Mostrando postagens com marcador Literatura Nacional. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Literatura Nacional. Mostrar todas as postagens

A Bailarina Fantasma - Socorro Acioli

6 de abril de 2016

Título: A Bailarina Fantasma - Anabela em Quatro Atos #1
Autora: Socorro Acioli
Editora: Seguinte
Gênero: Drama/ Fantasia/ Romance/Infanto-juvenil
Ano: 2015
Páginas: 186
Nota: ★★★★★
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Anabela mal podia conter a empolgação quando seu pai foi o arquiteto escolhido para coordenar uma obra no Theatro José de Alencar, em Fortaleza. A proposta era que aquela casa de espetáculos maravilhosa mantivesse as mesmas características de quando foi inaugurada, em 1910. Logo vira rotina para Anabela passar as tardes por ali, fazendo a lição de casa enquanto o pai trabalha. Mas essa reforma vai acabar desenterrando histórias escondidas há muitos e muitos anos, já que Anabela começa a ver uma bailarina translúcida, vestida de azul, que mais ninguém parece enxergar. Será que a garota vai conseguir ajudá-la?

Resenha: Anabela mora com seu pai na Travessa dos Anjos, um lugar simples que sempre atrai olhares e comentários curiosos devido a enorme estagnação do lugar. Nada muda, nada evolúi, e a condição dos habitantes é o diferencial do lugar: eles são capazes de encontrar a felicidade nas pequenas e mais simples coisas que a vida lhes oferecem.
Anabela sempre deixava bilhetes nas flores de misótis, as preferidas de sua falecida mãe, acreditando que ao enterrá-los ela os receberia de alguma forma. Apesar de mórbido era um gesto de carinho digno de admiração.
Certo dia, o pai de Anabela, que é arquiteto, chega em casa irradiando alegria e felicidade, anunciando que, enfim, conseguiu o emprego que tanto almejava: trabalhar na reforma do lendário Theatro José de Alencar, que fora inaugurado na cidade de Fortaleza em 1910. Mas antes da reforma, eles foram convidados para a última apresentação de ballet, onde tudo começa. Durante apresentação, sentada ao lado de seu pai e de sua prima e melhor amiga, Luciana, ela percebe uma bailarina diferente das outras que estavam de branco. Esta em especial, e diferente das demais, estava vestida de azul e dançava graciosamente em toda sua glória, como se flutuasse em meio as outras, fazendo com que Anabela acreditasse que sua presença fazia parte do espetáculo. Mas, as coisas mudaram quando ela foi encarada e a bailarina apareceu do seu lado de repente. Assustada por ser a única a conseguir ver a bailarina, e sem saber como lidar com o que passou a sentir após aquela visão, ela passa a contar com ajuda de Luciana, que por ter o desejo de se tornar jornalista, encara toda a situação como uma forma de treinamento. As duas embarcam numa aventura para descobrir quem é a bailarina e por que somente Anabela é capaz de vê-la.



A narrativa se alterna entre primeira e terceira pessoa e os capítulos são apresentados como atos, assim como numa peça de teatro. A autora nos dá uma visão geral da trama, intercalando o passado com presente, possibilitando o leitor a conhecer a história da bailarina fantasma, assim como a construção do Theatro além dos acontecimentos atuais. O legal da divisão feita em atos é que, além de bastante original, os atos tem a função de explicar o enredo da melhor forma possível de uma maneira que todas as descrições e acontecimentos não fiquem vagos e sejam devidamente aprofundados sem deixar o leitor perdido.

   

A escrita da autora é leve e sensível e a combinação do sobrenatural com a lenda urbana que ronda o Theatro José de Alencar tornou a trama bastante envolvente.
A diagramação do livro não poderia ser a mais fofa. A editora caprichou com ilustrações a cada ato iniciado. A fonte tem o tamanho médio para uma leitura agradável e a revisão está impecável. A capa é linda e tem todo um toque vintage e juvenil.

A Bailarina Fantasma já havia sido publicado por outra editora em 2010, mas em 2015 foi uma ótima aposta publicada pela Companhia das Letras através do seu selo juvenil Seguinte.
Os leitores poderão embarcar numa história sensível e rica em detalhes, onde ao final fica uma linda mensagem: por mais bonito que o amor seja, não o subestime, mesmo que possa ser doloroso, pois ele sempre vencerá todas as barreiras embora elas possam parecer impossíveis. Posso resumir e descrever o livro com apenas uma frase: Formidável em todos os aspectos!
O livro superou todas as minhas expectativas. Fui pega de surpresa pois não esperava tanto da leitura e, apesar de ser voltada ao público infanto-juvenil, pode ser lida e apreciada por leitores de todas as idades devido a mensagem bonita e admirável que passa. Venha se aventurar junto com Luciana e Anabela nesta história graciosa, cheia de mistério, romance e, acima de tudo, superação.

Vamos Juntas? - Babi Souza

21 de março de 2016

Título: Vamos Juntas? - O guia da sororidade para todas
Autora: Babi Souza
Editora: Galera Record
Gênero: Não ficção/Nacional
Ano: 2016
Páginas: 144
Nota: ★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Toda mulher já se sentiu insegura na hora de sair sozinha na rua. O risco de ser abordada, perseguida ou assediada é uma realidade. Mas, um dia, uma moça chamada Babi Souza teve uma ideia simples e revolucionária: da próxima vez em que você estiver sozinha, olhe para os lados. Pode ter outra mulher andando na mesma direção. Por que não vão juntas?
Logo, o movimento Vamos Juntas? conquistou moças em todo o Brasil, se tornando um símbolo de união feminina e feminismo, na defesa por direitos iguais entre homens e mulheres. Aos poucos, muitas mulheres mudaram sua forma de enxergar o dia a dia e a moça ao lado.
Além de dados sobre o feminismo, que mostram como ainda há tanto a ser conquistado, este guia traz relatos de mulheres que aprenderam, junto ao Vamos Juntas?, a enxergar companheiras umas nas outras. A se unir, ao invés de rivalizar.

Resenha: Quantas vezes uma mulher já teve medo de andar sozinha na rua por correr o risco de ser assediada, assaltada ou até mesmo violentada? O caminho de ida e volta pra casa, para o trabalho, escola ou faculdade pode ser pior do que parece já que, infelizmente, faz parte da realidade feminina que elas ainda sejam alvos da intromissiva e abusiva abordagem masculina. E por passar por uma situação dessas, a jornalista Babi Souza refletiu sobre a questão da insegurança que, nós mulheres, sentimos diante de situações assim e criou o movimento Vamos Juntas? que, apesar de simples, pode fazer toda a diferença num trajeto a ser percorrido: Se você estiver andando sozinha durante a noite ou numa rua deserta, olhe em volta. Pode ter uma mulher indo na mesma direção e com os mesmos receios que você, então por que não irem juntas?
A ideia ganhou espaço no Facebook e a repercussão foi enorme. Em pouco tempo a página ganhou centenas de milhares de curtidas, comentários e compartilhamentos, mulheres de todas as idades e de todos os lugares do Brasil aderiram e propagaram a ideia e várias delas passaram a relatar muito do que já vivenciaram em experiências que tiveram, tanto as boas quanto as más.


O mais legal do movimento é que, através dele, muitas mulheres tiveram voz, deixaram a insegurança de lado e resolveram enfrentar seus medos e até mesmo seus assediadores. Encontraram uma na outra uma irmã a quem se abrigar, alguém a quem apoiar e dar um ombro amigo, independente das circunstâncias, sem julgamento e só com o intuito de fazer o bem a quem é exatamente como nós. Uma aliança baseada na sororidade visando o bem estar de todas.
O livro não toca somente no ponto do movimento, mas também na importância do feminismo e do empoderamento feminino, mostrando que muitas mulheres, por não saberem o real significado desses termos, ainda não vestiram a camisa a ponto de lutarem pela igualdade de gênero. Logo, o livro desconstrói conceitos mal interpretados de forma leve, direta e quase didática.


E pensem numa diagramação fofa! O projeto gráfico do livro é a coisa mais gracinha, com cores marcantes, tipografia descolada, ilustrações lindas em forma de pictogramas que combinam com a proposta do livro, cards recortáveis com mensagens inspiradoras e um formato que funciona como um verdadeiro guia, com a história do movimento, a história da sororidade, estatísticas e dados históricos sobre os feitos de mulheres notáveis, relatos verídicos das seguidoras da fanpage e até uma análise sobre a rivalidade entre mulheres (que jamais deveria existir).

Vamos Juntas? é um livro, acima de tudo, necessário, afinal, se o tempo passa e os homens ainda continuam insistindo em se comportar dessa forma, sem indícios de que vão mudar e sem nos respeitar como iguais, que a mudança parta de nós, da nossa união e dessa coisa linda chamada sororidade, que vem crescendo a cada dia mais. Juntas nós podemos quebrar barreiras, ultrapassar limites e mudar o mundo!


O Desapego Rebelde do Coração - Bianca Briones

19 de março de 2016

Título: O Desapego Rebelde do Coração - Batidas Perdidas #3
Autora: Bianca Briones
Editora: Verus
Gênero: Romance/Drama/Nacional/New Adult
Ano: 2016
Páginas: 406
Nota: ★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Quando um amor do passado ressurge e sentimentos mal resolvidos vêm à tona, é preciso decidir entre lutar pelo que se quer ou fugir - e pôr em risco a própria felicidade.
Branca sempre foi uma mulher independente, que não pensava em se casar tão cedo - até conhecer Lex. Entre idas e vindas, eles se casaram e se divorciaram menos de um ano depois. Ela levou um tempo para superar a perda e, sem esperar muito, começou com Rodrigo um perigoso jogo de gato e rato.
Rodrigo tinha uma queda por Branca quando mais novo, mas hoje a enxerga apenas como a razão de uma paixonite adolescente. O que ele esconde de todos - até de si mesmo - é quanto todas as perdas que sofreu o afetaram, e o único modo de lidar com isso é fingir não sentir nada.
Lex ficou muito tempo afastado de todos que amava, trabalhando em outra cidade e tentando seguir em frente, como sempre fez. Sua intenção era voltar apenas para o casamento de amigos, mas a vida tinha outros planos para ele.
Agora os três precisam lidar com o que está acontecendo - e mais, com o bebê que surge com Lex. Quanto a mágoa pode afastar duas pessoas que se amam? Como encarar uma situação em que pelo menos um deles certamente sairá ferido?
A série Batidas Perdidas está de volta, com um dos volumes mais aguardados e a pergunta que não quer calar: De quem será o coração de Branca?

Resenha: O Desapego Rebelde do Coração é o mais novo volume da série Batidas Perdidas, escrita por Bianca Briones e publicado pela Verus.

Branca sempre foi uma mulher independente e embora não pensasse em se casar tão cedo, mudou de ideia ao conhecer Lex. Eles se casaram mas as diversas brigas e desentendimentos que tinham resultaram num divórcio. Lex, então, se afastou para outra cidade para seguir com a vida. Não está sendo nada fácil para ela superar essa separação, mas seu espírito independente a faz fingir que sim. Solteira, Branca passa a praticar o desapego, curtindo baladas e aproveitando a vida como pode, mas ela não é a única a pensar que esse é o melhor meio de se livrar do que a machucou.
Rodrigo, o irmão de Viviane (protagonista do primeiro volume da série) era apaixonado por Branca na adolescência, mas desde que tudo passou ele acredita que deve aproveitar a vida ao máximo sem se apegar a ninguém. Agora ele já é um homem, e que homem! Até que eles decidem arriscar um relacionamento perigoso mas não dá pra esconder que o sentimento alí é forte.
Mas Lex volta do Rio de Janeiro com um bebê e cabe a todos resolverem como lidar com esse inevitável destino.
Branca, Lex e Rodrigo precisam seguir em frente e dar um rumo às suas vidas, mas como fazer isso se eles não conseguem se livrar do passado? Eles terão que lidar com suas emoções mais profundas a fim de conseguirem o que desejam.

O livro é narrado em primeira pessoa, antes e depois do que se passa no segundo livro, e os capítulos se intercalam entre Branca, Lex e Rodrigo. Pensei em considerar um triângulo amoroso, mas o foco está sobre Branca e Rodrigo na maior parte do tempo, mostrando um lado envolvente e sexy de um relacionamento. Eles estão vivendo a própria história e embora Lex tenha sua importância ele fica praticamente à margem dos acontecimentos até um determinado ponto em que surge para que a história tenha um clímax.
A escrita da autora é perfeita, intensa e carregada de sensibilidade a ponto de tocar em nossos corações.
"A vida segue. Se há algo que aprendi observando ao redor é que ela segue para todos, sem exceção. Não importa se você acha que não vai superar ou que ama demais uma pessoa para esquecer, a vida segue."
- Pág. 29
Os personagens são cativantes e muito humanos e suas personalidades é o que os fazem tão autênticos e verdadeiros.
Apesar dos personagens terem ligações entre si, cada livro se destina a alguns deles e por isso os livros podem ser lidos fora de ordem sem que haja muita interferência na compreensão. Por ora acompanhamos outros personagens dos volumes anteriores e, por mais que já saibamos algum resultado, é possível compreendermos como as coisas aconteceram até tal ponto.
Branca é bonita e independente e gosta dos prazeres da vida. Ela continua divertida e desbocada mas aqui se mostrou um pouco insegura, talvez pela própria situação em que se encontra, que é mais delicada do que ela já havia passado. Ela não se parece muito com a Branca dos livros anteriores.
Rodrigo vive por aí se divertindo com a mulherada sem se apegar a nenhuma delas, mas no fundo ele faz isso para ocultar algo por que passou e o marcou de forma negativa. Ele esconde seus sentimentos usando de uma fachada de moleque inconsequente, tentando mostrar pra todos - e pra si mesmo - que esqueceu Branca, mas obviamente não iria perder a chance de ficar com ela caso aparecesse em seu caminho, e é exatamento o que acontece...
Lex é um cara sensato e inteligente e seu relacionamento com Branca era como um íma. Juntos eram repelidos, mas havia uma força que os atraía quando se distanciavam.
O título apesar de soar meio estranho tem tudo a ver com a história, pois mostra personagens tentando se desapegar de pessoas ou costumes de uma forma desinibida, como se tudo aquilo fosse só mais uma fase sem tanta importância a ponto de se apegar.
"Estamos assustados com a intensidade dos batimentos do nosso coração. Estamos inevitavelmente perdidos."
- Pág. 191
Os protagonistas evoluem, amadurecem, mudam conceitos e aprendem com os próprios erros.
Há cenas picantes bem dosadas e muito bem escritas o que evidencia a intensidade do envolvimento entre os personagens e foi um ponto que gostei bastante.
A playlist também é ótima e tem tudo a ver com os momentos pelos quais os personagens passam. Não sou adepta de ler enquanto ouço música, mas pra quem gosta é uma boa opção para intensificar as cenas.

A capa combina com os demais livros da série e ilustra bem os personagens. A diagramação é simples, os capítulos são apresentados com o nome do personagem com a voz narrativa da vez e são acompanhados por um trecho de música cuja tradução se encontra no rodapé da página. As páginas são amarelas e a revisão está impecável.

O livro reserva surpresas que vão além do romance. Repleto de frases marcantes e reflexivas, a história foge de clichês, é envolvente e é capaz de arrancar lágrimas até mesmo nos leitores mais resistentes. O enredo mostra que o que faz o futuro é a forma de se encarar o que ficou mal resolvido no passado, então conhecer mais a fundo as motivações de Branca, Rodrigo e Lex foi um fator que acabou superando a própria história, pois através deles é possível compreender que as pessoas se diferem e suas escolhas são o que as determinam.

Este, pra mim, foi o melhor livro da série até então e, pra quem quer uma história que emociona, arranca lágrimas e se torna memorável por mexer tantos com nossos sentimentos, é leitura mais do que indicada.


Capitolina - O Poder das Garotas - Várias Autoras

12 de janeiro de 2016

Título: Capitolina - O Poder das Garotas #1
Editora: Seguinte
Gênero: Juvenil/Nacional
Ano: 2015
Páginas: 192
Nota: ★★★★★
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Textos escritos e ilustrados por garotas que buscam representar todas as jovens, inclusive as que não se encaixam nos moldes tradicionais da adolescência A revista on-line Capitolina surgiu em 2014 como uma alternativa à mídia tradicional voltada ao público feminino adolescente. Sua proposta é criar um conteúdo colaborativo, inclusivo e livre de preconceitos, abordando temas como relacionamentos, feminismo, cinema, moda, games, viagens e muito mais. Esta edição reúne os melhores textos publicados em um ano de revista, além de vários artigos inéditos e atividades interativas, para que cada leitora também ajude a construir o livro. As jovens vão encontrar conselhos, dicas, reflexões, muito apoio e, principalmente, a sensação de que não estão sozinhas. 

Resenha: Capitolina é uma revista online que se mantém de forma independente e é voltada para o público feminino adolescente.
Muitas garotas se sentem excluídas pelos moldes tradicionais da adolescência e a revista apresenta textos e matérias que abordam assuntos realmente relevantes, que fogem das questões da beleza, da conquista, do consumismo e das demais futilidades, mostrando que todas essas garotas têm espaço para crescerem da forma como são, e não da forma como a sociedade idealiza.
Depois de mais de um ano de publicações online, o projeto se transformou em um livro publicado pela Seguinte, e os melhores textos e ilustrações foram cedidos para compô-lo, além de alguns artigos inéditos e atividades interativas que convidam a leitora a participar da construção da obra.
Sob uma visão feminista, as autoras apresentam textos leves, esclarecedores e acolhedores que ajudam as garotas a refletirem sobre os assuntos ao mesmo tempo em que as fazem se identificar com o que é dito.


Os artigos e a forma como são escritos tem profundidade, soam verdadeiros e mais próximos à realidade. As autoras dos textos falam o que sabem e o que sentem à sua maneira, de acordo com as próprias experiências, e isso faz com que a minoria que se sente deslocada seja representada e tenha voz, afinal, são garotas escrevendo para garotas de modo sincero, mostrando como o autoconhecimento é importante para aceitação daquelas que devido a conflitos pessoais e internos se sentiam deslocadas e sozinhas.

Enquanto mulheres, devemos nos apoiar, superando obstáculos, quebrando preconceitos e mostrando que nós temos poder, sim!
Relacionamentos abusivos, questões raciais, preconceito, sexualidade, depressão, religião são alguns dos temas abordados de forma descontruída, fluída e cativante, mostrando que embora tenhamos particularidades e preferências, seja por opção ou porque nascemos assim, deve haver respeito acima de qualquer coisa.

Ao final de cada texto é possível interagir com o livro de acordo com o assunto abordado, desenhando, colorindo, escrevendo e até seguindo receitas culinárias. As atividades propostas são ótimas para uma melhor compreensão do propósito da revista. Também nos deparamos com dicas de filmes, séries, músicas e livros que, de alguma forma, tem relação com os temas abordados e que podem servir de exemplo para várias situações em que as garotas se encaixam.
"Pense na chance que você terá de recomeçar do zero, sem amarras, ser a pessoa que você quiser, fazer o que quiser, sair com quem quiser (e se quiser)"
- Pág. 42

A diagramação é uma graça. O formato do livro é quadrado, a capa tem um textura diferente, e internamente parece com o layout de uma revista, com títulos coloridos, trechos em destaque, glossários laterais, ilustrações maravilhosas e muito capricho!
Mesmo que eu já tenha passado da adolescência há alguns anos, posso afirmar que minha experiência com Capitolina foi maravilhosa. Recomendo fortemente a leitura dele como forma de incentivo, inclusão e reflexão. Tenho certeza que se eu tivesse lido algo do tipo enquanto adolescente teria outro tipo de visão na época sobre os assuntos levantados. Por isso, cá estou eu levando o livro pra minha filha de treze anos ler em 3.... 2... 1...




Capitolina é uma revista/livro que mostra que, independente da realidade em que a garota se encontra, é necessário apoio no que diz respeito às próprias escolhas ou a quem essa pessoa é, principalmente quando se trata da minoria. Cada um é cada um e o respeito deve vir acima de qualquer coisa. Seguir em frente e assumirmos quem somos e o que sonhamos quando temos alguém com quem contar, que respeita a individualidade alheia, compartilha dos nossos interesses e nos entende como ninguém - já que são pessoas como nós - nos dá impulso e força para nos aceitarmos melhor, termos amor próprio e levarmos a vida de forma plena e feliz, do jeitinho que deve ser.

Eu Fico Loko - Christian Figueiredo de Caldas

8 de dezembro de 2015

Título: Eu Fico Loko: As desaventuras de um adolescente nada convencional #1
Autor: Christian Figueiredo de Caldas
Editora: Novas Páginas/Novo Conceito
Gênero: Juvenil/Nacional
Ano: 2015
Páginas: 160
Nota: ★☆☆☆☆
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Ele só precisou de uma câmera, muita criatividade e um pouco de coragem para criar um dos vlogs mais acessados do YouTube. O EU FICO LOKO é recordista absoluto de views e inscrições, com mais de 1 milhão e 500 mil assinantes.
Para os entendedores, o Christian hoje é um vlogger e um youtuber dos mais bombados. Mas na verdade ele é apenas um cara que gosta de escrever e que transformou o papel em vídeo.
Todos os dias, milhões de jovens procuram pelo Christian em suas redes sociais para saber o que ele está pensando. O porquê desse sucesso fora do normal você vai descobrir neste livro.

Resenha: Christian Figueiredo é dono do canal Eu Fico Loko, que já existe há cinco anos, beira os 4 milhões de seguidores e não pára de crescer. Os temas e as brincadeiras que ele aborda no canal são voltados ao público adolescente pois trata de questões que envolvem e chamam atenção exatamente dessa faixa etária.
Pegar carona no sucesso de um youtuber que fica famoso e conquista milhões de fãs também parece ser um bom investimento no mundo literário, afinal, quanto mais material do ídolo em questão o fã puder colecionar, independente do que seja, melhor.

Ele expõe com sinceridade (mas, às vezes, de maneira forçada) alguns fatos que viveu e o que pensa sobre determinados assuntos, fala um pouco da época quando queria aparecer na televisão, quando era zoado na escola por ser muito magro e o quanto isso interferiu em sua autoestima, a preocupação em não se passar por "bv" por ainda não ter tido um primeiro beijo, a ansiedade envolvendo a primeira vez (sexualmente falando), o primeiro porre (vergonhoso) e por aí vai...
Em vários pontos ele fala e dá conselhos sobre seguir os próprios sonhos, sobre ser quem você é, sobre não se deixar levar pela ideia fraca dos outros para ser aceito ou parecer descolado, e até sobre ter cuidado com o que é dito a alguém devido as consequências que isso pode ter um dia, e acredito, sim, que esse tipo de mensagem é legal, principalmente quando se usa uma narrativa animada para dar tais toques. Apesar de ter achado tudo extremamente desinsteressante, acho válido quando esses aspectos naturais e que fazem parte da vida maluca de qualquer adolescente são abordados já que servem de exemplo, mas deve-se ter atenção sobre a forma de transmitir tais experiências, principalmente quando elas são contraditórias ou brincam com o que não é motivo de piada.

"Os homens beijam por beijar. As garotas beijam por atração, momento, sentimento, química, física, biologia e gramática. Meu Deus! A cabeça das garotas não poderia ser que nem a dos homens? Vai lá, beija e faz o garoto feliz."
- Pág. 19 (e-book)
" Eu simplesmente odeio pessoas que brincam com coisas sérias. Apesar de gostar muito de fazer piadas com os outros, quando fazem comigo fico bravo."
- Pág. 82 (e-book)

Pra mim foi completamente inaceitável uma pessoa, que pode ser considerada formadora de opinião e ter influência nesse meio juvenil, falar abertamente em seu livro que é normal que os caras tenham vontade ou planejem embebedar uma garota a fim de "facilitar o acesso", mesmo que depois ele diga que "isso é babaca e idiota". Talvez a intenção tenha sido compartilhar a ideia de que um adolescente pensa e faz uma besteira pior que a outra nessa fase, mas no fundo sabemos que tal pensamento faz parte da concepção masculina, independente da idade. Então, por mais que ele realmente tenha passado a considerar uma atitude desse nível horrenda, não terá como escapar de ter "imortalizado" tal ideia de merda em seu primeiro livro. Um livro que vendeu centenas de milhares de cópias e que, querendo ou não, pode transmitir a ideia de que tal absurdo é normal, disseminando a maldita cultura do estupro em pleno ano de 2015, pra milhares ou até milhões de jovens... É pra morrer de desgosto...


Pra ser sincera, esse tipo de abordagem me deixa um pouco assustada e me preocupa. Entendo que durante a adolescência é normal que a pessoa tenha ideias mirabolantes e queira ter experiências novas, queira chamar atenção, queira ser popular, ser aceita e tudo mais, mas embora muitos por aí possam sentir que não são os únicos a terem tais pensamentos e consigam se identificar perfeitamente com Christian e sua adolescência bizarra, a forma com que ele expõe a opinião, usando e abusando de palavrões, compartilhando opiniões sobre pegação, sexo ou bebidas para depois trazer reflexões e dar conselhos do que fazer e o que não fazer, foi completamente fail. Esses detalhes, pelo menos pra mim, foram negativos demais e acabaram se sobrepondo ao pouco que poderia considerar bom no livro mas que não foram suficientes pra sequer me fazer cogitar a ideia de gostar.
Eu só acho que o método que ele usa para expor pensamentos, que acabam influenciando adolescentes, alguns até de míseros 12 ou 13 anos, não seja o adequado, sorry. Fiquei me questionando por que motivo uma adolescente de 13 anos teria interesse e gostaria de ler sobre um dia de bebedeira brava num sítio, ou assistir a um vídeo sobre ele ter brochado ou ter sido enganado por um "traveco". Quando eu tinha 12 anos minha preocupação era não perder um episódio de Chiquititas na televisão, Lord!

Um ponto que devo ressaltar é que pelo livro ter ligação com o canal dele no youtube, poderia haver mais interatividade nesse aspecto. Em todo o livro há somente um único link para conferir um vídeo mencionado por Christian.
O livro tem uma diagramação legal, cheia de fotos, desenhos e fontes diferentes que dão um ar descolado ao livro. A versão impressa é em preto e branco. A versão digital tem o diferencial de ser colorida, com exceção das fotos.

Enfim.. é um livro sobre questões adolescentes, para adolescentes. Não acho que se encaixe totalmente no gênero biográfico pois Christian conta alguns poucos fatos aleatórios que viveu e que só servem pra mostrar que ele foi um adolescente como qualquer outro e que teve experiências "lokas" como qualquer um. Não espere por nada que aborde uma vida inteira, até mesmo porque pessoas de vinte e poucos anos ainda tem muito o que viver e conquistar até chegar ao ponto de terem o que contar e que possa ser considerado realmente relevante pra se tornar uma biografia, além de serem, no mínimo, notáveis e terem sido responsáveis por um grande feito, e não é esse o caso.
Quem tem até uns 16 anos e se identifica com ele vai gostar, e quem não vê problemas e nem se atenta aos detalhes dos casos contados, tanto os fúteis quanto os preocupantes, também...

Ovelha - Gustavo Magnani

25 de novembro de 2015

Título: Ovelha - Memórias de um Pastor Gay
Autor: Gustavo Magnani
Editora: Geração
Gênero: Ficção/Literatura Nacional
Ano: 2015
Páginas: 228
Nota: ★★★☆☆
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Este livro, estreia impressionante de um jovem e talentoso escritor, é o relato pecaminoso de um decadente. A história de um homem religioso e carismático, temente a Deus, mas amante insaciável de sua própria carne exótica, a carne de outros homens. Um pastor gay, casado com uma ex-prostituta, filho de uma fanática religiosa. Neurótico e depravado. E agora condenado. Internado no hospital, debilitado e com um segredo de uma tonelada nas costas, este personagem atormentado decide libertar-se de seus demônios e relatar seu drama. Num relato cru e sem censura, ele literalmente vomita seus trinta anos de calvário e charlatanice na cara da congregação (e de qualquer um que se interesse por um bom inferno). Sexo, paranoia, corrupção e destruição são os ingredientes tóxicos dessa obra provocante, polêmica e inovadora.

Resenha: Escrito por Gustavo Magnani, Ovelha - Memórias de um pastor gay é um relato fictício de um pastor evangélico em conflito com sua fé e sua sexualidade e que precisa conviver com seu maior segredo de forma tortuosa durante toda a sua vida.
O livro é composto por crônicas em que o protagonista conversa com Deus em um diário autobiográfico buscando pelo perdão por ter escondido sua homossexualidade ao mesmo tempo em que tenta provar que tal condição é uma aberração da qual ele não conseguiu se livrar. A narrativa não segue um padrão ou uma ordem cronológica mas nem por isso os fatos se tornam confusos para quem lê.

Ao decidir fazer esse relato, ele está internado num hospital após ter contraído HIV, e volta ao início da vida, contando como passou a infância numa igreja, ouvindo sobre moralidade, pecados, o que pode e o que não pode, o que é e o que não é de Deus, até a atualidade, em 2014, quando vai contando de forma gradual e desordenada como foi parar lá, mas sempre ressaltando o que, de fato, gosta, o que sente falta, o que o excita e no que vivia pensando de forma crua, direta e sem censuras.
Desde os quinze anos de idade ele tem plena consciência de que é gay e, embora tenha tentado de todas as formas se curar desta "doença", não poderia fazer nada para mudar isso. Ter uma mãe jamais aceitaria um filho gay e que leva a religião com extremo fanatismo após a morte do pai só fez com que as coisas fossem mais difíceis e "sujas", principalmente por ser o filho "destinado" a se tornar um pregador da palavra. E, seguindo as vontades dela, ele abraça a religião evangélica se tornando pastor, mas ainda que pregue a palavra, ele entra em contradição quando condena pecados que ele próprio comete ao levar essa vida dupla.

O livro é uma enorme crítica à hipocrisia. Retrata a verdade sobre as questões que envolvem religião e homossexualidade e como aqueles que não conseguem ou não podem assumir suas condições, seja pelo motivo que for, vivem de mentiras que acabam por consumí-los internamente.

Acho que quando se escolhe um tema para escrever, não é necessário se fazer alarde sobre o que vamos encontrar. Basta deixar a leitura fluir e cada um que tire as próprias conclusões, sem necessidade de ser informado da dita polêmica antes mesmo da leitura ser iniciada.
Ao saber de antemão que o livro seria polêmico por tocar em assuntos delicados e que geram discussões eternas que nunca levam ninguém a lugar nenhum, criei várias expectativas e ao fim minha impressão foi de que a história tendeu por um caminho que fez com que essa polêmica fosse forçada e aumentada, havendo abuso de ironia e sarcasmo, como se o livro tivesse sido escrito inserindo vários pensamentos e situações explícitas, despudoradas e exageradas - mas que nem sempre colaboram para o desenvolvimento da história ou da trajetória do personagem - só para chocar o leitor devido a tamanha "audácia". Nesse contexto da imoralidade e hipocrisia na religião e na orientação sexual que o protagonista está inserido, quando pensei que alguma situação descrita alcançou um nível de depravação que nunca imaginei ler na vida, logo adiante me deparo com outra ainda pior, e fiquei com a ideia de que tudo aquilo foi criado pra ampliar o problema e para causar desconforto e polemizar de forma proposital. Acho inclusive que o personagem não foi tão bem construído e pode ser considerado genérico não sendo tão possível assim que alguém se identifique com ele devido aos exageros, pois além de não sentir que ele possuísse carisma algum para conquistar o leitor, se a intenção era falar sobre os preconceitos da sociedade religiosa contra os homossexuais que não podem se assumir, ele poderia ser um gay em qualquer outra profissão ou em qualquer outra família...
"Sozinho, busquei as mais diferentes soluções dentro das leis divinas, e não a encontrei. Talvez se buscasse ajuda externa... mas com que cara eu admitiria ser uma aberração?
- Pág. 53
Mas confesso que o livro traz, sim, reflexões sobre fatores importantes como as relações familiares e até onde nos deixamos influenciar por nossos pais, o peso e as consequências das mentiras em nossas vidas, sobre a hipocrisia usada para levar a vida sob fachada conforme a conveniência, a forma como encaramos a religião e o ela espera de seus fiéis e seguidores.
A pessoa tem livre arbítrio para ser e fazer o que quiser, mas até onde é possível usar essa liberdade se existe a limitação ao conservadorismo e ao fanatismo de alguém que não tem a mente aberta e cuja visão também é limitada?
Não vou entrar na questao religiosa pois acredito que religião não é algo a ser discutido. É impossível forçar/mudar a opinião alheia quando o assunto é fé e crença, mas posso dizer que seguir uma religião usando somente aquilo o que convém é muito fácil, e ao capitulo final, no sermão que ele nunca teve coragem de dar, isso fica evidente...

Falando sobre parte física e diagramação, os títulos dos capítulos sempre são sugestivos e já dão ideia do que o texto irá tratar. A capa é bonita, lembra uma biblia e acho que a escolha não poderia ser melhor.
Sobre a escrita, só tenho elogios pois o autor escreve muito bem. Em alguns momentos senti que alguns capítulos eram destinados a polêmica pura, usando palavreados e termos chulos, já outros eram mais reflexivos e profundos, alguns inclusive trazem trechos da bíblia.
Eu só não sei ainda qual foi a intenção da utilização de nomes em letras maiúsculas ou minúsculas para nomes. Talvez seja algo ligado ao estado de espírito do protagonista em acreditar que algo ou alguém está num nível elevado e digno de respeito e enaltecimento ou não, como "deus", "bianca" (a esposa), "Ele" (se referindo a Davi, seu amante), "Mamãe", e por aí vai.

Enfim, não acho que seja um livro cuja leitura será facilmente aceita. É necessário ler com a mente aberta e deixar preconceitos de lado para saber um pouco mais desse pecador que, por mais que tenha sofrido na vida, soube o significado do que é viver intensamente.

Resta Um - Isabela Noronha

24 de novembro de 2015

Título: Resta Um
Autora: Isabela Noronha
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Romance/Nacional
Ano: 2015
Páginas: 304
Nota: ★★★★☆
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Lúcia sempre foi uma mulher que enxergou a vida pelo viés dos números. Professora respeitada do curso de matemática da Universidade de São Paulo, sua lógica cartesiana parecia manter sob controle todos os aspectos da existência. Um dia, porém, sua única filha, Amélia, não volta para casa. A criança desaparece sem deixar rastro, abalando tremendamente o pensamento racional da mãe.
Anos depois, a professora, que deixou a universidade e desfez o casamento, segue com a esperança de encontrar Amélia - embora seja a única a acreditar nessa possibilidade. E seus esforços parecem não ter sido em vão, pois recebe um e-mail que traz, por fim, a pista de alguém que diz conhecer o paradeiro da menina.
Entre a busca de Lúcia e a narrativa do desaparecimento de sua filha, acompanhamos as divagações de uma senhora que dedica a vida a cuidar do seu pomar.
Isabela Noronha costura neste romance de estreia uma sofisticada trama psicológica que cresce a cada página, levando-nos pelos estágios do desespero de uma mãe que perde o que lhe é mais valioso.

Resenha: Quantas pessoas desaparecem misteriosamente por ano no país? No dia 12 de novembro desse ano, Vanessa Vitória de 14 anos sumiu após um dia na escola. Um empresário desapareceu após deixar sua filha no estágio no estado do Espírito Santo, no dia 31 de outubro. No momento em que estou redigindo esta resenha alguma família pode estar no início de um grande sofrimento pela "perda" de alguém.

Em Resta Um, Isabela Noronha tece uma teia de sentimentos conflituosos sobre uma mãe que anseia por um dia, mesmo que quase impossível, rever sua filha, que nunca mais voltou da festa de sua melhor amiga. A história começa com um ritmo já acelerado, assim como a metrópole que abriga a trama: São Paulo. Com mais de 11 milhões de habitantes, Lúcia é mais uma entre tantos. O que diferencia essa mulher é o fato de sua filha, Amélia, estar desaparecida há anos. Com esse fardo tão difícil de ser carregado, a ex-professora da USP mostra certa fragilidade e força na incessante vontade de encontrá-la.

A narrativa é feita em primeira pessoa. Esse ponto de vista é capaz de sempre dar uma veracidade aos fatos e sentimentos de um personagem. Resta Um se sobressai pois a protagonista é nada menos que uma mãe desesperada com a ideia de ainda poder rever sua filha. É tudo sempre muito frenético e Lúcia continua obstinada a procurar por Amélia. Em alguns momentos a mulher beira um pouco os limites da sanidade e isso torna a história mais interessante. Um ponto fraco é a divisão de capítulos em períodos de anos. O passado, enquanto ela tentava procurar sua filha, se tornou mais interessante que o presente. Creio que a autora poderia ter deixado um pouco de lado o agora e ter tratado o sumiço de Amélia de forma mais linear e ter dado atenção ao desdobramento dos fatos presentes no final do livro.

Resta Um é, sem dúvida, um daqueles livros brasileiros que valem a leitura. A trama tem um ritmo acelerado e se desenvolve muito bem. Isabela Noronha conseguiu unir um tema forte e real com a ficção sem perder a essência da realidade. Vi em Lúcia uma mulher forte e frágil que em meio a tantas dificuldades nunca desistiu da sua filha. José, o pai de Amélia, era o oposto de sua esposa e ajudou a equilibrar a todo momento o emocional de uma mãe despedaçada por tal tragédia. O final não surpreende, levando em conta o enredo e o que esperamos do desfecho, mas o conjunto da obra é muito bom e vale a pena ser lido.

Quando Saturno Voltar - Laura Conrado

2 de novembro de 2015

Título: Quando Saturno Voltar
Autora: Laura Conrado
Editora: Globo Livros
Gênero: Chick lit/Romance/Nacional
Ano: 2015
Páginas: 248
Nota: ★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Em seu novo romance, Laura Conrado conta a história de Déborah Zolini, uma jornalista sonhadora e fã de Pablo Neruda que trabalha como assessora de imprensa de um clube de futebol da segunda divisão e namora o médico Sérgio há quatro anos. Ela faz planos de construir uma vida a dois, arrumar um emprego melhor e correr atrás de desejos que ainda não realizou. Só que a vida, ou as estrelas, guardam surpresas para Déborah. Em uma viagem ao Chile, ela encontra uma mulher misteriosa que lhe fala sobre o retorno de Saturno. O planeta, que leva, em média, 29 anos para dar uma volta no sistema solar, voltará à posição em que se encontrava quando a jornalista nasceu. Para quem acredita em astrologia, esse é momento em que as pessoas passam por várias mudanças, que vão prepará-las para encarar o resto de sua vida. Déborah não leva a moça muito a sério, mas pede às estrelas que a ajudem a realizar seus desejos. No entanto, no voo de volta ao Brasil, um encontro inesperado começa a abalar a vida aparentemente certinha da protagonista. Aos poucos, Déborah começa a notar que seu namoro anda meio morno, a falta de reconhecimento no trabalho a incomoda. Ela começa a admitir que não está gostando do rumo que as coisas estão tomando. Será a hora de partir para novos desafios? Trocar aquele relacionamento confortável pelo frio na barriga? Sair de vez da zona de conforto e ver o que acontece?  

Resenha: Quando Saturno Voltar é um chick lit escrito pela autora nacional Laura Conrado.
Explicando o título para nos situarmos, o que acontece é que Saturno demora pouco mais de 29 anos para completar sua translação (o movimento em torno do sol) e os astrólogos apontam que quando o planeta retorna para o mesmo ponto do nascimento de uma pessoa, ocorrem mudanças. O que a astrologia chama de "retorno de Saturno", o resto dos mortais chama de "crise dos 30".
E levando isso em consideração, somos apresentados a Déborah Zolini, uma mulher beirando os trinta que leva uma vida bem rotineira. Ela trabalha como assessora de imprensa de um time de futebol de segunda divisão de Minas Gerais, o Tricolor Associação Esportiva (ou Taes) e está num relacionamento confortável, mas bem desgastado, há quatro anos com Sérgio, um médico residente que vive para estudar. Até que um dia Déborah vai para o Chile a trabalho e se depara com Saphyra, uma cigana que lhe faz um alerta de que Saturno estaria voltando e isso traria mudanças bem significativas para ela.

Déborah não acreditou na cigana mas acabou se surpreendendo quando conheceu Henrique, um cara gato e com aquela pegada. Seria a primeira mudança? A aproximação faz com que eles descubram ter várias coisas em comum e Déborah começa a repensar sua vida que sempre foi totalmente estagnada com um namoro sem graça e falido, e um emprego cheio de cobranças onde ela nunca é reconhecida. Ela sempre optou pela segurança de sua vida, ainda que seja monótona e não lhe traga muita felicidade, por ter medo de mudanças, sem confiar que as coisas podem dar certo se ela arriscar, e por sempre considerar o lado negativo do "e se", ela se recusava a sair de sua zona de conforto. Mas até quando?

A narrativa é feita em primeira pessoa e é super leve, flúida e com várias frases de impacto que dizem muito em poucas palavras.
Déborah faz com que várias pessoas se identifiquem com ela. Dona de uma personalidade e um temperamento ótimos, ela é desbocada e tem percepções super inteligentes. Por mais que ela tenha planos e sonhos, Déborah é acomodada, insegura e tem medo de dar um passo que vá mudar o que não está "estragado". Mas por tudo o que a protagonista passa, é possível acompanhar seu amadurecimento, as mudanças de sua concepção sobre determinados assuntos, seus questionamentos sobre seu emprego e refletir que o que aconteceu na vida dela é algo que todas nós estamos sujeitas, e que pra mudar basta um impulso. Esses pontos tornam a protagonista alguém muito real e humana.
No caso de Déborah, seu impulso foi Henrique, ou melhor, o que ele despertou nela. Através disso, ela percebe que precisa mudar e aos poucos vai adquirindo confiança em si mesma, tomando as rédeas de sua vida e dando um novo rumo a ela, além de entender que o caminho mais curto nem sempre é o que trará os louros que ela tanto deseja. Se desejamos e sonhamos com alguma coisa, temos que gostar de nós mesmos e correr atrás do que queremos, sem medo.

Apesar de não gostar de futebol e não achar a menor graça nesse esporte, não achei de todo ruim que a autora tivesse aproveitado desse tema para construir a história porque foge um pouco da ambientação padrão. Déborah é jornalista, o que não é nenhuma novidade já que quase todas as personagens de chick lit são, mas ao trabalhar com um time de futebol e ser torcedora fanática, a história sai um pouco daquele ambiente de escritório num empresa multimilionária. Mas, a impressão que tive foi que pela autora gostar e entender de futebol, quis mostrar um pouco disso alí (talvez um pouco dela mesma?), e pra mim foi bem boring saber de alguns detalhes desse universo já que não é algo relevante pra mim.

Eu gostei muito das descrições dos cenários, do Chile e principalmente pela história ter um pé aqui em Belo Horizonte. Pra mim, quando outras cidades assim servem de cenário na literatura é um meio de fazer com que tenham destaque e mostre que o Brasil não é feito só de Rio e São Paulo.

A capa é uma graça e com detalhes em verniz que a deixam bem enfeitada. É simples mas ilustra bem a ideia de Saturno. A diagramação é simples, cada início de capítulo traz um trecho de Ode a uma Estrela, do poeta chinelo Pablo Neruda (de quem Déborah é fã). Os capítulos são bem compridos mas o livro é tão bem escrito e a leitura flui tão bem que foi algo que não me incomodou.

Quando Saturno Voltar é um livro que expõe as pessoas como elas são, em conflitos e situações cotidianas, mostrando hábitos e costumes rotineiros, mas acima de tudo, que deixa a reflexão de que mudanças, ainda que inesperadas, muitas vezes são inevitáveis, mas independente de qualquer coisa, o que importa é seguir em busca da felicidade.

O Mundo das Vozes Silenciadas - Carolina Munhóz e Sophia Abrahão

27 de outubro de 2015

Título: O Mundo das Vozes Silenciadas - O Reino das Vozes #2
Autoras: Carolina Munhóz e Sophia Abrahão
Editora: Fantástica/Rocco
Gênero: Fantasia/Juvenil/Nacional
Ano: 2015
Páginas: 288
Nota: ★★★★☆
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Anos após ter deixado o Reino das vozes que não se calam para trás, Sophie começou a trabalhar como assistente de uma famosa banda de rock. Enquanto tenta lidar com os desafios de sua nova vida, a jovem não imagina que em breve será chamada de volta para o seu mundo mágico, o único lugar onde já se sentiu acolhida. E muito menos o quanto sua longa ausência foi prejudicial para o Reino. Será que ela vai precisar decidir outra vez entre a realidade e a fantasia? Uma nova jornada repleta de descobertas e escolhas difíceis espera por Sophie e pelos leitores em O mundo das vozes silenciadas.

Resenha: O Mundo das Vozes Silenciadas é o segundo volume da série O Reino das Vozes, escrita pela autora nacional Carolina Munhóz em parceria com Sophia Abrahão.
Por se tratar da continuação, a resenha pode ter spoilers do livro anterior, sorry.

Em O Reino das Vozes que não se Calam, conhecemos a protagonista Sophie, uma jovem depressiva, cheio de medos e dúvidas, que não enxergava o próprio valor e acreditava que a felicidade era algo que jamais iria encontrar. Até que ela descobre um lugar fantástico, o Reino, onde foi aceita como a pessoa que é e, enfim, encontrou a felicidade, além de descobrir que lá ela é alguém muito importante para os Tirus, o povo do mundo mágico.
Mas depois de todos os acontecimentos que se passaram, no final das contas, Sophie deixou o Reino pra trás e mais de cinco anos se passaram desde então. Ela fez faculdade de música e agora, sendo adulta, lida com a vida real. Agora Sophie trabalha para uma banda de rock famosa, a Maguifires, como assistente de produção e, em segredo, namora Nicholas, o vocalista.

Seu relacionamento com Léo foi fadado ao fracasso já que o sucesso subiu à cabeça dele quando a Unique, sua banda, fez sucesso e ele deixou de dar importância às coisas que não tivessem ligação com ela, incluindo Sophie, que ficou de lado.
Até que Sophie revive a experiência de ir até o Reino, mas além de não entender o motivo, ela fica diante de um enigma que deve ser desvendado e agora deve buscar as respostas, principalmente por que sua ausência é prejudicial aos Tirus. Seus dramas passados vem à tona e ela precisa lidar com problemas dos quais não esperou, principalmente a dor de um coração partido. Agora Sophie deve decidir mais uma vez entre fantasia e realidade e o que vai definir seu destino serão suas escolhas baseadas em sua busca por respostas nos dois mundos que conhece.

A narrativa segue o mesmo padrão do livro anterior, em terceira pessoa, poética e, neste livro, além de ser mais fluída, senti um aprofundamento muito maior na questão dos sentimentos dos personagens e a forma como cada um deles foi apresentado, diferente do primeiro que foi mais raso em suas construções. Esse aprofundamento faz com que o leitor acabe tendo uma ligação maior com eles, talvez consiga se identificar, ter empatia e torcer por cada um, seja de forma positiva ou negativa.
As descrições para cenários são simplesmente perfeitas e nesse ponto só tenho elogios. É possível imaginar cada pedacinho por onde os personagens passam, como se o próprio leitor estivesse lá na Itália, presenciando os acontecimentos e apreciando o lugar, mas confesso que ainda me incomodo com a insistência irritante da autora em se referir aos personagens através de alguma característica física que eles tem, como "a ruiva isso" ou "a ruiva aquilo" (como foi com o livro Por um Toque de Ouro, por exemplo, em que apontei isso como algo que não me agradou).

Um dos pontos legais da história é a nova fase em que Sophie se encontra. Diferente de como foi apresentada no primeiro livro, talvez pelo tempo que se passou e pelo pouco mais de idade que ela tem, ela agora está mais madura, menos sarcástica, mais confiante e em vez de se entregar aos problemas, ela prefere encará-los de frente para resolver as coisas além de usar sua experiência para ajudar os outros que sofrem e não se dão o devido valor. Sophie está longe de sua família e de seus amigos, ainda lida com a depressão, mas o que parece é que ela aprendeu a contornar os problemas para não se deixar levar por eles, mas ainda se envolve em discussões ou brigas bobas que poderiam ser facilmente evitadas, como é o caso das brigas com Nicholas.
Nicholas é aquele tipo de personagem que arranca suspiros, gato, sarado e é o namorado perfeito. Entre ele e Léo, escolho ele sem pensar duas vezes, mas Sophie ainda carrega uma mágoa dentro de si e ainda nutre sentimentos pelo seu ex e isso faz com que ela fique, de certa forma, dividida entre os dois.

Como eu havia dito na resenha do livro anterior, continuo acreditando que o Reino seja uma metáfora, algo criado por Sophie para que sirva como um tipo de válvula de escape, um meio que ela encontrou para poder fugir de problemas e de momentos difíceis e que, ainda que ela acredite nisso com toda a convicção do mundo, tudo isso só exista na cabeça dela. É uma teoria que pra mim faz bastante sentido, mas resta aguardar o próximo volume para maiores esclarecimentos.

Mas sendo bem sincera, por mais que a história pareça ter alcançado um nível maior no que diz respeito a escrita e a narrativa e até a forma como problemas delicados de cada um são abordados, o que não anda me agradando muito nas histórias nos últimos livros da autora é que temas como fama, música, sucesso, dinheiro e afins estão sempre ali entranhados fazendo parte do desenrolar da trama e nunca camuflados ou tratados com sutileza, e isso acaba me deixando saturada. A sensação é de já saber os elementos que vou encontrar no livro antes mesmo de abri-lo e sinto falta uma história dela que vai me surpreender de verdade justamente por não abordar música e celebridades. Usar isso em um livro, ok... mas em dois, três e etc se torna algo repetitivo, cansativo e cai no clichê. Ainda que existam temas delicados, fortes e dignos de reflexão, é como se existisse um tipo de fórmula que se sobressai à trama em si: Algo como "fantasia + música + celebridades = livros da Carolina Munhóz".

Seguindo o padrão do primeiro livro, a capa é a coisa mais linda ever. O tom de azul dá um ar mágico e misterioso à obra e os detalhes em verniz e alto relevo dão um charme a mais. As páginas são amarelas e há ornamentos em cada início de capítulo.

Enfim, O Mundo das Vozes Silenciadas é uma sequência super satisfatória, que mostra uma personagem com problemas reais e críveis com quem muitos podem se identificar e com um final que foge de clichês e deixa o leitor ansiando pelo próximo volume.
Pra quem gosta de fantasia com toques de drama e várias referências musicais, não pode deixar de acompanhar a série.

O Vilarejo - Raphael Montes

6 de outubro de 2015

Título: O Vilarejo
Autor: Raphael Montes
Ilustrador: Marcelo Damm
Editora: Suma de Letras
Gênero: Terror/Contos/Literatura Nacional
Ano: 2015
Páginas: 96
Nota: ★★★★★
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Em 1589, o padre e demonologista Peter Binsfeld fez a ligação de cada um dos pecados capitais a um demônio, supostamente responsável por invocar o mal nas pessoas. É a partir daí que Raphael Montes cria sete histórias situadas em um vilarejo isolado, apresentando a lenta degradação dos moradores do lugar, e pouco a pouco o próprio vilarejo vai sendo dizimado, maculado pela neve e pela fome. As histórias podem ser lidas em qualquer ordem, sem prejuízo de sua compreensão, mas se relacionam de maneira complexa, de modo que ao término da leitura as narrativas convergem para uma única e surpreendente conclusão.

Resenha: A história de O Vilarejo é introduzida ao leitor de forma bastante inusitada pois o autor se apresenta como alguém que recebeu cadernos misteriosos da falecida Elfrida Pimminstoffer, ilustrados e cheio de anotações feitas à mão em uma língua antiga e morta. Tendo procurado ajuda para saber do que se tratava o conteúdo, acabou sendo o responsável por decifrar e traduzir as histórias. São sete contos que estão diretamente ligados aos sete pecados capitais, Cada um desses pecados é representado por um demônio que, supostamente, seria o responsável por despertar o que há de pior nas pessoas... Asmodeus (luxúria), Belzebu (gula), Mammon (ganância), Belphegor (preguiça), Satan (ira), Leviathan (inveja) e Lúcifer (soberba).
Cada conto irá mostrar como esses pecados se manifestaram nos moradores de um pequeno vilarejo isolado de forma que cada história acabe se entrelaçando de maneira ampla com as demais formando uma só ao fim, e como fatos e personagens se envolvem ao irem se degradando de forma lenta e gradual até atingirem a ruína.

Os contos são narrados em terceira pessoa e a escrita do autor é impecável. Ele tem o dom de manter o leitor preso à história e, ainda que seja curta e sem floreios, surpreende muito quando cada conto atinge o clímax. É simplesmente impossível parar a leitura pois a ansiedade pra chegar ao desfecho chega a ser inexplicável. Ao final queria saber mais dos personagens e o que mais seriam capazes de fazer, queria mais páginas sangrentas, queria um pouquinho mais dessa agonia extrema de acompanhar a rotina sem censura de personagens que tiveram seus lados mais negros e sombrios aflorarem sem o menor pudor.
As descrições e os detalhes acerca do ambiente e dos personagens não se prolongam muito e são feitas na medida certa. Inclusive acho válido ressaltar que são nos pequenos detalhes que tudo faz diferença pois só assim para fazermos a grande ligação com prefácio e posfácio da obra. E por causa dessas notas de Raphael Montes, como mero "tradutor" dos cadernos de Elfrida, é que a história ganha um ar de veracidade e causa arrepios em quem se atenta e descobre, de fato, quem essa senhora foi... É genial! São poucas páginas mas posso afirmar que o conteúdo é enorme e nada deixa a desejar.

Embora os contos sejam apresentados sem respeitar uma cronologia exata e possam ser lidos fora de ordem sem prejudicar a compreensão, preferi ler na ordem. Esse vai e vem temporal utilizado na narrativa só atiça ainda mais a curiosidade do leitor pois é bastante surpreendente iniciar a leitura sabendo que algum personagem morreu mas num conto posterior nos depararmos com sua infância.
É incrível como o próprio vilarejo parece integrar a trama como se fosse um personagem a parte. É um lugar afastado, esquecido, escondido e acompanhar, ainda que de forma desordenada, a decadência que o local passou a sofrer devido ao frio, a fome e a miséria que assolou os moradores, até que eles tenham sido tomados pelos pecados que os levaram ao extremo, é algo que faz do vilarejo algo "vivo" e que vai se definhando com o passar do tempo.

Falando da parte gráfica, só tenho elogios à obra. O visual do livro é maravilhoso. A diagramação é super caprichada: Cada início de capítulo traz o nome de um dos demônios mencionados e é apresentada numa página preta com o texto branco. As ilustrações de Marcelo Damm são em cores e os tons utilizados contrastam com o clima frio do vilarejo. Sabemos que há neve lá fora, mas, talvez pra dar a ideia do horror e decadência que os personagens vivem - além de preservar e representar o clima sombrio - as ilustrações são escuras e carregadas em marrom com detalhes em vermelho, verde ou amarelo. Essas ilustrações sempre representam alguma cena forte e intensa da história e há manchas vermelhas simulando respingos de sangue em algumas páginas.



Não havia lido nada do autor anteriormente e posso considerar essa estreia como algo que superou totalmente minhas expectativas. A inserção do povo e idioma cimério (que existiram antes de Cristo) assim como um professor conhecedor da língua oriundo de um outro livro de ficção publicado, mostrou que por mais que haja um toque de brincadeira na obra (diante de olhares mais atentos), o brilhantismo do autor é inegável.
Raphael mostrou através de O Vilarejo que seres humanos são falhos, muitas vezes fracos, e, por menor e mais inofensivo que seja, sempre carregam o mal dentro de si, resta saber se algo ou alguém pode ser o responsável por desencadear e libertar o monstro que habita as profundezas de cada um de nós...

Em suma, pra quem procura por uma história fria, crua e macabra, que mexe com nossos sentidos causando ansiedade, perturbação, pavor, repulsa e ainda nos mantém envolvidos e fascinados sem ter vontade de largar um minuto sequer, recomendo. O gostinho de quero mais que fica ao fim da leitura é inevitável.

A Escolha Perfeita do Coração - Bianca Briones

22 de setembro de 2015

Título: A Escolha Perfeita do Coração - Batidas Perdidas #1,5
Autora: Bianca Briones
Editora: Verus
Gênero: Romance/New Adult
Ano: 2015
Páginas: 154
Nota: ★★★★☆
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Viviane e Rafael enfrentaram uma montanha-russa de emoções em As batidas perdidas do coração, antes de finalmente se entenderem e conseguirem o que tanto queriam: ficar juntos para sempre. Agora, dois anos depois, esse recomeço está longe de ser tranquilo. Os fantasmas de Rafael o assombram, e Viviane, mais uma vez, precisa lutar para mostrar que ele mesmo é seu único inimigo. O que fazer quando a pessoa que você ama é uma força autodestrutiva? Como redimir alguém que não acredita ser digno de redenção? É possível amar a pessoa que mais te magoou? Até onde vale a pena lutar por um amor? Esta é a chance de Rafael e Viviane aprenderem que a mesma pessoa que pode partir seu coração em mil pedaços é capaz de juntar os estilhaços e fazer você se sentir inteiro outra vez.

Resenha: A Escolha Perfeita do Coração, escrito pela autora nacional Bianca Briones e publicado pela Verus, dá continuidade à história do primeiro livro da série Batidas Perdidas, As Batidas Perdidas do Coração (resenhado pelo Lucas aqui no blog). Diferente do segundo livro, O Descompasso Infinito do Coração que engloba outros personagens, é recomendado que este seja lido após a leitura do primeiro, pois pra quem gostou do casal Viviane e Rafael e ficou com vontade de saber um pouco do que aconteceu depois de tudo o que eles passaram juntos até se reencontrarem, agora vai ter essa oportunidade, pois enfim eles terão a chance de se acertarem em busca da felicidade.

A narrativa do livro segue o padrão dos demais da série, em primeira pessoa e alternando entre os pontos de vista dos protagonistas e, além das referências musicais de pop e rock que encontramos ao longo da história, cada início de capítulo traz um trecho de alguma música que, de certa forma, tem a ver com a situação em que os personagens se encontram. A escrita da autora continua perfeita, cativante, poética, cheia de frases de impacto e carregada de sentimentos intensos e que mexem com nossas emoções, e posso dizer que foram exatamente esses detalhes que me fizeram gostar do livro. Acredito que a volta de Vivi e Rafa serviram mais como forma de matar a saudade ou a curiosidade dos leitores, já que no livro anterior o final é bem fechado e não deixa gancho algum para uma continuação. Confesso nem ter suspirado tanto pelo livro devido a história propriamente dita pois pra mim não houve nada de realmente novo, mas sim em como Bianca Briones consegue dar uma verdadeira aula do que é, ou pelo menos o que deveria ser, esse sentimento que é o amor. Acho inclusive que muitos que ficam se lamentando ou sofrendo pelos cantos deveriam ler o que a autora escreve, pois quem sabe assim tenham um pouco de senso e tomem um choque de realidade para mudarem de atitude e de vida em vez de esperarem a felicidade bater a porta...

Os personagens estão mais maduros, mais conscientes de seus atos e isso faz com que queiram fazer tudo diferente para que as coisas possam dar certo no final. Todos somos humanos e estamos passíveis de erros. Às vezes, só aprendemos com as dificuldades que a vida nos impõe, mas isso não significa fraqueza ou fracasso... Toda experiência é uma forma de nos deixar mais fortes e mais sábios, e cabe a nós mesmos fazermos as melhores escolhas sempre seguindo as batidas do nosso coração...

Confiram alguns quotes que separei abaixo. As palavras dizem por si só o que quero expressar...

"O amor é uma contradição. A mesma pessoa que pode partir seu coração em mil pedaços é capaz de juntar os estilhaços e fazer você se sentir inteira outra vez."
- Pág. 7
"Ser um sobrevivente não é passar por uma situação difícil e seguir em frente. É resistir quando o fantasma do seu passado retorna e quer te arrastar para a escuridão que você viveu um dia."
- Pág. 21
"O amor e a dor caminham juntos. Não dá pra ter um sem o outro. Porque amar implica saber perder o que amamos, e, por mais que esse ainda seja meu maior medo, é inevitável."
- Pág. 146


Na Porta ao Lado - Luiza Trigo

7 de setembro de 2015

Título: Na Porta ao Lado - Meus 15 Anos #2
Autora: Luiza Trigo
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Juvenil/Literatura Nacional
Ano: 2015
Páginas: 256
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Carol tem mania de fazer listas. Escreve sobre tudo: livros favoritos, melhores momentos das férias, músicas prediletas, frustrações…
Mas nunca pensou que registraria em suas listas novidades tão surpreendentes: o casamento de sua mãe com o namorado; a mudança da casa onde viveu por 15 anos e guardava as memórias do pai; a vida sob o mesmo teto que o padrasto e seu filho insuportável. Imagina que inferno!
Carol conta com o apoio das suas quatro amigas - Bia, Pri, Amanda e Beta –, com as quais pode desabafar e se divertir. E se o clima em casa está ruim, ainda bem que na escola não acontece o mesmo, principalmente depois da chegada de um novo aluno que irá mexer com o seu coração.

Resenha: Na Porta ao Lado, escrito pela autora Luly Trigo e publicado no Brasil pelo selo Jovens Leitores da Rocco traz de volta as "Valentinas", um grupo de amigas formado por Carol, Bia, Beta, Pri e Amanda.
No primeiro livro, Meus 15 Anos, a personagem Bia ganha mais destaque quando está prestes a comemorar seu aniversário de 15 anos com direito a uma festa mais do que inesquecível em companhia de suas amigas.
Em Na Porta ao Lado, Carol é a personagem da vez e vamos acompanhar uma fase bastante complicada de sua vida. Depois de ter ficado oito anos sozinha após a morte do marido, a mãe dela decide se casar outra vez, e essa decisão é algo que viraria a vida da garota de cabeça para baixo pois, além dela ter que se mudar da casa onde morou durante sua vida inteira - e onde guardava várias memórias de seu pai - para um apartamento, ela ainda ganhou um padrasto e um novo "irmão" insuportável no pacote, Tomás.

Carol já estava acostumada com a rotina de viver somente com a mãe e, quando se vê nesse novo ambiente, tenta se adaptar como pode. Mas Tomás não parece querer facilitar as coisas pra ela já que também não está muito contente com essa mudança... Ela tenta ser amigável mas ele vive fingindo que ela não existe. E para piorar as coisas, seu padrasto é professor em sua nova escola, e Tomás é da mesma sala que ela.
É claro que suas amigas estão alí para o que der e vier e vão ajudá-la a passar por tudo isso, mas algumas situações vão fazer com que Carol se sinta traída e chateada. Em meio a esse turbilhão de coisas que Carol precisa lidar, ela conhece Bernardo, um garoto novo na escola por quem ela fica super interessada, e assim vamos acompanhando a nova fase da vida dela e se todas essas mudanças inevitáveis serão para melhor, ou não...

O livro é narrado em primeira pessoa e a leitura é super simples e fácil de atingir o público a que é destinada.
Os títulos dos capítulos vão soar bastante familiar para os mais aficionados por leitura pois cada um tem o nome de algum livro conhecido e eles ainda meio que resumem bem a cena que se desenrola no capítulo em questão, mesmo que não tenha nada a ver com a história do livro propriamente dito. Carol adorar ler, sempre fala sobre os livros que leu, faz anotações sobre eles e me identifiquei bastante com suas preferências. Ela gosta de correr, tem mania fazer listas e faz questão de registrar tudo em seu diário, então ao longo do livro podemos espiar algumas "páginas" dele.
"À noite, depois do lanche, me retirei para o quarto ansiosa para escolher a minha próxima leitura. Fiquei namorando a estante, tentando decidir, mas eram tantas opções. Eu compro mais livros do que sou capaz de ler, então a fila está sempre enorme."
- Pág. 59
Ainda que o foco principal seja em Carol, as outras meninas também têm presença marcante na história e, ao que tudo indica, terão outros livros com foco em cada uma delas. É bacana ver como a amizade se fortalece e as meninas amadurecem ainda que tenham muitas dúvidas, medos e fiquem frustradas com algo que não dá certo em suas vidas.
Tanto o primeiro livro quanto este retratam com bastante fidelidade o universo adolescente no que diz respeito a conflitos internos e a forma, muitas vezes, dramática com que as coisas são encaradas pelas garotas. Problemas familiares são complicados e difíceis de ser contornados até por adultos, logo é bastante compreensível que adolescentes pensem que qualquer coisa pode ser o fim do mundo, principalmente quando existe alguém pra atrapalhar o que já está difícil.
A sensação que o livro causa é de uma enorme nostalgia pois quem nunca brigou com uma amiga, ficou caidinha pelo garoto fofo da escola, se sentiu melhor na escola do que em casa como forma de fuga, ou se revoltou com os pais por algo que eles fizeram e que não estávamos de acordo? É impossível não achar uma personagem com quem se identificar, independente da idade.

Falando da parte física, o livro é uma fofura! As cores da capa são super harmônicas e os pequenos detalhes de carinhas e corações tem aplicação em verniz para terem destaque. A diagramação também é bem caprichada pois em cada início de capítulo há um ornamento que parece ter sido rabiscado em "giz" e ao fim há várias carinhas como na capa.
Em meios aos diálogos vemos conversas por mensagens e, claro, as listas de Carol. As páginas são brancas e a revisão é impecável.

Um livro que aborda a amizade do jeito que ela deveria ser: verdadeira, cheia de cumplicidade e para sempre.
Leitura super indicada às jovens leitoras, mas também as que já passaram dessa fase e querem relembrar os vários momentos vividos na adolescência através dessas queridas amigas.

O Diário de Samantha - Ana Monteiro

3 de setembro de 2015

Título: O Diário de Samantha
Autora: Ana Monteiro
Editora: Novos Talentos/Novo Século
Gênero: Romance/Literatura nacional
Ano: 2015
Páginas: 540
Nota: ★★☆☆☆
Onde comprar: Saraiva
Sinopse: Samantha Walker é líder da banda Nightwalkers, uma vampira que com sua voz suave e melodiosa torna-se em bem pouco tempo uma estrela do rock mundialmente famosa. Só o que ela não sabe era que sua fama repentina facilitaria a aproximação de Hadrian e sua corja, um antigo rival de Nicholas Lacroix, o vampiro que a transformou e com quem ela viveu um verdadeiro conto de fadas no passado, antes de conhecer Victo Hugo, seu amor humano. 

Resenha: O Diário de Samantha é um romance escrito pela autora carioca Ana Monteiro e publicado pelo selo Novos Talentos da Literatura Brasileira da Editora Novo Século.
Samantha Walker é líder e vocalista de uma banda punk gótica, a Nightwalkers. Ela é uma vampira, tem uma voz suave e melodiosa e em pouquíssimo tempo faz sucesso com a banda que nasceu numa garagem e se torna uma estrela do rock conhecida mundialmente. Sua fama despertou atenção de Hadrian, um antigo rival de Nicholas Lacroix, o vampiro que a transformou no passado com quem ela viveu momentos maravilhosos antes de ela conhecer seu verdadeiro amor, Victor Hugo.
Agora sob ameaças, Sam teme pela vida de Victor que não sabe que ela é uma vampira, e a fim de protegê-lo, ela decide tomar uma decisão drástica e trágica, se expondo à luz do sol. Porém, antes disso, ela resolve escrever um diário para registrar os acontecimentos de sua vida até ela decidir acabar com ela. Logo, a história começa com a morte de Samantha, e ao longo da leitura de seu diário vamos descobrindo seus motivos para tal escolha e quais as consequências dela.

O livro é narrado pelo ponto de vista de Sam e acompanhamos de forma alternada capítulos de sua vida, presente e passado, a fim de a conhecermos melhor, sua família, quando a banda começou, seu primeiro amor, quando se transformou e afins, e tudo sempre com uma playlist das músicas dela que refletem momentos pelos quais ela passa, mas tudo contado de forma lenta e arrastada.
A história é ambientada no Rio de Janeiro mas fiquei a ver navios com maiores descrições acerca do cenário. Os personagens não me agradaram muito, e talvez tenha sido devido a antipatia que tive dos apelidos toscos que todos possuem... Azeitona, Siri, Fraldinha, Joca, Zé e afins... Todos parecem se comportar da mesma forma, como se a personalidade fosse única e por isso não achei que a construção deles tenha sido muito boa. Os vampiros, talvez para serem diferenciados dos reles mortais, já possuem nomes mais "sofisticados", como Nicholas, Wilhem, Annabella e etc, logo essa distinção entre todos ficou bastante óbvia.
Se ela viveu uma história de amor com Victor e decidiu esconder sua condição de vampira dele, seria de se esperar que ela contasse sua vida do "antes" tendo nos poupado do que não acrescentou em nada.

Não achei que a forma de Samantha se expor contando sua longa e cansativa história em forma de diário tenha combinando com os diálogos (que ela também descreve, afinal, estamos lendo seu diário). Ela escreve de um jeito reflexivo, sensível e maduro, tentando descrever cenas e situações que presencia e vive, mas os diálogos são informais e descolados demais. Lemos com muita frequência palavras como "tava", "tamo", "vam'bora" e afins, além de gírias que caíram em desuso há séculos e que jamais imagino um rockeiro falando e, que no contexto geral, empobreceram a escrita. Sério que hoje em dia alguém usa a palavra "filé" pra elogiar uma moça bonita e gostosona?

Esse contraste não funcionou pra mim. As descrições físicas dos personagens e de determinados ambientes são superficiais demais. Falar que um cara é alto, tem olhos verdes, é magro e tem feições marcantes, ou descrever um casarão como simplesmente "escuro" não bastam pra me fazer imaginar um personagem ou um local muito bem, então tudo deixou a desejar... E as cenas "quentes" eu prefiro nem comentar... Não vi o menor motivo para a tentativa de inserção de um toque sexual e hot se as cenas não são bem desenvolvidas e bem descritas com intensidade suficiente.
Um detalhe que achei válido e útil são as letras das músicas presentes, pois elas são em inglês mas na linha seguinte acompanhamos a tradução. Gostei desse ponto pois geralmente essas traduções aparecem em notas de rodapé que acabam interrompendo a leitura e aqui isso não acontece.

A capa do livro é super bonita ao imitar um diário, e o tom de vermelho que escurece em direção à rosa dá um efeito bem gótico nela. A diagramação é simples, os capítulos são numerados com algorismos romanos seguidos por um título dado pela protagonista que resume o acontecimento que ela vai descrever. A fonte é razoavelmente pequena e o espaçamento da margem é mínimo, e isso me incomodou um pouco porque a impressão que dá é que o texto foi ajustado "a força" pra se espremer e caber numa quantidade x de páginas.

Ao final da leitura fiquei me perguntando qual foi o sentido dessa história, se a ideia era falar sobre o real motivo da morte trágica de Samantha ou se era florear inserindo elementos inúteis junto com referências musicais e que ao meu ver, não teve nada a ver... A todo momento só conseguia me lembrar de A Rainha dos Condenados ainda que a história seguisse por outro caminho...
Entendi que a história aborda o amor, até onde vamos e do que somos capazes de abrir mão em nome dele, mas faltou desenvolvimento que tornasse a história crível e direta ao invés de elementos que serviram de enfeite pra aumentar a quantidade de páginas.
Infelizmente, eu não consegui aproveitar a leitura de O Diário de Samantha quanto pensei que fosse, por mais que as referências musicais sejam muitos boas. Pra mim foi um livro que me ganhou pela capa, mas me perdeu pelo conteúdo. Sorry...

A Promessa da Rosa - Babi A. Sette

9 de agosto de 2015

Lido em: Julho de 2015
Título: A Promessa da Rosa
Autora: Babi A. Sette
Editora: Novo Século
Gênero: Romance de época/Literatura Nacional
Ano: 2015
Páginas: 432
Nota: ★★★★★
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Século XIX: status, vestidos pomposos, carruagens, bailes… Kathelyn Stanwell, a irresistível filha de um conde, seria a debutante perfeita, exceto pelo fato de que ela detesta a nobreza; é corajosa, idealista e geniosa. Nutre o sonho de ser livre para escolher o próprio destino, dentre eles inclui o de não casar-se cedo. No entanto, em um baile de máscaras, um homem intrigante entra em cena… Arthur Harold é bonito, rico e obstinado.
Supondo, por sua aparência, que ele não pertence ao seu mundo, à impulsiva Kathelyn o convida a entrar no jardim – passeio proibido para jovens damas. Nunca mais se veriam, ela estava segura disso. Entretanto, ele é: o nono duque de Belmont, alguém bem diferente do homem que idealizava, só que, de um instante a outro, o que parecia a aventura de uma noite, se transforma em uma paixão sem limites.
Porém, a traição causada pela inveja e uma sucessão de mal-entendidos dão origem ao ciúme e muitas reviravoltas. Kathelyn será desafiada, não mais pelas regras sociais ou pelo direito de trilhar o próprio caminho, e sim, pela a única coisa capaz de vencer até mesmo a sua força de vontade e enorme teimosia: o seu coração.

Resenha: A Promessa da Rosa é um romance de época escrito pela autora nacional Babi A Sette e publicado pela Editora Novo Século.
A história se passa na Londres de 1840 e é lá que conhecemos Kathelyn Stanwell, uma jovem debutante que tem todos os atributos necessários para chamar atenção de qualquer um: ela é linda, forte, corajosa, muito inteligente e geniosa. O único problema é que ela odeia a nobreza, odeia viver de status e, mais do que nunca, odeia a ideia de ser obrigada a se casar cedo com alguém por quem ela não nutre sentimento algum. Ela é filha de um conde importante e o mínimo que se espera dela é encontrar um bom partido do mesmo nível social a que pertence. Kathelyn não tem a menor intenção de atender expectativas da família e muito menos da sociedade pois ela quer ser dona do próprio destino fazendo as próprias escolhas.

Mas num baile de máscaras ela descobre uma coleção de obras histórias numa biblioteca particular e dá um jeito de invadir o local e acaba sendo surpreendida por um rapaz vestido de negro que, num primeiro momento, faz um julgamento errôneo da moça ainda que tenha ficado curioso pelos interesses dela. Arthur Harold, bonito, rico, misterioso e todas querem tê-lo como marido. O encontro inusitado acaba despertando um interesse recíproco nos dois... A atração é imediata, o envolvimento se resumiria apenas ao que aconteceu no jardim, e Kathelyn dá um jeito de fugir quando poderia pôr em risco sua própria reputação pensando que nunca mais veria Arthur outra vez...
Mas, por ironia do destino, Kathelyn reencontra o rapaz e descobre que Arthur é o duque de Belmont, e ele descobre que Kathelyn não é uma moça da vida qualquer, mas sim a filha de um conde. Isso faz com que ele fique disposto a tê-la como esposa, custe o que custar.
Quando tudo parecia ir bem, várias pessoas presenciaram uma cena que acabou abalando a relação do casal. A inveja foi responsável por causar várias reviravoltas na história que trariam à tona mágoas profundas, fazendo com que se questionem se o amor conseguirá ultrapassar todas as barreiras impostas até chegarem ao final feliz, ou não...

Vou ser sincera ao afirmar que não tenho costume de ler romances de época e penso muito antes de investir num livro do tipo, mas essa leitura superou todas as minhas expectativas.
Narrado em terceira pessoa, A Promessa da Rosa traz uma escrita envolvente, que remete à época mas que não é "difícil" de ler e entender, além de retratar uma protagonista que foge dos estereótipos que está além do tempo em que vive. O drama presente traz uma carga emocional bastante intensa à história. Os diálogos são espirituosos e cheios de ironias, mas ainda tem bastante sensibilidade e emoção a ponto de arrancar lágrimas nos mais sensíveis.
Kathelyn é uma personagem ótima, pois é determinada e supera os obstáculos a frente. Num século onde as moças devem ser verdadeiras damas, sendo submissas e aceitando tudo caladas, ela mostra que toda regra tem sua exceção.

Arthur, com todo o status que tem poderia escolher quem quisesse, mas preferiu esperar até que encontrasse alguém que realmente combinasse com ele e pudesse fazê-lo feliz, mas por mais que ele seja bonito e abastado, ele é imaturo, egoísta e, às vezes, muito covarde. Não gostei da forma de ele encarar a vida, se portando de uma forma quando faz coisas que abomina pelas costas ou fingindo não se importar com opiniões alheias sendo que ele se importa e muito, logo não me afeiçoei e nem tive confiança alguma no rapaz, pelo menos até um determinado ponto da história... O que parece é que ele é uma pessoa passível de erros, e isso o torna humano. Ele tem suas falhas, mas ainda consegue ser encantador, reconheço.


A capa é divina, convenhamos. Adorei a sutileza que a imagem passa, assim como as cores delicadas que combinam bem em conjunto. A diagramação é uma graça. Cada início de capítulo há uma silhueta de flores em galhinhos e a flor também serve como divisória de parágrafos. A revisão está impecável e levando em consideração todo o conjunto da obra, assim como a escrita maravilhosa da autora, só tenho elogios ao livro.

Em suma, a história mostra que nada é por acaso, que o mundo dá voltas e a lei do retorno é algo que existe. E tudo isso colabora para a compreensão e o autoconhecimento de nós mesmos. Ainda que as coisas estejam ruins, dando a entender que não há mais solução, em algum momento as coisas vão melhorar, basta ter perseverança e acreditar.
Pra quem quer se aventurar por um romance cheio de intrigas, preconceito e que testa o amor até os limites, recomendo.