Crave a Marca - Veronica Roth

23 de fevereiro de 2017

Título: Crave a Marca - Crave a Marca #1
Autora: Veronica Roth
Editora: Jovens Leirores/Rocco
Gênero: Fantasia/YA/Sci-Fi
Ano: 2017
Páginas: 480
Nota:★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Num planeta em guerra, numa galáxia em que quase todos os seres estão conectados por uma energia misteriosa chamada "a corrente" e cada pessoa possui um dom que lhe confere poderes e limitações, Cyra Noavek e Akos Kereseth são dois jovens de origens distintas cujos destinos se cruzam de forma decisiva. Obrigados a lidar com o ódio entre suas nações, seus preconceitos e visões de mundo, eles podem ser a salvação ou a ruína não só um do outro, mas de toda uma galáxia. Primeiro de uma série de fantasia e ficção científica, Crave a marca é aguardado novo livro da autora da série Divergente, Veronica Roth, que terá lançamento simultâneo em mais de 30 países em 17 de janeiro, e surpreenderá não só os fãs da escritora, mas também de clássicos sci-fi como Star Wars.

Resenha: Crave a Marca é o primeiro volume da série homônima escrita pela autora Veronica Roth (da trilogia Divergente), publicado no Brasil pela Editora Rocco.

O enredo se passa no espaço, em meio a uma galáxia cercada pelo fluxo da Corrente. A corrente é uma energia que interliga todos os seres existentes, dando inclusive dons especiais às pessoas de acordo com suas personalidades e originando profecias inevitáveis, chamadas de Fortunas. O planeta principal é Thuve, o planeta do gelo, e ele é dividido em duas nações que estão em guerra: os Shotet e os Thuvesitas.
Os thuvesitas residem em Thuve desde os primórdios e são habitantes pacíficos, mas agora enfrentam os shotet que são hostis e decidiram fazer do planeta sua moradia depois de várias explorações e querem ser reconhecidos como uma nação.

Akos Kereseth é um thuvesita, filho de um oráculo que prevê o futuro, e devido a uma profecia, ele e o irmão, Eijeh, acabam sendo sequestrados e obrigados viverem entre seus rivais a mando de Rizek, governante de Shotet e irmão de Cyra, e isso já é motivo suficiente para que o ódio sempre esteja entre eles.

Cyra Noavek é uma shotet. Ela descende de uma família rica e poderosa e seu pai é o imperador. A corrente se manifestou nela dando-lhe o dom de sentir e causar dor em quem tocar, e ela é temida pelo povo já que seu irmão tirano não hesita em usá-la como arma de tortura quando lhe convém.

Embora a sociedade esteja dividida em todos os sentidos, o destino se encarregou de cruzar os caminhos dos dois jovens quando Akos é obrigado a servir os Noavek. Mesmo em lados opostos, eles começam a se conhecer melhor e descobrem que têm muito em comum. Assim, ambos irão formar uma aliança improvável a fim de não só superarem suas diferenças, mas lutarem pela liberdade da nação, mesmo que suas escolhas possam ser interpretadas como traição contra seus povos.
E essa união pode ser a salvação ou a ruína da galáxia...

O resumo que fiz do enredo parece simplificar bastante o conteúdo, mas pra chegar nesse entendimento foi bastante difícil... E já explico o motivo...
Enquanto alguns conseguiram enxergar semelhanças com Star Wars, talvez devido à corrente (que seria algo próximo da Força que rege o universo), eu só conseguia lembrar do filme Avatar e a forte ligação que os Na'vi, aquele povo azul de três metros de altura, tem com a mãe natureza, porém com o diferencial de que, em Crave a Marca, além de ter outros elementos presentes na trama, os nomes dos personagens e os demais termos são muito mais estrambólicos e difíceis de serem pronunciados. Mesmo que ao final do livro exista um guia de pronúncia e um glossário muito úteis, é um suplício interromper a leitura a cada palavra estranha que encontramos para ir consultá-la a fim de saber do que se trata ou como se fala. Isso dificultou um pouco a fluidez da leitura pois a impressão que tive é que não soaram naturais a ponto de eu não conseguir associar a quem ou o quê o tal nome pertencia, e isso foi um problema pra eu conseguir absorver a história da forma como eu esperava, por mais que ela seja muito boa no geral. E unindo isso a complexidade da sociedade a qual somos jogados a sensação é de que estamos perdidos e sem rumo. Também penso que a mesma história poderia ter sido contada utilizando de uma outra ambientação, talvez até outra época, sem que isso fizesse alguma diferença, principalmente no que diz respeito a alguns detalhes que parecem estar alí só pra enfiar mais informações no leitor e deixá-lo ainda mais saturado e confuso.
Levando esses pontos em consideração, posso dizer que o começo da história é tedioso e arrastado devido a essa enorme quantidade de informações complexas que nos são dadas sem a menor preocupação em explicar direito o que são ou o real motivo de estarem alí, e talvez isso tenha sido um fator que tenha feito alguns leitores perderem a paciência e abandonarem o livro, e até não terem curtido, mas, pelo menos no meu caso, percebi que a leitura foi ganhando uma guinada e realmente tive curiosidade para insistir e descobrir o que viria a seguir pois as coisas foram, sim, ficando um pouco mais interessantes.

Os capítulos se alternam entre os protagonistas e isso acaba tornando o enredo bem mais dinâmico do que parece. Enquanto a narrativa é feita em primeira pessoa nos capítulos destinados a Cyra, os de Akos são em terceira pessoa, mas, ainda assim, a visão que o leitor tem acerca dos acontecimentos e sobre o que se passa com ambos é bastante ampla.

Eu gostei da construção dos protagonistas. Cyra é uma personagem complexa e até dificil de ser decifrada e pode não conquistar logo de cara apesar de se tornar um grande modelo de empoderamento feminino ao longo de sua jornada. Seu poder, muito perigoso por sinal, é algo que já deixa o leitor com a pulga atrás da orelha por imaginar que dalí nada de bom poderia sair, mas de forma geral, ela não deixa totalmente a desejar. Imagine o quão difícil deve ser possuir o dom da dor? Tanto de sentí-la constantemente quanto proporcionar isso aos outros, mesmo que eles pudessem morrer, com um simples toque?
Akos é um jovem bondoso, altruísta e procura enxergar o melhor nas pessoas, por mais que sofra com a guerra. O poder dele é essencial, pois seu dom é capaz de anular os outros poderes, e consequentemente sua presença na vida de Cyra se tornou um alívio pra ela.
Ambos são autênticos, dinâmicos e precisavam lidar com os próprios conflitos pessoais para que pudessem crescer. O ódio que eles tinham um pelo outro no início se transforma em amizade devido a situaçao em que se encontram, e com o passar do tempo eles começam a enxegar além do que inicialmente julgavam. Há um equilíbrio no relacionamento que eles passam a cultivar de forma que eles se completam e se beneficiam de forma recíproca, o que foi bastante compreensível e até importante para o desenrolar dos fatos.
Os personagens secudários também são muito bem explorados e a história é impulsionada devido a relação de todos eles.

A simplicidade da capa, que ao mesmo tempo é bastante sugestiva com a questão da marca, me agradou bastante. A diagramação é simples, os capítulos são numerados seguidos do nome do personagem, as páginas amarelas e não encontrei erros na revisão. No início podemos conferir um mapa a fim de ficarmos por dentro da localização de cada planeta que pertence a galáxia criada pela autora.

Enfim, senti que faltaram explicações pra vários pontos, informações sobre outros, mas assim como qualquer outro livro de série cuja história seja complexa e tenha elementos de peso, o primeiro volume serve mais como uma introdução do que está por vir, então o que me resta é aguardar ansiosa pela continuação e torcer para que o que vem a seguir seja mais claro e completo para fluir melhor. De qualquer forma, eu gostei da história e recomendo.


Sob Um Milhão de Estrelas - Chris Melo

22 de fevereiro de 2017

Título: Sob Um Milhão de Estrelas
Autora: Chris Melo
Editora: Fábrica 231/Rocco
Gênero: Romance/Drama/Literatura Nacional
Ano: 2016
Páginas: 320
Nota:★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Alma Abreu está prestes a lidar com um inventário e uma série de histórias de um passado tumultuado que pertence mais aos seus pais do que a ela mesma. Mas este parece o menor de seus problemas no momento. Passar alguns dias na pacata Serra de Santa Cecília veio bem a calhar para a jovem médica, após um incidente no hospital que a deixou sem chão. Ela só não esperava se envolver tanto com a pequena cidade – e com o prestativo vizinho da charmosa casa que sua avó lhe deixou, além de um animado grupo de amigas, filhas das melhores amigas de sua mãe –, a ponto de pensar em deixar sua vida em São Paulo para trás. Será que a vontade de ficar é apenas medo de enfrentar seus problemas? Mas como voltar à velha rotina depois de tudo o que descobriu e viveu em Serra? Em seu segundo romance pela coleção

Resenha: Sob Um Milhão de Estrelas é o mais novo romance escrito pela autora nacional Chris Melo, publicado pelo selo Fábrica 231 da Editora Rocco.
Alma é uma jovem médica que se encontra numa situação muito delicada após um incidente no hospital em que trabalha. Praticamente inconsolável, ela ainda precisa sair da cidade grande e viajar rumo a cidadezinha de Serra de Santa Cecília, interior de São Paulo, para lidar com um inventário e a herança deixada por sua avó.
O que Alma não sabia era que na simplicidade daquela vidinha no interior, ela iria descobrir coisas que lhe foram escondidas a vida toda sobre o passado de seus pais, além de envolver com a cidade e seus moradores de forma tão intensa, e com Cadu, o vizinho da casa que herdou da avó.
Cadu é professor universitário e ainda carrega mágoas por não ter superado por completo seu último relacionamento, tanto que abandonou sua vida no Rio de Janeiro pra viver no interior, e sendo vizinho da falecida, ficou encarregado de cuidar da casa até que Alma chegasse. E quando ela aparece, claro, as coisas começam a mudar.
A história desses dois se cruza de forma intrigante, singela e bonita, e logo é feita a descoberta de um sentimento que seria responsável por ajudá-los a superar um passado conturbado, mas ainda muio presente em suas vidas.

Narrado em primeira pessoa com pontos de vistas alternados entre Alma e Cadu, a autora desenvolve com muita fluidez uma história doce e leve mostrando as particularidades dos personagens e resgatando bons momentos que promovem uma enorme nostalgia com relação a detalhes de coisas passadas e interioranas, e sentimentos verdadeiros e realistas.
A combinação de assuntos abordados fluiu muito bem, dando um toque natural aos acontecimentos que se desenvolvem gradualmente, fazendo com que os acontecimentos presentes preencham as lacunas das escolhas feitas no passado. Os relacionamentos, tanto o familiar quanto o amoroso, também se desenvolvem aos poucos, sem precipitações e sem que soem forçados. É possível perceber que os personagens, apesar de terem suas diferenças, são bem resolvidos, maduros e que valorizam o amor por compreenderem que é um sentimento que ultrapassa as barreiras, desde que seja verdadeiro.

O que mais me surpreendeu foi a total ausência daquele amor instantâneo e impossível, à primeira vista e cheio de fogo. O interesse entre os protagonistas surge aos poucos, com sutileza, dando um passo decada vez, pois eles ainda estão marcados de forma negativa pelas experiências que tiveram e não se jogam sem pensar para o primeiro que passa como se isso fosse a solução pra todos os problemas. É a rotina do dia-a-dia que os aproxima e é exatamente isso que torna a trama plausível, torna o romance intenso e convence o leitor de que é real. O foco maior fica na forma como eles superam o que os aflige, como encontram apoio um no outro, e como isso faz tudo dar certo.

A capa é uma graça, cheia de pontinhos simulando estrelas com aplicação de verniz. A diagramação é muito bem feita, com estrelas a cada início de capítulo, cujos títulos são citações de Mario Quintana bastante reflexivas e que combinam bem com a história.

Sob Um Milhão de Estrelas é delicado e cheio de encanto, e consegue retratar bem a forma como um casal é capaz de enfrentar os problemas e as adversidades da vida, desde que estejam juntos e preparados para caminhar na mesma direção.

Na Telinha - A Noiva Cadáver

21 de fevereiro de 2017

Título: A Noiva cadáver (Corpse Bride)
Produtora: Warner Bros
Elenco: Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Emily Watson, Tracey Ullman, Christopher Lee
Gênero: Animação/Fantasia/Musical
Ano: 2005
Duração: 1h 18min
Classificação: Livre
Nota:★★
Sinopse: Em um vilarejo europeu do século XIX vive Victor Van Dort (Johnny Depp), um jovem que está prestes a se casar com Victoria Everglot (Emily Watson). Porém acidentalmente Victor se casa com a Noiva-Cadáver (Helena Bonham Carter), que o leva para conhecer a Terra dos Mortos. Desejando desfazer o ocorrido para poder enfim se casar com Victoria, aos poucos Victor percebe que a Terra dos Mortos é bem mais animada do que o meio vitoriano em que nasceu e cresceu.
A Noiva Cadáver é uma animação em stop-motion ambientada na Inglaterra vitoriana em um pequeno vilarejo onde os habitantes são intrometidos, fofoqueiros e vivem para cuidar da vida alheia.
Em meio a isso, os Van Dort estão em busca de status e querem ser aceitos pela burguesia quando se tornaram os novos ricos da sociedade, e a forma mais fácil de atigir o objetivo é através de um casamento arranjado para seu filho, Victor, com a filha dos Everglot, a adorável Victoria. Então, sem ao menos se conhecerem, os joven se tornam noivos. Porém, o que os Van Dort (e ninguém mais do vilarejo) não sabiam, é que os Everglot estão falidos e vivendo de aparências, e o noivado iria salvá-los da miséria.
Victor e Victoria se encontram pela primeira vez e precisam fazer o ensaio do casamento, que está bem próximo, mas, devido ao nervosismo do rapaz, ele acaba estragando tudo e foge rumo à floresta. Lá ele põe a cabeça no lugar e começa a treinar as frases do casamento para voltar pro ensaio e fazer tudo certo, mas, ao fazer as juras de amor e colocar a aliança no que pensou ser um galho que representava o dedo de Victoria, uma mulher morta chamada Emily brota do chão com o anel em seu dedo, aceita o pedido de casamento, e arrasta Victor para o mundo dos mortos como seu esposo...


No mundo dos vivos, Victoria se sente abandonada depois do sumiço de Victor, as famílias ficam preocupadas sem saber de seu paradeiro, mas o casamento não deveria ser cancelado para evitar um escândalo. Eis que Lord Barkis, um homem mais velho e que surgiu do nada, se prontifica a se casar com a jovem deixando Victoria e os Van Dort em desespero. Victor deve voltar pois sabe de seu compromisso com sua noiva já que aquele casamento com a defunta foi um grande engano, mas quando ele descobre um mundo totalmente diferente e mais divertido do qual estava acostumado, fica dividido entre o que deve fazer...


A Noiva Cadáver dá um show quando o assunto é o visual, e o enredo, que foi baseado num conto russo-judeu, também não fica atrás.
A diferença entre o mundo dos vivos e dos mortos é bem visível e lembra o filme Os Fantasmas se Divertem, do mesmo diretor. Enquanto o mundo dos vivos é sem cor e sem vida, as pessoas são tristes e suas vidas carregadas de melancolia, o mundo dos mortos é colorido, todos são felizes e muito animados, fazem festas e brincam com qualquer assunto.
As músicas são cantadas pelos próprios personagens e as letras sempre explicam suas intenções ou esclarecem alguma situação presente na trama, então devem ser ouvidas com atenção.


Os personagens possuem expressões melancólicas mas distintas, e personalidades únicas que revelam muito do ser humano, como medos, anseios e ambições, e a experiência - ou a falta dela - faz um contraste bastante interessante quando o assunto é o coportamento de cada um deles.
Victor é inseguro e medroso, mas muito bondoso. Victoria é romântica e sonhadora e mesmo sabendo que o casamento é arranjado, não hesita em se esforçar para que tudo dê certo.
Emily é uma mulher amável e que, apesar de ter arrastado Victor sem saber de sua real condição no mundo dos vivos, entende que pra certos tipos de coisas, principamente qundo o assunto é amor, é preciso ceder. Ela já teve uma experiência traumática em vida, e o desfecho da história está diretamente ligado a ela.

Enfim, a animação é uma graça, traz mensagens muito válidas sobre vida, morte, amor, perdão e redenção e super recomendo.

Hyperbole and a Half - Allie Brosh

20 de fevereiro de 2017

Título: Hyperbole and a Half - Situações lamentáveis, caos e outras coisas que me aconteceram
Autora: Allie Brosh
Editora: Planeta
Gênero: Não ficção/Humor
Ano: 2014
Páginas: 224
Nota:★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Em Hyperbole and a half – situações lamentáveis, caos e outras coisas que me aconteceram, a autora apresenta alguns dos textos mais lidos e comentados em seu blog e também muito material novo, inclusive histórias sobre seus cachorros (um deles aparentemente com leves problemas mentais), sua luta para lidar com a depressão e a ansiedade que insistem em dominá-la, além de anedotas hilárias sobre sua tumultuada infância. Sim, Allie foi uma criança difícil. Talvez a mais difícil de todas. Por exemplo, uma vez ela comeu um bolo inteiro só de birra porque sua mãe a proibira. E ela também atazanou a vida da família quando ganhou um papagaio de brinquedo que repetia tudo – tudo – que ela queria. Inteligente, irônico e absurdamente engraçado, o livro traz o estilo inimitável de Allie nos textos e nas ilustrações, além de algumas de suas típicas reflexões que conquistaram o coração de inúmeros leitores.

Resenha: Hyperbole and a Half é uma complilação de várias histórias baseadas nas postagens do blog (em inglês) de mesmo nome e super popular da autora Allie Brosh. O livro foi publicado pela Editora Planeta de Livros em 2014 mas ainda assim é atual e memorável, afinal, quem nunca se deparou com essas ilustrações em memes nas redes sociais?


A narrativa em primeira pessoa, além de bem humorada, é muito verdadeira e é capaz de revelar muito do íntimo da autora, já que o que é apresentado são experiências aleatórias vivenciadas por ela em algum determinado momento de sua vida, de criança a adulta, abordando a família, gostos pessoais, sonhos, problemas e conflitos internos, obsessão por cães malucos e até o pavor de gansos psicopatas, o que permite que alguns leitores possam se identificar com seus pensamentos ou até com algumas das situações pelas quais ela passou. Algumas das experiências são mais profundas e intensas, cheias de significados que estão nas entrelinhas e requerem uma atenção maior para que possam ser melhor compreendidas, já outras, mesmo que exista uma mensagem acerca da experiência e de sua personalidade peculiar propriamente dita, são mais engraçadas e rendem algumas boas risadas.


O trabalho gráfico da obra é super caprichado, com páginas coloridas de acordo com o capítulo e várias ilustrações toscas e estilo "made in paint" feitas pela própria autora que são super engraçadas, algumas até mais do que a própria história em si. Os desenhos, embora muito simples e que parecem ter sido feitos por uma criança, conseguem se encaixar perfeitamente nas descrições feitas pela autora, assim como evidenciar expressões e emoções de uma maneira brilhante e que surpreende.
Essa mistura com HQ foi uma agradável surpresa.

A forma hilária como Allie conta suas experiências colabora ainda mais para arrancar um sorriso dos leitores, mas conforme os capítulos avançam, assim como a idade ou fase da vida que a autora narra, as situações vão ganhando um ar mais sério e carregados de autocríticas, e algumas das situações parecem até não fazer muito sentido se o leitor não se atentar bem ao que a autora tenta passar, já que adentram um universo mais sombrio do que diz respeito aos sentimentos, como a tristeza, o egoísmo, a indiferença e até a depressão. As observações acerca das situações narradas e descritas por Allie conseguem fazer uma abordagem certeira, não somente sobre seus sentimentos, sejam eles negativos ou não, mas das pessoas de maneira geral, que possuem falhas, inseguranças e outras características que nos fazem ser quem somos.



Recomendo para quem procura por um livro bem humorado e que aparentemente parece não ter nada a oferecer, mas que consegue fazer um retrato cru da realidade, mostrando que podemos passar por situações bizarras na vida e ainda assim seguirmos em frente se pudermos encarar as coisas com maturidade e bom humor.

PS.: Vou tentar fazer o teste de QI animal encontrado no livro com meus gatos pra saber se algum deles tem algum distúrbio mental ahahahahahaha!

Irmãs em Auschwitz - Rena Kornreich Gelissen e Heather Dune Macadam

17 de fevereiro de 2017

Título: Irmãs em Auschwitz
Autoras: Rena Kornreich Gelissen e Heather DuneMacadam
Editora: Universo dos Livros
Gênero: Biografia
Ano: 2015
Páginas: 406
Nota:★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Uma das poucas pessoas a se entregar voluntariamente para o exército alemão e ir a um campo de concentração  - quando ainda se acreditava que eram apenas campos de trabalho - Rena Kornreich fez parte do primeiro transporte em massa de judeus para Auschwitz e sobreviveu ao campo nazista por mais de três anos, junto a sua irmã mais nova Danka. Juntas, elas precisaram ser resilientes a cada a perversidade vivenciada durante o período de aprisionamento. E, a despeito da iminência da morte, das doenças, das surras e do trabalho forçado, os relatos de Rena quanto à convivência entre as prisioneiras nos garantem que a empatia emergida dentro de cada dormitório e de cada grupo de trabalho encorajou essas mulheres a permanecerem unidas até que Auschwitz fosse libertado e pudessem seguir suas vidas.

Resenha: Irmãs em Auschwitz, é um relato emocionante que narra a trajetória de duas jovens irmãs judias que foram levadas para os campos de concentração em Auschwitz em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial. Rena Kornreich e sua irmã, Danka, passaram três anos de suas vidas vivendo em cativeiro como escravas, em condições precárias, dolorosas e degradantes, e o que foi capaz de mantê-las de pé diante de tantas atrocidades foi o amor ao próximo assim como a esperança de dias melhores.

Narrado em primeira pessoa através de uma escrita fluída e que conseguiu captar com excelência a essência do que foi vivido por Rena, o leitor acompanha a história de uma jovem polonesa que era filha de camponeses e que, ao ser levada para Auschwitz, teve a vida transformada por completo.
Sendo a irmã mais velha, Rena cuidava de Danka e se preocupava tanto com seu bem estar que fazia o que fosse necessário para a irmã a fim de manter sua promessa de que sairíam dalí vivas, mesmo que a ideia de ajudar alguém pudesse significar a própria morte. E tudo isso num ambiente hostíl que privava as prisioneiras de comida, higiene e até de dignidade quando essas ficavam a mercê dos nazistas e vulneráveis aos mais diversos tipos de doenças devido às condições precárias e degradantes as quais elas era submetidas.

A vida no campo de concentração era dura e muito difícil, a princípio ninguém sabia o que esperar dos nazistas e muito menos compreender de onde surgia tanto ódio pelos judeus para agirem de forma tão cruel. Há cenas que descrevem o ambiente e certos tipos de acontecimentos trágicos que me afetaram e me deixaram muito impressionada, e penso que se é uma coisa que choca, imagino o que as testemunhas sentiram ao presenciarem esses fatos que faziam parte de suas rotinas por tanto tempo.

O livro tem várias notas de rodapé, seja pra explicar termos provenientes de outras línguas utilizados em diálogos ou pra trazer informações acerca de locais, livros, pessoas, registros, eventos e afins que podem ser desconhecidos para o leitor devido às origens. Se não fosse pelas notas de rodapé eu não saberia do que se trata, logo foram de grande utilidade, mesmo que "interrompam" a fluidez leitura.
Pouco antes da metade da obra há informações adicionais com fotos, mapas que ilustran o trajeto de Rena durante a guerra, listas e desenhos que correspondem às plantas dos alojamentos e do campo.

Irmãs em Auschwitz é um livro que não só traz fatos do Holocausto em si, seja a título de informação ou curiosidade, mas faz com que o leitor reflita sobre a perseguição e a crueldade impostas por homens sobre seus semelhantes, como essas pessoas atingiram seus limites tendo que sobreviver às piores situações as quais foram submetidas, e como foi injusto e abominável que milhões tenham passado por esses horrores a ponto de considerarem que só a morte os libertaria.


Pode Beijar a Noiva - Patricia Cabot

16 de fevereiro de 2017

Título: Pode Beijar a Noiva
Autora: Patricia Cabot
Editora: Essência/Planeta de Livros
Gênero: Romance de Época
Ano: 2016 (2ª edição)
Páginas: 240
Nota:★★★☆☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Quando tudo parece estar perdido para Emma Van Court, que acaba de se tornar viúva, a promessa de uma grande fortuna lhe cai dos céus. Mas há uma condição para abocanhar a herança: ela terá de se casar novamente. Como não se especificou o noivo, todos os homens da pequena Faires, na Escócia, resolvem participar dessa corrida do ouro e passam a disputar as atenções da jovem viúva.
Os competitivos pretendentes só não contavam com a presença de James Marbury, primo do falecido marido, Stuart, que chega ao vilarejo para ajudar Emma com os trâmites do inventário. No passado, os dois tiveram uma aproximação, e James ainda nutre fortes sentimentos pela, agora, viúva.
Conseguirá ele afastar a horda de interesseiros pretendentes e finalmente se juntar à sua amada?

Resenha: Patricia Cabot é o pseudônimo utilizado pela autora Meg Cabot para seus romances de época voltados ao público mais adulto e com toques levemente picantes. Pode Beijar a Noiva é a segunda edição do livro com novo - e mais moderno - projeto gráfico publicado pela Editora Planeta de Livros, sob o selo Essência.

Emma Van Court é uma jovem órfã que vive com os tios e é dedicada a ajudar os necessitados. Desde criança ela convive com James e Stuart, que são primos mas com personalidades bastante diferentes.
Emma sempre fora apaixonada por Stuart já que ele tem uma forma de pensar bem parecida com a dela. Enquanto Stuart é religioso e pratica caridade, James é cheio de ambições.
Quando Emma e Stuart decidem se casar, a família da moça repudia a ideia, e por isso eles fogem para uma ilha na Escócia e se casam longe de seus familiares. Mas nada saiu como eles esperavam pois, além de passarem a viver numa cabana que não oferecia o luxo e o conforto dos quais eles estavam acostumados, o casamento não foi como Emma imaginou que seria.
Mas pouco tempo depois do casamento, Stuart morre e Emma se torna a viúva mais cobiçada da ilha devido a herança que receberia do falecido marido. O problema é que ela só poderia colocar as mãos no dinheiro se ela se casasse outra vez, coisa que ela não tinha a menor intenção, afinal, quem de luto teria cabeça para lidar com tantos pretendentes inconvenientes e insistentes num momento tão delicado da vida?
Sabendo da morte do primo, James, conhecido como Conde Denham, viaja até a ilha para buscar o corpo de Stuart para que ele fosse enterrado no mausoléo da família, e lá se depara com Emma e a situação difícil em que ela se encontrava. Logo ele enxerga uma grande oportunidade para conquistá-la e se casar com Emma já que desde sempre é apaixonado pela moça. Pensando que seria um casamento temporário e por conveniência, Emma volta para Londres e aceita a proposta de James, mas ele não tem a menor intenção de se separar dela...

Narrado em terceira pessoa, a história se desenvolve de forma agradável, sem muitas reviravoltas ou surpresas.
Basicamente temos um romance clichê onde a protagonista, embora determinada, é muito romântica e sonhadora, e idealiza um casamento perfeito com aquele que acreditava ser sua alma gêmea e que a faria feliz para sempre, mas depois de abrir mão de tudo para se casar, se depara com uma outra realidade bem diferente da qual ela esperava. Stuart se torna pastor do vilarejo devido a sua vocação para a religião e a vontade de ajudar o próximo, e se revela um marido indiferente à esposa que não se preocupava nem um pouco com suas "necessidades físicas".
Em contrapartida, temos James, o completo oposto do primo. Bonitão, bom partido e cobiçado pela mulherada, mas nada interessado em se prender a ninguém por já nutrir um sentimento forte por Emma desde o passado. Ele é aquele tipo que sempre conseguiu tudo o que quis, menos o amor da mulher que ama, e, com a notícia do noivado, ele foi o primeiro a tentar impedir o casamento. Obviamente isso gerou conflitos familiares e muito ressentimento, mas no fundo não senti que ele fez o que fez por egoísmo, mas sim por conhecer muito bem o primo a quem ele considerava um irmão e saber que ele não era o melhor partido para Emma. Mesmo que a princípio tenha parecido que ele foi oportunista ao propor um casamento forjado, é aí que ele teria a chance de mostrar - e provar - a Emma que ele mudou e que ele é o homem ideal para estar ao lado dela.

Mesmo que o livro seja um romance de época, eu senti falta de mais sentimentalismo, mais paixão e mais romantismo. James ama Emma, mas ele é fechado e não consegue demonstrar isso com muita clareza. Há toques de mistério envoltos por alguns segredos que equilibram o enredo para não torná-lo meloso e, de forma geral, os personagens tem suas particularidades que os tornam especiais, mas nem sempre de forma a despertar a simpatia do leitor. Emma, mesmo sendo a protagonista, não me agradou muito, pois por mais que ela seja uma pessoa de bem, ela não consegue enxergar o que está diante dos seus olhos, sempre acha que não tem o bastante a oferecer se inferiorizando sem necessidade, e esse tipo de comportamento já é batido, cansativo e se a trama não trouxer outros elementos mais atrativos o resultado é um fiasco. Sei que as mulheres tinham um comportamento "padrão" para a época, sempre recatadas, submissas, bobas (pra não falar idiotas) e até resistentes ao que elas não estão acostumadas, mas Emma irrita bastante com seu comportamento ultrapassado. O ponto alto é o próprio James, já que é impossível não se encantar pelo rapaz.

De forma geral, Pode Beijar a Noiva é um romance leve, com foco maior nos sentimentos do que nas atitudes, com toques de sensualidade na medida e no momento certo, e com o típico bom humor que a autora nunca deixa de fora de suas obras. É um livro bom, que faz com que o leitor torça para que tudo dê certo e até arranca alguns suspiros de leve, mas bem previsível e que funciona mais como um passa-tempo. O ideal é que o leitor embarque na leitura sem grandes expectativas já que não tráz nada de muito inovador ou original a ponto de se tornar memorável. Sem desmerecer esta, mas Patricia Cabot já escreveu histórias melhores e mais envolventes...