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Na Telinha - Little Fires Everywhere (1ª temporada)

8 de julho de 2020

Título: Pequenos Incêndios por Toda Parte (Little Fires Everywhere)
Temporada: 1 | Episódios: 8
Elenco: Reese Witherspoon, Kerry Washington, Joshua Jackson, Lexi Underwood, Megan Stott, Jade Pettyjohn, Jordan Elsass, Gavin Lewis, Rosemarie DeWitt
Gênero: Drama
Ano: 2020
Duração: 60min
Classificação: +16
Nota:★★★★★
Sinopse: Um encontro entre duas famílias completamente diferentes vai afetar a vida de todos. A dona de casa perfeita Elena Richardson (Reese Witherspoon) aluga a casa de hóspedes à Mia Warren (Kerry Washington), uma artista solteira e enigmática que se muda para Shaker Heights com sua filha adolescente. Em pouco tempo, as duas se tornam mais do que meras inquilinas: todos os quatro filhos da família Richardson se encantam com as novas moradoras de Shaker. Porém, Mia carrega um passado misterioso e um desprezo pelo status quo que ameaça desestruturar uma comunidade tão cuidadosamente ordenada.

Little Fires Everywhere é uma minissérie americana, baseada no romance homônimo e best-seller de Celeste Ng. No Brasil, o livro foi lançado pela Editora Intrínseca. A série foi lançada pela plataforma gringa de streaming Hulu (a mesma que distribuiu a série The Handmaid's Tale) e agora foi disponibilizada com exclusividade pra gente pela Amazon Prime Video. A trama se passa nos anos 90 e mostra como a vida, aparentemente perfeita, da família de Elena Richardson é afetada pela chegada da artista Mia Warren e sua filha Pearl, ambas negras, na cidadezinha bucólica de Shaker Heights, Ohio, cujos princípios utópicos de conservadorismo, harmonia e ordem estão prestes a ser abalados.


Enquando Elena mantém as aparências de família perfeita e bem estruturada com seu marido advogado e seus quatro filhos adolescentes, Mia não tem raízes, não faz questão de cultivar amizades e perdeu as contas de quantas vezes se mudou, já que mantém um estilo de vida itinerante.
Mia se torna inquilina dos Richardson e tudo começa quando Pearl faz amizade com os filhos de Elena e fica maravilhada com a mansão que eles moram e com o estilo de vida que levam, afinal, ela nunca teve uma casa confortável ou um quarto pra chamar de seu. Logo ela se sente acolhida em meio aquela família que a trata tão bem. Em contrapartida, a filha caçula de Elena, Izzy, é a ovelha negra da família, não se encaixa, não aceita as imposições da mãe que exige que a menina seja alguém que ela não é, e acaba encontrando refúgio em Mia, pois é a única que realmente parece enxergá-la e compreendê-la.


E a partir daí, começa uma "guerra invisível" entre mães que só querem o melhor para seus filhos, mas que parecem não saber lidar muito bem com o que eles realmente querem. A trama ainda encaixa questões judiciais envolvendo Bebe Chow, uma personagem chinesa que sofre por ter abandonado a filha num momento de desespero, e que envolve Mia, Elena e sua melhor amiga, Linda, de forma direta ao caso, fazendo com que o drama sobre os privilégios das classes sociais mais altas, e as injustiças sofridas pelas mais baixas, se intensifique ainda mais.


Com tantas discussões acerca de questões raciais, que são tão relevantes para a sociedade, Little Fires Everywhere parece ter vindo a tempo e a hora para ajudar a conscientizar as pessoas sobre uma pontinha do que é o racismo velado e os privilégios dos brancos, assim como abordar questões sexistas, problemas familiares, as enormes dificuldades que envolvem a maternidade, e as consequências de se manter tantos segredos e viver de aparências, e a série faz isso muito bem.

Chega a ser desconfortável para o expectador acompanhar Elena e Mia se desconstruindo a medida que os problemas vão aparecendo e várias descobertas vão sendo feitas. Elena é uma jornalista que trabalha meio período e leva a vida da forma mais metódica que se possa imaginar. Ela faz listas de afazeres, impõe aos filhos o que devem vestir e como devem se comportar, e até tem os dias certos da semana para ter relações com seu marido (?), e ai de quem sair da linha. Nada pode sair fora do planejado pra essa mulher.
Mia é o oposto. Ela consegue ver a vida de uma forma diferente, consegue enxergar a essência das pessoas mesmo que as evite e as trate com secura, mas sabe que por ser negra, ela e a filha enfrentarão coisas que estão fora da realidade de quem é branco, mesmo que elas pareçam ter sido aceitas na comunidade. Assim, o relacionamento conturbado e incômodo das protagonistas e de seus filhos, começa a revelar um outro lado de Elena e como ela vai, aos poucos, perdendo a compostura, e como os segredos de Mia, que ela fez questão de esconder durante tantos anos, começam a vir à tona a ponto da vida de todos virar de cabeça pra baixo.


A temporada tem apenas 8 episódios, mas consegue se desenvolver bem e mostrar os pontos mais importantes sobre o passado das protagonistas através de flashbacks que se passam nos anos 70 e 80 que explicam muito sobre suas escolhas de vida e o que influenciou em suas trajetórias até o momento presente.
As pessoas são imperfeitas e tentam fazer as escolhas que elas julgam serem as mais corretas pra suas vidas com base no que aprenderam ou no que experimentaram, mas isso não significa que é a melhor escolha ou que qualquer coisa vai levá-las a redenção ou coisa do tipo. O final da temporada deixa algumas questões em aberto, e a curiosidade pra saber o que vai acontecer com os personagens fica no ar, mas conclui de uma forma bem trágica que, felizmente ou não, mostra que existe o reconhecimento de que as coisas nem sempre estão sob nosso controle ou como gostaríamos que fosse. Little Fires Everywhere é desconfortável e inquietante em alguns momentos, mas não nego que prende a atenção, surpreende com as atuações, dá vários tapas na cara com diálogos inteligentes e situações absurdas, e mesmo que cause algumas frustrações e revoltas com alguns acontecimentos, é mais do que recomendada.

Na Telinha - The Handsmaid's Tale (1ª Temporada)

2 de agosto de 2017

Baseada na obra de Margaret Atwood
Título: The Handsmaid's Tale
Temporada: 1 | Episódios: 10
Distribuidora: Hulu
Elenco: Elisabeth Moss, Joseph Fiennes, Yvonne Strahovski, Alexis Bledel, Madeline Brewer, Ann Dowd, O. T. Fagbenle, Max Minghella, Samira Wiley
Gênero: Drama/Distopia
Ano: 2017
Duração: 52min
Classificação: +16
Nota:
Sinopse: Depois que um atentado terrorista ceifa a vida do Presidente dos Estados Unidos e de grande parte dos outros políticos eleitos, uma facção catolica toma o poder com o intuito declarado de restaurar a paz. O grupo transforma o país na República de Gilead, instaurando um regime totalitário baseado nas leis do antigo testamento, retirando os direitos das minorias e das mulheres em especial. Em meio a isso tudo, Offred é uma "handmaid", ou seja, uma mulher cujo único fim é procriar para manter os níveis demográficos da população. Na sua terceira atribuição, ela é entregue ao Comandante, um oficial de alto escalão do regime, e a relação sai dos rumos planejados pelo sistema.
Exibida pelo serviço de streaming Hulu, The Handsmaid's Tale é uma série baseada no livro homônimo de Margaret Atwood lançado em 1985 (O Conto da Aia, publicado pela Editora Rocco no Brasil), que se passa num futuro distópico onde poluição e radiação não só degradaram o meio ambiente, como causaram danos que afetaram diretamente na fertilidade das pessoas. Os Estados Unidos foram dissolvidos após um golpe, a constituição foi suspensa, e agora o país se tornou a República de Gileade. Trata-se de um regime totalitário e fundamentalista, em que a bíblia, ou o livro sagrado, é interpretada de forma literal se transformando na base dessa sociedade, e qualquer um que faça ou fale qualquer coisa que tenha se tornado proibida, como ler, cantar, usar métodos contraceptivos ou até mesmo amar, é condenado à morte e pendurado em praça pública até apodrecerem para servir de exemplo.


Mulheres inférteis, feministas e outras que se rebelam ou não tem serventia são enviadas para trabalhos forçados nas Colônias, locais onde o lixo tóxico e os níveis de radiação são tantos que elas morrem em pouco tempo. Médicos a favor do aborto são enforcados, assim como padres que tentem ajudar alguém de alguma forma, e homossexuais por serem considerados traidores de gênero. Todos devem ser punidos, e Os Olhos, um tipo de exército que tomou as ruas, sempre está vigiando.
Escolas e faculdades foram destruídas, os empregos são pontuais de acordo com a necessidade e até o modo de vida de forma geral é tradicional e conservador, a ponto de aparatos tecnológicos como rádio, televisão, telefone e internet serem proibidos para que não influenciem ninguém, e nem propaguem o que não é mais permitido. Ninguém tem voz, ninguém tem vez.


Sem direitos, as mulheres foram divididas em castas, onde algumas delas são propriedades do governo. A fertilidade é uma dádiva divina, e se restaram algumas mulheres férteis, é devido a um propósito bíblico. Assim como Bila serviu Raquel (Gênesis 30:3-8), essas mulheres, agora chamadas de Aias, vão servir os Líderes dos Fiéis e suas esposas estéreis, gerando filhos para eles. As Aias são obrigadas a procriar, cumprindo, assim, suas "funções biológicas", deixando de ser donas dos próprios corpos. Depois de passarem por um treinamento dado pelas Tias, que envolve humilhação, castigos constantes e, dependendo do caso, até mutilação, elas são dolorosamente etiquetadas para identificação, obrigadas a se vestirem de vermelho e usarem uma touca branca com abas enormes em volta do rosto para impedir que elas olhem os redor, e depois são levadas para as casas dos comandantes casados para engravidarem num ritual bizarro chamado de estupro "cerimônia".
Elas devem abdicar de seus nomes reais e adotar patronímicos (uma junção de Of + primeiro nome do comandante), que indicam que elas pertencem a um determinado homem do alto escalão. Depois de engravidarem, devem entregar o filho aos seus "verdadeiros pais", e, então, irem para outra casa e servir outra família abastada com o mesmo propósito.


Nesse cenário, conhecemos June Osbourne, uma mulher que foi forçada a se separar de seu marido e filha pois a união de um segundo casamento passou a ser considerada inválida, e que agora vive como Aia na casa do comandante Fred Waterford, passando a se chamar Offred. Ela, assim como todas as Aias, são vigiadas de perto, seja pelas Marthas, a casta das governantas, ou até pelas outras Aias das casas vizinhas, o que as leva a nunca saber em quem podem confiar. Offred é forçada a sempre obedecer, e através dela vamos acompanhando a vida difícil nesse modelo de sociedade cujo poder masculino e patriarcal imperam, sem possibilidade de questionamentos, e onde a culpa pelos erros, ou até crimes, cometidos pelo homem sempre é da mulher... Acompanhamos todos os dramas e os horrores pelos quais Offred passa como Aia, assim como flashbacks de seu passado mostram como a liberdade foi sendo extinta de forma gradual enquanto uma guerra civil iminente desencadeou todas as mudanças.
Offred acredita que Luke, seu marido, está morto, mas ela ainda tem esperança de reencontrar a filha que fora levada, Hannah, e somente por esse motivo ela decide enfrentar esse destino terrível em meio aos Waterfords, principais figuras que colaboraram na elaboração do golpe, das novas leis, e no então surgimento da República de Gileade.


A série retrata de forma bastante assustadora e revoltante como a opressão, a intolerância e, principalmente, o fundamentalismo religioso na política são utilizadas como estratagema para extinguir direitos em prol da uma minoria que detém o poder. Minoria esta que não é apenas corrupta, mas também hipócrita, já que suas atitudes não condizem com o que eles impuseram ao povo e a si mesmos.
Uma aproximação ou envolvimento mais íntimo com a Aia, desde olhares ou toques que vão além da Cerimônia, é passível de severa punição caso sejam pegos ou denunciados, mas a maioria dos comandantes se deixa envolver com a desculpa de que "a carne é fraca", ou ainda culpam a esposa por colocá-los nessa situação, mesmo que sejam tementes a Deus e saibam mais do que ninguém o significado de pecado.


Além dos dramas de Offred, há também os conflitos que Fred e Serena Waterford enfrentam. Fred vive assombrado pelo suicídio da Aia anterior e tenta evitar que Offred tenha o mesmo destino sendo "gentil" com ela, e Serena, que, ao lado do marido, ajudou a fundar a República de Gileade, agora tem que se conformar em não passar de uma mera esposa vivendo à sombra do marido. Tudo isso a tornou uma mulher amargurada e frustrada por não poder ser mãe, de modo que a cada menstruação de Offred, ela não hesita em agradí-la e castigá-la, e não se importa em recorrer a meios proibidos para conseguir o que quer.


Obviamente com tamanha opressão, é de se esperar que haja conspirações e grupos de resistência que vão contra esse regime, mas pelo fato de tudo ser proibido e as condenações serem as piores possíveis, as coisas são muito sutis, discretas e vão evoluindo aos poucos sem que haja, de fato, uma resolução. Pelo menos não ainda nesta primeira temporada.

O uso das cores para identificar a função de cada um na sociedade combinou bem com a proposta de "limpar" o país da sujeira, organizando tudo de forma que qualquer um que olhe já saiba quem é quem. As Aias se vestem de vermelho, as Marthas de cinza, as Tias de marrom, as Esposas de azul-turqueza, e os membros d'Os Olhos de preto, sempre armados com metralhadoras. Esse elemento deixou a fotografia rica e cheia de constrastes, pois as cores são sempre bem vivas e se destacam em meio aos cenários.


Num país onde mal se tem o direito de falar, o que resta é expressar os sentimentos mais profundos através do olhar, e isso foi um fator essencial na atuação dos atores. As expressões lhes dão um ar de mistério, morbidez, constrangimento e sofrimento, mas nunca de felicidade, dando muito mais credibilidade para que a situação em que vivem se tornasse convincente e crível.

The Handsmaid's Tale é um convite à reflexão sobre o quão frágil a sociedade pode se tornar ao ser privada de direitos e liberdade quando sucumbida à opressão, o fanatismo e a intolerância religiosa.

O Hulu não está disponível no Brasil e não há confirmação de um possível canal que tenha comprado os direitos de exibição da série. A segunda temporada já foi confirmada e está prevista para estrear em 2018.