Mostrando postagens com marcador Juvenil. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Juvenil. Mostrar todas as postagens

Labirinto - A.C.H. Smith e Jim Henson

10 de março de 2019

Título: Labirinto
Autor: A.C.H. Smith e Jim Henson
Editora: Darkside Books
Gênero: Fantasia/Juvenil
Ano: 2016
Páginas: 272
Nota:★★★★★
Sinopse: Trinta anos sem perder a magia. Tudo começou em um pequeno “labirinto” real na cabeça de James Maury, mais conhecido pelo nome de Jim Henson. O cartunista, músico, roteirista, designer e diretor sabia acessar como ninguém o coração das pessoas e o seu maior dom foi dar vida a seres inanimados. A nova geração pode não lembrar do seu nome, mas com certeza tem seus personagens gravados na memória: Os Muppets, Vila Sésamo, Muppets Babies e até a inesquecível Família Dinossauro. Além deste, Henson também criou fábulas como “Labirinto”, em parceria com George Lucas, filme que encantou toda uma geração quando foi lançado, há 30 anos, com David Bowie como Jareth, o Rei dos Duendes, e também responsável pela trilha sonora, e uma jovem Jennifer Connelly no papel de Sarah, a protagonista que deseja que os duendes levem Toby, seu meio irmão e – para seu espanto – é atendida. Arrependida, ela é desafiada pelo Rei dos Duendes a atravessar o sombrio Labirinto, repleto de perigos e seres mágicos.
A novelização de Labirinto finalmente é publicada em português, em uma edição à altura do mestre. Escrita por A.C.H. Smith em parceria com Henson, a edição apresenta pela primeira vez as ilustrações dos duendes feitas por Brian Froud, que trabalhou no filme, além de trechos inéditos e nunca vistos com 50 páginas do seu diário, detalhando a concepção inicial de suas ideias para Labirinto, comemorando os 30 anos do filme em grande estilo.

Resenha: Em 2016, em comemoração aos 30 anos de lançamento, Labirinto - A Magia do Tempo, de Jim Henson (criador de Os Muppets e Família Dinossauro) e estrelado por David Bowie e Jennifer Connelly em 1986, ganhou sua adaptação literária pelas mãos de A.C.H. Smith e foi publicado no Brasil pela editora DarkSide Books.

O filme/livro conta a história de Sarah, uma garota de dezesseis anos que, desde que a mãe os abandonou, mora com o pai, a madrasta e seu meio-irmão, Toby. Ela sonha em ser atriz, adora ensaiar e interpretar papeis, mas detesta interromper seus afazeres para tomar conta do irmãozinho que ela tanto odeia. Até que numa noite, quando Sarah precisa ficar de babá para o pai e a madrasta saírem, em um repentino e forte desejo de que Toby parasse de chorar e sumisse, ela profere algumas palavras lidas em um livro e tem seu desejo realizado. O bebê é levado para longe por Jareth, o Rei dos Duendes, que vive num castelo distante. Agora, Sarah não tem outra alternativa a não ser embarcar numa grande aventura a fim de atravessar um enorme labirinto, cheio de desafios e perigos, para resgatar o irmãozinho, antes do tempo estipulado se esgotar, caso contrário ela nunca mais verá Toby.

Narrado em terceira pessoa, a leitura é fácil, fluída e é uma descrição fiel dos acontecimentos que se passam no filme. Talvez a sacada maior é fazer com que os leitores que assistiram na infância possam reviver essa grande aventura em suas memórias.

Sarah é uma personagem um tanto chata e egoísta inicialmente, e a idade ainda colabora para que seus dramas sejam amplificados. Ela se sente injustiçada com a própria vida, de ter sido abandonada pela mãe, de não ser mais criança e não ter tanta atenção, mas também não ser adulta pra ser totalmente independente, de ser obrigada a lidar com a nova companheira do pai, e agora tem um irmão com quem precisa dividir seu espaço. Porém, aquele ditado que diz que a gente só dá valor quando perde se aplica bem à situação. Por mais "insuportável" que Sarah considere o bebê, ele é seu irmão, faz parte da família, é indefeso e precisa de cuidados. E a jornada para resgatá-lo é uma jornada de autoconhecimento: Sarah aprende mais sobre si mesma, seja quando faz novas amizades, seja quando precisa tomar decisões que nunca havia precisado tomar antes, principalmente quando precisa confrontar seus próprios dilemas, lidando com seus medos e com os sentimentos conflituosos dessa fase da vida que é a adolescência.

Os personagens secundários são ótimos e só reforçam a ideia de amizade, lealdade, coragem e sensatez, elementos tão importantes para se levar a vida. Hoggle é um duende amargurado que não tem amigos e serve Jareth. No começo ele recebe ordens para atrapalhar o progresso de Sarah, mas a medida que o tempo passa, eles vão se conhecendo melhor e os laços que eles formam começam a se estreitar resultando numa amizade muito bacana. Ludo é um enorme mostro peludo com poder de chamar pedras (o que acaba sendo bastante útil nessa aventura cheia de perigos) que Sarah encontra pelo caminho, e seu coração é tão grande quanto ele próprio. Outro personagem que vem depois é o Sr. Dídimo e seu cachorro/corcel Ambrósio em quem ele cavalga por aí, e muito do toque de bom humor vem desses dois, pois se por um lado o Sr. Dídimo faz o tipo nobre cavaleiro valente e corajoso que não tem medo de enfrentar tudo e todos, Ambrósio é mais medroso e é responsável por colocar limites em seu dono.

A edição do livro dispensa maiores comentários, principalmente por se tratar da Darkside. A capa dura com detalhes dourados é linda, a fitinha pra se marcar páginas é um charme, as ilustrações após a história feitas por Brian Fround são de encher os olhos, e as cópias das páginas do diário do próprio Jim Henson, onde ele fez anotações sobre as ideias iniciais para o filme, mostra o quanto ele foi genial. Não nego que a história tenha uma pegada bem parecida com Alice no País das Maravilhas, mas ainda assim é um prazer acompanhar essa aventura.

Assim, Labirinto traz uma história incrível sobre uma jornada que não remete somente à ideia das responsabilidades e amadurecimento de uma adolescente que não tem costume de ceder muito facilmente, mas, acima de tudo, fala da importância da amizade, da família, de que não devemos julgar pelas aparências, e que só ganhamos experiência e aprendizado quando temos os mais diversos obstáculos para se enfrentar.

Se você ainda não leu o livro, leia! Se ainda não assistiu ao filme, assista! Claro que na época os efeitos especiais e práticos não se comparam com os de hoje, mas ainda assim são muito bem feitos e surpreendentes. A experiência é única e inesquecível.


O Menino no Alto da Montanha - John Boyne

3 de janeiro de 2019

Título: O Menino no Alto da Montanha
Autor: John Boyne
Editora: Seguinte
Gênero: Drama/Juvenil
Ano: 2016
Páginas: 230
Nota:★★★★★
Sinopse: Quando Pierrot fica órfão, precisa ir embora de sua casa em Paris para começar uma nova vida com sua tia Beatrix, governanta de um casarão no topo das montanhas alemãs. Mas essa não é uma época qualquer: estamos em 1935, e a Segunda Guerra Mundial se aproxima. E esse não é um casarão qualquer, mas a casa de Adolf Hitler. Logo Pierrot se torna um dos protegidos do Führer e se junta à Juventude Hitlerista. O novo mundo que se abre ao garoto é cada vez mais perigoso, repleto de medo, segredos e traição. E pode ser que Pierrot nunca consiga escapar.

Resenha: Pierrot é um garotinho de sete anos que mora com os pais e seu cãozinho D'Artagnan na França. Seu melhor amigo é um garoto judeu, surdo e mudo, chamado Anshel. Quando os pais de Pierrot morrem, o garoto é enviado à um orfanato, mas não demora até que ele vá para a Alemanha para ficar sob os cuidados de sua tia Beatrix. Ela é governanta numa casa que fica no alto de uma montanh, que pertence a um homem muito poderoso que todos chamam de Füher. Logo que chega na casa, Pierrot passa a ser chamado de Pieter.

Assim, em pleno início da Segunda Guerra Mundial, vamos acompanhando a história de Pieter, e como o convívio com o líder dos nazistas foi responsável pela perda da inocência e mudança do garoto, que agora almeja se tornar um homem tão poderoso e respeitável quanto seu líder e os oficiais que transitam por aquela casa.

Meu primeiro contato com o autor foi através do livro O Menino do Pijama Listrado quando precisei ler a obra para um trabalho na escola. O impacto foi grande o bastante para tormar a leitura inesquecível, e posso dizer que com O Menino no Alto da Montanha as coisas não foram muito diferentes: uma história que se passa durante a Segunda Guerra enquanto acompanhamos as consequências dela sobre uma criança que não sabia bem o que estava acontecendo e foi, inevitavelmente, envolvida e doutrinada numa ideologia cruel e assassina.

Pierrot era um garotinho adorável, mas sua inocência o deixava vulnerável a qualquer tipo de influência. E naquela casa, a figura de autoridade a quem ele tinha como exemplo era ninguém menos do que Hitler. O garoto vai crescendo, iludido pelo discurso nazista, e deixa suas origens e sua bondade para trás quando acredita que a busca pelo poder é o que fará dele um grande homem.

O livro é bem curtinho, mas mostra com muita realidade uma boa parte do que foi a Juventude Hitlerista e como esses jovens foram influenciados e levados a acreditar nesse partido genocida como algo bom. Mesmo que não sejam posturas aceitáveis, é possível compreender como foram manipulados, e por que a doutrinação é algo tão perigoso, principalmente quando é feita por alguém que sabe usar as palavras certas nos momentos mais oportunos para atingir os pontos fracos das pessoas e convencê-las de seus ideais sombrios.

O Menino no Alto da Montanha é uma leitura amarga, mas traz lições sobre como o medo e a solidão podem ser sentimentos que deixam um vazio propício a ser preenchido com promessas perigosas, mas também o quanto reconhecer os próprios erros e os perdão são coisas que libertam a alma.

A Louca dos Gatos - Sarah Andersen

17 de agosto de 2018

Título: A Louca dos Gatos
Autora: Sarah Andersen
Editora: Seguinte
Gênero: Juvenil/Tirinhas
Ano: 2018
Páginas: 112
Nota:★★★★★
Sinopse: A terceira coletânea da cartunista Sarah Andersen traz novas tiras que retratam os desafios de ser um jovem adulto num mundo cada vez mais instável.
Os quadrinhos de Sarah Andersen são para todos que precisam lidar com níveis de ansiedade cada vez mais alarmantes, que sentem que o mundo está à beira do colapso e que se esforçam para sair ao menos um centimetrozinho da zona de conforto. Ou seja, é basicamente um manual de sobrevivência para os dias de hoje.
Além de suas tirinhas sagazes e encantadoras, a autora, que já reuniu mais de 2 milhões de fãs no Facebook, traz também ensaios ilustrados com dicas para os artistas aspirantes aprenderem a lidar com críticas, ignorarem os trolls na internet e não desistirem de mostrar seu trabalho.

Resenha: Mais uma vez Sarah Andersen consegue abordar assuntos atuais e relevantes através de tirinhas cômicas e muito inteligentes. A autora fala, de forma descomplicada e bastante realista, sobre como as pessoas lidam com ansiedade, críticas (muitas vezes destrutivas), fobias sociais, surtos passageiros, feminismo, e outras dificuldades do dia-a-dia, mas tudo isso apresentado num tom satírico, mas bastante leve e divertido. É muito fácil que os leitores se identifiquem com as situações cotidianas e com os pensamentos da personagem.


Mais pro final do livro, as tirinhas dão espaço a textos mais sérios, quase beirando a autoajuda, como se a intenção da autora fosse conversar com o leitor e lhe abrir os olhos sobre ser quase impossível separar a vida real das mídias sociais na internet, sobre bullying virtual, e sobre como o medo de críticas e de rejeição afeta as pessoas que usam a rede para exporem seus trabalhos artísticos. Fica bem evidente que ela faz uma crítica direcionada aqueles que se enchem de coragem pra falar asneiras quando estão na internet, "protegidos" por um monitor, mas na vida real, ao vivo e a cores, são uns babacas e covardes.


A edição em capa dura segue o mesmo padrão dos livros anteriores e é super bonitinha. A diagramação é uma graça e as ilustrações, cujos traços são simples e super cativantes, conseguem transmitir as expressões e todas as emoções da personagem.


Apesar do nome, o livro não é exatamente sobre uma personagem que é louca por gatos. Existem tirinhas voltadas para o amor aos bichos e o espaço que eles tem na vida da personagem, mas o foco mesmo é a forma como as pessoas lidam com ansiedade e as críticas alheias. Pra quem procura por um livro divertido e que brinca com questões da atualidade, é leitura indicada.


Branco Como a Neve - Salla Simukka

13 de março de 2018

Título: Branco Como a Neve - Branca de Neve #2
Autora: Salla Simukka
Editora: Novo Conceito
Gênero: Suspense/Juvenil
Ano: 2017
Páginas: 224
Nota:★★★☆☆
Sinopse: Recuperando-se do terror que vivenciou nas mãos da máfia, Lumikki tem a chance de deixar a Finlândia, se livrando das roupas pesadas, das lembranças sombrias... e do perigo. Ela só quer ser uma garota normal, misturar-se à multidão de turistas e aproveitar as férias. Quando Lumikki conhece Zelenka, uma jovem misteriosa que alega ter o mesmo sangue que ela, as coincidências são inquietantes. Rapidamente ela se vê envolvida no mundo triste daquela mulher, descobrindo peças de um mistério que irá conduzi-la a uma seita secreta e aos mais altos escalões do poder corporativo. Para escapar dessa trama asfixiante, Lumikki não poderá fazer tudo sozinha. Não desta vez.

Resenha: Depois de ter vivido horrores com a máfia russa, Lumikki tem a chance de ir embora da Finlândia e ir para Praga para se recuperar da terrível experiência que teve após ter encontrado todo aquele dinheiro ensanguentado, ficar longe do perigo e voltar a ser a garota invisível que ela costumava ser. Porém, suas tão sonhadas férias não seriam como ela imaginou...
Quando Lumikki, por acaso, conhece a jovem - e enigmática - Zelenka e descobre que elas são irmãs, uma série de coincidências começam a surgir e a garota se vê envolvida num mistério acerca de uma seita secreta e perigosa e, diante disso, vidas poderão estar em risco...

Neste segundo volume da trilogia Branca de Neve, da autora finlandesa Salla Simukka, adentramos mais uma vez numa história com descrições ricas em meio a um cenário super instigante ao mesmo tempo em que acompanhamos uma protagonista um tanto quanto peculiar. Porém, diferente do primeiro volume, Branco Como a Neve evidencia o passado de Lumikki no que diz respeito à sua família, algo que ficou obscuro e mantido em segredo por todo o tempo. Não que a autora tenha dado todas as respostas para as questões levantadas, principalmente porque Lumikki está claramente perdida - e até curiosa - em meio a nova situação em que se encontra, tentando juntar peças de momentos de seu passado a fim de montar um quebra cabeças que mudaria sua vida pra sempre, mesmo que algo pareça estar bem estranho...
Lumikki, depois de tantas decepções e riscos que correu, se esforça para tentar acreditar nas pessoas que se aproximam dela, afinal, não é possível que todos sejam vilões e queiram lhe fazer mal, e dar uma chance a Zelenka não parece algo tão fora de alcance. Mas quanto mais ela se aproxima da meia-irmã, mais próxima fica dos segredos que cercam as ruas da cidade.

Paralelo a esse aprofundamento no que diz respeito a protagonista e os detalhes do seu passado, há a parte investigativa envolvendo um jornalista em busca de provas e maiores informações sobre a existência da dita seita secreta, e tal matéria seria o bastante para alavancar sua carreira de forma bem considerável, e essa investigação acaba fazendo com que ele se aproxime de Lumikki, tornando a vida da garota muito mais complicada ainda.

Enfim, um ponto bacana é que a parte do suspense e do caso é algo fechado. A situação que a protagonista viveu no primeiro livro teve o ciclo fechado, e nesse segundo ela se depara com outra diferente, porém envolvendo riscos a outras pessoas. Talvez o livro possa ser lido sem conhecimento do primeiro sem prejudicar em quase nada o entendimento.
Embora Lumikki tenha amadurecido devido às experiências que teve, não senti que a leitura desse livro tenha sido tão marcante assim, principalmente porque a impressão que tive é que a autora prefere detalhar alguns elementos pontuais do que trabalhar os personagens com profundidade, então não consegui me conectar ou sentir empatia por nenhum deles.

O enredo parece ter seguido por outro caminho e o final da história também foi bastante previsível, e isso acaba estragando qualquer surpresa que o leitor possa vir a ter. Então, assim como o primeiro, penso que seja um livro indicado pra quem quer começar a ler thrillers voltados ao público mais jovem e menos exigente.

O Fio Dourado - Cornelia Funke

16 de dezembro de 2017

Título: O Fio Dourado - Reckless #3
Autora: Cornelia Funke
Editora: Seguinte
Gênero: Fantasia/Juvenil
Ano: 2016
Páginas: 370
Nota:★★★★☆
Sinopse: Jacob Reckless continua viajando para o Mundo do Espelho através do portal que encontrou tempos atrás no escritório abandonado do pai. O garoto é reconhecido nesse lugar mágico graças à sua fama de melhor caçador de tesouros de todos os tempos, mas o preço por se envolver com os dois mundos pode ser alto demais... e está prestes a ser cobrado - inclusive de Will, seu irmão mais novo, e de Fux, a companheira transmorfa por quem Jacob nutre sentimentos que vão além da amizade. Quando Will atravessa o portal em busca de uma cura para a misteriosa doença que atingiu sua namorada, Jacob e Fux vão atrás dele até o leste do Mundo do Espelho, terra de baba yagas, exércitos de ursos e tzares. Enquanto isso, um ser que conhece nosso mundo tão bem quanto o do espelho os observa de longe, pronto para se vingar.

Resenha: O Fio Dourado é o terceiro volume da série Reckless. A série é sobre as aventuras vividas por Jacob, que descobriu um espelho mágico que o transporta para um mundo de fantasia cheio de perigos e mistérios, e lá ele procura pelo pai desaparecido.

Depois dos acontecimentos que se passam nos volumes anteriores, o leitor já sabe que Jacob ficou fascinado pelo novo mundo que descobriu e que sua preferência por ele não é um segredo. Lá ele ficou conhecido como um caçador de tesouros, fez inimigos, rompeu maldições, correu perigo de vida e fez amizades, uma delas tão importante que está se tornando algo mais...
Quando Will, o irmão de Jacob, atravessa para o Mundo dos Espelhos buscando uma cura para Clara, sua namorada, Jacob e Fux vão atrás dele, e eles embarcam numa missão envolvendo inclusive o acordo feito com o Jogador, que se tornou uma dívida que Jacob deve pagar por ter salvado seu irmão de uma maldição. A dívida agora será cobrada e o preço a se pagar é inimaginável...
E ao lado de Fux, sua amiga companheira e fiel, Jacob terá que partir nessa missão desvendando mistérios, alguns inclusive sobre o paradeiro de seu pai, e enfrentando perigos, mas o que ele não esperava era ser vigiado por alguém que além de estar no mundo real para conseguir atingir seus objetivos, não é nada amigável e deseja vingança.

Eu gosto da série, adoro a escrita e as ilustrações da autora, assim como esse universo fantástico que é enorme e renderia histórias a se perder de vista, mas senti que a trama está sendo empurrada com elementos desnecessários. Sinto como se ela já tivesse chegado ao clímax e agora voltou ao ponto onde Jacob tenta salvar Will outra vez, mesmo que com algumas diferenças no rumo da coisa.
O mundo é rico em detalhes, os personagens são muito complexos e a forma como são construídos tem um toque "especial" que não é fácil de ignorar. É como se os livros da autora tivessem camadas e mais camadas envoltas por segredos que jamais serão revelados ou explicados, e assim, os leitores tem que aprender a conviver com esse estilo de narrativa e com a ideia de embarcarem numa viagem fantástica sem que tudo fique esclarecido. Algumas coisas simplesmente acontecem por que sim, e a autora não se preocupa em dar explicações sobre quando, onde ou o porquê de tudo, e mesmo assim é possível se sentir em meio a um conto de fadas recheado de mistérios e muito encanto.

O toque de romance inserido pela autora ganhou mais espaço e fica bem perceptível que Jacob e Fux estão tentando lidar com os próprios sentimentos recém descobertos, e isso acaba causando uma boa tensão entre eles. Os dois juntos formam uma dupla que funciona bem e de forma geral é bem bacana de acompanhá-los, mesmo que Jacob faça algumas coisas que a deixam magoada. Por ser fiel, ela está ao lado dele para o que der e vier e enfrenta tudo de cabeça erguida sem que haja aquela impressão de que ela é submissa. Ela ganha o devido espaço e fica claro que se não fosse por ela e a forma como ela influencia Jacob, as coisas jamais teriam ido pelo caminho que foram e poderiam estar muito piores para o rapaz.
Os personagens são bem construídos e carismáticos e os secundários são importantes para a história.
A Fada Escura é uma daquelas personagens odiosas mas é trabalhada de uma forma que é possível compreender suas motivações e até sentir um pouco de compaixão por tudo o que ela já passou.

As ilustrações que antecedem os capítulos são lindas, com traços delicados e que representam a cena descrita muito bem. De forma geral o projeto gráfico é lindo, se encaixa no padrão de capaz e diagramação dos demais e só tenho elogios.

Diferente dos volumes anteriores, este, por mais que traga aventuras e perigos, não tem tanta ação e fica focado sobre os sentimentos dos personagens, evidenciando que o amor é algo cuja força pode tanto elevar uma pessoa como também pode destruí-la, depende de como é usado. E isso acaba dando à história uma carga dramática que não existiu anteriormente.
O fio dourado é um elemento da trama que representa o que liga duas almas uma na outra, e o risco desse fio ser cortado pode representar algo irreversível e o título do livro não poderia ser melhor por causa disso.

Enfim, pra quem gosta de fantasia, a série é muito indicada pois proporciona ao leitor uma aventura incrível num mundo rico e super criativo.

A Luneta Âmbar - Philip Pullman

3 de dezembro de 2017

Título: A Luneta Âmbar - Fronteiras do Universo #3
Autor: Philip Pullman
Editora: Suma de Letras
Gênero: Fantasia/Aventura/Juvenil
Ano: 2017
Páginas: 504
Nota:★★★★☆
Sinopse: Em todos os universos, forças se reúnem para tomar um lado na audaciosa rebelião de lorde Asriel contra a Autoridade. Cada soldado tem um papel a desempenhar – e um sacrifício a fazer. Feiticeiras, anjos, espiões, assassinos e mentirosos: ninguém sairá ileso. Lyra e Will têm a tarefa mais perigosa de todas. Com a ajuda de Iorek Byrnison, o urso de armadura, e de dois minúsculos espiões galivespianos, eles devem alcançar um mundo de sombras, onde nenhuma alma viva jamais pisou e de onde não há saída. Enquanto a guerra é travada e o Pó desaparece nos céus, o destino dos vivos – e dos mortos – recai sobre os ombros dos dois. Will e Lyra precisam fazer uma escolha simples, e a mais difícil de todas, com consequências brutais. A luneta âmbar é o último livro da trilogia Fronteiras do Universo, que teve início com A bússola de ouro e A faca sutil. Uma conclusão emocionante, que leva o leitor a novos e fantásticos universos.

Resenha: No desfecho da trilogia, acompanhamos não só Will em busca de Lyra, que fora sequestrada e mantida escondida, mas o plano de lorde Asriel para enfrentar a Autoridade. Com a ajuda de anjos, espiões minúsculos e do próprio Iorek Byrnison, o urso de armadura, o Mundo dos Mortos é um dos universos que as crianças precisam passar para terem respostas e para enfrentar o maior obstáculo de todos: A Autoridade.
Enquanto isso, conhecemos Mary Mallone, uma física que está viajando pelos mundos, guiada pelo I-Ching, que é basicamente outra versão do aletiômetro, e encontra curiosas criaturas elefantinas num desses universos. Posteriormente ela terá uma ligação com Lyra importante para o desfecho.
Simultaneamente, temos Lorde Asriel e a Srta. Coulter e seus respectivos planos secretos, cada um em busca dos próprios interesses.

Diferente dos livros anteriores, a dinâmica de A Luneta Âmbar é diferente. Este volume tem um desenvolvimento mais lento, com personagens, detalhes e descrições que não parecem ser realmente fundamentais para o desenrolar da trama e há muitas passagens confusas. Embora o desfecho da história tenha sido emocionante pra mim e a trilogia seja uma das minhas favoritas da vida, não nego que este foi o volume mais cansativo de se finalizar, principalmente por ter um outro "tom" se comparado aos anteriores.
Desde o início o leitor sabe que os protagonistas da trilogia são crianças, uma mentirosa de carteirinha e um assassino assumido, que na maioria das vezes não se comportam como crianças. Essas "habilidades" que eles têm são as ferramentas que eles precisam para enfrentar os obstáculos e acabam sendo uma forma de mostrar que por mais que as pessoas sejam capazes de usar atributos considerados como sendo de vilões, elas podem ser mocinhos. Basta olhar a situação usando uma perspectiva diferente. Eles lidam com problemas e constantemente ficam diante de enormes desafios e perigos que não correspondem exatamente à realidade, mas acredito que o foco maior, além de trazer uma história fantástica em meio a esse universo incrível, é a crítica -  e em alguns pontos até necessária - nas entrelinhas de uma história aparentemente infantil e inocente sobre a essência do ser humano.

Fazendo um apanhado geral sobre a trilogia, penso que trata da história de uma garotinha que enfrenta um universo inteiro para descobrir que o amor tem poder o suficiente para superar todas as adversidades, porém com o toque particular do autor ao embutir a crítica acerca da religião da forma que é encarada por ele, mais especificamente sobre a igreja, que é retratada como uma instituição que manipula a sociedade para que acreditem no que querem de acordo com o que é conveniente. Pra mim, é como se o autor quisesse dizer que as pessoas não estão "livres" quando se prendem a crenças religiosas que condenam desde a sexualidade até a imaginação, e a abordagem para o pecado original e as consequências que perduram até a atualidade ilustram perfeitamente isso. A liberdade plena, de corpo e mente, só viria quando - e se - a igreja caísse para que, assim, não houvesse mais interferências vindas da religião e as pessoas pudessem pensar sem serem influenciadas de alguma forma. Não penso que a ideia do autor seja tornar Deus um tipo de vilão, mas mostrar que muitas vezes a igreja aponta coisas simples, inocentes e naturais como coisas abomináveis quando não deveriam ser.

A grande guerra que fora prometida não foi tão épica quanto eu esperei. Não houve a devida intensidade e nem detalhes o bastante para torná-la grandiosa, e tudo foi resolvido de forma relativamente rápida, mesmo que não tão fácil.

O livro não é perfeito, tem algumas falhas e em muitos pontos é complexo demais pra ser facilmente compreendido. Requer inclusive algumas pesquisas para um melhor entendimento. Mas mesmo assim, ao meu ver, fechou a trilogia com sucesso e pra quem tem a mente aberta é leitura mais do que recomendada. A trilogia traz uma história cheia de camadas significativas e simbolismos em meio a uma fantasia memorável e inesquecível.

A Faca Sutil - Philip Pullman

29 de novembro de 2017

Título: A Faca Sutil - Fronteiras do Universo #2
Autor: Philip Pullman
Editora: Suma de Letras
Gênero: Fantasia/Aventura/Juvenil
Ano: 2017
Páginas: 288
Nota:★★★★★
Sinopse: Perdida em um mundo novo, Lyra Belacqua encontra Will Parry — um fugitivo que logo se torna um aliado mais que necessário. Pois este novo mundo é povoado por Espectros sugadores de alma, e no céu as feiticeiras disputam espaço com anjos. Will procura pelo pai, um explorador desaparecido há anos, e Lyra busca a origem do Pó. No entanto, o que os dois encontram é um segredo mortal e uma arma de poder absoluto, capaz de decidir o resultado na guerra que se forma ao redor deles. O que nenhum dos dois suspeita é do quanto suas vidas, seus objetivos e seus destinos estão conectados... até que precisam se separar.

Resenha: A Faca Sutil é o segundo volume da trilogia Fronteiras do Universo, e dá continuidade às aventuras de Lyra e seu deamon, Pantalaimon.
A busca por respostas sobre o Pó fez com que a garota se perdesse em Cittàgazze, um mundo paralelo que serve de ponte para outros mundos, onde ela encontra Will Parry escondido. Will vive no nosso mundo, onde as pessoas não tem deamons e usufruem das tecnologias modernas que não existem na Oxford de Lyra, mas foi encontrado em Cittàgazze, uma cidade fantasma infestada de espectros e habitada por crianças. Will estava fugindo de alguns problemas envolvendo o desaparecimento de seu pai.
Seguindo as orientações do aletiômetro, Lyra e Will se unem para ajudarem um ao outro, e contam com os poderes da faca sutil, um artefato raro que permite que eles cortem passagens no ar, abrindo as fronteiras do universo, e transitarem entre os mundos em suas buscas por respostas. O que eles não sabiam era que seus destinos estavam conectados, principalmente devido ao misterioso Pó, mas as coisas começam a mudar quando uma guerra está por vir...

O autor, mais uma vez, aborda temas delicados e polêmicos com sutileza mas de forma lúdica, fazendo críticas sociais relevantes em meio a uma trama complexa, mas maravilhosamente bem construída. A ideia de ter crianças como protagonistas torna o enredo mais leve, em alguns pontos até inocente, mas é possível perceber com clareza, mesmo que nas entrelinhas, uma mensagem muito poderosa e verdadeira. Cada elemento é inserido de forma gradual e naturalmente, assim as coisas não ficam vagas e tem a devida profundidade para que sejam compreendidos - e apreciados.
Como segundo volume, A Faca Sutil é um intermediário que enriquece a história propondo novos desafios aos protagonistas, que enfrentam mais perigos e estão em meio a um grande mistério a ser desvendado.

Lyra é uma garotinha com um comportamento questionável em alguns momentos, mas por já conhecer sua natureza e as experiências que teve não foi algo tão impactante de se acompanhar. Pelo menos não pra mim.
A história de Will é bastante trágica e sofrida, a ponto do garoto carregar o peso que carrega no olhar, e mesmo que envolva algumas mortes, Lyra leva tudo com naturalidade e ainda vê vantagem em ter um "assassino" em sua companhia, como se a ideia de se adaptar às circunstâncias extremas pedisse medidas igualmente extremas e está tudo bem.
A vida obrigou Will a abrir mão de sua infância. Perder o pai e ter que cuidar sozinho da mãe fez com que ele amadurecesse rápido demais e ser dono da Faca Sutil não é algo que tenha trazido algum benefício a ele. Ele enxerga aquilo como mais problemas, mais um fardo pra sua vida, tanto que ele a usa para fugir e se esconder.

Embora as críticas sejam visíveis no primeiro livo, neste segundo elas vieram com uma intensidade maior no que diz respeito ao aspecto religioso e, talvez, os questionamentos sobre algumas "verdades" e reflexões levantadas podem soar ofensivas para alguns cristãos. Eu particularmente acho incrível que o autor toque nesses pontos usando a fantasia e a ficção como pano de fundo numa história onde os personagens batem de frente com a tirania e com um tipo de autoridade questionável, principalmente por acreditar em Deus, mas não seguir nenhuma religião propriamente dita por não concordar com a maioria das práticas impostas, e por abominar o fanatismo.

Em suma, A Faca Sutil é um livro recheado de aventuras, com muitas cenas de ação, personagens já conhecidos que tiveram suas histórias mais trabalhadas, e os novos desenvolvidos de forma bem satisfatória. Mas assim como envolvente, também pode tocar na ferida de quem tem suas crenças e ideologias próprias, logo não acredito que seja um livro pra qualquer pessoa. É preciso ler com a mente aberta, respeitando que as pessoas são diferentes e acreditam em coisas diferentes. Há uma linha tênue entre o bem e o mal, e entre seguir o caminho certo e o errado, as vezes fazer escolhas questionáveis devido à situação crítica e até desesperadora em que a pessoa se encontra não é algo que possa definir a essência de alguém...

A Poção Secreta - Amy Alward

19 de novembro de 2017

Título: A Poção Secreta - Diário de Uma Garota Alquimista #1
Autora: Amy Alward
Editora: Jangada
Gênero: Fantasia/Juvenil
Ano: 2017
Páginas: 368
Nota:★★★☆☆
Sinopse: A Princesa do Reino de Nova toma acidentalmente uma poção do amor, e se apaixona por si mesma! Para encontrar um antídoto que possa curá-la, o rei mobiliza todos numa expedição chamada Caçada Selvagem. Competidores do mundo todo saem em busca dos mais raros ingredientes em florestas mágicas e montanhas geladas, enfrentando perigos e encarando a morte para encontrar a fórmula da poção secreta. Dentre eles, está Samantha, uma garota comum que herdou dos seus ancestrais alquimistas o talento para preparar poções. Esta pode ser a oportunidade para reerguer a decadente loja de poções da família, afinal o mundo todo estará acompanhando a Caçada nas mídias sociais. Será que ela conseguirá descobrir a cura e salvar a Princesa?

Resenha: Em pleno século XXI, o Reino de Nova é um lugar mágico cujos súditos possuem habilidades distintas. Embora convivam juntos, a sociedade é dividida entre Talentosos e Comuns.
No passado, o primeiro monarca de Nova criou a Caçada Selvagem, um evento com a finalidade de encontrar a pessoa mais habilidosa para proteger a família real, dando a ela títulos importantes e muita riqueza. O que sinaliza a necessidade de uma Caçada é um artefato mágico muito poderoso conhecido como Chifre de Alden, e sempre que algum membro da realeza corre qualquer tipo de perigo ele convoca todos aqueles que são aptos à Caçada Selvagem, porém, pela segurança que a realeza veio construindo em torno de si desde então, as Caçadas não são realizadas há sessenta e cinco anos. O reino é cheio de magia e fantasia, mas a tecnologia também é algo que faz parte da vida das pessoas. Eventos importantes são televisionados, a dependência de mídias sociais e celulares é algo normal alí e a própria Caçada é um verdadeiro reality show.

E em meio a esse cenário, conhecemos Samantha, uma jovem de dezoito anos que vive na cidade de Kingstown e descende de uma tradicional família de Alquimistas (são pessoas Comuns que possuem o dom de usar e manipular ingredientes mágicos sem corrompê-los). Ela é aprendiz do avô pois o dom da alquimia pulou uma geração e seu pai nasceu um Comum (sem o dom, os Comuns têm a capacidade de exercer os demais trabalhos envolvendo a tecnologia e afins). A família Kemi tem uma vocação incomparável quando o assunto é alquimia. Eles conhecem poções, distinguem as propriedades de cada ingrediente e são entendedores dos mais diversos tipos de processos de cura. Porém, a glória dos Kemi acabou faz tempo. No passado o avô de Sam venceu a Caçada, mas, desde que perdeu o título, a família tenta tirar o sustento da pequena loja de poções naturais que possui. Mas com o avanço tecnológico e a fabricação sintética de poções da última geração em grandes e sofisticados laboratórios da Corporação ZoroAster, as coisas não estão indo muito bem pra nenhum boticário tradicional na cidade, e a Loja de Poções dos Kemi é a única que restou.

O maior propósito dos Kemi é investir no futuro de Molly, a irmã mais nova de Sam. Ela é uma Talentosa (que possui o dom da magia e consegue canalizá-lo através de algum objeto), e o sonho da família é que ela aproveite todas as oportunidades que seu talento pode oferecer. Pra isso, eles estão investindo tudo o que tem em seus estudos para que ela possa ingressar na Escola Especial de Talentosos e garantir seu futuro. O problema é que com a falta de dinheiro, realizar tal objetivo poderia ser mais difícil do que parece, principalmente com clientes idosos que se recusam a comprar poções sintéticas nas grandes farmácias, mas vivem comprando fiado na botica dos Kemi por terem "esquecido suas carteiras".

Quando a princesa Evelyn completa dezoito anos, um grande concerto seria realizado e televisionado para toda Nova em comemoração ao seu aniversário. Mas os planos da festança acabam indo por água abaixo quando a princesa fica totalmente fora de si. Com intenção de fazer Zain, seu amigo e crush, se apaixonar por ela, Evelyn faz uma poderosa poção do amor, prática que há muito foi proibida, mas em vez de dá-la ao rapaz, ela a bebe por engano e acaba se apaixonando perdidamente por si mesma! Sua mente envenenada faz dela, e de suas obrigações como princesa, uma verdadeira ameaça para o reino. Assim, o Chifre de Alden não demora a perceber o perigo e fazer o chamado para a próxima Caçada Selvagem!

Então, os melhores (e mais inesperados) Alquimistas e Talentosos do Reino de Nova são convocados a fim de descobrirem a cura para Evelyn, e Samantha, claro, está entre eles... O que Sam não esperava era entrar numa competição acirrada e cheia de perigos em busca dos ingredientes raríssimos para a poção que irá salvar a princesa, e cujo prêmio, de quebra, vai deixar o vencedor milionário! Sam não teria uma oportunidade melhor para tentar reerguer a loja de poções de sua família e pagar os estudos da irmã, e não pensa duas vezes ao embarcar nessa aventura. Será que Sam vai conseguir vencer essa competição, salvar a princesa e ajudar a própria família?

A capa desse livro é muuuito fofa, dá vontade de apertar. Eu adoro ilustrações com traços irregulares que parecem ter sido feitos à mão e com detalhes em aquarela, e a tipografia escolhida para o título não poderia combinar mais, deixando tudo ainda mais descolado. As cores em harmonia são uma graça e o detalhe dourado da coroa e dos ornamentos deram um toque de charme ao projeto.

Os capítulos se alternam entre Sam, que são narrados em primeira pessoa, e Evie, em terceira. A escrita da autora é boa mas peca um pouco na narrativa no que diz respeito a detalhes de informações passadas e originalidade. Algumas brincadeiras com palavras também me soaram um tanto infantis. O próprio sobrenome "Kemi", que penso ter sido tirado da pronúncia da palavra em inglês "chemistry", é bem bobinho, mas não tanto quanto "Zoro Aster" e afins. Se o livro fosse infantil, ok, mas não é pra tanto, até mesmo porque os personagens são jovens adultos.

É bem óbvio que a maioria dos elementos utilizados para a construção de mundo não é novidade e a impressão que fica é de que já vimos aquilo em outro lugar. Funções específicas na sociedade, preparo de poções e magia, termos em latim, um artefato mágico que convoca competidores e aceita inscrições, um torneio cheio de fases e perigos, vilões trapaceiros e usurpadores, seres encantados ou assustadores, um tipo de teletransporte como forma de locomoção, e até uma escola especial e requisitada fazem parte desse universo, e mesmo que os personagens tenham sido moldados para seguir por um caminho distinto com propósitos diferentes, e aqui entra a parte contemporânea com tecnologia e reality shows da vida, não consegui deixar de fazer comparações com o mundo de Harry Potter, por mais que eu odeie isso. A narrativa pelo ponto de vista de Samantha em alguns momentos também se tornou um pouco problemática, pois é através dela sabemos os detalhes desse universo e muitas vezes ela interrompe o que está sendo dito para explicar outras coisas que ela (ou a autora) julga necessárias para um melhor entendimento. Já os capítulos de Evelyn, em terceira pessoa, nem sempre acrescentam algo realmente útil e, talvez, se fossem narrados em primeira pessoa, faria com que o leitor pudesse compreender melhor suas motivações, pois partiriam dela e não de um narrador onisciente falando por ela.

Levando em consideração de que se trata de um primeiro livro de trilogia e que este geralmente tem uma função mais introdutória, a história não é de todo ruim, pelo menos não a ideia dela. Alguns pontos até me fizeram refletir bastante, como o próprio envenenamento de Evelyn. Ela está idiotamente apaixonada pelo próprio reflexo, a quem passou a chamar de Lyn, como se fosse outra pessoa. Acho que as conveniências impostas pela autora na história meio que subestimam a inteligência do leitor, principalmente quando quem está em ação é Sam. Em meio a tantos competidores inteligentes e habilidosos, ela é a única que parece se atentar a detalhes, a única que tem intuição e sentido pras coisas, a única que percebe o problema de Evelyn...

A Poção Secreta é uma fantasia contemporânea que, embora peque na originalidade e não apresente personagens totalmente desenvolvidos, é divertida de se ler e ideal para sair de uma ressaca causada por uma leitura anterior mais densa. Pra quem gosta de fantasias que trazem a oportunidade de se explorar a alquimia de uma forma interessante, o livro é indicado.

Uma Bolota Molenga e Feliz - Sarah Andersen

3 de novembro de 2017

Título: Uma Bolota Molenga e Feliz
Autora: Sarah Andersen
Editora: Seguinte
Gênero: Juvenil/Tirinhas
Ano: 2017
Páginas: 136
Nota:★★★★★
Sinopse: As incríveis tirinhas de Sarah Andersen são para nós, que não economizamos dinheiro na livraria, vivemos à base de café, deixamos tudo para a última hora, somos especialistas em roubar o blusão alheio, não sabemos nos comportar em situações sociais e insistimos em Pensar Demais. Esta segunda coletânea continua exatamente onde a primeira parou: debaixo de uma pilha de cobertas, evitando as responsabilidades do mundo real. Este volume traz tiras que acompanham os altos e baixos da montanha-russa implacável que é o começo da vida adulta, além de ensaios ilustrados sobre experiências pessoais da autora ligadas a ansiedade, carreira, relacionamentos e amor por gatinhos. Tudo isso com o mesmo tom sincero, leve e divertido que já conquistou mais de 2 milhões de fãs no Facebook.

Resenha: Uma Bolota Molenga e Feliz é mais um livro incrível e super engraçado da autora e ilustradora Sarah Andersen. Assim como o anterior, ele é baseado em pequenos momentos de sua própria vida e são relatados em sua página de sucesso no Facebook.


Confesso que a Marina é quem deveria ler e resenhar o livro aqui no blog, mas quando bati os olhos nele não pude resistir. Os quadrinhos são hilários e mostram muito do cotidiano e da realidade que as mulheres enfrentam no dia a dia de forma bastante leve, descontraída e algumas vezes até bastante ácida, abordando temas pertinentes e relevantes que interferem diretamente na geração atual, fazendo inclusive algumas comparações de como as coisas eram antes e como são atualmente. Ansiedade, fobias sociais, manias estranhas, pensamentos recorrentes que não vão embora nunca, e até o amor incondicional por gatíneos fofos são alguns dos temas que a autora aborda e que, de certa forma, ilustra bem como determinados comportamentos são encarados pela sociedade com o passar do tempo, inclusive alguns transtornos, como a depressão, que são tratados como coisas comuns do dia-a-dia, como se não merecessem uma atenção maior.


As ilustrações se mantém no mesmo padrão das que a autora já nos apresenta e por mais simples que sejam conseguem transmitir as emoções exatas do que deve ser passado aos leitores. A pequena personagem tem seus medos e preocupações, seus momentos em que está de saco cheio ou carência absoluta, mas sempre tenta mostrar o contrário do que se passa em seu interior. É muito fácil se identificar com ela, principalmente por acreditarmos que determinados tipos de pensamentos são únicos e exclusivos da nossa cabecinha, quando na verdade tem muita gente por aí pensando exatamente a mesma coisa, por mais bobo que possa parecer. A bolota molenga e feliz sou eu, em carne e osso (e gordura).



O projeto gráfico segue o livro anterior, a capa é dura e as ilustrações são super engraçadas e divertidas. Uma Bolota Molenga e Feliz é aquele livro pra tirar a gente de uma ressaca literária, pra arrancar risadas e acima de tudo, nos enxergarmos naquelas situações pra percebermos que não estamos sozinhas quando o assunto é a mente feminina.

Do Outro Lado - Carrie Hope Fletcher

9 de outubro de 2017

Título: Do Outro Lado
Autora: Carrie Hope Fletcher
Editora: Fábrica231
Gênero: Romance/Fantasia/Juvenil
Ano: 2017
Páginas: 272
Nota:★★☆☆☆
Sinopse: Evie Snow tem 82 anos quando parte calmamente desta vida durante o sono, cercada pelos filhos e netos. Esta é a forma como a maioria de nós deseja partir, mas quando ela chega ao seu céu particular, descobre que voltou aos 27 anos e não consegue abrir a porta para entrar.
A alma de Evie precisa estar leve o suficiente para que possa fazer a travessia, então ela deve se livrar de tudo que a esteja tornando pesada. Isto significa enfrentar seus três maiores segredos, carregados por mais de cinquenta anos feito um fardo, e buscar uma maneira de revelá-los antes que seja tarde demais. Ao dar início à jornada mais importante de sua vida, Evie aprende mais sobre a existência e o amor do que imaginava ser possível e, de alguma maneira, poderá também retomar sua verdadeira e secreta história de amor.

Resenha: Você já parou pra pensar como seria a vida após a morte caso tivesse uma segunda chance? Evie Snow é uma senhora que morreu aos oitenta e dois anos anos enquanto dormia. Agora que ela havia partido, seu espírito, enfim, poderia descansar. Porém, ao aguardar numa "sala de espera", um prédio antigo onde ela morou há mais de cinquenta anos, ela descobre que não consegue atravessar para chegar ao seu céu particular. Evie ainda tem pendências, segredos que ao longo dos anos se tornaram um verdadeiro fardo pra ela, que deixaram sua alma pesada demais, e isso acaba impedindo que ela passe.
Agora, de volta ao seu eu de vinte e sete anos, Evie não só tem uma segunda chance de reparar seus erros do passado, como de aprender mais sobre sua própria existência e de seus sentimentos mais intensos.

A história é, basicamente, dividida em três partes e vamos acompanhando uma jornada de vida após a morte envolvendo a exploração dos relacionamentos familiares e românticos da protagonista para que ela possa resolver suas pendências. Assim, ela deve revisitar momentos passados, encontrar as pessoas que fizeram parte de sua vida e, gradualmente, desbloquear as portas das quais ela precisa passar ao encarar os segredos que ela manteve a vida inteira. Para isso ela deve se libertar de problemas, amarguras, frustrações e demais sentimentos que ainda são responsáveis por prendê-la.

Além de eu ter ficado com a impressão de que a história tenha um toque de autoajuda na questão de levantar questões e trazer reflexões sobre a forma como levamos a vida, alguns pontos me incomodaram e foram eles os responsáveis por minhas humildes expectativas não terem sido superadas. O primeiro deles foi o fato da ambientação da história. A autora discorre os fatos e não percebi muita preocupação com os detalhes da época, e todos sabemos que a mais de cinquenta anos atrás as coisas não eram como atualmente.
Talvez por se tratar de um livro de estreia, ficou evidente pra mim o amadorismo da autora. Li que ela é famosa, tem canal no Youtube e não sei até onde a preocupação em agradar os fãs pode ter ido para limitar o desenvolvimento da história.
O excesso de adjetivos, repetidos várias vezes e utilizados para florear o texto, as metáforas sem muito sentido e fora do lugar, talvez usadas para causar impacto ou dar mais intensidade e "beleza" ao que está sendo contado, e até os nomes caricatos dos personagens (Snow, Summer, Winter, Autumn, e por aí vai) muitas vezes dispersaram minha atenção.

Embora a história trate de questões relacionadas a casamento, arrependimento, perda, culpa, abuso, álcool, sexualidade, relacionamentos de forma geral e afins, a maneira como são abordadas parece ter sido para atingir - e agradar de propósito - o público mais jovem a que se destina. A sexualidade tratada aqui foi um problema pra mim, pois há vários tipos de orientação sexual incluídas sem um propósito maior. Pra mim, isso é um artifício para forçar uma representatividade que acaba não soando muito natural, e o que piora ainda mais é não haver o mínimo de sutileza para inserir aspectos na construção dos personagens e retratar suas experiências. É tudo muito direto e sem maiores introduções.

Talvez o que tenha pegado mal foi a questão da abordagem para a causa e consequência. Do Outro Lado é um livro que passa uma mensagem que não consigo encarar como sendo tão boa, e muito menos útil, sobre as escolhas pessoais de cada um e o quão difícil é lidar com suas consequências. Pode haver alegria, mas também há perdas e danos no meio do caminho, porém, o que fica claro aqui é que a recompensa final só vem para os bons, e para os que não agem certo (mesmo que seus atos possam ser justificados) só resta o castigo, que muitas vezes vem de uma forma dolorosa demais pra se suportar. Não existe um meio termo, principalmente para aqueles que não fazem nada demais, e as experiências dos personagens ilustram isso muito bem. Enfim, foi uma pena que minha experiência com a leitura não tenha sido muito positiva, mas ainda assim reconheço que algumas pessoas podem, sim, encarar a proposta da autora de outra forma e gostarem. Então, leia e tire as próprias conclusões.

Ninguém Vira Adulto de Verdade - Sarah Andersen

29 de agosto de 2017

Título: Ninguém Vira Adulto de Verdade
Autora: Sarah Andersen
Editora: Seguinte
Gênero: Juvenil/Tirinhas
Ano: 2016
Páginas: 120
Nota:★★★★★
Sinopse: As tirinhas certeiras de Sarah Andersen, que já contam com mais de 1 milhão de fãs no Facebook, registram lindos fins de semana passados de pernas pro ar na internet, a agonia de andar de mãos dadas com alguém de quem estamos a fim (e se os dedos ficarem suados?!), a longa espera diária para chegar em casa e vestir o pijama, e a eterna dúvida de quando, exatamente, a vida adulta começa. Em outras palavras, este livro é sobre as estranhezas e peculiaridades de ser um jovem adulto na vida moderna. A sinceridade com que Sarah Andersen lida com temas como autoestima, timidez, relacionamentos e a frequência com que lavamos o sutiã torna impossível não se identificar com esses quadrinhos hilários e carismáticos.

Resenha: Ninguém Vira Adulto de Verdade reúne tirinhas muito divertidas e verdadeiras que fazem parte do dia-a-dia de uma jovem engraçada e cheia de maluquices quando o assunto é relacionamentos, autoestima e até mesmo quando o seu próprio útero está prestes a lhe pregar uma peça quando menos se espera...
As criações da autora, que são relatos de momentos do cotidiano, já eram publicadas na Sarah's Scribbles, sua página no Facebook, que já conta com mais de dois milhões de curtidas.


Eu já acompanhava algumas publicações e fiquei muito feliz com a ideia de ter um livro tão caprichado em mãos.
A capa dura, as páginas grossas e tantas ilustrações divertidíssimas são um prato cheio pra quem gosta e é fã de tirinhas.

O que eu gosto mais no livro (e na própria fanpage) é que a autora representa muitas situações dos dias de hoje de uma forma muito engraçada, como se a ideia fosse rir das próprias tragédias da vida, não importa de que tamanho sejam. Então, mesmo que eu ainda não seja adulta, pra mim foi impossível não me identificar com as comparações do antes e depois e com as ideias dela de não querer ter filhos, mas querer ter milhões de bichos de estimação, ou enxergar minha própria mãe antissocial e impaciente na pele da personagem. Ela é muito tímida e tem várias neuras quanto a isso, faz coisas que contradizem seus pensamentos, odeia ficar cercada de gente, passa por situações constrangedoras e faz cara de paisagem, vive deixando pra depois o que poderia fazer hoje por motivo nenhum (ou só pra ganhar tempo colocando seriados em dia ou lendo enrolada em cabaninhas de cobertores), deixa as pernas cabeludas por preguiça de se depilar, não abre mão de usar pijama NUNCA e ama livros e vira a noite lendo até o sol raiar. Pra cada situação tem uma atitude, um pensamento, uma reação engraçada ou carregada de sarcasmo e ironia, e até umas cutucadas de leve na forma imbecil como muita gente utiliza as redes sociais, mostrando que ser adulto é praticamente uma ilusão, pois ninguém vira adulto de verdade quando a criança que temos dentro de nós ainda está alí insistindo em nos fazer passar vergonha ou agir de modo.



É um livro divertido, feito pra arrancar muitas risadas, no meu caso gargalhadas altas mesmo, ou até mesmo pra distrair. É uma leitura rápida e que vale a pena, não só pela ideia da diversão, mas por mostrar pequenos momentos de uma recém adulta que parece ainda estar com o pé na infância e ainda está aprendendo a lidar com suas inseguranças, relacionamentos, vida social, TPM e muito mais.

Levana - Marissa Meyer

8 de agosto de 2017

Título: Levana - As Crônicas Lunares #3.5
Autora: Marissa Meyer
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Distopia/Juvenil
Ano: 2017
Páginas: 256
Nota:★★★★★
Sinopse: Quem é a verdadeira mulher por trás da fascinante vilã que perpassa as histórias de Cinder, Scarlet, Cress e Winter? Neste spin-off da série de contos de fadas futuristas Crônicas Lunares, a autora Marissa Meyer revela o passado e as motivações de Levana, a cruel rainha que sonha em governar o povo de Luna. Filha mais nova ofuscada pelo brilho e charme da verdadeira herdeira do trono, sua irmã Channary, Levana teve o rosto desfigurado por queimaduras na infância e aprendeu a se camuflar, manipulando todos a sua volta com uma beleza fictícia. Assim, conquistou à força o amor de Evret Hayle, por quem sempre foi apaixonada, tornando-se madrasta de Winter quando ele perdeu a esposa no parto da filha. E seu próximo passo é tomar o trono definitivamente.

Resenha: Levana é um spin-off que Marissa Meyer escreveu para presentear os leitores e fãs. Ele traz revelações bastante relevantes sobre o passado da rainha cruel da série As Crônicas Lunares, desde quando ela ainda era uma princesa e vivia às sombras da irmã mais velha, Channary, até ter se tornado essa pessoa impiedosa e desprovida de escrúpulos que é, a fim de podermos conhecer um pouco mais dessa vilã e tentarmos entender suas reais motivações.

Embora o livro trate das origens de Levana, os leitores também vão se deparar com situações e detalhes referentes aos três primeiros livros da série: Cinder, Scarlet e Cress, que antecedem o Levana (por isso o #3.5). Então pelos menos esses três devem ser lidos primeiro pra não ter o risco de spoilers. Winter foi lançado depois, e pela história tratar de sua enteada, acompanhamos a vilã no papel de madrasta invejosa que quer tomar posse do trono de uma vez por todas. Então, quem procura por respostas e maiores explicações sobre os detalhes abordados de forma superficial sobre Levana, vai encontrar tudo aqui e um pouco mais.

A história já começa de forma trágica, com Levana revivendo a experiência de ter sido queimada até ter o rosto desfigurado em pesadelos terríveis. Devido a isso, desde muito jovem ela já usava o glamour (um tipo de "poder de influência") para mudar sua aparência temporariamente e esconder as cicatrizes que jamais poderiam ser removidas.
Com o assassinato de seus pais, sua irmã mais velha herdou o trono e se tornou rainha, mas parece nunca ter percebido a importância de seu papel já que não levava nada a sério.

Assim, é interessante saber dessas origens, de saber como Channary, apesar de ser mais querida, alegre e bonita, era desleixada e irresponsável com seus deveres, e muito maldosa com a irmã mais nova, e acompanhar como a vida de Levana foi humilhante quando ela, com apenas quinze anos, era alvo de chacotas por parte de todos, principalmente por ter que recorrer ao glamour devido a vergonha de sua aparência. A dor de amar alguém que não deveria estar ao seu alcance também é abordada, assim como a forma que ela usa pra manipular os outros, até para se casar, a fim de atingir seus objetivos, sem se importar com causas e consequências, o que prova que ela já era um monstro desde sempre.
Talvez sua ambição seja uma forma desesperada de preencher o vazio deixado pelos pais, pois ela nunca se sentiu amada dentro da própria família. Isso faz com que ela inclusive se sinta perseguida e ameaçada por pessoas inofensivas, o que a leva a se "defender" na base do ataque. Mesmo que seja inteligente, ela não consegue controlar suas psicoses, o que a leva a ser muito cruel.

Dessa forma, o livro oferece motivos plausíveis, mesmo que sejam perturbadores e sombrios, para explicar por que Levana se tornou tão má, aumentando ainda mais nossa aversão a ela. E mesmo que ela continue sendo tão odiosa, sua história triste e carregada de tragédias acaba dando aquele gosto amargo no leitor.

Então, para quem curtiu a série, Levana é um livro essencial que acrescenta bastante à história, mostrando o quão complexa e interessante a história de um personagem secundário pode ser, mesmo que em seu desenvolvimento não haja redenção e fins felizes (afinal, ela é a vilã terrível), e que deve ser lido por quem tem interesse em saber um pouco mais dessa rainha que adoramos odiar.

Tempestade de Cristal - Morgan Rhodes

5 de junho de 2017

Título: Tempestade de Cristal - Queda dos Reinos #5
Autora: Morgan Rhodes
Editora: Seguinte
Gênero: Fantasia/Juvenil
Ano: 2017
Páginas: 408
Nota:★★★☆☆
Sinopse: Magnus e Cleo são forçados a testar a força de seu amor quando Gaius retorna à Mítica dizendo não mais ser o Rei Sanguinário, mas, sim, um homem mudado buscando rendenção.
Lucia, grávida do filho de um Vigilante, escapou das garras do Deus do Fogo. Seus poderes estão enfraquecendo enquanto ela segue em frente para completar a profecia que manterá seu bebê a salvo...
Jonas volta para Mítica com um plano para tirar Amara do poder, mas o destino toma às rédeas quando ele vai em direção à bela princesa Lucia e se junta a ela em sua perigosa jornada.
Amara tomou o trono de Mítica, mas sem uma forma de liberar a magia da água presa em seu cristal roubado, ela nunca será capaz de encontrar glória e conseguir sua doce vingança.
E qual tipo de escuridão cairá - e quem estará salvo - depois que o Príncipe Ashur revelar o perigoso preço que ele pagou para enganar a morte?
Contém spoilers dos livros anteriores.

Resenha: Há quatro anos, a editora Seguinte lançava o primeiro volume da série A Queda dos Reinos. Com muita magia, mortes e aventura, a jornada pela busca dos cristais da Tétrade está quase no fim. Com o lançamento do quinto e penúltimo livro, o questionamento é: será que o rumo da história foi perdido?

Tempestade de Cristal começa de Maré Congelada terminou. Para quem acompanhou a série até o quarto volume, sabe que o enredo já passou por altos e baixos. Personagens são presos, e então soltos. Os lados entre o bem e o mal mudam. O poder, que é almejado por todos, sai das mãos de um e passa para outro, como se fosse uma batata quente. Reviravoltas são ótimas quando bem usadas, pois dão uma guinada na história. No entanto, para a saga criada por Morgan Rhodes, tantas mudanças de direção parecem ter tirado um pouco o rumo da trama e a essência sentida lá no início.

Seguindo esse argumento, é necessário falar sobre os personagens. A série é voltada para o público juvenil, mas os diálogos conseguem ser bem rasos e por vezes irritantes. O humor é essencial, mas ele não pode ultrapassar o aceitável, deixando de ser condizente com o enredo. O livro conta com conversas que soam muito infantis e tiram o foco do que realmente interessa em momentos importantes. Jonas é aquele que não consegue angariar empatia e dificilmente fará isso no último volume. Ele é insosso, inconsequente e por sua causa muito dos planos dão errado. Os outros, entretanto não podem se safar sem sua parcela de culpa. É evidente, só agora no quinto volume, que nem Cleo, Magnus ou qualquer um realmente tenha uma pitada de astúcia. Eles estão no mesmo time, lutam pela mesma causa, mas conseguem usar do egoísmo e "esperteza" para ir atrás de algo por conta própria e fazer tudo errado. Em suma, a história está girando num circulo vicioso de fatos repetitivos. Amara, que se revelou ser sanguinária e se tornou imperatriz, consegue ganhar pontos pela sua inteligência e está (quase) sempre um passo a frente de todos...

Como nem tudo está perdido (ainda), a história tem momentos bons que são, quase em sua totalidade, protagonizados por Cleo e Magnus. A dupla, que pode ser considerada um casal, é responsável por momentos tanto tensos quanto mais sensuais ao decorrer do livro. Graças aos dois, e a mudança de status que obtiveram no volume anterior, já temos mais um casal para shippar na série. Muito antes deles, Nic e Ashur já tinham se beijado em A Primavera Rebelde, e a notícia da morte do príncipe deve ter pegado todo mundo de surpresa. Mas, como Rhodes evidenciou que a série é composta de muitas reviravoltas, Ashur retornou das cinzas e podemos torcer por ele e Nicolo. A bandeira LGBT está sendo levantada não só aqui, mas em outras histórias e isso é muito bacana de se ver.

O problema da série é o porquê da autora tentar contar uma história tão boa com tantos floreios. Um produto, quando bem vendido, sempre será prolongado para que renda muito mais. No caso da série A Queda dos Reinos, o prolongamento já parece demais e Tempestade de Cristal, que é melhor que Maré Congelada, não acrescenta tanto à trama e não dá aquela sensação necessária de pontapé para o desfecho de tudo. As quatrocentas e oito páginas são fáceis de serem lidas, trazem mais fatos do passado e futuro e finaliza tudo com o ressurgimento de um personagem sem nenhuma importância que dará outro rumo para a aventura, que se encerrará com Reino Imortal. Em suma, quem ler os primeiros livros e se afeiçoar pelo universo de Mítica com certeza terá vontade de chegar até o final. Resta agora, esperar pelo melhor para o destino de todos os personagens que por vezes amamos e por vezes odiamos.

Adeus, Tóquio! - Cecilia Vinesse

9 de maio de 2017

Título: Adeus, Tóquio!
Autora: Cecilia Vinesse
Editora: Globo Alt
Gênero: Romance/Juvenil
Ano: 2017
Páginas: 264
Nota:★★★★☆
Sinopse: Sophia tem apenas uma semana em Tóquio antes de voltar a morar nos Estados Unidos. Sete dias para dizer adeus à cidade que a acolheu e que lhe deu seus únicos amigos: Mika, uma menina completamente louca e inquieta, e David, por quem ela mantém uma semi secreta atração.
Para tornar a situação ainda mais difícil, Jamie Foster-Collins, um garoto com quem Sophia teve um grande mal entendido no passado, está de volta ao Japão, atrapalhando todos os seus planos para os últimos dias antes da despedida.
Entre caraoquês, comidas exóticas e cabelos coloridos, Sophia inicia a contagem regressiva do tempo que ainda resta para resolver todas as questões emocionais que a mantém ligada a essa cidade viva, elétrica e tão apaixonante.

Resenha: Sophia Wachowski é uma garota de dezessete anos que está de mudança. Ela mora em Tóquio há alguns anos e foi lá que, pela primeira vez, fez dois amigos inseparáveis, David e Mika. Sophia nutre uma paixão secreta por David, mas sabe que ele só quer saber mesmo de curtição. Depois de, finalmente, ter se acostumado com a vida lá, vai ter que voltar com a mãe e a irmã para Nova Jersey, nos Estados Unidos. A mudança será daqui a sete dias, e com esse pequeno prazo em mente, ela percebe que deve aproveitar ao máximo cada momento que Tóquio poderia lhe oferecer.
De outro lado, Jamie Foster-Collins, que também costumava ser parte do grupinho de amigos, está de volta a cidade após ter sido mandado para um colégio interno em outro país e, sabendo disso, Sophia não só decide sair com os amigos e turistar pela cidade para curtir seus últimos dias, mas também resolver algumas pendências, tanto com relação a mágoa deixada por Jamie antes dele ter ido embora, quanto ao seus sentimentos que se tornaram um turbilhão após o retorno inesperado do ex-amigo...
E nessa contagem regressiva, Sophia poderá descobrir que o que dá sentido a vida talvez seja exatamente aquilo que tentamos evitar.

Narrado em primeira pessoa, a história é bem simples, leve e divertida, levantando questões e dramas típicos da adolescência em meio a uma escrita descomplicada e bastante fluída.
Os personagens foram bem construídos de acordo com seus propósitos e representam com bastante fidelidade as questões e os conflitos dos adolescentes que estão nessa transição pra fase adulta, logo é comum serem irritantes, imaturos, se acharem donos da razão mesmo quando estão errados e afins, e o caso de Sophia é delicado, principalmente por ela ter que lidar com a ideia de dar adeus a tudo o que ela é tão apegada pra partir rumo ao desconhecido.
Aqui vemos de tudo, desde personagens imbecis que se aproveitam do que tem para tirar vantagem dos outros, até aquelas que sabem o real significado da palavra sororidade, mas pra mim o melhor foi o desenvolvimento do relacionamento entre Sophia e sua irmã, Alison. Através de suas interações e a forma como lidam com as próprias crises, acompanhamos seus dilemas sobre o significado de lar e de como é importante ter o apoio da família para superar os problemas ao se depararem com alguma situação difícil e que tráz ansiedade.

Talvez a autora tenha se inspirado na própria experiência ao ter criado essa história (vide orelha do livro), retratando uma garota que, embora tenha nascido no japão, não se considera japonesa por seu pai ser francês e sua mãe polonesa, mas se considera americana por ter sido criada lá desde bebê até se mudar outra vez, falando inglês e tudo mais, o que já indica um conflito acerca da origem da protagonista. Somando isso a questão de se ter poucos amigos, estar sempre viajando a ponto de não ter sido capaz de identificar o que ela poderia chamar de lar, e ainda precisar abrir mão do que faz parte de sua rotina, faz com que Sophia seja obrigada a sair de sua zona de conforto, criando um arco que traz uma abordagem bem relevante sobre aceitação e desapego, mas também trabalhando temas como despedidas, desentendimentos, reencontros e perdão.

Então, apesar de Sophia ter seus defeitos, o que a torna uma personagem bem próxima da nossa realidade, eu senti uma empatia pela garota. Ela tem seus momentos de ingenuidade, egoísmo, receio, determinação e outros tão diferentes entre si, mostrando sua forma de lidar com as mudanças que vieram e são inevitáveis, e pelo tempo ser curto, o tempo acaba sendo um momento que ela tem pra refletir e aprender muto de si mesma.

O que mais me surpreendeu no livro foi o fato de ele ser relativamente curto, se passar em apenas sete dias e ainda ter uma enorme quantidade de acontecimentos que são responsáveis por mudar totalmente a vida de Sophia.
A única coisa que não entendi muito bem foi a ambientação da história, pois há casos em outros livros que o cenário funciona como um personagem propriamente dito, fazendo da leitura uma grande viagem, mas isso não acontece aqui. Ter Tóquio como pano de fundo e me deparar com menções de alguns locais famosos sem que haja um aprofundamento em detalhes ou na cultura do Japão, fez com que o lugar não tenha a devida importância para o desenvolvimento do enredo, e digo isso no sentido de que a mesma história poderia se passar em qualquer outro lugar sem comprometer os acontecimentos. Outra coisa é que os personagens são todos americanizados, sem que haja nenhuma representação sequer de alguém que seja japonês, o que reforça ainda mais a falta de importância da cidade.

Enfim, pra quem procura por uma leitura descomplicada que tráz uma mensagem fofa sobre se encontrar, é super indicado.

Boston Boys - Giulia Paim

19 de março de 2017

Título: Boston Boys - Boston Boys #1
Autora: Giulia Paim
Editora: Globo Alt
Gênero: Juvenil/Literatura Nacional
Ano: 2017
Páginas: 360
Nota:★☆☆☆☆
Sinopse: O sonho de toda adolescente se realizou para Ronnie Adams: o maior astro pop da TV foi morar na casa dela. Ela deveria estar vibrando, como qualquer garota normal, mas na verdade está odiando a ideia. Ela não vê a menor graça em Boston Boys, programa sobre a vida de três integrantes de uma boyband, e acha os garotos uns babacas.
De fato, Mason McDougal se acha o máximo e está acostumado a ser recebido sempre por meninas histéricas, por isso não faz o menor esforço para ser simpático. Tendo que lidar com o egocentrismo do garoto, além da perseguição de fãs ciumentas, a vida de Ronnie vira de cabeça para baixo.
Agora ela terá que se acostumar com a stalker nº 1 dos garotos plantada em seu gramado, frequentar festas glamorosas e lidar com paparazzis, resolver uma guerra de fofocas on-line e até fazer uma viagem internacional. Em meio a tantas novas aventuras, Ronnie se envolve cada vez mais com os Boston Boys e percebe aos poucos que, no mundo da fama, nem tudo é o que parece ser...

Resenha: Henry, Ryan e Mason formam o Boston Boys, uma boyband que ganhou um programa de televisão estilo reality show e é o sonho de consumo de várias fãs. Veronica Adams, ou Ronnie, é uma adolescente de quinze anos que odeia boybands, odeia os meninos e acha todos eles uns completos babacas, mesmo que sua irmã, Mary, seja apaixonada por eles.
Até que um belo dia, numa situação mais do que improvável e inusitada, Ronnie vê seu mundo revirado de cabeça pra baixo quando Mason, o "conquistador" do grupo, vira hóspede em sua casa durante as gravações do programa. Além de aturar o garoto, que é super mimado, ela ainda vai se meter em várias confusões.

Pra ser bem sincera, talvez essa resenha possa ser interpretada mais como um desabafo do que como uma crítica, principalmente por eu ainda estar meio abismada, mesmo que tenham se passado nem sei quantos dias depois de ter finalizado a leitura. Então, vamos lá.

A história é narrada em primeira pessoa e a escrita, mesmo que com alguns furos, é bem fluída, mas receio que essa fluidez - assim como o projeto gráfico muito caprichado - seja a única coisa boa do livro.
Ronnie já começa o livro falando que é taurina, e nunca me senti tão mal representada, astrologicamente falando, na minha vida. Generalizando, prefiro ser reconhecida como "esfomeada que come até o chapisco do muro" do que "nascida pra ser feita de trouxa".
Ela está numa situação mega desconfortável, mas em vez de se "rebelar contra o sistema" e pelo menos tentar mostrar o quanto está insatisfeita, só sabe reclamar, dando a impressão de que passa 24hrs de mau humor, gritando, histérica mas, ainda assim, incompreendida por não saber e nem conseguir se expressar. No final das contas, ela se conforma e faz o que foi obrigada a fazer.

Mason é um caso sério. O sujeito parece ser um tipo de discípulo de Justin Bieber. A imbecilidade e falta de bom senso conseguem superar a beleza da criatura. Claro que há motivos e tentativas de se explicar o comportamento odioso desse moleque boçal, mas nada que tenha me convencido...

A confiança é a base da família, mas a própria mãe escondeu que saiu do emprego de analista de sistemas para ser produtora do programa Boston Boys, e só cinco longos meses depois, quando foi conveniente, ela resolveu comunicar as filhas que Mason seria hóspede na casa por "falta de lugar pra ficar". Rico e famoso, mas sem teto. Ok. E, a partir daí, a mãe que sempre foi legal, se transformou numa carrasca sem consideração que obrigava Ronnie a fazer coisas contra a sua vontade e a se submeter às situações mais ridículas que já vi, incluindo envolver um ex namorado idiota na história. E não digo mandar a filha arrumar a cama ou lavar a louça, coisas que os filhos detestam mas são mais do que a obrigação, mas aturar um desconhecido folgado e prepotente que, além de infernizá-la, ainda a faz de empregada e acha que humilhá-la é engraçado.
E isso o que a mãe faz (ou deixa de fazer) é só um pequeno exemplo que mostra que os adultos da história são completamente desprovidos de maturidade e senso, além de serem uns cretinos irresponsáveis. Se houvesse justiça no mundo, o conselho tutelar já teria entrado em ação há séculos.

Mary, a irmã de Ronnie, tem onze anos mas já é uma maníaca em potencial. Ela começa como uma fã engraçadinha e fofa, mas depois se revela uma menina tão desequilibrada e psicótica que não entendi nada. Onze anos!

Ah, e não posso deixar de falar da Piper Longshock, a fã nº 1 e obcecada pelos meninos. Ela sempre fica na espreita e nos arredores de onde eles estiverem e descobre tudo que quer, sabe-se lá Deus como. Ela inclusive se muda de cidade pra seguí-los, e começa a ameaçar Ronnie sem que ninguém perceba, e sem que haja consequências. É algo como "tem uma delinquente a solta por aí tentando me matar, mas ok". A menina é adolescente, e como assim ela se muda de cidade como se estivesse indo na padaria da esquina? E os pais dela? [insira um emoji de facepalm aqui]

Ver o trio super famoso sair andando por aí de boas, frequentando a escola comum do bairro ou dando um rolé no shopping sem terem um pedaço da roupa arrancada, ou sem saírem carregados nas costas das fãs enlouquecidas, não me pareceu muito "natural". É impossível aceitar e entender como eles saem "ilesos" da multidão enfurecida, usufruindo do direito de ir e vir como qualquer cidadão comum.

A ideia de mostrar as confusões e as mudanças na vida de uma adolescente decorrentes de uma convivência forçada com aquilo que ela mais odeia é interessante, eu admito, e poderia servir de reflexão pra várias meninas aprenderem a lidar melhor com pessoas que detestam, mas são obrigadas a aturar, seja pelo motivo que for, mas quando o desenvolvimento da história é absurdo e impossível, sem que o contexto faça qualquer jus à realidade, é um pouco difícil de engolir. Uma coisa é um livro cujo enredo sem nexo e impossível está alí de forma proposital (e eu poderia citar vários livros absurdos envolvendo o universo infantil ou adolescente que li, morri de rir e adorei), outra coisa é quando o impossível é vendido como tentativa de ser crível mas, na verdade, não é. E eu não fui capaz de comprar essa história. Sabem aquele ditado que diz que a primeira impressão é a que fica? Pois serviu direitinho nesse caso. E mesmo quando a história, que não deixou de ser incoerente em momento algum, começou a dar indícios de que melhoraria, eu já estava tão tomada pela antipatia e total falta de credibilidade da trama, que nada mais seria suficiente pra me fazer gostar. Quando li um comentário sobre o livro parecer ser uma fanfic, não imaginei que poderia levar aquilo pelo lado literal da coisa. Parece mesmo uma fanfic, e escrita sem que haja preocupação em fazer parecer verossímil. Talvez, se os personagens fossem mais velhos, muita coisa poderia ser mais aceitável, até o comportamento absurdo e doentio de Piper, mas sendo adolescentes - e dependentes dos pais -, não teve nada a ver.

Penso que houve uma tentativa de fazer dessas situações algo muito cômico e inusitado, mas não funcionou, não pra mim. Não consegui achar nada divertido ou engraçado. É como se o livro fosse feito pra não ser levado a sério, porque não é possível tanta coisa errada e de mau gosto numa história só. Diante de tantos absurdos, não consegui relevar, só consegui achar tudo muito irreal e irritante, e meu envolvimento foi zero. Olhos revirando num looping infinito.
E como se todos esses pontos negativos não fossem o bastante, ainda tem mais: A história se passa nos EUA e, teoricamente, os personagens são americanos, mas nunca vi um grupo tão abrasileirado como esse.

O fato de que não houve um romance propriamente dito me surpreendeu (pelo menos não nesse volume), mas, como esperado desde o início, existe todo aquele clichê de mocinho babaca que acaba tendo uma queda secreta pela mocinha ingênua, e ela, claro, acaba conseguindo enxergar por trás do que ele aparenta ser, e todos vivem felizes para sempre. Se esse é o fim eu não sei, mas, no meio disso tudo, muita confusão - sem cabimento - vai rolar...

Infelizmente, esta não foi uma leitura que eu tenha gostado a ponto de recomendar, mas como gosto é algo bastante subjetivo, e cada um tem o seu, talvez valha a pena investir pra se tirar as próprias conclusões...

Suzy e as Águas-Vivas - Ali Benjamin

30 de janeiro de 2017

Título: Suzy e as Águas-Vivas
Autor: Ali Benjamin
Editora: Verus
Gênero: Juvenil
Ano: 2016
Páginas: 224
Nota:★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Suzy Swanson está quase certa do real motivo da morte de Franny Jackson. Todos dizem que não há como ter certeza, que algumas coisas simplesmente acontecem. Mas Suzy sabe que deve haver uma explicação — uma explicação científica — para que Franny tenha se afogado. Assombrada pela perda de sua ex-melhor amiga — e pelo momento final e terrível entre elas —, Suzy se refugia no mundo silencioso de sua imaginação. Convencida de que a morte de Franny foi causada pela ferroada de uma água-viva, ela cria um plano para provar a verdade, mesmo que isso signifique viajar ao outro lado do mundo... sozinha. Enquanto se prepara, Suzy descobre coisas surpreendentes sobre o universo — e encontra amor e esperança bem mais perto do que ela imaginava. Este romance dolorosamente sensível explora o momento crucial na vida de cada um de nós, quando percebemos pela primeira vez que nem todas as histórias têm final feliz... mas que novas aventuras estão esperando para florescer, às vezes bem à nossa frente.

Resenha: Suzy e as Águas-Vivas é o livro de estreia da norte-americana Ali Benjamin, publicado no Brasil pelo Grupo Editorial Record através do selo Verus. O livro foi um dos finalistas do National Book Award for Young People's Literature de 2015.

Suzy Swanson é uma garotinha de doze anos e está sofrendo muito após Franny, sua única e melhor amiga, ter morrido afogada. Desde então Suzy não fala mais e está arrasada. Ela quer descobrir a causa da morte da amiga como forma de superar o ocorrido, logo, a trama gira em torno de seu processo de luto, mostrando as formas dela de lidar com essa perda tão triste ao mesmo tempoem que inicia uma pesquisa sobre águas-vivas, que pode dar a ela respostas sobre o quê, de fato, aconteceu.

O livro tem uma narrativa que se alterna entre primeira e terceira pessoa, mas ambas com foco na protagonista. Os capítulos em primeira pessoas são narrados no passado, o que lembra bastante um diário. Essa dinâmica na narrativa é um fator que colabora para o desenvolvimento da história, permitindo ao leitor uma visão bastante ampla sobre todos os acontecimentos relevantes da trama ao mesmo tempo em que se aprofunda dos personagens de forma bastante adequada e realista. A escrita é fácil, simples, delicada, fluída e bastante poética, e a ideia dos diálogos serem poucos (ja que Suzy parou de falar), mostra que é possível transparecer uma sensibilidade e uma carga dramática muito grande a partir de pensamentos e atitudes.
Há uma quantidade considerável de curiosidades científicas relacionadas às pesquisas de Suzy, o universo e afins em meio a narrativa. São curiosidades bastante interessantes e que, de certa forma, tem a ver com o momento em questão pelo qual Suzy está passando e/ou refletindo.
Eu gostei muito da construção da protagonista mesmo que ela esteja naquela fase complicada da pré-adolescência, cheia de dilemas e conflitos. As mudanças, físicas e psicológicas, parecem que não vão acabar, tudo é novo, muitas coisas assustam, e diferente dos adultos, não é possível se prender ao comodismo ou fugir do que não se quer encarar, mas quem disse que é fácil aceitar tais mudanças e ainda ver o próprio mundo desmoronando com a perda de uma pessoa mais do que especial e que faz parte das nossas vidas?

No desenrolar da história vamos acompanhando Suzy aprendendo com as próprias experiências e com as pesquisas que se dedica a fazer, e a morte de Franny funciona mais como um estopim para desencadear esse comportamento, e as reflexões levantadas alí servem de lição não só para a personagem, mas para o próprio leitor que se pega pensando em várias atitudes e escolhas feitas em sua própria vida.
Suzy e as Águas-Vivas é um livro sobre luto e sobre mudanças, mas também sobre aprender da forma mais difícil a lidar com os obstáculos que surgem pelo caminho. A história é tocante, surpreende e com certeza vai encantar os leitores.