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Na Telinha - Encanto

26 de dezembro de 2021

Título
: Encanto (Encanto)
Elenco: Stephanie Beatriz, John Leguizamo, María Cecilia Botero, Diane Guerrero, Angie Cepeda, Jessica Darrow, Ravi-Cabot Convers
Gênero: Animação/Fantasia/Musical
Ano: 2021
Duração: 1h 43min
Classificação: Livre
Nota★★★★★
Sinopse: Encanto é a nova animação da Disney situada na Colômbia, sobre a extraordinária família Madrigal, que vive escondida em uma região montanhosa isolada, conhecido como Encanto. A magia da região abençoou todos os meninos e meninas membros da família com poderes mágicos, desde superforça até o dom da cura. Mirabel é a única que não tem um dom mágico. Mas, quando descobre que a magia que cerca o Encanto está em perigo, ela decide que pode ser a última esperança de sua família excepcional.

Por volta de 50 anos atrás, o casal Alma e Pedro Madrigal, junto com seus trigêmeos, precisaram abandonar o vilarejo onde viviam devido a alguns ataques que colocavam a vida de todos em risco. Eles precisavam encontrar um lugar seguro pra recomerçar a vida, e várias pessoas os seguiram em busca da mesma coisa. No caminho, numa tentativa de proteger as pessoas dos invasores, Pedro ficou pra trás e acabou sendo morto, e Alma, com seu espírito de proteção materno, viu com os próprios olhos a vela que carregava ganhar poderes mágicos, afastar os inimigos e construir uma enorme proteção em volta do vale para que ela, os filhos e as demais pessoas ficassem seguras. A chama da vela mágica não se apagaria mais, Alma, que mais tarde ficaria conhecida como Abuela, a protegeria assim como protegeria os filhos, e a casa (ou casita) dos Madrigal, que foi construída com o poder mágico da vela, ganhou vida, vai aumentando e se adaptando a cada membro da família que recebe seu poder, e se tornou uma referência na vila que ganhou o nome de Encanto.



Quando os três filhos de Alma se tornaram crianças, eles receberam um dom, e a família Madrigal começou a usar esses poderes pra ajudar os moradores do vilarejo e todos viverem felizes e em harmonia. Julieta tinha o poder de curar as pessoas com a comida que ela preparava com muito amor, Pepa era capaz de controlar o tempo de acordo com suas emoções, e Bruno tinha o dom da visão, ele enxergava o futuro. O tempo passou, Julieta e Pepa se casaram e tiveram filhos, que quando crianças também receberam seus dons. O poder de Bruno não agradava as pessoas pois ninguém queria ouvir sobre as coisas ruins que iriam acontecer, e por medo de suas previsões catastróficas serem prejudiciais, ele acabou desaparecendo da família e ninguém nunca mais ousou falar sobre ele.


Pepa e seu marido Félix tiveram três filhos: Dolores, que consegue ouvir qualquer coisa independente da distância, então sabe tudo da vida de todo mundo; Camilo, que consegue mudar de forma e se transformar em quem quiser; e o pequeno Antonio, que ama animais e está prestes a passar pela cerimônia para receber seu dom.
Julieta e Augustin tiveram três filhas: A encantadora e irresistível Isabela, que além de conjurar flores e as fazer desabrocharem, tem sucesso em tudo que faz; Luisa, que ganhou o dom da superforça e faz todo e qualquer trabalho pesado em casa e na vila; e Mirabel que para a surpresa/desgosto de Abuela, foi a única da família que não foi agraciada com o dom magia.



Como Mirabel, agora com seus quinze anos, não tem poderes, ela não se sente especial seja na família ou na comunidade, principalmente por ser bem desastrada, e passa seus dias tendo que lidar com o que pra ela, e pra Abuela, parece ser um problema. Como ela é adolescente, as coisas tomam uma proporção ainda maiores do que deviam... E partindo dessa premissa, vamos acompanhando toda a animação dos Madrigal nos preparativos da cerimônia de Antonio, até Mirabel começar a ver a casita se enchendo de rachaduras e a vela mágica em perigo, com sua chama brilhante prestes a se apagar. Ao tentar avisar à família, ela é repreendida, mas Mirabel está decidida a ignorar os avisos e descobrir porque viu isso acontecer, e porque os poderes de sua família parecem estar tão fragilizados.



Ambientado na Colômbia, Encanto é realmente um encanto de se ver. É tudo muito colorido e cheio de vida, tudo muito mágico e de encher os olhos. A trilha sonora é bem divertida e acaba servindo pra contar as partes da história que o público precisa saber pra entender alguma particularidade, conexão ou característica dos personagens, mas que não aparece em forma de acontecimento. O único problema é que algumas delas soam um pouco confusas devido a enorme quantidade de informações, e a primeira música que explica a árvore genealógica da família, por exemplo, só ficou clara pra mim quando fui assistir a animação pela segunda vez, depois de já saber quem é quem. Também não teve nenhuma música que entrou na cabeça a ponto de me fazer sair cantando por aí, como foi com Frozen ou Moana. Não que isso seja um problema, mas quando a gente ouve falar em Disney e animações musicais, a gente logo imagina e espera mais um "hit".

Sobre os personagens, eu fico cada vez mais impressionada de ver como a Disney vem se superando em apresentar pessoas reais do tipo "gente como a gente", com dilemas relevantes que causam uma reflexão super importante, independente da idade de quem esteja assistindo. Essa coisa de que numa história é preciso ter um relacionamento amoroso pra se ter um feliz para sempre, ou um vilão caricato pra acabar com os planos dos personagens está ficando cada vez mais deixada de lado, ainda bem.

Através de Mirabel, percebemos como temos o hábito de nos compararmos aos outros em relação a habilidades e propósitos, de como às vezes nos sentirmos inferiores frente a pessoas que tem algum talento ou sucesso, e como demoramos a entender que todos temos nossas qualidades, e elas são tão importantes quanto a de qualquer outro. A busca pela identidade, pelo amor próprio, e pelo sentimento de pertencimento é uma busca de todos que precisam dar valor a quem são, e como são.



Isabela e Luisa são personagens super interessantes e opostas uma da outra. Isabela, a irmã mais velha, representa a delicadeza e graciosidade, inicialmente demonstrando ser aquele arquétipo de clássica princesa Disney com direito a cabelo esvoaçante em câmera lenta e tudo, mas que tem camadas que vão sendo exploradas ao longo da história que mostram que ela está longe de ser assim. Luisa, a irmã do meio, representa a força e a resistência, aquela de quem todos esperam ajuda e socorro por se mostrar alguém inabalável, mas que no fundo se apavora com a ideia de falhar ou de não conseguir ajudar alguém. Independente disso, elas mostram como as mulheres ainda sofrem uma grande pressão na sociedade para corresponderem às expectativas e agradar os outros enquanto, por dentro, se frustram ou vivem infelizes, até enxergarem que não precisam se preocupar com os outros podendo ser livres pra serem quem quiserem ser, além de poderem tomar as próprias decisões.



Não posso deixar de falar sobre as personalidades dos demais membros da família e como eles podem representar qualquer parente nosso (isso se um deles não representa a nós mesmos). Julieta é a mãe preocupada, carinhosa, que quer manter todos felizes e de barriga cheia. Pepa é um tanto dramática, uma hora está feliz, outra hora está full pistola, fica andando pra lá e pra cá totalmente descontrolada e suas emoções vão de 0 a 100 em questão de segundos. Félix é o típico tiozão que só quer saber de diversão, dança e comilança. Dolores é a prima fofoqueira que sabe da vida de todo mundo, e por aí vai...



Abuela Alma também é uma personagem muito importante para o desenvolvimento e desfecho da história, pois ela, como a grande matriarca e base da família, representa a estrutura, estrutura esta que acabou se estendendo à própria casa por causa da magia. Desentendimentos, falta de compreensão, falta de diálogo e qualquer outra situação negativa em família que acabe colocando em risco a integridade dessa estrutura só vai machucar as pessoas e desencadear mais e mais problemas, e tudo começa quando a família rejeita as visões do futuro trágicas de Bruno sem sequer considerar ver o outro lado, como se quisessem varrer os problemas pra debaixo do tapete com a ideia de que se não podem ver é porque não existe, e se não existe, tá tudo bem. Nem se deram ao trabalho de irem procurá-lo quando ele sumiu. Depois vem Mirabel, que por não ter poderes não é a pessoa que esperavam que fosse a ponto dela se sentir culpada e até excluída por isso. Quantas famílias por aí vivem um inferno por falta de comunicação, pelo excesso de controle e zero abertura para tentar resolver as coisas com diálogo? Talvez a gente possa considerar essa questão como o "vilão" da situação toda.



Encanto é sobre isso, é sobre lidar com nossas falhas, pois ninguém é perfeito. É sobre aprender que uma coisa não pode anular a outra e que é preciso equilíbrio. É um espaço familiar, seguro e acolhedor, mas ao mesmo tempo cheio de pressão, intolerância e assuntos mal resolvidos, afinal, não é preciso ter poderes mágicos pra fazer a diferença. Uma boa conversa e atitudes positivas podem ser capazes de reparar as piores rachaduras...

Na Telinha - Raya e o Último Dragão

11 de março de 2021

Título: Raya e o Último Dragão (Raya and the Last Dragon)
Elenco: Kelly Marie Tran, Awkwafina, Gemma Chan, Alan Tudyk, Daniel Dae Kim, Sandra Oh
Gênero: Animação/Fantasia/Aventura/Distopia
Ano: 2021
Duração: 1h 57min
Classificação: Livre
Nota★★★★★
Sinopse: Há muito tempo, no mundo de fantasia de Kumandra, humanos e dragões viviam juntos em harmonia. Mas quando uma força maligna ameaçou a terra, os dragões se sacrificaram para salvar a humanidade. Agora, 500 anos depois, o mesmo mal voltou e cabe a uma guerreira solitária, Raya, rastrear o lendário último dragão para restaurar a terra despedaçada e seu povo dividido. No entanto, ao longo de sua jornada, ela aprenderá que será necessário mais do que um dragão para salvar o mundo – também será necessário confiança e trabalho em equipe.

Kumadra era o verdadeiro paraíso. Há 500 anos a terra era fértil, abundante, e humanos e dragões mágicos coexistiam na mais perfeita harmonia. Os dragões ajudavam os humanos trazendo água, chuva, e paz. Mas um dia a terra foi ameaçada pelos Druun, criaturas sombrias que se multiplicavam como pragas, e não causavam só a destruição, mas consumiam a vida de quem cruzasse seus caminhos, as transformando em pedras.
Os dragões, então, se sacrificaram para salvar a humanidade, e a única coisa que restou após a batalha foi a Jóia do Dragão, artefato mágico criado com o poder dos dragões, e capaz de destruir os monstros. A batalha se tornou uma lenda, e Sisu ficou conhecida como o dragão que derrotou os Druun e salvou Kumandra. Porém, em vez dos humanos darem valor ao sacrifício feito pelos dragões e manterem a paz e a harmonia, eles se tornaram inimigos, se dividiram em tribos, traçaram fronteiras para separar Kumandra em reinos distintos, e passaram a lutar pela posse da Jóia.



Com tantos conflitos, Kumandra deixou de existir como um único reino, e cada sub reino formado desenvolveu suas próprias características que os tornaram únicos: O deserto escaldante de Cauda está cheio de mercenários perigosos; Garra é um mercado sobre as águas habitado por lutadores muito ágeis; Presa é protegida por assassinos e gatos gigantes tão perigosos quanto seus donos; a floresta fria e sombria de Coluna é guardada por temíveis guerreiros; e Coração é o reino da paz, onde há abundância e prosperidade, e é onde a Jóia está escondida.



Agora, Chefe Benja, guardião da Jóia (e também pai de Raya), numa tentativa de unir as tribos e retomar a paz, convoca todos os cinco reinos afim de tentar fazer com que entendam de uma vez por todas que é preciso união e confiança entre os povos para que Kumandra volte a existir, caso contrário, a desconfiança e o ódio só os levarão à ruína, porém nada do que foi planejado correu como deveria, e a história de 500 anos atrás, se repetiu: os Druun ressurgiram causando devastação e transformando todos em pedra.
Seis anos depois, em meio a um cenário árido e distópico, Raya, junto com seu inseparável tatuzinho Tuk Tuk, passou a explorar o que sobrou das terras, enfrentando perigos e procurando nos rios qualquer vestígio de Sisu, numa tentativa secreta de encontrá-la e, com a ajuda dela, trazer todos aqueles que foram petrificados de volta, mas Namaari, sua adversária de Presa, sempre vai estar em seu caminho.



Como de costume, toda animação da Disney se passa em algum lugar fictício com características culturais muito marcantes de lugares reais, e Raya e o Último Dragão não é diferente. Baseado na cultura de países do sudeste asiático, como Tailândia, Malásia, Indonésia, Filipinas, entre outros (obrigada pela cola, Wikipedia), o longa evidencia comidas típicas, fenótipos, vestuário e afins desses países. Os próprios dubladores têm características físicas orientais, tanto por serem asiáticos ou por serem descendentes de um.
A história gira em torno do tema confiança e união entre as pessoas, e o que a falta delas causam na vida. A construção de mundo é incrível e a ideia de reinos distintos lembra muito a sociedade de Zootopia, e é impossível controlar a vontade de saber mais detalhes sobre o modo de vida, como e porquê as pessoas se tornaram tão egoístas, e o que mais fazem além da descrição inicial que os resume.



O cenário e os gráficos em si são um dos mais bonitos já vistos numa animação, desde as texturas dos elementos, a luz do sol que entra por uma fresta, a chuva molhando alguém, a sincronia da fala e o movimento da boca dos personagens e, principalmente, os detalhes que diferenciam cada indivíduo de forma que não pareçam todos iguais, como acontece em outras animações. Mesmo que o mundo esteja desolado, ainda é possível enxergar beleza pois ainda há esperança. Cada ambiente traz uma paleta diferente que combina muito bem com a proposta daquele reino, como por exemplo, a floresta gelada de Coluna que é cinzenta, o deserto de Cauda que é bem alaranjado, e o verde que pode representar uma vida próspera é bem evidente em Coração. O recurso de alternar o estilo gráfico quando alguns detalhes aparecem para explicar melhor a história também é ótimo e super dinâmico.



Os personagens também são ótimos e tem arcos e papeis importantes no desenrolar da trama, mas o maior e mais legal de todos, com um contraste bem evidente, é entre Raya e Sisu. Embora elas queiram a mesma coisa, a forma como encaram a vida e resolvem suas questões é totalmente oposta uma da outra. Raya não confia em ninguém, não consegue mais enxergar o melhor nas pessoas porque ali é cada um por si, ela é amargurada por ter sido traída no passado e acaba usando isso como um tipo de escudo para impedir que os outros tentem se aproximar. Ela já começa se mostrando alguém forte, mesmo que quebrada, sempre fica de cara fechada, é uma guerreira solitária e destemida, sem tempo a perder, e nada nem ninguém vão impedir que ela alcance seu objetivo de salvar o pai. Raya tem um coração enorme, mas as decepções que teve fazem com que ela não demonstre isso. Talvez ela aparente ser um tanto individualista, e até desprovida de qualquer pinguinho de otimismo, mas ela aprendeu a ser assim devido as circunstâncias.



Sisu é oposto, tanto no visual quanto na personalidade. Ela inclusive destoa bastante dos demais personagens, como se não combinasse com o padrão da animação, mas acredito que ela foi criada dessa forma, colorida, iluminada e radiante, justamente pra mostrar a diferença e o abismo que há entre pessimismo e otimismo, amargura e bom humor, raiva e alegria, cautela e vontade de dar uma chance, falta de fé e esperança. Ela quer ajudar a salvar o reino, mas é ingênua demais, sempre tenta enxergar o melhor nas pessoas por mais maldosas que aparentem ser, sempre está bem humorada e brincando mesmo quando não se deve, e quer provar pra Raya que ter confiança nos outros, independente de quem seja, é a melhor maneira de resolver os problemas e salvar o reino dos Druun. Mas, num mundo onde ninguém está disposto a ceder e nem a ouvir o que o outro tem a dizer, quando há lutas intermináveis para se conquistar algo para benefício próprio, e onde a ignorância deixa de ser uma benção para se tornar uma maldição, é difícil lidar... É difícil tomar decisões, e às vezes é preciso apenas seguir ordens, mesmo que no fundo fique claro que o medo de uma suposta retaliação é maior do que fazer a escolha certa. E é aí que entra a rival de Raya: Namaari.



Namaari, apesar de sempre estar no caminho de Raya tentando descobrir seus planos, perseguindo e atrapalhando ao máximo, não é uma vilã propriamente dita, ela só foi levada a acreditar em algo desde a infância em prol de seu povo, e acha que o caminho é sempre obedecer e lutar pelo que quer que seja, logo, embora eu tenha discordado total e ficado com ódio da forma como ela age, é compreensível pois ela tem um motivo que justifica o que ela faz. Inclusive um ponto interessante sobre a inimizade dos reinos vem do fato de que as vezes as pessoas acreditam naquilo que ouvem falar, mas que, claro, não necessariamente correspondem com a realidade...



Assim, Raya em companhia de Tuk Tuk, Sisu, e o grupo que elas formam a medida que avançam na missão, com integrantes de reinos distintos, incluindo uma bebê ninja e golpista com seus macacos delinquentes, um guerreiro que não parece saber lidar com os próprios sentimentos, e um garotinho que teve que aprender a cuidar de si mesmo, além de ajudarem com a carga dramática que vem ao final, vão tentar reparar esse estrago causado pela desunião dos povos, mesmo que Namaari insista em se intrometer, e mostrar que no meio desse caos, alguém precisa ceder e dar o primeiro passo pra mudança começar a acontecer.

Acredito que nessa animação não há um vilão do tipo clássico, que quer destruir o mundo, ou que quer dar um golpe e acabar com os mocinhos em busca de poder, acho que os Druun também não se encaixam como vilões, mas como uma consequência de péssimas decisões. O maior vilão aqui é o egoísmo, é a desunião, é a falta de diálogo, é a incapacidade de se chegar num consenso por só se pensar no individual em vez do coletivo. E cá entre nós, nos dias de hoje, com tanta tragédia acontecendo devido a essa pandemia tenebrosa, com a irresponsabilidade dos governantes que tiram decisões do bueiro, impõe qualquer absurdo e azar o povo, e com tanta gente imprudente a solta que não pensa em nada além do próprio umbigo, o que a gente vê na animação acaba indo mais além da ficção e da fantasia e é impossível não pensar que o fim está mesmo próximo... É literalmente cada um por si, e salve-se quem puder. E, talvez, pelo próprio estilo da animação, que remete a distopia e fim dos tempos, não teve espaço pra personagens sentimentais cantarolando empolgados e felizes e nem algum boy que possa sugerir qualquer interesse romântico, e aposto que mesmo se existisse ninguém estaria interessada, obrigada. 



A Disney, apesar de estar acertando demais, vem caminhando em passos mui lentos quando o assunto é representatividade LGBTQ+, e ainda acho que vai demorar um bom tempo até que os personagens realmente demonstrem explicitamente algum relacionamento, mas, não nego que a quebra total de estereótipos daquela típica princesa ingênua e indefesa (e sonsa), que espera pelo príncipe encantado, já é um grande avanço, e isso nos permite supor que Raya e Namaari possuem algo a mais que vai além da rivalidade, da luta pela sobrevivência e da busca pelos seus ideais. A química ali é inegável. Elas estão a anos luz de serem donzelas indefesas, elas metem a porrada mesmo, sem dó nem piedade, pisam duro, as lutas são brutais, beirando a letalidade, e, mesmo sabendo que a Disney jamais iria enfiar uma cena bizarra e sanguinolenta numa animação, as brigas de espadas causam uma apreensão danada, dando a impressão que a qualquer momento as tripas de alguém vão escorrer ou uma cabeça vai sair voando por aí.



O final é previsível, não vou negar, mas o rumo que a história toma até o desfecho é incrível, emocionante, cheia de significados, digna de reflexões. Chorei litros no final, chorei mesmo. É o tipo de desenho que eu posso ver e rever milhões de vezes sem cansar (igual Mulan XD).
Dito isso, só posso afirmar que, depois de Mulan, Raya se tornou a minha segunda princesa da Disney favorita, e depois dessa aventura cheia de ação e magia, acho difícil aparecer alguma outra que a desbanque. Quero todos os pops na minha mesa já.

Com estreia simultânea, Raya e o Último Dragão pode ser assistido nos cinemas (mas cuidado com a pandemia, gente!) ou no conforto de casa pela Disney+ pela incalculável bagatela de R$69,90 além da assinatura mensal do app de streaming. A partir de 23 de abril a animação entrará no catálogo e poderá ser assistida sem cobrança adicional.

Na Telinha - Aggretsuko (3ª temporada)

9 de novembro de 2020

Título: Aggretsuko (アグレッシブ烈子)
Temporada: 3 | Episódios: 10
Distribuidora: Netflix/Sanrio
Elenco: Kaolip e Rarecho (death metal voice), Sohta Arai, Rina Inoue, Shingo Kato, Maki Tsuruta, Komegumi Koiwasaki, Yuki Takahashi, Chiharu Sasa
Gênero: Anime/Drama/Comédia
Ano: 2020
Duração: 15min
Classificação: +12
Nota:★★★★★
Sinopse: Retsuko vive momentos difíceis no mundo corporativista, tendo uma pitada de humor e muita música death metal. A mistura do anime animou o público e o transformou em um dos mais populares da plataforma de streaming.

Depois de um longo ano esperando, até que enfim a Netflix liberou a terceira - e tão esperada - temporada de Aggretsuko, e já começo falando que, mais uma vez, a temporada superou minhas expectativas, e só me resta torcer para que em breve haja uma bendita confirmação de que irão produzir a quarta. Pelo amor de Deus, Netflix, nunca te pedi nada.

Pra quem ainda não conhece, Retsuko é uma pandinha vermelha de vinte e poucos anos, escorpiana, que trabalha como contadora numa grande empresa. Ela libera todo o seu estresse e fúria de ter que lidar com as frustrações e desgostos do trabalho cantando o mais escandaloso death metal num karaokê após o expediente.



Dessa vez, Retsuko já começa a temporada viciada num game virtual que proporciona o romance dos sonhos. O que ela demora a entender é que o jogo estava consumindo e prejudicando sua vida. Ela não estava mais dormindo, seu rendimento no trabalho estava abaixo de zero, e a coitada começou a gastar todo o seu dinheiro pra ter "vantagens" no namoro com alguém que não existe a ponto dela ir praticamente a falência, a viver de biscoito com água. Sem coragem de contar pros outros sobre a furada financeira que se meteu para pedir socorro, ela não sabe o que fazer para conseguir mais dinheiro pra pagar as próprias contas e nem enxerga nenhuma solução, até ela causar um pequeno acidente batendo o carro alugado que dirigia no carro do Sr. Hyodo, um leopardo (?) bastante rígido e misterioso que vai querer que Retsuko pague pelo conserto com um dinheiro que ela não tem. E é justamente por não ter esse dinheiro que ela começa a trabalhar - sem receber - como contadora para o Sr. Hyodo, que é empresário do OTMGirls, um grupo de idols em ascensão.



E partindo dessa premissa e mudando um pouco os ares típicos das temporadas anteriores, a 3º temporada vai se desenvolvendo trabalhando as questões e os dilemas pessoais de Retsuko, que, deixando um pouco a sua vida no escritório de lado, foca nesse "bico" no mundo das subcelebridades que estão buscando reconhecimento e sucesso. E como sua válvula de escape é praticar o bom e velho death metal no karaokê, talvez esse dom da pandinha vermelha venha a ser bastante útil para os negócios do Sr. Hyodo. O que Retsuko não esperava era que talvez a habilidade que ela fazia questão de manter em segredo, seja aquilo que a faça se encontrar e se sentir aceita, por mais diferente que seja, logo ela passa a ter mais controle sobre as coisas que ela quer e passa a se impor. Tem coisa mais libertadora do que soltar um grande e sonoro NÃO em vez de fazer o que os outros querem contra a nossa vontade, só pra agradar?



Os demais personagens mais relevantes e próximos a Retsuko também são mais bem trabalhados nessa temporada. Seus arcos acabam estando diretamente ligados a ela e coincidem com alguma escolha que ela faz. Gori, umas das melhores amigas de Retsuko, investiu num aplicativo para casamentos e Retsuko poderia ser uma ótima cobaia para testá-lo. Haida teve muito mais espaço nessa temporada. Ele continua apaixonado por Retsuko, mas a aproximação dele com Inui, uma colega de trabalho em comum, faz com que ele fique dividido e passe a fazer questionamentos sobre seus sentimentos. Vale a pena continuar esperando ou investindo em alguém que só o vê como amigo?



Talvez pegando o gancho da popularidade do k-pop, essa temporada adentra nos assuntos que remetem a esse mundo, mostrando como esses idols lidam com fãs, com stalkers, com as críticas e com a própria vida financeira que começa a alavancar de repente. E enquanto uns são mais pé no chão, tentando ir com calma, outros querem entrar de cabeça e seja o que Deus quiser. Logo, mostra um pouco dessa geração atual, e unido isso aos outros personagens e ao tema ligado aos fatos da vida adulta da série, é impossível não ter um personagem com alguma característica que faz com que alguém se identifique.

Na Telinha - Little Fires Everywhere (1ª temporada)

8 de julho de 2020

Título: Pequenos Incêndios por Toda Parte (Little Fires Everywhere)
Temporada: 1 | Episódios: 8
Elenco: Reese Witherspoon, Kerry Washington, Joshua Jackson, Lexi Underwood, Megan Stott, Jade Pettyjohn, Jordan Elsass, Gavin Lewis, Rosemarie DeWitt
Gênero: Drama
Ano: 2020
Duração: 60min
Classificação: +16
Nota:★★★★★
Sinopse: Um encontro entre duas famílias completamente diferentes vai afetar a vida de todos. A dona de casa perfeita Elena Richardson (Reese Witherspoon) aluga a casa de hóspedes à Mia Warren (Kerry Washington), uma artista solteira e enigmática que se muda para Shaker Heights com sua filha adolescente. Em pouco tempo, as duas se tornam mais do que meras inquilinas: todos os quatro filhos da família Richardson se encantam com as novas moradoras de Shaker. Porém, Mia carrega um passado misterioso e um desprezo pelo status quo que ameaça desestruturar uma comunidade tão cuidadosamente ordenada.

Little Fires Everywhere é uma minissérie americana, baseada no romance homônimo e best-seller de Celeste Ng. No Brasil, o livro foi lançado pela Editora Intrínseca. A série foi lançada pela plataforma gringa de streaming Hulu (a mesma que distribuiu a série The Handmaid's Tale) e agora foi disponibilizada com exclusividade pra gente pela Amazon Prime Video. A trama se passa nos anos 90 e mostra como a vida, aparentemente perfeita, da família de Elena Richardson é afetada pela chegada da artista Mia Warren e sua filha Pearl, ambas negras, na cidadezinha bucólica de Shaker Heights, Ohio, cujos princípios utópicos de conservadorismo, harmonia e ordem estão prestes a ser abalados.


Enquando Elena mantém as aparências de família perfeita e bem estruturada com seu marido advogado e seus quatro filhos adolescentes, Mia não tem raízes, não faz questão de cultivar amizades e perdeu as contas de quantas vezes se mudou, já que mantém um estilo de vida itinerante.
Mia se torna inquilina dos Richardson e tudo começa quando Pearl faz amizade com os filhos de Elena e fica maravilhada com a mansão que eles moram e com o estilo de vida que levam, afinal, ela nunca teve uma casa confortável ou um quarto pra chamar de seu. Logo ela se sente acolhida em meio aquela família que a trata tão bem. Em contrapartida, a filha caçula de Elena, Izzy, é a ovelha negra da família, não se encaixa, não aceita as imposições da mãe que exige que a menina seja alguém que ela não é, e acaba encontrando refúgio em Mia, pois é a única que realmente parece enxergá-la e compreendê-la.


E a partir daí, começa uma "guerra invisível" entre mães que só querem o melhor para seus filhos, mas que parecem não saber lidar muito bem com o que eles realmente querem. A trama ainda encaixa questões judiciais envolvendo Bebe Chow, uma personagem chinesa que sofre por ter abandonado a filha num momento de desespero, e que envolve Mia, Elena e sua melhor amiga, Linda, de forma direta ao caso, fazendo com que o drama sobre os privilégios das classes sociais mais altas, e as injustiças sofridas pelas mais baixas, se intensifique ainda mais.


Com tantas discussões acerca de questões raciais, que são tão relevantes para a sociedade, Little Fires Everywhere parece ter vindo a tempo e a hora para ajudar a conscientizar as pessoas sobre uma pontinha do que é o racismo velado e os privilégios dos brancos, assim como abordar questões sexistas, problemas familiares, as enormes dificuldades que envolvem a maternidade, e as consequências de se manter tantos segredos e viver de aparências, e a série faz isso muito bem.

Chega a ser desconfortável para o expectador acompanhar Elena e Mia se desconstruindo a medida que os problemas vão aparecendo e várias descobertas vão sendo feitas. Elena é uma jornalista que trabalha meio período e leva a vida da forma mais metódica que se possa imaginar. Ela faz listas de afazeres, impõe aos filhos o que devem vestir e como devem se comportar, e até tem os dias certos da semana para ter relações com seu marido (?), e ai de quem sair da linha. Nada pode sair fora do planejado pra essa mulher.
Mia é o oposto. Ela consegue ver a vida de uma forma diferente, consegue enxergar a essência das pessoas mesmo que as evite e as trate com secura, mas sabe que por ser negra, ela e a filha enfrentarão coisas que estão fora da realidade de quem é branco, mesmo que elas pareçam ter sido aceitas na comunidade. Assim, o relacionamento conturbado e incômodo das protagonistas e de seus filhos, começa a revelar um outro lado de Elena e como ela vai, aos poucos, perdendo a compostura, e como os segredos de Mia, que ela fez questão de esconder durante tantos anos, começam a vir à tona a ponto da vida de todos virar de cabeça pra baixo.


A temporada tem apenas 8 episódios, mas consegue se desenvolver bem e mostrar os pontos mais importantes sobre o passado das protagonistas através de flashbacks que se passam nos anos 70 e 80 que explicam muito sobre suas escolhas de vida e o que influenciou em suas trajetórias até o momento presente.
As pessoas são imperfeitas e tentam fazer as escolhas que elas julgam serem as mais corretas pra suas vidas com base no que aprenderam ou no que experimentaram, mas isso não significa que é a melhor escolha ou que qualquer coisa vai levá-las a redenção ou coisa do tipo. O final da temporada deixa algumas questões em aberto, e a curiosidade pra saber o que vai acontecer com os personagens fica no ar, mas conclui de uma forma bem trágica que, felizmente ou não, mostra que existe o reconhecimento de que as coisas nem sempre estão sob nosso controle ou como gostaríamos que fosse. Little Fires Everywhere é desconfortável e inquietante em alguns momentos, mas não nego que prende a atenção, surpreende com as atuações, dá vários tapas na cara com diálogos inteligentes e situações absurdas, e mesmo que cause algumas frustrações e revoltas com alguns acontecimentos, é mais do que recomendada.

Na Telinha - 365 Dni

11 de junho de 2020

Título: 365 Dias (365 Dni)
Elenco: Anna-Maria Sieklucka, Michele Morroner, Bronislaw Wroclawski
Ano: 2020
Duração: 1h 54min
Classificação: +18
Nota:★☆☆☆☆
Sinopse: Em 365 dias, Laura é uma diretora de vendas que tem sua vida virada do avesso com a chegada de Massimo, membro da família da máfia siciliana. Entretanto, numa viagem à Sicília, Massimo a sequestra lhe dando 365 dias para se apaixonar por ele.

Baseado no romance erótico da autora polonesa Blanka Lipińskae, o filme é uma produção (também polonesa) e adaptação que vai contar a história de Laura Biel, uma diretora de vendas, bonita e independente, e o que acontece com sua vida quando ela é sequestrada pelo chefe da máfia siciliana, o típico italiano sedutor, lindo, gostoso e tatuado, Massimo Torricelli. Juro que eu nunca tinha ouvido falar desse filme e muito menos do livro, e fui assistir por acaso quando começou o bafafá, e o desgosto tomou conta de mim.


Apesar de ser autêntica e bem sucedida na vida profissional, Laura é bem infeliz na vida pessoal devido a indiferença com que seu namorado a trata, e, mesmo sendo bonita, gostosa e fogosa, se sente jogada pra escanteio quando tem tanto amor e fuego pra dar, enquanto o mocorongo do boy lixo não está disposto e nem um pouco interessado em retribuir. Em seu aniversário de 29 anos, Laura vai passar as férias na Sicília com esse namorado horroroso e brocha e sua melhor amiga, confidente e inseparável, até que ela é sequestrada por Massimo e levada para a mansão dele, onde é obrigada a permanecer por 365 dias com propósito de se apaixonar por ele. Caso isso não aconteça nesse prazo, o que ele alega ser impossível porque ele confia no próprio "taco", ele a deixará ir embora. O motivo? Há cinco anos ele teve uma visão com o rosto de Laura, ficou maravilhado com toda aquela beleza, se apaixonou perdidamente, e desde então, ficou obcecado e passou a vida procurando ela pelo mundo, ao mesmo tempo que lidava com as questões criminosas depois que "herdou" o cargo de chefe da máfia com a fatídica morte do pai (gente¹?)


Laura, então, não tem escolha pois não pode fugir, não tem a quem pedir ajuda, está longe da família, e aceita seu destino entrando num tipo de jogo de sedução e provocações, se fazendo de difícil com suas caras e bocas, às vezes se faz de doida dando alguns ataques nada a ver, gastando a bufunfa do homem endinheirado com roupas chiques que marcam seu corpitcho esbelto, despertando atenção de outros homens tão odiosos quanto, e causando ciúmes em Massimo de propósito. Até ela, obviamente, ceder aos abusos disfarçados de "boa pegada" e às manipulações psicológicas disfarçadas de "encantos" de Massimo, afinal, Laura andava muito frustrada sexualmente já que não ganhava a atenção do namorado e estava muito infeliz, coitada, e agora achou um homão dos sonhos pervertidos que a trate como uma rainha. Isso deveria servir como desculpa pra alguém engolir essa situação, pelo amor de Deus? Não tem nada que justifique ou faça sentido nessa história, nem mesmo o fato de ela exigir seu notebook e seu celular enquanto está lá confinada quando não usa (nem pra ligar pra polícia e pedir socorro), e por ter algum problema cardíaco que, teoricamente, a deixa fragilizada mas isso não acrescenta em nada na história, a não ser fazer com que o maníaco se preocupe e queira "cuidar" dela melhor, até ser um detalhe inútil e completamente esquecido (gente²?).


Enfim... Odeio fazer comparações, mas diante de tanto absurdo e falta de originalidade, é impossível não comparar 365 Dni com Cinquenta Tons de Cinza. Tem sexo em lugares aleatórios; tem luxo, poder, riqueza e esbanjo de dinheiro como forma de agrado; tem a mocinha relutante e deslumbrada com o "macho alfa" e dominador que a coloca num pedestal; tem gente julgando o relacionamento dos dois por conta das diferenças; tem baile de máscaras; tem ameaças vindas da ex namorada louca; e tem tentativas de pequenas cenas de humor que não tem nem um pouco de graça. Talvez a diferença é que 365 Dni realmente entregou as cenas hots que as pessoas queriam ter visto em 50 Tons, e não viram. Enquanto Mr. Grey de Cinquenta Tons faz uma proposta mediante contrato, o que sugere que a Anastacia teve uma escolha, Massimo, como o verdadeiro criminoso que é, dopa e sequestra Laura, e a obriga a estar ali a sua disposição para que passe a gostar dele a força, enquanto ele, obcecado, finge que precisa da permissão dela pro que quer que seja, mas sempre está ali feito um predador, ofegante, alisando cada milímetro do corpo dela, vigiando, provocando, pegando a coitada pelo pescoço a cada desaforo, e andando pra lá e pra cá ora sem camisa mostrando o peitoral peludo, ora pelado mostrando a bunda e o pinto.


Por mais bonitos e sexys que os protagonistas aparentem ser, as atuações são horríveis, eles são super afetados e não param de fazer caras e bocas, poses coreografadas e irreais, sustentam olhares intensos e sedutores como se tivessem olhando direto pro próprio sol o tempo todo e sem o menor motivo, e têm diálogos tão terríveis quanto aquela peruca loira e imóvel de Laura, que só conseguiram me deixar com vergonha alheia e em estado de choque. Não nego que, apesar do absurdo mais doentio que já vi na vida, existe tensão sexual e química entre os dois e as cenas de sexo quase explícitas que só aparecem mesmo depois de mais de uma hora de filme, são ousadas e bem feitas até certo ponto, mas se a ideia era só mostrar o sexo desvairado e selvagem que deixa qualquer um assado e esfolado em carne viva, a história em si não era necessária e qualquer outra fantasia delirante podia ser usada para que os meios pudessem justificar os finalmentes.

No final das contas, além da lendária revirada de olhos naquele looping infinito, a impressão que tive é que a Netflix, que se diz tão descolada e apoiadora de tantas causas relevantes nessa sociedade podre, parece ter perdido o juízo ao enfiar esse troço no catálogo em busca não só de dinheiro, mas da audiência pela bendita polêmica e, principalmente, pela curiosidade do povo fogoso que não pode ouvir falar em filmes baseados em livros eróticos que já saem correndo pra assistir (vide cinquenta tons de cinza) e comentar.


Odioso, vergonhoso, triste... Se a ideia era causar alvoroço romantizando a Síndrome de Estocolmo e fazendo de Laura e Massimo o casal do momento, conseguiram, pena que de uma forma tão tosca e negativa. E pra quem pensa que aquele final ridículo e que sugere uma tragédia pôs fim nessa história, não se enganem. Pelo que parece a trilogia inteira vai ser adaptada para as telinhas, logo, esse martírio vai ter continuação. Pena que até onde soube, já que parece impossível a gente não se esbarrar em comentários envolvendo esse filme pela internet afora, a história continua desandando e só vai ladeira abaixo, porque a romantização de absurdos ainda piores segue firme e forte.

É ficção? Sim. Pode ser uma fantasia sexual maluca? Também. Assisti e depois senti que perdi 2 horas da minha vida que nunca mais vão poder ser recuperadas? Com certeza. Mas deixou o alerta. É complicado quando as mulheres, enfim, começaram a ter coragem e passaram a exigir seus direitos, principalmente sobre o próprio corpo, e a lutar contra o machismo, denunciando violências e abusos sofridos nas mãos de caras escrotos, mas um conteúdo tão errado desse tipo conquista fãs. Às vezes não sei nem o que pensar, principalmente porque o dinheiro acaba falando mais alto, e não vai demorar para que alguma editora pegue carona nessa onda pra adquirir os direitos de publicação dos livros no Brasil, já que ainda não foram lançados por aqui...

Na Telinha - Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica

18 de abril de 2020

Título: Dois Irmãos - Uma Jornada Fantástica (Onward)
Elenco: Tom Holland, Chris Pratt, Julia Louis-Dreyfus, Cctavia Spencer
Gênero: Fantasia/Animação
Ano: 2020
Duração: 1h 42min
Classificação: Livre
Nota:★★★★☆
Sinopse: No enredo de Dois Irmãos - Uma Jornada Fantástica, em um local onde as coisas fantásticas parecem ficar cada vez mais distantes de tudo, dois irmãos elfos adolescentes embarcam em uma extraordinária jornada para tentar redescobrir a magia do mundo ao seu redor.

No passado, a magia fazia parte da vida de seres fantásticos como elfos, unicórnios, magos, sátiros, centauros, fadas, ciclopes, sereias e afins, que coexistiam em plena harmonia. Quem tinha o dom, usava a magia para ajudar o próximo e resolver vários problemas, porém, pelo esforço que era exigido e por ser um dom para poucos, algumas criaturas não conseguiam fazer os feitiços direito e passaram a buscar alternativas para facilitar o cotidiano. A eletricidade, então, foi descoberta, e, a partir dela, as novas tecnologias também. Pra que se esforçar com a magia para criar fogo, se uma lâmpada ilumina um ambiente? Pra que fazer uma fogueira pra cozinhar, se é possível usar um fogão? Pra que uma espécie vai se cansar usando as próprias asas pra voar, se existe o avião? E a partir daí, com o passar dos anos, a sociedade evoluiu, e a magia ficou esquecida no passado.



Conhecemos, então, Barley e Ian Lightfoot, dois irmãos adolescentes que moram com a mãe em New Mushroomton, e são bem diferentes entre si. Enquanto Barley, o mais velho, é mais descolado e interessado em saber tudo sobre a magia do passado, Ian é tímido e reservado, e cresceu bastante sentido pela ausência do pai que ele nunca conheceu, já que ele morreu pouco antes dele nascer. Agora, em seu aniversário de dezesseis anos, Ian recebe um cajado misterioso deixado pelo pai para que só fosse entregue a ele e ao irmão nessa data, com instruções sobre um feitiço poderoso que o traria de volta por um dia inteiro, por uma única vez. Quando Ian tenta conjurar o feitiço, as coisas não saem conforme planejado, e só a metade do pai é trazida de volta. Agora, Ian e Barley partem numa aventura, em companhia das pernas do pai e de Guinevere, (nome da van temperamental de Barley) em busca de uma outra joia mágica para refazerem o feitiço e trazer o resto do corpo de volta. Mas o tempo está passando, e as chances deles verem o pai pela última vez está chegando ao fim...



A Disney/Pixar sempre acerta nos temas escolhidos para as suas animações, assim como a ambientação das mesmas, e com Dois Irmãos, apesar do impacto não ser do tipo inesquecível como alguns longas que o antecederam, não é diferente. O visual da animação, como sempre, é de encher os olhos, e se repararmos bem, até as características físicas dos personagens lembram bem seus dubladores originais (Tom Holland e Chris Pratt), que fizeram um trabalho de voz incrível. Tudo é muito colorido e iluminado, reforçando ainda mais o conceito de fantasia. A forma de conjurar os feitiços lembra um tanto o universo de Harry Potter, e talvez esse ponto poderia ser um tantinho diferente pra não deixar aquela impressão de que já vimos algo parecido em outro lugar...

Ian é um garoto bem recluso que tem dificuldade em se socializar com os outros, logo ele não é nada popular entre os estudantes da escola onde estuda e é como se nem existisse direito. Ele sempre faz listas de pequenas coisas que ele quer fazer, incluindo ser igual ao pai que ele nunca teve oportunidade de conviver, mas acaba desistindo de tudo por se embaraçar em alguma situação, por vergonha, por medo de se arriscar, por não conseguir se impor, ou por se sentir incapaz, e a jornada com seu irmão acaba sendo um grande impulso para que ele consiga enxergar que ele precisava se libertar do que andava o "prendendo" nessa condição.



Barley já é o oposto. Ele é sempre muito otimista e faz o tipo engraçadão por seus exageros, dirigindo feito um maníaco chamando atenção pra si como se não tivesse muita noção das coisas e tudo mais, o que deixa Ian morto de vergonha, mas no fundo Barley tem sentimentos intensos e é bem mais inteligente e maduro do que aparenta. Assim, o alívio cômico acaba recaindo sobre as pernas ambulantes do pai, que, ao usar um complemento com roupas, acessórios e enchimentos para simular um corpo, acaba criando confusões hilárias e que realmente arranca algumas gargalhadas na gente, além de indiretamente, ser o motivo para que os filhos, juntos, se conheçam melhor e fortaleçam esse relacionamento cheio de desentendimentos, mas acima de tudo, fraternal.



Dessa forma, a animação não aborda somente a aventura vivida pelos personagens que estão em busca de alguma coisa grandiosa e importante. É na jornada que suas emoções, crenças, o resgate pela magia antiga, o amadurecimento e a autodescoberta sobre quem são e o quê, de fato, devem valorizar na vida, começam a ser exploradas mostrando que o relacionamento e a ligação entre os dois irmãos vão muito além do que eles imaginavam, e o desfecho acaba sendo muito bonito e carregado de emoção.

Onward, o título original em inglês, quer dizer "adiante", e a jornada de Ian e Barley, em meio a esse universo cheio de referências incríveis de RPG, deixa bem evidente que, apesar da falta que o pai faz e o que a ausência dele representa, é preciso seguir em frente e dar valor a quem sempre esteve e sempre estará ao seu lado, em vez de se prender ao passado.

Na Telinha - Anne with an "E" (3ª Temporada)

3 de abril de 2020

Título: Anne with an "E"
Temporada: 3 | Episódios: 10
Elenco: Amybeth McNulty, R.H. Thomson, Geraldine James, Dalila Bela, Lucas Jade Zumann, Aymeric Jett Montaz
Gênero: Drama/Romance
Ano: 2019
Duração: 50min
Classificação: +12
Nota:★★★★☆
Sinopse: Ao completar dezesseis anos de idade, Anne (Amybeth McNulty) decide buscar a verdade sobre sua família biológica, para o desespero de Marilla (Geraldine James). Enquanto isso, o relacionamento da menina com Gilbert (Lucas Jade Zumann) sofre uma evolução.

Agora que tem dezesseis anos, Anne já está numa fase da adolescência onde ela tem muito mais consciência dos seus sentimentos, do poder da sua voz e dos seus objetivos para o futuro, e se sente preparada e madura o bastante pra buscar a verdade sobre suas origens e sobre sua família biológica, na intenção de preencher o vazio sobre saber se já havia sido amada e como foi parar num orfanato, o que, de início, não agrada Marilla, que tem medo de "perder" a garota de alguma forma, dependendo do que ela descobrisse. Além de escrever para o jornal da escola e ainda conseguir causar algumas confusões com as verdades duras que a sociedade ainda não está preparada para ouvir, ela, enfim, assume seus sentimentos por Gilbert, mas ao que tudo indica, uma mocinha inesperada aparece para despertar a atenção do rapaz e deixar o coração de Anne apertado por causa de tantos desencontros.


Em paralelo a isso, Ka’kwet, uma garota que vive numa tribo indígena e bastante pacífica, se torna amiga de Anne quando a protagonista quer escrever um artigo sobre seus costumes, mas, além das pessoas não entenderem bem o ponto de vista de Anne, Ka'kwet acaba decidindo ir estudar numa escola católica depois de ter sido levada a acreditar que isso seria melhor para seu futuro, mas sabendo que a série também trata de temas delicados como a intolerância e o preconceito, já sabemos que a garota, que é índia, teria um destino um tanto incerto e até preocupante. Se já tratavam os negros como seres inferiores e desprezíveis, quem dirá os índios que mal eram considerados pessoas...


Nesse cenário de mudanças de ares e propósitos, a série acaba proporcionando a ideia não só de despedidas, mas do grande senso de justiça que Anne sempre teve, mas que agora é crescida o bastante pra não passar despercebida como uma criancinha sonhadora frente aos adultos, e que se para a sociedade ela é um "incômodo", fica bem evidente que foi por causa de "incômodos" como ela é que ideias retrógradas começaram a evoluir, ou pelo menos um pouco.

Anne continua sendo bastante carismática, sendo sensível ao lidar com questões mais difíceis, mas também mantendo a personalidade forte para conseguir seguir adiante. Claro que ela tem apoio dos Cuthbert's e das suas amigas que já aceitam ele como uma igual, principalmente de Diana e Cole, e isso também colabora para impulsionar a história e mostrar que qualquer um precisa de um ombro amigo nos momentos mais difíceis da vida.


Diana também ganha um pouco mais de espaço quando a série sugere um complicado relacionamento entre ela e um jovenzinho já conhecido que jamais seria aceito por sua família, e que por isso acaba sendo mantido em segredo causando algumas situações complicadas que afetam a amizade dela com Anne, e isso também levanta outras questões que envolvem o amor verdadeiro e os casamentos arranjados pelas famílias.
A ideia de mostrar de uma forma bem lúdica como as mulheres eram criadas para obedecer os homens é bastante interessante, principalmente pela desconstrução desses estereótipos. Por ter nascido mulher, ninguém é obrigada a viver exclusivamente pra marido e filhos como se essa fosse sua única função no mundo, e esquecer de si própria e dos seus sonhos e objetivos, e quando as mulheres começam a confrontar esse tipo de coisa, ao mesmo tempo que ficamos indignados de ver como tudo isso era absurdo, também ficamos orgulhosos de saber que existiram mulheres que enfrentavam esse "sistema", que corriam atrás de seus sonhos e objetivos, e não se deixavam calar por causa de um embuste qualquer.


Porém, essa terceira e última temporada deixou um pouco a desejar devido à algumas situações vivenciadas por personagens secundários, mas que acrescentavam relevância á trama, que ficaram sem desfecho, ou personagens completamente diabólicos não tiveram um castigo a altura por seus atos horrendos, deixando a gente com a cara na poeira, sem explicações. Não posso me basear nos livros pra fazer a crítica por ainda não ter lido, mas, pelo que pesquisei e conversei com quem leu, muita coisa fugiu bastante da história original, o que leva qualquer fã a pensar que material de sobra pra dar continuidade e um final digno a tudo aquilo, não era o problema. Assim, por mais que Anne with an "E" tenha se tornado uma série que gostei muitíssimo de acompanhar, seja pelo envolvimento que tive ou pelas questões tão importantes que ela levanta sob uma perspectiva super atual, no final, fiquei com aquele gostinho amargo de que faltou algo mais. Mas, como a esperança é a última que morre, não custa sonhar que algum estúdio ainda acredite no potencial que ela tem, e dê sequência ao que não acabou.

Na Telinha - Bojack Horseman (4ª Temporada)

10 de março de 2020

Título: Bojack Horseman
Temporada: 4 | Episódios: 12
Elenco: Will Arnett, Alison Brie, Amy Sedaris, Paul F. Tompkins, Aaron Paul
Gênero: Animação/Comédia/Drama/Fantasia
Ano: 2017
Duração: 25min
Classificação: +16
Nota★★★★☆
Sinopse: Enquanto BoJack enfrenta a auto-sabotagem e aversão de sempre, além do sentimento de perda, Mr. Peanutbutter recebe a ajuda de Todd para concorrer ao cargo de governador da Califórnia, e Diane consegue um novo emprego.


Mantendo o tom ácido e carregada de humor negro, a quarta temporada de BoJack Horseman arriscou - e acertou em cheio, mesmo não sendo algo totalmente novo - ao abordar não só os dilemas, a autossabotagem e as crises do protagonista, que está desaparecido após os acontecimentos da temporada anterior, mas também ao tratar a política e o quanto o sistema é falido em todos os aspectos, tratando de temas relevantes da forma mais cômica e absurda possível.


Como sempre, o roteiro foge da zona de conforto quando trata do comportamento e da personalidade de BoJack. Ele é um retrato bastante fiel de como alguém inconsequente pode lidar com os próprios defeitos, seu pessimismo, com a culpa e com a ansiedade, tentando fazer com que a responsabilidade recaia sobre os outros ao invés de assumir que o problema é com ele mesmo.
Ao iniciar a temporada com BoJack afastado, há espaço para aprofundar os personagens secundários, e com exceção de Todd, que está pra lá de perdido nesse contexto, o resultado é ótimo. Mr. Peanutbutter está concorrendo ao governo da Califórnia e com isso podemos esperar tudo; Diane mostra como é difícil ser mulher nessa sociedade tóxica; e Princess Carolyn vê a vida desmoronar diante de seus olhos, mesmo após tanto esforço, e é impossível não sentir empatia e se compadecer pela coitada.


Nessa temporada a mãe de BoJack, Beatrice, dá as caras, e percebemos o quanto o retorno dessa mãe narcisista que trabalha as suas origens é algo que afeta o protagonista. Se antes ela pôde ser vista como alguém que parecia existir só pra menosprezar o filho, agora vemos que ela possui várias camadas e que é bastante vulnerável devido aos seus problemas psicológicos e seu passado difícil que não eram do conhecimento de BoJack, o que fazia com que julgar a mãe pelas suas atitudes com ele (que não digo serem as melhores) fossem mais conveniente.


Essa temporada, embora tenha o típico humor ácido e as referências ao mundo das celebridades, traz algumas piadinhas e trocadilhos sobre assuntos da atualidade que não acrescentam muita coisa e nem arrancam risadas, e parece um tanto forçado dando impressão de que estão tentando pegar carona no que está na moda, fazendo com que o drama particular de cada personagem, e a forma como é abordado, ganhe uma importância maior e supere quaisquer questões políticas.

No que remete a política, chega a ser cômico, pra não dizer que é trágico, como a série mostra que candidatos ou pessoas que já estão inseridos nesse meio fazem qualquer coisa para conquistarem eleitores e garantirem a vitória, optando por usar frases de efeito ou mantendo determinado posicionamento sem que haja a menor preocupação em mostrar a verdade ou um histórico dos seus feitos, afinal, manter as aparências ou criar um ilusão qualquer para agradar o público é muito mais válido e vantajoso. Fica bem evidente que a série faz várias referências às eleições americanas quando o atual - e laranjado - presidente dos EUA concorria à presidência.


Em suma, não digo que essa foi a melhor temporada até agora, mas ela é importante pra mostrar como muitas vezes as coisas boas ou ruins da vida acontecem sem que necessariamente os envolvidos tenham alguma culpa, mas é sempre possível tirar algo de positivo de qualquer experiência.