Os Bons Segredos - Sarah Dessen

30 de agosto de 2015

Título: Os Bons Segredos
Autora: Sarah Dessen
Editora: Seguinte
Gênero: YA
Ano: 2015
Páginas: 408
Nota: ★★★★☆
Onde comprar: Saraiva
Sinopse: Sydney sempre se sentiu invisível, já que Peyton, seu irmão mais velho, era o foco da atenção da família. Até que ele causa um acidente por dirigir bêbado, deixando um garoto paralítico, e vai para a prisão. Sydney parece ser a única a responsabilizá-lo, ao contrário de seus pais, que enxergam o filho como vítima.
Para fugir do clima insuportável em casa, certa tarde Sydney entra numa pizzaria ao acaso. Lá conhece Layla, filha do dono do restaurante, e a amizade entre as duas é instantânea. Logo Sydney se vê contando à garota segredos que ninguém mais sabe, e encontra entre a família dela um espaço onde todos a enxergam e a aceitam como é.
Os bons segredos é o romance mais profundo de Sarah Dessen, uma das maiores referências do gênero jovem adulto nos Estados Unidos. Com uma série de personagens inesquecíveis e descrições gastronômicas de dar água na boca, ela conta a história de uma jovem que tenta encontrar seu lugar no mundo e acaba descobrindo a amizade, o amor e uma nova família no caminho.

Resenha: Os Bons Segredos, escrito pela autora Sarah Dessen e publicado no Brasil pela Seguinte, conta a história de Sydney, uma adolescente que se sente invisível e até rejeitada dentro da própria casa devido aos seus pais darem atenção somente ao irmão dela, Peyton. Ele sempre foi o centro das atenções, sempre foi exemplo de bom filho, sempre desejado pelas garotas e Sydney vivia à sua sombra. Mas Peyton se transformou em um garoto problema, ao começar a andar com certos tipos de pessoas, começou a se envolver com drogas, bebida, invadia casas, cometia furtos e não se importava com nada. Até que numa madrugada ele dirigiu bêbado e atropelou David Ibarra, deixando o garoto paraplégico. Ele foi responsabilizado pelo acidente e acabou sendo preso, mas seus pais preferiram tratar o filho como se a vítima fosse ele. Somente Sydney parecia enxergar que o irmão era um desajustado assim como a gravidade da situação, e ainda começou a se sentir culpada pela tragédia que limitou a vida de David. Ela queria pedir desculpas, saber como ele estava por ficar preocupada, mas nunca teve coragem de ir até a casa dele. Sidney mudou de escola mas ainda sentia que era mera espectadora de tudo que vivia, sem ter espaço ou vez, já que a mãe passou a viver em função de Peyton e o pai ficou totalmente passivo em meio a situação.
A fim de fugir do clima tenso de casa, ela entra numa pizzaria ao acaso e conhece Layla, a filha do dono do restaurante. A amizade que surge entre as duas é imediata, ainda que elas sejam bem diferentes uma da outra, e Sydney sente que ter espaço e não ficar em segundo plano é algo que pode ajudá-la a seguir em frente, a ter voz e ter controle sobre sua vida. Ela encontrou alguém com quem pudesse conversar abertamente e contar seus segredos que seriam, enfim, ouvidos.

O livro é narrado em primeira pessoa de forma lenta e sem grandes reviravoltas ou revelações, mas com muita sensibilidade e emoção. A escrita é muito boa e flui de forma linear, mas devido a demora nos acontecimentos a leitura pode ser um pouco cansativa e não prender logo de cara e esse foi o único ponto que não gostei muito nessa história, ainda que tenha me identificado bastante com ela.
A autora ainda espalha comida por todo o livro e é impossível ler sem ficar com fome, sério! A família de Layla é dona da pizzaria e Sydney ama pirulitos e batata frita. É possível até termos uma visão nova sobre comer essas gordices sem peso na consciência pela forma como as meninas encaram essas delicias que proporcionam pequenos prazeres na vida da gente.

Os temas abordados pela autora, a forma como ela construiu os personagens, cheio de falhas e defeitos, fizeram com que todos fossem muito humanos e reais. Senti como se eu estivesse lendo uma história sobre a vida de alguém que conheço, mas com toques intensos de sensibilidade e descrições perfeitas sobre todo e qualquer tipo de sentimentos vindos de uma pessoa que não tem voz e nem vez.
Consegui me colocar na situação de Sydney em vários momentos pois sei exatamente como funciona a mente dos familiares ao ficarem "cegos" quando o assunto é defender um filho que chega ao fundo do poço. É triste ver uma mãe com a alma partida fazendo de tudo para apoiar o filho por amor a ele, mas mais triste ainda é essa mãe usar da negação para mascarar a gravidade do fato, mesmo que de forma inconsciente. A mãe de Sydney é assim, mas quantas mães não fazem a mesma coisa? Ela age como se Peyton continuasse sendo um exemplo, como se o culpado pelo acidente tivesse sido o pobre David pois ele não devia estar andando por aí às 2hs da manhã. É mais fácil canalizar as frustrações ou jogar a culpa na vítima para não assumir ou justificar os próprios erros, ou ainda os erros de quem se ama. Sempre que Sydney tenta tocar no assunto é cortada e ignorada, e nunca tem a atenção que deveria pois a vida da mãe, e agora mais do que nunca, continua girando em torno de seu filho favorito.

A história retrata uma garota que, independente de ser uma boa filha ou do que faça, não tem méritos e nem o devido valor reconhecido, e por ser sozinha, não tinha com quem contar ou desabafar, até encontrar Layla...
Layla é super alto-astral e a amizade das duas é algo que todos os amigos do mundo deveriam cultivar. Elas possuem um laço bem forte e é possível perceber que a amizade, quando é verdadeira, ultrapassa barreiras. E tenha em mãos algo gostoso para comer em companhia de uma amiga assim e pronto: Melhores momentos ever estarão garantidos.
Há romance no livro, sim, mas ele não é o que ganha o maior destaque na história. Ele se desenvolve aos poucos e por não ser aquela coisa instantânea é gostoso de acompanhar e de acreditar que é de verdade. O foco é em Sydney e como ela passa a lidar com seus problemas de forma geral e o que aprende com isso. Ela tem momentos ruins e sofre, mas também tem momentos bons e felizes e o destaque vai para seu próprio crescimento pessoal.

A capa desse livro é linda e consegui interpretar um significado muito bonito: Um carrossel cujos cavalos se soltaram das cordas que os prendiam naquele círculo sem fim, partindo rumo a liberdade. Imagem mais apropriada não poderia ter. Ainda podemos acompanhar uma cena com o carrossel na história e ela é linda de viver.

Pra quem procura por um romance voltado ao público jovem adulto que aborda um drama verdadeiro e que pode fazer parte da vida de qualquer um, sob uma escrita sensível e bastante convincente, recomendo Os Bons Segredos. É aquele tipo de livro que mostra a atmosfera familiar como ela realmente é, tanto o lado ruim quanto o bom, e se tornou memorável pra mim por mostrar uma história linda e que deve ser levada como exemplo de vida a todos aqueles que, por algum momento, se sentiram invisíveis mas que ainda sonham em encontrarem a si mesmos, independente dos obstáculos que existam..

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