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A Invasão do Povo do Espírito - Juan Pablo Villalobos

15 de outubro de 2023

Título:
 A Invasão do Povo do Espírito
Autor: Juan Pablo Villalobos
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Romance
Ano: 2023
Páginas: 224
Nota:★★★★☆
Sinopse: No novo romance de uma das vozes mais vibrantes e engraçadas da literatura contemporânea, dois imigrantes precisam lidar com uma dura crise existencial em meio a burocracias, teorias da conspiração e uma doença terminal.



Resenha: A Invasão do Povo do Espírito, romance do autor mexicano Juan Pablo Villalobos, traz a história de Gastón, um homem na faixa dos cinquenta anos de idade que administra uma horta; seu melhor amigo e dono de um restaurante falido, Max; Pol, um cientista filho de Max; e Gato, o cachorro moribundo e fiel de Gastón que está com o pé na cova, coitado. Enquanto lida com a doença do cachorro e tenta ajudar o amigo deprimido a salvar seu restaurante depois de trinta anos de dedicação, Gastón quer descobrir por que Pol, a quem ele considera como um filho, abandonou seu trabalho onde se investigava o surgimento de vida extraterrestre, de repente.

A história se passa numa cidade que lembra uma Barcelona, que vivencia a imigração e suas diferentes etinias, enquanto lida com a ascensão do neofascismo e com a xenofobia e o racismo.
Gastón e Max são imigrantes que, devido à sua longa permanência, estão bem integrados e adaptados ao bairro onde vivem. Apesar de serem filhos de vítimas, os dois não compartilham com seus vizinho e os demais moradores os sentimentos de racismo e xenofobia que ressurgem na comunidade devido à chegada de uma nova onda de imigrantes. A agitação causada por essa "invasão estrangeira" começa a mobilizar os moradores, que convidam Gastón e Max a participar do movimento, esquecendo que eles também são estrangeiros e que, assim como os recém chegados, já foram vítimas de preconceito em algum momento de suas vidas. Enquanto lidam com a chegada desses imigrantes, eles enfrentam suas próprias experiências além de serem apresentados à possibilidade de vida extraterreste entre eles.

Esse é o primeiro livro do autor que fiquei curiosa pra ler e já adianto que não me lembro de já ter lido um livro como esse. A leitura é rápida pelo livro ser curtinho, a narrativa é habilidosa, e tão estranha quanto interessante, pois é uma mistura de temas delicados e relevantes contados com muita detreza pelo autor, que quebra a quarta parede e faz descrições curiosas sobre os lugares mencionados. Villalobos nunca dá nome aos locais, ele sempre usa algumas referências e dá coordenadas que fazem com que o leitor apenas suponha onde fica, e isso torna a leitura bem divertida, instigando até mesmo algumas pesquisas.

A Invasão do Povo do Espírito é um livro politicamente engajado, curioso e atemporal, que explora a amizade e os laços humanos com o diferente e o desconhecido, que aborda temas importantes para a sociedade e desafia tudo aquilo que fundamenta o fascismo. Pra quem curte leituras mais "clássicas" que promovem reflexões sobre amizade, preconceito, corrupção, gentrificação, territorialidade e imigração, é leitura mais do que indicada.

Para o Lobo - Hannah Whitten

13 de outubro de 2023

Título:
 Para o Lobo - Wilderwood #1
Autora: Hannah Whitten
Editora: Suma
Gênero: Dark Fantasy
Ano: 2022
Páginas: 392
Nota:★★★☆☆
Sinopse: O reino de Valleyda não via o nascimento de uma Segunda Filha há cem anos – até a Rainha dar à luz Redarys, ou Red, irmã mais nova de Neverah. Seu propósito de vida é um só: o sacrifício.
Ao completar vinte anos, Red se entregará ao temido Lobo em Wilderwood – a floresta que faz fronteira com seu lar –, para cumprir o pacto selado há quatro séculos e garantir a segurança não só de Valleyda, mas também de todos os demais reinos.
Carregando o fardo de um poder que não consegue controlar, Red sempre soube de seu destino e está quase aliviada por cumpri-lo: na floresta, ela não pode machucar aqueles que ama.
No entanto, apesar do que dizem as lendas, o Lobo é apenas um homem, não um monstro. E os poderes de Red são um chamado, não uma maldição. Enquanto descobre a verdade por trás dos mitos, a Segunda Filha precisará aprender a controlar sua magia antes que as sombras tomem conta de seu mundo.

Resenha: Para o Lobo é o primeiro volume da duologia Wilderwood, uma Dark Fantasy escrita pela autora Hannah Whitten publicada no Brasil pela Suma.

Valleyda é um reino próximo a Wilderwood, uma floresta que, de acordo com as lendas, protege os reinos de criaturas malignas que vivem na Terra das Sombras. Há algumas centenas de anos, cinco reis adentraram a floresta para impedir que essas criaturas atacassem o reino mas nunca mais foram vistos. Desde então, segundo as lendas, um Lobo protege a floresta e caça essas criaturas mas, em troca, ele pede o sacrifício da Segunda Filha da governante de Valleyda.

Depois de algumas segundas filhas já terem sido enviadas à floresta como oferenda ao Lobo numa tentativa (em vão) dos reis aprisionados serem libertados, alguns séculos se passaram e a rainha atual teve duas filhas gêmeas. Neverah, que por ter nascido primeiro herdaria o trono, e Red, que como segunda filha seria oferecida para o Lobo quando chegasse a hora. Desde criança Red aceitou seu destino de sacrifício enquanto Neve tentava convencê-la do contrário. Agora que elas completaram vinte anos, às vésperas do ritual, Nevenão quer perder a irmã e tenta fazer com que Red fuja para não precisar enfrentar esse destino trágico mas Red, atormentada por um poder desconhecido e determinada a nunca mais machucar as pessoas ao seu redor, não dá ouvidos e permanece determinada a cumprir seu objetivo. Mas, ao entrar em Wilderwood, Red vai descobrir a verdade sobre o Lobo, que na verdade é apenas um homem, e também vai se deparar com um mistério um tanto sombrio que paira sobre a floresta.
"A Primeira Filha é para o Trono.
A Segunda Filha é para o Lobo.
E os Lobos são para Wilderwood."
- Pág. 8
Narrado em terceira pessoa com foco principal em Red, a autora mescla vários contos de fadas na intenção de construir uma fantasia sombria com toque de drama, romance, conspirações e magia regada a muito sangue. Também há alguns interlúdios com foco em Neve para que o leitor saiba o que anda acontecendo do lado de lá enquanto Red está na floresta, e isso dá um contraste bem interessante à história e seu desenvolvimento. 
O início da história já apresenta uma quantidade enorme de lendas e acontecimentos sem que haja uma introdução, como se o leitor já soubesse do que se trata quando na verdade não sabe nada e só fica perdido até que as informações venham picadas e de forma até misteriosa.
Talvez a questão do sangue na história possa inclusive ser gatilho pra algumas pessoas, pois há várias cenas onde os personagens se cortam para "ativarem" a magia. Não foi algo que me incomodou, mas acho que poderia haver um jeito menos sangrento e menos pesado na dependência do drama, e fiquei com aquela impressão de sangue e automutilação tão explorados quanto gratuitos. O problema é que, mesmo que a autora tenha sido realmente criativa ao misturar releituras, a história dá muitas voltas e tráz muitos detalhes desnecessários que deixam a escrita arrastada e pesada, e as coisas parecem não sair do lugar já que as informações e as explicações não são muito claras e vêm em migalhas, logo o leitor vai passando páginas e mais páginas mas não sabe muito bem o que está, de fato, acontecendo. E isso acabou me desgastando e prolongando a leitura além do que eu gostaria por pura falta de interesse de continuar lendo, por mais que a história seja diferente, tenha muitas referências e chamado minha atenção pelo que se propôs. Qualquer distração mínima já é o suficiente pra ter que voltar algumas páginas pra reler e não perder nada e isso acaba se tornando um tanto cansativo.

Antes de Red ir para Wilderwood ela era bastante obstinada, mas na companhia do Lobo, ou Eammon, ela se torna meio boba. Embora Red descubra que ele não tem nada a ver com os tais reis antigos e que ele é um reles descendente do antio "Lobo", Eammon ainda não faz muita questão de explicar as coisas para que tanto ela quanto o próprio leitor saibam o que está acontecendo. E Red, que não pode voltar pra casa, fica zanzando pelo castelo sem ter o que fazer, dando uma ajuda aqui e alí quando necessário e completamente limitada em suas ações. Como consequência disso, essa estadia praticamente se resume as descrições do que Red vê, que no caso são as feições do Eammon, as manias de Eammon, os olhos de Eammon, as mãos de Eammon, o cabelão desgrenhado de Eammon, o cheiro de "biblioteca" de Eammon, e por aí vai... Em alguns momentos ela entra na floresta, corre alguns perigos e realmente é bastante tenso - e sanguinolento - mas pouco depois lá está ela de novo fazendo o que lhe restou fazer: contemplar as coisas... E convenhamos, essas descrições cansam. Fora a ideia que a autora quis passar de que Eammon estava alí disposto a proteger Red, custe o que custar, como se ela fosse a pessoa mais ingênua e incapaz da face da Terra, quando ela sempre foi independente e corajosa a ponto de se dispor ao sacrifício por ter acreditado que faria um bem maior ao povo de Valleyda. Ela não precisa de ninguém pra salvá-la, só precisava de alguém que lhe contasse a verdade depois de sair de um lugar cheio de bitolados que acreditam num monte de bobagens e saem por aí falando mais bobagens ainda.

A relação entre as irmãs é muito explorada, evidenciando o quanto são ligadas e como o amor delas é forte, e não nego que essa parte familiar é super interessante e inclusive motivo de algumas reviravoltas e problemas. Não curti muito os demais personagens além das irmãs pois todos parecem genéricos, estereotipados e alguns até descartáveis.
O conceito de Wilderwood é super interessante e a floresta em si funciona como um personagem  interagindo e apresentando riscos a quem se aproxima, mas a carência de maiores explicaçoes acaba criando mais perguntas do que respostas na história, o que é um tanto frustrante. Não sei se eu deixei escapar tais informações, não sei se autora deixou isso pro próximo volume, ou se ela simplesmente queria inserir uma floresta mágica e sombria na trama pra dar esse toque dark e não soube como desenvolver bem e explicar esse sistema mágico/amaldiçoado em torno dessa floresta. Não sei por que o Lobo tem esse vínculo com Wilderwood, não entendi o lance com os cinco reis e porque cargas d'água o povo de Valleyda espera que eles voltem inteiros depois de séculos como se nada tivesse acontecido, enfim... não há explicação e fiquei boiando sem saber pra onde isso tudo estava indo. Ao chegar próximo do desfecho a autora ainda estava inserindo elementos mágicos desconhecidos na história, e pra mim isso me soou um tanto conveniente pra resolver alguns problemas que surgiram sem maiores explicações.

Para o Lobo, além de uma fantasia sombria, é um romance envolto por conflitos políticos e fanatismo com referências clássicas de contos de fadas, principalmente A Bela e a Fera. A história não é ruim, só acho que a autora foi por um caminho onde preferiu fazer mais mistério do que ser direta causando um pouco de confusão (o que torna a leitura mais demorada e arrastada do que devia ser), e talvez não seja pra pessoas que tenham problemas com as questões dos cortes e do sangue.

A Rainha Traidora - Danielle L. Jensen

9 de outubro de 2023

Título:
A Rainha Traidora - 
A Ponte Entre Reinos #2
Autora: Danielle L. Jensen
Editora: Seguinte
Gênero: Romance/Fantasia/New Adult
Ano: 2023
Páginas: 392
Nota:★★★★☆
Sinopse: Lara é uma rainha traidora. Ao compartilhar informações secretas sobre a defesa de Ithicana, a jovem não só quebrou a confiança de seu povo como possibilitou que a ponte fosse dominada pelo rei de Maridrina, seu pai. Em exílio, Lara se sente impotente diante de tanta morte e destruição, mas quando descobre que seu marido, Aren, foi capturado em batalha, ela decide fazer de tudo para se redimir -- e salvar o homem por quem se apaixonou perdidamente.
Arriscando a vida em mares revoltos, Lara volta para Ithicana com planos não só para libertar Aren, mas todo o Reino da Ponte. Para isso, ela pretende usar as armas mais letais que seu pai já criou: suas irmãs. Contudo, o palácio de Maridrina é praticamente impossível de invadir, e há peças demais nesse jogo em que inimigos e aliados trocam de lugar a todo momento. Para piorar, talvez seu maior adversário seja justamente o homem que ela está tentando libertar.

Resenha: A Rainha Traidora é o segundo volume de uma duologia (que pertence a série The Bridge Kingdom - que já conta com uma segunda duologia em andamento que conta a história de outros personagens, e um conto extra sobre Lara e Aren chamado The Calm Before the Storm) iniciada em A Ponte Entre Reinos, da autora Danielle L. Jensen, que conta a história de Lara Veliant, uma das filhas do rei de Maridrina, que passou a vida sendo treinada como uma assassina para se infiltrar em Ithicana, o reino inimigo, e matar o rei devido aos conflitos políticos relacionados ao controle de uma enorme ponte que existem entre os reinos. Lara se torna rainha de Ithicana quando se casa com o rei Aren mas, apesar de não conseguir matá-lo por perceber que ele não é nada daquilo que foi levada a acreditar a vida toda e ter se apaixonado por ele, ela segue as ordens de Silas, seu pai, e compartilha informações secretas sobre a defesa do reino. Silas, então, consegue dominar a ponte e Lara não só quebra a confiança do povo de Ithicana, como passa a ser conhecida como a rainha traidora. Lara é exilada e começa a se sentir impotente e culpada por ter iniciado essa guerra onde várias pessoas estão sofrendo e morrendo. E no meio do caos, Lara descobre que Aren foi capturado em batalha.
Agora, como forma de se redimir, Lara vai arriscar a vida para voltar para Ithicana numa tentativa desesperada de libertar seu marido e o próprio Reino da Ponte num jogo político onde ela nunca sabe realmente quem é seu inimigo ou seu aliado.

Mantendo o mesmo padrão do livro anterior, a história é narrada em terceira pessoa com capítulos que se alternam entre os pontos de vista de Lara e Aren, e dá pra perceber uma diferença bem considerável na qualidade da escrita quando comparada ao primeiro volume. A narrativa parece estar bem mais fluída e completa, mantendo um ritmo frenético envolvendo batalhas ferozes, tramas políticas, surpresas e muitas emoções.

Lara e Aren estão melhores desenvolvidos e mais maduros, numa posição onde precisam tomar decisões importantes que vão mudar não só os seus destinos, mas de todo um reino. Vamos acompanhando Lara mostrando suas habilidades letais seja em batalhas ou em brigas corpo a corpo, e em fugas e perseguições tão alucinantes quanto exaustivas em meio ao deserto (com direito a um camelo e tudo). Enquanto luta e tenta sobreviver, fica bem evidente que devido aos erros que cometeu anteriormente, a jornada de Lara está ligada com a ideia dela encontrar uma maneira de se redimir enquanto se culpa e se odeia pelo que fez. Por outro lado, Aren está alí determinado e lutando com todas as suas forças para defender seu reino, mas também fica o tempo inteiro tentando odiar Lara e falhando miseravelmente.

Os personagens secundários, embora tenham sua importância na trama, não são muito aprofundados e deixam aquela impressão de potencial perdido, principalmente com relação às irmãs de Lara.
Gostei da inserção dos personagens Keris e Zarrah. Aqui eles já demonstram terem camadas interessantes, funções importantes, e acho que os livros 3 e 4 da série, que são protagonizados por eles, prometem bastante.

A construção de mundo é cheia de detalhes e é possível nos imaginarmos naqueles cenários de deserto escaldante ou dos mares revoltos. A complexidade do Reino da Ponte, assim como todas as questões políticas que estão envolvidas, é super interessante e torna a leitura bastante imersiva. Por causa das longas viagens que os personagens fazem, eles não se prendem num único lugar, e isso acaba expandindo ainda mais esse universo mostrando detalhes que vão além dos apresentados no primeiro livro. Senti falta da parte do alívio cômico que estava presente no livro anterior, aqui a história está focada na ação e nos conflitos emocionais de Lara e Aren então acaba sendo mais "pesada" e até mais sangrenta. A autora investiu bastante nos detalhes, mas em alguns pontos senti que fiquei perdida com os saltos temporais e não sabia se o tempo decorrido entre uma cena e outra tinham sido dias, semanas ou até meses. Na questão dos detalhes, há uma cena bastante "caliente" que mostra o quanto o casal, apesar de suas diferenças, tem química, mas pra mim foi totalmente dispensável e desnecessária visto que tinha uma guerra acontecendo lá fora.

Enfim, eu gostei do desfecho, achei que as coisas ficaram bem resolvidas e bem amarradas levando todo o contexto em consideração, e apesar dos pequenos infartos que tive a cada tragédia que acontecia, achei que A Rainha Traidora fechou bem o arcos dos personagens e a trama principal. Fiquei curiosa pra ler o conto dos dois e espero que a Seguinte publique nem que seja em formato digital só pra termos um gostinho do que aconteceu depois do final.

Mundo Mulher: Woman World - Aminder Dhalinwal

5 de setembro de 2023

Título:
Mundo Mulher: Woman World
Autora: Aminder Dhalinwal
Editora: Conrad
Gênero: HQ
Ano: 2020
Páginas: 260
Nota:★★★★☆
Sinopse: Quando um defeito de nascença extermina toda a população masculina do planeta, um mundo habitado só por mulheres ressurge das cinzas. A graphic novel hilária e profunda de Aminder Dhaliwal mostra o processo de reconstrução da civilização nesta realidade nova em que algumas habitantes se reuniram sob a bandeira "Coxas da Beyoncé". Apenas a Vovó se lembra do passado no qual havia uma civilização de seguranças de shopping em segways, locadoras de filmes de sucesso e piadas de menininha – fragmentos do século XXI que sua neta tenta experimentar e entender como funcionavam. Na maior parte do tempo, as residentes do Mundo Mulher estão focadas em encontrar sua identidade, a luta contra o amor não correspondido, a solidão e a ansiedade, sem contar toda aquela coisa boba de "sobrevivência da humanidade". 

Resenha: Mundo Mulher, da autora e ilustradora Aminder Dhalinwal, foi originalmente publicado em seu Instagram e fez tanto sucesso que acabou virando livro. No Brasil, a editora responsável pela publicação foi a Conrad.
O livro mostra o que aconteceu com a sociedade após alguns desastres ambientais terem causado um enorme caos no mundo e destruído a civilização como conhecemos. A revolta das pessoas era tanta que sequer deram importância e ignoraram o que os cientistas tentaram avisar: uma desordem genética estava levando os homens à extinção.
Agora, nessa utopia "pós apocaliptica", a sociedade é composta por uma geração totalmente feminina que nasceu de forma artificial e que nunca conheceu ou vai conhecer os homens e todas as patifarias que eles impuseram para se sentirem superiores. Elas se dividiram em pequenos distritos, cada um com uma bandeira ilustrada com alguma parte do corpo da Beyoncé, e trabalham juntas para dar continuidade à vida enquanto lidam com as próprias questões.
"Era uma vez uma época em que não existiam homens."
- Pág. 29

A história principal se passa no distrito "Coxa da Beyoncé", onde Gaia, a prefeita nudista, trabalha para manter os ânimos na vila, e tem a ideia de construir um hospital para atender a região. E nesse ínterim, vamos conhecendo um pouco mais da vida das habitantes, Yumi, Layla, Lara, Uma, Ulaana, Naomi, Emiko, Ina e da Doutora através de várias tirinhas que vão mostrando alguns momentos e situações cotidianas delas como, por exemplo, Vovó Ulaana, a única da geração passada que viveu na época em que ainda existiam os homens. Ela é a responsável por ensinar um pouco sobre a cultura, costumes e até falar sobre as piadas do passado para as crianças e pra quem mais tiver curiosidade.

Ina é a poetisa que gosta de escrever e refletir sobre a vida, além de sofrer por gostar de Layla, que namora Lara. Layla e Lara não se entendem muito bem e vivem um relacionamento estranho de idas e vindas; Yumi sofre de ansiedade e decidiu meditar numa tentativa de se acalmar. Emiko é uma garotinha que adora ouvir as histórias da Vovó Ulaana e sonha em ser "segurança de shopping", e por aí vai. Cada uma tem seu propósito de vida.

As personagens vivem suas vidas normalmente e a falta dos homens não faz a menor diferença, pois além delas não precisarem deles, até mesmo caso queiram se tornar mães, elas estão empenhadas em viver em harmonia, desde a encontrar a própria identidade, a ter domínio sobre seus corpos, até a lutar contra a solidão e a ansiedade, ou a superar o amor não correspondido... E aqui vemos um processo gradual de reconstrução da sociedade na mão de mulheres, que trabalham, tem compaixão, podem falar o que pensam e andar por aí vestidas como quiserem (até sem roupa) sem perigo de serem julgadas ou assediadas, afinal, não dá pra sentir falta ou falar com propriedade daquilo que nunca se teve já que, com a extinção masculina, o machismo e o patriarcado não existem mais. Esse processo é interessante pois as personagens são curiosas e bolam algumas teorias bem engraçadas com o que vão encontrando pelo caminho e sobre os homens que viveram no passado.
Talvez a utopia aqui seja a ideia de um mundo pacífico e perfeito, sem preconceito, onde todo mundo se entende, todo mundo é sempre solidária com a outra, ninguém julga ninguém, ninguém invade o espaço de ninguém, todo mundo se respeita e se apoia, não existe violência e as mulheres são super unidas.

As tirinhas tem algumas sacadas inteligentes, algumas são engraçadas e algumas tem uma certa carga dramática, outras não tem muita graça ou parecem não se encaixar no tema, mas o resultado final é uma abordagem interessante não só sobre o feminismo em si, mas sobre os diversos tipos de relacionamentos que, independente de como o mundo se encontra, sempre vão existir. E através de uma ótica especial de várias experiências femininas, vemos como a amizade, o romance, a família e o trabalho vão se conectando e formando uma nova vida em sociedade que pra nós é algo super distante e impossível, mas que pra elas é super comum.

Um ponto que, ao meu ver, poderia ser melhor trabalhado e explicado por ter deixado uma brecha enorme, é exatamente a premissa, a ideia da anomalia genética que levou os homens a extinção. Nessa sociedade feminina podemos ver que a autora aborda a sexualidade das personagens e que existem mulheres hétero, bissexuais e trans, mas se a tal desordem é genética e afeta os cromossomos, não faz muito sentido mulheres trans não terem sido afetadas e continuarem existindo, enquanto os homens trans acabaram de vez. Essa parte ficou meio estranha pela falta de uma explicação, por mais mirabolante ou fantasiosa que fosse. Simplesmente não existe motivo e fiquei ???



O projeto gráfico é modesto, mas bem legal. As ilustrações tem traços simples, algumas expressões são exageradas e caricatas, mas combinam com a situação em que a personagem se encontra. As características, como estilo de cabelo, cicatriz e afins identificam bem as personagens e mesmo que algumas se pareçam, dá pra saber quem é quem. Os quadrinhos são em preto e branco e somente algumas páginas são coloridas com uma paleta de rosa e azul bem viva e chamativa.

Mundo Mulher é um compilado de tirinhas que podem ser consideradas um retrato do cotidiano e da rotina diária e normal dessas mulheres num mundo só delas, e mesmo que às vezes soe exagerado e não seja muito profundo, consegue passar uma mensagem positiva sobre o feminismo. Embora dê pra refletir sobre algumas questões e se pegar imaginando como seria um mundo só com mulheres, o livro não chega a apresentar questões filosóficas ou políticas profundas sobre essa nova sociedade, logo acredito que seja uma leitura adequada pra passar o tempo ou pra sair de uma ressaca literária.

Nevasca - Dhonielle Clayton, Tiffany D. Jackson, Nic Stone, Angie Thomas, Ashley Woodfolk e Nicola Yoon

27 de agosto de 2023

Título:
Nevasca
Autoras: Dhonielle Clayton, Tiffany D. Jackson, Nic Stone, Angie Thomas, Ashley Woodfolk e Nicola Yoon
Editora: Seguinte
Gênero: Romance/Jovem Adulto
Ano: 2023
Páginas: 320
Nota:★★★★☆
Sinopse: A quatro dias do Natal, a cidade de Atlanta se vê coberta de neve. E Stevie se vê prestes a perder a namorada para sempre. Afinal, Sola deu um ultimato: se Stevie não compensar o grande erro que cometeu até a meia-noite, o relacionamento das duas terminará de vez.
Stevie nunca foi de fazer grandes gestos românticos, mas dessa vez terá que caprichar. Para isso, ela vai contar com a ajuda de seus amigos, cada um responsável por uma pecinha do grande plano para reconquistar Sola. O que eles não esperavam era ter que lidar com seus próprios sentimentos, romances mal resolvidos, e com a neve que não para de cair.

Resenha: Nevasca reúne contos escritos pelas mesmas autoras de Blackout, que narram histórias de amores mal resolvidos mantendo a mesma abordagem LGBTQIA+ e representatividade negra que caracterizam a antologia anterior. Apesar de terem uma estrutura diferente, Blackout se passa num verão escaldante e tráz histórias que vão se interligar em meio a um apagão em Nova York, Nevasca narra as histórias no inverno, durante uma grande nevasca que ocorre em Atlanta e provoca um enorme caos faltando quatro dias para o Natal.

O livro traz um enredo principal onde Stephanie, ou Stevie, uma adolescente de dezesseis anos e aspirante a cientista, acabou estragando seu namoro com Adesola, ou Sola, quando decidiu fazer um experimento científico com o próprio relacionamento antes de ir para um jantar bastante especial com a família da namorada, e tudo deu errado. Depois do evento fatídico, ela volta pra casa, fica de castigo e sem celular ou qualquer outro meio de comunicação, não consegue responder as mensagens de Sola que, então, resolve lhe dar um ultimato: Stevie tem até a meia-noite para fazer uma reparação significativa para merecer ser desculpada, caso contrário será tarde demais. Então, ela bola um plano e pede ajuda para seu grupo de amigos, Kaz, Porsha, E.R, Jimi e Ava numa tentativa deles ajudarem a consertar as coisas. O problema é que Atlanta foi tomada pela nevasca atípica e pelo caos que veio junto com ela, atrapalhando todo mundo.

A narrativa é feita em primeira pessoa com onze capítulos que trazem o nome da personagem que está contando a situação, onde ela está, a hora e quanto tempo falta para a famigerada meia-noite, como se fosse uma contagem regressiva pra mostrar que o tempo que Stevie tem pra dar jeito no problema está se esgotando. Cada um desses amigos de Stevie também têm suas questões e dilemas relacionados aos seus relacionamentos, que trazem diversidade e representatividade, que são apresentados em seus respectivos capítulos e se alternam com os de Stevie. Os desafios que eles enfrentam devido a nevasca acabam contribuindo pro ar de tensão nas histórias, que vai além dos amores mal resolvidos.

Stevie - ★★☆☆
Sobre os personagens, acho que ou a gente ama ou odeia, e a protagonista Stevie foi a que mais despertou meu revirar de olhos, o que chega a ser até absurdo considerando que a história dela é a principal. Os capítulos destinados à ela (1, 3, 7, 9 e 11) são mais curtos por acrescentar algumas outras informações e lembranças marcantes que vão formando a história, mas é difícil acompanhar uma personagem que lembra um Sheldon Cooper de The Big Bang Theory, especialmente quando ela mesma diz que tem o "gênio difícil". Ela parece não ser capaz de entender o que é estar apaixonada a ponto de querer fazer experimentos científicos pra ter uma resposta, e não sabe bem como demonstrar afeto, mesmo que se esforce, mas a verdade é que só reparei na forma que ela se acha superior, acha que os outros devem ficar a sua disposição pra resolver problemas que ela mesma causou, e tem pouca sensibilidade quando o assunto diz respeito aos sentimentos de Sola, talvez por ela ter muita dificuldade em demonstrar os seus próprios. Nem a forma bonita como ela descreve os detalhes das experiências legais e de tudo o que ela observa na namorada salvou, e nem a conversa com Ern, o irmão de E.R., onde ela expõe tudo o que está entalado e a fazendo sofrer. Eu criei uma imagem super negativa dela como pessoa que inteligência nenhuma supera . A história dela só é razoavelmente aceitável por causa do desfecho, a forma que ela encontra pra se desculpar com Sola é realmente uma gigantesca prova de amor (cafona, não nego, mas o que vale é a intenção), mas os amigos ficaram encarregados de grande parte do serviço.

Kaz - ★★☆☆
A segunda história é narrada por Kaz e eu tive um misto de sensações enquanto lia que só não foi pior do que minha impressão sobre Stevie. Mas não por causa de Kaz, que é super legal, mas por causa de Porsha que faz parte desse círculo de amigos e é a pessoa - e melhor amiga - que Kaz ama em segredo desde sabe-se lá quando, e faz qualquer coisa por ela. Quando Kaz, depois de muita coragem, finalmente decide que chegou a hora de revelar seus sentimentos, Porsha mostra o quanto é fútil. Ela é convidada pra uma grande festa de supostas subcelebridades e, num surto de emoção, arrasta Kaz pro shopping para que ele a ajude a comprar roupas e faz o coitado ficar a sua disposição, até que eles ficam presos por causa da nevasca. Eu juro que fiquei com dó de Kaz por ele gostar dessa menina porque, enquanto ele sempre está alí pra ela e por ela, Porsha não o trata muito bem, não demonstra nenhuma consideração ou interesse pela cultura e pelas tradições que ele segue, e não move um dedo pra acompanhar Kaz em nada que ele precise fazer. Não tenho dúvidas de que ele merecia alguém melhor.

E.R.  - ★★☆☆
Em seguida temos a história de E.R., Savana e Eric, que se passa no Aeroporto Internacional de Atlanta e explora um ciúme meio descabido que Savana sente da parceira (?). Evan-Rose é bissexual e aqui ela está se reencontrando com Savana, ou Van, a namorada/ex/namorada/sei lá exagerada e ciumenta, cujo relacionamento é meio estranho: elas só são namoradas enquanto Van vai pra Atlanta pra estudar, e nas férias de verão, quando ela volta pra casa em Maryland, elas ficam solteiras de novo, e como esse namoro (se é que podemos chamar assim) vai ficar bastante abalado quando E.R. recebe uma ligação de Eric, que ela conheceu durante o verão enquanto as duas estavam ~solteiras~, e que está preso no mesmo aeroporto que elas, e mesmo que o envolvimento deles tenha sido somente emocional e nada demais tenha rolado, alí estava a receita perfeita para o desastre, ou será que não?
Evan-Rose tem muita dificuldade em falar sobre o que sente e nem teve coragem de assumir sua sexualidade para sua família. A fixação dela por Savana é meio doentia, tanto que ela parece aceitar algumas situações nada a ver só pra não contrarir a dondoca, e ela parece não conseguir se impor quando precisa ser sincera ou dizer um simples não. Achei ela chata, achei a namorada dela mais chata ainda, e Eric é o único personagem que gostei no meio desse bolo. Não consegui enxergar nada de romântico nessa história, só vi uma pessoa mais desapegada que gosta de curtir (mas que parece estar em conflito com si mesma) e outra possessiva e aparecida que tornou a história tão bagunçada quanto estranha, até mesmo porque no meio dessa confusão existe a tarefa que deve ser feita pra ajudar Stevie mas que parece não se encaixar direito. Obs.: Tenho certeza que essa foi escrita por Nic Stone.

Sola - ★★☆☆
O capítulo 5 é narrado por Sola e, nele, o leitor vai conhecer como é a dinâmica familiar dela assim como os detalhes do que aconteceu quando Stevie foi até a sua casa e ocasionou o rompimento ente as duas. Esse capítulo mostra como a briga que levou ao término do namoro com Stevie começou e um pouco da personalidade de Sola, que apesar de ser mais romântica, é bastante exigente (o que leva o leitor a compeender o motivo do ultimato).

Jordyn - ★★
Depois conhecemos a história de Jordyn (ou Jordan) e Omari que, por um mal entendido ocorrido há um ano, mantém uma amizade meio estranha e cheia de alfinetadas. Omari está acompanhando Jordyn para uma apresentação de sua irmã - e melhor amiga de Sola - Jimi. Jimi pede para Jordyn aproveitar a viagem e levar alguns itens para ajudar Stevie nesse plano mirabolante, mas por causa da nevasca, o trânsito não move 1 centímetro e eles ficam presos dentro do carro. Alí, eles aproveitam pra resolver não só o mal entendido que houve entre eles mas, numa conversa mais profunda, tentam entender um pouco mais sobre as emoções de Jordyn com relação à sua mãe biológica que abandonou ela, as irmãs e o pai das meninas há quase 10 anos. Essa história, apesar de não se aprofundar tanto na vida dos personagens por ser curta, abordou de uma forma bastante satisfatória a química do casal e os conflitos emocionais de Jordyn com relação à mãe, e sua resistência às tentativas de aproximação dela (que remetem bastante a problemas de ansiedade). Ela tenta esconder seus sentimentos pra parecer forte, mas é inegável que ela fica abalada e tem uma necessidade enorme de resolver isso pra poder seguir em paz sem esse "peso". Penso que é a personagem com a carga dramática mais forte das histórias.
"... Não consigo imaginar como você se sente. Mas de uma coisa eu sei: às vezes as pessoas machucam quem amam, e isso diz mais sobre elas mesmas do que sobre o outro. Elas que são o problema. Dizem coisas que no fundo não querem dizer ou não dizem o suficiente. Elas podem não ter a intenção de machucar, mas só isso não basta quando os sentimentos de alguém estão em jogo. Ainda assim é preciso encontrar uma forma de consertar as coisas."

Jimi
 - ★★
O capítulo 8 tráz a história de Jimi (Jamila), melhor amiga de Sola e irmã do meio de Jordyn. Jimi é vocalista e guitarrista de uma banda chamada Rescuing Midnight, mas a banda está carregada de tensão e conflitos de interesses, pois Jimi odeia músicas românticas e os garotos que compõe o trio, Kennedy e Rakeem, acham isso uma completo absurdo e começam a evitá-la. Jimi está no Fox Theatre sozinha, sem saber se os garotos vão aparecer pra gravarem a música que poderia ajudar Stevie e Sola a voltarem, esperando Jordyn aparecer, e se sentindo culpada por ter causado esse climão, até que encontra Téo, um garoto com quem ela estudou no ensino fundamental e que agora é conhecido por seu nome artístico "Lil Kinsey". Depois que ele sumiu da escola sem dar notícias, ele se tornou um rapper bem famoso. E ele é o motivo de Jimi odiar músicas românticas...
Eu gostei bastante desse conto em particular pois ele fala muito sobre o sentimento de abandono, o que isso pode causar e como as pessoas lidam com isso, mesmo que rejeitem a afeição alheia como meio de defesa (se você não se envolve, então não se decepciona), pra tentarem seguir em frente. Embora o tema possa ser um gatilho pra várias pessoas, a forma como a autora aborda e desenvolve a história é bastante sensível pois Jimi e Téo acabam compartilhando memórias e se reconcetam através da música, o que é super legal.

Ava e Mason - ★★★ 
Esse conto em particular tráz os pontos de vista de Ava e Mason de forma alternada, onde, após se encontrarem no Aquário onde Ava tem um trabalho voluntário, relembram os motivos que os levaram a terminar o namoro. E em meio a essas lembranças, a maioria com desentendimentos bobos, eles começam a refletir sobre a "validade" dos relacionamentos quando precisam ir pra faculdade e eles vão se "separar". Acho que o conflito central dessa história é bastante realista pois trata de um dilema muito comum nos jovens que estão dando esse passo na vida (principalmente nos EUA onde eles saem de casa pra estudar e ficam longe por vários meses). Além disso, a história também aborda a ideia dos filhos seguirem por um caminho que não querem ou não gostam para superar as expectativas dos pais, e a forma como isso é exposto é tão sensível, ainda mais quando se tem apoio de quem se ama, que é impossível segurar as lágrimas.
Outro ponto bem bacana é o pano de fundo da história que remete a ciência e à vida marinha. A descrição da água azul, dos peixes nadando através do acrílico enquanto eles conversam e vão se entendendo é a coisa mais linda e perfeita de se acompanhar.
Tenho quase certeza que esse foi escrito pela Nicola Yoon e foi o único, assim como o conto dela em Blackout, que levou 5 estrelas e, de quebra, ainda me fez chorar, emocionada.

Uma coisa que não curti muito durante a leitura foram os nomes ou apelidos das personagens. A maioria deles é difícil de pronunciar pra quem não está acostumado, principalmente os nomes nigerianos que aparecem no capítulo de Sola, e acabaram travando a leitura a ponto de eu começar a pular os nomes ou só ler a primeira letra porque não tive paciência pra ir pesquisar a pronúncia de todos eles.
Acho que pelo livro ser das mesmas autoras que tem uma conexão muito boa pra escreverem juntas e, apesar de não ser uma série nem nada, ter o mesmo padrão de histórias curtas, a editora poderia ter mantido o título original em inglês. Acho que ficaria muito mais legal a combinação dos títulos "Blackout" e "Whiteout" do que "Blackout" e "Nevasca". Pelo menos com os nomes originais dá pra associar um com o outro fazendo esse contraste entre preto e branco relacionados ao escuro do apagão e ao branco da neve.
Um ponto curioso é que, embora no final do livro haja dicas, as autoras não informam nos capítulos quem escreveu o que alí.

Nevasca é um livro bastante agradável e vai, sim, dar aquele quentinho no coração, mesmo que algumas histórias sejam bem melhores que outras. Apesar de eu achar que as atitudes e pensamentos não condizem muito com as idades dos personagens, as histórias retratam as questões do amor juvenil, as descobertas, a amizade e os dilemas adolescentes, principalmente aqueles relacionados à orientação sexual e à ideia das histórias apresentarem personagens jovens, negros e com aspirações de vida bem bacanas de uma forma bem sensível e bonita.

O Demônio na Floresta - Leigh Bardugo

26 de agosto de 2023

Título:
O Demônio na Floresta: Uma graphic novel de Sombra e Ossos
Autora: Leigh Bardugo
Ilustrações: Dani Pendergast
Editora: Planeta/Minotauro
Gênero: Fantasia/Jovem Adulto/Graphic novel
Ano: 2023
Páginas: 208
Nota:★★★★★
Sinopse: Antes de Ravka ser liderada pelo Segundo Exército, antes da criação da Dobra das Sombras, e muito antes de ele se tornar o Darkling, havia um garotinho solitário oprimido pelo seu próprio poder extraordinário.
Eryk e sua mãe, Lena, passaram suas vidas inteiras fugindo. Mas eles nunca encontrarão o refúgio que tanto buscam. Eles não são somente Grishas – eles são os mais raros e perigosos desse grupo.
Temidos pelos que querem destruí-los e perseguidos pelos que desejam explorar seus dons, Eryk e Lena precisam mascarar suas habilidades a todo momento. Mas os segredos mais perigosos são os mais difíceis de esconder...

Resenha: O Demônio na Floresta é uma graphic novel que faz parte do GrishaVerso criado pela autora Leigh Bardugo. Ele antecede em muitos e muitos anos todos os acontecimentos que se passam na trilogia principal.

Nele vamos conhecer uma pequena passagem da vida de Aleksander Morozova, numa época em que ele era um jovem subestimado e oprimido pelo próprio poder, que só tinha Baghra, sua mãe, como companhia e a única em quem podia confiar. A história se passa antes de Ravka ser liderada pelo Segundo Exército, antes da criação da Dobra das Sombras, num período em que o mundo não era um lugar seguro para os Grishas, e antes dele se tornar o Darkling - o temido Conjurador das Sombras desse universo cheio de fantasia e muita ação.

Aleksander e sua mãe, que também é uma Conjuradora das Sombras, vivem fugindo de um lugar pra outro e mudando seus nomes para não serem encontrados por caçadores de bruxas, também chamados de drüskelle, que os perseguiam. Desta vez eles vão se passar por "Eryk" e "Lena" e, cansados de fugir, só queriam um lugar pra poderem permanecer por mais tempo sem levantar suspeitas. A próxima parada é um pequeno acampamento de Grishas que os acolhem e que, aparentemente, é seguro. O problema é que quanto mais tempo eles passam num local, mais vulneráveis ficam, consequentemente, mais perigoso é. O poder de Eryk precisa ser escondido até mesmo dos próprios Grishas, pois eles também poderiam se aproveitar desse poder para benefício próprio.











Não há muitos personagens e o formato da história limita um maior aprofundamento sobre eles, mas o pouco que há é suficiente pra conhecermos quem são, o que fazem e como suas personalidades e poderes os afetam. No acampamento, Eryk conhece as irmãs Annika e Sylvi. Annika é a irmã mais velha, uma jovem Hidro cujo poder não é forte o bastante, o que a deixa bastante frustada já que vive sendo diminuída pelo filho irritante do Ulle, o líder o acampamento. Sylvi é uma criança bastante curiosa, impulsiva e um tanto teimosa (e irritante), e seus poderes não se manifestaram, o que a deixa bastante inquieta e ansiosa. Logo ela se mete em situações perigosas e precisa da proteção da irmã a todo momento.
Lena é uma mulher forte e que se impõe para não ser subjugada por ninguém, mas ela se preocupa tanto com o filho que não mede esforços para fazer qualquer coisa que for preciso para protegê-lo. Qualquer coisa. Desde seus ensinamentos brutais até suas medidas extremas.

Quando os Grishas decidem que precisam caçar um Amplificador, um enorme Urso que andava pela floresta, as coisas começam a sair do controle e Eryk percebe que aqueles Grishas não são exatamente quem ele pensava que fossem. Essas situações vividas por ele acabam por moldá-lo para que, no futuro, ele se torne o Darkling que conhecemos. O pouco que acontece na história mostra que Eryk, até então, tem boas intenções mas, ao que parece, a maldade e a ganância daqueles que cruzaram seu caminho acabaram por fazer com que ele deixasse de acreditar que poderia confiar em alguém. Assim, sem ter mais recortes de sua vida, fica difícil afirmar se ele é mesmo esse vilão tão terrível, ou se era um herói incompreendido que se permitiu ser corrompido a medida que se decepcionava cada vez mais.


As ilustrações feitas por Dani Pendergast são maravilhosas e trazem uma paleta de cores que misturam cores frias e quentes de uma forma super agradável e bonita de se ver. Os personagens são expressivos e as cenas são retratatas com a devida intensidade para que as imagens possam valer mais do que as palavras. Os balões de pensamento de Eric em forma de sombras foram uma sacada genial e que representam bem seu interior.

O único ponto negativo do livro é que a história é curtinha e ele acaba rápido demais. É impossível não ficarmos curiosos com mais detalhes da vida de Aleksander e como ele passou a lidar com seu poder até se tornar o Darkling.
Pra quem gosta da saga e quer ter mais detalhes sobre esse vilão que amamos odiar (ou talvez odiamos amar), é leitura super indicada e espero que a autora continue investindo nesse formato de graphic novel para se aprofundar e trazer mais detalhes do que aconteceu até o auge do Darkling.

Este Inverno: Uma novela de Heartstopper - Alice Oseman

21 de agosto de 2023

Título:
Este Inverno: Uma novela de Heartstopper
Autora: Alice Oseman
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem Adulto/Romance
Ano: 2023
Páginas: 112
Nota:★★★★★
Sinopse: Tori, Charlie e Oliver Spring sabem que o Natal deste ano vai ser diferente. Depois de passar um período internado para tratar seu transtorno alimentar, tudo o que Charlie quer é não ser o centro das atenções ― o que parece impossível.
Quando as coisas saem do controle, cada um dos irmãos vai ter que encontrar um jeito de lidar com este inverno difícil ― e buscar conforto um no outro.

Resenha: Este Inverno é uma novela do universo Hearstopper que se passa durante os acontecimentos do vol. 4, De Mãos Dadas, quando Charlie volta pra casa depois de precisar ficar internado para tratar de seu transtorno alimentar. Mas, por ser véspera de Natal, a família inteira se reúne na casa dos Springs e nada poderia ser pior do que aquela torta de climão, seja pelos parentes (que só aparecem uma vez na vida e outra na morte) querendo saber detalhes da orientação sexual de Charlie, ou por acharem que ele é algum maluco por ter passado algumas semanas num "hospício" sem sequer se preocuparem de fato com o que aconteceu com ele e como ele chegou a esse ponto. Charlie só queria poder ficar em paz, e por mais que ele tente ser discreto e passar despercebido no meio desse povo, é impossível manter o controle quando ele vira o centro das atenções.

O livro é dividido em três capítulos, todos narrados em primeira pessoa, cada um dedicado ao ponto de vista dos irmãos Spring. O primeiro capítulo é narrado por Tori, como ela enxerga a situação e como é a única dessa família desajustada que não trata Charlie como se ele fosse uma aberração.
Apesar dela ser um tanto fechada e não fale muito, dá pra perceber o quanto ela ama os irmãos, se preocupa e é compreensiva, desde a paciência infinita com as peripécias de Oliver, até como ela tenta ajudar Charlie a se sentir acolhido o tratando como igual, embora ele não lhe dê muito espaço pra isso e às vezes até desconta nela suas frustrações. Vemos o quanto é desconfortável e difícil pra Charlie aturar parentes intrometidos e sem noção nenhuma, e até com seus pais que não demonstram nenhuma empatia ao lidar com os problemas do filho. Tori, além de entender como deve ser doloroso pro irmão comemorar um feriado cheio de comida quando o problema dele é com comida, percebe o quanto Charlie sofre com tudo isso, se sente tão incomodada quanto ele, mas não pode fazer muita coisa por achar que não tem direito de ultrapassar os limites e invadir seu espaço. Mas ela percebe como ninguém que o que seus pais fazem para ajudar Charlie está longe de ser suficiente.


"Odeio como as pessoas reagem quando descobrem que Charlie passou algumas semanas internado. Como se fosse a cposa mais horrível que já ouviram. É porque elas associam automaticamente a manicômio e gente louca em vez de tratamento e recuperação e aprender a lidar com um transtorno alimentar."
O segundo capítulo é narrado por Charlie e acompanhar como ele se sente é bastante complicado e talvez cause vários gatilhos relacionados a saúde mental. Ele sabe que, diferente dos seus pais, Tori se importa, mas reconhece que às vezes é duro com ela quando não deveria ser. Através dessa narrativa de Charlie e seus diálogos com Nick, o leitor entende melhor seus conflitos psicológicos, os problemas em família que ele enfrenta, a dificuldade em ter uma conversa mais aberta com os pais e o quanto ele se sente culpado por não corresponder às expectativas deles, como se fosse um fardo. Da mesma forma ele também sabe o quanto as semanas que ele passou internado foram importantes para que ele pudesse receber a ajuda necessária para entender melhor seu transtorno e poder lidar com eles agora que sabe a origem desses problemas. Mas claro, não é fácil, é um processo a longo prazo, e Charlie sente que Nick é o único disposto a passar por tudo isso junto com ele. Quando Charlie larga a família e o bando de parentes imprestáveis em pleno Natal pra evitar brigas e vai pra casa de Nick, a gente percebe a discrepância gigantesca do tratamento de uma família em relação a outra (com exceção de David, irmão de Nick, que é uma criatura ridícula, ignorante e desprovida de bom senso e inteligência). Charlie encontra na família de Nick todo o acolhimento e respeito que sua própria família nunca lhe deu. E isso dói e até causa revolta, pois os pais dele não são capazes de perceber sua parcela de responsabilidade nesse problema e preferem focar na ideia de que eles "fazem o que podem pra esse filho ingrato" como se isso tivesse a ver com eles, e não com Charlie.



Pra finalizar, o terceiro capítulo é narrado por Oliver, o irmãozinho mais novo de sete anos. Ele mostra, pelo seu ponto de vista, o que está acontecendo naquele Natal falido de uma forma bastante infantil e engraçadinha. Mas apesar de ser bem bonitinho a preocupação que ele demonstra ter com o sumiço do irmão, e depois da irmã, ou como fica triste por estar jogando video game sem companhia no meio daqueles parentes chatos, não fiquei convencida de que era uma criança falando devido a forma como ele percebe e expõe as coisas. Mas talvez isso seja só um detalhe que eu tenha percebido por ser mãe e saber como meus filhos costumam se expressar.

Assim como os outros volumes, as ilustrações seguem o mesmo padrão bonitinho de traço (mesmo que nas novelas os desenhos sejam em preto e branco), os personagens são bastante expressivos e a diagramação, que combina a narrativa com ilustrações e simulação de troca de mensagens no celular, é super caprichada.

Apesar de achar que uma série acaba ficando muito saturada quando tem vários livros extras que poderiam ser inseridos nos livros principais, confesso que Este Inverno, apesar de triste, é uma história bem especial e que foi um bom acréscimo que aborda o tema da dinâmica familiar problemática e da saúde mental de um jeito bem leve e respeitoso. Pra quem gosta do universo Hearstopper e quer matar um pouco da saudade dos personagens enquanto o vol.5 não vem, recomendo.

Nimona - N.D. Stevenson

17 de agosto de 2023

Título:
Nimona
Autor: N.D. Stevenson
Editora: Intrínseca
Gênero: HQ/Fantasia
Ano: 2016
Páginas: 272
Nota:★★★★★
Sinopse: A graphic novel protagonizada pela anti-heroína mais surpreendente, kick-ass e fora dos padrões que você vai conhecer.
Nimona é uma metamorfa sem limites nem papas na língua, cujo maior sonho é ser comparsa de Lorde Ballister Coração-Negro, o maior vilão que já existiu. Mas ela não sabia que seu herói possuía escrúpulos. Menos ainda uma deliberada missão.
Até conhecer Nimona, Ballister fazia planos que jamais davam certo. Felizmente, a garota tem muitas sugestões para reverter esse quadro. Infelizmente, a maioria envolve explosões, sangue e mortes. Agora, Coração-Negro não só tem que enfrentar seu arqui-inimigo e ex-amigo, o célebre e heroico Sir Ambrosius Ouropelvis, mas também impedir que a fiel comparsa destrua todo o reino ao tentar ajudá-lo.
Uma história subversiva e irreverente que mistura magia, ciência, ação e muito humor sobre camadas e mais camadas de reflexão; entre uma batalha e outra, é claro.

Resenha: Publicada em 2016 pela editora Intrínseca e criado por N.D. Stevenson, Nimona voltou a ganhar holofotes depois que a Netflix produziu sua adaptação para as telinhas.
Na graphic novel, conhecemos Nimona, uma metamorfa e anti-heroínma que se torna comparsa de Lorde Ballister Coração-Negro que, amargurado, se tornou o maior vilão que já existiu depois de ser sido descartado pela "Instituição de Heroísmo & Manutenção da Ordem" por ter perdido um braço durante uma justa (nada justa) com Sir Ambrosius Ouropelvis. O que Nimona não sabia era que Ballister tinha seus motivos nobres pra deixar que o povo acreditasse que ele era mesmo um vilão, mas na verdade ele tem um bom caráter, um enorme coração e só quer fazer justiça. E entre confrontos e discussões com seu agora arqui-inimigo e ex-amigo Ambrosius, Ballister precisa impedir que Nimona exploda e destrua o reino na intenção de ajudá-lo a se vingar e a desmascarar as tramas obscuras da Instituição, comandada pela Diretora, e livrá-lo de várias perseguições.

Confesso que meu interesse na HQ de Nimona se deu após eu ter assistido a animação na Netflix e gostado muito, e imaginei que a obra que deu origem a ela seria ainda melhor, mas já vou avisando desde já que, embora muito boa, não é melhor. Esse é um dos poucos casos em que a adaptação conseguiu superar o original, criando arcos bem mais interessantes, oferecendo uma maior fluidez à história devido a forma como foi contada, e dando camadas bem mais profundas aos personagens.

A história se inicia com Nimona abordando Ballister e se oferecendo para ser sua comparsa. Embora ele inicialmente relute, acaba por "contratar" Nimona. A partir daí, uma relação fraterna, divertida e repleta de cumplicidade surge entre os dois.


Quando o assunto é história em quadrinhos, as imagens muitas vezes acabam falando mais do que as palavras, principalmente quando os personagens conseguem demonstrar seus sentimentos ou aflições através de suas expressões, e com Nimona não é diferente. Os traços são simples e caricatos, mas conseguem demonstrar todos esses pontos dando a devida intensidade em cada situação, seja ela mais engraçada ou mais dramática. As cores são bastante agradáveis, principalmente quando combinadas em paletas que tem tudo a ver com o ambiente ou com a situação personagens se encontram.


Mesmo que não tenha tanto aprofundamento ou muitas explicações de origens e afins (como na animação), e da pegada LGBTQIA+ ser tratada de forma quase imperceptível, eu gostei bastante da construção dos personagens, suas motivações, seus conflitos, como seus traumas e mágoas os afetam, e o que eles fazem pra tentar reparar essas coisas.
Os diálogos são engraçados e remetem bastante à época medieval, com frases do tipo "alto lá, vilão!", mas outros conseguem ser bastante profundos e intensos, mesmo que curtos, e causam impacto e algumas reflexões não só nos personagens envolvidos, mas no próprio leitor.

Ballister tem toda aquela pose estereotipada de vilão, se parece e se veste como um vilão, bola planos malignos, sai por aí na companhia de Nimona fazendo coisas de vilão (como roubar um banco, por exemplo), gosta de ciências e até se comporta como um cientista maluco fazendo algumas descobertas e experimentos suspeitos, mas ele está longe de ser um vilão como fazem parecer. O lance dele é fazer justiça, é provar o quão problemática é a Instituição e como ela faz mal não só aos Heróis, mas ao povo do reino. Mesmo que seja seu chefe, ele se apega a Nimona e se preocupa bastante com a segurança dela, e quando percebe que a Instituição quer matá-la por ela representar um suposto risco, ele não hesita em tentar protegê-la ainda mais e faz de tudo pra revelar como aqueles que se dizem Heróis, incluindo a Instituição, são na verdade uns farsantes.

Ambrosius, seguindo ordens da diretora, é o famoso Herói imponente e amado pelo povo que não sai da cola de Ballister e Nimona, mas justamente por seguir as ordens da Diretora, seu título de Herói é totalmente questionável. Ele sempre se pega num enorme dilema pois, apesar de não assumir o motivo, não consegue fazer nada de mal a Ballister. Eles discutem e brigam sempre que se encontram, independente da situação que esteja acontecendo, mas demora um pouco até que apareça a explicação do motivo de toda aquela tensão que existe entre eles e do enorme ressentimento que Ballister carrega por Ambrosius ter explodido seu braço.

Nimona é a estrela da história, claro. Ela é umas das anti-heroínas mais divertidas e engraçadas que já tive a oportunidade de acompanhar, e por mais que ela saia por aí explodindo as coisas, quebrando estruturas, tacando fogo em tudo e matando inimigos, ainda consegue achar espaço pra fazer uma piada e demonstrar seu afeto por Ballister. Ela tem uma aparência que foge bastante dos padrões e isso só mostra o quanto ela é única. Alguns detalhes sobre as coisas que ela é capaz que fazer e que vão além de se transformar em animais e outras pessoas são omitidos de Ballister, mas ela faz isso justamente pra tentar evitar que ele se preocupe. Foi uma pena que o passado dela não foi tão abordado a ponto de nem sabermos direito sobre seu dom, mas a medida que a história se desenrola, percebemos a necessidade que ela tem em ser aceita como é, e que isso tem tudo a ver com a relação dela com seu chefe, pois ele não só a aceita, mas a acolhe.

Acho que vale falar um pouco da Diretora que, pra mim, representa toda a sujeira, preconceito e corrupção que existem quando se tem algum poder. Ela é manipuladora, impõe sua opinião e suas crenças goela abaixo dos outros, manipula todo mundo e ainda distorce a verdade sempre que pode pra obter vantagem e fazer com que os outros acreditem no que ela quer. Odiosa é um adjetivo até educado que pode ser usado definir essa criatura.




O que achei mais interessante nessa graphic novel foi a crítica super certeira sobre como o maniqueísmo é prejudicial para a formação de conceitos e opiniões na sociedade, dando uma visão bastante ampla sobre o significado de bem e mal, ou herói e vilão. A midia também é retratada com maestria quando, submetidos ao governo, podem servir como um meio de desinformação para influenciar e manter a população na ignorância, ou serem censurados quando tentam se opor e mostrar a realidade. Através de uma história simples e bastante rápida de ser lida, é possível compreender como a maioria fica em desvantagem perante uma minoria que faz qualquer coisa pra se manter no poder, e aqueles que poderiam se opor e lutar contra o sistema acabam levando o rótulo de vilões, sendo perseguidos numa tentativa de serem silenciados. Isso soa bem familiar nessa época em que vivemos, né?

Infelizmente, o livro se encontra esgotado em todas as lojas online e livrarias, pelo menos até momento dessa postagem, e não sei se a Intrínseca vai liberar uma nova tiragem depois da animação ter feito tanto sucesso. Eu espero que sim, pois uma obra dessas, além de ser bastante divertida, aborda assuntos importantes de forma leve, envolvente e descontraída, e super vale a pena tê-la na estante.
Nimona é uma história sobre aceitação, superação, amor e amizade que, por mais que faça piadas com vários elementos e situações dando a impressão de ser "bobinha", consegue passar uma mensagem bonita, importante e muito necessária. Meu único arrependimento aqui é não ter lido e dado a atenção que ela merecia quando foi lançada lá em 2016.

Mil Batidas do Coração - Kiera Cass

15 de agosto de 2023

Título:
Mil Batidas do Coração
Autora: Kiera Cass
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem Adulto/Romance
Ano: 2023
Páginas: 496
Nota:★★☆☆☆
Sinopse: Annika sempre viveu rodeada pelos confortos da realeza, mas nenhum luxo é capaz de mudar o fato de que ela não pode tomar decisões sobre a própria vida. Afinal, depois que o rei, seu pai, perdeu a esposa, ele se tornou um homem calculista, insistindo para que Annika aceite um casamento arranjado. O amor, para ela, virou uma questão política.
Enquanto isso, longe dali, qualquer mínimo conforto é um milagre na vida de Lennox. O jovem dedica sua vida ao exército de seu povo na esperança de um dia retomar o trono que foi roubado deles e vingar a morte do pai. Para Lennox, o amor não passa de uma indesejada distração na sua luta por justiça.
Mas quando o destino desses jovens inimigos se cruza de maneira inesperada, despertando um amor imprevisível, será que eles serão capazes de resistir a esse sentimento em nome de seus reinos? Ou vão se entregar ao som de mil batidas do coração?

Resenha: Annika é a princesa do reino de Kadier, um lugar governado por um rei que, após a perda de sua esposa, se tornou frio e calculista. Annika é cercada por todo o luxo que a realeza pode proporcionar, mas ela não é livre nem para escolher a roupa que vai usar e, agora, precisa se casar com o primo, na intenção de fortalecer o reino e manter o poder. Para Annika, o amor se tornou algo arranjado e que não passa de uma questão política.

Longe dali, numa terra esquecida e inóspita, Lennox é um soldado que dedica sua vida ao exército e à resistência e é bastante temido por sempre fazer o serviço sujo que ninguém mais tem coragem de fazer. Seu objetivo é recuperar o trono que ele acredita pertencer ao seu povo e vingar a morte de seu pai, e para isso ele não medirá esforços e irá se empenhar ao máximo possível. Para Lennox, relacionamentos e apegos emocionais são meras distrações quando o assunto é lutar por justiça.

Até que Annika é sequestrada por soldados liderados por Lennox, pois o reino roubado em questão é Kadier. O que ninguém esperava era que a princesa e o soldado iriam se encontrar diante de um enorme dilema devido a esse sentimento imprevisível e perceberiam que o que está em jogo vai além desse relacionamento proibido. Os dois entenderão que a verdade pode ser distorcida e que nem tudo o que eles foram levados a acreditar durante muitos anos condiz com a realidade.

O livro é narrado em primeira pessoa, com capítulos que se alternam entre os pontos de vista de Annika e Lennox. Eu costumo gostar de livros que trazem esse tipo de narrativa, desde que seja possível diferenciar os personagens por terem "vozes" diferentes, o que não acontece aqui. Se não fosse pelo nome do personagem iniciando o capítulo, eu nem saberia quem estava narrando, pois parecem a mesma pessoa. Senti que faltou algo para diferenciar o ponto de vista dos dois.

Confesso que a primeira metade do livro é arrastada e levou uma eternidade para prender minha atenção; levei meses para terminar a leitura e li e reli os primeiros capítulos várias vezes. O ritmo melhora na segunda metade e as coisas se tornam mais fluídas e menos confusas, mas não nego que muita coisa acontece de forma bastante conveniente para criar situações ou justificar certas atitudes. O problema é que a história passa a ser corrida demais, e com acontecimentos bem difíceis de engolir.

Tanto Annika quanto Lennox passam por problemas familiares bem delicados, pois as figuras paternas que eles têm são as mais disfuncionais e falhas que podem existir; eles só não enxergaram isso ainda. A trama traz aquele romance "enemies to lovers" bastante clichê, mas, além de não ter química nenhuma, me incomodou bastante a ideia dos protagonistas - aparentemente rivais - se apaixonarem de forma instantânea e com profundidade zero. Eles são totalmente o oposto um do outro, mas se assemelham bastante quando o assunto é se submeterem e serem obedientes a quem representa a autoridade; no caso de Annika é seu pai, o rei, e no caso de Lennox é Kawan, o companheiro de sua mãe e líder de seu povo.

Apesar de Annika ter a personalidade forte e com aquele toque de dama rebelde, ela sempre pensa no bem-estar das pessoas do reino (que nunca aparecem em lugar nenhum); tanto que está pronta para se casar com alguém que ela nem conhece direito, por determinação do pai, acreditando que isso é o melhor para Kadier, mas toda essa benevolência não parecia ter um padrão muito realista e plausível para mim.
Lennox tem que lidar com a tirania de Kawan, mas com o objetivo de assumir o controle das terras que ele acredita terem sido roubadas, ele está pronto para qualquer coisa, mesmo que isso signifique tirar a vida de quem cruzar seu caminho. Claro que, por trás de toda essa frieza, ele esconde um cara compreensivo e gentil que vai conquistar a mocinha na primeira troca de olhares. No entanto, quando um personagem é apresentado como assassino cruel, fica meio difícil acreditar que ele tenha esse lado mais humano e sensível. A autora tenta dificultar as coisas fazendo com que eles demonstrem se odiar enquanto tentam lutar contra os próprios sentimentos à medida que vão se conhecendo cada vez mais, mas eu já estava revirando os olhos, porque nada daquilo parecia real ou aceitável para mim.

Diferente dos outros livros da autora, a construção de mundo e as questões políticas foram abordadas de forma bastante rasas, e as resoluções dos problemas foram fáceis, o que deixou a desejar. O livro tem quase 500 páginas, mas parece que nenhuma delas foi dedicada à construção do mundo; tudo parecia muito vazio e sem vida. Logo, não consegui dar a devida importância ou entender a motivação feroz de Lennox para recuperar um reino genérico que não tem nada de especial. O final acabou sendo previsível e fraco. Os personagens secundários também não salvam a história, porque as coisas entre eles também aparecem de repente e sem muitas explicações. Além disso, eles têm algumas atitudes questionáveis que parecem estar ali só para despertar nossa antipatia, enquanto outros estão ali só para criar um certo apego, até que eles morram, com a intenção de deixar o leitor triste. Mesmo que alguns deles tenham algum destaque, eles não demonstram tanta importância assim.

Apesar do romance nada realista e da demora para a história engatar e começar a se tornar um pouco menos enrolada, o livro tem alguns pontos positivos, como reviravoltas e revelações interessantes. No entanto, talvez funcione melhor para um público menos exigente com relação à construção de mundo e detalhes. Para quem foi fã de Kiera Cass e amou a trilogia A Seleção, eu esperava algo mais empolgante e que me mantivesse interessada. Infelizmente, isso não aconteceu com Mil Batidas do Coração, e acho que a história podia ser contada da mesma forma com umas 200 páginas a menos. Talvez eu já tenha deixado de ser o público-alvo dela há anos, e só agora estou me dando conta disso, o que é uma pena...

M de Monstra - Talia Dutton

9 de agosto de 2023

Título:
 M de Monstra
Autora: Talia Dutton
Editora: Suma
Gênero: Graphic Novel/Drama
Ano: 2023
Páginas: 224
Nota:★★★★★
Sinopse: Depois de perder a irmã mais nova, Maura, em um trágico acidente de laboratório, a dra. Frances Ai promete trazê-la de volta à vida. Entretanto, quem reaparece nessa tentativa claramente não é Maura. A criatura, que decide se chamar M, não tem recordações da vida de Maura e só quer seguir seu próprio caminho.
Na esperança de retomar a rotina que tinham juntas, Frances quer que M seja como a irmã: uma cientista dedicada com quem dividia seus planos no laboratório. Buscando recuperar suas memórias, Frances cerca M de lembranças do passado de Maura ― porém, por mais que a doutora insista, M reluta em assumir uma identidade que não é a sua.

Resenha: M de Monstra, da autora e ilustradora Talia Dutton, é uma graphic novel inspirada no clássico Frankenstein, que conta a história de duas irmãs cientistas, Frances e Maura, que passaram por um enorme trauma. Depois de Maura, a irmã mais nova, sofrer um acidente fatal durante um experimento arriscado no laboratório, Frances usa todo o seu conhecimento para reconstruir o corpo e trazer a irmã de volta à vida. Porém, não é Maura quem está alí naquele corpo cheio de remendos e cicatrizes. Ela não tem nenhuma lembrança do que viveu, da ciência pela qual era apaixonada, e nem da própria irmã, e por mais que Frances acredite que é possível consertar esse problema para que a irmã volte por completo, a criatura, que se denomina M, só quer viver em paz sendo quem ela é, e não quem querem que ela seja.




Em sua obra de estreia, a autora consegue tratar de temas bem sensíveis de uma forma leve e delicada, como luto, autodescoberta, identidade e também sobre o peso de se criar expectativas no que não se pode ter controle, e tudo isso através de um projeto gráfico muito bonito, com traços que remetem ao século XX sob um tom de verde turquesa bastante agradável aos olhos e que, combinado com o preto, transita entre suspense sobrenatural e drama de uma forma bastante fluída e imersiva.

Aqui vemos Frances num enorme conflito emocional por não ter aceitado a morte da irmã além de estar presa a um sentimento de culpa pelo que aconteceu e fazendo de tudo pra tê-la de volta, inclusive montá-la e desmonstá-la quantas vezes forem necessárias, sem pensar nas consequências. As atitudes que ela tem, as escolhas que faz, as coisas que ela diz e a forma como ela quer "consertar" a irmã  demonstram seu abalo e sua resistência devido a sua forma de enfrentar o luto, e esse ponto acaba explorando a dificuldade em lidar com a perda. Além disso, por se tratar de uma releitura, é possível perceber de forma muito clara o quanto Frances fica obcecada em obter sucesso ao reviver a irmã, lapidá-la e polí-la à perfeição, mas a trata com frieza sem hesitar em reconstruí-la quantas vezes forem necessárias pra atingir seu objetivo, sem considerar que naquele corpo há uma personalidade única com sentimentos, desejos e necessidades. Essa relação antagônica entre criadora e criatura apresenta reflexões sobre a natureza humana.


Por outro lado, temos o ponto de vista de M que fala pouco, mas consegue demonstrar através de suas expressões o quanto ela está sofrendo, pois ao mesmo tempo em que ela se esforça contra a sua vontade e abre mão dos seus sonhos pra agradar Frances, ela está se tornando cada vez mais infeliz e deslocada ao se passar por alguém que ela não é, fingindo se lembrar de coisas que jamais lhe aconteceram, e as visões que ela tem do fantasma da verdadeira Maura que se manifesta num espelho e que passa a ajudá-la nessa farsa, acabam não facilitando esse processo. A dualidade entre os pontos de vista revela que não há certo ou errado; ambos estão tentando enfrentar a situação da melhor forma possível, mas M é o lado mais fraco. A divergência de perspectivas e desejos entre as irmãs reflete a dificuldade de equilibrar as próprias vontades com as dos outros, o que me fez pensar que o preço que pagamos por abrimos mão de quem somos e do que queremos para agradar o outro, principalmente quando esse outro nos trata como algo descartável, pode ser nossa felicidade e nossa própria liberdade.

A medida que a história vai se desenrolando, é possível acompanhar a jornada de autodescoberta de M e como é difícil pra ela conviver com imposições e comparações de quem ela deveria ser, de como deve se vestir e se comportar, do que deve ou não gostar e tendo que ceder a todo momento fingindo ser Maura devido ao medo constante de ser rejeitada e desmonstada para Frances "consertá-la" caso descubra que ela é outra pessoa. Então, acompanhar os acontecimentos e perceber que M está tentando se libertar dessas amarras e assumir o controle de sua vida, mesmo que pra isso seja necessário enfrentar Frances, é bastante satisfatório e até emocionante.


M de Monstra é uma leitura rápida, agradável, envolvente e sensível, que aborda de maneira inteligente temas como autodescoberta, aceitação, o dilema de agradar aos outros em detrimento de si mesmo, a renúncia aos próprios sonhos por medo de se perder algo que sequer existiu, sobre a luta pela individualidade e livre-arbítrio, e sobre deixar partir. É praticamente impossível terminar a leitura e não pensar que a obra nos lembra da importância de seguir nosso próprio caminho e aceitar que algumas mudanças são simplesmente inevitáveis.

Nick e Charlie: Uma novela de Heartstopper - Alice Oseman (Audiolivro)

26 de junho de 2023

Título:
Nick e Charlie: Uma novela de Heartstopper
Autora: Alice Oseman
Narração: João Victor Granja e Vitor Mello
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem Adulto/Romance
Ano: 2023
Duração: 1h 50min (168 páginas)
Nota:★★★☆☆
Sinopse: Nesta novela da série best-seller Hearstopper, Nick e Charlie vão precisar superar um dos maiores desafios de seu relacionamento.
Todo mundo sabe que Nick e Charlie são inseparáveis. Entre tardes jogando videogame, noites de filmes e conversas infinitas, não há nada que possa abalar o sentimento que um tem pelo outro.
Com a partida de Nick para a universidade se aproximando, Charlie fica cada vez mais inseguro, afinal todos dizem que o primeiro amor quase nunca dura para sempre… Será que o relacionamento deles é capaz de sobreviver à distância? Ou os garotos só estão adiando o inevitável?

Resenha: Nick e Charlie é uma novelinha do universo Heartstopper, da autora Alice Oseman e publicado pela Seguinte aqui no Brasil. Diferente dos outros livros da série, Charlie e Nick não é uma HQ, e me arrisco a dizer que a leitura extra não é obrigatória, a não ser que a pessoa realmente goste de Heartstopper e tenha ficado com curiosidade em saber como os personagens estão dois anos depois do desfecho do último volume, De Mãos Dadas. Aqui vamos acompanhar uma situação específica entre o casal que estava super bem, até a ideia de um namoro a distância surgir, já que Nick está prestes a ir para a universidade. Charlie passa a ter crises de insegurança e não sabe como lidar com a situação. Por mais que se amem e sejam inseparáveis, como pode um relacionamento sobreviver à distância?

O livro é narrado em primeira pessoa e é dividido em seis partes que se alternam entre os pontos de vista dos dois. Minha experiência foi com o audiobook, então antes de falar sobre a história, vou falar sobre a narração, da qual eu só tenho elogios. As vozes dos narradores João Victor Granja (Nick) e Vitor Mello (Charlie) são fluídas e gostosas de ouvir, combinam bem com os personagens e suas personalidades, eles variam a intensidade da voz de acordo com a emoção dos personagens e tornam a experiência de ouvir a história muito mais imersiva e interessante. Eles são os mesmos que dublaram os atores no seriado na Netflix e a escolha para a narração do audiobook não poderia ser mais acertada. O trabalho de narração em si já merece 10 estrelas, mas é uma pena que não possa avaliar a história como um todo da mesma forma.

O problema pra mim foi eu simplesmente não conseguir acreditar que as discussões dos personagens fossem algo vindo de adolescentes, tanto pela complexidade dos diálogos quanto pela forma como os sentimentos foram expostos. Fiquei com a sensação de que todo o surto de Charlie por não ficar feliz com a ida de Nick pra longe foi algo que a autora quis inserir pra tentar mostrar um ponto que parece ter a ver com a forma leve dela lidar com assuntos mais delicados e como passa isso pro papel, mas, levando em consideração o que aconteceu nos outros livros, aquilo não me parecia legítimo, não senti que era algo que os personagens diriam.
Digo isso porque a rotina deles como casal é bastante detalhada, com informações do que fazem, como fazem, e como ficam felizes por estarem juntos, logo eu imaginei que uma situação que os tirasse dessa zona de conforto pudesse ser resolvida de outra forma que não envolvesse pensamentos reprimidos e um surto com direito a tratamento de silêncio e tudo. Talvez pra leitores mais jovens essa questão da imaturidade devido a idade possa ser algo normal, mas sabe quando a única reação para um xilique gratuito é revirar os olhos? Foi exatamente isso que fiz quando me dei conta que o problema central era esse.
Obs.: Cheguei a lembrar do meu primeiro namoradinho e da vez que eu precisei viajar sem ele: a viagem ia durar uma semana e eu chorei o tempo inteiro, morta de saudade, como se fosse morrer. Eu tinha 13 anos.



Sei que Charlie é mais frágil, as questões de saúde mental que ele enfrentou ainda são motivo de preocupação pra Nick, ele continua sendo bem novo pra ter certos tipos de entendimento, a exposição na internet e os comentários maldosos dos outros acabam com a alegria e a autoestima de qualquer um, ter uma crise de insegurança não é algo que se possa controlar, mas acho que 2 anos de convivência e total cumplicidade é tempo mais que suficiente pra lidar com algo que já era esperado pra qualquer estudante terminando o ensino médio, no caso a ida pra universidade. Enquanto Nick estava super confiante e bem resolvido com seu namoro e com os estudos, Charlie estava lá, com a cabeça cheia de caraminholas, com medo do namoro não resistir e sofrendo por algo que nem aconteceu.

A sensação que tive no final foi a de ter ouvido uma fanfic bem fraquinha, pois por mais que a autora fale como ninguém sobre os dilemas e as frustrações na adolescência, seus medos e inseguranças e a forma deles lidarem com alguns traumas. A situação aqui só existiu por não ter havido um simples diálogo, principalmente quando os personagens expõe sentimentos e conversam entre si como adultos com bastante frequência. Não faz muito sentido pra mim.

A experiência de acompanhar esse casal fofo por mais um tempinho através de um conto curto é animadora e desperta a curiosidade, e como gostei muito de Heartstopper eu queria saber mais sobre os protagonistas, mas ao final achei que não acrescentou nada de relevante à história original e é tudo muito bobo e desnecessário. Ainda quero acompanhar a série, mas não sei se vou ter a mesma animações para esses extras.