Na Telinha - O Estranho Mundo de Jack

20 de julho de 2017

Título: O Estranho Mundo de Jack (The Nightmare Before Christmas)
Produção: Walt Disney/Tim Burton
Direção: Henry Selick
Elenco:  Danny Elfman, Chris Sarandon, Catherine O'Hara, William Hickey, Glenn Shadix, Paul Reubens
Gênero: Animação/Fantasia/Musical
Ano: 1993
Duração: 1hr 16min
Classificação: Livre
Nota:
Sinopse: Jack Skellington, o rei da cidade do Halloween, decide espalhar a alegria do Natal por todo o mundo. Mas sua bem-intencionada missão acaba deixando o Papai Noel em perigo e cria um pesadelo para as crianças do mundo inteiro! Quem salvará o Natal?

Jack Skellington é o "Rei do Horror" (King of Pumpking), considerado uma das criaturas mais famosas e assustadoras da Cidade do Halloween. Os habitantes monstruosos passam o ano inteiro organizando a festa de Halloween para que o evento possa ser comemorado em grande estilo, porém, Jack, já cansado dessa rotina, entra numa crise existencial por sempre ter que fazer a mesma coisa todos os anos. Para espairecer as ideias, Jack sai para dar uma volta e acaba se deparando com árvores mágicas, cada uma com um símbolo sazonal indicando passagens para diferentes mundos. A porta do Natal chama a atenção de Jack, que resolve dar uma espiada mais de perto para ver o que encontraria alí...



Encantado com o modelo de comemoração do Natal, e pensando em sair da rotina que tanto o entediava, Jack volta para a Cidade do Halloween querendo fazer uma festa diferente, e por mais que Sally Ragdoll, sua ~namorada~, avise que isso não é uma boa ideia, Jack acaba ignorando-a e convencendo os moradores a sequestrarem o Papai Noel, a quem eles chamam de "Papai Cruel". Porém, com a ausência do bom velhinho, alguém teria que substituí-lo na Cidade do Natal, afinal, quem sairia por aí entregando os presentes para as crianças do mundo? Mas, claro, o projeto acaba virando uma grande confusão!


Tim Burton, o mestre das esquisitices sombrias, só participou da produção e de uma pequena parte do roteiro, mas nem por isso todo o seu estilo ficou de fora dessa encantadora animação em stop-motion.
Os detalhes do cenário e dos personagens são perfeitos, com traços sombrios mas ao mesmo tempo amigáveis, numa sincronia de cair o queixo!
Talvez pela Disney ter participado da produção, todas as cenas ficaram bem equilibradas e com cenas ou diálogos divertidos e engraçados, o que causa um contraste com as cenas mais assustadoras. Dessa forma a animação tem um ritmo variado pra não se tornar casativo. As cores são típicas do Halloween, sempre muito vivas e iluminadas em meio ao escuro.


O que pra mim não foi 100% foram as músicas, que, por mais que se encaixem com a situação (e mesmo algumas delas tendo sido regravadas alguns anos depois por bandas como Fall Out Boy e até Marylin Manson), não me agradaram muito.

A mistura de Halloween com Natal só serve mesmo como pano de fundo para a verdadeira história de amor que existe entre Jack e Sally nessa história, que mesmo mortos foram feitos um para o outro.
O filme ficou tão famoso que hoje existem milhares de itens inspirados nele, que vão desde estampas em camisas e canecas, bonequinhos colecionáveis, cadernos, bolsas, mochilas, e até tatuagens!


Para os fãs de animações em stop-motion, e para os fãs de Tim Burton, é animação mais do que indicada.

Na Telinha - O Mínimo para Viver

18 de julho de 2017

Título: O Mínimo Para Viver (To the Bone)
Produção: Netflix
Direção: Marti Noxon
Elenco: Lily Collins, Keanu Reeves, Carrie Preston
Gênero: Drama
Ano: 2017
Duração: 1hr 7min
Classificação: +14
Nota:
Sinopse: Uma jovem (Lily Collins) está lidando com um problema que afeta muitos jovens no mundo: a anorexia. Sem perspectivas de se livrar da doença e ter uma vida feliz e saudável, a moça passa os dias sem esperança. Porém, quando ela encontra um médico (Keanu Reeves) não convencional que a desafia a enfrentar sua condição e abraçar a vida, tudo pode mudar.

No último dia 14 do mês de Julho, a Netflix adicionou à sua plataforma o filme O Mínimo para Viver, protagonizado por Lily Collins, no papel de Ellen, uma jovem de vinte anos que sofre de anorexia.

A menina enfrenta problemas familiares bem complicados, seus pais são separados e reconstruíram suas vidas com outras pessoas. A mãe de Ellen não tem o menor preparo e parece não ter nenhum interesse no bem estar da filha, deixando que a madrasta cuide da menina e de seus problemas. O pai é ainda mais ausente, pra se ter uma ideia, nem apareceu!



O filme começa mostrando Ellen numa clínica e lá ela inferniza as outras meninas. É irônica com todos, e parece não ter noção do tamanho do problema que enfrenta.

Por fim, acaba saindo da tal clínica e vai morar com a madrasta, o pai inexistente e uma meia-irmã que é uma super amiga para ela. Apesar da situação ser muito complicada, ela tem um lar ali, mas sem ajuda, não vai conseguir se livrar dos seus problemas alimentares.


Com certo esforço, sua madrasta, Susan, consegue vaga em uma clínica pouco convencional, dirigida pelo Dr. William Beckham (Keanu Reeves). Lá, Ellen é muito bem acolhida, faz amizades, aceita a convivência com pessoas com os mesmos problemas que ela, mas continua pensando que não tem um problema tão grave assim. Ela convive com todos, mas não muda, e muito menos tenta mudar já que ela não se vê como realmente é, e isso não vai ser nada fácil de reverter.

Nesta clínica eles são pesados constantemente, há uma regra em que todos têm que sentar à mesa na hora das refeições, mesmo que não comam nada; além das sessões com o Dr. William, e, mesmo que haja regras, o ambiente familiar faz com que a clínica se pareça mais com um casa. Uma casa onde encontramos jovens (homens e mulheres) de idades variadas, com problemas alimentares variados, mas todos com um desejo em comum: uma vida normal.


Apesar de ser um estilo de filme que eu não assisto, nem gosto, me vi fisgada pela trama. Estava curiosa desde que vi a primeira foto da atriz que vive a Ellen, magra daquele jeito, e foi assustador. Pesquisei e vi que ela realmente emagreceu aquele tantão para o papel, só por isso eu já me senti tentada a assistir. O assunto não é uma coisa que faça parte dos meus círculos, não conheço ninguém que tenha este tipo de distúrbio, foi uma experiência completamente nova para mim. Outro dia vi uma reportagem onde a atriz falou que várias meninas a elogiaram pela sua aparência, ela disse se surpreender, e confesso que eu também, pois é uma figura cadavérica que vemos na tela. Não é bonito, não é certo, é prejudicial à saúde, e se tantas jovens acham que é bonito, percebemos quanta gente precisa de ajuda sem fazermos ideia disso.


A iniciativa da Netflix de produzir mais um filme com propósito de trazer reflexões acerca de algum tema delicado ou polêmico (veja Os 13 Porquês ou Okja) é maravilhosa e de extrema importância, pois acredito que é uma forma de colaboração para que as pessoas se conscientizem através do entrenenimento.

Embora o tema seja pesado e difícil, e apesar das cenas fortes, o filme é leve, não é carregado de drama, é bem gostoso de assistir e vale muito a pena. Mesmo que você, como eu, não curta o estilo, precisamos conhecer um pouco sobre o assunto, ele nos cerca, mesmo que não saibamos.


Quinze Dias - Vitor Martins

14 de julho de 2017

Título: Quinze Dias
Autor: Vitor Martins
Editora: Globo Alt
Gênero: Young Adult/Literatura Nacional
Ano: 2017
Páginas: 208
Nota:★★★★★
Sinopse: Felipe está esperando por esse momento desde que as aulas começaram: o início das férias de julho. Finalmente ele vai poder passar alguns dias longe da escola e dos colegas que o maltratam. Os planos envolvem se afundar nos episódios atrasados de suas séries favoritas, colocar a leitura em dia e aprender com tutoriais no Youtube coisas novas que ele nunca vai colocar em prática.
Mas as coisas fogem um pouco do controle quando a mãe de Felipe informa que concordou em hospedar Caio, o vizinho do 57, por longos quinze dias, enquanto os pais dele estão viajando. Felipe entra em desespero porque a) Caio foi sua primeira paixãozinha na infância (e existe uma grande possibilidade dessa paixão não ter passado até hoje) e b) Felipe coleciona uma lista infinita de inseguranças e não tem a menor ideia de como interagir com o vizinho.
Os dias que prometiam paz, tranquilidade e maratonas épicas de Netflix acabam trazendo um turbilhão de sentimentos, que obrigarão Felipe a mergulhar em todas as questões mal resolvidas que ele tem consigo mesmo.

Resenha: Felipe é um jovem de dezessete anos, gordo, gay, que adora boy bands e está terminando o ensino médio. Desde o primeiro dia de aula ele já vinha fazendo uma contagem regressiva para as férias de julho para ficar livre da escola e dos outros estudantes, que sequer poderiam ser chamados de colegas, já que insistiam em fazer piadinhas de mau gosto com ele.
Maratonar séries na Netflix, colocar a leitura em dia e assistir videos no Youtube eram seus planos para os exatos vinte e dois dias de férias, mas tudo desanda quando sua mãe o avisa de que Caio, o vizinho do 57, ficaria hospedado em sua casa enquanto seus pais estivessem viajando.
Os planos de Felipe vão por água abaixo já que agora ele não vai poder ter paz e sossego, mas pior do que isso, vai ser lidar com seus conflitos internos. Felipe não sabe nem como interagir com Caio, e tudo fica ainda mais difícil porque o garoto foi seu crush desde a infância e ainda mexe com seu coração.

O livro é narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Felipe, o que nos permite participar de suas experiências e ficar por dentro de seus pensamentos mais íntimos. A escrita do autor também é bem fluída e descomplicada, bem estruturada e bem gostosa de se acompanhar. Há referências da cultura pop e uma abordagem mais do que relevante para os conflitos enfrentados pelo protagonista.
Felipe é um personagem que representa com bastante realidade os jovens em condições parecidas com as dele. Ele tem dificuldades para se socializar, é ansioso, inseguro e tem problemas de autoestima e confiança. A presença de Caio mexe com ele de tal forma que ele começa a ter novas percepções pra própria vida, e a mensagem de amor e amizade que fica é memorável.

Embora a temática LGBT da trama seja tratada com a devida naturalidade, o foco maior fica sobre seu problema de autoestima por estar acima do peso, e como grande parte da sociedade ainda é gordofóbica. Através de Felipe, o autor consegue mostrar com uma produndidade e delicadeza a realidade das pessoas que se sentem desconfortáveis com seus corpos por não conseguirem deixar de considerar o que os outros pensam sobre elas, e isso faz com que o leitor reflita sobre esse tipo de preconceito, que sempre vem disfarçado de piadinhas cruéis e brincadeiras de mau gosto, como forma de amenizar sua gravidade, e sem pensar que os alvos dessas palhaçadas tem sentimentos.

Recomendo muito a leitura de Quinze Dias. O romance é fofo e divertido, a história de superação é inspiradora, e a ideia da reflexão sobre inseguranças e aceitação é muito importante. As pessoas querem ser aceitam como são, sem se preocupar com o que os outros vão pensar sobre elas...

As Tumbas de Atuan - Ursula K. Le Guin

13 de julho de 2017

Título: As Tumbas de Atuan - Ciclo Terramar #2
Autora: Ursula K. Le Guin
Editora: Arqueiro
Gênero: Fantasia
Ano: 2017
Páginas: 160
Nota:★★★★☆
Sinopse: Quando Tenar é escolhida como suma sacerdotisa, tudo lhe é tirado: casa, família e até o nome. Com apenas 6 anos, ela passa a se chamar Arha e se torna guardiã das tenebrosas Tumbas de Atuan, um lugar sagrado para a obscura seita dos Inominados.
Já adolescente, quando está aprendendo os caminhos do labirinto subterrâneo que é seu domínio, ela se depara com Ged, um mago que veio roubar um dos maiores tesouros das Tumbas: o Anel de Erreth-Akbe.
Um homem que traz a luz para aquele local de eternas trevas, ele é um herege que não tem direito a misericórdia.
Porém, sua magia e sua simplicidade começam a abrir os olhos de Arha para uma realidade que ela nunca fora levada a perceber e agora lhe resta decidir que fim terá seu prisioneiro.

Resenha: As Tumbas de Atuan é o segundo volume da série Ciclo Terramar que dá continuidade ao primeiro livro, O Feiticeiro de Terramar. Embora se trate de uma continuação, não é necessário ter lido o primeiro livro, pois as histórias são independentes e trazem alguns personagens diferentes com arco próprio.

Ao completar seis anos, Tenar foi separada da família e levada para a Ilha de Atuan pois acreditava-se que ela era a reencarnação da Sacerdotisa da Tumba. Lá ela passa a se chamar Arha, e é treinada para se tornar guardiã das Tumbas de Atuan, um local sagrado, porém sombrio e tomado pela escuridão, com vários tesouros escondidos que pertencem à Seita dos Inominados, cumprindo, assim, sua missão que existe desde muitas vidas passadas, até sua morte.
Anos mais tarde, durante um treinamento para aprender o caminho dos labirintos subterrâneos, Arha acaba encontrando Ged, o mago que protagoniza o primeiro livro. Ged está alí para roubar o anel de Erreth-Akbe, mas, como guardiã das tumbas, Arha precisa impedí-lo. Porém, Ged desperta a curiosidade da garota ao se revelar alguém que não só ilumina as trevas, mas leva a vida de uma forma bem diferente da qual ela foi ensinada, e isso faz com que Arha comece a se questionar sobre a própria vida quando fica diante de uma nova realidade.

A história é narrada em terceira pessoa e se desenvolve num ritmo bastante lento. As descrições são detalhadas de forma bem satisfatória, mas pela história se passar praticamente num único cenário, a sensação de que nada de novo acontece é inevitável, pois não há aventuras ou longas viagens como no primeiro livro.
Tenar/Arha é uma personagem que vive dentro de uma "bolha", seguindo uma diretriz e vivendo para um único propósito. Até que a aproximação com Ged, assim como as coisas que ela descobre a partir desse contato, acabam lhe gerando um conflito de ideais e crenças, mas também leva a garota a uma jornada de autoconhecimento e amadurecimento.

O que pude perceber durante a leitura é uma crítica bastante relevante a fé e ao fanatismo (mas não acho que a autora teve intenção de levantar questões propriamente religiosas), que impede que as pessoas enxerguem além do que aprenderam, e no caso de Tenar/Arha, somente quando Ged cruza seu caminho, indo contra tudo o que ela acreditava, é que ela começa a quebrar os paradigmas que lhe foram impostos.

A capa combina com a do primeiro livro, tanto pela ilustração possuir o mesmos estilo, quanto pelo tipo de fonte utilizada no título. A diagramação também segue o padrão, trazendo o mapa de Terramar, a área das Tumbas e o Labirinto logo nas primeiras páginas e apresentando capítulos curtos, numerados e intitulados. São doze capítulos em 160 páginas.

Por ter sido lançado em 1971, o livro desconstruiu alguns estereótipos de gênero ao trazer uma protagonista feminina numa época onde não era comum mulheres fazerem o papel de heroína, e por ser uma fantasia que inspirou várias outras obras, é leitura muito recomendada pra quem gosta do gênero.

Ninguém Nasce Herói - Eric Novello

12 de julho de 2017

Título: Ninguém Nasce Herói
Autor: Eric Novello
Editora: Seguinte
Gênero: Distopia/Literatura Nacional
Ano: 2017
Páginas: 384
Nota:★★★★★
Sinopse: Num futuro em que o Brasil é liderado por um fundamentalista religioso, o Escolhido, o simples ato de distribuir livros na rua é visto como rebeldia. Esse foi o jeito que Chuvisco encontrou para resistir e tentar mudar a sua realidade, um pouquinho que seja: ele e os amigos entregam exemplares proibidos pelo governo a quem passa pela praça Roosevelt, no centro de São Paulo, sempre atentos para o caso de algum policial aparecer.
Outro perigo que precisam enfrentar enquanto tentam viver sua juventude são as milícias urbanas, como a Guarda Branca: seus integrantes perseguem diversas minorias, incentivados pelo governo. É esse grupo que Chuvisco encontra espancando um garoto nos arredores da rua Augusta. A situação obriga o jovem a agir como um verdadeiro super-herói para tentar ajudá-lo — e esse é só o começo. Aos poucos, Chuvisco percebe que terá de fazer mais do que apenas distribuir livros se quiser mudar seu futuro e o do país.

Resenha: Numa realidade que não parece ser nada fictícia, as pessoas estão sempre acostumadas a se depararem com manifestações, muitas vezes bem negativas e carregadas de ódio, a respeito de um grupo de pessoas considerado como a minoria e a partir disso, os fundamentalistas tomaram o poder. Aquele que foi nomeado como O Escolhido, que antes era só um deputado aporrinhando a Comissão dos Direitos Humanos, instaurou a ditadura seguindo os própósitos daqueles que o financiaram.

Em meio a esse cenário, a ideia era fazer com que as pessoas não pudessem manifestar opiniões e se calarem. Livros são proibidos, crimes contra negros, homossexuais e afins não tinham atenção, a Guarda Branca podia agir contra as pessoas quando e como quisesse. A única coisa de que se tinha certeza era a propagação livre do ódio e do preconceito, assim como a extinção do termo "igualdade".
Chuvisco e seus amigos tentam fazer a diferença. Eles começam a buscar por alguma justiça ao lutarem contra esse golpe de forma bastante sutíl ao entregarem livros às pessoas, até perceberem que, como resistência, seria preciso muito mais do que essa simples atitude para salvar o país.

Narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Chuvisco, o leitor se depara, através de sua visão, com uma realidade em que a opressão tomou conta do país, onde a diversidade social é grande mas considerada um problema a ser resolvido.
Os personagens estão alí e são responsáveis por uma representividade para todos os tipos de gostos, de negros, obesos até os transexuais, e são essas pessoas, aquelas que não fazem parte do que a sociedade considera como "perfeito", é que movem a trama mostrando como vivem oprimidas, e como o pavor de se andar pelas ruas, caso a pele não seja branca, se a religião não for a certa, ou se a orientação sexual for diferente do aceitável, as consome. Essas pessoas se uniram para um bem maior, mas vivem às margens por serem diferentes, e o autor, através da visão de Chuvisco, consegue descrevê-las de forma que é possível enxergá-las como qualquer outra pessoa, respeitando a igualdade e os direitos, mesmos que no cenário distópico do enredo apresentado elas não tenham nada disso.

Chuvisco é um personagem único e que conquista a simpatia do leitor por seus pensamentos sinceros e sua vontade de mudar a situação em que o país se encontra. Ele faz parte da resistência, é um revolucionário, tenta levar informações que foram censuradas, mas não pode fazer nada drástico demais por ainda ter medo de arriscar o bem estar dos seus amigos. Ele inlusive sofre de "catarse criativa" em momentos de vulnerabilidade, que é um tipo se surto em que ele se imagina um super herói de armadura em defesa dos fracos e oprimidos. Mas o melhor que pude absorver de Chuvisco é que ele valoriza a amizade como ninguém, e acredita que só ela pode dar a força necessária para que a luta em busca da liberdade possa continuar.

Confesso que ao iniciar a leitura imaginei que seria mais um livro pegando carona em assuntos polêmicos do momento, mas percebi que Ninguém Nasce Herói é um livro necessário por trazer uma história sobre a luta pela liberdade e pelos direitos de alguém ser quem é, e mostra que é preciso não só ter coragem para se arriscar, mas se apoiar nas amizades verdadeiras para se conquistar o que tanto se almeja.
No cenário atual do Brasil, penso que esta seja uma leitura obrigatória para que haja uma reflexão acerca de um futuro não muito improvável...

Na Telinha - Okja

11 de julho de 2017

Título: Okja
Produção: Netflix
Direção: Joon-Ho Bong
Elenco: Seo-Hyun Ahn, Tilda Swinton, Jake Gyllenhaal, Paul Dano, Steven Yeun, Lily Collins, Devon Bostick
Gênero: Drama/Fantasia/Sci-fi
Ano: 2017
Duração: 1hr 58min
Classificação: +12
Nota:★★★★☆
Sinopse: Nova York, 2007. Lucy Mirando (Tilda Swinton), a CEO de uma poderosa empresa, apresenta ao mundo que uma nova espécie animal foi descoberta no Chile. Apelidada de "super porco", ela é cuidada em laboratório e tem 26 animais enviados para países distintos, de forma que cada fazenda que o receba possa apresentá-lo à sua própria cultura local. A ideia é que os animais permaneçam espalhados ao redor do planeta por 10 anos, sendo que após este período participarão de um concurso que escolherá o melhor super porco. Uma década depois, a jovem Mija (Seo-Hyun Ahn) convive desde a infância com Okja, o super porco fêmea criado pelo avô. Prestes a perdê-la devido à proximidade do concurso, Mija decide lutar para ficar ao lado dela, custe o que custar.

Em 2007, uma nova espécie animal foi descoberta numa fazenda no Chile e levada ao Rancho Mirando para estudos. A corporação Mirando apresentou o animal ao público como uma solução ecossustentável para a indústria pecuária, sem assumir o fato de que os estudos envolviam experiências e modificações genéticas, já que a ideia de consumir animais transgênicos não é aceitável. Como parte da estratégia de marketing enganosa da empresa, vinte e seis animais geneticamente modificados foram enviados aos cuidados de vinte e seis fazendeiros de diferentes lugares do mundo para que fossem criados de acordo com suas respectivas culturas, e dez anos depois, esses animais, que aos olhos da sociedade não eram modificados e viveram felizes e livres de maus-tratos, retornariam para a empresa dos EUA para participarem de uma competição de melhor super-porco para disfarçar a verdade escondida por trás disso tudo, e, talvez, para diminuir a culpa quando o pobre animal fosse abatido.


Durante esses dez anos, a super-porca de nome Okja fora criada no topo de uma montanha na Coreia por Mija, uma garotinha que vive com o avô. Ela e Okja construíram uma relação de confiança, amor e amizade muito bonita e inabalável. Mas quando Okja é levada para o concurso, Mija não se conforma e parte em busca de sua melhor amiga.

Netflix vem surpreendendo cada vez mais com suas produções originais e com Okja não foi diferente. Apesar de algumas inconsistências, o filme vai agradar o público, independente da idade ou ideologia da grande maioria.
Não acredito que a ideia do filme ao abordar o tema dos maus-tratos na indústria capitalista da alimentação seja uma tentativa de converter as pessoas ao vegetarianismo/veganismo, mas sim de conscientizar sobre essa dura realidade que, embora tenha sido tratada com bastante sutileza, foi bastante eficaz em transmitir sua mensagem.


Por se tratar de uma produção américo-coreana, é impossível não notar características típicas do gênero. Os personagens são, em sua grande maioria, caricatos sem que haja alguma explicação ou propósito para comportamentos excêntricos e peculiares, e a interpretação dos atores foi um show à parte.
A fotografia é bastante detalhista. Onde há vegetação é tudo muito vivo, alegre e colorido e, em contrapartida, as partes da cidade e da indústria são acinzentadas, sujas e com aquele ar de tristeza.
A qualidade dos efeitos visuais que compõe Okja é impressionante. Ela é uma mistura fantasiosa que lembra porco, cachorro de estimação e hipopótamo, e convence bem com relação a textura de pele, peso e interação com o ambiente ao seu redor e com as pessoas. Suas expressões também são bem realistas, sendo possível perceber, através de seu olhar, seu estado emocional, o que não deixa de ser tocante.


Apesar do grupo ativista presente na história ter um papel relativamente importante na luta pelos direitos dos animais, alguns militantes não convencem muito por serem controversos em alguns pontos, mesmo que isso não interfira na mensagem final que o filme quis passar.

Eu confesso que fiquei bastante sensibilizada com a ideia do sofrimento dos animais destinados ao abate e como eles se comportam frente a esta realidade, e mesmo que eles tenham sido criados para este fim, nada disso os isenta de inteligência e sentimentos. Eles não são tão diferentes dos bichos de estimação que criamos em casa e há várias cenas que comprovam este fato.

De forma geral, Okja é um filme que merece a nossa atenção por ser bem lúdico ao tratar o sofrimento animal em prol da alimentação humana e da ganância da indústria, e traz uma reflexão acerca da cultura do consumo bastante relevante para todos nós. Vale a pena assistir e super recomendo.