Mostrando postagens com marcador Clássico. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Clássico. Mostrar todas as postagens

Admirável Mundo Novo - Edição em Quadrinhos - Aldous Huxley

17 de novembro de 2023

Título: Admirável Mundo Novo
Autor: Aldous Huxley
Ilustrações: Fred Fordham
Editora: Quadrinhos na Cia
Gênero: Graphic Novel/Romance/Distopia/Clássico
Ano: 2023
Páginas: 240
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Publicado originalmente em 1932, o clássico de Aldous Huxley é uma obra incontornável, olhar agudo e profético acerca do autoritarismo e reflexão poderosa sobre temas como hedonismo e controle, humanidade e tecnologia.
Na Londres de 2540, para tentar pôr fim às guerras que ameaçavam destruir a espécie humana, um governo totalitário mundial impõe o mais completo controle sobre a reprodução: pais e mães são extintos, bebês passam a ser criados em laboratório. Num mundo dividido em castas, o psicólogo Bernard Marx sente-se inadequado quando se compara aos outros seres de seu grupo. Ao descobrir uma “reserva histórica” que preserva costumes de uma sociedade anterior – muito semelhante à nossa –, Bernard vai desafiar a ordem vigente.
Adaptada e ilustrada pelo quadrinista britânico Fred Fordham, e dialogando com uma rica tradição visual de histórias de ficção científica, esta graphic novel é capaz de magnetizar os fãs da obra-prima de Huxley e servir de porta de entrada para uma nova geração de leitores.

Resenha: Admirável Mundo Novo foi publicado originalmente na década de 30 pelo escritor inglês Aldous Huxley. O livro é um clássico que já foi publicado em vários países e traduzido para diversos idiomas. A obra ganhou uma adaptação em quadrinhos que foi publicada pelo selo Quadrinhos da Cia, da Companhia das Letras, no Brasil.

A trama se passa em Londres no ano de 2540 e, para tentar pôr fim às guerras que ameaçavam destruir a espécie humana, um governo totalitário mundial impõe o mais completo controle sobre a reprodução da população: pais e mães são extintos, e os bebês passam a ser criados num enorme e moderno laboratório. A sociedade foi condicionada e estruturada tendo como base a conformidade, onde aceitam tudo que lhes são impostos, incluindo a ideia de que todo mundo pertence a todo mundo. Eles foram ensinados desde bebês desempenhar papéis na sociedade de forma a ignorar qualquer conhecimento que trouxesse sabedoria e pudesse fazer com que questionassem o sistema, além de prezarem pelo prazer e bem estar sensorial através de uma droga chamada "soma". O mundo foi dividido em castas e o psicólogo Bernard Marx, um alfa (a casta superior), sente-se inadequado e não se conforma quando se compara aos outros seres de seu grupo, e caso questione, será punido. Ao descobrir uma reserva selvagem localizada numa área que o Estado não controla e que preserva costumes "primitivos" de uma sociedade anterior, Bernard vai desafiar a ordem vigente. A viagem seria uma forma dele tentar fugir do controle e das restrições impostas pelo sistema, assim como encontrar um propósito de vida.

Bernard e Lenina Crowne, uma beta (a casta abaixo dos alfa) conformada que se submete ao controle do sistema, viajam juntos para a reserva, e lá eles encontram um grupo de pessoas que não foram condicionadas, incluindo Linda e seu filho biológico John. Diferentemente das pessoas da cidade e até de sua própria comunidade, John trem um senso crítico diferenciado, cresceu tendo acesso a vários livros e aprendeu sobre filosofia, individualidade e ~liberdade~.
Quando Bernard e Lenina decidem levar John de volta ao mundo civilizado com intenção de que ele talvez pudesse apontar as falhas do sistema, as coisas começam a sair fora de controle. John não consegue se adaptar e passa a viver um inferno quando se torna uma "aberração" e objeto da curiosidade alheia.


As ilustrações de Fred Fordham detalham bastante, através das expressões dos personagens, o quanto eles estão absortos nesse universo, seja quando demonstram obediência, apatia ou satisfação diante de alguém ou alguma situação habitual. O estilo cyberpunk dá todo aquele ar futurístico ao cenário e combina bastante com a proposta.
O livro retrata o uso de drogas como um "vício agradável" para tornar as pessoas sempre felizes e despreocupadas, há orgias e nudez, mas nunca de forma explícita. Inclusive os ângulos frontais, o posicionamento dos personagens e até os balões de diálogos acabam escondendo as partes e apenas sugerem a nudez.

Não sei se o fato do livro ter sido adaptado interferiu na fluidez da obra, mas senti que a história estava fragmentada, como se faltasse maiores explicações para determinadas situações. Mas não nego que a história seja impactante, principalmente pelo teor profético relacionado ao autoritarismo, tecnologia e controle da sociedade visando um tipo de utopia absurda que o autor criou.
"Este é o segredo da felicidade e virtude - amar o que se é obrigado a fazer."
Pág. 18
É interessante como o autor cria uma sociedade livre de dor e sofrimento, da falta de propósito e da proibição de se ter ambições de vida, e de como a busca por essa felicidade sintética é algo tão fútil quanto inútil. Se trata de uma sociedade perfeita, onde as pessoas são obrigadas a serem felizes enquanto são oprimidas, onde o direito da escolha não existe, onde elas sequer podem passar pela experiência de serem infelizes como consequência dessas decisões. E nesse contexto de falta de liberdade, falta de autenticidade e falta de autonomia, o que resta é questionarmos se vale a pena pagar esse preço.
As críticas de Huxley são bastante relevantes quando mostram que o avanço da tecnologia e da engenharia genética são capazes de criar propositalmente pessoas com o QI baixo para realizarem as tarefas básicas na sociedade sem questionar, sem intenção de crescer progredir, e sendo sempre felizes ao desempenharem as mais ridículas funções. O autor também aborda as questões sexuais como algo essencial para a felicidade dos indivíduos, mas a monogamia é condenada e as pessoas são incentivadas a sempre buscarem o máximo de parceiros diferentes sem se envolverem emocionalmente. Achei um tanto exagerado, mas entendi a significância dessas situações no contexto da história e porque as pessoas acham isso normal visto que foram programadas para isso desde que se entendem por gente.
Como tudo é sempre muito superficial, as experiências são passageiras, tudo é descartável e nada precisa fazer sentido. Pra que consertar algo se podemos jogar fora e comprar um novo?



No mais, apesar de eu não ter lido a obra original, captei a ideia tenebrosa dessa distopia que torna os indivíduos seres impessoais, desprovidos de senso crítico e sempre pressionados a se conformar com tudo aquilo que lhes são impostos. Não acho que algo do tipo tenha qualquer chance de se tornar realidade no futuro, mesmo que se passem milênios, mas é o tipo de história que faz o leitor refletir sobre a sociedade, sobre a importância da individualidade, do poder da escolha, e sobre a obsessão (muitas vezes vazia) pelo prazer.


Inferno - Dante Alighieri

30 de dezembro de 2021

Título:
Inferno - Comédia #1
Autor: Dante Alighieri
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Clássico/Romance/Ficção
Ano: 2021
Páginas: 560
Nota:★★★★★
Compre: Amazon
Sinopse: Primeira parte da Comédia de Dante, Inferno é uma viagem às profundezas, para onde foram condenados os que não agiram de acordo com a ética cristã. O poeta romano Virgílio será o responsável por guiar Dante nesse trajeto.
Contando a história de uma alma cristã que parte da consciência do pecado (Inferno), passa pela purificação interior (Purgatório) e chega à visão de Deus (Paraíso), Dante dialoga com as tradições da poesia clássica greco-latina, dos textos bíblicos e até do pensamento árabe ― em uma obra de tal força que ainda hoje mantém o seu vigor literário e nos convoca a relê-la.

Resenha: Existem livros que marcam época e se tornam atemporais, e por esse motivo acabam se tornando clássicos da literatura. E se podemos falar de um poema épico que se tornou um clássico, e séculos depois, apesar de diversas interpretações e traduções ainda se mantém detentor de uma fagulha lírica e emocionante, esse poema é a Comédia do autor italiano Dante Alighieri, que recentemente recebeu uma nova e belíssima tradução e edição pela Companhia das Letras.
Comédia será relançada em três partes, e a primeira delas é Inferno.

 Acompanhamos Dante, que aqui além de autor é o próprio personagem (Dante gosta de fazer isso em seus trabalhos e esse, sem dúvida, é o mais pessoal). Em uma jornada onde busca se purificar dos pecados e ascender aos maiores ideais cristãos, ele usará a poesia para fazer críticas à sociedade da roça, a personagens famosos e principalmente aqueles que ele julga terem se entregado aos pecados e abandonado todos aqueles que contavam com eles. Ele é um andarilho e de tal forma, diante de um lugar perigoso e animalesco ele tem ao seu lado como guia o poeta Virgílio, por quem sempre teve admiração.

Dante passa pelos 9 círculos Infernais, cada um deles dedicados a um tipo específico de punição e contendo pecadores muitas vezes famosos, estes que ao longo da jornada ele encontra tanto de sua época (Florentinos famosos) como personagem clássicos. Como cada círculo do inferno é baseado nos pecados capitais e às crenças cristãs, fica o alerta para o tema.

A jornada de Dante é poesia, mas também critica, é uma jornada onde ele caminha guiado pelo pensamento racional, mas almejando um crescimento espiritual. Para a leitura ser mais agradável, é aconselhável já ter em mente que foi escrito séculos atrás, com bases morais que atualmente podem sequer mais serem aceitas como corretas, porém, ainda permanece sendo uma leitura inteligente e fascinante. Provavelmente não seria um conteúdo indicado para um iniciante no mundo lírico da poesia, mas indicado para quem já está familiarizado com o estilo de escrita e que gosta desse jogo de palavras que são expressões artísticas.

A obra é bilíngue, com tradução para o português lado a lado com a "original" em italiano 
O projeto gráfico é soberbo, todos os tons da paleta escolhida e gravuras pelo artista estão incríveis.
Comédia é composta por 14.233 versos que são divididos em três canções: Inferno, Purgatório e Paraíso, e cada canção tem 33 cantos.

Um ótimo livro clássico em edição de luxo e para colecionadores, também tem uma excelente tradução e texto apoio. Essa nova edição de Inferno entrega à nova geração um texto poderoso e que merece ser lido. Já quero as próximas duas partes!

Ada ou Ardor - Vladimir Nabokov

4 de novembro de 2021

Título: Ada ou Ardor
Autor: Vladimir Nabokov
Editora: Alfaguara
Gênero: Romance/Clássico
Ano: 2021
Páginas: 608
Nota:★★★☆☆
Compre: Amazon
Sinopse: Ada ou ardor reconta a duradoura relação de amor entre dois primos, Ada e Van, desde o primeiro encontro na Mansão de Ardis, em uma “América de sonho”, e ao longo de oitenta anos de arrebatamento, viagens através de continentes, separações e recomeços.
Ao narrar essa história trágica e idílica, Nabokov reinventa a própria vida. Não estamos mais na Terra, mas na Antiterra, uma espécie de espelho distorcido de nossa realidade. No mundo nabokoviano, entre outras coisas, fala-se russo nos Estados Unidos, e os telefones são movidos a água, depois de o uso da eletricidade ter sido proibido. Nessa realidade recriada, Nabokov mescla uma série de referências e estilos para narrar uma história de amor interdita, emocional, que foge a todos os padrões convencionais.

Resenha: Tendo "Lolita", de 1955, como seu romance mais conhecido, dá pra ser ter uma boa ideia dos temas que Vladimir Nabokov costuma abordar, e Ada ou Ardor, publicado originalmente em 1969 é um romance tão complexo quando ambicioso, pois além de trazer uma história que se passa na "Antiterra", uma espécie de realidade distorcida do mundo em que vivemos, Nabokov nos apresenta um romance fora dos padrões onde fica explícito tanto o incesto quanto a pedofilia.

Ao iniciar a leitura já nos deparamos com as gêmeas Marina e Aqua, que logo irão se casar com seus primos Demon e Daniel. Também no início já sabemos que entre paixões e traições dessas famílias aristocráticas do século XIX, o parentesco dos seus filhos acaba desencadeando a famigerada polêmica que gira em torno do tema do livro e da árvore genealógica da família (que está incluída nessa edição e recomendo muito que seja conferida para um melhor entendimento das relações). A história, então, vai girar em torno dos filhos desses relacionamentos: Adelaida (ou Ada) e sua irmã Lucette, e Ivan Veen (ou Van), o "primo" delas. O romance começa quando eles ainda são crianças, Van tinha 14 anos e Ada tinha 12, e com o passar do tempo essa paixão avassaladora e irresponsável, que inclusive envolve Lucette e outras pessoas, caminha para um desfecho trágico. Ada é apresentada através das memórias do Dr. Ivan Veen, que faz uma narrativa sobre seu amor ilícito e que durou toda sua vida por ela.

A construção do universo onde a história se passa no período de 1868 a 1967 é bastante interessante e curiosa. A Antiterra é bem semelhante à Terra, porém há uma enorme mistura geopolítica onde os idiomas russo, francês e inglês são falados ao mesmo tempo, assim como parece não haver distância entre um lugar e outro visto que os personagens transitam pra lá e pra cá com um passo, e o tempo está em total falta de sincronia. Um evento denominado de "desastre L" foi o responsável pela proibição da eletricidade, logo foi desenvolvido mecanismos hidráulicos para substituir a energia.

A narrativa se alterna em primeira e em terceira pessoa, floreada e muito rica ao retratar as décadas, típica de literatura clássica, com descrições minuciosas, metáforas, anagramas, trocadilhos, jogos de palavras e comparações sem a explicação pra determinada situação do que realmente é. A história é contada simultaneamente em vários períodos de tempo, com um Van idoso contando sobre os vários períodos de tempo do passado, e às vezes na primeira pessoa, enquanto a Van e Ada do "presente" discutem a narrativa do passado onde ambos são referidos em terceira pessoa. O autor também traz referências e citações de outros escritores clássicos, mas o que fica explícito mesmo é a carga de perversão e imoralidade na história. É impossível ler sem sentir o estômago revirando diante do comportamento de Val que nos dias de hoje ainda representa tanto homem por aí, seja pela visão da mulher como um mero objeto, pelo abuso infantil, assédio, ou pela ideia de se sentirem superiores e donos de alguém só por serem homens.

Não sou muito de ler obras clássicas já que uma boa parte delas aborda temas polêmicos e delicados, mas as vezes acho válido investir em leituras que passam dos limites pra servir como aprendizado.
Ada ou Ardor é aquele tipo de livro que causa incômodo, sim, mas também é um livro que fala sobre memórias, tempo, sobre amor e paixões do passado e do presente que ignoram o futuro.

1984 - George Orwell (Edição Especial)

14 de janeiro de 2020

Título: 1984 (Edição Especial)
Autor: George Orwell
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Distopia/Romance/Clássico
Ano: 2019
Páginas: 544
Nota: ★★★★★
Sinopse: "1984" não é apenas mais um livro sobre política, mas uma metáfora do mundo que estamos inexoravelmente construindo. Invasão de privacidade, avanços tecnológicos que propiciam o controle total dos indivíduos, destruição ou manipulação da memória histórica dos povos e guerras para assegurar a paz já fazem parte da realidade. Se essa realidade caminhar para o cenário antevisto em 1984 , o indivíduo não terá qualquer defesa. Aí reside a importância de se ler Orwell, porque seus escritos são capazes de alertar as gerações presentes e futuras do perigo que correm e de mobilizá-las pela humanização do mundo.

Resenha: No final de 2019 a Companhia das Letras lançou a edição especial de "1984"em comemoração aos setenta anos desde a primeira publicação. Mesmo tendo sido publicada em 1949, pouco antes da morte do autor, George Orwell, a obra continua sendo muito influente devido a crítica explícita ao totalitarismo e não deixa de ser um tipo de protesto contra os estratagemas do governo.


O mundo foi dividido em três superpotências que estão em guerra entre si desde sempre: Oceânia, Lestásia e Eurásia. A história se passa no ano de 1984, em Oceânia, uma sociedade estática, rígida e controlada pelo "Partido", cujo líder é um ditador "invisível", mas amado, reverenciado, idolatrado, nunca contradito e que, além de ser considerado um grande salvador, sempre está de olho você: O "Grande Irmão" (ou Big Brother).
É uma sociedade onde tudo é feito coletivamente mas, ao mesmo tempo, todos estão sozinhos, pois medo é um sentimento que domina a população, constantemente vigiada e controlada pelo Partido, seja no que diz respeito ao que vestem, ao que comem, ao que fazem e até mesmo ao que pensam. O Partido dita suas vidas, todos devem obedecer, e, se, porventura, alguém se opor, sofrerá todas as consequências possíveis e inimagináveis.

"Novafala" é a língua do país, que irá substituir a "Velhafala" até 2050. É uma linguagem desenvolvida para que as pessoas, em hipótese alguma, possam se opor ao Partido, e tudo seja direcionado a uma coisa só, a fim de extinguir opiniões diversas ou contraditórias sobre o governo, distorcer e canalizar o pensamento em uma única direção: a palavra absoluta e verdadeira do Grande Irmão.
O "duplipensamento" é um exemplo, e é definido como "o poder de sustentar duas crenças contraditórias na mente simultaneamente, aceitando as duas." 2+2 nem sempre resultará em 4 pois isso depende do que o sujeito acredita, ou no que alguém o levou a acreditar.
"Guerra é paz
Liberdade é escravidão
Ignorância é força"
- pág. 57
Através das "teletelas", as pessoas assistem paralisadas a um programa, "Dois Minutos de Ódio", patrocinado pelo Grande Irmão, cuja única finalidade é odiar e condenar tudo e todos que ousarem se opor ao Partido. Até as crianças agem como "fiscais", e aprendem a vigiar e entregar os próprios pais ao menor indício de comportamento suspeito ou inadequado que demonstrem.


Neste cenário aterrorizante, somos apresentados a Winston Smith, um homem beirando a meia idade, infeliz e medíocre, que trabalha em um dos Ministérios criados, o "Ministério da Verdade" (ou seria da Mentira?) e é responsável por manipular notícias, apagando verdades ou criando mentiras a favor da conveniência do Partido. Quem determina o que é verdade, ou não, é o Grande Irmão e ninguém mais... Mas Winston está cansado de se submeter a tudo isso, não concorda mais com toda essa ditadura e só quer ser um homem livre...
Eis que surge Julia, uma mulher de espírito livre, jovem e rebelde que não tem o menor interesse ou respeito pela política, vive desafiando o sistema e quebrando regras, mas que nunca foi descoberta, caso contrário já teria se tornado uma "despessoa" (alguém "apagado" da existência para que não haja nenhuma evidência relacionada a oposição, e consequentemente, algo que poderia comprometer os ideais do Partido se fosse à tona)... Winston se arrisca num romance proibido, e até criminoso, quando se depara e se deixa envolver intimamente com alguém bem diferente de sua ex esposa, que tem coragem para pensar e fazer tudo o que ele nunca teve, mesmo que escondido... Julia, de certa forma, representa a coragem, a alegria e a vida que Winston sempre sonhou, mas que nunca teria...
Outros Ministérios, como o Ministério do Amor, responsável por condenar e reprimir desejos ou aproximações mais íntimas, o Ministério da Paz, que tem controle sobre a guerra sem fim e a administra, e até o Ministério da Fartura, responsável pelo controle da alimentação da população, distribuindo as rações necessárias para a sobrevivência, são "departamentos" desse governo totalitário e opressor.

É difícil falar sobre a obra de forma resumida devido aos incontáveis elementos que ela possui. É necessário ler para que tudo seja entendido, absorvido e apreciado, e, por mais que seja chocante, intragável e inaceitável, é algo necessário para abrir os olhos de muitos que vivem estagnados, influenciados pelo que vêem, e entorpecidos, ou até enganados, por palavras fáceis, mas que nem sempre são compreendidas em sua totalidade...


Essa edição em particular está um espetáculo de linda. Além da capa dura e texturizada que parece ser um tipo de tecido, ainda conta com ilustrações que compõe um belíssimo ensaio visual de Regina Silveira, uma apresentação bastante esclarecedora da obra escrita por Marcelo Pen, vários modelos de capas (em cores) de diversas edições do livro que já foram publicados em diversos países nesses setenta anos, e algumas análises cirúrgicas feitas por alguns críticos da literatura, escritores, mestres e filósofos de renome.

1984 traz uma história pesada, cruel, complexa e perturbadora, e é capaz de fazer o leitor refletir acerca do poder totalitário e da manipulação a qual a sociedade está sujeita, mesmo que de forma inconsciente. O que vemos na TV é a realidade, ou o que querem nos impor como verdade? Somos cidadãos livres, ou estamos sob vigilância constante? Estamos acordando e fazendo algum progresso através de manifestações, ou o Estado se alimenta da ignorância do povo com propósito de deter e manter o poder?
É a imagem do autor para um futuro trágico, que mesmo ultrapassado há quase 30 anos, ainda é claramente perceptível nos dias de hoje aos olhos dos mais atenciosos...

A leitura dessa obra é indispensável, e para o velho e bom colecionador literário, essa edição é obrigatória.

Heidi, a Menina dos Alpes #1 - Johanna Spyri

9 de junho de 2017

Título: Heidi, a Menina dos Alpes #1 - Tempo de Viajar e Aprender
Autora: Johanna Spyri
Editora: Autêntica
Gênero: Infantil
Ano: 2017
Páginas: 160
Nota:★★★★★
Sinopse: Heidi, órfã desde muito pequena, mora numa cidadezinha da Suíça com sua tia Dete. Quando recebe uma excelente proposta de trabalho em Frankfurt, na Alemanha, a tia decide entregar a menina, agora com 6 anos, ao avô, um velho zangado com o mundo, rabugento, que vive isolado no alto de uma montanha dos Alpes suíços. Ao chegar ao novo lar, Heidi logo se apaixona pelas maravilhosas paisagens, pelas flores e pelos animais dos vales e das montanhas, além de ganhar um novo amigo, Pedro das Cabras, um menino pastor. Com o passar do tempo, a menina conquista os moradores do vilarejo e, principalmente, o coração do avô, mostrando-lhe que é possível ser feliz e reencontrar a paz. Mas essa felicidade desaparece quando tia Dete volta para levá-la para Frankfurt. Escrito em 1880, Heidi, a menina dos Alpes mostra o contraste entre a vida selvagem e livre nas montanhas, com seus valores simples e essenciais, e a vida na cidade grande, com costumes, regras e valores muito diferentes. A narrativa acompanha o crescimento e as aprendizagens de Heidi, e, sem perder de vista os 136 anos que separam nossa vida hoje, no século XXI, da vida dos personagens, é uma fonte de descobertas e reflexões importantes para todos nós.

Resenha: Escrito em 1880 pela escritora Johanna Spyri, Heidi já teve adaptações cinematográficas além de ter rendido vários desenhos animados ao longo dos anos.
A obra foi dividida em dois volumes, sendo este o primeiro, e faz parte da coleção Clássicos da Editora Autêntica, que irá resgatar vários títulos da literatura clássica.

Heide é uma garotinha que perdeu os pais e passou a viver com sua tia Dete. Porém, com a crise, Dete estava com grandes dificuldades para sustentar a menina e, aproveitando a ótima oportunidade que lhe apareceu de trabalhar em Frankfurt, na Alemanha, ela decide levar Heidi, que já completou seis anos, para morar com o avô que vive no alto de uma montanha nos Alpes suíços enquanto melhora sua condição financeira.
O avô de Heidi é um pastor de cabras, isolado no alto da montanha, muito rabugento, temido pelos moradores e, até então, um desconhecido para a garotinha. Mas isso não impediu que Heidi, muito curiosa e amável, fizesse de tudo para se aproximar do avô e quebrar o gelo em seu coração.

Narrado em terceira pessoa, a obra dá uma enorme lição sobre amor ao próximo através de uma garotinha adorável, curiosa, ingênua e que consegue enxergar a beleza onde muitos só enxergam a negatividade, além de encontrar a felicidade nas pequenas coisas a sua volta. Sua vida com o avô não começou muito fácil, mas nem ele, com toda a sua amargura, conseguiu resistir aos encantos e a pureza de Heidi a ponto de todos começarem a perceber as mudanças positivas que a menina estava causando em sua vida. Ele não consegue mais ficar longe dela e da alegria que ela espalha por onde passa.

E neste cenário frio, porém deslumbrante, descrito com detalhes que proporcionam uma verdadeira viagem ao leitor, vamos acompanhando o crescimento da menina, seus aprendizados e suas descobertas em meio a vida livre, rodeada por flores, animais fofos e amigos.
Como a obra é voltada ao público infantil, a linguagem é fácil mas também dá enfoque em pontos acerca da cultura e dos costumes da época, o que preserva o tom clássico da narrativa além de evidenciar o contraste com a época atual.

A parte gráfica foi projetada de maneira bastante delicada e que lembra a aparência de um livro clássico e antigo, principalmente pela capa simplista e pelas ilustrações originais e em preto e branco de Jessie Willcox Smith, cujos traços são bastante suaves e dão um toque vintage às páginas.

Embora o livro seja infantil, a leitura tem suas reviravoltas e é válida para leitores de todas as idades. A mensagem muito bonita que a história passa sobre amor, respeito às diferenças e até milagres pode ser levada para a vida.


Frankenstein - Mary Shelley

24 de junho de 2016

Título: Frankenstein ou o Prometeu moderno
Autora: Mary Shelley
Editora: Penguin/Companhia das Letras
Gênero: Clássico
Ano: 2015
Páginas: 424
Nota: ★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: O arrepiante romance gótico de Mary Shelley foi concebido quando a autora tinha apenas dezoito anos. A história, que se tornaria a mais célebre ficção de horror, continua sendo uma incursão devastadora pelos limites da invenção humana. Obcecado pela criação da vida, Victor Frankenstein saqueia cemitérios em busca de materiais para construir um novo ser. Mas, quando ganha vida, a estranha criatura é rejeitada por Frankenstein e lança-se com afinco à destruição de seu criador. Este volume inclui todas as revisões feitas por Mary Shelley, uma introdução da autora e textos críticos de Percy B. Shelley e Ruy Castro. Há ainda um apêndice com textos de Lorde Byron e do dr. John Polidori.
Resenha: A Editora Companhia das Letras, através do selo Penguin, trouxe aos leitores uma edição inesperada de um clássico da Literatura Inglesa. Com uma introdução de quase 60 páginas, conhecemos um pouco mais da jovem autora, sua vida, motivação e inspiração para escrever sobre essa história que se tornou um ícone mundial.
Mary Shelley escreveu a obra enquanto viva com seu marido nos Alpes franceses e sofreu as consequências de ver seu personagem se tornar mais famoso que ela própria ainda que, pela época, a obra tenha recebido diversas e pesadas críticas, principalmente por Mary ser uma escritora mulher.
Temos aqui uma rica história atemporal que relata a vida de Victor Frankenstein, filho de um abastado homem que dedicou a vida às questões nacionais e de Caroline Beaufort, filha de um amigo íntimo de seu pai e mercador que caiu em pobreza extrema.

Proveniente de uma família completamente feliz, Victor era extremamente inteligente e um apaixonado pelas ciências naturais, metafísica e pelos mistérios do céu de da terra. Depois de muito tempo dedicado aos estudos e pesquisas, inclusive no que tange à busca pela pedra filosofal e o elixir da vida, Victor obstinou-se a tentar banir a doença do corpo humano e tornar o homem um ser invulnerável a todo mal que não fosse a morte violenta.

Esse desejo se tornou uma obsessão ainda maior após a morte de sua mãe e sua ida à faculdade. Depois de muito estudo e completo afastamento de casa, Victor se dedicou à fisiologia e ao estudo da deterioração do corpo humano, passando dias em câmaras mortuárias e necrotérios. Até que ele logrou êxito em descobrir a causa da geração da vida, tornando-se capaz de reanimar matéria morta.
"Quem poderá conceber os horrores de minha labuta secreta, a resolver o pântano profanado das sepulturas ou torturar um animal vivo pela possibilidade de reanimar o barro sem vida? (...) Coletava ossos de casas mortuárias e, com dedos profanos, perturbava os mistérios mais assombrosos do corpo humano. Numa sala solitária, ou melhor, numa cela, no sótão da casa, isolado de todos os outros aposentos por um corredor e uma escada, mantinha minha oficina de criações imundas." 
- Pág. 127
Após dois anos de tanto empenho e isolamento, Victor obteve sucesso e a criatura estava pronta para receber a fagulha de existência. Contudo, agora que sua criatura existia e estava viva, o horror e a repulsa o dominaram, sem conseguir suportar a aparência do que criara, Victor correu para muito longe, assustado com a aberração a que fora capaz de conceber, e à partir daí começa a coletar as consequências de brincar de Deus.

Mary Shelley foi minha introdução nos Clássicos da Literatura Estrangeira. Escolhi Frankenstein para começar a sair um pouco da zona de conforto e por achar ser um clássico com um quê de ficção científica. Para minha surpresa o livro se mostrou muito mais profundo e filosófico que isso.

A narrativa é fluída, ainda que com uma linguagem não coloquial e com grandes expressões que transmitem o mesmo significado que apenas uma palavra cumpriria bem o papel. Confesso que foi uma leitura extremamente difícil e demorada uma vez que exigiu uma atenção absurda. As pausas são necessárias, assim como leituras paralelas.

O início é excessivamente lento, mais arrastado, ainda por conta de relatos epistolares do Capitão do navio que resgatou Victor e que resolveu ouvir e contar suas mais terríveis confissões. Por essa razão, o livro é narrado em primeira pessoa tanto na visão do criador quanto na visão da criatura (que achei um tanto quanto prolixa e repetitiva).

A autora trouxe lá em 1800 uma de muitas reflexões válidas até os tempos de hoje, sobre ética e moralidade e em como é tênue a linha que as separa. O conhecimento e o avanço tecnológico, ao mesmo tempo que é ansiado, é temido, queremos ultrapassar e vencer a morte, mas não sabemos lidar com o desconhecido. Frankenstein fala sobre a natureza humana da forma mais intrínseca possível e em como as relações humanas influenciam em nossas atitudes e em nossos destinos.

Frankenstein é uma excelente leitura, contudo, nossas experiências cinematográficas tiram um pouco da graça e genialidade eis que temos na história escrita um jogo inteligentíssimo de narrativa de forma a mexer com nosso psicológico. Ora achamos que a criatura é essencialmente má, ora percebemos e nos questionamos se não foi a convivência humana e na sociedade que o transformou no verdadeiro monstro, e a mesma coisa acontece com Victor. No fundo percebemos que todas as pessoas não são totalmente boas nem más.

O final que Mary Shelley deu a ambos os protagonistas é bastante interessante e comovente, mas previsível, não fiquei surpresa com o final que teve aquele que desejou brincar de Deus e mas sim o da criatura diante do que se tornou e perante seu Criador.

É uma leitura que recomendo para ser feita em doses homeopáticas, mas que com certeza irá lhes marcar profundamente.

O Papel de Parede Amarelo - Charlotte Perkins Gilman

24 de março de 2016

Título: O Papel de Parede Amarelo
Autora: Charlotte Perkins Gilman
Editora: Jose Olympio
Gênero: Drama/Conto/Clássico
Ano: 2016
Páginas: 112
Nota: ★★★★☆
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Este clássico da literatura feminista foi publicado originalmente em 1892, mas continua atual em suas questões. Escrito pela norte-americana Charlotte Perkins Gilman, ele narra, em primeira pessoa, a história de uma mulher forçada ao confinamento por seu marido e médico, que pretende curá-la de uma depressão nervosa passageira. Proibida de fazer qualquer esforço físico e mental, a protagonista fica obcecada pela estampa do papel de parede do seu quarto e acaba enlouquecendo de vez. Charlotte Perkins Gilman participou ativamente da luta pelos direitos das mulheres em sua época e é a autora do clássico tratado Women and Economics, uma das bíblias no movimento feminista. Esta edição de O papel de parede amarelo, que chega às livrarias pela José Olympio, traz prefácio da filósofa Marcia Tiburi..
Resenha: O Papel de Parede Amarelo foi escrito pela autora Charlotte Perkins Gilman e publicado pela primeira vez em 1892. Pelo conteúdo, a obra passou a ser considerada um clássico da literatura feminista.
A história começa quando um casal se muda temporariamente para uma casa antiga pois John, o marido, de acordo com seus conhecimentos médicos, acredita que a tranquilidade do campo ajudará na recuperação da esposa que sofre de alguma doença inespecífica. Ela não sabe exatamente do que está sofrendo, mas a angústia a consome dia após dia. John não permite que ela saia, que ela escreva, que ela se distráia e vive a tratando com desdém... Contrariada pelo marido, ela fica confinada num quarto cujo papel de parede possui um padrão incompreensível e abominável que acaba lhe causando muito desconforto e irritação.
Logo, a mulher passa a sofrer as consequências de um colapso nervoso e o que ocorre é exatamente o contrário do que o marido havia planejado. O diário que ela mantém em segredo é o que lhe resta, e os conflitos pessoais que passa a enfrentar poderão levá-la ao definhamento e à loucura.

A narrativa é feita em primeira pessoa de forma bastante fria e subjeiva. Embora o livro seja curto e a leitura seja rápida, a história é complexa e não é muito fácil de ser digerida e pode, inclusive, ser bastante incômoda devido a situação em que a protagonista se encontra.
A maneira desarticulada em que a história é construída, é repleta de tons assombrosos que acabam deixando o leitor com vários questionamentos sobre a loucura da personagem e até mesmo sobre a posição de seu marido. Não fica muito claro se aquele confinamento é para ajudá-la ou não pois no contexto da história que corresponde com a realidade da época (e que infelizmente ainda existe na sociedade atual), a ideia de uma mulher inválida e dependente é um fator necessário para que ela continue sendo submissa e controlada pelo homem, que é arbitrário e decide que a verdade absoluta é um conceito criado por ele mesmo e que, muitas vezes, é baseado em algo que ele desconhece completamente mas que é suficiente para mantê-lo na posição de senhor.

A ideia de que há um pouco de autobiografia no conto faz com que ele tenha uma importância ainda maior, tanto na literatura quando nas questões sociais, pois é possível que muitas mulheres se identifiquem ao refletirem sobre as limitações da vida privada e o quanto esse tipo de vivência e convívio são dolorosos.

Chega a ser preocupante ter esse vislubre do modo como as mulheres que sofriam de algum problema de saúde, principalmente os psicológicos, eram tratadas na época e como suas preocupações e dilemas não eram levados a sério, sendo reduzidos a praticamente nada. Independente das boas intenções do marido, é possível percebermos o quanto as diferenças de gênero eram gritantes e o quão prejudicial era essa falta de direitos e maiores considerações.

A verdadeira mensagem, que é a crítica sobre a desigualdade de gênero e a opressão vivida pelas mulheres, é feita de forma sutil e está nas entrelinhas. O Papel de Parede Amarelo é, sem dúvidas, um livro para se refletir. Mesmo que algumas coisas ainda tenham mudado hoje em dia e muitas mulheres tenham voz e atitude, ainda temos um longo caminho a ser percorrido... Ainda existem muitos homens por aí que acreditam piamente que entendem e sabem o que é melhor para as mulheres e, infelizmente, ainda existem mulheres que aceitam esse tipo de controle...

O Sol é Para Todos - Harper Lee

25 de julho de 2015

Lido em: Julho de 2015
Título: O Sol é Para Todos - To Kill a Mockingbird #1
Autora: Harper Lee
Editora: José Olympio
Gênero: Romance/Clássico
Ano: 2015
Páginas: 350
Nota: ★★★★★
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Um livro emblemático sobre racismo e injustiça: a história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos dos anos 1930 e enfrenta represálias da comunidade racista. O livro é narrado pela sensível Scout, filha do advogado. Uma história atemporal sobre tolerância, perda da inocência e conceito de justiça.
O sol é para todos, com seu texto forte, melodramático, sutil, cômico (The New Yorker) se tornou um clássico para todas as idades e gerações.

Resenha: O Sol é Para Todos é um clássico da literatura norte-americana escrito em 1960 pela renomada autora Harper Lee. Esta é a nova edição lançada pelo selo José Olympio do Grupo Editorial Record e conta com nova tradução e novo projeto gráfico.
A história se passa nos anos 30, na época da Depressão, no vilarejo de Maycomb, Alabama.
Enquanto os estados no norte do país defendiam a ideia de que todos são iguais, os estados do sul mantinham a postura firme ao apoiarem a escravidão e praticavam a discriminação racial de forma praticamente livre.

Jean Louise, ou "Scout", é uma garotinha de oito anos, órfã de mãe desde os dois. Ela e o irmão mais velho, Jem, são criados pelo pai e por Calpúrnia, uma governanta negra, desde então.
Durante as férias de verão, as crianças conheceram Dill e viviam brincando juntas, mas a casa de um vizinho em particular chamava atenção delas. Boo Radley era um garoto recluso e não era visto por ninguém da cidade por nunca sair de casa. As crianças brincavam que sua casa era assombrada e procuravam maneiras de descobrir o que Boo estava fazendo.
Mas tudo começa quando o operário Tom Robinson, um homem negro, é acusado injustamente de estuprar uma mulher branca, e Atticus Finch, o pai das crianças e advogado, é indicado para defendê-lo no tribunal. O problema é que, por serem racistas, grande parte dos habitantes ficou revoltada com a ideia de Atticus defender um negro e tal revolta acabou afetando seus filhos.
O desenrolar da história segue pelos olhos de Scout, que diferente dos adultos, ainda consegue enxergar as coisas com extrema inocência e pureza e não entende porque as pessoas que parecem ser tão boas são capazes de terem atitudes tão horríveis.

Com uma escrita simples e fluída, o livro é narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Scout e posso dizer que foi uma experiência muito agradável acompanhá-la em sua busca pela compreensão do mundo, mesmo que revoltante em vários pontos. Por ela ser criança, a história é contada da forma como ela enxerga as coisas com uma clareza sem tamanho, e por mais que os temas abordados sejam delicados, já que se trata de preconceito, o jeito doce e inocente de Scout em contar a história, mesmo que de forma limitada, só colabora para que a leitura seja admirável por sabermos que nem tudo está perdido e que existem, sim, pessoas boas em meio a escória.

Acredito que o principal tema do qual o livro trata é a moral humana, pois vemos Atticus, um homem com incrível disposição em fazer o bem sem se ver a quem, que educa os filhos para serem pessoas de bom caráter assim como ele é, permitindo que eles formem a própria opinião, mesmo que ele próprio passe a sofrer represálias por estar do lado de um negro e se torne alvo do preconceito ao ter seus valores postos a prova devido a ignorância alheia. Ele quer ensinar aos filhos que não se deve desistir mesmo que tudo pareça estar acabado e perdido. Sempre há esperança quando as intenções são boas. Ele com certeza marcou a história pois, além de dar bons exemplos para Scout e Jem, acaba dando lições para o próprio leitor.
Scout é uma das protagonistas mais incríveis que já tive o prazer de conhecer e acho que a forma como foi criada pelo pai foi o maior motivo de ela ser fiel a si mesma a partir do que entende e do que vê, pois ele a encoraja a ser quem é em vez de seguir os estereótipos femininos da época.

A história de Boo que se passa de forma paralela também é muito interessante visto que, às vezes, as pessoas preferem se esconder a fim de manterem um tipo de segurança pessoal ou ainda se juntarem a quem não podem vencer. Não que isso seja o correto, mas é a forma como muitas pessoas usam para lidarem com o que não entendem ou não aceitam, como se virar as costas fosse a solução. A autora foi genial em fazer críticas através dessas situações e personagens que ela criou (ou talvez tenha se inspirado em pessoas da própria família) sobre tudo o que há de errado.

O livro não mostra apenas os resquícios da crise econômica que afetou os EUA naquela época ou as referências as demais crueldades que o homem é capaz de cometer, mas evidencia também a crise pela qual a própria consciência humana passou, e que ainda passa em vários casos que podemos acompanhar hoje em dia. É triste saber que a sociedade foi - e ainda é - hipócrita o suficiente para culpar quem julga ser alguém "inferior" em vez de assumir a incapacidade de lidar com os próprios problemas.
O Sol é Para Todos é aquele tipo de livro que deve ser lido e relido. É uma leitura obrigatória para todos e ao ler senti que a autora quis mostrar que suas palavras podem funcionar como um tipo de luz, um guia que permite que as pessoas vejam que permanecer no caminho da bondade, sendo honestas e tratando o outro como igual é o que não só faz com que sejamos melhores como pessoas, mas que o mundo também seja um lugar melhor de se viver. 

O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint-Exupéry

24 de fevereiro de 2015

Relido em: Fevereiro de 2015
Título: O Pequeno Príncipe
Autor: Antoine de Saint-Exupéry
Editora: Geração
Gênero: Romance/Clássico
Ano: 2015
Páginas: 160
Nota: ★★★★★
Sinopse: Um piloto cai com seu avião no deserto e ali encontra uma criança loura e frágil. Ela diz ter vindo de um pequeno planeta distante. E ali, na convivência com o piloto perdido, os dois repensam os seus valores e encontram o sentido da vida. Com essa história mágica, sensível, comovente, às vezes triste, e só aparentemente infantil, o escritor francês Antoine de Saint-Exupéry criou há 70 anos um dos maiores clássicos da literatura universal. Não há adulto que não se comova ao se lembrar de quando o leu quando criança. Trata-se da maior obra existencialista do século XX, segundo Martin Heidegger. Livro mais traduzido da história, depois do Alcorão e da Bíblia, ele agora chega ao Brasil em nova edição, completa, com a tradução de Frei Betto e enriquecida com um caderno ilustrado sobre a obra e a curta e trágica vida do autor.

Resenha: O Pequeno Príncipe é o mais famoso clássico na literatura universal, escrito pelo escritor francês Antoine de Saint-Exupéry há 70 anos. Em 2015, a obra ganhou nova edição e tradução ao ser publicada pela Geração Editorial em duas versões: Luxo e Pocket. A resenha a seguir é baseada na edição de luxo que possui capa dura, título dourado, alto relevo, e detalhes internos de encher os olhos devido ao capricho que a editora dedicou à obra. Seu conteúdo já era admirável, mas com o excelente trabalho visual, o livro superou todas as expectativas em todos os fatores. As ilustrações originais ganharam muito mais cor e vida, assim como as páginas que transformaram o maior clássico de todos os tempos num maravilhoso tesouro. Uma nova tradução, feita por Frei Betto, aproxima o leitor ao texto que ficou mais fácil e fluído. Quem já havia lido o livro em alguma edição anterior poderá perceber algumas diferenças na tradução, mas nada que interfira no entendimento, muito pelo contrário, facilita bastante.
Ao final do livro o leitor se depara com um pouco da vida do escritor, assim como uma galeria linda de fotos do mais famoso principezinho que o mundo já conheceu.



A história começa quando seu narrador se lembra de seu primeiro desenho e como os adultos não foram capazes de enxergar o que, de fato, ele representava...
"Quem tem medo de um chapéu?"
Sendo desencorajado pelos adultos a continuar a desenhar, ele optou por outro caminho quando cresceu, e se tornou um piloto de avião... Até que ao fazer uma viagem sobre o deserto, precisou fazer um pouso de emergência, e lá se depara com um garotinho que pediu para que ele lhe fizesse um desenho. E esse foi o momento em que se conheceram. Aos poucos o narrador vai descobrindo mais sobre esse garoto, e que a saída dele do Asteroide B612 - deixando sua rosa e seus três pequenos vulcões pra trás, para viajar pelo universo a procura de outras pessoas, até chegar a Terra - é uma viagem carregada de histórias para se contar, histórias estas que o fazem ter uma nova visão de mundo...
A viagem do Pequeno Príncipe é contada em forma de fábula. Em cada planeta que o garoto visita, ele se encontra com seu único habitante e aprende um pouco mais com cada um deles.

O Pequeno Príncipe cativou gerações de leitores ao longo dos anos ao evidenciar a pureza e a inocência de uma criança quando ela se vê diante de questões adultas e que não fazem muito sentido devido a sua percepção diferenciada...
De que adianta alguém se intitular rei se vive sozinho e não possui súditos? Pra que serve a vaidade excessiva quando não se há expectadores? Quais as consequências de se criar vínculos e depois ter que partir? A preocupação em tomar conta do que é seu é grande, mas descobrir a verdade e o funcionamento das coisas é o que faz o Pequeno Príncipe ir além, ansiando e insistindo em perguntas que muitas vezes não possuem respostas, que requerem apenas atitudes, como a amizade verdadeira ou um amor duradouro e fiel.

É o tipo de livro, que por ser todo escrito em forma de metáforas, a cada vez que é lido, se aprende uma nova lição, pois a mensagem pode ser entendida de forma diferente de acordo com o momento em que o leitor se encontra ou lhe dar uma nova perspectiva para determinada situação. É um livro rotulado como infantil, mas acredito que o autor, ao escrevê-lo, acabou fazendo da história algo que atinge e emociona quem quer que seja, independente da idade que tenha, e que é capaz de nos fazer enxergar a criança que há dentro de nós e que há tempos foi deixada de lado para dar lugar ao adulto que nos tornamos.

Para ser lido e relido, por muitas e muitas vezes.
"É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se conseguir julgar a si mesmo, provará que é um verdadeiro sábio."
- pág. 55
"Óbvio, para os vaidosos todas as pessoas são suas fãs."
- pág. 57
"Você se torna eternamente responsável por aquilo que cativa."
- pág. 101
"Os olhos são cegos. É preciso ver com o coração".
- pág. 113

1984 - George Orwell

6 de setembro de 2013

Lido em: Setembro de 2013
Título: 1984
Autor: George Orwell
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Distopia/Romance/Clássico
Ano: 2009
Páginas: 416
Nota: ★★★★★
Sinopse: "1984" não é apenas mais um livro sobre política, mas uma metáfora do mundo que estamos inexoravelmente construindo. Invasão de privacidade, avanços tecnológicos que propiciam o controle total dos indivíduos, destruição ou manipulação da memória histórica dos povos e guerras para assegurar a paz já fazem parte da realidade. Se essa realidade caminhar para o cenário antevisto em 1984 , o indivíduo não terá qualquer defesa. Aí reside a importância de se ler Orwell, porque seus escritos são capazes de alertar as gerações presentes e futuras do perigo que correm e de mobilizá-las pela humanização do mundo.

Resenha: "1984" é um clássico da atualidade. Mesmo tendo sido publicado em 1949, pouco antes da morte do autor, continua sendo muito influente devido a crítica explícita ao totalitarismo e não deixa de ser um tipo de protesto contra os estratagemas do governo.

O mundo foi dividido em três superpotências que estão em guerra entre si desde sempre: Oceânia, Lestásia e Eurásia. A história se passa no ano de 1984, em Oceânia, uma sociedade estática, rígida e controlada pelo "Partido", cujo líder é um ditador "invisível", mas amado, reverenciado, idolatrado, nunca contradito e que, além de ser considerado um grande salvador, sempre está de olho você: O "Grande Irmão" (ou Big Brother).
É uma sociedade onde tudo é feito coletivamente mas, ao mesmo tempo, todos estão sozinhos, pois medo é um sentimento que domina a população, constantemente vigiada e controlada pelo Partido, seja no que diz respeito ao que vestem, ao que comem, ao que fazem e até mesmo ao que pensam. O Partido dita suas vidas, todos devem obedecer, e, se, porventura, alguém se opor, sofrerá todas as consequências possíveis e inimagináveis.

"Novafala" é a língua do país, que irá substituir a "Velhafala" até 2050. É uma linguagem desenvolvida para que as pessoas, em hipótese alguma, possam se opor ao Partido, e tudo seja direcionado a uma coisa só, a fim de extinguir opiniões diversas ou contraditórias sobre o governo, distorcer e canalizar o pensamento em uma única direção: a palavra absoluta e verdadeira do Grande Irmão.
O "duplipensamento" é um exemplo, e é definido como "o poder de sustentar duas crenças contraditórias na mente simultaneamente, aceitando as duas." 2+2 nem sempre resultará em 4 pois isso depende do que o sujeito acredita, ou no que alguém o levou a acreditar.
"Guerra é paz
Liberdade é escravidão
Ignorância é força" - Slogans do Partido
- pág. 14
Através das "teletelas", as pessoas assistem paralisadas a um programa, "Dois Minutos de Ódio", patrocinado pelo Grande Irmão, cuja única finalidade é odiar e condenar tudo e todos que ousarem se opor ao Partido. Até as crianças agem como "fiscais", e aprendem a vigiar e entregar os próprios pais ao menor indício de comportamento suspeito ou inadequado que demonstrem.

Neste cenário aterrorizante, somos apresentados a Winston Smith, um homem beirando a meia idade, infeliz e medíocre, que trabalha em um dos Ministérios criados, o "Ministério da Verdade" (ou seria da Mentira?) e é responsável por manipular notícias, apagando verdades ou criando mentiras a favor da conveniência do Partido. Quem determina o que é verdade, ou não, é o Grande Irmão e ninguém mais... Mas Winston está cansado de se submeter a tudo isso, não concorda mais com toda essa ditadura e só quer ser um homem livre...
Eis que surge Julia, uma mulher de espírito livre, jovem e rebelde que não tem o menor interesse ou respeito pela política, vive desafiando o sistema e quebrando regras, mas que nunca foi descoberta, caso contrário já teria se tornado uma "despessoa" (alguém "apagado" da existência para que não haja nenhuma evidência relacionada a oposição, e consequentemente, algo que poderia comprometer os ideais do Partido se fosse à tona)... Winston se arrisca num romance proibido, e até criminoso, quando se depara e se deixa envolver intimamente com alguém bem diferente de sua ex esposa, que tem coragem para pensar e fazer tudo o que ele nunca teve, mesmo que escodido... Julia, de certa forma, representa a coragem, a alegria e a vida que Winston sempre sonhou, mas que nunca teria...
Outros Ministérios, como o Ministério do Amor, responsável por condenar e reprimir desejos ou aproximações mais íntimas, o Ministério da Paz, que tem controle sobre a guerra sem fim e a administra, e até o Ministério da Fartura, responsável pelo controle da alimentação da população, distribuindo as rações necessárias para a sobrevivência, são "departamentos" desse governo totalitário e opressor.

É difícil falar sobre a obra de forma resumida devido aos incontáveis elementos que ela possui, caso contrário, a resenha teria muitos e muitos metros rsrsrs... É necessário ler para que tudo seja entendido, absorvido e apreciado, e por mais que seja chocante, intragável e inaceitável, é algo necessário para abrir os olhos de muitos que vivem estagnados, influenciados pelo que vêem, e entorpecidos, ou até enganados, por palavras fáceis, mas nem sempre compreendidas em sua totalidade...

1984 traz uma história pesada, cruel, complexa e perturbadora, e é capaz de fazer o leitor refletir acerca do poder totalitário e da manipulação a qual a sociedade está sujeita, mesmo que de forma inconsciente. O que vemos na TV é a realidade, ou o que querem nos impor como verdade? Somos cidadãos livres, ou estamos sob vigilância constante? Estamos acordando e fazendo algum progresso através de manifestações, ou o Estado se alimenta da ignorância do povo com propósito de deter e manter o poder?
É a imagem do autor para um futuro trágico, que mesmo ultrapassado há quase 30 anos, ainda é claramente perceptível nos dias de hoje aos olhos dos mais atenciosos...
"Por quanto tempo pode uma história sobre um futuro que passou continuar a alarmar seus leitores?" - Posfácio
- pág.  382
Leitura obrigatória!

Branca de Neve - Irmãos Grimm

20 de dezembro de 2012

Lido em: Dezembro de 2012
Título: Branca de Neve
Autor: Irmãos Grimm
Ilustrações: Camille Rose Garcia
Editora: Geração Editorial
Gênero: Fantasia/Conto/Infanto Juvenil/Clássico
Ano: 2012
Páginas: 80
Nota: ★★★★★
Sinopse: Originalmente surgida no folclore francês do século XVII, a história de Branca de Neve há muitos anos vem sendo um dos mais memoráveis contos infantis de todos os tempos, repetido durante gerações ao redor do mundo. É a história de uma rainha maligna determinada a se livrar de uma menina – com a pele tão branca como a neve, os lábios tão vermelhos quanto o sangue e os cabelos negros de ébano – que ameaça o desejo da rainha de permanecer a mulher mais bela de seu reino. Esta nova edição destinada a presentear as crianças modernas, apresenta a versão completa do conto dos Irmãos Grimm, com uma interpretação artística original da famosa ilustradora Camille Rose Garcia, que imaginativamente combina o humor com um toque tenebroso de romantismo.
Em comemoração aos 200 anos dos contos dos famosos Irmãos Grimm, hoje trago o conto original e completo da Branca de Neve pra vocês.
Todos conhecemos a história da moça branca como a neve, de lábios vermelhos como o sangue e cabelos negros como o ébano que foge para a floresta depois de uma tentativa de assassinato a mando da rainha invejosa e encontra a casinha dos sete anões, e lá vive feliz até morder a maçã envenenada que a bruxa lhe dá e o príncipe salvá-la da morte com o beijo do amor verdadeiro, né?

O que muitos não sabem é que a versão da Disney pra Branca de Neve, o desenho que todos assistiram e usam como referência pra contar a história, foi uma adaptação, com muitos floreios e enfeites para que ficasse maior, mais "feliz" e menos trágica. A versão original é um "pouco" diferente...

Como todo mundo já conhece a história, já que é clássica, vou contá-la com minhas palavras, claro, incluindo seu final sombrio e macabro, então não considerem essa postagem como uma resenha. Só leiam se tiverem curiosidade pela história e se não se importarem com o "spoiler" hehehe. Só achei bacana trazer a história pra cá, devido a comemoração, e aproveitar para falar sobre esse livro em particular, pois ele é simplesmente perfeito, lindo, de encher os olhos e genial!

No conto original, por mais que não seja muito detalhado, pegamos a história desde o princípio, em que a mãe da menina, após ter espetado o dedo que sangrou na neve, ficou com o desejo de ter uma filha com essas mesmas características, e claro, um tempo depois, nasceu Branca de Neve do jeitinho que ela sonhou. A mãe morre após o parto e o pai, sozinho, se casa com outra mulher (típico). Os anos passam, Branca de Neve vai crescendo e aos sete anos já é dona de uma beleza extraordinária, o que desperta a fúria e a inveja de sua madrasta, pois ela não aceita que ninguém seja mais bela do que ela. Diante disso, ela manda que o caçador leve Branca de Neve para a floresta e a mate, e como prova, pede que ele lhe traga seus pulmões e fígado, porém, o caçador deixa Branca de Neve fugir para a floresta depois de ela ter suplicado pela sua vida. Ele mata um javali e leva os órgãos do animal para a rainha, fingindo ser da menina. A rainha manda cozinhar e ainda devora tudo com gosto!


Branca de Neve fica perdida na floresta e com a ajuda dos animaizinhos fofos encontra a cabana dos Sete Anões, homenzinhos trabalhadores que acabam aceitando-a em troca de favores domésticos, como cuidar da casa, cozinhar, costurar e etc...


Branca de Neve vivia feliz e acreditava estar segura, mas o que ela não sabia, era que a rainha possuia um espelho mágico que lhe respondia toda a verdade sempre que ela perguntava algo. E sua pergunta sempre era "- Espelho, espelho meu, existe no mundo mulher mais bela do que eu?". E quando ela soube que Branca de Neve ainda vivia, e que estava sendo cuidada pelos Sete Anões, ficou furiosa e começou a arquitetar um plano malígno para acabar com a vida de Branca de Neve de uma vez por todas.
Ela se disfarça de uma velha vendedora ambulante, fica irreconhecível e vai atrás da menina.


Diferente do que muitos pensam, a rainha não leva a maçã logo de cara... Ela tenta matar Branca de Neve com uma fita para amarrar seu espartilho de forma que ficasse sem respirar, depois tenta matá-la com um pente envenenado e só depois ela tem a ideia da maçã. Branca de Neve sofreu QUATRO atentados contra sua vida!
Depois de morta, os anões não têm coragem de enterrá-la, e a colocam num caixão de vidro para que pudessem observá-la e lamentar sempre. O tempo vai passando, e como mágica, o corpo não se deteriora. Branca de Neve parece estar num sono gostoso e eterno...


Um dia, um príncipe passava pelas redondezas e viu o caixão onde Branca de Neve jazia. Ele negocia com os anões para levar o caixão com Branca de Neve dentro embora, alegando que não poderia viver se não pudesse vê-la, e que seu desejo era cuidar dela, como sua amada. Os anões, com pena, deixaram que ele levasse o caixão, mas enquanto seus servos o carregavam, um deles tropeçou e devido ao solavanco, o pedaço da maçã envenenada saltou da boca de Branca de Neve e ela voltou a vida!
Eles então resolvem se casar, e ainda convidam a rainha para o banquete de casamento. Sem acreditar, a rainha, movida pela inveja e curiosidade, vai ao casamento para ver a menina com os próprios olhos, mas ao ser reconhecida por Branca de Neve, acaba sendo castigada: foi obrigada a calçar sapatos de ferro e ainda teve que dançar sobre o carvão em brasa até cair morta no chão...

Ok, algumas coisas nessa história são absurdas, mas oi? É um conto e não precisa fazer muito sentido! Mas isso tudo nos leva a pensar em como Branca de Neve pode ser tão ingênua, pois mesmo com os avisos constantes dos anões de que a rainha estava tentando matá-la e que ela não deveria abrir a porta nem aceitar nada de ninguém, ela continua se deixando enganar. Mas como se trata de uma criança, podemos perceber toda essa inocência e pureza.
Mas isso, meus queridos, me fez enxergar que nem sempre alguém é tão ingênuo, puro e bobo assim a ponto de não alimentar um sentimento de vingança quando alguém tenta lhe prejudicar. O lado bom está lá, mas o sombrio e perturbador, também. E é aquela velha história: "Aqui se faz, aqui se paga". Ou melhor ainda: "Quem com ferro fere, com ferrão será ferido". Hehehe


Essa é a história original de Branca de Neve e realmente é um pouco diferente daquela que estamos acostumados, e nesse livro lançado pela Geração Editorial, as ilustrações fantásticas, góticas e super macabras só serviram para acentuar ainda mais a sua essência.

Sabe aquela sensação de pegar um livro e considerá-lo um tesouro, uma obra de arte? Pois então... O livro tem a capa dura, as páginas são grossas e brilhantes e a diagramação é simplesmente perfeita! Pra quem é fã dos contos dos Irmãos Grimm, e em especial do conto da Branca de Neve, não pode deixar de ter esse livro em sua coleção! É a história sendo contada de uma forma que muitos nunca viram, e ao lerem e apreciarem, com certeza vão adorar, assim como eu!
Adorei o cuidado e o trabalho que a editora teve com esse livro para torná-lo tão maravilhoso e encantador visualmente, e eles estão de parabéns! Fiquei morrendo de vontade de outros contos nesse mesmo estilo! Hahaha!
Recomendo muito e entrou pra minha lista de favoritos!