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Porém Bruxa - Carol Chiovatto

14 de junho de 2023

Título:
Porém Bruxa
Autora: Carol Chiovatto
Editora: Suma
Gênero: Fantasia Urbana
Ano: 2023
Páginas: 320
Nota:★★☆☆☆
Sinopse: Isis Rossetti é uma bruxa. Como monitora responsável por atividades sobrenaturais na cidade de São Paulo, ela sabe que não pode intervir em questões humanas. Porém, no cotidiano urbano, as pessoas estão sempre em perigo e é impossível não tentar ajudar.
Quando Ísis recebe a missão de uma divindade, em meio a casos policiais estranhamente similares e investigações extraoficiais, ela precisará revisitar traumas do passado para proteger os comuns e enfrentar o temido Corregedor.

Resenha: Porém, Bruxa, escrito pela autora nacional Carol Chiovatto e publicado pela Suma, apresenta a protagonista Ísis Rosseti, uma jovem bruxa que trabalha monitorando e investigando atividades mágicas e sobrenaturais na cidade de São Paulo. Ísis não tem permissão para interferir nas questões da sociedade dos humanos comuns, mas acaba se envolvendo ilegalmente nessas situações, pois não consegue ignorar quando algum humano está em perigo devido à sua intuição e grande empatia. Um dia, Ísis recebe três tarefas fora de sua jurisdição, e agora ela precisa lidar com dois casos de desaparecimento e uma missão de uma divindade. Além disso, ela precisa enfrentar seus traumas do passado e confrontar o Corregedor, o chefe do departamento mágico, que não pode descobrir suas escapadas ao ajudar os humanos.

Livros de fantasia, principalmente aqueles com elementos de bruxaria, sempre despertam minha curiosidade, então criei altas expectativas para Porém, Bruxa. Mas, a história não conseguiu prender minha atenção. Levei uma eternidade para terminar a leitura, tive dificuldade para me acostumar com a voz narrativa da protagonista e, no final, achei tudo um tanto confuso e problemático.

O primeiro problema é a quantidade de temas e questões diferentes que a autora insere no universo mágico, dando a sensação de que estão dispersos e mal desenvolvidos. Parece que foi feita uma lista de temas para cumprir uma cota de representatividade, feminismo, críticas sociais e afins, mas não foi feito de forma natural. A leitura me deu a impressão de estar lendo um artigo informativo e resumido sobre esses temas. A autora quer falar sobre racismo, machismo, feminismo, intolerância religiosa, assédio, traumas, adoção, sistema prisional, pessoas em situação de rua, e muito mais, como se não pudesse deixar ninguém de fora.

Será mesmo necessário abordar todas essas problemáticas em uma história de investigação, que, aliás, tem muitas pontas soltas? São temas delicados que tentam ser inseridos em um universo mágico, mas nenhum deles é devidamente aprofundado. Entendo a importância de abordar esses temas relevantes na sociedade, mas quando isso não é feito de forma orgânica e parece deslocado, tudo parece forçado e desnecessário. A sensação é de que estão lá apenas para gerar engajamento. Talvez fosse melhor abordar poucos temas de cada vez e trabalhá-los bem, ao invés de tratar de tantos assuntos ao mesmo tempo e deixar o leitor confuso. Eu pessoalmente tive uma enorme dificuldade em me conectar com o que estava acontecendo e cheguei a reler os capítulos várias vezes por não entender o que estava acontecendo. Insistir em uma leitura que não me prendeu, esperando que ficasse interessante, foi bastante sofrível, e senti que perdi meu tempo.

Em relação aos personagens secundários e suas aparições, fica a pergunta: quem são eles? De onde vêm? O que comem? Parece que eles não têm nada mais para fazer em suas vidas além de aparecerem convenientemente quando a protagonista precisa de ajuda para resolver os problemas que surgem. Quanto ao empoderamento, o objetivo era apresentar uma personagem feminista, independente e poderosa, mas o que vi foi ela sendo constantemente salva por um homem com estereótipo de cara perfeito. Além disso, ela age de forma grosseira e desnecessária com os outros sem motivo nenhum. Isso não é ter uma personalidade forte, é falta de bom senso. A autora brinca com a ideia de um possível romance que nunca se concretiza, pois o foco de Ísis aparentemente é o trabalho. Não há problema em manter as relações no campo da amizade, mas a tensão romântica existe e queria saber qual finalidade. Fiquei com a sensação de que essa parte estava sendo guardada para um próximo volume. Quanto à narrativa em primeira pessoa, feita pelo ponto de vista de Ísis, não consegui identificar a voz da personagem e o tom me pareceu inconsistente. Às vezes ela fala usando gírias, às vezes usa uma linguagem mais formal e às vezes substitui palavras por outras que nem são sinônimas. Não há um padrão claro de fala e a construção dos diálogos e pensamentos pediu pelo amor de Deus por um polimento.

Talvez eu não estivesse no clima adequado para essa leitura, mesmo tentando por meses. Talvez eu não seja o público-alvo do livro, apesar de ser fã de fantasia urbana e thrillers (quando são bem estruturados e com finais de tirar o fôlego, claro). A magia também não parece desempenhar um papel significativo na história (talvez daí venha o título?), o que me deixou um tanto desanimada durante a leitura. Apesar de a autora ter criado uma estrutura de fantasia que parecia interessante e ter incorporado vários elementos da cultura brasileira, isso não foi suficiente para me fazer gostar da história ou prender minha atenção, pois o foco é outro. A teoria por trás da trama é interessante, mas a prática deixa a desejar. Porém, Bruxa é um thriller com toques de fantasia que, apesar de ter algumas reviravoltas interessantes, é uma leitura completamente esquecível.

Lore Olympus (vol.3) - Rachel Smythe

9 de junho de 2023

Título: Lore Olympus - Histórias do Olimpo #3
Autora: Rachel Smythe
Editora: Suma
Gênero: Graphic Novel/Fantasia/Mitologia Grega
Ano: 2023
Páginas: 384
Nota:★★★★★
Sinopse: No Olimpo e no Submundo só se fala do que anda rolando entre o Deus dos Mortos e a vistosa filha de Deméter. Em meio a tanto fuxico, Hades e Perséfone têm muita coisa a resolver nas suas vidas.
Desde que chegou ao Olimpo, Perséfone se esforça para ser a jovem deusa e donzela perfeita. A atração que sente por Hades só deixou mais pesado o fardo que é cumprir as expectativas de todos. Depois do abuso que sofreu, ela teme não conseguir encobrir a mágoa e o amor intensos que tanto lutou para esconder.
Enquanto Perséfone reflete sobre o futuro, Hades luta contra seu passado e reata a relação tóxica que tinha com Minte. Conforme a pressão e o frenesi ― da família, dos amigos, dos inimigos ― aumentam, tanto Hades quanto Perséfone tentam calar seus desejos cada vez mais evidentes. Mas a tentação é forte e a atração é magnética. É destino.

Resenha: Dando continuidade ao livro anterior, o terceiro volume da série Lore Olympus traz os episódios 50 a 75 e, como nos volumes anteriores, mais um capítulo extra inédito e exclusivo.
Mantendo o mesmo ritmo envolvente na trama e aprofundando ainda mais os relacionamentos complexos e as intrigas do Olimpo, voltamos ao mundo dos deuses e deusas da mitologia, que agora levam suas vidas em tempos modernos, para acompanhar Perséfone e Hades protagonizando uma narrativa onde as dinâmicas de poder, amor proibido e até tramas políticas permeiam esse universo.



Esse terceiro volume mostra praticamente todo o Olimpo levantando suspeitas sobre a possível relação entre Hades e Perséfone, enquanto os dois tentam levar suas vidas passando por cima de seus sentimentos. Hades, então, decide retomar seu relacionamento (que costumava ser bastante tóxico) com a ninfa Minte, enquanto faz de tudo pra levar uma relação estritamente profissional com Perséfone. Obviamente a atração e a química com Perséfone é fortíssima, reatar com Minte é uma ideia péssima, mas Hades parece estar decidido a cumprir com seu dever de senhor do submundo sem deixar que nada nem ninguém o atrapalhe, mas sempre tem alguém invejoso pra atrapalhar, não é mesmo?

Do outro lado, quando Perséfone começa a refletir sobre seu futuro e que ela poderá sair da DEV, ela sabe que precisa dar um jeito de conseguir dinheiro pra se manter e, talvez, se seu estágio no Submundo pudesse ser remunerado, ela poderia continuar seus estudos e ser mais independente. Com um pouco mais de liberdade pra explorar o novo mundo e o submundo, ela não só passa a estreitar algumas relações de amizade com Ártemis, Hécate e Eros, como também faz alguns inimigos que a querem longe de Hades. Perséfone ainda é assombrada pelo abuso que sofreu e que lhe rendeu um trauma horrível, e isso rende algumas cenas bem desconfortáveis, mas finalmente ela se abre com Eros pra aliviar todo esse peso que ela vinha carregando sozinha e ele a apoia incondicionalmente fazendo com que ela entenda que não tem culpa nenhuma, e que Apollo é o culpado.



O desenvolvimento dos personagens continua sendo o segredo do sucesso dessa série. A autora apresenta um retrato humano e multifacetado dos deuses, dando-lhes profundidade e nuances que vão além dos estereótipos mitológicos. Os diálogos afiados e as interações entre os personagens são um dos pontos altos do livro, trazendo dinamismo e profundidade à narrativa. Perséfone, que embora seja ingênua por ter passado a vida inteira sob a superproteção da mãe, começa a emergir como uma personagem forte e determinada, enquanto Hades revela camadas de vulnerabilidade e compaixão diante de seus sentimentos que ele sabe que estão lá, mas que faz tanta questão de esconder.

É inegável que a conexão entre os protagonistas cresce cada vez mais, mesmo que esse relacionamento viva sendo testado, tanto por forças externas quanto pelo passado conturbado e cheio de traumas dos dois. A autora habilmente equilibra os momentos de tensão e drama com toques de humor e romance, mantendo os leitores ávidos por mais.

A arte dispensa maiores comentários. O estilo da ilustração combina com a atmosfera moderna e glamourosa onde a história se passa, as cores são vibrantes, os traços são marcantes e muito expressivos a ponto de transmitir as emoções mais sutis dos personagens, e os pequenos detalhes são responsáveis por darem vida a esse universo incrível e seus personagens peculiares.


Não posso negar que a evolução da história fica cada vez mais envolvente e bonita e o gancho no final é desesperador (e a vontade de correr pro Webtoons é quase incontrolável), mas vou me segurar aqui e aguardar o quarto volume pela Suma com paciência. No geral, Lore Olympus é uma série cuja leitura é envolvente e emocionante, que mergulha fundo na complexidade dos relacionamentos, que traz uma trama super interessante e diferente de qualquer outra releitura, e esse volume três consegue ser ainda melhor que os anteriores. Pra quem curte mitologia grega, romances cheios de reviravolta e fantasia, é série mais do que indicada.

Esse é pra Casar - Alexis Hall

16 de maio de 2023

Título:
 Esse é pra Casar - London Calling #2
Autora: Alexis Hall
Editora: Paralela
Gênero: Romance
Ano: 2023
Páginas: 416
Nota:★★☆☆☆
Sinopse: Luc e Oliver têm uma história peculiar. Depois de terem decidido começar um namoro de mentira para enganar a mídia, eles se apaixonaram de verdade e descobriram que podiam até não ser perfeitos, mas eram perfeitos um para o outro. Só que… casais perfeitos devem se casar, certo? Pelo menos é o que parece, a julgar pelo seu grupo de amigos.
Quando o ex-namorado de Luc (sim, o mesmo que passou a perna nele, destruiu sua autoestima e quase o arruinou para relacionamentos em geral, mas quem liga?) o convida para seu casamento, ele começa a pensar que talvez seja hora de seguir os mesmos passos.
O que Luc não sabe é que chegar ao altar não é tão simples quanto parece, principalmente quando envolve o filho instável de ex-estrelas do rock e um advogado certinho e perfeccionista. Mas Luc e Oliver se amam, e isso é tudo que importa, não é? Então o que poderia dar errado?

Resenha: Esse é pra Casar é o segundo volume da trilogia London Calling, escrita pela autora Alexis Hall e publicado no Brasil pelo selo Paralela, da Companhia das Letras.

No livro anterior, acompanhamos Luc e Oliver, que forjam um namoro pra abafar alguns escândalos e enganar a mídia mas, como era esperado, eles acabam se apaixonando de verdade e começam a viver um amor onde tudo indicaria um final feliz. Agora, dois anos já se passaram desde quando eles assumiram um relacionamento e o casal parece estar muito bem. A história começa quando Luc está numa despedida de solteira de uma amiga, e Miles, seu ex namorado que quase arruinou sua vida, aparece anunciando que vai se casar com o noivo.
Então ele percebe que as pessoas de seu convívio social estão dando um passo maior em seus relacionamentos e estão prestes a se casar, e Luc começa a refletir que ele e Oliver já passaram dos 30, que estão juntos já faz dois anos, que estão felizes, que têm estabilidade, e que talvez seja hora de dar esse passo também.

Ao que parece, a autora se baseou no filme "Quatro Casamentos e Um Funeral" e as comédias românticas dos anos 90 pra escrever essa continuação, mas não achei que ficou sequer parecido. O livro é narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Luc e é dividido em cinco partes, mas essas partes parecem histórias avulsas que não se conectam direito e ainda são repetitivas e forçadas. As três primeiras partes trazem histórias em que o foco está nos casamentos de personagens secundários e como cada um deles lidam com as próprias relações e o planejamento dessa união, e as duas últimas nas expectativas e nos preparativos do tão esperado casamento de Luc e Oliver. A sensação que tive foi a de estar lendo contos sobre lembranças, pensamentos e divagações desconexos em vez de uma história fluída como supôs a sinopse e o próprio título. Inclusive acredito que se em vez da autora tivesse escrito um conto pra mostrar como estavam os personagens após o final do primeiro livro, teria sido muito melhor e faria muito mais sentido do que dispersar a história e arrastá-la dessa forma.

Basicamente a autora dá uma "aula" sobre o conceito do casamento heteronormativo e seus privilégios, e das dificuldades legais pra se formalizar uma união homoafetiva apontando o preconceito, o conservadorismo, a política e a religião como empecilhos. Embora ela tenha enchido o livro com piadas, ela consegue abordar o tema de uma forma sensível, porém com ressalvas. Não sei se entendi errado ou se foi apenas impressão minha, mas senti que a autora, ao falar sobre esses conceitos insinuou algumas vezes o quanto o casamento é uma instituição falida e ruim. No meio desses assuntos ela também fala de outros que podem ser verdadeiros gatilhos, como a homofobia, a negligência familiar, o luto e afins, mas sendo bem sincera, existem melhores opções de leitura que abordam esses temas de uma forma melhor e mais eficiente.

O relacionamento de Luc e Oliver é meio caótico porque Luc é totalmente fora da casinha, pra não dizer idiota, fala e faz coisas desnecessárias que ninguém acredita, e causa brigas sem sentido nenhum, mas não sei se foi por ele estar diante de dar um passo tão grande em sua vida ele acabou revelando quem ele é de verdade ou sei lá, mas eu simplesmente odiei. Fiquei super incomodada com tudo aquilo que supostamente deveria ser engraçado e acabei achando que o bom humor do livro não existiu e só mostrou os sinais de alguém do qual a gente deve fugir na primeira oportunidade. Não sei se a intenção da autora era mostrar o lado "imperfeito" de Luc ou o quê, mas quando o personagem é um saco e, no final das contas, não importa o que aconteça, ele continua sendo um saco, eu sinto que perdi meu tempo investindo numa leitura que parece não ter nenhum objetivo. A única coisa que consegui enxergar aqui foi uma dificuldade de comunicação gigantesca entre dois adultos e como Luc foi insensível às necessidades e aos sentimentos de Oliver, principalmente quando ele supõe que Oliver está "sendo gay errado" por causa de uma coisa ridícula.

Eu sinceramente considero essa sequência totalmente descartável. Além de não ter acrescentado nada de útil e interessante à história do casal, só mostrou um Luc mais idiota e antipático do que nunca. A tentativa de passar uma lição no final das contas foi completamente invalidada pelo desfecho brochante, e qualquer resquício de satisfação e quentinho que os personagens apresentaram lá no primeiro livro sumiu.

Levei em consideração a leveza e a diversão descompromissada do primeiro livro pra ler esse, pensando que, a partir do título do livro, a história ia ser tão divertida quanto a primeira trazendo a questão do noivado e do eventual casamento desses dois, mas infelizmente não foi nada do que esperei e ao final só restou o desgosto. Agora cá estou eu, com aquela sensação ruim de ter "lido errado" por ter enxergado mais defeito do que qualidade e não ter aproveitado nada dessa leitura.

O Mundo de Sofia - Jostein Gaarder (Audiolivro)

12 de maio de 2023

Título:
O Mundo de Sofia (Audiolivro)
Autor: Jostein Gaarder
Narração: Paulo Vinicius Justo Fernandes
Editora: Seguinte
Gênero: Infanto Juvenil
Ano: 2012
Duração: 21h 50min (568 páginas)
Nota:★★★★★
Sinopse: Às vésperas de seu aniversário de quinze anos, Sofia Amundsen começa a receber bilhetes e cartões-postais bastante estranhos. Os bilhetes são anônimos e perguntam a Sofia quem é ela e de onde vem o mundo. Os postais são enviados do Líbano, por um major desconhecido, para uma certa Hilde Møller Knag, garota a quem Sofia também não conhece. O mistério dos bilhetes e dos postais é o ponto de partida deste romance fascinante, que vem conquistando milhões de leitores em todos os países e já vendeu mais de 1 milhão de exemplares só no Brasil. De capítulo em capítulo, de “lição” em “lição”, o leitor é convidado a percorrer toda a história da filosofia ocidental, ao mesmo tempo que se vê envolvido por um thriller que toma um rumo surpreendente.
Resenha: Publicado originalmente em 1995, O Mundo de Sofia, do autor norueguês Jostein Gaarder, é o maior best-seller da Companhia das Letras, e já teve mais de 1 milhão de exemplares vendidos só no Brasil.

Sofia Amundsen é uma adolescente que está prestes a completar quinze anos. Ela mora com sua mãe (que sempre chega muito tarde em casa e vive reclamando da quantidade de animais que a filha tem), seu pai (que trabalha como capitão num petroleiro e fica fora de casa praticamente o ano inteiro) e com seus animais de estimação (peixinhos ornamentais, periquitos, uma tartaruga e o gato Sherekan) como uma forma de compensação pela ausência dos pais. Ela sempre se pega pensando em diversas questões da vida, não fica satisfeita com as respostas que encontra por aí, fica procurando sentindo nas coisas e está sempre curiosa pela origem de tudo.
Um dia, enquanto voltava da escola, Sofia pega uma correspondência em seu nome que estava na caixa de correio, e fica intrigada com a única pergunta no papel dentro de um envelope sem remetente: "Quem é você?". Em seguida ela recebe outra carta anônima com a pergunta "De onde vem o mundo?", e depois recebe um cartão postal endereçado a alguém chamada Hilde Møller Knag, porém aos seus cuidados. Agora Sofia tinha alguns enigmas a serem resolvidos, pois queria saber quem enviou as cartas, qual o significado daquelas perguntas, quem era Hilde e por que alguém estava tentando se comunicar com ela através da própria Sofia. E quando ela menos esperava, um envelope amarelo e maior chegou, e nele estava escrito "Curso de Filosofia, Manuseie com muito cuidado". O texto de apresentação do curso gratuito trouxe uma variedade de questões filosóficas que fez Sofia perder o fôlego, pois alí ela soube que poderia ter todas as respostas para todas as suas perguntas, e tudo isso através de um remetente misterioso que, por incrível que pareça, a resgatou da apatia do cotidiano.
Eu já disse que a única coisa de que necessitamos para ser filósofos é a capacidade de nos admirarmos com as coisas? Se não, digo agora: A ÚNICA COISA DE QUE NECESSITAMOS PARA SER FILÓSOFOS É A CAPACIDADE DE NOS ADMIRARMOS COM AS COISAS.
A partir daí, Sofia inicia seu curso e mergulha num universo onde as ideias dos principais pensadores conhecidos pela humanidade são apresentadas e abordadas de uma forma bastante simples e didática, passando pela mitologia nórdica, mitologia grega, até a filosofia socrática e a filosofia contemporânea, e a garota passa a questionar não só sua relação com o mundo, mas também sua própria existência.

O livro tem uma narrativa em terceira pessoa com foco em Sofia e sua rotina, e essa narrativa se mescla com as cartas do curso que conversam com a garota e com o próprio leitor. Toda a história é de fácil compreensão e na maioria das vezes flui muito bem. Embora o livro tenha uma quantidade considerável de páginas (e no audiolivro uma quantidade mais considerável ainda de horas), os temas de cada parte do curso são bastante resumidos e limitados, mas não deixam de fazem com que tanto Sofia quanto o leitor reflitam sobre a importância da busca incessante pelo conhecimento e da compreensão do mundo. Tudo isso ainda fica ainda mais interessante enquanto a história avança, pois ao mesmo tempo em que Sofia aprende sobre filosofia, ainda existe a questão do mistério relacionado a Hilde e como a história das duas se entrelaça de uma forma super envolvente.

Embora ache o tema interessante e necessário, não sou tão ligada e nem leio muitas coisas sobre esse tipo de conteúdo, e acredito que O Mundo de Sofia seja uma excelente introdução pra quem tem interesse em começar a estudar sobre a humanidade, a história da filosofia e os principais pensadores por trás dela. Pra mim foi uma leitura muito proveitosa que realmente me tirou da zona de conforto e que me fez pensar em questões que eu nunca havia considerado antes.

Como acompanhei a história pelo audiolivro, fiquei com a sensação de que a imersão foi muito maior e melhor, pois o narrador expressa as devidas emoções e intensidade das frases tornando tudo muito mais empolgante de se acompanhar. Posso dizer ainda que a narração de Paulo Vinícius Justo Fernandes lembra muito a dublagem de filmes dos anos 90, e a sensação é de estar assistindo um filme fofo na sessão da tarde, e é impossível não sentir aquela nostalgia gostosa da infância, mesmo quando ele imita vozes mais fininhas. A combinação foi simplesmente perfeita e certeira. Eu adorei e posso afirmar que foi umas das melhores narrações de livros que já tive o prazer de ouvir, e até as passagens aparentemente mais cansativas ficaram interessantes na voz dele.

Não acho que seja o tipo de livro pra se ler ou ouvir sem pausas, pois por se tratar de temas para pensar e refletir, deve ser digerido aos poucos para um melhor aproveitamento. Fui ouvindo devagarinho, cheguei a discutir alguns pontos com meu marido, e depois retornava sem pressa. Assim, o livro acaba fazendo com que o leitor, assim como Sofia, tenha uma visão de mundo mais aberta e diferente se comparada ao pensamento anterior as questões colocadas e aos conceitos da realidade em que vivemos.

Pra quem gosta de filosofia ou quer ter uma boa noção do que é abordado, é livro tão indicado quanto necessário.

Na Sala dos Espelhos - Liv Strömquist

11 de maio de 2023

Título:
 Na Sala dos Espelhos
Autora: Liv Strömquist
Editora: Quadrinhos da Cia
Gênero: Não Ficção
Ano: 2023
Páginas: 168
Nota:★★★★☆
Sinopse: Por que as fotos que vemos rolar pelo feed das redes sociais podem nos levar a sentimentos de ansiedade, raiva, tristeza e frustração? Quando foi que criamos uma relação voyeurística crônica com nós mesmos? Como, afinal, enxergar a si próprio num mundo dominado pela hiperexposição? Depois dos sucessos de A origem do mundo e A rosa mais vermelha desabrocha, Liv Strömquist volta seu olhar para as imagens que brilham, sedutoras, nas telas dos nossos celulares. Do mito bíblico de Jacó à última sessão de fotos de Marilyn Monroe, da obsessão da imperatriz Sissi da Áustria com magreza e exercício físico ao roubo do busto de Nefertiti ― o rosto mais belo que já existiu ―, a artista sueca investiga o cânone que nos escraviza e tenta encontrar o que há de real atrás de filtros e selfies. Com a ajuda de reflexões de Susan Sontag, Naomi Wolf, Simone Weil, Eva Illouz e da madrasta da Branca de Neve, Na sala dos espelhos se pergunta como a inveja e o instinto competitivo alimentam o consumo compulsivo. Um livro raro, engraçado, com opinião e inteligência singulares.

Resenha: Na Sala dos Espelhos é a terceira HQ focada no universo feminista da autora sueca Liv Strömquist publicada pelo selo Quadrinhos da Cia aqui no Brasil. Nesse volume a autora vai abordar a questão da beleza como um produto a ser ofertado em meio a sociedade de consumo do capitalismo tardio, a necessidade de se vender uma padrão de beleza perfeito, e como esse tipo de conteúdo interfere na vida das reles mortais que acompanham, idolatram e almejam a aparência e o glamour de influenciadoras como Kylie Jenner e afins, fazendo com que existam as que vivem de internet criando de forma compulsiva, e as que vivem na internet consumindo esse conteúdo de forma tão compulsiva quanto.



Vamos acompanhando essa "trajetória" da beleza através de aspectos históricos, filosóficos, políticos e sociológicos e o motivo desse almejo de acordo com a própria concepção de realidade daquela pessoa, seja ele por interesse próprio, pelo interesse em se sentir aceito na sociedade, ou até mesmo pela necessidade de se conseguir ou de se manter um relacionamento.

A autora apresenta estudos e várias teorias de filósofos, sociólogos, escritores e outros, como René Girard, Zygmunt Bauman, Eva Illouz, Hartmut Rosa, Simone Weil e Chris Rojek; exemplos reais encontrados na cultura pop através de celebridades e influenciadores como Kylie Jenner, Kim Kardashian e Marylin Monroe; fatos históricos envolvendo figuras da aristocracia como a imperatriz Isabel da Áustria. Ela também mostra como o machismo, o patriarcado e até a religião estão inseridos nesse contexto mencionando eventos históricos, políticos e bíblicos e como essas questões perduram até a atualidade em tempos de redes acessíveis como Instagram, TikTok e sabe-se lá quais outras redes existem por aí. E, principalmente, como essa ilusão de perfeição e glamour interfere na vida das pessoas.
"Tomamos emprestado nosso desejo do outro, em um movimento tão fundamental, tão original, que o confundimos com a vontade de sermos nós mesmos." - Girard
- Pág. 18

"O essencial é sempre o Outro, um Outro que não importa quem seja, a encarnação de uma totalidade inexpurgável, presente em toda parte e em parte alguma, e que as pessoas insistem em querer seduzir. É o Outro como obstáculo insuperável" - Girard
- Pág. 22

"A fragilidade dos vínculos humanos é atributo proeminente, talvez definidor da vida líquido-moderna." - Bauman
- Pág. 43

"Uma série de novas indústrias ajudou a promover e legitimar a sexualização das mulheres e, mais tarde, dos homens. A sexualidade proporcionou ao capitalismo uma oportunidade fantástica de expansão, porque exigia das pessoas uma incessante encenação de si mesmas e oferecia inúmeras opções para criar um clima sexy. - Illouz
- Pág. 47

"A beleza não contém nenhum fim. A beleza sozinha não é um instrumento para outra coisa. Ela é boa em si, mas não encontramos nela nenhum bem." - Weil
- Pág. 119

"Uma coisa bela não contém nenhum bem senão ela mesma. Vamos até ela sem saber o que lhe pedir. Ela nos oferece a própria existência. Não desejamos outra coisa, possuímos isso, mas continuamos desejando. Não sabemos o quê. Queremos ver por trás da beleza, mas ela é apenas a superfície. É como um espelho que reflete nosso desejo pelo bem." - Weil
- Pág. 123
Assim como nos livros anteriores, a HQ tem ilustrações simples, com textos informativos, bem humorados, irônicos e reflexivos que conseguem transmitir a mensagem que a autora quer passar mesmo que este tenha um tom mais sério (talvez devido a complexidade do tema). O que fica em evidência é a ideia de se viver ilusões, sobre como as pessoas se escravizam e travam verdadeiras batalhas consigo mesmas em nome de um corpo e uma aparência perfeita baseada na aparência de alguém simplesmente inalcançável.

Inicialmente a sensação é que autora quer falar sobre a história da estética e mostrar todos os problemas que dizem respeito a essa busca incessante pelo corpo perfeito, pelo rosto perfeito e pela vida perfeita de influenciadoras que as pessoas encontram nas redes e almejam pra si mesmas a ponto de, em muitos casos, se tornar uma verdadeira obsessão. Isso acaba desencadeando comparações absurdas onde vai aparecer gente que se sinta inferior por não corresponder àquela imagem e tendo problemas seríssimos de autoestima, ou se sentindo pressionada a ser igual a quem acompanha. O livro inclusive lembra do caso em que várias pessoas entraram num desafio descabido de fazerem pressão com a boca num copo pra ficarem com os lábios enormes de tão inchados, porque essa imagem da boca grande e carnuda é a mais bonita, é a mais atrativa, é o que está na moda. A autora não só dá exemplos reais, como também procura na ciência explicações para esses fenômenos comportamentais em que várias pessoas começam a fazer coisas que naturalmente não fariam, se não fossem a influência de outra pessoa.



Ao final, os pontos abordados pela autora e que trazem diversas reflexões sobre essa questão da imagem são um meio de se chegar a mensagem que captei ao ler o livro, que fala da pressão social a que muitas pessoas estão submetidas, das mudanças de padrões que nem sempre são necessárias, da aceitação e autoestima que são os principais fatores submetidos a esses conteúdos, o contraste do que é mostrado nas imagens e o que fica nos bastidores, e principalmente da saúde mental fragilizada por vivermos numa era digital com informações vindas de pessoas que simplesmente definiram o que é beleza e saem por aí impondo e influenciando os outros sem ter a menor ideia das consequências que isso causa. Por mais que determinadas postagens tenham a intenção de mostrar um lado real (ou imperfeito) do que quer que seja, ela não deixa de fazer parte de uma performance consumível que continua alimentando a indústria de anúncios (engordando cada vez mais os bolsos da burguesia) e mantendo as pessoas cada vez mais dependentes de redes sociais e telas em geral.

No mais, acho que o título do livro serviu muito bem, pois ele vai se referir a necessidade que todos deveriam ter de olhar no espelho, em introspecção, pra descobrirmos quem somos na realidade, em vez de olhar e procurar no outro.

Enquanto Eu Não te Encontro - Pedro Rhuas (Audiolivro)

13 de março de 2023

Título:
Enquanto Eu Não te Encontro (Audiolivro)
Autor: Pedro Rhuas
Narração: Pedro Rhuas
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem Adulto/Romance
Ano: 2021
Duração: 7h 43min (272 páginas)
Nota:★☆☆☆☆
Sinopse: Nenhum encontro é por acaso.
A vida tem sido boa para Lucas. Ele passou no Enem para estudar publicidade; se mudou com Eric, seu melhor amigo, do interior do Rio Grande do Norte para a capital; e conseguiu sua tão aguardada liberdade. Mas, no amor, Lucas é um desastre. O maior fã de Katy Perry no Nordeste tem certeza de que nem toda a sorte do mundo poderia fazer com que ele finalmente se apaixonasse pela primeira vez.
Até que, em uma despretensiosa noite de sábado em 2015, tudo muda. Quando Lucas e Eric vão na inauguração do Titanic, a mais nova balada da cidade, Lucas esbarra (literalmente!) em Pierre, um lindo garoto francês que parece ter saído dos seus sonhos. Em meio a drinques, segredos e sonhos partilhados, Lucas e Pierre se conectam instantaneamente. Eles vivem o encontro mais especial de suas vidas, mas o Universo tem outros planos para o futuro... Até a noite acabar, o que será que vai acontecer com eles?
Com uma voz original e divertida, repleta de referências pop e à cultura do Rio Grande do Norte, o livro de estreia de Pedro Rhuas vai te fazer rir alto e se apaixonar.

Resenha: Em busca de sua liberdade, Lucas, um jovem de 20 anos que estuda publicidade e o maior fã de Katy Perry que existe, decidiu sair da cidadezinha de Luna do Norte pra ir morar em Natal, no Rio Grande do Norte, junto com o melhor amigo de infância, Eric. Os dois estão na faculdade, dividem um apartamento aconchegante e têm uma amizade super legal e sincera, até Eric arrumar um namorado da noite pro dia, o Raul, e deixar Lucas de lado com a sensação de ter sido abandonado. Quando o assunto é relacionamento, Lucas se considera um desastre e parece ter perdido as esperanças de encontrar alguém.
Mas tudo muda quando chega o dia da inauguração da balada mais top da cidade, o Titanic. Lucas, Eric e Raul saem pra curtir a tão esperada noite, e Lucas conhece Pierre, um francês que parece ter saído de um sonho mais lindo que eu já vi. Talvez o universo e o destino reservam algo de especial para Lucas, nem que seja pelo menos até o fim da noite...

Já ouvi vários audiolivros nessa minha vida de leitora, desde os narrados por narradores profissionais, os narrados por amadores e leitores comuns, e até os por narração sintética no Youtube, mas essa foi a primeira experiência com um audiolivro narrado pelo próprio autor que tive. Já adianto que não curti e que eu poderia escrever uma resenha enorme falando sobre todos os pontos que não gostei nesse livro, e é isso mesmo que vou fazer pra tentar mostrar meu ponto sobre não entender e nem concordar com esse hype todo.

Eu levaria no máximo 3 horas pra finalizar um livro de 270 páginas dando várias pausas, mas alongar essa leitura numa narração de quase 8 horas foi difícil, principalmente porque o tom da narração muitas vezes não combinava com o ambiente ou com a situação e ficava super forçada e exagerada, e chegou num ponto onde eu larguei o audiolivro por falta de paciência, e 2 meses depois que é tive coragem de retomar.
O audiolivro tem a trilha sonora embutida (composta pelo autor e disponível no Spotify), e acho até legal essa iniciativa de escrever um livro e criar toda uma ambientação em volta da história pra se criar aquela experiência completa e imersiva para o leitor aproveitar, mas pra mim não funcionou, deixou tudo mais cansativo, me distraía, e não caiu no meu gosto pessoal.

A história se passa em 2015 e é dividida em Primeiro Encontro, Desencontro e Segundo Encontro e cada parte tem os próprios capítulos bem curtinhos com títulos chamativos sobre as várias situações que estão dentro desses acontecimentos, mas em vez de eu me deparar com uma história sobre primeiro amor, representatividade e cultura nordestina como eu esperava, a única coisa que ficou evidente, com pouquíssimas ressalvas, foi a insistência em falar de memes ultrapassados, o lacre, soltar frases motivacionais ou de efeito aleatórias em meio à divagações, militância, questões políticas inseridas fora de contexto, mais lacre, e fazer referências a todos os ícones da cultura pop do mundo em meio a diálogos ruins e nada naturais. No primeiro capítulo já encontramos menções à Lady Gaga, Katy Perry, Os Simpsons, The Sims, Grey's Anatomy e o Gato de Botas, e a enxurrada de referências continua sem parar ao longo da história. Senti como se o autor quisesse mostrar todas as coisas legais e bafônicas que ele conhece e decidiu espalhar pelo livro porque sim, a ponto de eu ficar confusa e sem saber se ele falava dos interesses do personagem ou de si mesmo. Na maioria das vezes eu sentia que estava perdida na sessão de comentários de algum portal de fofoca qualquer, ou numa trend ruim sobre celebridades no Twitter. Há também a quebra da quarta parede onde o protagonista faz comentários sobre alguma situação ou fala descrita, e confesso que esse recurso num livro não me agrada muito, principalmente quando não consigo me conectar com o personagem. O tempo perdido com toda essa encheção de linguiça ou meras pinceladas sobre temas importantes poderia ser investido em construir e desenvolver melhor os personagens, tornar as coisas mais plausíveis, e quem sabe assim a história não ficasse a cara das fanfics de qualidade questionável do Wattpad.

Como o primeiro encontro desses dois acontece nessa boate Titanic, que inclusive serve de metáfora pra algumas situações descritas, fiquei imaginando aquela ambientação de balada top, muvuca, gente dançando e bebendo, música alta, glitter voando pra todo lado, então pra mim, por mais que eles pudessem estar um pouco mais afastados da bagunça no tal "convés", não fazia sentido Lucas e Pierre conseguirem conversar e se abrirem um pro outro durante 3 horas de uma forma tão profunda como eles fizeram, como se estivessem em total privacidade numa praia deserta, no silêncio e tranquilos, só esperando o nascer do sol. Não consegui acreditar que aquela conversa, naquele tom, durante esse tempo estava acontecendo naquele lugar.

Alguns personagens que pareciam ter um potencial grande de serem interessantes na história, como o casal de garotas de cabelo colorido ou a drag queen jovem mística e escandalosa, só estão alí pra se aparecer mesmo, e depois nunca mais ouvi falar. Se a ideia era criar um leque de personagens LGBTQIAP+ em prol da representatividade, não acho que funcionou quando o foco ficou somente em descrever Lucas, seus faniquitos, suas gírias e palavreados, e o surto por ter conhecido seu príncipe. Eu juro que achei o máximo o autor trazer um protagonista com essa característica afeminada porque é difícil encontramos personagens assim na literatura, mas ele é chato e tudo parece plástico, de tão artificial. E Pierre é tão perfeito, maravilhoso e sem nenhum defeito que deixa qualquer príncipe encantado da Disney recolhido à própria insignificância.

Algumas lembranças de infância ou situações difíceis que Lucas e Eric viveram, e como eles se uniram pra passar por isso, talvez tenham sido a única e melhor mensagem do livro, como a descoberta de sua sexualidade e a preferência pelas "coisas de menina", a decepção e o estado de negação da família por saber que o filho é gay, o bulliyng sofrido na escola por outras crianças maldosas, a pressão sobre eles por uma expectativa criada que não pode ser superada e afins, e até a rápida tentativa de se relacionar com meninas pra se certificar de que não existe "nada de errado" com eles, e tenho certeza que muitas pessoas que tiveram uma experiência parecida puderam se identificar com esse padrão de acontecimentos até poderem assumir a própria sexualidade e, infelizmente, alguns sequer conseguem fazer isso. O próprio Eric passou muito tempo dentro do armário e só agora está se permitindo ser feliz, sendo quem é. Penso que o #orgulho é um dos movimentos mais importantes e necessários que existem, pois em meio a tanta luta, ele também é capaz de simbolizar a vitória que é conseguir passar por tudo isso sem se perder, e seguir em frente de cabeça erguida, ainda que todas essas experiências deixem marcas que talvez nunca poderão ser apagadas. E tenho que ser sincera em dizer que o autor acertou pelo menos nessa abordagem, pois Lucas, apesar de ser insuportável, é muito sincero quando descreve como aconteceu, o que sentiu e como lidou com isso. Foi a única coisa que senti ser realmente real.
"Fiz uma promessa que, se um dia contasse a minha história, gritaria logo nas primeiras páginas sobre o viado orgulhoso e nordestino que sou."
Infelizmente nem essa questão que mencionei acima, nem os textões disfarçados de diálogos e pensamentos filosóficos foram capazes de salvar a história, porque parecem palestras de coachs de internet tentando vender curso. Talvez se isso fosse integrado à história de outra forma pra fluir de um jeito mais natural, onde o autor quisesse causar a reflexão com base nas experiências dos personagens em vez de querer ensinar alguma coisa com essas lições prontas, funcionaria melhor. Separei um trecho de uma cena onde Lucas cai no chão que deve explicar o que quero dizer sobre o exagero e como esse tipo de coisa é inserida de qualquer jeito, em qualquer brecha, do nada:
"Na hora, nem percebo que meus joelhos ficam ralados. Minha maior preocupação é manter o celular intacto. E não me envergonho disso, tá? É um comportamento absolutamente aceitável quando nos enxergamos como meros produtos de uma sociedade regida pelo capitalismo brutal, onde as elites controlam os meios de produção e, pros pobres coitados como você e eu, resta a eterna desventura de tentar preservar os bens de consumo adquiridos com tanto esforço."
Por mais que a informação acima seja um fato, não vejo como isso cabe nessa história. Se eu quisesse ler sobre o capitalismo e como ele é o maior vilão da sociedade, o último lugar que eu ia procurar informações sobre seria num livro jovem adulto com romance de conto de fadas gay. É meio desanimador pegar um livro esperando ler uma história divertida, achar que vamos dar um rolê pelo nordeste afora, e ter que ficar se deparando com esses discursos gratuitos a todo momento vindo de um personagem que só tem como característica marcante ser gay, dar chilique e ficar militando sem parar. Lucas, meu filho, descansa.

Talvez eu apenas não seja o público alvo desse tipo de história pra simplesmente ignorar todos esses pontos como se não fossem problemáticos pra mim, e acho que outros leitores mais jovens e que se identifiquem mais tirem um maior proveito, então nada melhor do que ler e tirar as próprias conclusões. Os fãs que me perdoem, mas o problema maior foi a necessidade de eu ter que espremer a história até conseguir extrair alguma mínima coisa que fosse boa, e quando chega ao ponto do leitor precisar fazer todo esse esforço, acho que a coisa já desandou e não vale a pena.

A Longa Marcha - Stephen King/Richard Bachman

21 de janeiro de 2023

Título:
A Longa Marcha
Autor: Stephen King/Richard Bachman (pseudônimo)
Editora: Suma
Gênero: Distopia/Terror/Thriler
Ano: 2023
Páginas: 296
Nota:★★★☆☆
Sinopse: Contrariando a vontade da mãe, o jovem Ray Garraty está prestes a participar da famosa prova de resistência conhecida como A Longa Marcha, que presenteia o vencedor com “O Prêmio”; qualquer coisa que ele desejar, pelo resto da vida.
No percurso anual que reúne milhares de espectadores, cem garotos devem caminhar por rodovias e estradas dos Estados Unidos acima de uma velocidade mínima estabelecida. Para se manter na disputa, eles não podem diminuir o ritmo nem parar. Cada infração às regras do jogo lhes confere uma advertência. Ao acumular mais de três penalidades, o competidor é eliminado ― de forma “permanente”. E não há linha de chegada: o último a continuar de pé vence.

Resenha:
A Longa Marcha é um dos livros independentes de Stephen King escritos sob o pseudônimo Richard Bachman. O livro inaugura essa nova coleção que será relançada pela Suma.

Ray Garraty está prestes a participar de uma prova de resistência chamada "A Longa Marcha", onde cem competidores são escolhidos pra participar, porém somente um poderá chegar até o fim e ser o vencedor. Esse é um evento anual com um percurso longo que passa por várias cidades, e é um tanto famoso, tanto que reúne milhares de espectadores. O prêmio para quem ganhar é o que ele quiser, desde que ele seja o último a sobreviver...

Ray é o competidor 47, que resolveu participar dessa caminhada mesmo que sua mãe não tenha gostado nada da ideia. A competição vai colocar a resistência dos competidores a prova, e se não derem conta de manter um determinado ritmo de acordo com a distância percorrida ou cometerem erros, eles recebem advertências. O caminho é difícil e eles precisam superar a fome, o sono e o cansaço sem cogitar fracassar ou desistir, caso contrário são executados.

Mesmo que o livro tenha sido escrito no final da década de 70, a crítica social é super atual e relevante, pois vemos um grupo de competidores, cuja maioria sequer sabe o motivo real que os levou a decidir participar desse evento, que enquanto estão alí a beira da exaustão, surtando e desmoronando tanto física quanto psicologicamente, os espectadores vibram a medida que o sofrimento aumenta e as mortes acontecem cada vez mais.
A leitura é um pouco cansativa, não vou negar. O ritmo é lento com uma tensão que perdura do começo ao fim, e por ter sido escrito numa época diferente, os costumes e o comportamento da sociedade descritos é capaz de revirar o estômago (aquela história do machismo, da misoginia e afins que o King insistia em enfiar em suas histórias), tanto quanto a própria caminhada, que é tão angustiante quanto desesperadora.

É muito agonizante acompanhar o desmoronamento gradual dos participantes, ver que alguns que pareciam estar com a vantagem estão ficando pra trás, mas pior que isso é perceber que a medida que o evento progride, as pessoas vão ficando cada vez mais vazias de si, e isso levanta questionamentos sobre o valor da vida e o que significa o desejo de viver numa sociedade doentia.
A Longa Marcha é uma distopia sombria, que traz questões acerca de se atingir um objetivo quando as pessoas são movidas pelo desespero e pela dor.

Todo Dia a Mesma Noite - Daniela Arbex

20 de janeiro de 2023

Título:
Todo Dia a Mesma Noite - A História Não Contada da Boate Kiss
Autora: Daniela Arbex
Editora: Intrínseca
Gênero: Não ficção
Ano: 2018
Páginas: 248
Nota:★★★★★
Sinopse: Reportagem definitiva sobre a tragédia que abateu a cidade de Santa Maria em 2013 relembra e homenageia os 242 mortos no incêndio da Boate Kiss.

Daniela Arbex reafirma seu lugar como uma das jornalistas mais relevantes do país, veterana em reportagens de fôlego - premiada por duas vezes com o prêmio Jabuti - ao reconstituir de maneira sensível e inédita os eventos da madrugada de 27 de janeiro de 2013, quando a cidade de Santa Maria perdeu de uma só vez 242 vidas.
Foram necessárias centenas de horas dos depomentos de sobreviventes, familiares das vítimas, equipes de resgate e profissionais da área da saúde - ouvidos pela primeira vez neste livro -, para sentir e entender a verdadeira dimensão de uma tragédia sobre a qual já se pensava saber quase tudo. A autora construiu um memorial contra o esquecimento dessa noite tenebrosa, que nos transporta até o momento em que as pessoas se amontoaram nos banheiros da Kiss em busca de ar, ao ginásio onde pais foram buscar seus filhos mortos, aos hospitais onde se tentava desesperadamente salvar as vidas que se esvaíam. Foi também em busca dos que continuam vivos, dos dias seguintes, das consequências de descuidos banalizados por empresários, políticos e cidadãos.

Resenha: Em 27 de janeiro de 2013 uma das piores tragédias já vistas no mundo aconteceu na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul: 242 jovens, com idade entre 18 e 30 anos, morreram no incêndio da Boate Kiss. 10 anos depois, a tragédia ainda causa muito abalo, seja por ter afetado as famílias das vítimas pra sempre, ou por todos os absurdos que vieram à tona durante as investigações e o julgamento dos responsáveis.
Todo dia a Mesma Noite, da jornalista Daniela Arbex, foi escrito 5 após após a tragédia, mas continua atual e muito necessário pra compreendermos o quanto as coisas no Brasil são tratadas com negligência quando o assunto envolve justiça, política, dinheiro e oportunismo. A Netflix já está prestes a lançar uma minisérie sobre o ocorrido após esses 10 anos de um enorme luto que se tornou e continua a ser uma luta.

A autora coletou centenas de horas de depoimentos dos familiares das vítimas, dos profissionais de saúde e das equipes de resgate que trabalharam incansavelmente, e dos sobreviventes para criar essa reportagem comovente, humana e cheia de detalhes em forma de livro, para que as pessoas entendessem que o acidente além de ter deixado vários mortos, ainda destruiu e mudou completamente a vida de quem ficou. É possível ver de perto a angústia e a dor das famílias ao procurarem desesperadamente por notícias e saber que o pior tinha acontecido, ou ainda ter que lidar com situações escabrosas vindas de pessoas sem um pingo de humanidade, como foi o caso das funerárias que superfaturaram vendas de caixões, de políticos tentando se promover, de pessoas "religiosas" que culparam os pais pela morte dos filhos por permitirem que eles frequentassem lugares do "diabo", do ministério público processando os pais enlutados e clamando por justiça por "calúnia", e até de outras criaturas abismais que tentaram tirar fotos dos corpos descobertos das vítimas enfileiradas no ginásio sem se preocupar com a violação terrível que estavam cometendo e pra fazer sabe-se lá Deus o que. Em contrapartida, a autora também fala sobre o altruísmo de boa parte da população que fez de tudo pra ajudar, como taxistas que levaram as pessoas aos lugares sem cobrar, moradores que ajudaram as pessoas com água e comida, e até pessoas que conseguiram escapar mas tiveram o instinto de voltarem pra boate pra tentar resgatar mais gente. Alguns sobreviveram, mas outros não tiveram essa sorte, pois na intenção de ajudar, acabaram perdendo suas vidas também.

Apesar de ser um livro com capítulos curtos e de leitura muito rápida, levei 3 dias pra ler, pra poder lidar com os fatos, pra digerir a tragédia, pra me recompor e ter um pouco de forças pra continuar, mas no final o esforço vale a pena. A autora fala tudo aquilo que precisa ser dito com empatia, respeito e solidariedade, mas sem diminuir a dimensão do que essa tragédia representou.
É uma leitura difícil e pesada, que emociona pela abordagem delicada sobre como era a vida de alguns desses jovens que perderam suas vidas, como eles eram, o que faziam, seus sonhos, SEUS NOMES, e o relacionamento com suas famílias que foram interrompidos por uma tragédia que poderia ter sido evitada se várias irregularidades não tivessem sido cometidas, causando uma grande revolta, mas acredito ser muito necessária pra podermos compreender que existe pessoas boas e dispostas a ajudar o próximo, mas também há muita podridão na sociedade que desmecere ou tenta lucrar em cima da dor e do sofrimento alheio.

Almanaque Heartstopper - Alice Oseman

17 de janeiro de 2023

Título:
 Almanaque Heartstopper
Autora: Alice Oseman
Editora: Seguinte
Gênero: HQ/Romance/Juvenil
Ano: 2022
Páginas: 160
Nota:★★★★☆
Sinopse: Você já parou para pensar se tem mais a ver com Nick ou com Charlie? E o que a Turma de Paris faz em cada estação do ano? Ou mesmo como nossos personagens favoritos eram nos primeiros rascunhos de Alice Oseman? Este livro contém todas as respostas – e muito mais!
Este almanaque é a leitura ideal para todo leitor apaixonado pelo universo de Heartstopper. Entre ilustrações divertidas – já imaginou o Nick com asas? –, textos inéditos e atividades interativas, Alice Oseman nos conduz pelo universo apaixonante desta história que já conquistou milhões de leitores ao redor do mundo.

Resenha: Almanaque Heartsopper é um copilado de informações sobre o processo criativo de Alice Oseman ao criar esse universo tão queridinho pelos leitores.

Ele funciona mais como um guia onde a autora conta quando começou a ilustrar os personagens lá em 2013 até 2021 (quando os quadrinhos viraram série na Netflix), assim como as mudanças e aperfeiçoamentos que fez ao longo do tempo pra deixá-los com essas carinhas fofas e carismáticas que conhecemos. Além disso, ela também deixa uma ficha de perfil pra cada um, mostrando curiosidades sobre as coisas que gostam e não gostam, incluindo uma ilustração de um player com o nome da música preferida deles, além de um resumo sobre o papel desse personagem na história e um pouquinho sobre sua personalidade e comportamento.
A autora fala sobre a importância de ter feito ilustrações e personagens que representem o orgulho LGBTQIAPN+, como ainda existe um caminho longo a ser percorrido em busca dos direitos trans e a necessidade de se fazer reformas nas leis para que haja o reconhecimento de gênero dessas pessoas para que sejam tratadas de forma igualitária na sociedade.
O almanaque não traz uma história como nos outros livros porque a ideia é realmente mostrar o processo criativo desse universo, mas traz dois mini contos bem curtinhos sobre os professores Farouk e Ajayi, de Tara e Darcy e, claro, de Nick e Charlie, que complementam um pouquinho aquilo que os fãs já conhecem e dão aquele quentinho no coração.
O livro é todo colorido e o uso de cores em tons pastel só deixa a coisa ainda mais fofa do que já é. Tem até um pequeno teste pra descobrirmos se somos mais parecidos com Nick ou Charlis de acordo com suas preferências. A autora capricha nas ilustrações temáticas das estações do ano ou de algum evento, como Natal e Halloween, e ainda mostra outros cenários de universos alternativos que já deixa o leitor imaginando um milhão de possibilidades onde a história poderia se passar. A criação dos cômodos das casas e suas inspirações que servem de cenário para a história também é super legal, a ideia de trazer mais sobre a composição familiar e a árvore genealógica dos meninos é muito interessante, e de bônus a autora ainda traz um pequeno tutorial de como desenhar os personagens.
No final a vontade de reler a série é inevitável, assim como conhecer os outros livros da autora que tem esses outros personagens como protagonistas.

Não digo que seja um livro essencial porque ele realmente funciona como uma apresentação dos livros de Heartstopper (ou pra matar a saudade de quem já leu tudo), tanto que pode ser lido em coisa de meia hora, mas pra quem tem curiosidade sobre os livros da autora e quer saber sobre os personagens e a criação deles de uma forma mais resumida antes de sair comprando tudo, talvez seja uma boa dar uma lida pra ter certeza de que é algo do seu estilo.
Agora, pra quem realmente é fã da autora e desse universo tão inclusivo e cheio de representatividade que ela criou, acho que a leitura não é só recomendada, como é um item pra se colecionar e guardar no coração.

Oito Horas Perfeitas - Lia Louis

9 de janeiro de 2023

Título:
Oito Horas Perfeitas
Autora: Lia Louis
Editora: Paralela
Gênero: Romance
Ano: 2022
Páginas: 304
Nota:★★★☆☆
Sinopse: Qualquer coisa poderia ter acontecido naquele dia. Mas Noelle nunca imaginou que uma nevasca fecharia a estrada e ela passaria a noite parada no trânsito, sozinha, sem comida, água ou um carregador de celular. E sequer pensou que, de repente, estaria sentada no carro do charmoso Sam, um norte-americano em uma breve visita à Inglaterra, tendo a melhor conversa de sua vida – por oito horas perfeitas. Mas Sam está a caminho do aeroporto e ambos sabem que, no dia seguinte, seus caminhos se separarão para sempre. Mas e se o destino reservar um plano diferente para eles?

Resenha: Noelle Butterby é uma mulher de 32 anos que parou sua vida e interrompeu todos os seus sonhos pra viver em função de sua mãe, que teve um derrame há 6 anos e desde então está muito fragilizada e não sái mais de casa. Como se isso já não fosse complicado o bastante, Noelle ainda está tentando lidar com o término de seu namoro com Ed, que durou 12 anos.
Depois de uma visita meio mal sucedida em sua antiga faculdade onde seria aberta uma cápsula do tempo, Noelle está voltando pra casa mesmo com vários avisos sobre o mau tempo e a nevasca na Inglaterra. A nevasca inclusive impediu que Noelle recuperasse uma câmera enterrada que ela queria muito e que pertenceu a uma amiga dela que havia falecido. Na volta, as condições do tempo deixaram as estradas engarrafadas e o trânsito completamente parado. Sem bateria no celular, Noelle começa a ficar desesperada já que não tem como ligar pra casa e avisar sua mãe que ela está presa. Até que o inesperado acontece: Sam, um americano muito charmoso que estava a caminho do aeroporto mas ficou preso no trânsito ao lado dela, oferece ajuda e permite que Noelle vá carregar o celular em seu carro. Noelle aceita a gentileza por pura necessidade e entra no carro de Sam, e eles acabam passando 8 horas juntos conversando sobre a vida pra passar o tempo, e esperando que a estrada fosse liberada para que cada um seguisse seu caminho e provavelmente nunca mais se verem. Mas será que esse encontro realmente seria o último?

A história de Oito Horas Perfeitas é baseada no "Akai Ito", ou "Fio Vermelho", uma lenda chinesa que se espalhou pela Ásia há mais de dois mil anos. Essa lenda conta que no momento do nascimento, os deuses amarram um fio vermelho invisível nos tornozelos daqueles que estão predestinados a se encontrarem um dia, verdadeiras almas gêmeas, independente do tempo que leve até isso acontecer. Mais cedo ou mais tarde os caminhos dessas pessoas vão se cruzar, e as coisas vão se encaixar do jeito que foi "escrito". Embora a autora foque bastante nessa questão de destino, não nego que é algo que traz reflexões não só sobre o amor entre duas pessoas que estão descobrindo fatores que podem determinar seus futuros enquanto tentam deixar o passado pra trás, mas também sobre família e amizade, sobre representações relevantes de saúde mental e sintomas de ansiedade, sobre se encontrar, sobre descobrir seu propósito de vida e perseguir seus sonhos.

Noelle é aquele tipo de protagonista que a gente tem vontade de pegar pela mão, e no meu caso me vi um pouquinho nela por essa lado de abrir mão de tudo em prol de outro e deixar a vida passar. A preocupação pela mãe e a forma como ela se sente responsável é sufocante, é pesada, mas também é admirável. Mas, ainda assim não foi um livro que causou um grande impacto emocional em mim porque a maior parte do livro se passa com Noelle e Sam separados enquanto muito nada acontece. As 8 horas, que duram poucas páginas, são o tempo em que eles ficam presos no carro até Sam ir embora e agir como se aquilo não tivesse significado nada e Noelle, que sentiu uma conexão fortíssima alí, fica chateada pela frieza dele. Nem o telefone dela ele pediu e é impossível não se frustar com essa atitude e com várias outras que virão a partir dela. Mas é claro que as coisas não iriam acabar alí, algumas semanas depois eles se encontram por acaso de novo, e mais tarde isso acontece de novo, e de novo, e a gente começa a perceber que aquilo não pode ser mera coincidência e que algo mais forte existe alí, mas como Sam continua seco e evitando Noelle toda vez, não existe tensão romântica, a química é nula, e no final das contas eu nem queria mais saber se eles iriam ficar juntos ou não.

Uma coisa que me deixou bem incomodada é a forma como a autora inseriu e construiu Ed, o ex-namorado de Noelle. Ele foi seguir seus sonhos e depois voltou como se fosse o último biscoito do pacote, falando um monte de merda e querendo reatar o namoro sem se importar se isso era o que Noelle queria, só quis saber do que seria melhor e mais conveniente pra ele. Isso seria uma tentativa de fazer com que Ed fosse um tipo de "vilão" no intuito de ressaltar as qualidades de Sam e fazer parecer que ele era um cara mais legal quando na verdade Sam não fazia nada de especial? Poxa, a gente entende perfeitamente que Sam e Noelle estão presos no passado, seja a acontecimentos ou pessoas ligadas a eles, e isso de alguma forma impede que eles sigam em frente, mas as coisas acontecem de um jeito muito sem sal e infelizmente não consegui torcer por eles.

Eu gostei do livro e da forma como a autora equibra temas mais sérios com temas mais leves, mas com algumas ressalvas. Acho que a ideia que ele passa é mais um questionamento sobre estarmos destinados a algo maior baseado em crenças, ou se a vida se baseia em várias circunstâncias realistas e nossas escolhas nos levam até onde devemos chegar. Sendo assim, se a pessoa é mais cética e não acredita nessas coincidências, talvez a leitura não vá agradar muito, mas para aqueles que costumam ver o copo meio cheio e sempre tentam levar algo de bom de qualquer tipo de experiência, a leitura deve ser melhor aproveitada. A mensagem e a ideia do livro em si é ótima, mas a execução é que não me agradou pois achei a narrativa um tanto enrolada e cheia de conveniências. E nem digo isso pelos clichês, pelos inúmeros encontros e desencontros, ou pelo desfecho previsível, mas porque o livro demora pra engatar e não prendeu minha atenção a ponto de eu simplesmente não ter interesse nos personagens (e nem me importar com suas questões, por mais tristes que sejam).

Carrie Soto Está de Volta - Taylor Jenkins Reid

5 de janeiro de 2023

Título:
 Carrie Soto Está de Volta
Autora: Taylor Jenkins Reid
Editora: Paralela
Gênero: Romance
Ano: 2022
Páginas: 352
Nota:★★★★★
Sinopse: A tenista Carrie Soto se aposentou no auge, com a tranquilidade de ter atingido um recorde imbatível: foram vinte títulos Grand Slam conquistados ao longo de sua carreira. Mas apenas cinco anos depois de seu retiro das quadras, ela assiste Nicki Chan igualar sua marca, trazendo a sensação de que seu legado está comprometido.
Disposta a chegar aos seus limites, Carrie tem o apoio de seu pai, Javier, ex-tenista que a treina desde os dois anos de idade. Ele parece ter seus próprios motivos para incentivar a filha nesta última temporada que promete desafiar ambos num jogo que exige tanto física quanto mentalmente.
Em uma inesquecível história sobre segundas chances e determinação, Taylor Jenkins Reid nos cativa com uma protagonista forte como sempre e um romance emocionante como poucos.

Resenha: Carrie cresceu sendo criada pelo pai, Javi, um tenista profissional aposentado que sempre incentivou a filha no esporte desde seus dois anos de idade. E seguindo os passos do pai, Carrie fez muito sucesso na carreira e se aposentou após ter ganhado vinte títulos Grand Slam e ter batido um recorde, mesmo que isso tivesse um enorme custo pessoal. Ela era uma lenda do tênis e por muito tempo foi conhecida como a maior campeã, a mais forte e determinada, mas também a mais arrogante, a mais "vaca" de todas. Mas, depois de 5 anos fora das quadras, Carrie, que agora tem 37 anos,  acompanha a tenista Nicki Chan, de 31, igualar sua marca. Agora que seu recorde está ameaçado e seu legado comprometido, Carrie decide voltar, nem que pra isso precise chegar ao seu limite.

Depois que me acabei lendo Os Sete Maridos de Evelyn Hugo, não imaginei que pudesse haver outra protagonista épica e inesquecível naquele nível, mas, esse é mais um livro que a autora só demonstra o quanto ela é mestre em criar heroínas maravilhosas e inesquecíveis, por mais que sejam imperfeitas ou detestáveis, e combinar isso numa trama que envolve superar as adversidades através de determinação, trabalho duro e muito foco.

Vou ser sincera em dizer que tênis não é minha praia e não tenho muito interesse no esporte em si, mas também tenho que ser sincera em afirmar que, por mais que o livro seja cheio de termos que não conheço (mas que acabam sendo fáceis de entender devido a narrativa) e descreva tudo nos mínimos detalhes, é impossível não se empolgar, não torcer, não vibrar, não prender a respiração e não imaginar estar assistindo um filme com direito a jogadas em câmera lenta, tensão, e muita emoção. O treinamento é cansativo e beira a exaustão, e as competições são adrenalina pura. Embora o livro seja ficção, a impressão é que estamos testemunhando a história de vida de alguém, com direito a experienciar toda a glória e sofrimento vividos, tamanha a capacidade da autora em construir toda uma ambientação convincente e criar personagens humanos e reais e com relacionamentos tão intensos.

Por ter sido criada e treinada pelo pai, Carrie viveu nesse universo esportivo e respira tênis desde que se entende por gente. Ela não conhece outra coisa e não aceita que ninguém supere seus feitos. Carrie é ousada e tão confiante que exala arrogância por onde passa. Seu objetivo é ser a melhor e vencer, mesmo que isso custe sua felicidade, e por mais que essa personalidade difícil cause incômodo e antipatia no leitor, é exatamente o que faz com que seu crescimento pessoal se torne tão curioso quanto atraente pra quem acompanha essa jornada. Essa obsessão em ser a melhor, como se fosse uma obrigação, também faz com que ela tenha medo de não conseguir chegar lá, e só a ideia de falhar deixa Carrie destruída. E acompanhando essa determinação, essa garra e essa coragem de enfrentar tudo e todos, acabamos torcendo por ela, principalmente quando fica evidente como uma esportista mulher pode ter as conquistas tão banalizadas pelo machismo e como esse tipo de coisa é absurda e sequer deveria existir.

Carrie Soto Está de Volta é mais um romance de abalar todas as estruturas que a autora Taylor Jenkins Reid trouxe pra deixar a gente com aquela ressaca literária, sem vontade de se recompor, pensando que nem tudo é sobre competir e vencer: ganhar e perder faz parte, ter coragem e ter medo também, e tudo isso é inerente do ser humano, mas a gente nunca vai saber se o que queremos dará certo se não metermos a cara e tentarmos alcançar o que parece impossível. No final das contas, por mais difícil que pareça, o que resta às pessoas é desapegar do que as prendem, viver a vida ao máximo, se esforçar e correr atrás dos objetivos sem se preocupar com a idade, e curtir todos os bons momentos, porque tudo é passageiro. Ás vezes falhar ou abrir mão das coisas é o certo a se fazer, é o que vai trazer paz e felicidade

Vê se Cresce, Eve Brown - Talia Hibbert

4 de janeiro de 2023

Título:
Vê se Cresce, Eve Brown - As Irmãs Brown #3
Autora: Talia Hibbert
Editora: Paralela
Gênero: Romance
Ano: 2022
Páginas: 397
Nota:★★★★☆
Sinopse: Eve Brown não tem nada sob controle. Pouco importa o quanto ela se esforce, sua vida parece sempre ir na direção errada, tanto que ela já parou de tentar. Mas arruinar uma festa de casamento é demais até para Eve, e seus pais decidem dar um basta. É hora de ela crescer e se provar capaz de se sustentar, mesmo que não saiba como…
Jacob Wayne, por sua vez, está sempre no controle de tudo. Dono de uma charmosa pousada, ele não aceita nada menos que a perfeição. Assim, quando uma mulher de cabelo roxo que mais parece um tornado se candidata ao cargo de chef no estabelecimento, ele é brutalmente honesto: nem por cima de seu cadáver. Então ela o atropela com o carro — supostamente por acidente. Claro.
Agora, o braço de Jacob está quebrado, sua pousada não tem funcionários, e Eve está zanzando ao seu redor, tentando ajudar. Parece um pesadelo, mas, quanto mais tempo esses inimigos passam juntos, mais a animosidade entre eles se transforma em outra coisa. Assim como Eve, o fogo entre os dois é impossível de ignorar — e está ameaçando derreter o exterior gelado de Jacob.

Resenha: Vê se Cresce, Eve Brown é o último volume da trilogia das Irmãs Brown e traz Eve Brown como protagonista da história dessa vez.
Eve sempre foi uma garota bastante mimada e, agora, com seus 26 anos, depois de uma briga com os pais, ela decide provar que já é crescida e que pode conseguir um emprego pra se manter sozinha sem ajuda de ninguém. Então, após uma briga com a família, e já cansada de não ter um objetivo de vida pra seguir, ela sai dirigindo sem rumo até chegar a uma cidade onde descobre uma pousada. Alí Eve conhece Jacob Wayne, um cara bastante perfeccionista e dono da pousada que precisa urgente de uma coinheira. Em sua tentativa de conseguir um emprego, ela se canditada para trabalhar alí, mas Jacob não a considera qualificada e não a quer alí nem por cima do cadáver dele. Tempestuosa como é, ela não gosta nada da recusa, algumas farpas são trocadas, ela vai embora arrasada, e no final das contas Jacob tenta ir atrás dela, mas o que nenhum deles esperava era que Eve fosse atropelar o homem "sem querer" e causasse uma confusão danada. Jacob, agora todo estropiado, vai precisar de alguém para ajudá-lo a administrar a pousada, e por mais que ele ache que será um pesadelo completo ter essa moça de cabelo roxo por perto, talvez Eve se revele diferente do que a primeira impressão causou e, com o tempo, as coisas comecem a mudar...

O livro segue aquele mesmo padrão dos livros anteriores: Personagen maluquinha que se envolve em algum acidente/resgate que une o casal que é o total oposto um do outro, e que desenrola uma história com representatividade, fofura, maluquices e muita quentura, pois o jeito caloroso de Eve acaba derretendo o coração gelado de Jacob.

Narrado em terceira pessoa, vamos acompanhando uma protagonista muito agitada que demonstra estar sempre interessada em ajudar os outros e que aos poucos vai descobrindo coisas sobre si mesma que não sabia que existiam, mas é bem legal ver o quanto a naturea caótica de Eve, com seu jeito inquieto, falante e barulhento faz um contraste gritante com a ordem e a calmaria que Jacob está acostumado, e ainda assim eles conseguem manter um equilíbrio ao estarem juntos em meio a brincadeiras espirituosas mas com a devida profundidade para causar algumas reflexões. Por mais que Jacob seja super enjoado no começo, aos poucos a convivência com Eve acaba fazendo com que ele, assim como ela, aprenda mais sobre si mesmo, e assim os dois vão revelando suas camadas que acabam trazendo várias justificativas para a forma como se comportam, ao mesmo tempo em que um romance divertido e cheio de fogo começa.

A autora consegue explorar temas sensíveis de uma forma bem satisfatória, assim como as questões relacionadas que podem afetar um relacionamento, como ansiedade, problemas de abandono, medo do fracasso, da síndrome de Peter Pan e, ainda, como muita coisa passa a faer sentido quando a pessoa descobre estar dentro do espectro autista. Eu achei o máximo que houvesse essa inclusão (e isso inclusive pode ser um fator que leve leitores que acreditem se encaixarem em algumas características a irem atrás de um diagnóstico), mas acho que em alguns pontos a abordagem, além de ter sido superficial, não foi a melhor de todas por haver algumas falas capacitistas e a ideia meio problemática do autodiagnóstico.

Fora isso, é um romance muito divertido e muito engraçado que fala sobre se ter confiança em si mesmo, sobre aceitar as diferenças, sobre aceitar as limitações impostas pela vida e sobre aprender sobre si e sobre o outro. Apesar de não ser o livro mais legal dos três na minha opinião, fecha a trilogia de um jeito bem bacana e é uma leitura que super vale a pena.

Conto de Fadas - Stephen King

28 de dezembro de 2022

Título:
 Conto de Fadas
Autor: Stephen King
Editora: Suma
Gênero: Fantasia
Ano: 2022
Páginas: 624
Nota:★★★★☆
Sinopse: Aos dezessete anos de idade, Charlie Reade parece ser um garoto comum: pratica esportes, é um filho atencioso e aluno de desempenho razoável. Suas lembranças, entretanto, não são feitas apenas de momentos felizes. Após perder a mãe em um grave acidente quando tinha apenas dez anos, Charlie precisou aprender a cuidar de si e do pai, que, enlutado com a perda da esposa, buscou refúgio na bebida.
Certo dia, ao pedalar pela rua de casa, Charlie atende um pedido de socorro vindo do quintal de um dos vizinhos: Howard Bowditch. O homem recluso e rabugento, que amedrontava as crianças do bairro, cai de uma escada e se machuca gravemente. O chamado por ajuda veio de Radar, a fiel pastor alemão, tão idosa quanto seu dono.
Enquanto Bowditch se recupera, Charlie passa a ajudar o vizinho com tarefas domésticas e com o cuidado de Radar, e assim o rapaz faz duas grandes amizades. Quando Howard morre, Charlie se depara com uma fita cassete que revela um segredo inimaginável: um portal para outro mundo.

Resenha: Charlie Reade é um jovem de dezessete anos que teve a infância e a adolescência bastante conturbada após perder a mãe num acidente de carro. Como se a morte da mãe já não fosse uma tragédia traumática o bastante, Charlie ainda teve que lidar com o pai que, desolado pela perda, acabou afogando as mágoas na bebida, se tornando alcóolatra. Toda a situação fez com que Charles amadurecesse muito cedo ao acabar sendo o responsável pelos cuidados com o pai passando por anos de muita luta.
Até que um dia Charlie escuta a cadela Radar uivando sem parar, numa tentativa de pedir ajuda para seu dono, o velho Howard Bowditch, que havia sofrido um acidente na escada de casa. Depois de ajudar Bowditch, Charlie se aproxima desse senhor recluso e rabugento para ajudá-lo nas tarefas de casa e com os cuidados de Radar enquanto ele se recuperava, e a amizade que surge entre eles vai mudar tudo na vida do garoto. Bowditch está rodeado de mistérios que desperta a curiosidade de Charlie, mas quando Bowditch morre é que o garoto descobre que o velho escondia um segredo que ninguém jamais poderia imaginar: um portal para outro mundo. 

A história pode ser dividida em três partes, onde a primeira tráz o contexto da relação do protagonista com o pai e as dificuldades pelas quais ele passou, e ainda assim mostrando o quanto Charlie não é um garoto perfeito, mesmo que seja bondoso, esforçado e leal aos seus valores; a segunda parte com o desenvolvimento da amizade entre ele, Bowditch e Radar; e a terceira parte onde ele entra no portal e embarca numa jornada cheia de aventuras e referências a diversos contos de fadas em suas versões mais sombrias.
O livro é narrado em primeira pessoa num ritmo bem lento, e vamos acompanhando o próprio Charlie contando essa história de vida, permitindo ao leitor ter uma experiência literária a la King, com descrições minuciosas a se perder de vista acerca dos mistérios da cidadezinha, da fantasia propriamente dita no mundo de Empis, e das camadas que envolvem os personagens, mostrando as questões referentes ao amadurecimento precoce de Charlie e seus dilemas, a amizade improvável com o velho implicante da vizinhança e com as responsabilidades que ele toma pra si mesmo.

Não vou negar que em diversos momentos eu não consegui enxergar Charlie como se fosse um garoto de dezessete anos, pois muitos de seus pensamentos e atitudes parecem não corresponder muito com a idade dele e ele parece ser bem mais velho (não sei se entra a questão do próprio autor parecer estar parado no tempo e não estar nada familiarizado com os "xóvens" de hoje em dia). Outra coisa é que, mesmo que haja uma explicação (que parece ter sido mais uma desculpa), não me soou muito convincente um adolescente como Charlie abrir mão de tudo pra cuidar de um velho chato que apavorava as crianças da rua, mas, tirando isso, acompanhá-lo nessa jornada do herói num mundo fantástico e cheio de perigos estando acompanhando de Radar foi até bem satisfatório. Tudo bem que nada tira da minha cabeça que o autor inseriu Radar na história pra atingir o ponto fraco dos leitores amantes de doguinhos, mas ainda assim ela é um ótimo exemplo de amizade leal e verdadeira que alguém pode ter na vida e fez toda a diferença aqui.

Acho que o livro tem partes um pouco cansativas e repetitivas, o que arrastou a leitura mais do que eu imaginei. Talvez, se fosse enxugado para que tivesse umas 400 páginas, a história poderia ser contada da mesma forma, porém com mais fluidez e agilidade. Eu gosto dos livros do King e, quando vejo algo que foge um pouco do seu terror clássico, fico animada e cheia de expectativas, porém, por mais interessante que tenha sido acompanhar Charlie nessa jornada e ter gostado muito da primeira parte do livro, a história não trouxe nada de inovador ou surpreendente, pelo menos pra mim.

Talvez pra quem ainda não conhece o estilo e a escrita de King, este não seja o melhor livro pra se começar, pois ele é bem diferente dos seus outros clássicos de terror e, mesmo que tenha toques de horror e suspense, está mais pra algo no estilo "contador de histórias", mas, pra quem gosta de fantasia com referências a se perder de vista, eu recomendo.