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A Rebelde do Deserto - Alwyn Hamilton

22 de setembro de 2019

Título: A Rebelde do Deserto - A Rebelde do Deserto #1
Autora: Alwyn Hamilton
Editora: Seguinte
Gênero: YA/Aventura/Romance
Ano: 2016
Páginas: 288
Nota: ★★★★★
Sinopse: O deserto de Miraji é governado por mortais, mas criaturas míticas rondam as áreas mais selvagens e remotas, e há boatos de que, em algum lugar, os djinnis ainda praticam magia. De toda maneira, para os humanos o deserto é um lugar impiedoso, principalmente se você é pobre, órfão ou mulher. Amani Al’Hiza é as três coisas. Apesar de ser uma atiradora talentosa, dona de uma mira perfeita, ela não consegue escapar da Vila da Poeira, uma cidadezinha isolada que lhe oferece como futuro um casamento forçado e a vida submissa que virá depois dele. Para Amani, ir embora dali é mais do que um desejo - é uma necessidade. Mas ela nunca imaginou que fugiria galopando num cavalo mágico com o exército do sultão na sua cola, nem que um forasteiro misterioso seria responsável por revelar a ela o deserto que ela achava que conhecia e uma força que ela nem imaginava possuir. 

Resenha: Amani Al'Hiza é uma jovem que vive na Vila da Poeira, uma cidadezinha isolada e esquecida pelos deuses que fica no impiedoso Deserto de Miraji. Desde criança, Amani presenciava a mãe sendo agredida pelo pai, que vivia alcoolizado, e seu sonho era sair daquele lugar e ir embora pra capital, a cidade de Izman. Com a morte dos pais, ela passou a viver com seus odiosos tios, que não hesitaram em lhe arranjar um casamento forçado para que vivesse submissa a um marido que ela jamais deveria suportar. Mas, aproveitando de suas habilidades como atiradora e sua excelente pontaria, Amani decide participar de um campeonato de tiro disfarçada de homem numa cidade vizinha, assim poderia juntar dinheiro para fugir. Porém, nada sai como planejado. Quando ela conhece Jin, um forasteiro procurado pelo exército do sultão, ela acaba tendo a oportunidade de escapar, e assim, foge com ele galopando num cavalo mágico enquanto são perseguidos pelo exército. E isso iria mudar a vida dela para sempre...

O livro é narrado em primeira pessoa e traz o deserto como pano de fundo, onde a pobreza é extrema, a água é um bem precioso e a guerra por poder parece não ter fim. Amani embarca numa aventura envolvendo magia, sultões, guerras, cultura do oriente e crenças. A leitura é fluída, rápida, fácil e muito direta, e isso ajuda bastante a aproveitar o tempo para que a trama sempre esteja movimentada.

A autora toca num tema bastante delicado envolvendo as mulheres e a forma como são tratadas como objetos, enquanto os homens são os soberanos que tudo podem. Em meio a esse cenário, Amani demonstra ser forte, inteligente, e disposta e não se submeter aos caprichos de ninguém. Assim ela já cativa o leitor desde o início, e é impossível não torcer pelo sucesso dela durante o desenrolar da trama.

Jin, o parceiro de Amani em sua jornada pelo deserto, acaba sendo um companheiro muito leal, e a cumplicidade que surge desse relacionamento é muito legal de se acompanhar, principalmente pela pitada de romance. As questões envolvendo o relacionamento amoroso da dupla têm seu espaço, sim, mas sem tomar todo o livro, deixando espaço para momentos de tensão, pequenas batalhas e muita aventura. Tudo flui de uma maneira gostosa de se acompanhar e é impossível não ficar curioso pelo que vem a seguir.

A capa é muito linda com os detalhes em dourado e combina perfeitamente bem com a essência da história de Amani. Cada início de capítulo também tem um detalhe na lateral superior, enriquecendo ainda mais o projeto gráfico da obra.

Pra quem procura por um livro leve que nos permite viajar para um universo novo, com tramas políticas intrigantes e muita fantasia, é leitura muito indicada!

Games - Don't Starve

14 de fevereiro de 2019

Título: Don't Starve
Desenvolvedora: Klei Entertainment
Plataforma: Android, PS4, Nintendo Switch, iOS, PC...
Categoria: Sobrevivência/Aventura/Estratégia/Terror
Ano: 2013
Classificação Indicativa: 10+
Nota: 
Sinopse: Don't Starve é um jogo de sobrevivência selvagem intransigente, cheio de ciência e magia. Entre em um mundo estranho e inexplorado cheio de estranhas criaturas, perigos e surpresas. Reúna recursos para criar itens e estruturas que correspondam ao seu estilo de sobrevivência.
Depois de séculos sem jogar alguma coisa que realmente me prendesse a atenção, eis que descubro Don't Starve, um game para PC (e outras várias plataformas) lançado em 2013, onde o personagem selecionado acorda numa terra desolada e macabra, e, a partir daí, ele ou ela terá como objetivo adquirir conhecimento e lutar pela sobrevivência.

Embora cada personagem tenha suas próprias descrições e características peculiares, que dentro do jogo podem ser bem úteis (ou não), não há uma história propriamente dita, e a ideia principal é usar a lógica e montar uma estratégia para jogar a campanha cuja mecânica é até bem simples, envolvendo passar o verão e o inverso rigoroso, coletando recursos, procurando e produzindo comida, construindo uma base de acampamento segura, tentando escapar ou enfrentar os monstros hostis, horripilantes e assustadores que aparecem para te matar, e, principalmente, NUNCA ficar no escuro para evitar ser morto pelos ataques de monstros e das forças sombrias e demoníacas que rondam por alí.


Ao iniciar um jogo, o mundo gerado é totalmente aleatório, e como deve ser explorado para o mapa ser revelado ao mesmo tempo, a dificuldade do jogo é algo imprevisível, pois nunca sabemos onde exatamente encontrar comida, recursos, ou criaturas, sejam aquelas das quais precisamos da ajuda para manter a sobrevivência, ou aquelas das quais devemos fugir desesperadamente para não sermos atacados e mortos. Os tipos de solo e vegetação, os chamados "biomas", podem até dar um indicativo do que pode ou não ser encontrado ali, mas nem sempre existe garantia de que vamos mesmo encontrar o que estamos procurando. Pode ser necessário explorar a ilha por dias até encontrar o que é preciso para colocar o plano estratégico de sobrevivência em prática, mas como cada área reserva uma surpresa, tudo é muito imprevisível e, na maioria das vezes, é preciso improvisar com o que se tem e com o que é encontrado pelo caminho.


Os dias são divididos em três estágios (dia, tarde e noite), e a duração de cada um deles depende da estação. No verão as noites costumam ser mais curtas, e no inverno são bem mais longas, o que indica muito mais perigo. Jogar no inverno sem segurança e sem estar preparado, seja sem roupas quentes ou sem comida suficiente estocada, é pedir pra morrer. No inverno, o personagem sente frio se a temperatura abaixar muito, a tela até "congela", e ele pode morrer de hipotermia, coitado. Durante o dia o momento é ideal para a exploração, pois há muita luz e os perigos costumam ser um pouco menores. A tarde o cenário já fica bem escuro e numa tonalidade avermelhada, e isso pode dificultar um pouco caso seja preciso explorar. A noite a escuridão é total (exceto no período da lua cheia), logo não há muito o que fazer, e se você não tiver recursos para construir uma tocha ou fogueira para clarear o mínimo possível, a espera pela morte certa dura segundos. O nível de dificuldade do jogo vai aumentando de acordo com os dias que você consegue sobreviver, assim como as criaturas, que vão evoluindo, se tornando maiores e bem mais perigosas.


Existe um medidor de fome, vitalidade e sanidade, e é preciso ficar atento a essas necessidades para que o personagem não morra de fome (é o nome do jogo, inclusive), não sofra danos que podem matá-lo, e nem fique pirado por estar com medo ou por fazer coisas que não o deixam feliz. Alguns têm reações bastante negativas quando o nível de sanidade está muto baixo, e vários espíritos malignos começam a persegui-lo.


Embora o jogo seja super divertido e viciante, um ponto bastante frustrante é a questão da própria morte, pois se não tivermos os meios certos de voltar à vida, o jogo acaba e você, literalmente, perde tudo, independente do dia que você conseguiu chegar. Algumas coisas, embora pareçam óbvias, não são muito intuitivas para se fazer ou construir, então, se você não quiser passar séculos jogando e sofrendo na pele todas as inevitáveis milhões de mortes para aprender na marra como se faz, recomendo pesquisar videos e tutoriais sobre o jogo para se ter uma boa noção de como funciona, pra que as coisas servem e etc, assim a vida do seu personagem, seja ele qual for, não vai ser tão difícil.


Como eu, leiga e inexperiente, já tive a paciência testada e passei momentos de raiva e desgosto por ter morrido no primeiro dia, ou ter morrido por bobeira depois de ter construído todos os itens básicos do meu acampamento, minha salvação foi procurar por alguns videos de game play e tutoriais do jogo no YouTube, pois assim fica um pouco mais fácil pegar algumas dicas de quem já joga há anos, e ter uma noção maior da função de cada item, do que fazer e por onde começar, e até que tá dando certo, pelo menos por enquanto.

Outra coisa que me agradou e achei muito legal foi o visual do jogo, que embora seja "fofo" e com animações divertidas, tem toques bem góticos e é bastante sombrio. Os personagens são cabeçudos com corpinhos minúsculos, tem traços de rabisco, como se tivessem sido ilustrados à mão, e com olhos vazios e assustadores parecendo estarem possuídos. O legal é que cada um tem suas vantagens e desvantagens durante o jogo, então por mais que ele tenha alguma característica que seja boa, ele também vai ter alguma coisa que atrapalha. É o caso da Willow, por exemplo, que tem um isqueiro bastante útil mas, quando está com a sanidade baixa, põe fogo em tudo, inclusive na base, fazendo com que a gente perca tudo e precise reconstruir o que virou cinzas. A trilha sonora é sinistra e muito bacana, e já adianto que jogar esse jogo sem som é impossível. É preciso ficar atento aos sinais e a cada barulhinho que aparece, pois são eles que dão os primeiros indícios da chegada dos monstros mais terríveis e temíveis desse universo. A cada rosnado, cada rugido, cada ganido é garantia de sustos e arrepios, e a fuga, quando estamos sendo perseguidos, é uma experiência, no mínimo, frenética.


Vale lembrar que o jogo pode ser comprado pela Steam, e é bem baratinho (eu comprei na promoção por R$26,00 o pacotão com três expansões que são jogadas individualmente, Reign of Giants, Shipwrecked e Hamlet, e junto veio a versão multiplayer que dá pra jogar online com os amigos - não tenho nenhum 😥 -, o Don't Starve Together). Ainda não testei jogar com as expansões, mas logo logo começo os testes. A vantagem da compra é que as atualizações para melhorias, e até inclusão de novos personagens, são automáticas (desde que o jogo não seja pirata, claro).

Enfim, Don't Starve é um jogo que não só desenvolve o raciocínio e a lógica nessa saga pela sobrevivência, mas também é super divertido, cheio de ação, aventura, violência moderada e um pouquinho de fantasia, que no começo até faz a gente passar um pouco de raiva e aperto, mas que é viciante e impossível de largar.

Na Telinha - As Memórias de Marnie

27 de janeiro de 2019

Título: A Viagem de Chihiro (Omoide no Marnie)
Produção: Studio Ghibli
Elenco: Kasumi Arimura, Nanako Matsushima, Susumu Terajima
Gênero: Animação/Drama
Ano: 2015
Duração: 1h 44min
Classificação: Livre
Nota:★★
Sinopse: Anna é uma menina de 12 anos, filha de pais adotivos, sempre muito solitária e não exatamente feliz. Um belo dia, em um castelo numa ilha isolada, ela conhece Marnie. A menina loira de vestido branco se torna a grande e única amiga de Anna, mas ela descobrirá que Marnie não é exatamente quem parece ser.

Anna é uma garotinha de doze anos que foi criada por pais adotivos depois que perdeu os pais e a avó. Ela sofre de asma e tem muitos problemas de comunicação a ponto de se isolar, evitando se socializar com outras crianças.


Depois de sofrer um ataque asmático muito forte e ter a saúde abalada, ela é enviada para a casa dos tios no interior para ter um contato maior com a natureza e respirar os novos ares do campo. Até que Anna se depara com uma mansão dos sonhos, e lá ela conhece Marnie, uma garotinha que parece ser tão solitária quanto ela. Logo elas criam um laço muito forte de amizade e cumplicidade, mas há um mistério que paira em volta de Marnie e da mansão, e, aos poucos, Anna vai encontrar respostas.


Como eu adorei a Viagem de Chihiro, resolvi pesquisar sobre as demais animações do Studio Ghibli, e As Memórias de Marnie foi o que mais me chamou a atenção. Assim como o primeiro, este, embora não tenha elementos fantasiosos, vai mostrar a jornada de uma garotinha que está em busca de algo que vá preencher um enorme vazio dentro de si mesma.


A solidão, assim como o sentimento de exclusão, que Anna sente é algo bem triste, e através de seu comportamento percebemos o quanto a menina precisa de ajuda para não definhar. Ela passa os dias desenhando e observando outras crianças, mas se fechou numa bolha individual impedindo que outras pessoas se aproximem, porém ela ainda não se deu conta de que a falta de aproximação dos outros é pelo fato de ela mesma não dar nenhuma brecha para que isso aconteça. Mesmo que seus pais tenham morrido, ela os culpa pelo abandono e que por isso ela é tão diferente. Quando ela descobre que, por ser adotada, sua mãe recebe auxílio do governo para ajudar com seu sustento, aí é que ela se sente pior, como se ela fosse um enorme fardo que, além de dar despesas, só tivesse sido adotada para que a mãe recebesse esse benefício, coisa que não é verdade.


Porém, ao ir para o interior conviver com os tios, com a natureza, e principalmente ao conhecer Marnie, aos poucos, ela começa a se libertar de todas as amarras que estavam a sufocando. Sua saúde começa a melhorar e a amizade sincera com a garotinha começa a preencher todas as suas lacunas. Anna percebe que Marnie também é uma criança muito sozinha, seus pais estão sempre muito ocupados e nunca lhe dão atenção, mas embora ela também seja sozinha, Marnie tenta encarar tudo com otimismo, um grande sorriso no rosto e um brilho no olhar, e esse comportamento acaba contagiando Anna, fazendo com que ela se solte cada vez mais desencadeando inclusive um sentimento de apego, como se ela precisasse de Marnie para seguir em frente e ser ela mesma. Mas dúvidas sobre a existência de Marnie começam a surgir... Ela realmente existe, ou se trata de uma amiga imaginária que Anna criou para superar os próprios problemas e fugir da solidão?


O roteiro em si é bastante simples e a trama se desenvolve de forma muito lenta, o que pode tornar a animação um pouco cansativa de se acompanhar em alguns pontos, mas ainda assim encanta pelo cenário deslumbrante e pela delicadeza com que trata os dramas das meninas com a devida realidade. O final, pra mim, parecia ser previsível, mas seguiu por um caminho que além de explicar as origens de Anna, conseguiu surpreender de forma bastante satisfatória e emocionante.

As Memórias de Marnie é um filme cheio de sensibilidade que aborda temas delicados como abandono, culpa, solidão e outros traumas, mas mostra que a autodescoberta e a superação através do amor, mesmo que pareça ser clichê, além de passar uma mensagem muito bonita, consegue tocar nossos corações e fazer com que torçamos para que tudo fique bem.

Na Telinha - WiFi Ralph

5 de janeiro de 2019

Título: WiFi Ralph: Quebrando a Internet (Ralph Breaks the Internet)
Produção: Disney
Elenco: Sarah Silverman, John C. Reilly, Gal Gadot, Taraji P. Henson, Jack McBrayer, Jane Lynch
Gênero: Animação/Fantasia/Aventura
Ano: 2018
Duração: 1h 56min
Classificação: Livre
Nota:
Sinopse: Ralph, o mais famoso vilão dos videogames, e Vanellope, sua companheira atrapalhada, iniciam mais uma arriscada aventura. Após a gloriosa vitória no Fliperama Litwak, a dupla viaja para a world wide web, no universo expansivo e desconhecido da internet. Dessa vez, a missão é achar uma peça reserva para salvar o videogame Corrida Doce, de Vanellope. Para isso, eles contam com a ajuda dos "cidadãos da Internet" e de Yess, a alma por trás do "Buzzztube", um famoso website que dita tendências.

Seis anos depois do lançamento de Detona Ralph, a dupla imbatível, Ralph e Vanellope, está junta de novo para mais uma aventura que promete. Só não sei se cumpriu de forma muito satisfatória...


Cansada da mesmice e da falta de novos desafios no Corrida Doce, Vanellope von Schweetz não está muito feliz em seu jogo e seu descontentamento fica bem evidente para Ralph. E ele, como bom e - literalmente - grande amigo, não hesita em fazer qualquer coisa para deixa-la feliz.
Quando Ralph tem a ideia de construir uma nova pista de corrida para a amiga explorar, Vanellope, empolgada com o caminho desconhecido, segue por ela com seu carrinho de corrida, mas vai contra os comandos da jogadora do game. Quando a garota tenta forçar e retomar o controle do jogo, Vanellope não cede, insiste no caminho alternativo, e o volante da máquina é quebrado por acidente, o que impossibilita sua jogabilidade. Como a peça da máquina é antiga e rara, ela só pode ser encontrada na internet, mais especificamente no eBay, mas seu preço nada atrativo faz com que o Sr. Litwak, o dono do fliperama, considere a ideia de aposentar a máquina. Agora, o Corrida Doce corre o risco de ser desligado e seus jogadores "despejados", e para salva-lo, Ralph e Vanellope vão embarcar numa aventura dentro da rede para conseguirem a peça. E, como nada é de graça, eles vão passar por poucas e boas para conseguirem arranjar uma pequena fortuna para pagarem por ela, depois de darem um lance absurdo no eBay.




As referência à internet, assim como o que ela oferece de legal e o que tem de nocivo são abordadas com superficialidade, e a impressão é que as inúmeras referências e os famosos easter eggs estão ali com intuito de camuflar o roteiro fraco, pois, quando aparecem, conseguem arrancar mais satisfação do que as demais cenas, o que pra mim foi uma pena, pois Detona Ralph, seu antecessor, foi uma animação maravilhosa que entrou na minha lista de desenhos favoritos, e não só me divertiu horrores, mas, também, me deu aquela sensação imensa de nostalgia por causa dos games antigos e clássicos que fizeram parte da minha infância e adolescência.

O universo online é um mundo a parte, repleto de luzes, tecnologia e prédios que representam os aplicativos, as redes sociais e vários sites famosos como o Google, o Twitter, o FacebookYoutubeeBayAmazonSnapchat e muito mais. Há também a ideia de que boa parte da internet é movida somente a vídeos de gatíneos fofos, tutoriais de maquiagem ou outra bobagem qualquer. As referências aos spams são bem boladas e tem um papel importante para o desenrolar da trama.




Boa parte da história acontece no BuzzzTube, uma plataforma de videos comandada pela personagem Yesss, que funciona como o Youtube. Lá as pessoas ganham dinheiro e fama se um vídeo postado se tornar viral, e é isso que a dupla vai usar para tentar levantar a grana que precisam para comprar a bendita peça para consertar a máquina, depois da tentativa de ganhar dinheiro fácil na internet falhar.

Achei que esse elemento seria mais bem trabalhado, principalmente com relação ao desespero por likes e seguidores que as pessoas tem, ou como são afetadas pelos comentários maldosos dos haters, mas foi outro ponto super vazio, até mesmo por que Ralph já está acostumado com a rejeição há anos e anos. Um ponto bem bacana é sobre os anúncios irritantes na plataforma, pois em busca de mais visitas e likes/coraçõezinhos para os videos malucos de Ralph, Vanellope acaba indo parar no Oh My Disney, onde vemos as famosas cenas divulgadas em que ela encontra todas as princesas clássicas da Disney.


Ainda podemos contar com uma piadinha sobre a princesa Merida, que embora faça parte do time das princesas da Disney, não fala o mesmo idioma das demais e ninguém entende o que ela fala. A justificativa? Valente é uma animação da Pixar, e as animações das demais princesas, não. Mas ela marca presença lindamente com sua cabeleira ruiva, desgrenhada e maravilhosa. Merida = ♥. A participação delas é pequena, mas valeu a pena acompanhar.

O longa começa de uma forma e sugere um determinado caminho, mas da metade pra lá as coisas mudam totalmente de cenário, e é como se um desenho novo estivesse sendo oferecido ao espectador. A viagem para se conseguir a peça acaba ficando de lado e a aventura se transforma numa jornada de autoconhecimento, em que a vontade de Vanellope, de seguir o sonho de poder ter a chance de enfrentar desafios novos e reais, é constantemente boicotada por Ralph, que não quer perder a amiga de jeito nenhum e acha que mantê-la sempre por perto é o certo a se fazer. Ele tem um bom coração mas é um completo troglodita, e por isso não tem a menor consciência do mal que está fazendo à amiga quando tenta prendê-la. Isso acaba mostrando um pouco do que é uma amizade tóxica, mas foi abordado de uma forma tão rasa que passa longe de ser o auge da animação.

Os personagens carismáticos que apareceram no primeiro filme, como Felix Jr. e a Sargento Calhoun tem participações tão curtas que a presença deles não faz a menor diferença, e os novos personagens que foram inseridos, com exceção de Shank (dublada por Gal Gadot), são totalmente esquecíveis. Shank é um excelente modelo de personagem feminina e que consegue trazer novas camadas a franquia, tendo seu devido espaço se impondo como personalidade forte e única, e sem roubar a cena dos protagonistas. Ela também vem de um game de corrida, porém bem mais perigoso do que o Corrida Doce, e logo fica evidente sua afinidade com Vanellope.



No mais, WiFi Ralph não é uma total perda de tempo. O visual é super colorido e de encher os olhos e tem, sim, várias cenas divertidas e mensagens bacanas a serem passadas sobre seguir os sonhos, deixar quem se ama livre e tudo mais (e também tem cena pós créditos). As crianças com certeza vão amar as aventuras vividas pela dupla e o quanto são carismáticos e divertidos, mas pra mim foi a animação mais fraquinha que a Disney já lançou até hoje, e a sensação de decepção por ter esperado seis anos para algo que não superou as minhas expectativas é inegável.

Dentes de Dragão - Michael Crichton

25 de julho de 2018

Título: Dentes de Dragão
Autor: Michael Crichton
Editora: Arqueiro
Gênero: Sci-fi/Aventura
Ano: 2018
Páginas: 304
Nota:★★★★☆
Sinopse: Em 1876, no inóspito cenário do Oeste americano, os famosos paleontólogos e arquirrivais Othniel Marsh e Edwin Cope saqueiam o território à caça de fósseis de dinossauros. Ao mesmo tempo, vigiam, enganam e sabotam um ao outro numa batalha que entrará para a história como a Guerra dos Ossos.
Para vencer uma aposta, o arrogante estudante de Yale William Johnson se junta à expedição de Marsh. A viagem corre bem, até que o paranoico paleontólogo se convence de que o jovem é um espião a serviço do inimigo e o abandona numa perigosa cidade.
William, então, é forçado a se unir ao grupo de Cope e eles logo deparam com uma descoberta de proporções históricas. Mas junto com ela vêm grandes perigos, e a recém-adquirida resiliência de William será testada na luta para proteger seu esconderijo de alguns dos mais ardilosos indivíduos do Oeste.

Resenha: Em Dentes de Dragão, do falecido autor Michael Crichton (o mesmo autor de Jurassic Park), temos uma história que se passa em 1876, no velho oeste selvagem, onde duas equipes partem em busca de fósseis de dinossauro. Marsh e Cope são famosos - e arquirrivais - paleontólogos que fazem o que for preciso para conseguir o que querem, mesmo que isso signifique sabotagem e guerra entre eles.
William Johson é um estudante de Yale, muito arrogante e dono de si, que se une a Marsh, mesmo acreditando que ele seja um completo lunático, nessa expedição a fim de vencer mais uma aposta, mas o que ele não esperava era que o paleontólogo ficasse convencido de que ele é um espião a serviço de Cope. William acaba sendo abandonado numa cidade perigosa até encontrar com a equipe de Cope e ser forçado a se unir a ela. Não demora muito até que eles façam uma grandiosa descoberta que entraria para a história, mas que desencadearia a própria Guerra dos Ossos.

Fiz uma pesquisa rápida e descobri que os dois paleontólogos que fazem parte da trama existiram, e a rixa entre eles serviu de inspiração para que a história fosse construída. Eis que o autor criou William Johson para protagonizar essa história, que envolve descobertas incríveis e está recheada de ação e aventura, mas acima disso, mostra seu amadurecimento e transformação pessoal. William é um jovem delinquente que sempre teve regalias e nunca precisou passar por perrengues na vida. Tudo pra ele era fácil ou levado sem a menor seriedade. Mas tudo muda quando William se encontra em meio ao velho oeste, longe da "civilização" a qual ele estava acostumado. Num mundo perigoso e sem leis, as experiências e os perigos que ele vive, a forma como ele protege os ossos descobertos, com lealdade a Cope e pensando na importância que aquilo teria para a ciência, acabam sendo responsáveis por fazer com que o rapaz tenha uma nova percepção do mundo, e que esse mesmo mundo não gira ao redor de seu umbigo.

Embora o autor tenha uma escrita ótima e muito fluída, senti que faltou um pouco de aprofundamento em algumas questões, mas nada que atrapalhe a compreensão ou a empolgação com a história. O livro é bem divertido e, mesmo que se passe num cenário do qual não sou muito fã, conseguiu me prender como nenhum outro me prendia há tempos. A sensação é de ser transportada para o século XIX em meio a muita terra, tiros, perseguições e bolas de feno rolando pelo caminho.

Um ponto super bacana acerca do livro é a ideia de como esse tipo de trabalho era feito pelos paleontólogos naquela época. Se hoje existem aparatos modernos e abuso da tecnologia para tais descobertas, antigamente ninguém podia contar com isso, o que torna a caçada um verdadeiro martírio.

A diagramação do livro também é ótima. Ele é dividido em três partes que separam bem a aventura vivida por William e a equipe. No início há o mapa dos EUA com todo o itinerário, da Filadélfia até Deadwood, percorrido pelo protagonista. A capa se manteve fiel a original e embora simples, é perfeita e condiz com a proposta da trama.

No mais, pra quem espera por algo próximo ao sucesso Jurassic Park, posso afirmar que esta aventura, embora brilhante, frenética e cheia de ação, é bem diferente. Não espere por velociraptores perseguindo ninguém, mas se prepare para grandes intrigas, tiroteios a se perder de vista, reviravoltas e várias confusões numa história fascinante à lá velho oeste.


Império das Tormentas - Jon Skovron

21 de julho de 2018

Título: Império das Tormentas - Império das Tormentas #1
Autor: Jon Skovron
Editora: Arqueiro
Gênero: Fantasia/Aventura
Ano: 2018
Páginas: 368
Nota:★★★☆☆
Sinopse: Em um império fragmentado, circundado por mares selvagens, dois jovens de culturas diferentes se unem por uma causa comum.
Uma menina de 8 anos é a única sobrevivente do massacre de sua vila por biomantes, uma das mais poderosas forças do imperador. Batizada com o nome de seu vilarejo para nunca se esquecer do que perdeu, Bleak Hope é treinada em segredo por um mestre guerreiro para se tornar um instrumento de vingança.
Um estranho garoto de olhos vermelhos fica órfão nas esquálidas e sujas ruas de Nova Laven, mas é adotado pela pior pessoa que o destino poderia lhe apresentar: Sadie Cabra, uma das criminosas mais infames do submundo. Batizado como Red, ele é treinado para ser um exímio atirador de facas - além de ladrão, mentiroso e trapaceiro.
Quando um senhor do crime estabelece um acordo de poder com biomantes para tomar o controle do submundo de Nova Laven em troca da miséria da população, as histórias de Hope e Red finalmente se cruzam. Seja por honra ou vingança, essa improvável aliança os levará para a maior batalha da vida deles.

Resenha: Tudo começa quando uma menina é encontrada a bordo de um navio após ter sobrevivido a um massacre contra a vila onde vivia. Sin Toa, o capitão, decide deixá-la aos cuidados do mestre da Ordem Vichen, monges guerreiros que vivem isolados. Ela recebe o nome da vila onde morava, Bleak Hope, e passa a ser treinada em segredo a fim de buscar vingança no futuro.
De outro lado, temos Red, um garoto de olhos vermelhos que perdeu os pais e foi viver nas ruas da ilha de Nova Laven. Ele acaba sob a proteção de Sadie Cabra, uma das maiores criminosas do submundo que passa a treinar o menino para ser o melhor ladrão e trapaceiro do império.
Embora ainda não se conheçam, Hope e Red vivem nesse império insular dominado pelos biomantes, seres com a habilidade de modificar as formas dos vivos. O que eles não esperavam era, com o passar dos anos, ter seus destinos cruzados para unir forças e tentar impedir a dominação de Nova Laven.

O livro é dividido em quatro partes, cada uma referente a um estágio na vida dos protagonistas, e é narrado em terceira pessoa. Embora a leitura tenha uma certa fluidez e a maioria dos detalhes sejam bem ricos, as gírias criadas pelo autor utilizadas nos diálogos me soaram irrisórias demais. Talvez a ideia tenha sido criar um universo original onde os personagens tivessem seu próprio dialeto descolado, mas pra mim não funcionou muito bem. A cada palavra "nova" que aparecia (marreta/idiota, molly/mulher jovem, tommy/rapaz, pingo de pinto/inútil, charcado/apaixonado, vaga/amigo ou conhecido, e por aí vai...), eu relia todo o parágrafo, pois, num primeiro momento, não me parecia fazer sentido já que aparecia naturalmente, mas sem maiores explicações, como se o leitor tivesse obrigação de saber do que se trata. E lá vamos nós (eu) interromper a leitura pra recorrer ao glossário ao final do livro em busca do significado do tal termo... E depois, mesmo me deparando com a palavra outras milhares de vezes, eu não conseguia me acostumar e só me sentia incomodada com esse artifício que, ao meu ver, acabou não acrescentando em nada na história. Talvez outros leitores achem esse recurso bacana, talvez tenha sido o momento meio pra baixo que escolhi pra investir nessa leitura e acabei não me familiarizando e achando graça, mas isso acabou influenciando de forma negativa em minha experiência com a história.

A trama apresenta questões polêmicas e traz algumas críticas sociais sem filtro algum através de situações e comentários pertinentes, envolvendo o machismo enfrentado por Hope ao crescer e ser treinada num ambiente inteiramente masculino onde ela não é bem vista pois "só homens podem ser espadachins", ou a vergonha e a negação por Red não aceitar ser quem é por ter um pai cujo trabalho passa longe "da moral e dos bons costumes". Foi bacana conhecer personagens secundários que fogem de estereótipos dentro do gênero da fantasia, principalmente a transgênera tratada de forma super natural, mas no final das contas outros detalhes acabaram se sobressaindo em relação aos demais que considerei positivos, e por mais que eu tenha achado o livro relativamente bom, eles também foram responsáveis por eu não conseguir aproveitar o livro da forma como eu gostaria.

Fiquei com muito mais perguntas do que respostas, e por mais que eu tenha imaginado que este, por ser o primeiro livro da série, não entregaria tudo de mão beijada para que o desenvolvimento fosse feito gradualmente, a sensação é que o autor quis ser diferente dando várias resoluções sem muita enrolação, mas senti que acompanhei os personagens e suas aventuras que não os levavam a lugar nenhum,como se não houvesse um propósito maior contra aqueles que deveriam ser os vilões, mesmo que os protagonistas sejam caracterizados como "anti-heróis", seja por Hope estar em busca de vingança, ou por Red ser um trapaceiro nato que cresceu no submundo do crime, e que embora não sejam os melhores exemplos a serem seguidos, ainda tem seus atributos e virtudes que os tornam os "mocinhos".

A história tem suas previsibilidades e traz incontáveis cenas de ação envolvendo pirataria, mortes, roubos e planos mirabolantes, o que, até certo ponto, é empolgante, mas tal empolgação é momentânea, como se o autor quisesse causar aquela euforia de forma proposital, principalmente porque a sensação é a mesma de assistir um filme estilo Piratas do Caribe: há momentos divertidos, momentos recheados de ação e perigos, mas no final das contas não inova e nem surpreende.

Enfim, pra quem curte uma história de fantasia, "fora-da-lei", cheias de ação, em alto mar ou não, e que ainda dá um tapa na cara dos mais diversos tipos de preconceito, Império das Tormentas é um bom livro a ser indicado.

Na Telinha - Viva

26 de janeiro de 2018

Título: Viva - A Vida é uma Festa (Coco)
Produtora: Disney/Pixar
Elenco: Anthony Gonzalez (VIII), Benjamin Bratt, Gael García Bernal, Edward James Olmos, Alanna Ubach
Gênero: Animação/Fantasia/Aventura
Ano: 2018
Duração: 1h 45min
Classificação: +10
Nota:
Sinopse: Miguel é um menino de 12 anos que quer muito ser um músico famoso, mas precisa lidar com sua família que desaprova seu sonho. Determinado a virar o jogo, ele acaba desencadeando uma série de eventos ligados a um mistério de 100 anos.

Desde que Mama Imelda foi abandonada pelo marido, que era músico, ela aboliu a música não só de sua vida, mas da família inteora. Ela arregaçou as mangas e decidiu que iria abrir uma lojinha de sapatos que ela mesma aprendeu a fazer para sustentar Coco, sua filhinha, sozinha. Desde então, este é o principal sustento da família Rivera, que já está na quarta geração. Imelda já faleceu há muitos anos e Coco, hoje, é a bisavó de Miguel. Ele é um garotinho mexicano de doze anos que ama música e sonha em se tornar tão famoso quanto Ernesto de la Cruz, seu maior ídolo de todos os tempos, foi.



O menino vive assistindo aos vídeos de Ernesto de la Cruz e tocando seu violão escondido, pois a música é terminantemente proibida, e fica bem triste por não ter o apoio da família, mas Miguel não estava nada interessado em desistir, principalmente quando ele tem oportunidade de tocar num festival e demonstrar todo o seu talento.

Com o Dia de Los Muertos se aproximando, as famílias montam as ofrendas, uma prática antiga onde eles deixam as fotos de seus ancestrais junto com velas, enfeites e comida, pois assim os espíritos daqueles que se foram sempre seriam respeitados e lembrados.



Mas, circunstâncias bem inesperadas acabam fazendo com que Miguel se transporte para o mundo dos mortos, e agora ele vai correr contra o tempo para conseguir não só a benção de um antepassado para voltar pra casa, como também a permissão para fazer o que ele tanto ama: tocar seu violão. E nessa jornada cheia de aventuras, em companhia de Dante, seu cão vira-latas, e Hector, um morto que vive tentando visitar o mundo dos vivos para ver seus parentes mais uma vez, Miguel vai descobrir coisas sobre o passado de sua família que, até então, eram um grande mistério.



Não é surpresa que a Disney vem inovando cada vez mais ao trazer temas e personagens que fogem de estereótipos de antigamente, e aqui há uma mistura entre a cultura mexicana e a música propriamente dita, e os aspectos desses elementos são representados com fidelidade e perfeição.

A família de Miguel, seguindo a tradição criada por Imelda, proibiu a música e espera que o menino siga o ofício de sapateiro, e essa falta de apoio para que ele possa realizar seu grande sonho é um dos principais conflitos da trama. E se fosse só a falta de apoio daria pra entender, mas eles o proíbem de ter qualquer contato com a música, o levando a fazer o que gosta escondido.
Mas embora Miguel não possa contar com a ajuda de sua família e não aceite essa falta de apoio, os acontecimentos se encarregam de mostrar que a família é o que há de mais importante, devendo ser sempre valorizada, e que é preciso manter as lembranças dos que já partiram dessa vida, pois, pior do que morrer é ser esquecido...



Embora seja uma animação super divertida e com toques bem engraçados, Viva tem pegadas de melancolia e drama que causam algumas reviravoltas na história e que, mesmo sendo previsíveis, causam o impacto necessário pra emocionar o telespectador. E nota especial para Mama Coco que, por estar muito velhinha, além de viver numa cadeira de rodas dependendo dos cuidados da família, ainda tem problemas com a memória. Mas é justamente sua memória que cria o maior clímax do desenho, e segurar as lágrimas nas últimas cenas dela é impossível. Não é por acaso que o nome original da animação é "Coco"...



Por mais que a música seja um dos principais elementos do desenho, pois é o que move Miguel, o foco maior é a importância da família e o valor que ela representa para seus integrantes, e não importa que estejam vivos ou mortos. Os laços familiares são eternos, mesmo que haja conflitos.



Viva não se encarrega de trazer apenas uma animação sobre um garoto que quer perseguir seus sonhos... Aqui o que se torna memorável é a história sobre família, amizade e perseverança que mostra que é possível lutar por aquilo que queremos e por aquilo que somos, mesmo que isso não seja o que os outros esperam, e que a morte é só mais uma etapa da vida.

Games - Limbo

8 de dezembro de 2017

Título: Limbo
Desenvolvedora: Playdead
Plataforma: Xbox, PS3, PC, Android, iOS
Categoria: Estratégia/Puzzle/Aventura
Ano: 2010
Classificação Indicativa: 14+
Nota: 
Sinopse: Sem ter certeza sobre o destino de sua irmã, um garoto entra no LIMBO. 
Limbo é um jogo 2D de múltiplas plataformas onde o jogador controlará um menino que acorda sozinho no meio de uma floresta sombria e parte em busca da irmã enfrentando armadilhas e criaturas perigosas.

O menino é guiado através de ambientes e armadilhas perigosas, e a ideia principal do jogo é resolver o quebra-cabeça/fase esperando que o jogador descubra a solução somente depois de falhar, onde o menino sempre terá uma morte trágica, assustadora e muito cruel. Assim podemos analisar o cenário e seus elementos para descobrir uma melhor forma de passar pelas armadilhas ou enfrentar os inimigos.



O jogo é escuro, monocromático e tem pouca iluminação, assim as armadilhas se camuflam no cenário forçando o jogador a ter surpresas nada agradáveis quando o menino é surpreendido por criaturas medonhas que surgem das sombras para matá-lo, ou quando ele cai em alguma armadilha que o parte no meio ou que o esmaga instantaneamente, mas os efeitos da animação, por mais pavorosos que sejam, são perfeitos. Os sons colaboram para que o ambiente tenha uma atmosfera misteriosa e que remeta ao gênero do terror.

Apesar de simples, a mecânica do jogo se resume a explorar o cenário andando ou correndo pros lados, pulando buracos, subindo e descendo escadas ou cordas, e puxando ou empurrando objetos que estão no caminho para auxiliá-lo na resolução da fase. Memorizar os locais ou os elementos que causam a morte do menino também é importante para tentar escapar e fazer com que ele obtenha êxito na fase. Como joguei a versão pra Android, os controles funcionam com o toque nos lados direito e esquerdo da tela para que ele caminhe por aí e, a princípio, pode haver um pouco de dificuldade para se acostumar com isso.



Como a maioria das armadilhas não são perceptíveis até que sejam acionadas, as mortes são mais comuns do que se imagina, assim, no caso dele morrer, o jogador recomeça a fase a partir do último checkpoint que é salvo automaticamente. O problema é que não há como saber exatamente fica esse save. Isso pode ser frustrante por as vezes ele fica logo depois de alguma armadilha difícil de passar e é preciso percorrer um caminho relativamente longo até chegar novamente no local. A vantagem é que não existe vidas a se perder. Não há limite de mortes.

Muitas mortes são animadas de forma bastante bizarra, o que envolve esmagamento, decapitação, desmembramento e até empalamento do menino, e é esse tipo de horror que nos choca, tanto por ser macabro, quanto pelo personagem ser uma criança. Porém são essas mortes macabras que alertam o jogador, que sempre é pego desprevenido, sobre escolhas erradas para que possamos optar por novas e seguir adiante. A cada novo cenário o medo de não querer sair do lugar para que o pobre menino não se lasque é inevitável, e a medida que o jogo progride, as coisas ficam mais difíceis de serem solucionadas.


Limbo é um jogo pago que custa por volta de R$20,00. Não há uma introdução propriamente dita, e o final fica totalmente em aberto para as mais diversas interpretações e teorias. Eu, particularmente, acredito que, nesse contexto e até pelo final que chega a emocionar, o Limbo é um lugar entre o Céu e o Inferno onde as pessoas ficam presas num looping infinito de ações...

O jogo é envolvente ao propôr desafios cada vez mais complexos, e é tão perturbador quanto genial. Pra quem gosta do gênero, vale a pena.

A Luneta Âmbar - Philip Pullman

3 de dezembro de 2017

Título: A Luneta Âmbar - Fronteiras do Universo #3
Autor: Philip Pullman
Editora: Suma de Letras
Gênero: Fantasia/Aventura/Juvenil
Ano: 2017
Páginas: 504
Nota:★★★★☆
Sinopse: Em todos os universos, forças se reúnem para tomar um lado na audaciosa rebelião de lorde Asriel contra a Autoridade. Cada soldado tem um papel a desempenhar – e um sacrifício a fazer. Feiticeiras, anjos, espiões, assassinos e mentirosos: ninguém sairá ileso. Lyra e Will têm a tarefa mais perigosa de todas. Com a ajuda de Iorek Byrnison, o urso de armadura, e de dois minúsculos espiões galivespianos, eles devem alcançar um mundo de sombras, onde nenhuma alma viva jamais pisou e de onde não há saída. Enquanto a guerra é travada e o Pó desaparece nos céus, o destino dos vivos – e dos mortos – recai sobre os ombros dos dois. Will e Lyra precisam fazer uma escolha simples, e a mais difícil de todas, com consequências brutais. A luneta âmbar é o último livro da trilogia Fronteiras do Universo, que teve início com A bússola de ouro e A faca sutil. Uma conclusão emocionante, que leva o leitor a novos e fantásticos universos.

Resenha: No desfecho da trilogia, acompanhamos não só Will em busca de Lyra, que fora sequestrada e mantida escondida, mas o plano de lorde Asriel para enfrentar a Autoridade. Com a ajuda de anjos, espiões minúsculos e do próprio Iorek Byrnison, o urso de armadura, o Mundo dos Mortos é um dos universos que as crianças precisam passar para terem respostas e para enfrentar o maior obstáculo de todos: A Autoridade.
Enquanto isso, conhecemos Mary Mallone, uma física que está viajando pelos mundos, guiada pelo I-Ching, que é basicamente outra versão do aletiômetro, e encontra curiosas criaturas elefantinas num desses universos. Posteriormente ela terá uma ligação com Lyra importante para o desfecho.
Simultaneamente, temos Lorde Asriel e a Srta. Coulter e seus respectivos planos secretos, cada um em busca dos próprios interesses.

Diferente dos livros anteriores, a dinâmica de A Luneta Âmbar é diferente. Este volume tem um desenvolvimento mais lento, com personagens, detalhes e descrições que não parecem ser realmente fundamentais para o desenrolar da trama e há muitas passagens confusas. Embora o desfecho da história tenha sido emocionante pra mim e a trilogia seja uma das minhas favoritas da vida, não nego que este foi o volume mais cansativo de se finalizar, principalmente por ter um outro "tom" se comparado aos anteriores.
Desde o início o leitor sabe que os protagonistas da trilogia são crianças, uma mentirosa de carteirinha e um assassino assumido, que na maioria das vezes não se comportam como crianças. Essas "habilidades" que eles têm são as ferramentas que eles precisam para enfrentar os obstáculos e acabam sendo uma forma de mostrar que por mais que as pessoas sejam capazes de usar atributos considerados como sendo de vilões, elas podem ser mocinhos. Basta olhar a situação usando uma perspectiva diferente. Eles lidam com problemas e constantemente ficam diante de enormes desafios e perigos que não correspondem exatamente à realidade, mas acredito que o foco maior, além de trazer uma história fantástica em meio a esse universo incrível, é a crítica -  e em alguns pontos até necessária - nas entrelinhas de uma história aparentemente infantil e inocente sobre a essência do ser humano.

Fazendo um apanhado geral sobre a trilogia, penso que trata da história de uma garotinha que enfrenta um universo inteiro para descobrir que o amor tem poder o suficiente para superar todas as adversidades, porém com o toque particular do autor ao embutir a crítica acerca da religião da forma que é encarada por ele, mais especificamente sobre a igreja, que é retratada como uma instituição que manipula a sociedade para que acreditem no que querem de acordo com o que é conveniente. Pra mim, é como se o autor quisesse dizer que as pessoas não estão "livres" quando se prendem a crenças religiosas que condenam desde a sexualidade até a imaginação, e a abordagem para o pecado original e as consequências que perduram até a atualidade ilustram perfeitamente isso. A liberdade plena, de corpo e mente, só viria quando - e se - a igreja caísse para que, assim, não houvesse mais interferências vindas da religião e as pessoas pudessem pensar sem serem influenciadas de alguma forma. Não penso que a ideia do autor seja tornar Deus um tipo de vilão, mas mostrar que muitas vezes a igreja aponta coisas simples, inocentes e naturais como coisas abomináveis quando não deveriam ser.

A grande guerra que fora prometida não foi tão épica quanto eu esperei. Não houve a devida intensidade e nem detalhes o bastante para torná-la grandiosa, e tudo foi resolvido de forma relativamente rápida, mesmo que não tão fácil.

O livro não é perfeito, tem algumas falhas e em muitos pontos é complexo demais pra ser facilmente compreendido. Requer inclusive algumas pesquisas para um melhor entendimento. Mas mesmo assim, ao meu ver, fechou a trilogia com sucesso e pra quem tem a mente aberta é leitura mais do que recomendada. A trilogia traz uma história cheia de camadas significativas e simbolismos em meio a uma fantasia memorável e inesquecível.

A Faca Sutil - Philip Pullman

29 de novembro de 2017

Título: A Faca Sutil - Fronteiras do Universo #2
Autor: Philip Pullman
Editora: Suma de Letras
Gênero: Fantasia/Aventura/Juvenil
Ano: 2017
Páginas: 288
Nota:★★★★★
Sinopse: Perdida em um mundo novo, Lyra Belacqua encontra Will Parry — um fugitivo que logo se torna um aliado mais que necessário. Pois este novo mundo é povoado por Espectros sugadores de alma, e no céu as feiticeiras disputam espaço com anjos. Will procura pelo pai, um explorador desaparecido há anos, e Lyra busca a origem do Pó. No entanto, o que os dois encontram é um segredo mortal e uma arma de poder absoluto, capaz de decidir o resultado na guerra que se forma ao redor deles. O que nenhum dos dois suspeita é do quanto suas vidas, seus objetivos e seus destinos estão conectados... até que precisam se separar.

Resenha: A Faca Sutil é o segundo volume da trilogia Fronteiras do Universo, e dá continuidade às aventuras de Lyra e seu deamon, Pantalaimon.
A busca por respostas sobre o Pó fez com que a garota se perdesse em Cittàgazze, um mundo paralelo que serve de ponte para outros mundos, onde ela encontra Will Parry escondido. Will vive no nosso mundo, onde as pessoas não tem deamons e usufruem das tecnologias modernas que não existem na Oxford de Lyra, mas foi encontrado em Cittàgazze, uma cidade fantasma infestada de espectros e habitada por crianças. Will estava fugindo de alguns problemas envolvendo o desaparecimento de seu pai.
Seguindo as orientações do aletiômetro, Lyra e Will se unem para ajudarem um ao outro, e contam com os poderes da faca sutil, um artefato raro que permite que eles cortem passagens no ar, abrindo as fronteiras do universo, e transitarem entre os mundos em suas buscas por respostas. O que eles não sabiam era que seus destinos estavam conectados, principalmente devido ao misterioso Pó, mas as coisas começam a mudar quando uma guerra está por vir...

O autor, mais uma vez, aborda temas delicados e polêmicos com sutileza mas de forma lúdica, fazendo críticas sociais relevantes em meio a uma trama complexa, mas maravilhosamente bem construída. A ideia de ter crianças como protagonistas torna o enredo mais leve, em alguns pontos até inocente, mas é possível perceber com clareza, mesmo que nas entrelinhas, uma mensagem muito poderosa e verdadeira. Cada elemento é inserido de forma gradual e naturalmente, assim as coisas não ficam vagas e tem a devida profundidade para que sejam compreendidos - e apreciados.
Como segundo volume, A Faca Sutil é um intermediário que enriquece a história propondo novos desafios aos protagonistas, que enfrentam mais perigos e estão em meio a um grande mistério a ser desvendado.

Lyra é uma garotinha com um comportamento questionável em alguns momentos, mas por já conhecer sua natureza e as experiências que teve não foi algo tão impactante de se acompanhar. Pelo menos não pra mim.
A história de Will é bastante trágica e sofrida, a ponto do garoto carregar o peso que carrega no olhar, e mesmo que envolva algumas mortes, Lyra leva tudo com naturalidade e ainda vê vantagem em ter um "assassino" em sua companhia, como se a ideia de se adaptar às circunstâncias extremas pedisse medidas igualmente extremas e está tudo bem.
A vida obrigou Will a abrir mão de sua infância. Perder o pai e ter que cuidar sozinho da mãe fez com que ele amadurecesse rápido demais e ser dono da Faca Sutil não é algo que tenha trazido algum benefício a ele. Ele enxerga aquilo como mais problemas, mais um fardo pra sua vida, tanto que ele a usa para fugir e se esconder.

Embora as críticas sejam visíveis no primeiro livo, neste segundo elas vieram com uma intensidade maior no que diz respeito ao aspecto religioso e, talvez, os questionamentos sobre algumas "verdades" e reflexões levantadas podem soar ofensivas para alguns cristãos. Eu particularmente acho incrível que o autor toque nesses pontos usando a fantasia e a ficção como pano de fundo numa história onde os personagens batem de frente com a tirania e com um tipo de autoridade questionável, principalmente por acreditar em Deus, mas não seguir nenhuma religião propriamente dita por não concordar com a maioria das práticas impostas, e por abominar o fanatismo.

Em suma, A Faca Sutil é um livro recheado de aventuras, com muitas cenas de ação, personagens já conhecidos que tiveram suas histórias mais trabalhadas, e os novos desenvolvidos de forma bem satisfatória. Mas assim como envolvente, também pode tocar na ferida de quem tem suas crenças e ideologias próprias, logo não acredito que seja um livro pra qualquer pessoa. É preciso ler com a mente aberta, respeitando que as pessoas são diferentes e acreditam em coisas diferentes. Há uma linha tênue entre o bem e o mal, e entre seguir o caminho certo e o errado, as vezes fazer escolhas questionáveis devido à situação crítica e até desesperadora em que a pessoa se encontra não é algo que possa definir a essência de alguém...

A Bússola de Ouro - Philip Pullman

25 de outubro de 2017

Título: A Bússola de Ouro - Fronteiras do Universo #1
Autor: Philip Pullman
Editora: Suma de Letras
Gênero: Fantasia/Aventura
Ano: 2017
Páginas: 344
Nota:★★★★★
Sinopse: Lyra Belacqua e seu daemon, Pantalaimon, vivem felizes e soltos entre os catedráticos da Faculdade Jordan, em Oxford. Até que rumores invadem a cidade – boatos sobre sequestradores de crianças, os Papões, que estão espalhando o medo pelo país.
Quando seu melhor amigo, Roger, desaparece, Lyra inicia uma perigosa jornada para reencontrá-lo. O que ela não desconfia é que muitas outras forças influenciam seu destino e que sua aventura a levará a terras congeladas do norte, onde feiticeiras e ursos de armadura se preparam para uma guerra.
Embora tenha a ajuda do aletiômetro – um poderoso instrumento que responde a qualquer pergunta –, nada a prepara para os mistérios e a crueldade que encontra durante a viagem. E, mesmo que ainda não saiba, Lyra tem uma profecia a cumprir, e as consequências afetarão muitos mundos além do seu.

Resenha: A Bússola de Ouro é o primeiro volume da trilogia Fronteiras do Universo escrita pelo autor britânico Philip Pullman. Os livros foram publicados no Brasil entre 2001 e 2002 pela Editora Objetiva e agora foram relançados pela Suma de Letras, selo da Companhia das Letras.

Lyra Belacqua é uma garotinha de doze anos que, desde que nasceu, junto com Pantalaimon, seu deamon, vive entre os catedráticos e está sob os cuidados do seu tio Asriel na Faculdade Jordan em Oxford, numa Inglaterra de um universo paralelo muito parecido com o que conhecemos.
Quando boatos de que as crianças da cidade estavam sendo sequestradas pelos temíveis Papões, e Roger, o melhor amigo de Lyra, desaparece, a garota embarca numa jornada cheia de aventuras e perigos para reencontrá-lo com a ajuda do aletiômetro, um objeto mágico que responde qualquer pergunta e somente pode ser interpretado pela garotinha. O que ela não esperava era descobrir não só sobre si mesma e suas origens, mas que existe uma força oculta e misteriosa que está ligada aos desaparecimentos das crianças e ao destino de todos desse universo, e que isso a levaria a terras muito distantes onde os seres mágicos, o povo gípcio dos pântanos, as bruxas enigmáticas e as criaturas destemidas estão se preparando para uma guerra.

A primeira vez que tive contato com essa trilogia foi a alguns anos atrás, na versão em que o título ainda era A Bússola Dourada. Lembro que me empolguei tanto que li os três livros em menos de uma semana. Nem preciso dizer o quanto curti a ideia da trilogia ser relançada, pois assim ela ganha mais visibilidade e atrai mais leitores para terem a oportunidade de conhecerem o universo mágico e deslumbrante através desses livros que ficaram um tempo esquecidos mas que deveriam ser leitura obrigatória para os fãs de fantasia, assim como a saga Harry Potter. Só lamento pela versão cinematográfica da obra, que, além de ter sido uma completa decepção, acabou dando uma impressão errada sobre a história. O fiasco foi tanto que nem arriscaram a continuação... Dito isso, não julguem o livro pelo filme ruim. A leitura é infinitamente melhor.

Narrado em terceira pessoa, o livro é dividido em três partes que correspondem aos locais por onde a protagonista passa: Oxford, Bolvangar e Svalbard. Em meio a uma trama impecável e maravilhosamente instigante e bem escrita, o autor levanta questões éticas e morais relacionadas não só aos personagens e as ligações que eles possuem entre si, mas também à política, ciência, fé, religião e espiritualidade, assim como na forma que esses elementos influenciam e interferem em suas vidas. É uma crítica crua e nada sutil à religião e à igreja, no livro representada pelo Magisterium, tanto que o próprio Vaticano criticou o autor e a adaptação cinematográfica alegando se tratar de algo anticristão (assim como foi feito com O Código da Vinci).
Como se isso já não fosse interessante o suficiente para despertar o interesse de qualquer mortal, principalmente os mais céticos, e manter o leitor vidrado em cada página, a trama, que claramente é uma fantasia voltada ao público adulto devido as questões abordadas, está repleta de personagens cativantes, bem construídos e interessantes, mistérios, perigos, aventuras, batalhas de tirar o fôlego e vários momentos tão emocionantes quanto dignos de reflexão.

Lyra tem apenas doze anos e é uma das heroínas mais verossímeis e com uma das jornadas mais incríveis que já acompanhei, pois, além de inteligente e sagaz, ela mostra que a capacidade individual de cada um em se esforçar para atingir os próprios objetivos e superar as adversidades é algo crucial que se deve ter, muito mais do que depender dos outros e esperar que as coisas aconteçam ou se resolvam sozinhas. E para ajudar o amigo, ela faz o possível e o impossível.
Não é possível falar de Lyra sem falar de Pantalaimon, já que, como os demais deamons, ele é a personificação física da alma da garota em forma animal e não pode se distanciar muito dela para não sofrerem terríveis dores físicas e mentais. Eles se completam como se realmente fossem um só corpo, mesmo que sejam literalmente o oposto um do outro durante a infância. Enquanto Lyra é conhecida por ser mentirosa e destemida, Pan é medroso e muito tímido, mas isso muda no decorrer da história pois num determinado ponto da adolescência, os deamons deixam de mudar de forma para se fixarem como um único animal, que representa e reflete a personalidade de suas metades humanas. Um exemplo disso é que os deamons dos criados são cães, representando fidelidade e obediência aos seus patrões.
Não vou me alongar falando sobre todos os personagens pois são muitos. Todos são importantes para o desenvolvimento da história e são admiráveis a sua maneira, mas não posso deixar de falar de Iorek Byrnison, o urso de armadura mais leal que já existiu. Ele é um personagem complexo e cheio de camadas, e sua história acaba sendo uma das melhores subtramas do enredo, principalmente quando seu destino se entrelaça com o de Lyra.

A abordagem sobre os gípcios também é algo bastante interessante e a forma como são apresentados não deixa de ser uma crítica do autor sobre aqueles que sofrem diversos tipos de preconceitos. Levando o termo ao pé da letra, eles são ciganos, uma "raça" menosprezada e considerada inferior pela sociedade a ponto de serem obrigados a viverem em pântanos isolados, mas claramente são grandes sábios e acrescentam muito quando o assunto é auxiliar e orientar Lyra em sua jornada.

A capa dessa nova edição é a mais bonita e que mais tem a ver com a história até então, pois além de exibir o aletiômetro (a bússola), mostra a silhueta de algumas das várias formas animais que os deamons podem ter em meio a ornamentos floreados e com detalhes metálicos. A diagramação é simples e a revisão impecável, e eu só senti falta das pequenas ilustrações a cada início de capítulo que vieram na primeira edição da obra. Inclusive na edição com a capa do filme, o termo deamon (cuja pronúncia é dêmon) foi substituído por "dimon" sabe-se lá Deus porquê. Então, obrigada a Suma por ter resgatado o deamon nessa edição!

A Bússola de Ouro é o início de uma aventura épica que nos presenteia com um universo paralelo único, incrível e inesquecível, e com certeza faz parte do seleto top 3 de melhores séries de fantasia que já li na minha vida.

Bônus: What Would Your Dæmon Be?
Faça o teste e descubra qual seria seu deamon (em inglês).

O Reino Selvagem - Simon David Eden

11 de junho de 2017

Título: O Reino Selvagem - O Reino Selvagem #1
Autor: Simon David Eden
Editora: Planeta de Livros
Gênero: Fantasia/Aventura
Ano: 2016
Páginas: 320
Nota:★★★★☆
Sinopse: Quando Will-C, o gato de estimação da adolescente Drue, desaparece, ela não imagina que seu sumiço tenha a ver com uma iminente revolução, tramada nos recônditos das florestas de todo o mundo. O reino animal declara guerra aos humanos que, por séculos, destroçaram o que lhes é mais caro: o meio ambiente, o seu habitat, a sua casa.
Nesse imenso e intenso conflito de proporções globais, os pets ficam numa encruzilhada quando precisam escolher o lado a apoiar: se o dos seus donos, dos homens, ou dos seus colegas naturais, os animais. Se o peludo e simpático Will-C tem dúvidas de que partido tomar, sua devotada e amorosa dona sabe muito bem o que precisa fazer: resgatar seu querido amigo e companheiro.
Reino Selvagem vai além de uma aventura animal de proporções épicas e fantásticas, é a história de um amor verdadeiro, que irá emocionar, alertar e inspirar humanos, donos ou não de animais de estimação.

Resenha: Drue Beltrane é uma menina de doze anos órfã de mãe há três. Desde a perda da mãe, ela se fechou para o mundo e não via mais motivos nem pra sorrir, por mais que seu pai fizesse de tudo para tentar criá-la sozinho da melhor forma possível. Até que um dia ela resgata um gato preto de três pernas que toca seu coração. Ela lhe dá o nome de Will-C, e através dele, Drue reencontra a razão para voltar a ser feliz.
Até que alguns anos depois, algo improvável aconteceu: Os animais, cansados das destruições causadas pelos humanos, e a fim de garantir a sobrevivência das espécies, se rebelaram. A guerra foi travada e os animais dominaram o mundo. Desde então, Will-C desapareceu, e o maior interesse de Drue em meio ao conflito é encontrar seu gato.
Nesse cenário quase apocalíptico, a Assembleia da Terra, o órgão supremo, decretou que a raça humana deverá ser extinta, mas não são todos os animais que são a favor dessa decisão drástica. Assim, ao precisarem escolher um lado para apoiar, muitos dos animais se sentem confusos e até considerados traidores, principalmente os bichos de estimação, que sempre foram amados e bem cuidados pelos seus donos.

Narrado em terceira pessoa com uma escrita bastante simples, O Reino Selvagem é uma história que começa um pouco lenta, mas, a medida que se desenrola, se torna fascinante e muito empolgante. A história é dinâmica, cheia de aventura e carregada de muitos toques de mistério e suspense. Embora seja uma ficção fantástica, a fábula não deixa de ter um toque de realidade pois evidencia as consequências caóticas depois dos humanos não respeitarem e não preservarem o planeta em que viveram por milênios, perturbando o equilíbrio, esgotando recursos naturais e até mesmo impossibilitando a perpetuação de várias espécies, levando muitos animais ao sofrimento e a extinção.

Inicialmente, Drue é apresentada como uma garota teimosa e impulsiva, mas, em meio ao caos, ela precisa pensar e repensar cada escolha antes de tomar qualquer atitude, e isso faz com que ela amadureça bastante quando precisa lidar com animais que querem matá-la.
A relação entre Drue e seu pai foi um elemento muito bacana na história, principalmente pelo fato de ela ser uma adolescente numa fase difícil, e do mundo estar dominado pelos bichos, que agora são racionais, tem suas motivações e possuem voz.
Quinn, o pai, é um homem diferente não só pelo fato de ser pai solteiro, mas por ter optado pelo estilo de vida vegano pra fazer sua parte na sustentabilidade e na harmonia com o planeta.
Mas melhor do que a relação entre pai e filha, é a relação entre Drue e seu gato. Separados, eles vão precisar de força e coragem para enfrentar o que surgir em seus caminhos para se unierem mais uma vez.
Eu amei Will-C. Talvez por ser gateira de carteirinha, fiquei apaixonada por esse gato preto e perneta que não é ninguém menos do que o escrivão do Conselho Regional dos Animalis. Ele é tratado com certo desprezo devido a falta da perna, mas sabe de sua responsabilidade em meio a causa animal já que sempre foi justo, mas ele e Drue desenvolveram uma relação de amizade, confiança e lealdade tão intensas que é impossível não se emocionar.

A capa tem tudo a ver com a história, pois representa os principais elementos presentes no enredo com bastante fidelidade. As páginas são amarelas, a fonte tem um tamanho agradável e não percebi erros na revisão. A diagramação também é ótima e, somando isso aos capítulos curtos e a escrita do autor, a leitura flui super bem.

O Reino Selvagem surpreende não só pela trama envolvente e cheia de aventuras criada pelo autor, mas pela crítica social que toca nas questões acerca do meio ambiente trazendo uma reflexão super positiva sobre os cuidados com os animais assim como a importância que eles têm nas nossas vidas.

A Traidora do Trono - Alwyn Hamilton

15 de maio de 2017

Título: A Traidora do Trono - A Rebelde do Deserto #2
Autora: Alwyn Hamilton
Editora: Seguinte
Gênero: YA/Aventura/Romance
Ano: 2017
Páginas: 440
Nota:★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Amani Al’Hiza mal pôde acreditar quando finalmente conseguiu fugir de sua cidade natal, montada num cavalo mágico junto com Jin, um forasteiro misterioso. Depois de pouco tempo, porém, sua maior preocupação deixou de ser a própria liberdade- a garota descobriu ter muito mais poder do que imaginava e acabou se juntando à rebelião, que quer livrar o país inteiro do domínio do sultão. Em meio às perigosas batalhas ao lado dos rebeldes, Amani é traída quando menos espera e se vê prisioneira no palácio. Enquanto pensa em um jeito de escapar, ela começa a espionar o sultão. Mas quanto mais tempo passa ali, mais Amani questiona se o governante de fato é o vilão que todos acreditam. 

Resenha: Para Alwyn Hamilton, a ideia de escrever A Rebelde do Deserto surgiu após ela ter lido um artigo que dizia que personagens femininas não deviam ser lançadas como heroínas em livros ou filmes, já que elas não têm força suficiente para isso. Para contrariar essa ideia, a britânica decidiu escrever o primeiro volume de uma trilogia que tem como protagonista Amani, uma jovem que de fraca não tem nada.

Com um pano de fundo que lembra As Mil e Uma Noites, com sultões, haréns e um deserto cheio de guerras e romances, A Traidoria do Trono é, sem dúvidas nenhuma, uma continuação louvável para uma trama que começou muito bem. Em A Rebelde do Deserto, Amani caiu numa causa que não sabia, de modo inesperado, e se descobriu engajada a ajudar Jin e seus amigos na empreitada contra o sultão e o sultin. Agora, numa sequência cheia de acontecimentos eletrizantes, do primeiro ao último capítulo, a Bandida de Olhos Azuis e seus amigos se enroscam, literalmente, numa teia intrincada de muitos problemas.

É graças a esta teia de problemas que a continuação da aventura de Amani se mostra tão excelente. É uma história que veio para reafirmar o talento da autora. Para muitas histórias, continuações são sempre um risco, e a apreensão dos leitores sobre qual rumo a vida de seus personagens favoritos irá seguir é grande. Em A Traidora do Trono, esse sentimento de dúvida não há de existir. Desde o primeiro capítulo o leitor é tragado para uma sequência de acontecimentos muito empolgantes em que a demdji mostra toda sua força e astúcia. O pontapé da história já evidencia que o conteúdo que virá em seguida não irá decepcionar.

Amani é uma garota, que apesar de ser jovem, é muito destemida e forte. A representatividade feminina que ela tem é muito palpável. No primeiro livro encontramos uma menina-mulher, independente e que deseja uma vida mais digna. Nesta sequência, uma série de acontecimentos a leva diretamente para o harém do sultão no palácio, onde a maior parte da história se passa. Narrando os fatos em primeira pessoa, Alwyn conseguiu explorar um lado mais frágil de Amani, já que em decorrência de um fato, ela se vê presa no palácio dependente da ajuda da rebelião para escapar. Em meio a tantas mulheres, que em sua maioria estão competindo para sobreviver, ela usa suas artimanhas e inteligência para escapar de situações difíceis e isso é muito agradável na protagonista.

Os outros personagens são, em suma, enigmas positivos. A trama do livro é uma teia, cheia de reviravoltas e ganchos que tornam a leitura acelerada e empolgante. Tanto para Amani quanto para quem lê, as garotas do harém e até mesmo o próprios sultão são intrigantes e a questão é: em quem ela pode realmente confiar? O sultão ganhou mais espaço e sua personalidade se mostrou diferente do que os componentes da rebelião pintam. É ótimo ver como a relação dele e da rebelde se desenvolve. Este é, com certeza, um ponto que traz muita tensão à trama.

Outra relação que se desenvolve de maneira satisfatória é a de Amani com Jin. O romance é tenro e aparece na medida certa. O foco da história é a rebelião e tudo que a envolve, a magia envolta na vida da demdji e a luta pelo país. No entanto, quando o casal protagoniza algumas cenas juntos, isso acontece de modo doce e ao mesmo tempo tenso. Não se esquecendo também dos amigos da rebelde, o enredo traz vários momentos de muita cumplicidade. O final, que é de deixar qualquer um com o coração na mão, exemplifica o que é comprometimento com uma causa.

A Traidora do Trono é um salto positivamente grande em relação ao seu antecessor. A história traz uma protagonista mais perspicaz e coadjuvantes que complementam o enredo muito bem. De um modo satisfatório, a sequência de A Rebelde do Deserto consegue elevar o nível da trilogia e a expectativa para um bom desfecho é grande. Esse livro é um verdadeiro mergulho nas areias do deserto de Miraji. Se você é fã de fantasia, Amani, Jin, Shazad e os outros podem te tragar para aventura deles até que não reste mais nenhuma palavra para ser lida.