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De Mãos Dadas - Alice Oseman

20 de junho de 2022

Título:
 De Mãos Dadas - Heartstopper #4
Autora: Alice Oseman
Editora: Seguinte
Gênero: HQ/Romance/Juvenil
Ano: 2022
Páginas: 384
Nota:★★★★★
Sinopse: Charlie e Nick já não precisam esconder de ninguém no colégio que estão namorando, e agora, mais do que nunca, Charlie quer finalmente dizer "Eu te amo". O que parece um gesto simples se torna bem complicado quando sua ansiedade o faz questionar se Nick se sente da mesma forma…
Nick, por sua vez, está com a cabeça cheia. Afinal, ele ainda não teve a oportunidade de se assumir para o pai, e se preocupa constantemente com Charlie, que dá sinais claros de ter um transtorno alimentar.
Conforme o relacionamento dos dois amadurece, os desafios que vêm pela frente ficam cada vez mais difíceis — mas os garotos logo vão aprender que amar alguém nada mais é do que estar ao seu lado, juntos, de mãos dadas.

Resenha: Nick e Charlie continuam levando o namoro firme depois de assumirem o relacionamento durante a excursão da escola que fizeram pra Paris. Agora eles estão bem felizes por não precisarem mais se preocupar em manter segredo sobre o namoro e poderem, enfim, ser quem são na frente de todo mundo.
Charlie se encontra em mais um dilema, pois ele realmente ama Nick de todo o seu coração, mas tem medo de se declarar e isso assustar ou afastar o garoto mesmo que já esteja óbvio que o sentimento é recíproco. Ele ainda carrega muitas inseguranças e se pega imaginando situações que não existem, como pensar que se ele se declarar, Nick pode se sentir pressionado ou responder algo que não fosse verdade pra não magoá-lo, o que o deixa ainda mais inseguro e com crises de ansiedade com relação a expor seus sentimentos, sem contar com sua necessidade de se desculpar a todo momento por qualquer coisa mínima que fale ou faça. Do outro lado, Nick anda preocupado com duas questões que andam enchendo sua cabeça: o fato de ainda não ter assumido sua bissexualidade para o pai, e por ter percebido, ainda durante a viagem pra Paris, que Charlie tem um transtorno alimentar que parece ser bem grave, o que o levou a querer fazer de tudo pra tentar ajudá-lo.
Nesse quarto volume da série Hearstopper, a autora continua o desenvolvimento do namoro, assim como a cumplicidade e os dilemas entre Charlie e Nick, e dá um aprofundamento um pouco maior na relação dos meninos com seus pais. Diferente de Nick, que pode se abrir com Jane, sua mãe, sobre qualquer assunto, Charlie se retrái por não poder conversar sobre seus sentimentos com a própria mãe, e saber que ela supõe coisas sobre ele que não correspondem com a realidade, só pioram sua ansiedade, sua dependência emocional por Nick, e seu transtorno alimentar. Uma coisa é a mãe ter aceitado o filho se assumir homossexual, outra coisa é ela estar aberta ao diálogo pra entender o que se passa na cabeça de Charlie, então é mais fácil condenar o que ela julga ser mentira ou um comportamento inadequado do que compreender.
O problema é que Nick começa a se sentir responsável por Charlie, como se ele pudesse fazer algo para curar esse distúrbio, mas é algo que está fora de seu alcance. E aqui, Oseman aborda a questão da dificuldade de se estar num relacionamento onde uma das partes desenvolve algum tipo de transtorno psicológico que vai piorando com o passar do tempo, e deixa bem claro que é algo que deve ser tratado por um profissional, pois qualquer pessoa sem a devida formação, incluindo adolescentes de dezesseis anos (por mais preocupados e bem intencionados que possam estar diante da situação), precisam entender que não são capazes de resolver esse tipo de problema, e que a forma de ajudar é justamente aconselhar a procurar a ajuda adequada. Confesso que fiquei angustiada em ver Charlie tão mal por causa da anorexia e como ele descreve como se sentia, o que pensava ao ficar sem comer, e que foram vários traumas que desencadearam esse transtorno. O triste é que nem Nick, nem os amigos, e nem a família de Charlie não podiam fazer nada além de apoiá-lo no que pudessem e torcerem para que as coisas melhorassem.

Além do nível de complexidade e drama que o namoro dos meninos assumiu, os relacionamentos de outros personagens, como Tao e Ellie; Tara e Darcey; e até mesmo dos professores que levaram os alunos pra Paris, Sr. Youssef Farouk e Sr. Nathan Ajayi também ganham destaque e mais profundidade. O interessante nessa parte dos professores é que a autora mostra de uma forma bem direta o que eu já havia mencionado numa das resenhas anteriores, onde a questão da sexualidade é algo que a pessoa já nasce com ela, e é só questão de tempo pra se descobrir e assumir quem é. E por mais que Youssef seja um homem de quase trinta anos, ele se permitiu viver essa experiência pra começar a se libertar do que, até então, não assumia e o mantinha um tanto infeliz. Ao final do livro tem um conto curto sobre os dois que é bem bacana, pois mostra esse processo de aceitação.
No mais, sei que num relacionamento nem tudo são flores, e a autora, como sempre, consegue abordar temas sensíveis e obstáculos de uma forma bem delicada, eu só achei o tema desse volume bem mais pesado por seguir por um rumo muito diferente dos volumes anteriores (que focaram na descoberta, no autoconhecimento, na lealdade e no sentimento verdadeiro entre os meninos). O final fica em aberto quando as famílias dos dois se encontram pra um jantar, e fica no ar aquela expectativa de contar ou não a novidade sobre o namoro para Stéphane, o pai de Nick. Obviamente que a presença do irmão imbecil de Nick é um problema, e as coisas não saem exatamente conforme planejado, então só posso dizer que a ansiedade pelo próximo volume já começou desde já.

Um Passo Adiante - Alice Oseman

26 de abril de 2022

Título:
 Um Passo Adiante - Heartstopper #3
Autora: Alice Oseman
Editora: Seguinte
Gênero: HQ/Romance/Juvenil
Ano: 2022
Páginas: 384
Nota:★★★★★
Compre: Amazon
Sinopse: Depois de entenderem o que sentiam um pelo outro, Charlie e Nick se tornaram oficialmente namorados, e cada dia é uma nova oportunidade para se conhecerem um pouco mais. Mas nem tudo é fácil, principalmente quando se trata de se assumir enquanto casal para o mundo. Mesmo com medo da reação das pessoas, os garotos sabem que em breve terão de contar a verdade, pelo menos para os amigos mais próximos ― ainda mais quando a turma toda viaja a Paris.
Enquanto decidem como dar este próximo passo, os dois vão descobrir que, não importa qual seja o desafio, eles podem sempre contar um com o outro.

Resenha: Depois que Nick levou um tempo para entender sobre sua sexualidade e seus sentimentos em relação a Charlie, os dois finalmente engataram um namoro. Nick já havia contado pra sua mãe sobre seu lance com Charlie, e agora foi a vez de Charlie contar para seus pais sobre seu relacionamento com Nick, e todos aceitaram e apoiaram os meninos tratando tudo com a maior naturalidade. Mesmo que haja algumas suspeitas sobre os dois entre alguns alunos, nenhum deles assumiu nada em público ainda, pois Charlie estava esperando Nick entender os próprios conflitos e dúvidas sobre essa nova descoberta sobre si mesmo.

Eles sabem que os sentimentos estão mais intensos e o que há entre eles fica mais sério a cada dia que passa, então é só uma questão de tempo para assumirem que são um casal, mas o medo da reação das pessoas e do preconceito frente a essa "notícia bombástica" ainda é um problema. E tudo fica mais desafiador quando as escolas Truhan e Higgs promovem uma excursão a Paris e os alunos dividiriam quartos e passariam bastante tempo juntos. Agora, Charlie e Nick precisam decidir, com a ajuda dos amigos de confiança, como irão assumir o namoro, quem são e o que sentem um pelo outro. Tara e Darcy não se assumiram oficialmente, mas pararam de esconder o namoro e simplesmente deixaram rolar sem se importar com a opinião alheia, e isso acaba sendo um grande incentivo para os meninos, mas alguns fatores acabam tendo um peso enorme nessa decisão, fazendo com que Charlie se sinta culpado por achar que está pressionando o namorado, e com que Nick se sinta impedido de tomar alguma atitude, mostrando o quão difícil é darem esse grande passo.
Mais uma vez eu venho aqui com o coração quentinho e uma lagriminha no cantinho do olho pra exaltar essa história totalmente adorável. É incrível como a autora consegue dar continuidade à história de Nick e Charlie com tanta naturalidade e sutileza, despertando empatia e emocionando os leitores com as pequenas grandes atitudes que os personagens tomam e ainda ter o cuidado de dar alertas de gatilho pra algumas situaçoes delicadas que aparecem, coisa que fui conferir na edição em inglês, porque nos livros publicados no Brasil não aparecem, infelizmente.

Eles querem se assumir, querem mostrar pro mundo que se amam e estão radiantes de felicidade em companhia um do outro, mas a dificuldade e o medo do preconceito e da homofobia que podem vir a sofrer é real e preocupante pra eles. É inegável que a autora conseguiu mostrar o quanto é difícil pra casais LGBTQIA+ serem vistos como um casal comum, sem que haja piadinhas, comentários ridículos ou olhares atravessados vindos de gente intolerante, e isso acaba dificultando ainda mais a questão de Nick se assumir. Lidar com esse tipo de coisa sem que eles se sintam as piores pessoas do mundo, como se eles tivessem fazendo algo sujo ou errado, é super doloroso. E esses pequenos diálogos onde os meninos expõe esse tipo de sentimento são emocionantes e tocam lá no fundo da alma, a forma como Charlie tenta evitar que Nick sofra algum tipo de bullying como ele sofreu pra protegê-lo é incrível, e o mais legal é que as ilustrações, por mais simples que sejam, trazem expressões tão intensas que alguns quadrinhos sequer precisam de palavras para entendermos o que se passa, o olhar já entrega tudo.

Paris, com direito a Torre Eiffel, Louvre e Arco do Triunfo como pano de fundo foi uma escolha um tanto romântica nesse passo dos meninos, e de alguns outros personagens, e combinou super bem com a proposta. Eu fiquei muito emocionada com a cumplicidade dos meninos, do quanto eles se sentem confortáveis para falar um com o outro sobre seus maiores medos, de como eles funcionam muito bem juntos ou quando enxergam algum problema sem que falem nada, como é o caso de Nick perceber que há algo de errado com a alimentação de Charlie e isso acabar refletindo em algo sobre ele lá na frente.

A forma como o círculo de amigos dos meninos é livre de qualquer tipo de preconceito também é um ponto super bacana e positivo. Outra cena super sensível e marcante é quando a professora de Educação Física flagra os dois se beijando e Nick fica com medo de receber algum tipo de castigo, mas diferente do que esperava, ela oferece todo o apoio caso alguém implique, e ainda lembra da sua época na escola, quando conheceu sua então esposa por quem é totalmente apaixonada. Ou seja, há representatividade em diversos personagens, de qualquer idade ou posição, e os meninos, além de terem suporte, não estão sozinhos nessa.

A autora também dá espaço e cria arcos super interessantes entre os personagens secundários que também enfrentam seus próprios dilemas no que diz respeito aos seus sentimentos e sexualidade, como é o caso de Tao, que tem uma enorme dificuldade em assumir seus sentimentos por Ellie, a amiga trans que faz parte do grupinho, por medo de estragar a amizade dos dois. Enquanto isso, os meninos evitam qualquer coisa que possa denunciar esse relacionamento na frente do amigo pois sentem que ele ainda não está preparado pra saber já que fala alto e é um tanto desmiolado. Foi por causa de comentários que Tao fez no passado que os alunos souberam sobre Charlie ser gay e começaram a importuná-lo, mas Tao não se dá conta que possa ter algo a ver com isso já que não faz nada por mal. Charlie fica numa situação delicada, pois sente que não devia esconder seu namoro do amigo, mas quem garante que ele não vai dar nenhum vacilo caso fique sabendo?

Enfim, os dilemas continuam, mas os meninos se apoiam, têm ajuda dos amigos e da família, e conseguem superar e enfrentar muitas coisas juntos nessa decisão de darem esse passo tão grande. Não é fácil, é muita coisa pra dois adolescentes lidarem, mas a gente acaba percebendo que desde que o amor seja sincero e verdadeiro, no final as coisas vão caminhando pra um final feliz.

Continuo recomendando a série pra todo mundo que gosta de romances leves e sensíveis, que traz toques de parte da realidade do público LGBTQIA+ que está nessa jornada de lidar com conflitos da autodescoberta e da autoafirmação, e que.

Se Liga, Dani Brown - Talia Hibbert

20 de abril de 2022

Título:
Se Liga, Dani Brown - As Irmãs Brown #2
Autora: Talia Hibbert
Editora: Paralela
Gênero: Romance/Conteúdo adulto
Ano: 2022
Páginas: 288
Nota:★★★★☆
Compre: Amazon
Sinopse: Dani Brown precisa de um sinal.
Tudo que ela quer é alguém com quem possa se divertir, sem complicações ou sentimentos envolvidos. O problema é encontrar essa pessoa, por isso ela pede ao universo que lhe avise se aparecer alguém que preencha os requisitos.
Quando acaba presa em um elevador durante um treinamento de incêndio e é resgatada por Zaf, o segurança rabugento de quem é mais ou menos amiga, Dani pensa ter entendido o recado e começa a bolar um plano para seduzi-lo.
Nenhum dos dois espera que o resgate gere rumores de que eles estejam juntos. Muito menos que tais rumores tragam benefícios para suas vidas, o que os leva a encenar um namoro de mentira.
Nos bastidores, porém, Dani continua firme com seu plano de seduzir Zaf e conseguir o que quer, mas aos poucos essa amizade colorida se torna mais complicada que sua tese de doutorado.
Será que o tiro saiu pela culatra? Ou será que esse é o verdadeiro sinal do universo e Dani só precisa se ligar para ver?

Resenha: Se Liga, Dani Brown, escrito por Talia Hibbert, é o segundo volume da série As Irmãs Brown que está sendo publicada no Brasil pelo selo Paralela, da Cia das Letras. Cada livro vai contar a história de uma das irmãs malucas da família Brown, e a protagonista da vez é Danika.

Dani é uma acadêmica super inteligente e descolada. Ela é workaholic total e, por querer ser bem sucedida profissionalmente, não tem a menor intenção de se prender a um relacionamento que possa "distraí-la" de seus planos de ter e seguir uma carreira brilhante. Mas, isso não quer dizer que ela não tenha interesse numa vida sexual muito ativa e casual para aliviar toda a pressão dessa vida agitada e muito corrida, e isso faz com que ela deseje com todas as suas forças que alguém apareça pra resolver esse problema. Até que um belo dia foi feita uma simulação de incêndio na universidade e Dani fica presa no elevador, e quem a socorre é Zafir, um ex-jogador de rugby de aparência um tanto intimidadora e que trabalha como segurança no local. Inclusive os dois são colegas e sempre se esbarravam por aí. O resgate foi filmado e o video viralizou nas redes sociais como um tipo de "resgate sexy e romântico" onde Zaf foi reconhecido por já ter sido um atleta com uma certa fama. E Dani, que só queria que o universo enviasse alguém pra ela se divertir, acabou entendendo que o ocorrido fosse um sinal e que talvez Zaf era a pessoa enviada para que ela pudesse se divertir, só seria preciso um plano pra convencê-lo da amizade colorida. Os alunos começam a shippar o casal Dani e Zaf, hashtags no Twitter começaram subir, e o alvoroço chamou a atenção das pessoas para o "Enfrente", um projeto esportivo infantil sem fins lucrativos que Zaf mantém para ajudar crianças a controlarem suas emoções. E então os dois decidem forjar um namoro pela causa, aproveitando esse hype para se beneficiarem, assim ele poderia ajudar mais crianças, e ela iria seguir com seu plano para seduzi-lo.

O livro é narrado em terceira pessoa e lembra bem o padrão do livro anterior: o cara e a mocinha que se aproximam depois de um resgate e iniciam um lance do tipo "amigos com benefícios" pra realizarem o que têm em mente.
O enredo em si não tem nada de original, mas traz um diferencial onde quem é sensível, acredita no amor, gosta de livros de romance e idealiza um relacionamento com um felizes para sempre é o homem, enquanto a mulher é a pessoa direta e objetiva, que está focada na carreira e só quer curtição e lances casuais. Os personagens também trazem bastante representatividade, pois de um lado a autora apresenta Dani, uma mulher acima do peso, preta, cabelo colorido, bissexual e muito bem resolvida com sua sexualidade, e desapegada emocionalmente. E de outro lado, Zaf, um ex-astro do esporte, muçulmano, eterno romântico incorrigível, e que sofre de transtorno de ansiedade.
Não vou entrar na questão da religião muçulmana ou da cultura islâmica pois a única referência que tenho sobre isso é a novela do Clone já que não entendo nada e nem tenho a menor propriedade pra falar sobre o que seria considerado um "haram", e se Zaf estaria ou não cometendo vários ao se envolver com Dani sem estarem casados (inclusive achei meio nada a ver a autora dar esse tipo de característica ao personagem sem um aprofundamento maior). Enfim... A química e a tensão sexual entre Zaf e Dani é bem dosada e, a medida que a história avança, eles vão se tornando mais próximos, vão se entendendo melhor no que diz respeito aos seus traumas e o quanto estão perturbados emocionalmente, e vão percebendo juntos que o que está acontecendo alí vai muito além do que uma mera encenação. A cumplicidade acaba sendo um elemento que une os dois elevando o nível do que começaram.

Vou ser sincera em dizer que demorei muito mais do que gostaria pra finalizar essa leitura porque, mesmo que o relacionamento falso fosse interessante devido a personalidade dos envolvidos, a história acabou se arrastando e não prendendo minha atenção. Mas não nego que o livro traz personagens bem construídos, cheios de camadas interessantes e com problemas que os aproximam da realidade e os tornam muito humanos. As cenas eróticas, que só aparecem mesmo lá pela metade do livro, foram dispensáveis pra mim, mas serviram pra mostrar o quanto eles estão conectados e se completam em todos os sentidos. Achei que algumas dessas cenas tiveram uma quebra de ritmo por eles ficarem divagando sobre seus dilemas e conflitos internos no meio do ato, mas não nego que isso deu um tom de bom humor na situação. Eu gostei muito de acompanhar essa "inversão de papeis" dos personagens e como eles foram lidando pacientemente com esses traumas e transtornos que acabam com o psicológico de qualquer um. A forma como a amizade vai se fortalecendo até virar algo maior é bem legal. Senti falta de uma ajuda profissional, como uma terapia ou coisa do tipo, pros dois, mas, pra mim, valeu a intenção.

Agora fico aqui, curiosa pelo terceiro livro e aguardando mais uma história da autora com personagens tão humanos quanto os apresentados até agora, e que com certeza trarão ainda mais representatividade para a literatura.

É Assim que Acaba - Colleen Hoover

17 de janeiro de 2022

Título:
É Assim que Acaba
Autora: Colleen Hoover
Editora: Galera Record
Gênero: Romance/Drama/Jovem adulto
Ano: 2018
Páginas: 368
Nota:★★★★★
Compre: Amazon
Sinopse: Lily é uma jovem que se mudou de uma cidadezinha do Maine para Boston, se formou em marketing e abriu a própria floricultura. E é em um dos terraços de Boston que ela conhece Ryle, um neurocirurgião confiante, teimoso e talvez até um pouco arrogante, com uma grande aversão a relacionamentos, mas que se sente muito atraído por ela. Quando os dois se apaixonam, Lily se vê no meio de um relacionamento turbulento que não é o que ela esperava. Mas será que ela conseguirá enxergar isso, por mais doloroso que seja?

Resenha: Lily Bloom é uma jovem de vinte e três anos, apaixonada por plantas, que saiu de uma cidadezinha no Maine e se mudou para Boston há dois anos e mora com sua colega de apartyamento, Lucy. Lily é fã de Ellen DeGeneres desde criança, e, até seus dezesseis anos, escrevia cartas pessoais em forma de diário (o que ela chamava de Diários de Ellen) onde contava os acontecimentos de sua vida sem a menor intenção de enviá-las. No diário ela escrevia como se estivesse conversando com a própria Ellen, contando sobre seu cotidiano, sobre os episódios envolvendo seu pai e sua mãe, sobre ideias que ela tinha para o programa, e sobre Atlas, um garoto sem teto que invadiu uma casa abandonada da vizinhaça a quem ela resolveu ajudar. Formada em marketing, agora ela quer abrir a própria floricultura numa tentativa de ter uma vida estável fazendo o que gosta. Quando o pai de Lily morre, sua mãe lhe pede para que ela faça um discurso fúnebre para falar de cinco coisas boas que ele fez em vida, mas Lily acaba não sendo capaz de se lembrar de nada realmente bom que seu pai tenha feito... Ela sai do velório e vai até o terraço de um prédio para espairecer, e talvez chorar um pouco. E é lá que ela conhece Ryle Kincaid, um jovem neurocirurgião rico, muito bonito e bem sucedido que parece ter aversão a relacionamentos e tem como principal objetivo de vida ser brilhante em sua carreira.

A atração é inevitável, eles parecem ser perfeitos um para o outro, mas cada um segue seu caminho a partir dalí sem que nada acontecesse entre eles. Seis meses depois, Lily saiu do emprego e está lidando com os preparativos para, finalmente, abrir sua floricultura, e é onde ela conhece Allysa, que se oferece para trabalhar pra ela. Elas logo se tornam melhores amigas enquanto conversavam e davam uma geral no lugar. Mas Lily sofre um pequeno acidente e Allysa liga para seu marido e seu irmão, que estavam juntos num bar próximo, pra virem ajudar, e para surpresa de Lily, o irmão de Allysa era ninguém menos do que Ryle. Teria sido o destino? Talvez, mas essa reaproximação acabou fazendo com que Ryle se rendesse aos encantos de Lily, passando a ter sentimentos por ela dos quais ele nunca sentiu por mais ninguém, e não demora muito até que eles comecem um relacionamento mais sério. Mas da mesma forma que Lily traz traumas de um passado conturbado em família enquanto protege suas lembranças de Atlas como seu primeiro amor, Ryle também carrega traumas de um passado que ele esconde e tenta esquecer, mas que ainda reflete em quem ele se tornou...

Sabe quando a gente termina uma leitura e fica baqueada pelo impacto que ela tem, ou fica sem encontrar as palavras certas para falar sobre? Pois é... Pra ler os livros da Collen Hoover é preciso ter a mão um kit emergencial pra recomposição, pois as lágrimas e os soluços são inevitáveis (quando li Um Caso Perdido eu quase morri). Demorei séculos pra tomar coragem, mas resolvi ler sem procurar saber do que se tratava, e sequer li a sinopse, logo, foi quase como levar um soco no estômago acompanhar essa jornada de Lily.

A escrita de Colleen é um negócio surreal. Ela é capaz de transportar o leitor pra dentro da história, de fazer com que a gente sinta na pele o que os personagens sentem e vivem, tornando a experiência de leitura marcante e indelével. A narrativa é feita em primeira pessoa e se alterna entre presente, com o desenvolvimento do relacionamento entre Lily e Ryle; e passado, onde ela relembra as situações envolvendo seu pai, sua mãe, e Atlas. E quando, no presente, Atlas reaparece, as coisas começam a tomar um rumo bastante inesperado. A  existência de Atlas já é o suficiente para afetar Ryle de uma forma assombrosa e, consequentemente, o relacionamento dele com Lily.

O tema central do livro é a violência doméstica e a forma como a vítima fica totalmente dividida entre o amor que ela sente, a ideia da primeira agressão ter sido um caso isolado, e o pensamento de que a ferida aberta é algo irreversível. A nota da autora inclusive fala sobre sua própria e emocionante experiência (o que torna este o seu livro mais pessoal), e sobre o livro ser instrutivo, pra mostrar um pouco da realidade de quem vive essas agressões, de como a pessoa vive num tipo de prisão, criando milhares de desculpas pra justificar o comportamento do agressor, e como isso além de afetar a mulher em todos os aspectos, a mantém num círculo sem fim quando ela se recusa a enxergar a realidade, o que foi o caso de Jenny, a mãe de Lily.

Embora haja o lado romântico entre Lily e Ryle, esse romance é apenas um elemento que serve pra mostrar como ele se instala devagarinho, até começar a revelar seu lado mais obscuro e perturbador. Mesmo que o tema seja pesadíssimo, ele foi escrito de uma forma leve e muito delicada, mas não com intuito de amenizar a dor ou a gravidade que é esse tipo de violência, e sim como forma de mostrar que é com simpatia e leveza que o agressor conquista a mulher até qualquer coisa servir de gatilho para mostrar seu eu verdadeiro e do que ele é capaz. Existe amor, mas se esse amor é demonstrado da pior forma possível, as decepções e o sentimento de impotência se sobrepõe a todo o resto, e ninguém merece ou deve ser destruída por esse sentimento. Não adianta acreditar que as coisas irão mudar se elas sempre se repetem, independente de quantos pedidos de desculpas e demonstrações de arrependimento comoventes intercalem as agressões... Amor e abusos juntos resultam num relacionamento tóxico, a confusão de sentimentos e pensamentos que surgem disso muitas vezes vão impedir que a vítima raciocine com clareza, e é para esses fatos que a autora chama a nossa atenção.
"No futuro, se por algum milagre você achar que é capaz de se apaixonar de novo, se apaixone por mim."
Lily é uma personagem muito cativante, engraçada, altruísta, inteligente, determinada, compreensiva e amorosa, e é impossível não gostar e não sentir empatia por ela. Ela sempre tenta agir com a razão, mesmo que o coração às vezes atrapalhe seus pensamentos. Talvez seja uma das melhores e mais marcantes personagens que já acompanhei nessa minha vida de leitora.

Ryle também é apaixonante, e isso é um enorme problema quando ele começa a ter seus surtos, pois da mesma forma que Lily acredita que ele jamais seria capaz de machucá-la por ele ama-la, eu também acreditei nele, e fiquei na expectativa de que ele mudasse ou tivesse seu momento de redenção, presa na ideia de que não é possível esse tipo de atitude abominável partir de um cara tão legal e que faz tudo pela pessoa que ele ama. Lá vem Colleen estapeando nossas caras mostrando como as mulheres, por mais firmes e esclarecidas que sejam, podem se deixar levar e cair nesse tipo de cilada. E só quem vive sabe como é e como é difícil sair.

Atlas é outro personagem incrível digno de admiração. Ele também teve seus traumas no passado que o quebraram em mil pedaços, mas ele conseguiu superar, mesmo que jamais tenha esquecido o que viveu com Lily. Ele é forte, batalhador, gentil e acaba se tornando o porto seguro dela. É muito bonito ver como ele lhe estende a mão, como ele se preocupa, e como ele só quer que ela fique bem e seja feliz.

Os personagens secundários também são maravilhosos e muito bem construídos. Allysa, por mais endinheirada que seja, é totalmente desprendida das coisas. Ela se mostrou uma amiga maravilhosa, que não só apoia Lily, como também lhe dá conselhos e alertas inteligentes e importantes. Ela inclusive trabalha pra Lily ~de graça~ só pra ocupar seu tempo, ter algo pra fazer e com quem conversar, e não cair na depressão.

Enfim, o livro vai trazer uma reflexão sobre a coragem necessária pra se quebrar esse padrão, sobre se ter empatia com quem está numa situação dessas, e sobre tentar compreender que, embora as pessoas lidem com seus traumas das mais diversas maneiras, nada justifica a violência e que alguma coisa tem que ser feita pra isso chegar ao fim.

É Assim que Acaba é um drama poderoso, inspirador e emocionante, já entrou na lista de melhores livros que já li na minha vida, que vai tocar os leitores de uma forma indescritível, mostrando que é preciso tirar forças do além pra se fazer a escolha certa quando se está nas situações mais complicadas.

Procura-se um Namorado - Alexis Hall

3 de janeiro de 2022

Título: Procura-se um Namorado - London Calling #1
Autora:  Alexis Hall
Editora: Paralela
Gênero: Romance
Ano: 2021
Páginas: 424
Nota:★★★★☆
Sinopse: Luc O’Donnell, infelizmente, é um cara famoso. Quer dizer, mais ou menos. Sendo filho de duas estrelas do rock, ele é uma das subcelebridades preferidas dos tabloides. E agora que seu pai está voltando aos holofotes, ele se tornou o centro das atenções, o que significa que uma foto comprometedora pode ― e vai ― estragar tudo.
Mas Luc tem um plano: para limpar sua imagem, ele só precisa de um namorado normal e bonzinho, e Oliver Blackwood é as duas coisas, além de advogado, vegetariano e basicamente alérgico a qualquer tipo de escândalo. O único problema é que, tirando o fato de ambos serem gays e solteiros e precisarem de acompanhantes para um evento, Luc e Oliver não têm nada em comum.
É por isso que eles estabelecem um namoro falso, até quando for necessário. Mas o perigo de namorar de mentira é que se parece muito com namorar de verdade. E, quando sentimentos verdadeiros começam a surgir, eles precisam descobrir como fazer dar certo ― não para as câmeras, mas para si mesmos. 
Resenha: Procura-se um Namorado é o primeiro volume da trilogia London Calling, da autora britânica Alexis Hall e publicado no Brasil pela Paralela

Luc O'Donnell é filho de celebridades do universo do Rock & Roll, e isso acabou o tornando uma subcelebridade perseguida pelos tablóides. Depois de duas décadas tendo problemas com vícios, indo e voltando da reabilitação, o pai de Luc está voltando ao cenário musical, e qualquer deslize desse retorno pode virar motivo de perseguições, manchetes e fofocas. Obviamente uma foto comprometedora vem à tona, a reputação de Luc agora está por um fio, seu emprego está ameaçado e ele precisa de um namorado perfeito para poder limpar essa mancha em sua imagem. E é aí que entra Oliver Blackwood, um advogado que é exemplo de ser humano, vegetariano, da paz, super bonzinho... Eles não têm nada em comum, mas um namoro falso poderia ser a salvação de Luc. O problema é que, pra forjar algo que não existe, os envolvidos precisam estar juntos, fazer coisas de casal e afins, e talvez essa aproximação e essas atitudes possam acabar fazendo com que sentimentos verdadeiros surjam dessa farsa...

A premissa de Procura-se um Namorado é clichê e nada original, eu sei. Essas histórias que envolvem esse tipo de farsa em prol de algum "benefício" parecem todas iguais mas, nesse caso, a forma como a história foi contada e a escrita envolvente da autora foi um conjunto que combinou, deu certo, e me fisgou de um jeito que fiquei muito surpresa. A autora tem aquele humor britânico hilário e cheio de sarcasmo que é capaz de arrancar risadas altas na gente, e ao mesmo tempo a gente percebe que existem sentimentos intensos por de trás de toda essa graça independente da cena.
Vou ser sincera em dizer que não há nenhum acontecimento grandioso na trama que causa AQUELE impacto na leitura, é como se não houvesse motivação plausível o suficiente sobre o problema pra sustentar a trama até o final. É como se fossemos lendo sobre essa ideia mirabolante com a certeza que não vai prestar, e ao longo da história só confirmamos isso, mas os personagens são legais, mesmo quando são insuportáveis, possuem tantas camadas e são tão interessantes que, pra mim, foi impossível não gostar. Eu só queria acompanhar as confusões de todos eles pra continuar rindo e fugir da realidade que põe a gente pra baixo dia e noite (e acho que esse é um ponto super positivo pra se considerar a leitura desse livro).

O que pra mim foi bem interessante é que achei que os personagens não caem tanto em estereótipos como eu imaginei que seria, porque a bagagem que vem com eles antes de embarcarem nessa furada (ou talvez não seja uma furada dependendo do ponto de vista) mostra que eles têm um algo a mais, que são muito humanos, muitos reais, e têm questões delicadas pra lidar enquanto estão forjando esse bendito namoro. Por mais engraçado que o livro seja, fazendo piada com tudo que a gente possa imaginar, ainda tem os temas mais delicados, como a homofobia, o narcisismo dos pais, o abandono afetivo, e são problemas que, por piores que sejam, ainda existem e há quem conviva e sofra com isso. Logo há essa carga dramática que consegue se equilibrar bem com o tom de comédia da história sem destoar, sem estragar a experiência e ainda levantando o questionamento sobre as opiniões alheias acerca da orientação sexual, da autoaceitação, sobre se assumir, sobre o preconceito (velado ou não), e sobre como as pessoas lidam com isso.

E o melhor é que, desde o início, a gente sabe como essa história vai terminar, mas ainda assim continua lendo, seja pra rir, pra passar raiva com os pais deles, pra passar raiva com a enrolação deles, pra suspirar quando as coisas começam a se encaixar, pra falar "eu sabia" quando tudo começar a dar errado, enfim, mas é tudo no melhor sentido da coisa.

Luc é um personagem um tanto complicado, pois ele é super negativo devido as experiências que já teve sob influência dos pais desajustados. Suas feridas acabaram o tornando alguém autodepreciativo, dramático ao extremo, atormentado, e talvez ele tenha ficado pessimista e miserável desse jeito de tanto ver que é isso que os tablóides expõe pro público. É muito satisfatório acompanhar a jornada dele, lidando com os obstáculos e aprendendo a confiar nos outros.
Oliver é o oposto. O homem é um gentleman, atencioso, respeitoso, educado, e leva uma vida meticulosamente organizada. Ele se revela meio rebelde em meio a esse "namoro", mas o que importa é que ele se esforça e no final a gente só tem a certeza de que ele é adorável.
Os personagens secundários também são ótimos, suas participações e influências na vida do casal são importantes e a gente vai percebendo como cada um deles tem suas peculiaridades, como são caricatos pra ajudar no tom de humor, como são esquisitos com suas manias absurdas, como lhes falta bom senso mesmo quando são bem intencionados, como seus hábitos irritantes e teimosia fazem com que a gente queira lhes dar um murro, ou como são importantes para dar aquele empurrão que o outro precisa.

No mais, Procura-se um Namorado é um livro super engraçado, ótimo pra espairecer e que não vai falar apenas das confusões que um namoro falso podem desencadear. Aqui a gente consegue perceber nas entrelinhas que não podemos ser orgulhosos e ignorar ajuda dos outros quando essa ajuda é necessária, mas que o caminho a ser trilhado para se dar jeito nos problemas deve ser percorrido pelo maior interessado em resolvê-los.

O Livro dos Pequenos Nãos - Heloisa Seixas

2 de janeiro de 2022

Título:
O Livro dos Pequenos Nãos
Autora: Heloisa Seixas
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Romance/Literatura Nacional
Ano: 2021
Páginas: 144
Nota:★★★☆☆
Compre: Amazon
Sinopse: Em O livro dos pequenos nãos, Heloisa Seixas explora o poder das escolhas, da sorte e do acaso. O livro acompanha a história de Lia ao longo de uma noite ― enquanto ela revive as lembranças de seu relacionamento conturbado com Tito ― e abre janelas para anos pregressos, apresentando outros personagens que, cada um à sua maneira, tiveram suas histórias reescritas.
Com uma prosa que seduz e prende o leitor até a última página e com a habilidade de quem transita pelos mais diversos gêneros da ficção, a autora entrelaça passado e presente e tece uma narrativa sensível sobre o impacto das decisões ― conscientes ou não ― que acabam não apenas por definir nosso destino, mas também por nos tornar quem somos. 

Resenha: Quando Lia se encontra com a amiga Ana num bar para tomarem um chope e terem um momento de diversão, a conversa descontraída começa a tomar um rumo mais reflexivo: Ana começa a falar sobre a morte trágica de um grande poeta; sobre as mudanças que ocorrem com tal tragédia e o que se é perdido além da vida; e no famigerado "e se", explorando o poder das escolhas, da sorte e do acaso...
"- Esse vazio estranho que se cria a partir de bifurcações, do momento em que se escolhe ir para um lado e não para o outro e que..."
- Pág. 10
Ao longo da noite, relembrando as conturbações de seu relacionamento e como se sente em relação a isso enquanto volta pra casa, Lia segue numa divagação profunda e intensa, uma viagem cheia de experiências (que inclusive são um risco pra ela mesma) onde aborda o poder imensurável de se tomar uma decisão, seja ela consciente ou inconsciente, e como ela não apenas define o destino, como molda as pessoas a serem quem elas são.

O livro é narrado em terceira pessoa, com descrições bem trabalhadas e poéticas sobre os elementos da trama, algumas se extendem demais nas descrições e nos "floreios" narrativos, mas é o que dá uma intensidade maior aos sentimentos e às sensações dos personagens. Os capítulos são curtos e entre os destinados à Lia há histórias de outros personagens, de outras épocas, que tem ligações familiares uns com os outros e dão continuidade aos "causos", e que também remetem às consequências de determinadas decisões. A primeira história se passa em 1897, onde acompanhamos João Alexandre, um médico do exército que viveu de perto e sobreviveu à Guerra de Canudos, no interior da Bahia. E a partir daí, os demais capítulos com os outros personagens vão ganhando elementos do que fez parte da história do Brasil, alguns com toques sobrenaturais que lembram muito aqueles contos do interior, passando por assombranção até Lampião. E o mais incrível é o desfecho que liga a autora diretamente aos personagens, mostrando que as decisões tomadas vão, inclusive, impactar na vida de seus descendentes, afinal, não estaríamos aqui se nossos avós, se nossos pais não tivessem se conhecido e tido um relacionamento.

E toda a trajetória desses personagens leva o leitor a refletir sobre questões como "minha vida seria diferente SE eu tivesse feito outras escolhas?", "Hoje eu estaria onde estou SE eu tivesse seguido por outro caminho?" São perguntas cujas respostas não possuímos. Ao fazermos uma decisão, acabamos escolhendo uma coisa e abrindo mão de outra, e como não é possível voltar atrás, não temos como saber o que seria, e nem por isso devemos nos prender ao que poderia ter sido, mas sim viver o presente enquanto lidamos com nossas decisões e suas consequências, sejam elas boas ou não, sem "culpar" o destino. E independente do evento, da ocasião, da situação, são as escolhas que definem o desfecho, e às vezes uma escolha simples (mesmo que não seja um caminho simples pra se tomar) nos liberta do que nos aprisiona.

Inferno - Dante Alighieri

30 de dezembro de 2021

Título:
Inferno - Comédia #1
Autor: Dante Alighieri
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Clássico/Romance/Ficção
Ano: 2021
Páginas: 560
Nota:★★★★★
Compre: Amazon
Sinopse: Primeira parte da Comédia de Dante, Inferno é uma viagem às profundezas, para onde foram condenados os que não agiram de acordo com a ética cristã. O poeta romano Virgílio será o responsável por guiar Dante nesse trajeto.
Contando a história de uma alma cristã que parte da consciência do pecado (Inferno), passa pela purificação interior (Purgatório) e chega à visão de Deus (Paraíso), Dante dialoga com as tradições da poesia clássica greco-latina, dos textos bíblicos e até do pensamento árabe ― em uma obra de tal força que ainda hoje mantém o seu vigor literário e nos convoca a relê-la.

Resenha: Existem livros que marcam época e se tornam atemporais, e por esse motivo acabam se tornando clássicos da literatura. E se podemos falar de um poema épico que se tornou um clássico, e séculos depois, apesar de diversas interpretações e traduções ainda se mantém detentor de uma fagulha lírica e emocionante, esse poema é a Comédia do autor italiano Dante Alighieri, que recentemente recebeu uma nova e belíssima tradução e edição pela Companhia das Letras.
Comédia será relançada em três partes, e a primeira delas é Inferno.

 Acompanhamos Dante, que aqui além de autor é o próprio personagem (Dante gosta de fazer isso em seus trabalhos e esse, sem dúvida, é o mais pessoal). Em uma jornada onde busca se purificar dos pecados e ascender aos maiores ideais cristãos, ele usará a poesia para fazer críticas à sociedade da roça, a personagens famosos e principalmente aqueles que ele julga terem se entregado aos pecados e abandonado todos aqueles que contavam com eles. Ele é um andarilho e de tal forma, diante de um lugar perigoso e animalesco ele tem ao seu lado como guia o poeta Virgílio, por quem sempre teve admiração.

Dante passa pelos 9 círculos Infernais, cada um deles dedicados a um tipo específico de punição e contendo pecadores muitas vezes famosos, estes que ao longo da jornada ele encontra tanto de sua época (Florentinos famosos) como personagem clássicos. Como cada círculo do inferno é baseado nos pecados capitais e às crenças cristãs, fica o alerta para o tema.

A jornada de Dante é poesia, mas também critica, é uma jornada onde ele caminha guiado pelo pensamento racional, mas almejando um crescimento espiritual. Para a leitura ser mais agradável, é aconselhável já ter em mente que foi escrito séculos atrás, com bases morais que atualmente podem sequer mais serem aceitas como corretas, porém, ainda permanece sendo uma leitura inteligente e fascinante. Provavelmente não seria um conteúdo indicado para um iniciante no mundo lírico da poesia, mas indicado para quem já está familiarizado com o estilo de escrita e que gosta desse jogo de palavras que são expressões artísticas.

A obra é bilíngue, com tradução para o português lado a lado com a "original" em italiano 
O projeto gráfico é soberbo, todos os tons da paleta escolhida e gravuras pelo artista estão incríveis.
Comédia é composta por 14.233 versos que são divididos em três canções: Inferno, Purgatório e Paraíso, e cada canção tem 33 cantos.

Um ótimo livro clássico em edição de luxo e para colecionadores, também tem uma excelente tradução e texto apoio. Essa nova edição de Inferno entrega à nova geração um texto poderoso e que merece ser lido. Já quero as próximas duas partes!

Minha Pessoa Favorita - Alice Oseman

28 de dezembro de 2021

Título: Minha Pessoa Favorita - Heartstopper #2
Autora: Alice Oseman
Editora: Seguinte
Gênero: HQ/Romance/Juvenil
Ano: 2021
Páginas: 320
Nota:★★★★★
Compre: Amazon
Sinopse: No segundo volume da série Heartstopper, Charlie e Nick precisam entender o que um beijo significa para a relação dos dois ― e, principalmente, para eles mesmos.
Charlie e Nick são melhores amigos, mas tudo muda depois que eles se beijam em uma festa. Charlie acredita que cometeu um grande erro e arruinou a amizade dos dois para sempre, e Nick está mais confuso do que nunca.
Mas aos poucos Nick começa a enxergar o mundo sob uma nova perspectiva e, com a ajuda de Charlie, descobre muitas coisas sobre o mundo que o cerca, sobre seus amigos ― e, principalmente, sobre ele mesmo.
Resenha: Depois de se beijarem na festa de aniversário de um dos colegas de escola, Charlie e Nick ficaram super confusos com seus sentimentos e com o que aconteceu. Enquanto Charlie acredita que o beijo destruiu essa amizade tão bonita e fica se martirizando, Nick só quer entender como lidar com seus sentimentos e o que fazer pra assumir que gosta de Charlie. Mas sabendo que os garotos da escola são uns imbecis, e sabendo que é algo novo, ele ainda não se sente confiante o bastante pra isso, ele precisa de tempo pra se situar em meio a essa fase totalmente diferente do que estava acostumado, começa a pesquisar sobre a bissexualidade e, inicialmente, acha que é onde ele se encaixa.
O aniversário de quinze anos de Charlie está chegando, e aí está mais um momento super especial que eles vão passar juntos.


O que acontece é que quando a pessoa é gay, é bi, ou como quer que ela se identifique, não é questão de escolha, pois ela já nasce assim, é questão de tempo até se descobrir. Pra uns levam menos tempo, pra outros levam mais tempo dependendo da família, do círculo de amigos, das crenças, enfim, mas uma hora vai acontecer. Pode ser como Charlie, que desde criança já sabia de sua orientação, mas pode ser que nem Nick, que gostava de garotas até se envolver com Charlie e descobrir que essa relação é o que o faz verdadeiramente feliz, onde ele se sente seguro pra poder ser quem é, sem filtros. E aqui temos um Nick que está descobrindo isso, sobre quem ele é e sobre como ele deseja se identificar, mas ainda tem medo de assumir uma nova orientação, e Charlie entende e respeita a necessidade desse tempo. E tudo isso enquanto os dois enfrentam o drama de um relacionamento adolescente e gay.

Mantendo o mesmo estilo de narrativa, nesse segundo volume podemos acompanhar os meninos passando mais tempo juntos, se entendendo cada vez mais, intensificando as demonstrações de afeto um pelo outro, mas ainda mantendo o lance deles em segredo até que Nick saiba o que realmente está acontecendo com ele. Conhecemos Tao, que ajudou Charlie na época em que ele sofria bullying no colégio, e Ellie, sua amiga trans que estuda num colégio para meninas, trazendo ainda mais representatividade para a história.

Claro que a autora não é hipócrita de contar uma história de dois garotos apaixonados que remete somente a contos de fadas onde tudo são flores. A realidade às vezes é muito dura e o público LGBTQIA+ ainda sofre muito com pessoas homofóbicas, preconceituosas e odiosas, e com Charlie e Nick as coisas não são muito diferentes, o que mostra que, embora o amor seja imenso e tente superar tudo, eles ainda precisam enfrentar muita gente intolerante e lidar com muito hate gratuito, e aqui o maior imbecil é Harry, um dos meninos que estuda no colégio junto com eles. As "piadinhas" ofensivas e sem a menor graça são terríveis e juro que fiquei super triste quando Charlie fala que "já está acostumado". Mas por que esse tipo de comportamento deveria ser aceitável a ponto dos outros se acostumarem? Não vejo a hora desse Harry ter seu castigo por ser esse grande idiota.

No mais, enquanto o primeiro volume traz os dois se conhecendo, em Minha Pessoa Favorita, Nick está se descobrindo enquanto Charlie o apoia com toda a paciência que só uma pessoa tão adorável e sensível como ele é capaz.
Já disse e repito: é um livro fofo, pra deixar o coração quentinho, um sorriso no cantinho da boca e uma vontade imensa de sair abraçando todo mundo que a gente ama. O único defeito desse livro é que ele acaba muito rápido e a gente só quer mais um pouquinho de Charlie e Nick. Voltem, meninos!

Dois Garotos, Um Encontro - Alice Oseman

27 de dezembro de 2021

Título: Dois garotos, Um Encontro - Heartstopper #1
Autora: Alice Oseman
Editora: Seguinte
Gênero: HQ/Romance/Juvenil
Ano: 2021
Páginas: 304
Nota:★★★★★
Compre: Amazon
Sinopse: Charlie Spring e Nick Nelson não têm quase nada em comum. Charlie é um aluno dedicado e bastante inseguro por conta do bullying que sofre no colégio desde que se assumiu gay. Já Nick é superpopular, especialmente querido por ser um ótimo jogador de rúgbi. Quando os dois passam a sentar um ao lado do outro toda manhã, uma amizade intensa se desenvolve, e eles ficam cada vez mais próximos.
Charlie logo começa a se sentir diferente a respeito do novo amigo, apesar de saber que se apaixonar por um garoto hétero só vai gerar frustrações. Mas o próprio Nick está em dúvida sobre o que sente – e talvez os garotos estejam prestes a descobrir que, quando menos se espera, o amor pode funcionar das formas mais incríveis e surpreendentes.

Resenha: Charlie Spring é um garoto de 14 anos que estuda no Colégio Truham para Rapazes. Ele é tímido e muito inseguro, pois desde que os garotos descobriram que ele é gay, passaram a importuná-lo em qualquer oportunidade. 
Quando Charlie recebe um comunicado da escola de que deveria comparecer aos grupos interséries para a chamada, ele acaba se sentando ao lado de Nick Nelson, um jogador de rúgbi do segundo ano e super popular. Como eles se sentavam juntos todos os dias, os dois acabaram desenvolvendo uma amizade, ficando cada vez mais próximos. Não demora pra Charlie começar a se sentir diferente com a presença do amigo. Nick é super legal, é um amigo leal, respeitoso e super protetor, mas Charlie sabe que gostar de um garoto hétero só vai machucar seu coração. Ainda assim eles passam o tempo juntos se divertindo e fortalecendo ainda mais essa amizade, até Nick começar a se sentir confuso com seus sentimentos em relação a Charlie...

Eu sou daquelas que ama de paixão histórias contadas em formato de HQ, principalmente essas que deixam o coração quentinho. Dois Garotos, Um Encontro é o primeiro volume de Heartstopper, que vai introduzir o leitor nesse mundinho de descobertas e paixão em sua forma mais pura entre Charlie e Nick.

Enquanto Charlie já sabia sobre sua sexualidade e estava convivendo com isso da melhor forma que podia (mesmo que seja super inseguro e viva pedindo desculpas por tudo), Nick foi pego de surpresa e começou a ter que lidar com esse turbilhão de sensações e sentimentos, além de ficar cheio de dúvidas sobre quem ele é de verdade, o que fazer ou o que dizer. É tão fofa a parte onde ele começa a pesquisar na internet como saber se ele é gay já que começou a se sentir diferente com a presença de Charlie, ou quando eles estão trocando mensagens, digitam toda a frase mas não tem coragem de enviar, que a vontade é de enfiar os dois num potinho, cuidar e proteger pra sempre.
A história é adorável e mostra como é a experiência de se ter um primeiro amor e como ele vai se desenvolvendo aos poucos, dos sentimentos que causam euforia e frio na barriga, da ansiedade de querer ver a pessoa e se sentir bem pertinho dela. A autora consegue tratar do romance com naturalidade e transporta as emoções pro papel de uma forma super delicada e verdadeira, sem romantizar as cenas envolvendo assédio, preconceitos depressão e dependência emocional, com ilustrações que captam a emoção e os conflitos dos personagens com simplicidade e muita perfeição. E é tudo tão fluído e envolvente que mesmo que tenha 300 páginas pode ser lido em questão de minutos.

Uma coisa que achei genial que se refere a diagramação dos quadrinhos é sobre as conversas em grupo e a forma como ela indica quem está falando. Em vez de fazer vários quadrinhos avulsos com vários personagens, ela coloca os balões de conversa alinhados com a cabecinha do personagem indicando que é ele quem está falando. Outro ponto bacana são os quadrinhos se "desfazendo" como folhas ao vento pra formar os próximos, ligando os quadros e os personagens uns nos outros, ou ainda indicando as passagens do tempo. A forma de criação dos quadrinhos foi super bem feita e inteligente.
Pelo que pude perceber a história é uma só e foi dividida em 4 volumes formando a série (por enquanto só os dois primeiros volumes foram traduzidos aqui no Brasil pela Seguinte), e é como se cada volume correspondesse a uma fase, a um passo além que Charlie e Nick dão nesse relacionamento. Essa primeira fase é a fase da aproximação, da amizade que vai sendo construída e fortalecida, dos sentimentos aflorando naturalmente, da curiosidade natural, da ansiedade de não saber o que fazer, e dos questinamentos sobre algo, até então, desconhecido.

Dois Garotos, Um Encontro é uma introdução muito fofa à história de Charlie e Nick, abordando a necessidade do autoconhecimento, as inseguranças relacionadas a sexualidade e a descoberta daquilo que não apenas te faz feliz, mas que te faz se encontrar e ser quem você é.

Amor, Mentiras e Rock & Roll - David Yoon

23 de dezembro de 2021

Título:
Amor, Mentiras e Rock & Roll
Autor: David Yoon
Editora: Seguinte
Gênero: Romance/Juvenil
Ano: 2021
Páginas: 368
Nota:★★★☆☆
Compre: Amazon
Sinopse: Sunny Dae é nerd ― e com orgulho. Essa é a fama que ele e seus dois melhores amigos conquistaram na escola, onde curtir RPG definitivamente não é visto com bons olhos. E estava tudo bem, até Sunny conhecer Cirrus Soh, a garota mais descolada e confiante que ele já viu. Quando Cirrus acha que o quarto do irmão de Sunny é na verdade o dele, o garoto não consegue corrigir o engano. Com os olhos dela brilhando ao ver as guitarras e os pôsteres de rock na parede, ele acaba dizendo que tem uma banda ― embora não saiba nem segurar uma guitarra, ops.
Agora sua única esperança para sustentar a história e conquistar Cirrus é fazer com que seus amigos nerds topem participar de seu plano maluco de tornar essa banda realidade, vestindo as roupas que o irmão mais velho deixou para trás quando se mudou para Hollywood e ensaiando na sala de música da escola. O problema é que logo Sunny descobre que a vida de um rockstar mentiroso não é só fama e glória…

Resenha: Seguindo o estilo de premissa de Frank e o Amor, o primeiro livro do autor, Amor, Mentiras e Rock & Roll também vai abordar as questões de um personagem que conta uma "mentira inocente" pra tentar resolver um problema, quando na verdade ele está criando vários outros.
Sunny Dae é um nerd de carteirinha e sente o maior orgulho disso. Ele e seus dois melhores amigos, Jamal e Milo, são apaixonados por RPG e têm até um canal onde compartilham dessa paixão. Por serem nerds level hard, eles acabam sobrendo bullying no colégio porque, como sempre, os atletas super populares acham os três grandes imbecis que não devem ser levados a sério.
O irmão mais velho de Sunny, Gray, é seu total oposto. Ele é um rockeiro nato, todo descolado, que foi embora pra Hollywood pra seguir seu sonho e está iniciando a carreira como vocalista de uma banda de sucesso. Ao ir embora, ele deixou seu quarto cheio de referências e todo decorado nesse estilo musical. Isso acabou causando uma grande confusão, pois quando Cirrus Soh, uma garota bonita, inteligente e super divertida, se muda pra casa ao lado e o conhece, ela acredita que o quarto de Gray é o de Sunny, e pensando que ela vai rejeitá-lo caso ele mencione sobre seu hobby de nerd, ele acha uma ótima ideia mentir pra impressionar a menina, incorporar a personalidade do irmão, e dizer que ele, junto com seus amigos, fazem parte de uma banda de rock, "Os Imortais".

Como Sunny está naquela fase onde se sente inseguro com várias questões, se sente um ninguém se comparado ao irmão, e acha que não tem nenhuma qualidade interessante pra chamar atenção de alguma garota, ele deixa essa mentira crescer cada vez mais na intenção de continuar mantendo Cirrus interessada nele, mas em vez de contar a verdade pra acabar logo com essa patifaria, ele resolve envolver os amigos no rolo pra formarem uma banda de verdade e tornar essa mentira algo real.

Sendo assim, o foco da história em si não é apenas o romance de Sunny e Cirrus, mas sim o desenvolvimento e o crescimento dele tentando ser o que ele criou, aprendendo a cantar e tocar, mesmo que esteja fingindo ser quem não é, tudo isso pra tornar a sua fic real. Ele e os amigos realmente chegam ao ponto de formarem a banda e pra poderem se apresentar. Esse foi um motivo pra eu não conseguir me apegar aos personagens, não senti nenhuma empatia por Sunny tentar construir um relacionamento que começou todo errado. Em alguns momentos ele se mostra tão egoísta e arrogante, que a vontade era de dar um soco. Cirrus também não fica muito atrás, pois por mais divertida que seja, em muitos momentos ela demonstrou ser alguém sonsa demais e muito superficial, e penso que por ela não ter sido muito bem desenvolvida, ela acabou não tendo atributos marcantes que fizessem alguma diferença. É aquela tipo de casal que, aparentemente, combina, mas a química é zero.

Mas apesar disso, o livro tem seus pontos positivos, sim. A escrita do autor é muito boa, fluída e envolvente, então não dá pra segurar a curiosidade de terminar a leitura e saber que fim essa confusão vai levar. Ele aborda questões sociais relevantes como o racismo e o preconceito, descontrói o valentão da escola mostrando que ele ataca como forma de se defender pra manter sua posição, mas que no fundo se parece muito mais com Sunny do que eles imaginaram. Outro ponto interessante é sobre a relação de Sunny com o irmão. Num determinado momento Gray retorna pra casa, se mostra um idiota, e o conflito que eles travam por causa do "novo Sunny" acaba sendo um estopim para que ambos se enxerguem de uma maneira diferente e amadureçam.

No fim das contas, Amor, Mentiras e Rock & Roll não foi uma leitura perfeita, mas fiquei satisfeita com a história por mostrar as questões das descobertas adolescentes, das confusões que eles se mentem por ainda não terem se encontrado, e da conclusão que se chega mostrando que ser famoso e ter glória pode trazer algumas coisas inesperadas, mas o importante é saber que somos quem somos, e é preciso respeitar e aceitar as qualidades que temos.

Uma Princesa em Tóquio - Emiko Jean

21 de dezembro de 2021

Título:
Uma Princesa em Tóquio
Autora: Emiko Jean
Editora: Seguinte
Gênero: Romance/Juvenil
Ano: 2021
Páginas: 312
Nota:★★★★☆
Compre: Amazon
Sinopse: Izumi Tanaka nunca sentiu que pertence ao lugar onde vive. Afinal, ela é uma das únicas garotas com ascendência japonesa em sua cidadezinha natal, no norte da Califórnia. Criada apenas pela mãe, as duas sempre foram muito unidas ― até Izzy descobrir que seu misterioso pai é ninguém mais, ninguém menos do que o príncipe herdeiro do Japão. O que significa que Izumi é literalmente uma princesa.
Não demora muito até a família imperial japonesa ir atrás de Izzy e ela partir em uma viagem para Tóquio. Em meio a confusões com um jovem guarda-costas mal-humorado (apesar de lindo!) e com primos envolvidos em diversas polêmicas, a garota vai perceber que a vida da realeza está longe de ser só glamour. E, enquanto tenta conhecer o pai, talvez acabe encontrando a si mesma.

Resenha: Izumi Tanaka é uma garota nipo-americana de dezoito anos que vive com a mãe, Hanako, e seu cachorro Tamagochi numa cidadezinha no norte da Califórnia. Sendo uma das únicas garotas de ascendência japonesa da cidade, ela acaba tendo que lidar com todas aquelas questões de uma pessoa que não é branca vivendo num lugar onde quase todo mundo é branco, e que bom que ela tem a Noora, a Hansani e a Glory como amigas (com descendência japonesa também) pra ter com quem contar. Elas inclusive formaram a GGA, a "Gangue de Garotas Asiáticas". Embora tenham personalidades bem diferentes, elas combinam muito bem quando estão juntas

Izumi não conheceu seu pai, e sua mãe sempre disse que ela foi fruto de um romance de uma noite só com quem ela nem se lembra lá na época da faculdade, e ela, por ter uma ótima relação com a mãe, vivia bem com isso, mesmo que, no fundo, ainda sentisse falta de ter uma presença paterna alí ao seu lado e de saber mais detalhes sobre sua origem.
Uma peculiaridade da GGA é descobrir coisas, e quando Noora encontra o livro "Orquídeas Raras da América do Norte" com uma dedicatória de amor à sua mãe escrita por Makoto Mak, lá em 2003, muitas dúvidas começam a surgir. Seria esse tal de Makoto o pai de Izumi? Será que sua mãe estava mentindo esse tempo todo? As meninas resolvem fazer uma investigação pra descobrirem quem é esse cara, custe o que custar, e Noora descobre que Makoto é na verdade Makotonomiya Toshihito, o solteirão mais cobiçado de todo o japão que faz parte da família imperial japonesa. Sim, o príncipe herdeiro na primeira linha de sucessão! Claro que ela confronta a mãe, que acaba assumindo que seu pai é mesmo o príncipe, o que, consequentemente, torna Izumi uma princesa! Como se todo esse rolo não tivesse ido de 0 a 100 muito rápido, o embaixador do Japão ainda aparece em sua casa com um convite para ela ir até o Japão conhecer seu pai, e Izumi topa na mesma hora embarcar nesse conto de fadas contemporâneo onde irá atravessar o mundo em busca de respostas e de um final feliz.

A história é bem divertida e dá pra ler em questão de poucas horas, de tão fluída. O livro traz várias referências da cultura pop e das tradições japonesas, e é como se o leitor estivesse fazendo uma tour por Tóquio, conhecendo de perto os detalhes da realeza.
Izumi é uma protagonista bem divertida, mesmo que ela entre em dilemas adolescentes que são bem bobos pra quem já passou dessa fase, mas que pra ela é motivo de surto e muito drama. Na maioria das vezes eu achei ela infantil demais pra idade, faz escolhas absurdas que a gente sabe que não vai dar certo só de imaginar, e nem acredita que ela realmente toma certos tipos de decisões, mas isso acaba sendo parte dessa jornada do amadurecimento que ela tinha que passar.

Obviamente as coisas não terminam num "felizes para sempre" assim que ela chega ao Japão, afinal, ser uma princesa não é só usar um vestido e uma coroa e sair dando tchau por aí com sua dama de companhia do lado, e as coisas pra ela só estavam começando. Até então ela era uma desconhecida, e agora tem uma nova família pra conhecer, incluindo primas insuportáveis que vão querer infernizar sua vida. A imprensa fica em sua cola querendo saber as novidades e fofocas e ela vira notícia, e Izumi ainda vai ter que aprender séculos de tradições e cultura, que entram em conflito com os costumes da época atual, num piscar de olhos. E como se isso já não fosse muita coisa pra sua cabeça, ela ainda precisa lidar com o fato de se sentir atraída pelo seu guarda-costas, o jovem Akio. Seu pai fez questão de colocar um guarda-costas mais jovem pra Izumi não se sentir desconfortável com um cara mais velho. Apesar de Akio se mostrar irritante no começo fazendo a gente pensar que lá vem o clichê do casal que começa brigando e termina aos beijos, ele é um fofo.

O romance não é o foco da história, até mesmo por ser um tipo de relacionamento que não se encaixa nos padrões tradicionais da realeza. Mas ainda assim, mesmo cientes de que não é algo adequado, as coisas vão evoluindo aos poucos de uma forma bem natural e nenhum dos dois conseguem resistir. Não dá pra negar que eles são almas gêmeas.

A forma como a autora foge de estereótipos representando os asiáticos é bem legal e não vemos essa representatividade amarela na maioria dos livros, pelo menos não da forma como este apresentou.

No mais, Uma Princesa em Tóquio não é um livro que fala apenas de amizade e respeito às tradições da família, mas sobre a busca de Izumi por sua identidade, sobre se encontrar e descobrir quem ela é e de onde veio de verdade. E, a partir de agora, fazendo parte da realeza, qual é o próximo passo? 

Blackout - Dhonielle Clayton, Tiffany D. Jackson, Nic Stone, Angie Thomas, Ashley Woodfolk e Nicola Yoon

15 de dezembro de 2021

Título:
 Blackou
t - O Amor Também Brilha no Escuro
Autoras: Dhonielle Clayton, Tiffany D. Jackson, Nic Stone, Angie Thomas, Ashley Woodfolk e Nicola Yoon
Editora: Seguinte
Gênero: Romance/Jovem adulto
Ano: 2021
Páginas: 272
Nota:★★★☆☆
Compre: Amazon
Sinopse: Uma onda de calor causa um apagão em Nova York. Multidões se formam nas ruas, o metrô para de funcionar e o trânsito fica congestionado. Conforme o sol se põe e a escuridão toma conta da cidade, seis jovens casais veem outro tipo de eletricidade surgir no ar… Um primeiro encontro ao acaso. Amigos de longa data. Ex-namorados ressentidos. Duas garotas feitas uma para a outra. Dois garotos escondidos sob máscaras. Um namoro repleto de dúvidas. Quando as luzes se apagam, os sentimentos se acendem. Relacionamentos se transformam, o amor desperta e novas possibilidades surgem ― até que a noite atinge seu ápice numa festa a céu aberto no Brooklyn.
Neste romance envolvente e apaixonante, composto de seis histórias interligadas, as aclamadas autoras Dhonielle Clayton, Tiffany D. Jackson, Nic Stone, Angie Thomas, Ashley Woodfolk e Nicola Yoon celebram o amor entre adolescentes negros e nos dão esperança mesmo quando já não há mais luz.

Resenha: Blackout é uma antologia de contos que falam sobre histórias de amor e autodescoberta, cheias de representações negras e LGBTQI+.
Era uma sexta-feira, Nova York estava passando por uma onda de calor insuportável e isso acaba causando um grande apagão na cidade. O metrô pára, o trânsito fica congestionado, e a multidão começa a tomar conta das ruas. Embora a cidade esteja no escuro, uma energia diferente vai começar a surgir entre esses casais...

O livro é dividido em seis contos, todos narrados em primeira pessoa, mas há um conto maior, "A Longa Caminhada", escrito pela autora Tiffany D. Jackson, que foi dividido em cinco atos pra intercalar os outros. Eu tive mais facilidade em juntar essas partes do primeiro conto para ler direto e os demais não interrompessem e nem atrapalhassem na fluidez.
Os contos funcionam como capítulos, eles tem o título, o nome da autora, o local e o horário onde os personagens estão enquanto estão enfrentando o apagão, e sempre há menção a uma festa onde conhecem alguém em comum que vai estar lá, ou estão tentando chegar lá. Por serem curtos, não há tanto aprofundamento nas histórias, mas sempre aparece aquela frase de efeito clichê (e algumas não fazem o menor sentido). Alguns tem informações suficientes, abordando bem a situação e a personalidade dos personagens, outras dão aquela sensação de quero mais porque foram construídos de uma forma que é impossível não sentir empatia e se apegar, outros nem tanto quanto eu gostaria.

A Longa Caminhada, traz os personagens Tammi Wright e Kareem Murphy. A história começa com Tammi indo para uma entrevista de estágio que ela queria muito fazer, mas ao chegar lá, se depara com Kareem, seu ex namorado de quem ela ainda guarda muitas mágoas, principalmente porque, aparentemente, ele tem outra namorada. Acontece que houve um erro no disparo de emails da empresa, a vaga era pra uma pessoa só, mas os dois foram chamados. Quando a responsável iria verificar o que houve pra ver de quem era a vaga, ocorre o apagão e eles são despachados pra voltarem na semana seguinte. Eles tentam chegar ao metrô no Central Park, Tammi quer pegar o metrô ir pra casa e Kareem precisa chegar a tempo em uma festa onde ele seria o DJ, os dois esperando que até lá a energia já tenha voltado. O problema é que Tammi não tem dinheiro pra chegar ao centro, e Kareem como está sem celular pra poder se comunicar com os outros pra avisar se está tudo bem ou não, precisa usar o telefone de Tammi, então um acaba ficando "dependente" do outro enquanto eles partem a pé no meio da confusão da cidade.

Esse é um conto que vai abordar como a falta de comunicação e interpretação são fatores prejudiciais para um relacionamento, assim como mostra que, mesmo que tarde, ainda é possível tentar reparar os erros se houver espaço para uma boa conversa, desde que alguém esteja disposto a ceder em vez de se achar dona da razão. Não gostei muito da Tammi porque ela me pareceu um tanto tóxica, irritante e imatura com a ideia de que suas suposições sem fundamento correspondem com a realidade, e as conversas dela com Kareem mostram muito bem isso, mas adorei o rapaz com seu amor por música, com seu jeito descolado e protetor, e como ele se preocupa com aqueles que quer bem.
Nota: ★★★☆☆

Sem Máscara, de Nic Stone, é o segundo conto escrito por Nic Stone, e aqui temos JJ Harding e Tremaine Wright que se conhecem desde a infância. O tempo foi passando, JJ começou a jogar basquete, andar com os caras descolados do time da escola e ficar rodeado de garotas bonitas, e Tremaine era aquele que sofria bullying com esses caras. Depois de muito tempo sem se verem, JJ, que no tempo presente estava no metrô, percebe que Tremaine entra no mesmo vagão onde ele estava, e é quando tudo se apaga, o metrô para e as pessoas ficam bem incomodadas estando presas no escuro e naquele calor infernal. JJ fica hesitante em ir falar com Tremaine, então ele começa a lembrar de quando se conheceram e de alguns eventos que ocorreram nesse período, incluindo um "baile de máscaras".

Aqui temos um conto sobre autoconhecimento e a descoberta sobre a bissexualidade. A autora também tenta abordar algumas discussões sociais importantes, como a amamentação em público, por exemplo, mas achei que não se encaixou muito bem quando essa visão veio de JJ, porque ele é aquele tipo de pessoa que não toma frente de nada, ele sempre fica em cima do muro e parece travar quando precisa agir, como se estivesse perdido. O conto em si é praticamente um relato de JJ se descobrindo como bissexual, qual foi o papel de Tremaine nisso e o que acontece nesse reencontro no metrô. Às vezes fiquei com a impressão de que JJ é um super covarde, mas, pensando melhor, pude perceber que na verdade ele representa muito bem as pessoas que ainda tem dificuldades de se assumir e também se sentem perdidas e muito confusas com seus sentimentos e novas experiências.
Nota: ★★★☆☆

Feitas para se encaixar, escrito por Ashley Woodfolk, começa com Nella Jackson apagando um pequeno incêndio causado por velas na Althea House, uma casa de repouso pra idosos onde seu avô Ike vive. Por causa do apagão na cidade, a tão falada Joss Williams, que frequenta a Althea House uma vez por semana com seu cão terapeuta Ziggy, foi chamada nessa sexta-feira em caráter de urgência pra auxiliar os idosos nessa escuridão. E é assim que Nella, depois de tanto ouvir seu avô falar dela, conhece Joss. A atração de Nella por Joss é praticamente instantânea, e a medida que elas recebem uma "missão" de procurar uma foto que o avô disse ter perdido pela casa, elas começam a se aproximar, começam a falar de experiências que já tiveram, e vemos o quanto elas combinam muito bem.

Não vou dizer que o conto é lésbico por envolver duas mulheres, até mesmo porque enquanto vemos Nella trocar mensagens com alguém que seria sua "ex não-namorada", Joss fala de uma experiência com alguém "não binárie e queer" (sim, aqui a gente vê o uso do pronome neutro pra se referir a esse relacionamento que Joss teve), mas se trata dessa aproximação e da química que elas claramente têm.
Eu gostei desse conto de forma geral pela forma como as meninas se conheceram e foram se envolvendo aos poucos, só não curti a estrutura dele pois acabou me soando confuso devido a forma como as coisas foram apresentadas (tanto que tive que ler duas vezes pra entender), além da quantidade de nomes de personagens secundários que, embora a gente saiba que seja dos moradores da casa, não fazemos ideia de quem são e o que fazem exatamente, com exceção de uns três deles. Parece que a autora vai jogando nomes e espera que o leitor adivinhe quem é quem.
Nota: ★★☆☆

Todas as grandes histórias de amor… e pó, de Dhonielle Clayton, é o terceiro conto do livro onde Lana Beauvais-Simmons e Tristán Nestrepo ficam presos numa biblioteca durante o apagão. Eles são melhores amigos desde a infância, e enquanto Tristán faz o estilo popular, dono de podcast e tal, Lana é mais reservada, mais dedicada aos estudos e está tentando arrumar um jeito de contar pra Tristán que o ama antes de sua viajem pra Paris, mesmo que ele seja bem festeiro e viva mostrando pra ela as mensagens e curtidas que ele recebe de várias garotas.

Antes de tudo, acho válido destacar que há várias notas de rodapé pra expor o pensamento "verdadeiro" de Lana acerca de algumas frases ditas no diálogo com Tristan, e eu confesso não ser nada fã desse recurso por motivo de "interrupção constante" que me faz perder o foco, então deixei pra ler tudo depois do conto.
Eu fiquei um pouco irritada com esse lance de Lana gostar de alguém que, a princípio, só a via como amiga, cheio de contatinhos e etc. É meio triste nutrir sentimentos por uma pessoa, ficar guardando isso pra si (as notas de rodapé mostram bem isso), e ainda ficar triste ou sem saber como agir porque essa pessoa vive a vida (já que ele não tem como adivinhar os pensamentos da outra), e como os dois sempre fazem apostas pra qualquer coisa como forma de brincadeira, essa foi a forma de Lana por tudo pra fora. Mas posso dizer que eu adorei esse conto, amei a forma sensível como foi muito bem escrito, com todos os detalhes poéticos, e ainda com uma biblioteca como pano de fundo.
Nota: ★★★★☆

Sem dormir até o Brooklyn, de Angie Thomas, se passa num ônibus de turismo que estava levando uma turma de alunos numa excursão e fica parado no trânsito por causa do apagão. Kayla namora Tre’Shawn, mas tem uma queda por Micah, e alí, no meio dos dois, ela acaba tendo uma epifania depois de bater um papo no escuro com o motorista do ônibus.

Essa é uma história de um "não-triangulo-amoroso" (?). Isso porque o interesse de Kayla por Micah é recíproco, mas não há traição "física". Kayla sabe o quanto é escroto ficar se derretendo por outro cara enquanto namora com Tre, mas ela não consegue controlar esse impulso. E essa confusão toda pra que? Pra gente chegar a conclusão que é um conto sobre autodescoberta e amor próprio. Mesmo que a autora escreva bem e de uma forma bem fluída, achei essa "jornada" de autodescoberta um tanto mal executada.
Nota: ★★☆☆☆

Seymour & Grace, escrito por Nicola Yoon, encerra a antologia trazendo a história de Seymor, um motorista de aplicativo, e Grace, uma passageira jamaicana que está há dois anos em Nova York estudando. Grace está tentando chegar na famigerada festa de que todos falam nos contos anteriores para encontrar com a amiga e tentar reatar com seu ex namorado que também está lá, mas o congestionamento por causa do apagão não está facilitando as coisas. Ouvir o motorista escutando um podcast filosófico sobre a parábola do Navio de Teseu não está ajudando muito, mas o que ela não imaginava era que no final isso faria muito sentido. O clima está meio desconfortável entre os dois, Seymor parece não ter muita noção, a gasolina do carro acaba no meio do caminho, e ele se oferece para acompanhar Grace até a festa a pé. Ela fica um tanto resistente no início, mas acaba aceitando, e eles vão conversando e se conhecendo um pouco mais durante o caminho.

Esse conto foi o melhor pra mim. Ele intercala os pontos de vista de Seymor e de Grace, então podemos saber o que se passa na cabeça de cada um durante esse momento que eles passam juntos, e é impossível não se encantar por toda a simplicidade de Seymor, ou admirar Grace por ser uma jovem tão decidida. A história se concentra e traz reflexões sobre o senso de identidade, sobre as mudanças pelas quais passamos com o tempo, e sobre como essas mudanças interferem no convívio e nos relacionamentos. Grace percebe que o motorista de aplicativo está longe de ser só mais um cara sem noção, e a conexão que surgiu alí mostra que quando suas pessoas são capazes de se enxergar além das aparências, não se deve ignorar a oportunidade de se conhecerem melhor.
Nota: ★★★★★

Enfim, Blackout pra mim foi um livro mediano, que abordou as temáticas escolhidas na maioria das vezes de uma forma um tanto pobre e com termos que ainda não entendi, como por exemplo,"amor negro". Qual a diferença desse amor para os outros amores quando nada nos contos fez alguma referência ou criou situações que explicassem isso melhor? Acho que as vezes não basta somente a representatividade de cor ou gênero, pois se um livro é escrito com um propósito que nao serve pra nada, principalmente quando a mesma história pode ser contada com qualquer outro personagem no lugar dos que estão ali sem que haja diferença, a sensação final é de perda de tempo. Senti falta de situações que tivessem algum impacto maior pra justificar toda a propaganda, que me envolvesse e realmente me ensinasse algo que ainda não sei, mas não foi o caso.

Malibu Renasce - Taylor Jenkins Reid

10 de dezembro de 2021

Título: Malibu Renasce
Autora: Taylor Jenkins Reid
Editora: Paralela
Gênero: Romance/Drama
Ano: 2021
Páginas: 360
Nota:★★★★☆
Compre: Amazon
Sinopse: Malibu, agosto de 1983. É o dia da festa anual de Nina Riva, e todos anseiam pelo cair da noite e por toda a emoção que ela promete trazer.
A pessoa menos interessada no evento é Nina, que nunca gostou de ser o centro das atenções e acabou de ter o fim do relacionamento com um tenista profissional totalmente explorado pela mídia. Talvez Hud também esteja tenso, pois precisa admitir para o irmão algo que tem mantido em segredo por tempo demais, e parece que esse é o momento. Jay está contando os minutos, pois não vê a hora de encontrar uma menina que não sai de sua cabeça. E Kit também tem seus segredos ― e convidado ― especiais.
Até a meia-noite, a festa estará completamente fora de controle. O álcool vai fluir, a música vai tocar e segredos acumulados ao longo de gerações vão voltar para assombrar todos ― até as primeiras horas do dia, quando a primeira faísca surgir e a mansão Riva for totalmente consumida pelas chamas.

Resenha: Nina, Jay, Hud e Kit são os quatro filhos do astro da música Mick Riva (quem leu Os Sete Maridos de Evelyn Hugo e lembra dele?). Todos os anos, os irmãos Riva organizam uma festa que se tornou famosa em toda Malibu. Mas, fatalmente essa festa de 1983 estará fora de controle num determinado momento, resultando na mansão sendo consumida pelas chamas. Até esse momento, os quatro precisarão lidar com os próprios segredos e conflitos, ao longo de uma noite capaz de mudar suas vidas para sempre.

Dividido entre passado e presente, o livro é narrado de uma forma super envolvente, mesclando humor, tensão, suspense e muito drama. Os personagens são apresentados através de seus pontos de vista, e, aos cacos, tentam se reencontrar em meio a um cenário natural e paradisíaco de Malibu. Esse cenário acaba preenchendo a história como se fosse um personagem a parte. O presente é o momento da famigerada festa em si e suas 12 horas de duração, detalhando a relação entre os familiares e seus convidados, enquanto o passado retrata a história dos Riva lá em 1956, sobre a origem e a infância dos irmãos. Assim como a maioria dos livros da autora, este não traz reviravoltas e grandes surpresas pra chocar o leitor, mas sim momentos verdadeiros sobre situações tristes vivenciadas pelas personagens, e que, de alguma forma, poderiam ser vividas por qualquer pessoa como você ou eu.

Sabe quando um autor entra no seu top 10 de autores preferidos? Pois então... Os livros da Reid não trazem meras histórias, trazem AS HISTÓRIAS. Histórias com uma carga emocional e dramática bastante intensa, histórias que falam sobre assuntos que qualquer um pode passar e se sentir representado, e no caso de Malibu Renasce, uma história que fala sobre os erros cometidos quando se tenta acertar, sobre perdas, sobre a família e o fardo que ela nos faz carregar, sobre responsabilidade, abandono, culpa, medo...

De forma geral, Malibu Renasce, mantendo o "padrão TJR" de qualidade, traz uma história bem construída, com temas relevantes e carga emocional suficiente pra, talvez, arrancar algumas lágrimas nos leitores. Super recomendo.

PS.: Ao que tudo indica, o livro será adaptado para uma série na TV e já estou ansiosa pra ver personagens tão marcantes na telinha.