escrever, não é necessário se fazer alarde sobre o que vamos encontrar. Basta deixar a leitura fluir e cada um que tire as próprias conclusões, sem necessidade de ser informado da dita polêmica antes mesmo da leitura ser iniciada.
Ao saber de antemão que o livro seria polêmico por tocar em assuntos delicados e que geram discussões eternas que nunca levam ninguém a lugar nenhum, criei várias expectativas e ao fim minha impressão foi de que a história tendeu por um caminho que fez com que essa polêmica fosse forçada e aumentada, havendo abuso de ironia e sarcasmo, como se o livro tivesse sido escrito inserindo vários pensamentos e situações explícitas, despudoradas e exageradas - mas que nem sempre colaboram para o desenvolvimento da história ou da trajetória do personagem - só para chocar o leitor devido a tamanha "audácia". Nesse contexto da imoralidade e hipocrisia na religião e na orientação sexual que o protagonista está inserido, quando pensei que alguma situação descrita alcançou um nível de depravação que nunca imaginei ler na vida, logo adiante me deparo com outra ainda pior, e fiquei com a ideia de que tudo aquilo foi criado pra ampliar o problema e para causar desconforto e polemizar de forma proposital. Acho inclusive que o personagem não foi tão bem construído e pode ser considerado genérico não sendo tão possível assim que alguém se identifique com ele devido aos exageros, pois além de não sentir que ele possuísse carisma algum para conquistar o leitor, se a intenção era falar sobre os preconceitos da sociedade religiosa contra os homossexuais que não podem se assumir, ele poderia ser um gay em qualquer outra profissão ou em qualquer outra família...
"Sozinho, busquei as mais diferentes soluções dentro das leis divinas, e não a encontrei. Talvez se buscasse ajuda externa... mas com que cara eu admitiria ser uma aberração?
- Pág. 53
Mas confesso que o livro traz, sim, reflexões sobre fatores importantes como as relações familiares e até onde nos deixamos influenciar por nossos pais, o peso e as consequências das mentiras em nossas vidas, sobre a hipocrisia usada para levar a vida sob fachada conforme a conveniência, a forma como encaramos a religião e o ela espera de seus fiéis e seguidores.
A pessoa tem livre arbítrio para ser e fazer o que quiser, mas até onde é possível usar essa liberdade se existe a limitação ao conservadorismo e ao fanatismo de alguém que não tem a mente aberta e cuja visão também é limitada?
Não vou entrar na questao religiosa pois acredito que religião não é algo a ser discutido. É impossível forçar/mudar a opinião alheia quando o assunto é fé e crença, mas posso dizer que seguir uma religião usando somente aquilo o que convém é muito fácil, e ao capitulo final, no sermão que ele nunca teve coragem de dar, isso fica evidente...

Falando sobre parte física e diagramação, os títulos dos capítulos sempre são sugestivos e já dão ideia do que o texto irá tratar. A capa é bonita, lembra uma biblia e acho que a escolha não poderia ser melhor.
Sobre a escrita, só tenho elogios pois o autor escreve muito bem. Em alguns momentos senti que alguns capítulos eram destinados a polêmica pura, usando palavreados e termos chulos, já outros eram mais reflexivos e profundos, alguns inclusive trazem trechos da bíblia.
Eu só não sei ainda qual foi a intenção da utilização de nomes em letras maiúsculas ou minúsculas para nomes. Talvez seja algo ligado ao estado de espírito do protagonista em acreditar que algo ou alguém está num nível elevado e digno de respeito e enaltecimento ou não, como "deus", "bianca" (a esposa), "Ele" (se referindo a Davi, seu amante), "Mamãe", e por aí vai.

Enfim, não acho que seja um livro cuja leitura será facilmente aceita. É necessário ler com a mente aberta e deixar preconceitos de lado para saber um pouco mais desse pecador que, por mais que tenha sofrido na vida, soube o significado do que é viver intensamente.

A Rainha do Castelo de Ar - Stieg Larsson

9 de setembro de 2015

Título: A Rainha do Castelo de Ar - Millennium #3
Autor: Stieg Larsson
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Ficção Policial
Ano: 2011
Páginas: 688
Nota: ★★★★★
Sinopse: Mikael Blomkvist está furioso. Furioso com o serviço secreto sueco, que, para proteger um assassino, internou Lisbeth Salander na época com apenas doze anos num hospital psiquiátrico e depois deu um jeito de declará-la incapaz. Furioso com a polícia que agora quer indiciar Lisbeth por uma série de crimes que ela não cometeu. Furioso com a imprensa, que se compromete em pintar a moça como psicopata e lésbica satânica. Furioso com a promotoria pública, que pretende pedir que ela seja internada de novo, desta vez ao que parece para sempre. Enquanto Lisbeth recupera-se num hospital de ferimentos que quase lhe tiraram a vida, Mikael procura conduzir uma investigação paralela que prove a inocência de sua amiga. Mas a jovem não fica parada, e muito mais do que uma chance para defender-se ela quer uma oportunidade para dar o troco. Com a ajuda de Mikael, Lisbeth está muito perto de desmantelar um plano sórdido que durante anos se articulou nos subterrâneos do estado sueco, um complô em cujo centro está o pai dela, um perigoso espião russo que ela já tentou matar. Duas vezes.

Resenha: É difícil expressar com palavras o que a Série Millennium despertou em mim. Lisbeth Salander e Mikael Blomkvist foi a dupla de mocinhos que mais me deu prazer em acompanhar. A trama encerrada no segundo volume tem seu desfecho em A Rainha do Castelo de Ar. Nesse terceiro livro temos uma trama intricada cheia de intrigas, perseguições e um ritmo narrativo que torna impossível deixar a leitura de lado.

A trilogia Millenium é uma das melhores, se não a melhor, do gênero policial. Cada detalhe, desde a construção dos protagonistas até o desfechos e revelações, é muito bem feito.O problema de como encerrar a trama e dar o devido desfecho a cada personagem não recai sobre a obra de Stieg.

Salander é um enigma. A personagem tem um ar misterioso e é ilegível para o leitor da mesma maneira que para quem a ronda. A personalidade torna os atos imprevisíveis e cheio de surpresas. É possível notar, com Lisbeth como base, que Stieg criou um enredo voltado para o abuso e violência contra a mulher trazendo junto uma protagonista que luta tanto para si quanto por outras. Atualmente, vivemos um momento que o feminismo está tomando formas mais concretas, e vi isso em Lisbeth. A fragilidade dela é apenas aparente em sua forma franzina e pequena, mas a garota esconde uma força interior capaz de enfrentar situações de prova como ninguém. As falas são sempre dosadas de forma correta, com uma pitada de sarcasmo e inteligência. Um viva para Larsson por ter construído uma heroína como ela, a frente do seu tempo.

Não podemos esquecer também o papel essencial de outros personangens na trama. Mikael continua robusto, cheio de confiança e seu caráter é admirável. Ele não é um policial, mas um jornalista que se dá bem como investigador, busca a verdade nos fatos e a defende até o fim. Destaque também para Annikka, irmã de Blomkvist, que se mostrou muito importante para o desfecho da trama e ganhou meu real respeito com suas atitudes. Érika Berger, que antes tinha tudo a seu favor, teve um papel um pouco confuso neste volume e isso se tornou um ponto negativo. Faltou um pouco mais de concisão no problema que a atingiu. No mais, todos os outros componentes dessa história, como o departamento de policia que trabalhou para defender Salander e os redatores da Millenium, merecem muita admiração.

A Rainha do Castelo de Ar é um desfecho* que encerra a trajetória de personagens queridos e que conquistaram todos aqueles os acompanharam nessa jornada. Quase setecentas páginas passam de maneira veloz, com uma narrativa ágil e uma trama bem feita. Abordar problemas que envolvem o Estado, manipulação de pessoas e a responsabilidade civil sobre uma criança foi espetacular pela parte de Larsson. Por mais que o leitor não esteja habituado com temas tão complexos, ao iniciar a leitura é provável que a saga de Blomkvist e Salander seja capaz de te prender do começo ao fim.

*A história de Lisbeth e Mikael pode ter sido finalizada para uns, mas para outros não. David Lagercrantz escreveu uma continuação, A Garota na Teia de Aranha, para a série. Cabe a cada leitor e fã decidir se continua ou não.

A Menina Que Brincava Com Fogo - Stieg Larsson

18 de junho de 2015

Lido em: Junho de 2015
Título: A Menina Que Brincava Com Fogo - Millennium #2
Autor: Stieg Larsson
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Ficção Policial
Ano: 2009
Páginas: 611
Nota: ★★★★★
Sinopse: Nada é o que parece ser nas histórias de Larsson. A própria Lisbeth parece uma garota frágil, mas é uma mulher determinada, ardilosa, perita tanto nas artimanhas da ciberpirataria quanto nas táticas do pugilismo, que sabe atacar com precisão quando se vê acuada. Mikael Blomkvist pode parecer apenas um jornalista em busca de um furo, mas no fundo é um investigador obstinado em desenterrar os crimes obscuros da sociedade sueca, sejam os cometidos por repórteres sensacionalistas, sejam os praticados por magistrados corruptos ou ainda aqueles perpetrados por lobos em pele de cordeiro. Um destes, o tutor de Lisbeth, foi mor-to a tiros. Na mesma noite, contudo, dois cordeiros também foram assassinados: um jornalista e uma criminologista que estavam prestes a denunciar uma rede de tráfico de mulheres. A arma usada nos crimes - um Colt 45 Magnum - não só foi a mesma como nela foram encontradas as impressões digitais de Lisbeth. Procurada por triplo homicídio, a moça desaparece. Mikael sabe que ela apenas está esperando o momento certo para provar que não é culpada e fazer justiça a seu modo. Mas ele também sabe que precisa encontrá-la o mais rapidamente possível, pois mesmo uma jovem tão talentosa pode deparar-se com inimigos muito mais formidáveis - e que, se a polícia ou os bandidos a acharem primeiro, o resultado pode ser funesto, para ambos os lados.

Resenha: A Menina que Brincava com Fogo, é o segundo livro da série Millennium. Stieg Larsson, falecido logo após entregar o manuscrito da saga de Lisbeth Salander, criouuma incrível aventura sobre um jornalista metido a detetive, Mikael Blomkvist, e uma garota excepcional.

A continuação de Os Homens que Não Amavam as Mulheres traz Lisbeth com um papel maior de protagonista, junto com Mikael. O caso dos Vanger se encerrou dando lugar a um dilema da própria Salander: ela agora é acusada de um triplo assassinato. É com esse pano de fundo que a trama começou a se desenrolar (ou seria enrolar?) e prender a atenção de quem lê.

O livro pode ser separados em duas partes: no começo o ritmo é lento, bem introdutório, conduzindo o leitor a relembrar alguns fatos do volume anterior e as férias de Lisbeth por alguns lugares do mundo. Logo após, a bomba dos assassinatos cai diretamente sobre Salander e a partir disso a trama ganha um ritmo semelhante ao que o volume antecessor teve no final.

O tema central gira em torno do abuso sexual contra a mulher. Tanto no primeiro quanto no segundo temos, em diferentes situações, retratos do sofrimento das figuras femininas e a busca por justiça. Stieg criou nos protagonistas figuras de heroísmo e perspicácia. Não só em Mikael ou Lisbeth; mas também em Erika, Bublanski, Sonja, Malu, Mimmi Wu e outros. Dessa mesma forma ele teve a habilidade para criar vilões bem convincentes. A Menina que Brincava com Fogo tem um abismo que separa seus protagonistas: aqueles nos quais devemos nos espelhar e uns que detém um caráter duvidoso e atitudes tampouco humanas.

A prosa de Larsson é fabulosa. A narrativa é sempre crucial para tornar um livro atrativo, até porque mais de seiscentas páginas não são lidas de uma vez só. Mas Stieg, na construção do texto, criou um dinamismo que torna a leitura agradável e cheia de mistérios que motivam a ir a diante para descobrir o que acontecerá com Lisbeth. Perto do final, principalmente, os capítulos começam a ficar mais curtos e mostram situações diferentes de maneira rápida e eficaz. É bem clichê dizer isso, mas chega a um momento que se tornou impossível largar a leitura.

A protagonista é uma "diva", a seu próprio modo. Lisbeth tem um quê de malícia, é inteligente ao extremo e deixa clara suas intenções: quem com o ferro fere, com fogo será queimado. Estamos tão acostumado com mais fragilidade partindo de personagens femininas que é surpreendente como Stieg personificou tanta força nessa moça. Salander tem fibra e coragem de sobra. É pouco óbvio que ela fosse mostrar algum tipo de vulnerabilidade ao logo da série, mas ela o faz. Assim, o sentimento de torcida pela garota só aumenta.

Toda livraria deveria vir com um cartaz em algum lugar advertindo o visitante a comprar a trilogia Millenium. A Menina que Brincava com Fogo é incrível, sendo ainda melhor que o primeiro. O sucesso de vendas é merecido e ler uma obra como esta é gratificante a qualquer leitor. As últimas páginas trazem a certeza que esta é uma das histórias mais inesquecíveis e bem escritas da literatura contemporânea.

Clube da Liga #4 - Red Hill - Jamie McGuire

25 de maio de 2015

Lido em: Maio de 2015
Título: Red Hill - Red Hill #1
Autora: Jamie McGuire
Editora: Verus
Gênero: Ficção Apocalíptica/Drama
Ano: 2015
Páginas: 350
Nota: ★★★☆☆
Sinopse: Para Scarlet, cuidar de suas duas filhas sozinha significa que lutar pelo amanhã é uma batalha diária. Nathan tem uma mulher, mas não se lembra o que é estar apaixonado; a única coisa que faz a volta para casa valer a pena é sua filha Zoe. A maior preocupação de Miranda é saber se seu carro tem espaço suficiente para sua irmã e seus amigos irem viajar no fim de semana, escapando das provas finais da faculdade.
Quando a notícia de uma epidemia mortal se espalha, essas pessoas comuns se deparam com situações extraordinárias e, de repente, seus destinos se misturam. Percebendo que não conseguiriam fugir do perigo, Scarlet, Nathan, e Miranda procuram desesperadamente por abrigo no mesmo rancho isolado, o Red Hill. Emoções estão a flor da pele quando novos e velhos relacionamentos são testados diante do terrível inimigo – um inimigo que já não se lembra mais o que é ser humano.
O que acontece quando aquele por quem você morreria, se transforma naquele que pode lhe destruir?
Resenha: Red Hill, da autora Jamie McGuire e publicado pelo selo Verus do grupo Editorial Record, foi o livro escolhido para leitura do mês no Clube do Livro.

O que você faria se estivesse diante de um apocalipse zumbi?
O conceito de apocalipse zumbi e mortos-vivos comedores de gente, até então, era algo ficcional. As pessoas podem até imaginar como seria o fim do mundo e o que fariam numa situação crítica ao assistirem seriados na televisão ou um filme de grande bilheteria, mas na prática ninguém está, de fato, preparado.
Há muitos anos atrás um cientista investiu num projeto que tinha como propósito reanimar mortos. Por ser uma abominação e uma prática anti-ética, ele foi expulso da sociedade científica, mas o que ninguém esperava era que a pesquisa acabaria surtindo algum resultado...

Assim, quando há um alerta de pandemia, a população entra em pânico, e a história gira em torno de três personagens e o que eles fazem quando descobrem que o apocalipse chegou.
Scarlet, Nathan e Miranda são pessoas que, aparentemente, não têm nada em comum. Cada um deles tem suas próprias preocupações e prioridades na vida, até que, diante do surto, eles decidem ir pro rancho Red Hill, propriedade do Dr. Hayes, em busca de abrigo e segurança.

Sem poder se comunicar com as filhas, resta a Scarlet deixar um bilhete sobre onde estaria esperando por elas e contar com sua intuição de mãe de que elas conseguiriam chegar bem.
Miranda só queria fugir da faculdade e curtir o fim de semana, mas se viu obrigada a procurar abrigo em Red Hill, a casa de seu pai.
Nathan é um pai dedicado que mesmo tendo visto seu casamento afundar se preocupa com a filha e agora, mais do que nunca, com sua segurança, e assim como Scarlet e Miranda, tem Red Hill como destino.

Acredito que o foco principal da história são as relações entre os personagens pois a forma como o pano de fundo foi construído não inovou, e isso foi algo que todos os participantes do Clube do Livro concordaram, mesmo tendo gostado ou não.

Narrado em primeira pessoa de forma linear e alternando os pontos de vistas dos três personagens principais, vamos acompanhando a luta de cada um deles para chegar ao local que julgaram adequado para se protegerem, lindando com abalo psicológico que envolve perda e medo, e se adaptando a uma nova vida de forma forçada ao mesmo tempo que precisam aprender a conviver com outras pessoas que agora compõe uma nova "família".

A preocupação de Scarlet como mãe, a dor e o desespero que sentiu quando a confusão começou e ela não tinha notícias das filhas é notável e admirável. A confiança e esperança que ela manteve em acreditar que as filhas conseguiriam chegar até ela são inabaláveis. Ela é forte e decidida, e com as atitudes que tem consegue liderar o grupo que se forma pra que todos fiquem em segurança e, claro, não desiste nunca da ideia de que irá reencontrar as filhas.
Nathan só enxerga felicidade em Zoe, sua filha, e ficou arrasado por ter descoberto que foi abandonado pela esposa na véspera do surto. Ele expõe os sentimentos amargos de indiferença e falta de amor com bastante realidade e sinceridade. Fiquei com pena dele e por mais que a situação e o cenário não fosse favorável, torci para que ele conseguisse encontrar a felicidade em algo ou alguém, por mais impossível que fosse.

Miranda também é uma personagem forte e sua intenção é proteger Ashley, sua irmã. Seu desejo maior era chegar a Red Hill e ter um pouco de paz e segurança, vivendo tranquila até que todo o tormento tivesse fim. Não me apeguei muito a ela mas gostei da autora colocar duas personagens mulheres no topo do grupo mostrando que elas podem ter tanta força e coragem como um homem ao serem testadas e levadas ao extremo.

Apesar da autora ter uma escrita bastante fácil e fluída e ter uma habilidade muito boa pra descrever os detalhes, notei algumas falhas na história. Não sei se o problema é os personagens estarem separados inicialmente e não ficar muito claro se os acontecimentos se passam simultaneamente ou não, mas algumas cenas não batem cronologicamente enquanto outras não fazem a menor diferença no desenvolvimento do enredo. E falando em desenvolvimento, confesso que no começo me empolguei bastante com a leitura, mas com o passar das páginas, talvez por esperar por algo inédito, tenha me decepcionado um pouco.

Como eu já tenho um contato maior com esse tema por ser fã de franquias como The Walkind Dead e Resident Evil, e também por ter lido Guerra Mundial Z, nada do que aconteceu em Red Hill me surpreendeu. Os relacionamentos interpessoais me agradaram, mas não ao ponto de me deixarem emocionada ou mexerem comigo de alguma forma. Todos os acontecimentos envolvendo a luta pela sobrevivência e até mesmo os conflitos psicológicos e os relacionamentos entre os personagens em meio a zumbis foram previsíveis, fracos, superficiais e alguns ainda não fizeram o menor sentido dentro do contexto de fim do mundo. O final eu simplesmente não engoli.
Quem já se acostumou com coisas muito mais complexas, pesadas e grotescas envolvendo essas criaturas, a reação dos sobreviventes e a forma como lidam com o que enfrentam, principalmente quando eles já estão há muitos anos naquele ambiente, espera ler algo diferente do que já foi visto, mesmo que a base seja a mesma. Acho que é possível criar tramas em cima de temas conhecidos e, ainda assim, ser original, mas isso não acontece em Red Hill.

A capa retrata bem o ar de arraso digno de um apocalipse e é muito caprichada. Até o céu cinzento representa uma das cenas da história. O título é em alto relevo e no geral o trabalho gráfico é perfeito.
As páginas amarelas tem a fonte agradável, a diagramação é simples e cada capítulo se inicia com o nome do protagonista da vez. Não encontrei erros na revisão e é o tipo de leitura que por fluir bem é possível terminar bem rápido. Eu particularmente demorei um pouco mais por começar a achar o desenvolvimento da história repetitivo no quesito "já li/assisti coisa parecida em outro lugar".

Recomendo o livro pra quem ainda não tem contato com esse universo e quer começar, pois Red Hill traz uma visão "branda" sobre o tema e posso dizer que se existe um apocalipse zumbi para iniciantes, essa é a história.
O "Clube do Livro da Liga" é formado por amigos que resolveram arriscar uma leitura coletiva e se surpreenderam com a interação que foi proporcionada. Temos muitos gostos e ideias em comum, além de muitas discussões e risadas. Ninguém nunca irá nos entender, ainda bem.

A Cidade Murada - Ryan Graudin

7 de maio de 2015

Lido em: Maio de 2015
Título: A Cidade Murada
Autora: Ryan Graudin
Editora: Seguinte
Gênero: YA/Ficção
Ano: 2015
Páginas: 400
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Existem três regras para sobreviver na Cidade Murada. Corra muito. Não confie em ninguém. Ande sempre com uma faca.
Hak Nam é uma cidade murada de ruas estreitas e sujas, onde vivem traficantes, assassinos, prostitutas e ladrões. É também onde mora Dai, um garoto cujo passado o assombra e o mantém preso naquele lugar horrível. Para alcançar a liberdade, ele terá de se envolver com a principal gangue ali dentro e formar uma dupla com alguém que consiga entregar drogas muito, muito rápido. Alguém como Jin, uma garota ágil e esperta que finge ser um menino para conseguir sobreviver e continuar a busca por sua irmã, Mei Yee. Confinada num bordel, Mei Yee está mais perto do que Jin imagina. Ela passa os dias sonhando em fugir… até que Dai cruza seu caminho.
Inspirado na cidade murada de Kowloon, que existiu em Hong Kong até os anos 1990, este romance lírico e ao mesmo tempo cheio de adrenalina a luta desses três jovens, que, unidos pelo destino, tentam escapar da Cidade Murada para recomeçar a vida bem longe dali.
Resenha: A Cidade Murada, escrito pela autora Ryan Graudin e publicado pela Seguinte conta o que se passa na fictícia cidade de Hak Nam, em Seng Ngnoi, uma "favela de pedra" sem governo onde as leis são impostas pelos mais fortes e pela Irmandade do Dragão Vermelho.
Antes de tudo, não acho que o livro se encaixe como sendo uma distopia pois apesar de existir uma lei própria dentro da Cidade Murada, ditada por bandidos e gangues, se trata de uma ficção baseada em alguns fatos. A Cidade Murada realmente existiu, o nome original do local era Kowloon, em Hong Kong, e era considerada a maior e mais densa favela vertical do mundo, onde nem entrava a luz do sol, com vários barracões minúsculos construídos um em cima do outro, de forma desenfreada e sem nenhuma supervisão de engenheiros ou arquitetos, formando ruas estreitas, becos e um emaranhado de fios que transpassavam o local que era completamente dominado por quadrilhas. O espaço total era de menos de 0,3km² que abrigava um amontoado de mais de 30 mil famílias. Todas vivendo na pobreza e lidando com todos os tipos de problemas, como falta de saneamento, educação e saúde, fazendo com que as pessoas de lá fizessem de tudo para sobreviverem em vez de apenas viverem tranquilas. A cidade abrigava meninos de rua, prostitutas, fugitivos e bandidos capazes de cometer as piores atrocidades, inclusive o tráfico de pessoas e exploração sexual de crianças, que muitas vezes eram vendidas por membros de suas próprias famílias.
Esse foi o cenário que a autora escolheu para contar a história de Jin Ling, Mei Yee e Dai.





A narrativa é feita com um certo toque poético, em primeira pessoa se alternando entre os protagonistas e em forma de contagem regressiva de 18 dias, e fica no ar o que vai acontecer quando o prazo terminar.
Jin Ling é uma garota ágil e esperta que finge ser um menino de rua para conseguir sobreviver enquanto procura pela irmã, sempre munida de uma faca, se esgueira e se camufla ao cenário. Se os bandidos souberem que é ela é uma menina, corre o risco de ser trancafiada num bordel, e foi exatamente isto que aconteceu com Mei Yee, sua irmã.. Confinada num bordel sujo, Mei Yee tem esperança de fugir e se ver livre. Ela lida com a ieia de que seu corpo pode ser usado, mas sua mente sempre estará livre pra sonhar e pensar o que quiser. Ela passa os dias sonhando em fugir…
Dai é misterioso, se infiltrou na vida do crime e tem muitos segredos que envolvem seu passado. Ele precisa realizar um serviço para traficantes de drogas antes de se libertar mas precisa de alguém que seja muito rápido para lhe ajudar, é aí que ele cruza com Jin, que é a pessoa perfeita pra fazer esse tipo de trabalho.

Jin, seguindo a segunda regra da cidade, nunca confia em ninguém.
O destino dos três é entrelaçado de forma incrível, pois as duas irmãs não sabem que Dai está entre elas, e a autora mostra que, por mais que o ambiente seja desfavorável, com amor e amizade é possível que obstáculos sejam superados e ultrapassados.
O interessante é que a Cidade com todas essas características surreais parece ser um personagem da história, como se fosse algo com vida própria que engolisse os habitantes os obrigando a se adaptarem ou morrerem tentando, e sua apresentação na história vem com muita naturalidade para que o leitor, mesmo ficando abismado com o que acontece lá dentro, se familiarize com facilidade.
Senti que houve um floreio de descrições, como se a autora usasse de analogias para exemplificar ou intensificar alguma coisa e esse tipo de característica na escrita não me agrada muito. Acho que quanto mais direto ao ponto for, melhor, pois a leitura flui com mais facilidade.

O que move os personagens é a esperança, a ideia de que por mais que o corpo esteja preso, a mente pode ser livre, e ter esperança é algo que jamais poderá ser controlado ou contido.
A autora explora esse anseio pela liberdade, os relacionamentos fraternais e de amizade ao mesmo tempo que aborda os piores temas que envolvem cartéis, escravidão sexual, tráfico de drogas e etc, temas estes que violam direitos humanos e se estendem para além dos muros da cidade e para além da ficção.
A Cidade Murada retrata, através da ficção, um tipo de realidade triste mas assombrosamente incrível. É algo como o Holocausto: todos sabem de seus horrores, mas é um tema que nunca deixa de ser interessante e fascinante.

Sobre o trabalho gráfico do livro, só posso falar sobre a capa, pois tive acesso a prova antecipada e acredito que os erros de revisão devem ter sido corrigidos em sua versão final. A capa mostra um tipo de "raio-x" das casas e dos moradores e seus cotidianos em meio ao amontoado e ao aperto que é viver naqueles cubículos. Ao olhar dos mais atentos, é uma obra de arte que consegue retratar muito bem parte do estilo de vida das pessoas que se espremem alí.
Ainda sobre Kowloon, houve um projeto de desocupação que levou 5 anos para que, enfim, a Cidade Murada pudesse ser demolida, mas é uma pena que o tráfico de pessoas inocentes não tenha acabado alí.



Pra quem gosta de ler sobre realidade que se mescla a ficção e tem curiosidade sobre os horrores desse submundo como pano de fundo de uma história de esperança, amizade e amor, leia!

Os Homens Que Não Amavam as Mulheres - Stieg Larsson

2 de março de 2015

Lido em: Fevereiro de 2015
Título: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres - Millennium #1
Autor: Stieg Larsson
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Ficção Policial
Ano: 2008
Páginas: 522
Nota: ★★★★★
Sinopse: Os homens que não amavam as mulheres traz uma dupla irresistível de protagonistas-detetives: o jornalista Mikael Blomkvist e a genial e perturbada hacker Lisbeth Salander. Juntos eles desvelam uma trama verdadeiramente escabrosa envolvendo a elite sueca.
Os homens que não amavam as mulheres é um enigma a portas fechadas - passa-se na circunvizinhança de uma ilha. Em 1966, Harriet Vanger, jovem herdeira de um império industrial, some sem deixar vestígios. No dia de seu desaparecimento, fechara-se o acesso à ilha onde ela e diversos membros de sua extensa família se encontravam. Desde então, a cada ano, Henrik Vanger, o veelho patriarca do clã, recebe uma flor emoldurada - o mesmo presente que Harriet lhe dava, até desaparecer. Ou ser morta. Pois Henrik está convencido de que ela foi assassinada. E que um Vanger a matou.
Quase quarenta anos depois o industrial contrata o jornalista Mikael Blomkvist para conduzir uma investigação particular. Mikael, que acabara de ser condenado por difamação contra o financista Wennerström, preocupa-se com a crise de credibilidade que atinge sua revista, a Millennium. Henrik lhe oferece proteção para a Millennium e provas contra Wennerström, se o jornalista consentir em investigar o assassinato de Harriet. Mikael descobre que suas inquirições não são bem-vindas pela família Vanger. E que muitos querem vê-lo pelas costas. De preferência, morto. Com o auxílio de Lisbeth Salander, que conta com uma mente infatigável para a busca de dados - de preferência, os mais sórdidos -, ele logo percebe que a trilha de segredos e perversidades do clã industrial recua até muito antes do desaparecimento ou morte de Harriet. E segue até muito depois.... até um momento presente, desconfortavelmente presente.

Resenha: A trilogia Millennium se tornou um sucesso de vendas no mundo. O primeiro volume, Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, rendeu dois filmes: um na versão sueca e outra americana. Mikael Blomksvist está, inicialmente, tentando se reerguer de um processo contra ele e a possível queda da revista Millennium. Ao aceitar um convite de investigação, ele vai para uma pequena cidade a algumas horas de Estocolmo, no interior da Suécia. A pedido de Henrik Vanger, Blomkvist passa a investigar a morte de Harriet Vanger, não solucionada totalmente há trinta anos atrás sob o ponto de vista do seu tio, Henrik. Com esse pano de fundo e com a ajuda da peculiar Lisbeth Salander, Mikael vai angariar inimigos nessa busca e descobrir que nem tudo foi totalmente resolvido.

Os Homens que Não Amavam as Mulheres tem um começo bem devagar: a história é escrita de maneira mais lenta e bem introdutória. O começo do livro envolve o xis da questão a respeito de Mikael e sua investigação sobre fraudes numa empresa sueca. Junto com isso vem a introdução sobre a personalidade do acionista da revista Millennium. O ritmo, no entanto, só se torna bem eletrizante com a chegada de Lisbeth Salander. Essa personagem é de longe uma das que mais adoradas no meio literário. Ela, apesar de jovem, é experiente e dona de uma inteligência impressionante. Suas investigações são feitas com muita perspicácia. A junção de Salander e Blomkvist não poderia ter sido mais perfeita: os dois formaram uma dupla incrível. É interessante ver como a relação dos dois é um pouco arisca no começo, mas, com o desenrolar da trama, ambos cedem um pouco e essa interação resultou em algo excelente.

Os coadjuvantes do primeiro livro de Millenium são tão bons quanto a dupla de protagonistas. Os Vanger eram os mais complexos. O mistério que envolve a família é perigoso, portanto, a cada capítulo a visão sobre cada um pode mudar, oscilando entre opiniões boas ou ruins. O que é evidente, já nesse âmbito familiar, é o abuso do homem em relação a mulher.

O tema abuso sexual não é mostrado logo no início, mas o assunto toma forma perto do final e é ali que a mestria de Stieg se consolida. A história começa a culminar para um final muito eletrizante, graças às revelações que são feitas por Lisbeth e Mikael. Com muita ação, eventos macabros e fugas repentinas, o desfecho da obra foi mais do que satisfatório e deixou a sensação de dever cumprido.

Os Homens Que Não Amavam as Mulheres é uma leitura excelente e faz jus a opinião dos milhares de leitores ao redor do mundo. Stieg criou uma trama arrebatadora e concisa em todos os pontos. O embasamento da obra é muito concreto e crível, o que deu veracidade a história. Os protagonistas, de longe uma das duplas mais incríveis da literatura, são a cereja do bolo que torna o primeiro volume de Millenium tão inesquecível.

Flora Hen - Hwang Sun-mi

9 de janeiro de 2015

Lido em: Janeiro de 2015
Título: Flora Hen - Uma fábula de Amor e Esperança
Autora: Hwang Sun-mi
Ilustradora: Yasmin Mundaca
Editora: Geração
Gênero: Fábula/Ficção
Ano: 2014
Páginas: 148
Nota: ★★★★★
Sinopse: A moderna fábula coreana com 2 milhões de exemplares vendidos que está conquistando corações em todo o mundo.
Flora Hen é uma galinha. Flora Hen é carismática. Ela vai fazer você rir e chorar, ela vai surpreender você – mas, principalmente, ela vai lhe ensinar, com doçura e coragem, a ser melhor, mais humano e mais forte, nos insuspeitos e perigosos caminhos da vida.
Tão poético e filosófico quanto “O pequeno príncipe”. Tão iluminado quanto “Fernão Capelo Gaivota”. Tão animador quanto “A arte da guerra”. Tão inspirador quanto a Bíblia. Criança ou adulto, pode ler sem susto: a encantadora história de Flora Hen vai tocar seu coração.

Resenha: Flora Hen é uma fábula escrita pela autora coreana Hwang Sun-mi e publicado no Brasil pela Geração Editorial.
Flora é uma galinha poedeira que tem o sonho de botar um ovo e chocá-lo até que seu pintinho nasça. O problema é que desde que ela chegou ao galinheiro, todos os ovos que botou são recolhidos e ela não faz ideia do que acontece com eles. Vivendo presa numa gaiola, ela consegue ver um pedacinho do quintal e acabou vendo uma galinha com uma fila de pintinhos a seguindo, e Flora, por saber que jamais poderia fazer o mesmo, ficou entristecida e deprimida de tal forma que não botava mais ovos. Sendo uma galinha poedeira, ela não teria mais utilidade e quando começa a emagrecer por ter deixado de comer devido a estar tão deprimida, é considerada como doente, inútil e quando é descartada, seu destino começa a mudar...

A primeira coisa que preciso dizer: Não julgue o livro pela capa "infantil". Se trata de uma fábula e toda fábula sempre carrega consigo um ensinamento muito valioso e para leitores de todas as idades. Por trás de tanta fofurice, existe uma história linda de superação, de coragem e de força de vontade, que são o alicerce para todos aqueles que querem ter um sonho realizado, que seguem com perseverança fazendo o possível e o impossível para se encaixarem nas mais diversas situações, sem desistir.
A história é narrada em terceira pessoa com bastante fluidez e facilidade, e as ilustrações, que conseguem transpassar as emoções dos personagem através de seus olhos cheios de expressões, são um verdadeiro show pois enriqueceram a obra de tal forma que passei a considerá-la como sendo um pequeno tesouro, tanto pela beleza, quanto pelo seu conteúdo que, sem dúvidas, é de extremo valor.

Uma história carregada de reflexões e ensinamentos que podem ser levados para a vida, que emociona, que toca na alma e que faz com que as lágrimas se tornem inevitáveis.

Recomendo muito!

O Atlas do Amor - Laurie Frankel

3 de janeiro de 2015

Lido em: Dezembro de 2014
Título: O Atlas do Amor
Autora: Laurie Frankel
Editora: Paralela
Gênero: Ficção/Romance
Ano: 2013
Páginas: 232
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Quando Jill engravida acidentalmente e é abandonada pelo namorado, ela e suas duas melhores amigas mergulham de cabeça num projeto inusitado - criar Atlas, o bebê, juntas, em meio à loucura da pós-graduação. As três se mudam então para uma casa maior e montam uma programação sem intervalos, que inclui cuidar do bebê, assistir às aulas, lecionar matérias de introdução à literatura, corrigir trabalhos e cumprir a agenda de leituras. Elas esperam que seus esforços sejam suficientes para formar uma família para Atlas, mas tudo acaba se complicando.

Resenha: Três estudantes da pós-graduação que se conhecem durante o período de aulas. Suas personalidades não têm nada em comum, mas a situação de estarem sozinhas vivendo a mesma rotina as aproxima. Janey é quem dá voz ao livro. Ela é a mais centrada das 3, preocupada com os estudos, as aulas, a alimentação e os problemas de todas. Jill é meio maluca, só come bolachas e meio que vive escorada em Janey. Já Katie é uma religiosa que acredita ter um homem separado pra ele, por isso ela precisa encontrá-lo e se manter pura até o casamento.

Assim que somos apresentadas a ela, surge o grande problema: Jill engravidou de um cara mais novo, ele não quer assumir o filho – pelo contrário, pede pra ela abortar –, e ela não tem condições de bancar a criança e a rotina só com a bolsa da pós (lá eles recebem pra estudar, mas precisam dar aulas para estudantes da licenciatura). Assim, Janey tem a ideia de as 3 morarem juntas para dividirem as despesas e se revezarem nos cuidados do bebê. Apesar dos receios, as 3 aceitam, se mudam e começam a conviver com particularidades de cada.
Eu me convenci de que dava na mesma cozinhar para três pessoas, ainda que sobrasse menos comida para depois, porque haveria alguém para fazer as compras no supermercado antes e para lavar os pratos depois. Dividiríamos as despesas da casa. Era tudo muito fácil. Não tinha como dar errado. É claro que, se isso tudo fosse verdade, não haveria história. Como todo mundo sabe, dizer que nada vai dar errado vem imediatamente antes de tudo dar errado.
Jill leva a gravidez adiante, elas decidem juntas o nome do bebê – Atlas –, se empolgam com esse novo ser em suas vidas e juntas conseguem cuidar dele como se fossem uma família.

Como eu disse mais em cima, lemos a história pela visão de Janey, então é óbvio que nos apegamos mais a ela e entendemos melhor suas motivações. Ela comprou a ideia de ter um bebê, considera Atlas seu filho, se preocupa com ele com verdadeira dedicação. Das 3, é a que mais demonstra apego ao bebê. Por isso, o final me deixou muito chateada. Não posso contar muito, mas tomei suas dores e tive vontade de socar outros personagens por ela. Katie é muito cômica nessa busca por um homem. Tem regras, medos, protocolos... E quando finalmente encontra o cara certo, resolve casar correndo. Mas também embarcou na viagem de criar o neném da amiga, abrindo mão de seu tempo em prol dele. E a vaca da Jill? Não gostei dela. Desde o início demonstrou que gostava de se beneficiar com a amizade das meninas, mas não fazia muita coisa em retorno. Ironicamente, ela é quem mais precisa de ajuda. Não fui com a cara dela e torci pra que se ferrasse (sem atingir o Atlas, claro).

Na primeira metade do livro, quando Atlas ainda não tinha nascido, eu não tinha me conectado ao drama; era praticamente o relato de uma madrinha do bebê. Foi só na parte final que eu me senti mais conectada ao enredo, percebendo aonde a autora queria chegar com a história.

Está bem claro que o tema maternidade é bastante explorado. A autora mostra que nem sempre a mãe biológica é a que mais ama e se sacrifica pela criança. Janey mostrou uma sensibilidade incrível ao lidar com essa nova condição, realmente adotando Atlas como seu, ao passo que Jill agiu de modo egoísta, se aproveitando das condições de estar grávida, ser mãe e ter um bebê dependente.
Ler, tomar notas, consultar referências cruzadas, escrever comentários inteligentes e cuidar de um bebê que raramente dorme mais de quinze minutos de cada vez é mais difícil do que parece. Ou vai ver é tão difícil quanto você imagina, mas sua ideia de realidade deve ser mais real do que a nossa.
Talvez eu tivesse uma visão mais neutra se a escrita fosse em 3ª pessoa ou se pelos a narrativa fosse intercalada entre as 3 protagonistas (minha preferência). Ao optar por contar a história pela personagem que não engravidou, a autora não nos deixa saber ao certo o que se passava na cabeça de Jill, mas mostra a fundo os temores, expectativas e sentimentos de Janey.

O livro também discute o conceito de família. Enquanto Katie quer manter o modelo tradicional, Jill é filha de mãe solteira e acaba se tornando uma também. Janey tem um relacionamento bem bacana com os pais e a avó, e eles acabam se sentindo avós e bisavó da criança. Elas também têm um casal de amigos gays que são loucos pra ter um filho. Com tanta variedade de personalidades e convicções, de vez em quando surge uma opinião mais preconceituosa, mas a autora teve o cuidado de rapidamente abafá-la e reforçar a ideia de que não há um modelo correto e/ou ideal de família.

Adiantado no parágrafo anterior, os coadjuvantes vivem suas próprias histórias e são presença marcante no dia a dia das amigas. Jason é o maior apoio externo que as meninas têm para ajudar com Atlas; se elas não podem, chamam por ele. Não há preconceito algum em relação ao seu namoro com Lucas ou à ideia de terem um filho. A família de Janey é louca, especialmente a avó, mas ao mesmo tempo eles são fofos. Gostei também de Ethan, um cara com quem Katie saiu e não deu certo, mas acabou se tornando amigo da “família”.

Ah! Um detalhe não muito importante pra história, mas que me tocou: as meninas são estudantes de Literatura, chegam a comparar suas vidas a livros ou gêneros. Em algumas partes aparecem referências ao universo que tanto amamos. ♥
Parte do motivo de dedicar sua vida a estudar literatura é a revelação de que contar histórias é mais do que inventar coisas, e que inventar coisas é muito mais importante do que fingimos – inventamos – ser. De uma forma ou de outra, os livros contam as histórias de seus leitores. Mas contar nossas histórias é diferente de formá-las, de talhá-las conforme preferimos.
[...]
Acredito piamente que é possível conhecer as pessoas pelos livros que elas leem, pelos trechos que elas sabem de cor, e pelo modo como passam os dedos pela lomada deles.
Em relação ao final, não curti. Não pelo que aconteceu em si, mas por ter ficado um tanto aberto, sem resolver muito bem o conflito e deixando mil e uma possibilidades de continuação. Eu queria saber o que de fato aconteceu com as amigas e com Atlas.

Essa capa é linda, foi o que me fez parar pra ler a sinopse, o que me atraiu ao livro. A revisão deu umas pequenas vaciladas, mas no geral está boa.

A leitura é indicada para todos que gostam de romance, amizade e dramas familiares. E se você for assim como eu, louca por bebês e doida pra ter o seu, vai mergulhar ainda mais fundo na segunda parte da história.

Mundo Novo - Chris Weitz

24 de dezembro de 2014

Lido em: Outubro de 2014
Título: Mundo Novo - Mundo Novo #1
Autor: Chris Weitz
Editora: Seguinte
Gênero: Ficção
Ano: 2014
Páginas: 328
Nota: ★★★☆☆
Sinopse: Neste mundo novo, só restaram os adolescentes e a sobrevivência da humanidade está em suas mãos. Imagine uma Nova York em que animais selvagens vivem soltos no Central Park, a Grand Central Station virou um enorme mercado e há gangues inimigas por toda a parte. É nesse cenário que vivem Jeff e Donna, dois jovens sobreviventes da propagação de um vírus que dizimou toda a humanidade, menos os adolescentes. Forçados a deixar para trás a segurança de sua tribo para encontrar pistas que possam trazer respostas sobre o que aconteceu, Jeff, Donna e mais três amigos terão de desbravar um mundo totalmente novo. Enquanto isso, Jeff tenta criar coragem para se declarar para Donna, e a garota luta para entender seus próprios sentimentos - afinal, conforme os dias passam, a adolescência vai ficando para trás e a Doença está cada vez mais próxima.

Resenha: Mundo Novo é o primeiro volume da trilogia de mesmo nome escrita pelo autor Chris Weitz e publicado no Brasil pela Seguinte.
Um vírus foi propagado na cidade de Nova York, causando a morte de adultos e crianças. Os adolescentes sobreviveram, mas sabem que têm um "prazo de validade". Eles foram se organizando em pequenos grupos, assaltando mercados e farmácias, montando seus próprios esquemas de segurança, tudo pra continuarem vivos em meio ao caos. Jeff e Donna fazem parte da gangue da Washington Square e tornam-se ainda mais próximos após a morte do irmão dele, o antigo líder. Quando o gênio da turma, Crânio, levanta a possibilidade de encontrarem a cura da Doença, Jeff lidera uma expedição rumo ao local onde encontrarão as respostas. Mas a cidade está cheia de perigos e outras gangues; quais surpresas esperam por eles?
Armas não matam pessoas, pessoas matam pessoas, mas armas definitivamente ajudam pessoas a matar pessoas.
Não foi difícil eu querer ler o livro quando vi a capa chamativa e soube que era distopia. Mas não sei se foi a expectativa alta, a escrita do autor ou a história mais do mesmo, Mundo Novo não me convenceu.

A primeira coisa que me incomodou foi o excesso de personagens. Peguei um papel e anotei cada nome, associando a uma característica ou função para que eu não me perdesse. Depois me acostumei à maioria, mas tenho minhas dúvidas se vou me lembrar de tudo no segundo volume.
Em muitos livros, o autor acha que é legal ter um "narrador não confiável". Para fazer com que a gente fique na dúvida, e para reconhecermos que nada é absoluto, tudo é relativo, ou qualquer coisa assim. Eu acho isso meio furado. Então, só para você saber, vou ser uma narradora confiável. Tipo, totalmente confiável. Pode confiar em mim.
O enredo não teve nada de muito inovador. Talvez a questão da arma biológica seja uma diferença, mas mesmo assim no contexto geral o livro repete uma estrutura já conhecida pelo público. E senti falta da característica marcante do gênero distópico: governo opressor. Cada grupo tem a sua própria organização, mas não há quem governe a sociedade no geral, pelo menos não nesse primeiro livro (o segundo parece que vai ser diferente).
Somos todos mendigos agora, penso comigo mesmo, erguendo a fronha do hotel que substituía minha mochila. Somos todos homens do saco, vagabundos e saqueadores. Não há uma sociedade em cuja margem ficar.
A narrativa intercalada entre Jeff e Donna deveria ser algo bacana, mas, além de eu não ter sentido muita diferença entre os 2 estilos, acabei ficando meio confusa em algumas partes por conta da pontuação. Nas partes narradas por Donna, principalmente, ao invés do clássico travessão o autor optou pela estrutura "Personagem: diálogo". Às vezes acabava misturando travessão e dois pontos. Bagunça mental define. Paralelamente à busca por respostas, eles travam batalhas internas em relação aos sentimentos, já que Jeff gosta de Donna e ela o enxerga como amigo. Em vários momentos, o romance se sobrepõe à trama e o livro meio que perde o foco. Isso acontece mais nas partes narradas por Donna; ela é muito sentimental, toda hora está sofrendo pela dúvida do que sente, pela ausência do irmãozinho que morreu, por ciúmes... Já ele até passa por esses momentos, mas, como homem, é mais racional, mais focado nos problemas e em como resolvê-los.
Quando penso nas várias vezes em que desejei que meus pais me deixassem em paz, tenho vontade de vomitar.
Mas obviamente o livro não teve só coisas ruins. Gostei de acompanhar a transição adolescência > vida adulta acelerada. Os personagens precisaram amadurecer muito rapidamente, lidando com várias perdas e um excesso de responsabilidades repentinas, mas em alguns momentos se permitiam o sofrimento, a saudade, a angústia. Fiquei pensando que essa é a realidade de muitas crianças e adolescentes de hoje, que perdem os pais pro crime, pras drogas, pra violência, e precisam se virar num mundo caótico. Mas como não é um sentimento comum, eles ficam marginalizadas, ignoradas pela sociedade. Se a Doença nos atingisse, provavelmente eles teriam uma adaptação muito mais fácil, enquanto a grande maioria dos adolescentes iria sofrer.

Falando em adaptação, outra discussão presente no livro diz respeito à questão do consumismo. Não tem mais moda, cada um usa o que quer, combinando da maneira que quer, assim como retratado na capa. Não tem mais como usar a tecnologia, acabou internet, energia é algo raro, o convívio presencial é necessário até mesmo por questões de segurança. Chris aborda um mundo sem tantos recursos tecnológicos, numa tentativa de prever o que aconteceria caso a nossa realidade fosse abalada.
Wash diz - dizia - que se trata de uma hierarqueia de necessidades. Ele dizia que não tínhamos tempo para ficar discutindo as coisas de sempre, como a legalidade do casamento homossexual, ou sei lá o quê, porque estamos ocupados demais tentando comer.
Agora me pergunta se eu quero ler o livro 2. A resposta é sim. Se fosse por 90% do livro, eu dispensaria de boa, mas os 10% finais trouxeram uma reviravolta que me deixou com vontade de descobrir mais. Final safado, com o maldito cliffhanger! Quando a gente acha que a história vai seguir por um caminho, vem o autor e muda tudo. Que bom, adoro ser surpreendida.
No geral, foi uma introdução bem arrastada, com algumas cenas de ação que não me prenderam, um romance chocho e um cenário já batido. Vamos ver se Chris consegue trazer algo melhor no segundo volume.
É errado ser feliz? Dane-se. Eu sou. Ninguém pode fazer nada quanto a isso.

O Menino do Pijama Listrado - John Boyne

24 de outubro de 2014

Lido em: Janeiro de 2012
Título: O Menino do Pijama Listrado
Autor: John Boyne
Editora: Seguinte
Gênero: Drama/Juvenil
Ano: 2007
Páginas: 190
Nota: ★★★★★

Sinopse (da orelha do livro): É muito difícil descrever a história de O menino do pijama listrado. Normalmente o texto de orelha traz alguma dica sobre o livro, alguma informação, mas nesse caso acreditamos que isso poderia prejudicar sua leitura, e talvez seja melhor realizá-la sem que você saiba nada sobre a trama.
Caso você comece a lê-lo, embarcará em uma jornada ao lado de um garoto de nove anos chamado Bruno (embora este livro não seja recomendado a garotos de nove anos). E cedo ou tarde chegará com Bruno a uma cerca.
Cercas como essa existem no mundo todo. Esperamos que você nunca se depare com uma delas.

Resenha: O Menino do Pijama Listrado, escrito pelo autor John Boyne foi lançado no Brasil pela Companhia das Letras, mas este ano foi reimpresso pela 46ª vez, saindo pelo selo voltado ao público juvenil da editora, a Seguinte. O livro é um grande sucesso de vendas desde seu lançamento e publicação em 2007 e também ganhou uma adaptação cinematográfica bastante satisfatória se comparada ao livro.

A capa tem uma textura diferente, que lembra tecido e as páginas são amareladas. A diagramação é simples e os diálogos são apresentados com aspas em vez de travessão. Os capítulos são curtos e trazem no título uma ideia do que virá, e vez ou outra aparecem símbolos que ilustram o que o protagonista vê, mesmo que não saiba o que significam. Não encontrei erros e só tenho que dar os parabéns a editora pelo cuidado com a parte impressa do livro que, assim como a história, é simples mas muito bonita.

Depois de muito pensar, resolvi fazer a resenha desse livro de forma diferente... Qualquer detalhe do enredo que mostre onde o autor quer chegar seria um grande spoiler, então, vou abrir mão de maiores informações...

Pelo que consta na orelha do livro (vide sinopse acima) é impossível saber do que se trata, e quando investi nessa leitura, eu realmente não fazia ideia do que esperar. Talvez por isso eu tenha gostado e aproveitado bem mais. Acredito que se alguém já saiba do que se trata, mesmo que não tenha lido ainda, irá perder o melhor da história, que é justamente a descoberta das coisas aos poucos e de forma bastante inocente junto com Bruno, afinal, a história, mesmo que seja narrada em terceira pessoa, é contada pelo ponto de vista dele, que tem apenas 9 anos e não entende nem tem a menor noção do que se passa no mundo lá fora, nem mesmo quando chega até a cerca depois de uma exaustiva "exploração" e encontra Shmuel, um garotinho de pijama que, coincidentemente, nasceu no mesmo dia em que Bruno nasceu.

Então, caso você não tenha lido e ainda não saiba do que se trata (ou talvez saiba, mas não tenha noção da forma como a história é conduzida), recomendo que compre seu exemplar, pegue emprestado com um amigo (só não se esqueça do contrato de empréstimo nesse caso) e leia, deixando-se envolver e surpreender, como aconteceu comigo. Não procure por resenhas que revelam parte do enredo a fim de decidir se é uma leitura válida ou não, a menos que você não se importe com spoilers, pois como disse, a graça da história é justamente descobrir o que está acontecendo pela percepção do garoto. Pegue e leia, e só depois tire sua conclusão.

O Menino do Pijama Listrado é o tipo de livro do qual podemos vivenciar a história pelo ponto de vista de Bruno e pelos fragmentos de situações que ele presencia. Bruno é muito inocente e sem maldade, como qualquer criança, e é afastado de assuntos considerados impróprios para sua idade. Dessa forma, todas as informações são limitadas de acordo com sua percepção ou com informações vagas que recebe, o que faz com que ele não compreenda a gravidade da situação em que o mundo se encontra.

Vale ressaltar que por mais que o protagonista seja uma criança, não quer dizer que o livro seja infantil, ou que deva ser lido por - e para - crianças. É um livro voltado para jovens e adultos devido ao seu teor que requer certa maturidade para captar os detalhes em cada descrição feita com bastante maestria pelo autor, até que tudo seja compreendido, mas não necessariamente aceito. Dessa forma, o leitor vai desvendando a história, que mesmo que seja contada com simplicidade e sutileza, é bastante intensa e carregada de emoções.

Um Milagre Chamado Grace - Kristin von Kreisler

27 de agosto de 2014

Lido em: Agosto de 2014
Título: Um Milagre Chamado Grace - O amor pode aparecer em diversas formas
Autora: Kristin von Kreisler
Editora: Única
Gênero: Ficçao/Romance
Ano: 2014
Páginas: 288
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Depois de ter sobrevivido a uma tragédia em que vários de seus amigos foram mortos, Lila Elliot sabe que suas cicatrizes só amenizarão com o tempo. E ela é grata pelo carinho de sua melhor amiga, que a hospedou em sua casa para que ela não ficasse sozinha e recebesse seus cuidados. Entretanto, algo em seu coração não consegue esquecer a tristeza e a dor desse trauma. Até que ela conhece Grace, uma golden retriever que sofreu abusos e maus tratos, mas que havia sido resgatada por Adam, um homem de bom coração que não suportou ver um animal tão triste e sofrido. Lila, que tem verdadeiro pavor de cães desde a infância, terá de dividir o espaço com Grace. As duas precisam de amor e de tempo para superar suas tragédias pessoais. Grace mantém distância de Lila, pressentindo o medo que ela sente. Aos poucos, porém, Lila consegue enxergar pelos olhos de Grace o amor e a coragem que são tão importantes para seguir em frente. Um romance apaixonante, sobre os dramas da vida, as incertezas e o amor que chega inesperadamente.

Resenha: Um Milagre chamado Grace
, escrito pela autora Kristin von Kreisler e lançado no Brasil pela Editora Única conta a história de Lila Elliot, uma mulher como qualquer outra, exceto pelo fato de que tem total pavor de cachorros por ter sido mordida por um quando criança. Num dia que deveria ser tranquilo, ela acaba passando por uma experiência muito traumática em que Yuri, o zelador do prédio onde trabalha, resolve sair atirando feito um louco nos outros, inclusive nela. Lila consegue escapar e sobreviver. Depois de ganhar alta no hospital, ela vai pra casa de sua amiga Cristina e continua com a recuperação, mas não fica muito feliz por saber que a amiga iria viajar e deixá-la tomando conta da casa, e de Grace. Grace é uma golden retriever que sofria muitos abusos e maus tratos pelo dono e foi resgatada por Adam, e a casa de Cristina era seu lar provisório até que Adam encontrasse um definitivo. Lila não teve escolha e aceitou dividir o espaço com Grace. Será que a partir dessa convivência as duas conseguirão superar seus medos e as tragédias que viveram no passado?

A edição da Única ficou muito fofa. A capa é a coisa mais linda, as páginas são amareladas, a diagramação, apesar de simples, tem um ornamento em forma de rabisco a cada início de capítulo, não percebi erros de revisão e única coisa que me incomodou um pouco (acho que por falta de costume) foi o estilo dos diálogos, que tem aspas em vez de travessão.
Narrada em terceira pessoa, Um Milagre chamado Grace é um livro de leitura fácil com propósito de fazer com que o leitor reflita sobre diversas questões emocionais e até mesmo sociais, e por ter um animal como personagem, foi o suficiente pra me chamar atenção. Imaginei que esse era o tipo de livro que me faria chorar pois logo lembrei de "Marley" (que me fez chorar litros) e até do gato "Dewey" e o quanto fiquei apaixonada pelas histórias desses bichinhos lindos e fofos. Logo quis ler sobre Grace, mesmo sabendo que se tratava de ficção.

Talvez por eu ser daquelas que gosta mais de bicho do que de gente, no início tomei uma enorme antipatia de Lila com todo aquela repulsa e medo de Grace e o quanto teima em acreditar que a pobre cachorra é perigosa. Ela ainda desenvolve um tipo de obsessão para saber o que levou Yuri a sair atirando tentando encontrar alguma justificativa para tal atrocidade. Ela tinha que entender, precisava saber o que se passou pela cabeça desse homem.
Por um lado fiquei com pena, pois mesmo que seja bondosa, é aquele tipo de pessoa que parece ter perdido as esperanças por nada dar certo em sua vida... relacionamento falido, emprego ruim, e quando nada podia piorar, quase morre com um tiro, o que fez com que tenha perdido a fé nas pessoas. Mas ela é bem difícil até a metade do livro, e só depois disso é que um fio de simpatia por ela começou a brotar de mim.

Do outro lado, Grace, que de cara já ganhou minha simpatia, havia sido muito maltratada pelo antigo dono até ser resgatada por Adam, percebe toda a tensão e medo por parte de Lila, sente que não é querida e procura se afastar. Depois de tudo que passou, Grace só quer amor e carinho mas ao que tudo indica, Lila era a última pessoa em quem ela encontraria isso.
As personagens conseguem cativar com suas personalidades tão peculiares, as situações rotineiras e cotidianas nos remetem a realidade, até com a questão dos animais que sofrem maus tratos, e é o tipo de história que poderia ter acontecido com qualquer um, pois é simples e bem verdadeira.

Adam foi o personagem que mais gostei depois de Grace. Bonito, doce e preocupado com os animais.
Acho que o título já é um grande spoiler do que acaba acontecendo no final das contas, então não é algo tão surpreendente assim, mas a forma como a autora desenvolveu a história, com tantos detalhes, emoções e como fica óbvio que o encontro das duas era algo que tinha que acontecer para que suas vidas fossem preenchidas e reconstruídas em busca de um final feliz. Claro que existe o envolvimento de Adam e a ligação que Grace tem com ele, e dos demais personagens, e a autora, mesmo que tenha inserido fatores tristes e trágicos, faz com que a história seja bonita e tocante, pois retrata receios, traumas e dificuldades de um jeito que agrada, emociona, mas não a ponto de ter me feito debulhar em lágrimas. A história envolve aceitação, superação e acima de tudo, o amor que vem de onde menos se espera...
Quero uma Grace pra mim ♥

Tabuleiro dos Deuses - Richelle Mead

21 de agosto de 2014

Lido em: Julho de 2014
Título: Tabuleiro dos Deuses - "A Era de X" #1
Autora: Richelle Mead
Editora: Paralela
Gênero: Fantasia/Sobrenatural/Distopia
Ano: 2014
Páginas: 421
Nota: ★★★☆☆
Sinopse: Justin March, um investigador de religiões charmoso e traiçoeiro, volta para a República Unida da América do Norte (RUAN), após um misterioso exílio. Sua missão é encontrar os responsáveis por uma série de assassinatos relacionados com seitas clandestinas. Sua guarda-costas, Mae Koskinen, é linda, mas fatal. Membro da tropa de elite do exército, ela irá acompanhar e proteger Justin nessa caçada. Aos poucos, os dois descobrem que humanos são meras peças no tabuleiro de poderes inimagináveis.
Resenha: Tabuleiro dos Deuses é o primeiro volume da série "A Era X" escrita pela autora Richelle Mead e publicado no Brasil pela Paralela.
No futuro o mundo é considerado pós-Mefistóteles, um vírus que acabou com países inteiros. Os culpados? Para muitos, os religiosos e suas crenças. Justin era um investigador desses grupos, mas foi exilado para o Panamá após um fracasso em uma de suas missões. Agora, uma série de misteriosos assassinatos está ocorrendo em noites de lua cheia no RANU, uma república bem desenvolvida pós-vírus. Mae, parte dos supersoldados da elite do país, é designada para ir com Justin investigar as misteriosas mortes. A Verdade é que, quando você expulsa os deuses desse mundo, eles acabam voltando, com força total.

Tabuleiro dos Deuses é um livro diferente e muito interessante. Richelle Mead se tornou muito famosa após a série Academia de Vampiros, cuja trama envolve vampiros e guardiões. Nessa nova série Mead elevou seu conceito comigo e provou que é capaz de escrever diferentes tipos de livros para públicos distintos, não se atendo somente a um estilo de história e narrativa.

Em RANU (República da América do Norte Unida) vive Mae. Esse país é um sobrevivente ao vírus Mefistóteles e se desenvolveu tecnologicamente de uma maneira que outras nações não conseguiram. Os habitantes da RANU têm chips que o governo implante em seus pulsos, tanto para controle do que eles fazem como para dar passagem no metrô, por exemplo. Esse ponto sobre a tecnologia é bem interessante, a autora colocou tudo de uma forma fácil de se compreender. Enquanto li pude imaginar com clareza cada ambiente altamente tecnológico e as funções de vários adereços holográficos presentes.

Em contraponto com essa tecnologia existe a religião e os tabus que envolvem isso na sociedade futurista. Para a população, os culpados pelo vírus foram religiosos. Colocar isso num contexto atual foi fácil e apreciei ainda mais essa questão colocada por Richelle. Quantas vezes na atualidade povos religiosos foram responsáveis por perseguições a homossexuais, abusos velados pela igreja católica e afins? Senti que esse foi um dos lados de Tabuleiro dos Deuses, porque religiões são altamente perseguidas independentemente do que seguem.

A narrativa é bem distinta para quem conheceu a autora com a série Academia de Vampiros. Esse é um dos motivos para eu gostar tanto de Mead. Ela tem capacidade de adequar gêneros a seus determinados públicos, sem pecar em usar uma narração imatura para um livro que requer algo mais maduro, como Tabuleiro dos Deuses. Narrado em terceira pessoa, a trama vai evoluindo com o passar das páginas e esse crescimento gradual vai despertando interesse.

Justin e Mae são uma dupla implacável e quente, posso dizer assim. Os personagens tem interações muito boas e as personalidades fortes se completam. Esse envolvimento dos dois exemplifica que o gênero do livro é mais adulto, porque cenas de sexo são descritas com menos pudor do que vi em Academia de Vampiros, mas sem deixar o bom gosto de lado.

Tabuleiro dos Deuses é diferente e satisfatório. A mistura de religião, sci-fi e um pouco de distopia foi surpreendente. No início a história parece estranha e pouco convincente, mas a história se mostrou original e muito atraente.

Richelle já se mostrou uma autora muito competente para mim ao escrever Academia de Vampiros e Bloodlines, e essa ideia se intensificou com essa nova série. Pode ser que os leitores estranhem e sintam a falta de Rose, Dimitri, Adrian e Sydney, mas Mae e Justin são incríveis juntos também.

Se Alguma Vez... - Meg Rosoff

27 de julho de 2014

Lido em: Julho de 2014
Título: Se Alguma Vez...
Autora: Meg Rosoff
Editora: Galera Record
Gênero: Ficção
Ano: 2014
Páginas: 256
Nota★★☆☆☆
Sinopse: Um encontro com a morte transforma a vida de David Case. Convencido de que o destino não lhe reserva nada de bom, David decide se reinventar e tornar-se, assim, irreconhecível para o destino e salvar-se de seu sofrimento certo. Ele passa a ser Justin Case, com uma aparência totalmente nova e uma paixão crescente pela sedutora Agnes Bee. Com seu galgo cinzento imaginário a reboque, Justin luta para manter sua nova imagem e, acima de tudo, sobreviver em um mundo onde as reviravoltas do destino o aguardam em cada esquina.

Resenha: Se Alguma Vez..., escrito por Meg Rosoff (mesma autora de "Minha Vida Agora") e lançado pela Galera Record, conta a história de David Case, um garoto de 15 anos bastante ansioso e acomodado. David começa a acreditar que a morte está lhe rondando após ter visto seu irmãozinho de 1 ano, Charlie, quase cair da janela quando achou que podia voar. Então, David começa a acreditar que aquilo é um sinal. Ele resolve "enganar" o destino com propósito de que ele jamais lhe alcançasse para lhe fazer mal e tenta ser outra pessoa, a começar por um novo nome que ele mesmo se dá, "Justin Case" (um trocadilho para a expressão "just in case"). Já que a ideia é fugir do destino, ele também acha que seria importante mudar o estilo de se vestir, talvez para dar a impressão de que ficaria irreconhecível e quando vai até o brechó conhece Agnes, uma moça de 19 anos que quer fotografar o garoto, e ele obviamente, se apaixona por ela...

Com todas essas mudanças, Justin é taxado de louco na escola e as pessoas começam a se afastar dele, mas ele não se deixa abater e parece não se importar. Agora com "Garoto", um galgo cinza em seu encalço, Justin não se sente sozinho, mesmo que o cachorro seja imaginário... Peter é um dos garotos da escola que acaba se identificando com Justin e se aproxima dele, e os dois acabam se tornando amigos.

Se Alguma Vez... é um livro que traz questões típicas de adolescentes, como a sexualidade e relacionamentos, tudo através de diversos pontos de vista, e senti que foi muito difícil "sentir" os personagens e saber realmente o que eles querem e pensam e se tudo aquilo é uma preocupação digna de atenção, e chegam a serem tão confusos a ponto de a leitura não fluir muito bem. Por diversos momentos me perguntei onde essa história iria parar, pois tudo estava sem rumo. Muita coisa acontecia, mas ao mesmo tempo nada saia do lugar, como se não tivesse enredo. A única coisa da qual eu tinha certeza era que Justin só podia ser louco e paranoico, ainda que o final do livro tenha me feito pensar a respeito...

Eu gostei da capa do livro, que ilustra alguns itens importantes na história como a janela pela qual Charlie tenta atravessar voando, a máquina fotográfica de Agnes e o galgo cinza, "Garoto". Não encontrei erros de revisão, a diagramação é simples, os capítulos são bem curtos (alguns são só um parágrafo).

Narrado em terceira pessoa de forma bem poética, a história é quase desprovida de diálogos e para alguns pode ser um tanto estranha. Não acho que leitores mais jovens vão entender muito bem, e acho que algumas pessoas mais velhas também não! Pra ser sincera, esse foi um dos livros mais estranhos que já li, não me senti conectada nele, a história não me prendeu (só quando foi chegando ao final) e nem tenho certeza se a mensagem contida aqui realmente é a mesma que captei, e isso tudo devido ao jeito como foi contada, simplesmente implausível.
Todos os personagens parecem querer passar alguma mensagem profunda e inteligente, mas tudo parece estar escondido em suas atitudes e pensamentos muito, mas muito complexos e malucos, e nem Charlie, o bebê, fica fora disso.

O único personagem que parecia normal era Peter, e a antipatia que tomei de Agnes foi algo fora do comum: em primeiro lugar, ela apareceu e começou a tirar fotos de Justin, mas ela nem ao menos o conhecia. Seria no mínimo suspeito alguém aparecer do nada e tirar fotos de outra pessoa.  Em segundo lugar, quis estapear Justin, que acaba se envolvendo intimamente com Agnes e após isso não pára de pensar em sexo de um jeito que chega a irritar... Mas em momento algum esse "relacionamento" foi crível para mim. Como pode uma garota de 19 anos, aparentemente independente, se envolver com um moleque de 15 que não esconde que foi "amaldiçoado" pelo destino e que está tentando fugir dele? E o pior, ela ainda parece entender e acreditar em tudo o que ele dia. Ok, ela é excêntrica, mas não deixa de ser uma estranha. Talvez o envolvimento tenha sido posto ali para que Justin aprendesse uma de várias lições, mas ainda me incomodei com a situação.
E a família de Justin que simplesmente não se manifestou quando o garoto resolveu fazer todas essas mudanças, até mesmo quando ele saiu de casa? Que família é essa que não se importa com o que o filho faz ou deixa de fazer e trata tudo com naturalidade quando o pobre coitado claramente precisava de ajuda?
E outra... eu ri quando imaginei Justin andando pela rua enquanto outras pessoas passavam e observavam ele jogando a bolinha ou fazendo carinho no ar, ou melhor, em "Garoto"...

A impressão que tive de Justin tentando enganar o destino é que o único "enganado" foi ele mesmo, afinal, existem coisas das quais não podemos fugir, existem outras que não podemos mudar, e por mais que fiquemos assustados ou ansiosos, a única certeza que temos na vida é a morte, o resto é simplesmente imprevisível. Não dá pra tratar o destino como uma pessoa que quer nos matar e de quem devemos fugir se acreditarmos que ele não nos reserva somente a felicidade. Isso é loucura pura! Não dá pra vivermos pensando que devemos fazer de tudo para evitar o que é simplesmente inevitável, e isso com relação a qualquer coisa...

Se Alguma Vez... é uma história complexa e que levanta questões a se refletir, mas não acredito que todos vão curtir devido a forma como é narrada... Esteja com a mente aberta e preparada caso queira conferir esta leitura...

Paradise - Ellen Sussman

22 de julho de 2014

Lido em: Junho de 2014
Título: Paradise
Autora: Ellen Sussman
Editora: Casa da Palavra
Gênero: Ficção/Romance
Ano: 2014
Páginas: 256
Nota: ★★★★☆
Sinopse: A história começa com uma viagem ao paraíso. Ao ser enviada para trabalhar como guia turística em Bali, uma ilha da Indonésia, Jamie só pensa em passar os dias mais felizes de sua vida ao lado do namorado, aproveitando as praias virgens e explorando as florestas. No entanto, após três dias de sua chegada, ela e seu parceiro se tornaram vítimas de um atentado terrorista na boate local. Seu namorado perde a vida, e Jamie, a esperança de felicidade.
Depois de um ano, ainda transtornada pelas lembranças, Jamie decide retornar a Bali para tentar fechar esse ciclo em sua vida. Mais que tudo, ela espera encontrar Gabe, o homem que a salvou do ataque. Nesta viagem ao passado, Jamie conhece Nyoman, seu simpático anfitrião, que a hospeda no acolhedor e relaxante Paradise, um bangalô incrustado numa paisagem estonteante. Mesmo preparada para se arriscar nos grandes perigos da natureza selvagem de Bali, ela ainda precisa estar pronta para o maior desafio de todos: dar uma nova chance ao amor. 

Resenha: Paradise, escrito pela autora Ellen Sussman e publicado pela Casa da Palavra no Brasil é um livro que se passa num paraíso, onde todos deveriam estar felizes e aproveitando a vida ao máximo, porém, um fato trágico faz com que tudo seja diferente...
Jamie Hyde é uma mulher amistosa e aventureira, trabalha com turismo, e quando tem a oportunidade de viajar para a Indonésia a trabalho não pensa duas vezes. Miguel, seu namorado, a acompanha na viagem mas quando tudo parecia não poder ficar melhor, o inesperado acontece. Uma bomba explode numa boate matando centenas de pessoas, e entre elas, estava Miguel. Jamie entra em desespero, ela precisa encontrar o namorado, mas no meio dos escombros e da confusão pós explosão, acaba sendo salva por Gabe.

Gabe Winters é um homem que por ter perdido o filho e se separado da esposa, não via mais sentido na vida, até que resolveu mudar tudo e se mudou para Bali para tentar recomeçar. No dia do atentado, Gabe estava próximo a boate, e quando ouviu o barulho estrondoso da explosão, não hesitou em correr para socorrer as vítimas, e quando viu Jamie pedindo socorro, ele logo foi ajudá-la, e assim se conheceram, enquanto suas vidas, e a de várias outras pessoas, viravam de cabeça para baixo.
Um ano após a tragédia, Jamie ainda é atormentada pelo ocorrido, mas uma cerimônia para prestar as homenagens às vítimas foi organizada em Bali, e ela foi convidada a voltar ao local, e isso faz com que Jamie fique com medo, apreensiva e um misto de sentimentos e lembranças toma conta de seus pensamentos, e ainda assim, ela se arrisca e vai. O cenário completamente paradisíaco de Bali entra em contraste com os conflitos dos quais ela está passando e ideia de reencontrar Gabe pode ser o desafio que lhe faltava para superar seus maiores problemas.
No decorrer da história ainda nos deparamos com outros personagens, como Nyoman, o dono do bangalô onde Jamie se hospeda, e até o garoto órfão Bambang, que tiveram uma história tão triste quanto a de Jamie e Gabe, e que ainda passam por dificuldades, dando uma profundidade bem maior a trama.

Paradise é um livro dividido em 3 partes que não possuem capítulos e isso é algo que fez com que eu demorasse a ler mais do que o de costume pois a sensação é de que não tem "pausas", principalmente porque a primeira parte é narrada através das lembranças de Jaime, que por serem flashes sempre muito confusos, só faz com que o leitor imagine muito sofrimento, dificuldades, angústia e pode ser possível não se prender ao começo da história justamente devido a toda confusão e a falta de maiores detalhes para que tudo fique claro e compreensível. Mas isso tem um propósito...
Na segunda parte, o leitor irá se deparar com a versão de Gabe na história, e essa narrativa é mais detalhada no que diz respeito ao atentado e aos acontecimentos durante e após a tragédia. E a terceira parte traz um desfecho que além de bem emocionante, ainda deixa tudo esclarecido sobre todas as pontas que ficaram soltas e que me deixaram morrendo de curiosidade.

Eu gostei bastante da forma como a autora desenvolveu a história, dividindo as partes para que o leitor possa acompanhar os fatos vivenciados por cada personagem de acordo com suas visões, pois assim sabemos o que passaram, o que sentiram, e o que aconteceu até que eles se encontrassem.
A tragédia que aconteceu nas boates em Bali é um fato verídico que ocorreu em 2002. Mais de 400 pessoas ficaram feridas e mais de 200 pessoas morreram, e isso só faz com que os traumas, as dores e a imensa tristeza devido as perdas dos personagens se tornassem algo mais profundo e crível para quem lê. O romance, pra mim, foi um ponto positivo pois emociona, mas melhor do que isso foi ler a respeito de Bali, os costumes, um pouco da cultura e principalmente como as pessoas lidaram com todas aquelas perdas onde supostamente deveria ser um "paraíso". E a sensibilidade que a autora usa para escrever e evidenciar emoções só faz com que a história seja tão emocionante e tocante como esperava, afinal, quando o amor é verdadeiro, ultrapassa barreiras e supera tudo, sempre. O passado fica pra trás e o que importa é o momento presente...

Para quem curte histórias que trazem reflexões sobre a vida, Paradise é uma boa pedida, pois além de prender o leitor, faz com que diversas sensações e questionamentos sejam despertados, talvez por jamais consideramos que situações trágicas vão nos atingir...
Paradise, de fato, é o tipo de livro pra se abraçar ao final da leitura, que nos faz enxergar que há coisas na vida que temos que enfrentar por piores que sejam, mas que ainda assim, devemos seguir adiante.

O Segredo do Meu Marido - Liane Moriarty

11 de maio de 2014

Lido em: Março de 2014
Título: O Segredo do Meu Marido
Autora: Liane Moriarty
Editora: Intrínseca
Gênero: Ficção/Suspense
Ano: 2014
Páginas: 360
Nota: ★★★☆☆
Sinopse: Ela virou o envelope. Estava lacrado com um pedaço de fita adesiva amarelada. Quando a carta tinha sido escrita? Parecia velha, como se tivesse sido anos antes, mas não havia como saber ao certo. Imagine que seu marido tenha lhe escrito uma carta que deve ser aberta apenas quando ele morrer. Imagine também que essa carta revela seu pior e mais profundo segredo - algo com o potencial de destruir não apenas a vida que vocês construíram juntos, mas também a de outras pessoas. Imagine, então, que você encontra essa carta enquanto seu marido ainda está bem vivo... Cecilia Fitzpatrick tem tudo. É bem-sucedida no trabalho, um pilar da pequena comunidade em que vive, uma esposa e mãe dedicada. Sua vida é tão organizada e imaculada quanto sua casa. Mas uma carta vai mudar tudo, e não apenas para ela: Rachel e Tess mal conhecem Cecilia - ou uma à outra -, mas também estão prestes a sentir as repercussões do segredo do marido dela.

Resenha: As aparências enganam, e John Paul pode estar enganando Cecilia. Uma carta foi escrita pelo homem e deixada para a esposa, com uma advertência: Minha querida Cecília, se você está lendo isso, é porque eu morri... Mas a esposa acaba abrindo a carta antes de John falecer ao achá-la por acaso e um grande segredo que pode destruir não só sua família, mas outras também, é desvendado naquelas poucas linhas.

A trama central é focada em Cecília e o segredo que ela descobre após abrir a carta de John Paul, mas, além dela, existem mais duas protagonistas na história: Tess e Rachel. É assim que os fatos e mistérios se desdobram ao longo da história.

Cecília é uma mulher que vende tupperware e é bem sucedida no seu negócio. Todos na vizinhança a adoram, e até sentem inveja da sua felicidade e família feliz. Mas não é tudo tão perfeito assim. Depois de abrir a carta, a personagem é tomada por uma sensação de medo, angústia e receio do que aquilo pode trazer para a família dela. Liane Moriarty soube colocar isso muito bem, pois a leitura acaba se tornando muito reflexiva sobre o âmbito familiar e como um teto pode estar desmoronando sobre a cabeça de uma mulher juntamente com sua família e ela tentar sustentá-lo a qualquer custo, mesmo que não seja a forma correta de se agir.

Em capítulos alternados temos também a visão de Rachel e Tess. Rachel é uma senhora com um filho, uma nora e um lindo netinho que está prestes a se mudar. O sentimento dela em relação a isso é o pior de todos, já que uma pessoa importante já lhe foi tirada anos antes: sua filha. A senhora tem tristes lembranças da morte de sua filha caçula e depois disso sua vida se tornou mecânica. Felizmente, mesmo com esse trauma Rachel não se tornou uma mulher que lamuriava, mas, sim, uma que tirou forças do seu passado obscuro para continuar.

Tess, infelizmente, caiu de para-quedas nesse livro. A importância do papel dela na trama é questionável, se é que teve algum. A história da moça é interessante e tem um pano de fundo muito bom que envolve seu marido, mas é só isso. Diferente de Rachel e Cecília, que frequentam os mesmos lugares, vivem no mesmo bairro, Tess não tem nenhum papel forte ali. Resultado disso: um desperdício de páginas que poderiam ser usadas para dar a visão de John Paul sobre os fatos, já que é ele detém o segredo que é a questão-chave do enredo enredo.

A narrativa de Liane é muito bem construída. Primeiro, existem flash backs que são dados sem itálico, ou seja, nos faz pensar muito o que é o "hoje" ou o "ontem". Os pensamentos das personagens também são assim, veem sem dar um alerta para o leitor. A prosa é muito detalhada e a mudança nos tempos em que a história se passa foi muito bem colocada.

A promessa era que O Segredo do Meu Marido fosse um livro semelhante à Garota Exemplar, também lançado pela Intrínseca, mas a obra de Liane não atingiu tal expectativa. A inserção de dramas familiares, mistério e tensão é boa até certo ponto. Cecília abriu a carta muito cedo, o que comprometeu um pouco a expectativa. A grande dúvida era de como a trama se manteria no mesmo nível (muito bom) até o fim. Pode ser difícil alguns momentos, mas a leitura flui bem, pois há situações bem reflexivas ao longo da história .

Mesmo com essas ressalvas, a leitura é recomendada. A melhor parte é a lição de moral que há no final, que nos faz refletir sobre nossas próprias atitudes. Afinal, toda ação tem uma reação.