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Sempre em Frente (Carry On) - Rainbow Rowell

7 de janeiro de 2021

Título:
 Sempre em Frente (Carry On) - Simon Snow #1
Autora: Rainbow Rowell
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem adulto/Romance
Ano: 2020
Páginas: 504
Nota:★★★★☆
Sinopse: Simon Snow é o Escolhido. Segundo as lendas, ele é o feiticeiro que garantirá a paz no Mundo dos Magos. Isso seria extraordinário se Simon não fosse desastrado, esquecido e um feiticeiro pouco habilidoso, incapaz de controlar seus poderes. Ele está no penúltimo ano da Escola de Magia de Watford, e, ao lado de sua melhor amiga Penelope e sua namorada Agatha, já se meteu nas mais variadas aventuras e confusões - algumas causadas por Baz, seu arqui-inimigo e colega de quarto, outras pelo Oco, um ser maligno que há tempos tenta acabar com Simon. Quando chega o novo ano letivo e Baz não aparece na escola, Simon suspeita que o garoto esteja tramando alguma coisa contra ele. As coisas começam a tomar um rumo ainda mais estranho quando o espírito da mãe de Baz, antiga diretora de Watford, aparece para Simon afirmando que quem a matou continua à solta. Quando Baz finalmente chega a Watford sob circunstâncias misteriosas, Simon não vê alternativa a não ser ajudá-lo a vingar a morte da mãe -- o que pode ser o primeiro passo para que verdades avassaladoras sobre o Mundo dos Magos sejam reveladas. E para que tudo mude entre os dois garotos.

Resenha: Depois de ter sido publicada pela Novo Século em 2016, a Seguinte adquiriu os direitos e agora republicou a obra com título traduzido e novo projeto gráfico pra capa. Pra quem leu o livro Fangirl, da mesma autora, teve um gostinho do universo mágico da saga Simon Snow, que seria o equivalente ao fenômeno Harry Potter para os leitores da vida real, através da fanfic de Cath.
Sendo assim, não se trata da fic escrita por Cath (que nem existe nessa história), nem a "obra original" que a inspirou, mas sim de como seria a história de Simon e Baz, os protagonistas da série Simon Snow, se Rainbow Rowell a tivesse escrito. Uma outra fic secundária, talvez? Confuso isso aqui... De qualquer forma, Sempre em Frente é o primeiro volume da trilogia Simon Snow.

Enfim, quando tinha onze anos, Simon Snow descobriu que não era apenas um simples órfão. Era o mais poderoso feiticeiro que já existiu. Segundo as lendas, Simon seria aquele que garantiria a paz no Mundo dos Magos, ele é o próprio Escolhido que iria derrotar Oco, o grande vilão que estava ficando cada vez mais poderoso. Sendo assim, ele ingressa na Escola de Magia de Watford, um lugar mágico onde ele iria aprender a ser o maior feiticeiro (e que se torna seu lugar preferido em todo mundo onde ele realmente se sente em casa), com direito a delícias de comer, uma melhor amiga chamada Penélope, uma namorada perfeita, Agatha... e Basilton Pitch, mais conhecido como Baz, um arqui-inimigo "vampiro" insuportável, que só existe pra infernizar sua vida (mesmo que ninguém acredite), sugar toda a alegria das situações, e com quem Simon era obrigado a dividir o quarto.

Diferente dos típicos protagonistas que embarcam na grande jornada do herói, Simon é irresponsável, super desastrado e suas habilidades com a magia são um total fracasso. Ele mal consegue controlar os próprios poderes e já se meteu em altas aventuras e enrascadas, muitas delas causadas por Baz. A história já começa no último ano de Simon em Waltford, as coisas estão mais capengas do que nunca, seu namoro com Agatha está uma bela porcaria, todo mundo acha que ele vai salvar o Mundo dos Magos quando ele se sente incapaz de tamanha responsabilidade, e quando ele suspeita que Baz está tramando alguma coisa cabeluda contra ele por ter sumido da escola, ele decide procurar saber o que diabos está acontecendo. Então, Simon é surpreendido pelo fantasma da antiga diretora de Watford, que também é a mãe de Baz, com a informação de que o responsável por sua morte continua a solta por aí. 

Sob circunstâncias mui misteriosas, Baz finalmente chega na bendita escola e Simon decide ajudá-lo a vingar a morte da mãe, e essa união não vai somente revelar as maiores verdades escondidas sobre o Mundo dos Magos, como também mudar tudo entre os dois garotos.

Com capítulos que se intercalam entre Simon, Baz, Penny e Agatha, sendo possível ter o ponto de vista de cada um deles sobre as situações que se encontram, a trama segue nesse premissa com toques hilários de bom humor, e os personagens não poderiam ser mais cativantes.
Embora a história tenha elementos já conhecidos e seja super similar a Harry Potter, ela tem seu próprio estilo e seguem por caminhos bem diferentes.

Simon e Baz tem personalidades super diferentes e conflitantes. Enquanto Simon é meio idiota, meigo e gentil, Baz faz aquele tipo que esmurra a cara de alguém com uma mão enquanto segura um bolinho intacto com a outra. Eles não tem nada a ver um com o outro, e a única coisa que tem em comum é o ódio recíproco... ou será que não?
Penny, a melhor amiga de Simon é uma daquelas personagens totalmente amassáveis, de tão fofa. Sua good vibe dá aquele quentinho no coração, e a amizade que ela tem com Simon é leve, boa e dá vontade de guardar num potinho.
Agatha é a namorada "perfeita", mas que está ali meio que servindo de enfeite, porque sua principal função é ter os requisitos mínimos pra ser estudante e saber o básico pra viver. Não fede nem cheira, e parece só existir pra despistar os leitores sobre a real essência de Simon, e dar aquela reviravolta que não tem nada de reviravolta, porque todo mundo sabe o que vai acontecer.

Talvez a única coisa que tenha me deixado meio cabisbaixa foi o fato de que alguns trechos, aparentemente importantes, são cortados, ficamos curiosos e naquela expectativa do que vem a seguir, mas o retorno sobre aquilo nunca vem.

No mais, a história emociona com seus personagens e com suas mensagens simples mas profundas, abordando o autoconhecimento e a descoberta da sexualidade de uma forma divertida, sutil, super envolvente e encantadora.

Fangirl - Rainbow Rowell

5 de janeiro de 2021

Título:
 Fangirl
Autora: Rainbow Rowell
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem adulto/Romance
Ano: 2020
Páginas: 464
Nota:★★★★☆
Compre: Amazon
Sinopse: Cath é fã de Simon Snow, uma série de livros que faz sucesso no mundo todo sobre um garoto feiticeiro. Mergulhar nessas histórias foi a única maneira que ela encontrou de lidar, junto com sua irmã gêmea, Wren, com a partida da mãe quando eram crianças. Desde então, a vida da garota se resume a ler, participar de fóruns sobre Simon Snow na internet, escrever fanfics, fazer cosplay dos personagens... Sempre ao lado da irmã. Mas agora Wren parece pronta para se distanciar do fandom de Simon Snow - e da própria Cath. Afinal, ela deixou bem claro que é hora de cada uma trilhar seu próprio caminho quando avisou que não queria dividir o mesmo quarto na faculdade. Pela primeira vez, Cath se vê sozinha -- e totalmente fora de sua zona de conforto --, e com uma colega de quarto mal-humorada que tem um namorado (bem fofo) que não sai do dormitório das duas. Para completar, ela também precisa se preocupar com o pai solitário e com sua professora de escrita literária, que abomina fanfics. Será que ela vai conseguir sobreviver a tantas mudanças e começar a viver a própria vida? E será que seguir em frente significa deixar Simon Snow para trás?

Resenha: Escrito por Rainbow Rowell e republicado pela Editora Seguinte (depois de ter saído pela Novo Século em 2014), Fangirl vai contar a história de Cath, que vai começar seu primeiro ano na faculdade junto com Wren, sua irmã gêmea. Para ela, desde que a mãe foi embora, Wren sempre foi seu porto seguro, mas na faculdade as coisas ficaram diferentes, e já começou quando Wren não quis dividir o quarto com Cath, justamente pra cortar isso e cada uma poder trilhar seu próprio caminho. Enquanto Cath é insegura, antisocial, quer focar nos estudos e continuar escrevendo sua fanfic baseada na série de fantasia que ela adora e acompanha tudo sobre, "Simon Snow" (um tipo de Harry Potter), que inclusive ajudou ela e a irmã a passarem pelo abandono da mãe, Wren quer aproveitar cada segundo dessa fase como se não houvesse amanhã, e isso não agrada Cath, que sente que está "perdendo" a irmã. Enquanto ela fica estudando e não tem vida amorosa, Wren frequenta altas festas e conhece um monte de gente interessante. As duas são totais opostos, até mesmo com o caso do pai, que precisa de cuidados médicos devido a sua instabilidade emocional, e enquanto Cath acha que deve cuidar do pai, Wren já acha que os profissionais que entendem do assunto é que devem ter essa responsabilidade.

Cath se vê sozinha, com uma colega de quarto sem um pingo de bom humor, e ainda tendo que lidar com uma professora que abomina fanfics, coisa que ela ama escrever. E agora? Como Cath vai lidar com a ideia de estar totalmente fora da sua zona de conforto?

O título do livro foi mantido no original, e só tenho que agradecer por isso, porque fico imaginando que se fosse traduzido seria algo como "Fanfiqueira" ou coisa do tipo. Não ia prestar, não... Narrado em terceira pessoa, a escrita é bem fluida, espirituosa e envolvente. Os capítulos se intercalam com trechos da fanfic de Cath, o que é uma forma do leitor conhecer mais sobre o que ela escreve, porém é possível ler o livro pulando todas as partes da fanfic sem que interfira na história, pois não há ligação nenhuma com a trama. Inclusive eu esperei que em algum momento as histórias se cruzassem de alguma forma para ter algum sentido ou mensagem, já que esses trechos estavam alí fazendo parte do livro, mas não. Achei que esse recurso cortou a narrativa sem que houvesse um propósito maior, e deixou a história mais arrastada do que devia.

Cath não é uma personagem que conquista o leitor logo de cara. Ela é bem chata com seus dilemas, não consegue expor o que a incomoda, a fixação com a irmã e a negação em aceitar que cada uma tem que ter a própria vida é esquisita, e ela ainda faz parecer que a timidez é a pior coisa que existe na face da Terra. Como a protagonista é Cath, Wren acaba não tendo tanto espaço assim, mas na grande maioria das vezes que aparece, é pra irritar com seu total egoísmo. Assim como as irmãs, os demais personagens da história possuem camadas e características bem construídas, e são capazes de conquistar o leitor, cada um a própria maneira.

Mesmo que Cath tenha seus defeitos e, por várias vezes, a vontade é de sacudi-la sem parar seja incontrolável, não nego que seu comportamento e personalidade são justificáveis dentro do contexto. Ela está num conflito interno consigo mesma acerca do novo. Estar em meio a tantas pessoas é estranho, a ideia de gostar de um garoto é assustadora, e pensar que está "perdendo" a irmã - e o pai - a deixa desolada. E pela idade da menina, é compreensível que seus sentimentos estejam a flor da pele e ela esteja confusa com tudo que anda acontecendo.

Sendo assim, Fangirl não é só uma história engraçadinha sobre uma garota que escreve fanfics da sua série preferida, mas sim uma história sobre insegurança e medo do que ela vai encontrar nessa nova fase de sua vida. É bem possível que várias pessoas se enxerguem em Cath, que acaba usando a escrita como válvula de escape para se esconder/se livrar de problemas que ela não sabe ou não quer enfrentar, como se aquilo fosse um tipo de "terapia" para lidar com a gravidade das coisas. E embora a história seja divertida, há a parte triste, que é tratada com bastante sutileza, sobre as rasteiras que todos estão suscetíveis a levar da vida, principalmente com a dificuldade em se lidar com sentimentos de não ser bom o bastante para qualquer coisa ou alguém.

No mais, mesmo que o desfecho não tenha sido inovador trazendo mudanças drásticas pra Cath, é um livro criativo sobre amadurecimento e aprendizado. Pra quem procura um livro bacana pra sair de uma ressaca literária ou só pra passar o tempo, recomendo.


O Timbre - Neal Shusterman

7 de dezembro de 2020

Título: O Timbre - Scythe #3
Autor: Neal Shusterman
Editora: Seguinte
Gênero: Distopia/Jovem Adulto
Ano: 2020
Páginas: 560
Nota:★★★★★
Sinopse: A humanidade alcançou um mundo ideal em que não há fome, doenças, guerras, miséria... nem morte. Mas, mesmo com todo o esforço da inteligência artificial da Nimbo-Cúmulo, parece que alguns problemas humanos, como a corrupção e a sede de poder, também são imortais. Desde que o ceifador Goddard começou a ganhar seguidores da nova ordem, entusiastas do prazer de matar, a Nimbo-Cúmulo decidiu se silenciar, deixando o mundo cada vez mais de volta às mãos dos humanos.
Depois de três anos que Citra e Rowan desapareceram e Perdura afundou, parece que não existe mais nada no caminho de Goddard rumo à dominação absoluta da Ceifa - e do mundo. Mas reverberações das mudanças na Ceifa e da Grande Ressonância ainda estremecem o planeta, e uma pergunta permanece: será que sobrou alguém capaz de detê-lo?
A resposta talvez esteja na nova e misteriosa tríade de tonistas: o Tom, o Timbre e a Trovoada.

Resenha: O Timbre é o desfecho da trilogia Scythe, escrita pelo autor Neal Shusterman e publicada pela Seguinte aqui no Brasil.

Depois de mais de 2 anos da publicação do segundo volume, é possível que alguns detalhes sejam esquecidos, logo tive que dar uma folheada e uma relida por alto nos livros anteriores para me situar nos acontecimentos passados. Então, relembrando, após o ano de 2042, a humanidade "venceu". Não existe mais nada que não possa ser feito ou descoberto, e a sociedade é governada pela Nimbo-cúmulo, a inteligência artificial com capacidade infinita que, através de cálculos e estatísticas, resolve todos os problemas que existem. Não existe mais desigualdade social, doenças, violência, e até a imortalidade foi descoberta, mas, afim de ter um controle populacional, os Ceifadores são os responsáveis por "coletar" algumas vidas. Porém, esse poder acabou corrompendo alguns desses Ceifadores, que passaram a ter prazer em matar sem a compaixão e a piedade que deveriam ter. Assim, Citra e Rowan, os protagonistas, ao fazerem o devido treinamento e se tornarem Ceifadores, se infiltram nesse meio a fim de dar um "jeitinho" nesse problema.

Dando continuidade aos acontecimentos do livro anterior, Goddard obteve êxito com seu plano de afundar Perdura junto com sua história no meio do oceano causando um enorme estrago e muitas tragédias, o que lhe rendeu o cargo de Alto Punhal da Midmérica. Sem os Alto Punhais para controlar a Ceifa e com a sociedade perdida e sem direção, ele passou a liderar como o grande tirano que sempre foi, mas isso pra ele ainda é pouco, e ele quer mais e mais poder, assim, ele vai atrás dos Tonistas, um grupo religioso, que, obviamente, revidam e o caos a guerra civil são instaurados.

Algumas pessoas não aceitavam essa corrupção, e não iam descansar enquanto não resolvessem esse problema, sendo assim, o Ceifador Faraday e Munira partem para a ilha perdida de Nod para procurar respostas e uma solução. Um período que deveria ser de paz se transformou numa guerra civil, e coisas que haviam sido extintas da sociedade, como a violência por exemplo, retornaram com muita força.

Porém, todas as pessoas que restaram foram marcadas como Infratoras pela Nimbo-cúmulo, e por isso ela não respondia mais e ninguém podia acessá-la pra nada, e isso deixou todos um tanto confusos, com exceção de Greyson Tolliver, que era o único que podia falar com ela e se tornou um símbolo dos Tonistas, e passou a ser denominado de "O Timbre" (daí o título do livro), com a missão de guiá-los para um propósito maior que a nuvem reservou e que iria definir de uma vez por todas o futuro da humanidade. Citra e Rowan, que haviam afundado na queda de Perdura, foram encontrados, e agora não viam a hora de voltarem para ver com os próprios olhos o que aconteceu com o mundo. 

Enfim, a narrativa em terceira pessoa continua fluída e super empolgante, apresentando os dilemas e as situações delicadas dos personagens de forma intercalada, mas confesso que algumas partes são um pouco arrastadas e dão uma canseira de leve, se destoando dos volumes anteriores, e nesse meio alguns personagens ainda morrem sem um motivo bom o bastante, dando a impressão de que só morreram pra não precisarem ter um final mais digno, mas ainda assim a trama, como um todo, é boa e inteligente demais a ponto de superar esses detalhes, só não posso simplesmente desconsiderá-los porque essa "queda de qualidade" é bem evidente se compararmos com os outros livros. 

Em meio a personagens que surgiram e outros que ficaram meio de lado ou foram mal aproveitados, e por mais que a Ceifa tenha ganhado mais profundidade com novas informações, quem ganha o maior destaque é a Nimbo-cúmulo, que além de ser uma inteligência virtual com consciência, passou a ter a capacidade da senciência, e por isso tomava decisões mais "humanas" e justas.

Talvez eu seja contra ao falar sobre isso, mas existe um personagem, Jerico, que trouxe representatividade por não ter gênero definido, mas a impressão que tive é que essa foi sua única e exclusiva função, já que não acrescentou em nada de relevante na história e se não fosse por essa característica teria passado batido no meio dos demais, logo fiquei triste por esse desperdício.

Não sei se foi impressão minha, se viajei na maionese, ou se o autor realmente quis incluir essa "mensagem" nas entrelinhas, mas não pude deixar de associar a tríade que se formou dos tonistas, o Timbre, Trovão e Tom como um tipo de "Santíssima Trindade, e a nuvem ao próprio Deus, que de acordo com a bíblia, cuidou e amou os humanos com todas as Suas forças, mas se distanciou, ainda que sempre vigiando, para que todos, através do livre arbítrio, pudessem aprender com seus próprios erros, e é bem isso que consegui enxergar aqui, e esse também foi um dos motivos pra eu ver a trama com outros olhos e achar que nada alí foi jogado ao acaso.

Enfim, não é qualquer livro de ficção que traz questões filosóficas sobre as possibilidades que a humanidade pode viver num futuro não tão distante, falando sobre a vida, a morte, o fanatismo religioso, a empatia e a moral de uma forma tão única e criativa, enquanto uma inteligência artificial incrível administra o planeta. Só posso terminar essa resenha dizendo que O Timbre encerrou uma trilogia que não só nos apresentou uma história plausível, empolgante e bem amarrada, como trouxe personagens ótimos e que fizeram toda a diferença cada um a sua maneira. Com certeza essa é uma das melhores trilogias distópicas que já li.

A Prometida - Kiera Cass

3 de dezembro de 2020

Título: 
A Prometida - A Prometida #1
Autora: Kiera Cass
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem adulto/Romance
Ano: 2020
Páginas: 344
Nota:★☆☆☆☆☠
Sinopse: Quando o rei Jameson se declara para a Lady Hollis Brite, ela fica radiante. Afinal, a jovem cresceu no castelo de Keresken, competindo com as outras damas da nobreza pela atenção do rei, e agora finalmente poderá provar seu valor.
Cheia de ideias e opiniões, logo Hollis percebe que, por mais que os sentimentos de Jameson sejam verdadeiros, estar ao seu lado a transformaria num simples enfeite. Tudo fica ainda mais confuso quando ela conhece Silas, um estrangeiro que parece enxergá-la ― e aceitá-la ― como realmente é. Só que seguir seu coração significaria decepcionar todos à sua volta…
Hollis está diante de uma encruzilhada ― qual caminho levará ao seu final feliz?

Resenha: A Prometida é o primeiro volume da duologia da autora Kiera Cass e publicado pela Editora Seguinte aqui no Brasil.

Lady Hollis Brite, embora nunca tenha tido muitas ambições, sempre fora muito cobrada pelos pais, que anseiam ter um status social de destaque. Tendo passado a maior parte de sua vida na corte, ela acompanhou de perto os vários interesses amorosos do rei Jameson Barclay, mas estava satisfeita com a posição entre os demais súditos e tendo sua melhor amiga, Delis Grace, como companhia. Até que um dia ela cai nas graças do rei, que deveria se casar em breve, o que faz com que os pais dela fiquem radiantes, as jovens da corte fiquem morrendo de raiva por desejarem seu lugar, e os lordes de Coroa não fiquem nada satisfeitos por não haver vantagens políticas nessa união. Hollis se torna o centro das atenções no castelo de Keresken, em Coroa, e até que está gostando dessa situação, principalmente porque sua vida mudou pra melhor, e o rei Jameson dava todos os sinais de que ela seria mesmo a futura rainha.

Silas Eastoffe e sua família vieram do reino de Isolte, que é governado pelo déspota Quinten. O reino não é seguro pra quem desagrada o rei Quinten, e os Eastoffe, por algum motivo qualquer, juraram fidelidade ao rei Jameson para permanecerem em Coroa. Quando os olhares de Silas e Hollis se cruzam, as coisas nunca mais serão as mesmas porque a paixão é instantânea... Sentimentos começam a surgir e a confusão toma conta de Hollis, afinal, ela estava feliz em ter agradado Jameson, estava feliz por que seria a rainha de Coroa, ou será que não?

Com tantos conflitos, as coisas só pioram quando o rei Quintem visita o rei Jameson para resolver questões reais. Ela pôde enxergar um lado de Jameson que ela não conhecia, e não ficou nada satisfeita... E agora? Como Hollis vai resolver essas questões sentimentais?

Primeiramente, por mais que eu tenha que reconhecer que essa capa é linda demais, não me agrada nada que ela combine com o padrão de capas (e até fonte de título) dos outros livros da autora que não tem nada a ver com este. Sempre vai ter alguém pra achar que tudo faz parte da mesma série, assim como teve gente que pensou que "A Sereia" fizesse parte da saga da Seleção, porque bate o olho na capa e já identifica que "pelo estilo ser o mesmo, deve ser continuação". Só que não.
Segundamente, e vou repetir pela milésima vez, eu odeio triângulos amorosos e não consigo entender qual a motivação para esse tipo de "conflito", principalmente quando existem tantas outras questões importantes que poderiam ser abordadas para tirar a protagonista da zona de conforto e deixá-la indecisa sobre algo ou alguém.
E terceiramente, nada me tira da cabeça que ficar na dúvida entre um pratão cheio de brigadeiros e uma barca de comida japonesa é uma questão muito mais séria e importante do que ficar indecisa dois machos que conseguem ser ainda piores do que a própria protagonista nos quesitos sem sal, sem carisma, sem personalidade e sem a menor graça, convenhamos.

Eu fico murcha e chateada quando gosto da autora, coloco altas expectativas num livro novo porque sei da capacidade incrível de criar histórias legais que ela tem, e a coisa toda é esse flop total. Com uma dessas a gente vê que por mais que a autora tenha ficado famosa e apareça gente que queira ler até a lista de supermercado que ela faça, nem sempre eles estão tão inspirados assim pra escrever alguma coisa decente e que faça o leitor ficar empolgado e feliz.

Dito isto, Hollis é aquela protagonista que faz a gente revirar os olhos num looping infitino por não ter nenhuma característica que a torne, no mínimo, interessante. Ela é sem graça, mimada, com conflitos nada a ver, se preocupa e fica deslumbrada demais com bobagens e futilidades, como danças, joias e vestidos, e parece viver as sombras da amiga, Delia. Isso não seria um problema se Hollis não fosse a bendita protagonista dessa história, não é mesmo? Delia tem muito mais camadas e história do que Hollis, e tudo isso fica bem mais evidente quando a amizade tóxica que surge entre elas por causa de amargura e inveja vem à tona. Delia não soube lidar com o fato de que não foi a escolhida do rei, e que a escolhida foi sua melhor amiga, logo, boa coisa isso não poderia dar, principalmente quando essa amizade de Chernobyl começa a ser romantizada fazendo com que a gente fique com vontade de meter uns murros nas duas e jogar o livro longe, de tanta raiva.

Talvez o que me fez tomar ainda mais antipatia de Hollis foi a "reviravolta" que ela sofreu, quando, do além, ela começa a se incomodar em ser tratada como objeto quando ela passou a vida inteira se comportando como um. Talvez isso soe um tanto machista, mas se ela passou a enxergar isso por causa de outro macho, a pergunta que fica é: em que supermercado vende bom senso pra essa completa loucura fazer algum sentido? Nada funciona nessa história. Nada faz sentido. As coisas acontecem sem uma explicação plausível, os personagens, talvez com exceção de Delia, são todos rasos e inúteis, os pais de Hollis só existem pra repreendê-la por causa de nada, e a cara de tacho durante a leitura é inevitável.
"Ah, mas um triângulo amoroso é fofo e movimenta a trama". Não. E esse talvez seja o pior que já vi na minha vida. Hollis fica entre dois pretendentes, Jameson, que oferece um "sonho" tão artificial quanto fantasioso (principalmente por não ter informações suficientes sobre o homem para sentirmos raiva ou empatia dele), e Silas, que não acrescenta e não fez nada de relevante na vida pra despertar esses sentimentos em Hollis somente com um olhar. Nem o motivo real sobre a sua fuga de Isolte é abordado, e o rei Quintel, que ao meu ver deveria ser o mais tirano ever, não passa de um velhaco que não serve pra nada.

Enfim, depois de ter ficado tão empolgada e emocionada com a Seleção, não esperava esse retrocesso por parte da autora, e isso foi muito frustrante pra mim. A sensação de decepção foi a que ficou e só lamento pelo tempo que investi nessa leitura. Não recomendo, infelizmente.

Conectadas - Clara Alves

16 de novembro de 2020

Título: 
Conectadas
Autora: Clara Alves
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem adulto/Literatura Nacional/LGBT
Ano: 2020
Páginas: 320
Nota:★★★★☆
Compre: Amazon
Sinopse: Raíssa e Ayla se conheceram jogando Feéricos, um dos games mais populares do momento, e não se desgrudaram mais — pelo menos virtualmente. Ayla sente que, com Raíssa, finalmente pode ser ela mesma. Raíssa, por sua vez, encontra em Ayla uma conexão que nunca teve com ninguém. Só tem um “pequeno” problema: Raíssa joga com um avatar masculino, então Ayla não sabe que está conversando com outra menina.
Quanto mais as duas se envolvem, mais culpa Raíssa sente. Só que ela não está pronta para se assumir — muito menos para perder a garota que ama. Então só vai levando a mentira adiante… Afinal, qual é a chance de as duas se conhecerem pessoalmente, morando em cidades diferentes? Bem alta, já que foi anunciada a primeira feira de Feéricos em São Paulo, o evento perfeito para esse encontro acontecer.
Em um fim de semana repleto de cosplays, confidências e corações partidos, será que esse romance on-line conseguirá sobreviver à vida real?

Resenha: Feéricos é um jogo online que está em alta no momento, mas, devido ao machismo gratuito por parte dos garotos, ser uma garota nesse meio é uma tarefa muito complicada. Raíssa é viciada no game e sabe como é terrível a sensação da opressão e das humilhações que as garotas sofrem com esse posicionamento odioso, então ela decide criar um perfil fake para se passar por um garoto e ajudar as meninas que quiserem jogar também.
Ayla, uma garota doce e simpática que também estava sofrendo com esse machismo absurdo enquanto jogava Feéricos, mas quando conhece Leo, ela percebe que ele é bem diferente de todos aqueles babacas, e as diversas partidas que jogaram juntos, assim como as muitas horas de conversa fizeram com que eles ficassem bem amigos. Mas o que Ayla não sabe ainda, é que Leo é o fake de Raíssa...
Tudo estaria ok, afinal, elas moram bem longe uma da outra e não teriam a chance de se encontrar, mas quando a desenvolvedora do jogo anuncia um concurso de cosplay valendo ingressos para um grande evento que aconteceria em São Paulo, as meninas ficam bem animadas para participar. Mas, além de ter perdido o controle da situação, Raíssa se apaixonou por Ayla, e agora não consegue contar a verdade pra ela.

Com uma narrativa em primeira pessoa que se intercala entre as duas protagonistas, Conectadas é um livro que aborda a temática LGBT de uma forma leve, descontraída e um tanto real, mostrando os dois lados da história, principalmente ao se levar a reação da família frente a essa orientação em consideração, a medida que os sentimentos das personagens vão sendo explorados diante dessa situação. O romance adolescente é até bem fofinho, mas a questão da mentira, que vai virando aquela bola de neve, chega a dar agonia. Eu só imaginava a frustração e o desgosto eterno de Ayla por estar presa nesse "catfish". Sei que a intenção de Raíssa não era enganar ninguém, e inicialmente sua motivação para jogar como Leo era bem nobre, mas a coisa vira um desastre tão grande que a vontade é de pegar a menina pelo ombro e dar uma sacudida mandando ela resolver logo esse problemão pra evitar decepções e sofrimento.

No mais, a escrita da autora é bem sensível, explorando personagens com muita representatividade que vão viver uma história cheia de altos e baixos nesse mundo gamer e nerd (que eu particularmente curto muito já que também gosto de jogar online), mas que traz uma mensagem muito bonita e importante sobre amor próprio, inseguranças, autoconhecimento e aceitação. Acho que é uma leitura muito válida e importante para o público mais jovem, tanto pela história se passar num cenário do qual a maioria já está bem familiarizada, quanto pelas questões levantadas de forma tão natural que, com certeza, muitos leitores e leitoras vão se identificar.

Enfim, Capivaras - Luisa Geisler

8 de fevereiro de 2020

Título: Enfim, Capivaras
Autora: Luisa Geisler
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem adulto/Literatura nacional
Ano: 2019
Páginas: 176
Nota:★★★★☆
Sinopse: A cidade no interior de Minas Gerais para onde Vanessa se mudou é o tipo de lugar onde anunciam os horários do cinema e os obituários com o mesmo carro de som. Nada de muito interessante acontece por lá, a não ser para Binho, que, segundo ele mesmo, tem várias namoradas e conhece um monte de cantores sertanejos famosos.
A verdade é que Binho é um mentiroso contumaz e agora passou dos limites: inventou que tem uma capivara de estimação. Cansados das histórias cada vez mais mirabolantes do garoto, Vanessa se junta aos amigos – Léo, Nick e Zé Luís – para desmascará-lo. E eles estão decididos a ir até as últimas consequências.
Narrado durante as doze horas de uma noite regada a álcool, salgadinhos, segredos e romances mal resolvidos, Enfim, capivaras explora, através de diferentes pontos de vista, os relacionamentos entre um grupo de adolescentes em busca de uma capivara – ou muito mais do que isso.

Resenha: Depois do divórcio dos pais, Vanessa se mudou com a mãe de Porto Alegre para a Chapada do Pytuna, uma cidadezinha ensolarada no cerrado mineiro com 30 mil habitantes, dessas que todo mundo conhece e sabe da vida de todo mundo. Na escola, Vanessa fez amizade com Léo, Nick, Zé Luis e Dênis, vulgo Binho, mas não era uma relação de melhores amigos ever. Como a cidade é pequena, não tem nada de muito novo pra se ver ou se fazer, mas isso muda quando a turma se une contra Binho, que nunca perdeu a oportunidade de contar várias mentiras pra se aparecer e fingir ser melhor que os outros. A nova do menino foi ter dito que tem uma capivara de estimação, mas quando os outros colegas foram até a casa dele pra ver a tal capivara com os próprios olhos, Binho disse que ela fugiu, foi roubada! Mas eles não iriam desistir tão fácil, pois estavam determinados a desmascarar o farsante nem que tivessem que ir até o fim do mundo, e partem numa viagem de carro, sem carteira de habilitação nem nada, munidos de salgadinhos, balas de goma, energético e álcool, em busca da bendita capivara mato adentro.

Narrado em primeira pessoa e com capítulos que se alternam entre os pontos de vista dos personagens (com exceção de Binho), a autora conduziu a história de uma forma bem leve e divertida nesse período de doze horas de busca, criando uma ambientação interiorana cheia de detalhes, além de captar a essência da adolescência com vários dos seus dilemas de um jeito muito bacana, o que fez eu me identificar com cada personagem, por mais que eles sejam diferentes entre si, levantando questões importantes de serem abordadas sobre família, amizade, segredos, sexualidade, status social, confiança, lealdade, repressão, romances mal resolvidos, autoaceitação, mentira, trabalho, oportunismo e afins.

A forma da narrativa, e até da diagramação do livro em si, é legal, pois cada capítulo se inicia com uma lista de coisas que vão ser abordadas por algum dos personagens, e funciona como uma contagem regressiva das 12 horas até o final. O primeiro capítulo Vanessa lista 12 coisas que levaram a turma à casa de Dênis, o segundo capítulo lista 11 coisas que fizeram Zé Luis a entrar nessa confusão, e por aí vai...

Confesso que algumas coisinhas me incomodaram um pouco, como a falta de um desfecho para alguns personagens, ou um trecho específico - e infeliz - num dos capítulos de Nick onde a autora usa o autismo como forma de ofensa gratuita, o que foi bem desnecessário, já que o contexto não justifica tal "adjetivo" como abuso verbal dos pais: "uns comentários da mãe sobre 'ficar socada no quarto que nem uma autista imbecil'" - pág. 35. Enfim, achei pesado...

Vanessa está passou por maus bocados em sua vida depois da separação dos pais e da mudança de cidade, que nunca é uma coisa fácil, mas se esforçou para se adaptar e se enturmar com o pessoal para não ser a estranha da turma. Não acho que eu deva contar mais detalhes sobre ela pra evitar spoilers.
Léo se aproveita do status de sua família endinheirada na cidade para fazer o que quer usando o nome do pai pra tudo, até pra escapar de enrascadas. Um exemplo é que com dezesseis anos ele dirige por aí como se fosse "intocável". Embora seja o garoto riquinho da turma, no fundo ele tem seus problemas que, de certa forma, justificam parte do seu comportamento e mostram que as aparências podem enganar muito.
Nick é uma garota que, apesar de ter nascido na cidade, não sente que pertence aquele lugar. Ela é diferente das garotas (e de qualquer um) da sua idade, é agressiva como forma de defesa, gosta de escrever fanfics, gosta de animes, mas também enfrenta alguns problemas dessa fase.
Zé Luis vem de uma família mais humilde e aprendeu desde cedo a ser justo com todos. Sua mãe é uma das empregadas na casa da família de Léo. Ele é um garoto bondoso e gentil, mas que também enfrenta alguns dilemas, inclusive sobre sua amizade com Léo já que o amigo é o "patrão".
Binho é um caso perdido, e sua mania de inventar tudo quanto há e o comportamento que ele tem quando parece estar encurralado é irritante de um tanto que não dá nem pra medir, mas também rende alguns momentos engraçados. São situações impossíveis que fazem com que a gente torça pra que tudo fique bem, pra que o mentiroso pare de ser ridículo e fale a verdade pra acabar com essa história logo.

Dessa forma, a história não se trata só da busca louca e engraçada por uma suposta capivara, mas sim de uma busca pelo autoconhecimento onde cada um pode encontrar a si mesmo, e que vai mexer com nossas emoções.

Crepúsculo - Meg Cabot

5 de fevereiro de 2020

Título: Crepúsculo - A Mediadora #6
Autora: Meg Cabot
Editora: Galera Record
Gênero: Fantasia/Jovem adulto
Ano: 2006
Páginas: 240
Nota:★★★☆☆
Sinopse: Desta vez é vida ou morte. Suzannah já se acostumou com os fantasmas em sua vida e é muito aterrorizante ter o destino dos fantasmas em mãos, podendo alterar o curso da história. E tudo ficou pior depois que ela descobriu que Paul também sabe como fazer isso. E ele adoraria evitar o assassinato de Jesse, impedindo-o de virar fantasma e lhe garantindo uma vida tranquila, finalmente... Isso significaria que Jesse e Suzannah jamais se conheceriam. A mediadora está diante da decisão mais importante da sua vida: deixar o único cara que já amou voltar para seu próprio tempo, impedindo assim sua morte... ou ser egoísta e mantê-lo a seu lado como um fantasma. O que Jesse escolheria: viver sem Suzannah ou morrer para amá-la?

Resenha: Nesse sexto volume da série A Mediadora, Suzannah Simon descobriu que seu dom vai além de somente ser capaz de ver fantasmas e ajuda-los a irem para a luz, e a ideia de que os mediadores, de forma limitada, podem se deslocar pelo espaço e tempo para controlarem alguns acontecimentos passados a fim de alterarem o futuro é assustadora. E não só pelo fato de que essa viagem pode ser prejudicial para o destino das pessoas, mas para os próprios mediadores que ficam com a saúde em risco. No caso de Suze, isso é um poder que a deixa apavorada, não por ela, pois ela jamais faria nada pra prejudicar ninguém, mas por Paul que, obcecado por Suze e inflado de ciúmes de Jesse, não desistiu e continua disposto a fazer qualquer coisa pra ter Suzannah ao seu lado (mesmo contra a vontade dela???), incluindo mudar os fatos do passado para impedir o assassinato de Jesse, evitando assim que ele vire fantasma e deixe de existir na realidade atual, trazendo consequências desastrosas. Se Jesse tivesse vivido sua vida tranquila, ele não teria morrido daquela forma e nem ficado preso alí, logo não iria conhecer Suze...
Suze fica num embate bastante dificil: ela ama Jesse de todo o coração, mas diante da possibilidade dele ter de volta sua vida plena e feliz, ela perderia seu amor... E agora? Manter Jesse como fantasma ao seu lado, ou deixá-lo voltar 150 anos atrás e perdê-lo de vez?

Narrado em primeira pessoa, o livro mantém o padrão de bom humor de sempre mas, dessa vez, ele traz uma Suzannah mais madura por conta de tudo o que viveu e aprendeu, mas principalmente pelo problema que ela tem em mãos. É impossível não sentir empatia por ela e pelo sofrimento pelo qual ela está passando por conta do seu amor por Jesse. Dessa forma, o foco fica sobre sua escolha, de deixar Jesse partir ou de impedir Paul de seguir com seu plano maquiavélico. Paul é o típico mauricinho mimado que sempre teve tudo o que quis, e por não saber lidar com a rejeição de Suze, ele começa a fazer de tudo pra atrapalhar esse amor sem considerar que ele é a última pessoa que ela escolheria pra ficar. A gente sabe que Paul é um enorme obstáculo como o "vilão" da série, e sabe que nesse tipo de história gente que nem ele tem exatamente o que merece guardado pro final (não exatamente como eu imaginei, mas valeu a pena), mas chega a ser meio assustador saber que caras como Paul vão além da fantasia e da ficção e são um verdadeiro perigo para as garotas. Nunca se sabe do que são capazes e até onde vão para conseguirem o que querem, e azar o que a outra pessoa quer.

Enfim, eu gostei muito de ter acompanhado a série num geral, ri horrores das maluquices de Suze e da forma "carinhosa" como ela trata os fantasmas, os amigos de Suze e o padre Dom são ótimos, a família de Suze é impagável e única, me emocionei muito com o relacionamento impossível com Jesse e o quanto ele é um sonho de rapaz, mas justamente por ser impossível, eu esperava outro final, qualquer um que não fosse tão previsível e descarado. Não me entra na cabeça a autora ter feito o que fez e eu juro que esperava por um desfecho digno, mesmo que fosse algo a la Titanic, triste e trágico. E justamente por ter acontecido o óbvio, tão emocionante, bonitinho e fofo, com direito a participação especial do pai de Suze, eu vou contrariar todas as expectativas e dizer que não curti.

Sei que a maioria das fãs da série torciam pela união de Suze e Jesse, sei que quem lê os livros da Meg Cabot espera por finais tipicamente felizes que aquecem o coração, mas sabe quando a gente tem certeza como vai acabar mas espera que aconteça o contrário pra surpresa ser real? Pois é... Era o que eu esperava aqui. Continuo sendo fã da série, é uma das melhores da autora, sem dúvidas, e tenho certeza que a maioria das apaixonadas por Jesse vai adorar o destino super conveniente dado aos dois.


Assombrado - Meg Cabot

3 de fevereiro de 2020

Título: Assombrado - A Mediadora #5
Autora: Meg Cabot
Editora: Galera Record
Gênero: Fantasia/Jovem adulto
Ano: 2001
Páginas: 240
Nota:★★★★☆
Sinopse: Suzannah passou o último verão no Pebble Beach Hotel and Golf Resort. Não, ela não estava hospedada com os ricaços. Em vez disso, tomava conta dos filhos deles. Foi assim que ela conheceu Paul Slater. Suzannah era a babá do irmãozinho dele, Jack, e Paul se encantou por ela. Mas é claro que quando um garoto bonitão se interessa por ela as coisas não podem simplesmente dar certo.

Resenha: Depois dos acontecimentos do quarto volume, A Hora Mais Sombria, vai ficar meio difícil falar deste sem soltar uns spoilers... Dito isto, leia a resenha por sua conta e risco.

Em Assombrado, quinto livro da série mirabolante hilária A Mediadora, finalmente parece que Suzannah e Jesse se entenderam depois que ele a beijou. Tudo era flores e amores, se não fosse por Paul Slater, o irmão mais velho e arrogante de Jack, o garotinho de quem Suze foi babá quando trabalhou no hotel no último verão. Paul é como uma pedra pontuda do sapato. Ele sabe disso, mas não se importa, desde que consiga o que quer. Ter tentado mandar Jesse pro além pra se livrar dele foi um exemplo do que o canalha é capaz, assim como bolar outros planos maquiavélicos que só deixam Suze desvairada. A gota foi ter aparecido na escola onde ela estuda como se nada tivesse acontecido, com um sorriso maníaco na boca, demonstrando estar com alguma carta na manga pra seja lá o que for. Porém, Suzannah não pode simplesmente meter-lhe a bicuda e enxotá-lo de sua vida como faz com os fantasmas irritantes e teimosos que se recusam a ir pra luz, pois, de tantas pessoas no mundo, Paul é o mais próximo que tem conhecimentos úteis sobre viagens no tempo a partir de teorias criadas pelo avô dele, assim como sabe sobre se deslocar para a entrada do purgatório, pra onde os fantasmas vão, e isso é algo de muito interesse da garota.
E como não podia faltar, Craig, um fantasma cheio de raiva, começa a causar em busca de vingança achando que outro garoto devia ter morrido em seu lugar, e Suze tem problemas com isso porque o irmão do defunto estudava com Soneca, o meio-irmão dela.

Mantendo o padrão narrativo em primeira pessoa, a história continua hilária e bastante divertida, e com vários toques de mistério. Diferente dos anteriores, este tem um ritmo mais lento por não ter tantas questões a serem resolvidas, mas sim coisas novas desse universo sobrenatural a serem exploradas. O foco maior fica sobre Suze aprendendo a conhecer mais sobre si mesma e seu dom de mediadora, mas Paul, por mais embuste que seja, acaba sendo uma peça fundamental para esse desenvolvimento. Jesse não teve tanto espaço nesse volume, mas por causa das ações de Paul, percebemos que o relacionamento impossível que ele tem com Suzannah acabou ganhando forças por causa da interferência de Paul. Se antes Suze não entendia muito bem ou tinha dúvidas sobre os sentimentos de Jesse por ela, agora ela vai ver que esse sentimento vai além do que qualquer um pode imaginar...

Suze continua firme em suas convicções, contando com o apoio dos seus amigos queridos e do padre Dom, mas sem querer dar o braço a torcer quando tenta resolver tudo sozinha.
Acho que o que não me agradou neste volume, foi a falta dos problemas que os fantasmas causam pra Suze e como ela lida com eles. Embora a autora tenha inserido o fantasma de Craig na história, a sensação que dá é a de encheção de linguiça, e que a mesma história poderia ter sido contada se ele não existisse, afinal, o drama aqui fica sobre o relacionamento com Jesse e os mistérios acerca das informações em posse de Paul, e isso vai sendo desenrolado de uma forma gradual, sutil, e até um pouco cansativa devido ao ritmo. Em vez de Suze precisar enfrentar ameaças fantasmas, o perigo está alí na frente dela, bonito, em carne, osso e insolência.

No mais, embora tenha fugido um pouco daquela coisa toda de fantasmas sendo chutados na bunda, Assombrado é um bom acréscimo a série pelas informações que abriram novas possibilidades pra um futuro questionável, mas um tanto promissor.

A Hora Mais Sombria - Meg Cabot

22 de janeiro de 2020

Título: A Hora Mais Sombria - A Mediadora #4
Autora: Meg Cabot
Editora: Galera Record
Gênero: Fantasia/Jovem adulto
Ano: 2001
Páginas: 272
Nota:★★★★☆
Sinopse: Suzannah sofre com sua paixão por Jesse – o fantasma "muito gato e com abdome de tanquinho", que "vive" assombrando seu quarto. Entre a juventude platinada local, no melhor estilo de OC, a menina tenta se adaptar ao novo colégio e à nova família formada com o segundo casamento da mãe. Entre as recentes amizades e agitos naturais da idade, a menina resolve as pendências do mundo espiritual.

Resenha: Agora que está de férias no colégio, Suzannah continua sem ter sossego. Depois de Andy, seu padrasto, criar uma nova regra na casa que consiste em fazer aulas particulares ou trabalhar durante as férias, Suzannah começa a trabalhar como babá no Pebble Beach Hotel and Golf Resort. Então ela começa a tomar conta de Jack, um garotinho de oito anos filhos de médicos endinheirados que vive assustado e se nega a sair do quarto por um motivo bastante "curioso". Jack tem um irmão mais velho, Paul, que não demora a se interessar por Suze, mas o dono do coração dela é Jesse... O problema é que ela sente que Jesse, o fantasma que mora em seu quarto, não sente o mesmo que ela. É difícil namorar alguém que ninguém pode ver.
Como se isso já não fosse motivo o bastante para deixar Suze pirada, depois que deram inicio a uma escavação no quintal da família para construírem uma mini piscina, o fantasma de Maria de Silva apareceu ameaçando Suzannah com uma faca para tentar impedir as obras, mas em vão. Até que uma lata cheia de cartas enterradas foi descoberta, e se tratava das cartas escritas por Maria da época de quando ela ainda era viva, há 150 anos, com vários segredos. Mas Maria era ninguém menos do que a noiva de Jesse! Agora o medo de perder o namorado fantasma deixa Suzannah em conflito, afinal, vale mesmo a pena lutar por essa paixão impossível?

Acredito que esse é um dos melhores livros dessa série por conta da carga dramática que envolve os sentimentos dos personagens e o romance propriamente dito que é trabalhado com muito mais profundidade. Narrado em primeira pessoa e mantendo o mesmo estilo envolvente de escrita, a história fica centrada sobre o relacionamento impossível de Suze com Jesse, com o medo da perda e milhões de dúvidas pairando sobre a cabeça da garota. O romance ganha um espaço maior, assim como os obstáculos, afinal, se não houvesse amor no ar, a fúria de Maria de Silva talvez não tivesse sido despertada para colocar esse amor à prova.

Embora tenha muito bom humor e cenas cômicas, também há mistérios e cenas de horror (?) e carregadas de ameaças que condizem bem com o lado sombrio do mundo sobrenatural, mas nada pesado que realmente dê medo, estão alí só pra causar uma tensão maior. São tantas emoções, principalmente quando Suze demonstra com sinceridade seus sentimentos, colocando seu jeito desvairado de lado, que eu quase chorei.

Outra coisa bem interessante é que, finalmente, conhecemos os detalhes da história por trás da morte de Jesse, o que levanta várias questões envolvendo a localização do corpo dele e o motivo dele não ter seguido para a luz, que pode acabar tendo um impacto bem considerável na relação com Suze, então é impossível não gostar ainda mais desse fantasma maravilhoso que conquistou o coração de Suze, e os nossos também. E em meio a todo esse romance, ainda acompanhamos o pequeno Jack e as revelações mui interessantes sobre ele, o misterioso Paul que ninguém sabe se é mocinho ou vilão, e a relação familiar de Suze e seus irmãos Mestre, Soneca e Dunga.

Pra quem gosta de leituras leves, engraçadas e cheia de reviravoltas (fofas ou não), a série é mais do que recomendada.

Reunião - Meg Cabot

20 de janeiro de 2020

Título: Reunião - A Mediadora #3
Autora: Meg Cabot
Editora: Galera Record
Gênero: Fantasia/Jovem adulto
Ano: 2001
Páginas: 272
Nota:★★★★☆
Sinopse: Suzannah é uma adolescente como outra qualquer. Bem, quase...Ela tem um pequeno segredo: é uma mediadora. Fala com fantasmas e os ajuda a descansar em paz. Um dom um tanto incomum para ser divido com os colegas, irmãos e até mesmo com a mãe. Mas de uma pessoa Suzannah não conseguirá esconder seu segredo. Gina, sua melhor amiga de Nova York, está na cidade passando uns dias com ela. Durante sua estada, quatro adolescentes morrem num acidente de carro. E Suzannah se vê obrigada a abrir mão de seus dias tranquilos com a amiga para ajudar as almas penadas.

Resenha: Dessa vez, mesmo que ela tenha feito amizade cm Adam e Cee Cee, além do fantasma que mora em seu quarto, Jesse, Suze finalmente recebe a visita de Gina, sua amiga querida de Nova York, e fica muito feliz com sua presença, mas, alguns acontecimentos sobrenaturais obviamente iriam acontecer pra deixar nossa mediadora super ocupada, a pronta pra usar seus métodos nada convencionais pra coloca-los em seus devidos lugares, pra horror do Padre Dom. Quatro adolescentes, os chamados Anjos da RLS (a escola rival do colégio de Suze), sofrem um acidente de carro, caem no mar, morrem, e agora estão furiosos. Tão furiosos que começaram a perseguir e assombrar Michael Meducci, o nerd da sala de Suze, em busca de algum tipo de vingança que Suze ainda não conseguiu assimilar. E ela é a única que pode protegê-lo das garras dos Anjos, mas pra isso teria que abrir mão de alguns momentos com Gina pra fingir que está interessada nas investidas de Michael e ficar perto dele pra coletar informações preciosas. Até que algumas descobertas e revelações a fazem pensar que, talvez, esses fantasmas não sejam os reais vilões dessa confusão toda... E como se isso não bastasse, seu segredo de ser mediadora parece estar prestes a ser descoberto com as desconfianças de Gina.

A escrita de Meg Cabot é sensacional. É simples, fluída, engraçada e totalmente viciante. Narrado em primeira pessoa, continuamos a acompanhar Suze em sua saga rotineira de lidar com fantasmas, além de seus assuntos adolescentes que ninguém tem paciência, mas ainda assim, pelo fato da autora inserir muito bom humor nas situações, é bastante engraçado de se acompanhar, principalmente quando ela fica mais próxima de Michael e percebemos que aquela pose de nerd tímido que sofre bullying parece ser uma fachada pra esconder um menino metido com o ego enorme. Porém, pra proteger o imbecil e investigar, Suze atura o embuste e segue com seu plano pra poder descobrir o que está acontecendo e qual o real envolvimento dele nesse "acidente", e tudo estava começando a ficar muito suspeito. Assim, com a ajuda do padre Dom, Jesse e até a enjoada da Gina lhe dando cobertura, ela tenta chutar a bunda desses fantasmas pra mandá-los pra luz pra descansarem de uma vez por todas e deixarem os vivos em paz.

Suze continua teimosa, e dessa vez seus atos sugerem que alguma coisa não vai prestar nessa história. Logo, por mais que ela nos arranque risadas ou reviradas de olhos, fica no ar aquela tensão de que o perigo está mais próximo do que ela pensa e cedo ou tarde vai se lascar. Sei que Suze gosta muito de Gina e sentiu a falta dela, mas pelo amor de Deus... Gina é um porre que consegue ser ainda mais fútil que a própria Suzannah. A maluca só pensa em garotos e parece não dar a mínima pra amiga que foi visitar, mas ainda assim, Suze trata tudo com naturalidade, para nosso desgosto. Ela e Jesse continuam brigando como nunca, mas a gente sabe que essa troca de farpas é um misto de amor, amizade, carinho e preocupação.

Enfim, a história da série num geral é simples, mas é bastante engraçada e envolvente. Pra quem gosta de livros juvenis com situações mirabolantes envolvendo o sobrenatural, é leitura super indicada.

Frank e o Amor - David Yoon

3 de janeiro de 2020

Título: Frank e o Amor
Autor: David Yoon
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem Adulto
Ano: 2019
Páginas: 400
Nota:★★★★☆
Sinopse: Frank está descobrindo o amor ― e você está prestes a se apaixonar por este livro.
Frank nunca conseguiu conciliar as expectativas de sua família tradicional coreana com sua vida de adolescente na Califórnia. E tudo se complica quando ele começa a sair com a garota de seus sonhos, Brit Means, que é engraçada, inteligente, linda… Basicamente a nora perfeita para seus pais ― caso tivesse origem coreana também.
Para poder continuar saindo com quem quiser, Frank começa um namoro de mentira com Joy Song, filha de um casal de amigos da família, que está passando pelo mesmo problema. Parece o plano perfeito, mas logo Frank vai perceber que talvez não entenda o amor ― e a si mesmo ― tão bem assim.


Resenha:  Frank é um garoto que nasceu na Califórnia, mas seus pais são coreanos e seguem a tradição e a cultura do país de origem deles à risca. Embora eles já vivam nos EUA há anos, eles não parecem estar dispostos a se adaptarem à cultura americana e vivem numa "bolha coreana". Eles são radicais a ponto de Frank nem poder levar seu melhor amigo em casa porque ele é negro, ou um relacionamento só ser aceitável desde que seja com outro coreano, e o maior exemplo disso é a irmã mais velha de Frank, Hanna, que foi expulsa de casa e obrigada a se afastar da família por ter se envolvido com um rapaz que não é coreano. Mas Frank, apesar de querer estar junto com sua família, sonha em poder ser ele mesmo e fazer suas próprias escolhas, e quando ele começa a sair com Brit, sua colega de escola super gente boa, ele vai precisar de um plano já que ela é americana... Então ele se junta a sua, Joy Song, que é coreana e está passando pela mesma situação que ele. Eles vão forjar um namoro para enganar seus pais e poderem sair com seus verdadeiros namorados as escondidas e, a princípio, tudo dá certo, até Frank perceber que ele não entende nada de amor.

Narrado em primeira pessoa, vamos acompanhando Frank e seu dilema de não ir contra seus pais numa tentativa de mostrar pra eles um rapaz que ele não é, e nem gostaria de ser, ao mesmo tempo que ele passa a se conhecer melhor quando está na companhia de Brit e Joy.

Pra quem acompanhou a série Gilmore Girls, essa história vai soar muito familiar quando pensarmos na personagem Lane (interpretada pela atriz Keiko Agena) e na mãe dela, a Sra. Kim (Emily Kuroda), porém, o livro Frank e o Amor tem alguns pontos mais profundos e agravantes, mas muito necessários para levantar questionamentos e discussões que causem reflexão sobre cultura, família, amor, preconceito e racismo.

Não vou negar que por mais interessante que o livro seja, ele não está livre de alguns clichês românticos e adolescentes de livros do gênero. Talvez o que tenha me agradado mais foi a dinâmica familiar, que é insuportável e é a causa das reflexões que tive. Não consigo me imaginar com pais tão preconceituosos e de mente tão fechada que nem os de Frank, e o autor mostra de uma forma muito crua o que eles pensam sobre quem é "diferente", e chega a ser tão triste quanto horrível.
Nesse relacionamento familiar também vi a dificuldade do próprio Frank em demonstrar seus sentimentos e expor o que ele pensa por medo de ir contra a família. Não acho que os pais tem que ser melhores amigos dos filhos, mas se não existe confiança e abertura para um simples diálogo para que possam chegar a um consenso sobre algum assunto que pode envolver o futuro do menino, pra que ele possa receber orientações ou coisa do tipo e parece estar ali só pra obedecer e nada mais, não se pode esperar que os filhos não se revoltem e saiam por aí fazendo o que não deve. Se não quisessem expor os filhos a outra cultura e a outros modos de vida por não aceitarem aquilo, que tivessem ficado no país deles em vez de irem viver o "sonho americano" enquanto causam pesadelos na vida dos filhos com uma tradição que nos EUA (e em vários lugares do mundo) é ultrapassada. A sensação que fica é que ele não ganhou amor dos pais o suficiente, somente imposições absurdas, então esse é um dos motivos de ele também não saber muito bem o que ele está sentindo.

Alguns trechos de conversas entre os pais de Frank e os pais de Joy são em coreano, e sem uma nota de rodapé com a tradução daquele monte de símbolos que o próprio Frank tem dificuldades em entender, não faço a menor ideia do que estava sendo dito e ficamos tão perdidos quanto o menino. Por um lado é legal mostrar o idioma deles, mas me senti assistindo um filme legendado, daqueles que quando o personagem não fala inglês, não tem legenda e a gente só imagina que boa coisa aquilo não deve ser.

Por ser livro de estreia do autor, achei a escrita fluída e com toques de bom humor na medida certa. O tema escolhido também é muito pertinente na nossa realidade pelo fato de criticar explicitamente o racismo na sociedade, enquanto aborda a diversidade e a cultura entre países tão diferentes.

Pra quem gosta de romances juvenis, com seus vários dilemas e descobertas sobre quem somos nesse mundão, e ainda aprendermos um pouco mais sobre uma cultura diferente e sobre os males do preconceito, é leitura super recomendada.

Sessão da Meia-Noite com Rayne e Delilah - Jeff Zentner

25 de novembro de 2019

Título: Sessão da Meia-Noite com Rayne e Delilah
Autor: Jeff Zentner
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem Adulto
Ano: 2019
Páginas: 408
Nota:★★★★☆
Sinopse: Toda sexta-feira, as melhores amigas Josie e Delia se transformam em Rayne Ravenscroft e Delilah Darkwood, apresentadoras de um programa de terror exibido em um canal da TV local. Com o final do ensino médio se aproximando, Josie precisa decidir se vai mudar de cidade para estudar em uma universidade grande e ir atrás de seu sonho de seguir carreira na televisão – mas isso significaria ficar longe de sua melhor amiga... Enquanto isso, Delia sonha que seu pai, um fã de filmes de terror que abandonou a família anos atrás, assista ao programa delas na TV e retome o contato.
Em um fim de semana, as duas resolvem fazer uma viagem para a Flórida, onde vai acontecer a ShiverCon, a maior convenção do universo do terror e o lugar perfeito para conseguir um contrato com uma grande emissora. Mas pode ser que um jovem lutador de MMA, um produtor de televisão excêntrico e um basset hound idoso acabem transformando a vida dessas melhores amigas de uma maneira inesperada.

Resenha: Josie e Delia são melhores amigas, do tipo inseparáveis. Toda noite de sexta-feira, as duas se tornam Rayne Ravenscroft e Delilah Darkwood, apresentadoras de um programa de terror amador exibido em um canal na TV local chamado Sessão da Meia-Noite. O programa é filmado em Jackson, no Tennessee, mas tem um alcance considerável a ponto de ter alguma audiência. Os filmes são ruins e nem sempre elas conseguem manter o "profissionalismo" diante de algumas barbaridades e se encangalham de rir durante as filmagens. Os telespectadores lhes escrevam comentando os episódios, apontando erros, dando sugestões, fazendo críticas e fazendo comentários desnecessários sobre as meninas. Ainda assim elas continuam tentando dar o seu melhor para terem algo de que possam sentir orgulho.
Mas, diferente de Josie, que pensa em televisão 24hrs por dia, Delia se dedica a isso porque seu pai era um grande fã de filmes de terror. O problema é que ele abandonou a família há anos, e a ideia que Delia teve para tentar reencontrá-lo é produzindo algo que possa vir a chamar a atenção dele de alguma forma, como se isso fosse fazer com que ele retomasse o contato com a filha.

Agora, com o ensino médio chegando ao fim, as meninas começam a fazer planos sobre a faculdade, mas sem abrir mão das filmagens do programa. Assim, num final de semana, as duas partem para a Flórida, onde aconteceria uma grande convenção de terror, a ShiverCon. Seria uma ótima oportunidade se elas conseguissem um contrato com uma grande emissora e tudo dependeria de uma reunião que Delia organizou com um produtor, que não tem nada de convencional.

Narrado em primeira pessoa, com capítulos que se alternam entre os pontos de vista das duas protagonistas, o livro traz uma história sobre amizade doida e verdadeira, e a vontade de lutar pelos sonhos. Ao comparar este com os dois livros anteriores do autor, percebi que essa história é mais positiva, mais leve e divertida, enquanto os outros seguem pelo lado mais sério do emocional. Embora seja uma história sobre adolescentes e para adolescentes, o tom desta destoa um pouco e isso me causou um leve estranhamento no começo, porque eu acho que esperava mais sentimento e menos humor. E o humor nesse livro foi um problema pra mim, pois as piadinhas e o sarcasmo das meninas não me fizeram rir nem um pouco. Desde as primeiras páginas achei esse humor forçado demais, deixando a história com um tom abestalhado, e foram poucos os trechos que conseguiram arrancar um sorriso no cantinho da minha boca. Outro problema pra mim foi que só conseguia distinguir as vozes das personagens e saber qual era o ponto de vista da vez porque o nome delas vem no topo da página do capítulo, caso contrário seria impossível pra mim. Não vi diferença nenhuma que mostrasse quem era quem só pela narrativa. Além disso, não consegui identificar nenhum momento grandioso ou significativo o bastante para uma ligação emocional que deveria ser tão forte como o autor quis mostrar para torná-las melhores amigas, e se houve algo do tipo, me perdi totalmente.

Fora isso, não nego que o autor tem uma habilidade única quando o assunto é falar sobre sentimentos, angústias e receios sobre essa fase da vida, e suas personagens acabam sendo muito genuínas, como se fossem um retrato da vida como ela é. De um lado temos Josie, que tem a vida um tanto fácil e confortável por vir de uma família rica e, talvez por isso, é bastante antipática. Todas as facilidades que ela poderia ter pra se dar bem na vida estão em suas mãos, e ela não parece entender muito bem quando alguém não tem o que ela tem, mas, a medida que as coisas vão acontecendo envolvendo alguns grupos sociais, ela acaba tentando mudar de atitude pois passa a enxergar que o mundo não é tão cor-de-rosa assim.

De outro lado temos Delia, que é totalmente o oposto de Josie. Ela sente falta do pai e tem que lidar não só com as consequências desse abandono e dessa rejeição, como também com a mãe instável e depressiva, que vive a base de remédios numa tentativa de manter a própria sanidade. A vontade de reencontrar o pai é tanta que ela deposita todas as suas forças e esperanças nesse projeto, esperando que ele retorne. Ela se sente prejudicada, se sente triste e as vezes despeja suas frustrações em quem não tem nada a ver, mas ela tem capacidade pra reconhecer seus erros e está disposta a melhorar.

Dessa forma, por mais que eu concorde ou discorde de alguma atitude, ou não tenha sentido tanta simpatia assim (principalmente por Josie), eu ainda torcia por elas (mesmo que eu quisesse meter a mão em Josie as vezes) e acho que uma história pra ser boa, deve mexer com a gente desse jeito.

No mais, Sessão da Meia-Noite com Rayne e Delilah traz uma mensagem muito válida e bonita, e mostra que seguir nossos sonhos é uma tarefa difícil, às vezes parece impossível, e muitas vezes requer sacrifícios que nem sempre estamos dispostos ou prontos pra fazer. O mais importante dessa vida é dar valor a quem está perto da gente e tem algo a acrescentar, e não correr atrás de quem partiu e deixou apenas um vazio.

Nocturna - Maya Motayne

19 de outubro de 2019

Título: Nocturna - A Forgery of Magic #1
Autora: Maya Motayne
Editora: Seguinte
Gênero: Fantasia/Jovem Adulto
Ano: 2019
Páginas: 480
Nota:★★★☆☆
Sinopse: No primeiro volume de uma trilogia de fantasia inspirada na cultura latina, uma ladra capaz de mudar de aparência e um príncipe herdeiro se unem para proteger o reino de uma magia perversa.
Depois de se libertar da dominação dos inglésios, o reino de Castallan não esperava passar por mais nenhuma crise. Mas Dez, o herdeiro, foi assassinado, e agora nobres e plebeus precisam aceitar que o destino do reino está nas mãos do príncipe Alfie, que passou meses fugindo de suas obrigações enquanto bebia tequila em alto-mar.
De volta a Castallan, Alfie não consegue acreditar que seu irmão morreu e, tentando provar o contrário, se depara com Finn Voy. Graças a sua habilidade de assumir a aparência de qualquer pessoa, Finn está sempre usando um disfarce para se proteger dos traumas de seu passado e de qualquer um que se meter em seu caminho.
Quando os destinos de Alfie e Finn se cruzam, eles acidentalmente libertam uma magia poderosa e antiga que, se não for detida, vai mergulhar o mundo em escuridão. Com o futuro de Castallan em suas mãos, o príncipe e a ladra terão de aprisionar essa magia obscura a qualquer custo, mesmo que, no caminho, precisem confrontar seus segredos mais sombrios.

Resenha: Num passado distante, Castallan fora tomado pelos Inglésios, e a população acabou tendo sua ligação com a magia rompida. Mas anos se passaram, o continente de Castallan conseguiu se reeguer e a população conseguiu se reconectar com a magia. A magia está ligada aos quatro elementos e todos tem uma ligação muito forte com ela, mas somente alguns são dotados do propio, uma habilidade única para um bruxo distinto.

Depois de perder Dez, o herdeiro do trono, seu irmão Alfie precisa voltar para assumir as responsabilidades do reino em seu lugar. Alfie é dotado do propio, ele consegue sentir e igualar a cor de sua magia. Mas ele, embora tenha visto com os próprios olhos o irmão ter sido sugado por um buraco após um incidente conspiratório, não acredita que Dez morreu, mas sim que está preso em alguma realidade paralela, sem ter como voltar. Qualquer coisa que envolva magia parece poder ser revertido, logo Alfie acredita que exista alguma forma de trazer seu irmão de volta, mesmo que para isso ele precise se envolver com bruxos e com o lado sombrio da cidade, o que acaba fazendo com que ele cruze o caminho de Finn Voy, quando resolve participar de algumas partidas ilegais para conseguir alguns livros raros como prêmio, com informações importantes que podem ajudá-lo a trazer Dez de volta.

Finn é uma ladra que não se importa com nada nem ninguém devido a um passado bastante traumático, e como possuidora do propio, sua habilidade é poder mudar seu rosto e seu corpo e se transformar em quem ela quiser, assim, além de se proteger, ela pode se disfarçar e fugir sem ser pega. Ela também queria ganhar o prêmio para poder fugir sem olhar pra trás, mas tudo muda quando ela é pega e sua habilidade é bloqueada para que ela consiga um artefato para a gangue que a capturou. Agora Finn precisa roubar o tal artefato mágico para poder escapar, mas o artefato se encontra no castelo. Agora o destino dos dois irá mudar pra sempre quando eles, acidentalmente, liberta uma magia antiga que vai colocar a vida de todos em perigo.

Narrado em terceira pessoa, a autora apresenta um universo fantástico inspirado na cultura latina e tem uma construção de mundo bastante interessante e que despertou minha curiosidade logo no início. As características físicas dos personagens, os detalhes do cenário e das paisagens, as descrições acerca do clima e da comida local, é tudo muito bem construído e próximo da realidade cultural do local e muitos podem se identificar com esses detalhes.

Mas, embora a escrita seja boa e esse universo seja muito legal, a história não me prendeu o suficiente pra que eu me importasse com o que estava acontecendo, pois não foi tão bem desenvolvida quanto deveria ser. A trama é enrolada e cheia de furos, e os personagens parecem um bando de idiotas que mal sabem o que estão fazendo, e as coisas acabam não fazendo sentido algum. Finn é a única que salva em meio a essas caricaturas em forma de personagens. A história é cheia de conveniências e facilitações narrativas, e o que deveria ser um tipo de alívio cômico pra dar um tom de bom humor à trama, só me fez revirar os olhos pois as gracinhas de Luka, o primo do príncipe, além de fora do tom, são feitas nos momentos mais nonsense que se pode imaginar.

Ainda assim o livro foi bem resolvido e não tem a menor necessidade de uma continuação, a menos que a autora use o mesmo mundo pra abordar outra história, envolvendo outros personagens talvez, caso contrário não vou entender nada.
Mas, não posso negar que a história aborda temas como autoaceitação, sobre erros e acertos, sobre culpa, sobre as consequências de se ser manipulado, e principalmente sobre amizade verdadeira, mas mesmo com elementos importantes assim, não foi uma leitura que me cativou tanto quanto eu esperei. Recomendo? Sim, mas não vá com muitas expectativas.

A Heroína da Alvorada - Alwyn Hamilton

11 de outubro de 2019

Título: A Heroína da Alvorada - A Rebelde do Deserto #3
Autora: Alwyn Hamilton
Editora: Seguinte
Gênero: YA/Aventura/Romance
Ano: 2018
Páginas: 384
Nota:★★★★★
Sinopse: No último volume da trilogia A Rebelde do Deserto, Amani vai se deparar com a escolha mais difícil que já teve que fazer: entre si mesma e seu país.
Quando a atiradora Amani Al-Hiza escapou da cidadezinha em que morava, jamais imaginava se envolver numa rebelião, muito menos ter de comandá-la. Depois que o cruel sultão de Miraji capturou as principais lideranças da revolta, a garota se vê obrigada a tomar as rédeas da situação e seguir até Eremot, uma cidade que não existe em nenhum mapa, apenas nas lendas — e onde seus amigos estariam aprisionados.
Armada com sua pistola, sua inteligência e seus poderes, ela vai atravessar as areias impiedosas para concluir essa missão de resgate, acompanhada do que restou da rebelião. Enquanto assiste àqueles que ama perderem a vida para soldados inimigos e criaturas do deserto, Amani se pergunta se pode ser a líder de que precisam ou se está conduzindo todos para a morte certa.

Resenha: Amani, a famosa bandida de olhos azuis, está de volta nesse desfecho super esperado da trilogia A Rebelde do Deserto, pronta para tentar por fim no reinado de Oman.
Após a traição de Leyla e da captura dos líderes da rebelião pelo sultão, Amani passou a ficar a frente da rebelião, liderando os rebeldes. Mas ao mesmo tempo que lidera os rebeldes, Amani também precisa correr contra o tempo para encontrar a lendária e misteriosa cidade de Eremot, o suposto local onde seus amigos estariam aprisionados, e salvar Miraji da destruição, mesmo que ela esteja cada vez mais vulnerável à situação e correndo incontáveis riscos, não somente devido a guerra iminente contra o sultão, mas também contra uma magia antiga e muito forte que se encontra no deserto...

A escrita e a narrativa da autora são maravilhosas, continuam melhores do que nunca. A leitura é fluída e envolvente, a história é intensa, super agitada, sempre há contratempos, momentos de aflição pura, surpresas e reviravoltas de deixar o cabelo em pé. Os personagens continuam sendo muito bem desenvolvidos, assim como seus relacionamentos que, embora importantes e bem construídos, não ofuscam a questão da guerra e ainda intensificam a ideia da esperança que as pessoas tem de um novo mundo.

A mitologia da trama é super interessante, principalmente no que diz respeito à criação do mundo e à magia, e como esses elementos interferem em cada acontecimento da história, deixando tudo muito mais rico.

Amani continua uma ótima protagonista, mas, devido aos acontecimentos e ao enorme perigo que todos correm, ela se questiona muito sobre sua posição como líder da rebelião, se o que ela está fazendo é a coisa certa ou não. Ela segue cheia de receios, sabe que suas decisões vão determinar o futuro, mas também sabe que no meio do caminho poderão haver perdas irreparáveis. O jeito é seguir em frente, se reerguendo a cada queda, sem desistir e sempre lutando pela liberdade do povo.

Os demais personagens também são ótimos, e por mais odioso que o sultão seja, ele não é um vilão genérico que é mau porque sim. Ele tem suas motivações, que mesmo inaceitáveis, até são compreensíveis.

A Heroína da Alvorada me proporcionou uma leitura incrível, e posso dizer que não só encerrou a trilogia com chave de ouro, como foi um dos livros mais legais que li até então. Ri, chorei, fiquei aflita e não conseguia largar o livro enquanto não cheguei ao fim. Pra mim, o desfecho desse trilogia que evoluiu a cada volume foi épico, inesquecível, e é impossível não recomendar a leitura.

A Traidora do Trono - Alwyn Hamilton

24 de setembro de 2019

Título: A Traidora do Trono - A Rebelde do Deserto #2
Autora: Alwyn Hamilton
Editora: Seguinte
Gênero: YA/Aventura/Romance
Ano: 2017
Páginas: 440
Nota:★★★★★
Sinopse: Amani Al’Hiza mal pôde acreditar quando finalmente conseguiu fugir de sua cidade natal, montada num cavalo mágico junto com Jin, um forasteiro misterioso. Depois de pouco tempo, porém, sua maior preocupação deixou de ser a própria liberdade- a garota descobriu ter muito mais poder do que imaginava e acabou se juntando à rebelião, que quer livrar o país inteiro do domínio do sultão. Em meio às perigosas batalhas ao lado dos rebeldes, Amani é traída quando menos espera e se vê prisioneira no palácio. Enquanto pensa em um jeito de escapar, ela começa a espionar o sultão. Mas quanto mais tempo passa ali, mais Amani questiona se o governante de fato é o vilão que todos acreditam. 

Resenha: Dando continuidade à saga eletrizante que se iniciou no volume anterior, vamos acompanhar Amani, a jovem da Vila da Poeira que agora, além de descobrir ser dotada de alguns poderes, está bem longe de casa e, graças a Jin, faz parte da rebelião de seu irmão, o rebelde príncipe Ahmed, contra o cruel sultão, seu pai. Mas, após uma traição, Amani é capturada e enviada para o palácio como prisioneira, onde passa a ser obrigada a se submeter às ordens do sultão, que inclusive encontra uma maneira de controlar seus poderes. Cercada de mulheres que o obedecem, ela não pode confiar em ninguém, mas acaba tendo algumas surpresas, principalmente quando descobre mais sobre as intenções desse governante e, em meio à tramas políticas intrigantes, vários questionamentos vêm à tona.

Narrado em primeira pessoa, a escrita da autora continua bastante leve, envolvente e dinâmica, com personagens fortes, bem construídos, cativantes e com um desenvolvimento cada vez melhor. Mesmo que a história esteja ligada a uma grande trama política envolvendo opressão por parte do sultão e rebelião do povo, nada chega a ser complexo, e tudo fica muito bem colocado dentro do contexto sem que haja confusões.
Amani, por tudo o que passou, se mostra mais madura neste volume se comparada ao que ela era no livro anterior, principalmente pela situação em que ela se encontra, como escrava, mas não posso dizer outra coisa dela a não ser que ela com certeza é uma garota super badass digna de admiração. Em vários momentos ela corre risco por causa de sua imprudência, mas ela também tem muitas qualidades que só me fizeram considerá-la uma das melhores personagens da vida.

Diferente do primeiro livro, este tem um pouco menos de cenas de ação, onde os personagens saem em fuga levantando poeira por onde passam. Como Amani está presa e começa a tentar coletar informações para dar aos rebeldes usarem contra o sultão, ela fica em constante perigo, correndo risco de ser descoberta e sempre precisa ter cautela, coisa que nem sempre ela tem.

Sei que a presença de Jin não é muito constante devido a situação, mas não tem como negar que esses dois nasceram um para o outro. Obviamente, o romance não é o foco principal, a rebelião pra destronar o tirano é muito mais importante, e eles sabem disso, sabem se colocar nos devidos lugares, sabem que o momento para se renderem a uma linda história de amor ainda não chegou pois há coisas que vão muito além a serem resolvidas para um bem maior.

Um ponto que achei bem interessante é o fato de Amani começar a questionar as atitudes do sultão a medida que se aproxima dele mais. Suas motivações, por mais terríveis que sejam, parecem ter algum sentido, e a protagonista começa a ter algumas dificuldades para diferenciar o papel nele nesse governo. Será que ele é mesmo um vilão? O que importa é que escolhas devem ser tomadas antes que algo de pior aconteça...

Esse livro superou minhas expectativas, e conseguiu ser ainda melhor do que o primeiro. A Traidora do Trono traz uma história envolvendo perdas, traições, segredos e muitas descobertas sobre as origens dessa "Bandida de Olhos Azuis" que irão causar reviravoltas e só fazer com que a vontade pelo próximo livro aumente.

A Rebelde do Deserto - Alwyn Hamilton

22 de setembro de 2019

Título: A Rebelde do Deserto - A Rebelde do Deserto #1
Autora: Alwyn Hamilton
Editora: Seguinte
Gênero: YA/Aventura/Romance
Ano: 2016
Páginas: 288
Nota: ★★★★★
Sinopse: O deserto de Miraji é governado por mortais, mas criaturas míticas rondam as áreas mais selvagens e remotas, e há boatos de que, em algum lugar, os djinnis ainda praticam magia. De toda maneira, para os humanos o deserto é um lugar impiedoso, principalmente se você é pobre, órfão ou mulher. Amani Al’Hiza é as três coisas. Apesar de ser uma atiradora talentosa, dona de uma mira perfeita, ela não consegue escapar da Vila da Poeira, uma cidadezinha isolada que lhe oferece como futuro um casamento forçado e a vida submissa que virá depois dele. Para Amani, ir embora dali é mais do que um desejo - é uma necessidade. Mas ela nunca imaginou que fugiria galopando num cavalo mágico com o exército do sultão na sua cola, nem que um forasteiro misterioso seria responsável por revelar a ela o deserto que ela achava que conhecia e uma força que ela nem imaginava possuir. 

Resenha: Amani Al'Hiza é uma jovem que vive na Vila da Poeira, uma cidadezinha isolada e esquecida pelos deuses que fica no impiedoso Deserto de Miraji. Desde criança, Amani presenciava a mãe sendo agredida pelo pai, que vivia alcoolizado, e seu sonho era sair daquele lugar e ir embora pra capital, a cidade de Izman. Com a morte dos pais, ela passou a viver com seus odiosos tios, que não hesitaram em lhe arranjar um casamento forçado para que vivesse submissa a um marido que ela jamais deveria suportar. Mas, aproveitando de suas habilidades como atiradora e sua excelente pontaria, Amani decide participar de um campeonato de tiro disfarçada de homem numa cidade vizinha, assim poderia juntar dinheiro para fugir. Porém, nada sai como planejado. Quando ela conhece Jin, um forasteiro procurado pelo exército do sultão, ela acaba tendo a oportunidade de escapar, e assim, foge com ele galopando num cavalo mágico enquanto são perseguidos pelo exército. E isso iria mudar a vida dela para sempre...

O livro é narrado em primeira pessoa e traz o deserto como pano de fundo, onde a pobreza é extrema, a água é um bem precioso e a guerra por poder parece não ter fim. Amani embarca numa aventura envolvendo magia, sultões, guerras, cultura do oriente e crenças. A leitura é fluída, rápida, fácil e muito direta, e isso ajuda bastante a aproveitar o tempo para que a trama sempre esteja movimentada.

A autora toca num tema bastante delicado envolvendo as mulheres e a forma como são tratadas como objetos, enquanto os homens são os soberanos que tudo podem. Em meio a esse cenário, Amani demonstra ser forte, inteligente, e disposta e não se submeter aos caprichos de ninguém. Assim ela já cativa o leitor desde o início, e é impossível não torcer pelo sucesso dela durante o desenrolar da trama.

Jin, o parceiro de Amani em sua jornada pelo deserto, acaba sendo um companheiro muito leal, e a cumplicidade que surge desse relacionamento é muito legal de se acompanhar, principalmente pela pitada de romance. As questões envolvendo o relacionamento amoroso da dupla têm seu espaço, sim, mas sem tomar todo o livro, deixando espaço para momentos de tensão, pequenas batalhas e muita aventura. Tudo flui de uma maneira gostosa de se acompanhar e é impossível não ficar curioso pelo que vem a seguir.

A capa é muito linda com os detalhes em dourado e combina perfeitamente bem com a essência da história de Amani. Cada início de capítulo também tem um detalhe na lateral superior, enriquecendo ainda mais o projeto gráfico da obra.

Pra quem procura por um livro leve que nos permite viajar para um universo novo, com tramas políticas intrigantes e muita fantasia, é leitura muito indicada!

Glória e Ruína - Tracy Banghart

11 de setembro de 2019

Título: Glória e Ruína - Graça e Fúria #2
Autora: Tracy Banghart
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem Adulto/Fantasia/Distopia
Ano: 2019
Páginas: 312
Nota:★★★★★
Sinopse: Na continuação de Graça e Fúria, Serina e Nomi Tessaro vão dar início a uma revolução que vai mudar a vida de todas as mulheres de seu país. As irmãs Serina e Nomi Tessaro nunca imaginaram que acabariam em lugares tão distintos: Serina em uma ilha-prisão, Monte Ruína; Nomi no palácio de Bellaqua, como uma graça, à disposição do príncipe herdeiro do reino. Depois de sofrer uma grande traição, Nomi também é mandada para a ilha e, ao chegar lá, para sua surpresa, encontra Serina à frente de uma rebelião das prisioneiras contra os guardas.
Agora as irmãs têm um objetivo em comum: mudar o funcionamento de toda a sociedade. Além disso, elas sabem que Renzo, gêmeo de Nomi, está em perigo. Relutantes, elas se separam mais uma vez, e Nomi retorna à capital, enquanto Serina permanece em Monte Ruína para garantir que todas as mulheres encontrem um lugar seguro para viver. Só que nada sai como o planejado ― e as duas vão ter de enfrentar os seus maiores medos para mudar o país de uma vez por todas.

Resenha: Fechando a duologia Graça e Fúria, a jornada cheia de altos e baixos das irmãs Tessaro chega ao fim. Por ser uma continuação, a resenha pode ter spoilers do volume anterior!

Serina havia sido enviada para a prisão de Monte-Ruína, enquanto Nomi servia como Graça do príncipe herdeiro no palácio de Bellaqua. Mas, depois de presenciar um assassinato e descobrir que havia sido traída por Asa, Nomi, junto com o príncipe Malachi, é enviada para a mesma prisão onde sua irmã se encontrava. Porém, ao chegar lá, Nomi percebeu Serina já não era mais a mesma. Além de diferente, ela também estava a frente de uma grande rebelião contra os guardas. Juntas, Serina e Nomi passaram a ter um novo objetivo: mudar a sociedade e fazer do país um lugar seguro e digno para as mulheres.

Narrado em terceira pessoa com capítulos alternados entre Serina e Nomi, a história vai se desenrolando num ritmo lento mas muito gostoso de se acompanhar. Mas mesmo que o final tenha sido previsível, eu ainda me emocionei bastante com os acontecimentos e a evolução dessas irmãs. Eu só não posso dizer que a luta das duas teve equilíbrio, porque senão eu seria injusta.

Serina cresceu ainda mais depois de tudo o que passou, e após adquirir mais experiência, acabou se tornando uma guerreira, líder de uma grande revolução, super badass. E seu comportamento teve um contraste muito grande se comparado a Nomi, pois por mais que ela tenha tido um papel importante no final das contas, durante a história ela viajou com Malachi pra chegar de um ponto a outro enquanto o trabalho duro já estava sendo feito por Serina.

Ainda assim eu gostei muito da essência da história em si, da temática envolvendo o feminismo, o poder feminino em geral, e a lutra contra a opressão que as mulheres sofrem nas mãos de homens e do tirano maligno que governa tudo. Assim, a ideia de mudar a sociedade acabou deixando as coisas muito unilaterais, dividindo a sociedade de Viridia entre homens maus, e mulheres que não querem mais abaixar a cabeça para eles. Então por mais que as personagens sejam todas fodonas, prontas para derrubar o machismo, o patriarcado e a opressão, ainda fiquei com a sensação de que faltava mais camadas, mais informações sobre a história do reino e sobre as rainhas destemidas do passado, e também a reação das outras nações diante do problema em Viridia, Muito da história, por mais que eu tenha me empolgado devido ao tema, me pareceu meio superficial, principalmente alguns relacionamentos amorosos. Havia um respeito incrível entre os personagens e aquela ideia da mocinha que fica a espera de um herói para salva-la não existe. As mulheres realmente lutam e não esperam por homem nenhum. O trabalho é feito em conjunto e isso é admirável, mas ainda senti que falou mais aprofundamento no arco de Nomi e Malachi. Já Serina e as prisioneiras foram um enorme exemplo de sobrevivência e superação. Elas lutam com garra, se importam e se preocupam umas com as outras, e isso faz com que qualquer personagem tenha sua devida importância a ponto de nos importarmos com elas, e se algo de ruim acontece, mesmo que seja alguém com um papel menor, é possível lamentar por ela.

Eu gostei muito da ideia das mulheres, finalmente, estarem no comando de alguma coisa num país onde elas não tinham direitos e só obrigações de servir os homens, e por mais que o enredo que envolve esse universo gire em torno de um patriarcado opressor, ainda existem alguns poucos homens que não se corromperam com isso, logo eles tem papeis importantes nessa jornada em busca da liberdade e da igualdade que as mulheres tanto querem - e precisam.

Posso dizer que o livro encerra o ciclo de forma bem satisfatória, embora tenha sido muito corrido da metade até o desfecho, com algumas conveniências e tudo mais. Mas no mais, gostei da forma como o empoderamento feminino foi abordado e trabalhado, gostei da ideia de que não se pode generalizar quando o assunto é machismo, pois a realidade é que nem todos os homens são completos pedaços de lixo, e fiquei admirada pelo relacionamento entre as irmãs, que se preocupam em se proteger de forma recíproca sem que uma pareça tão mais frágil que outra. Elas só lutam de formas diferentes.