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Na Telinha - Anne with an "E" (2ª Temporada)

6 de março de 2020

Título: Anne with an "E"
Temporada: 2 | Episódios: 10
Elenco: Amybeth McNulty, R.H. Thomson, Geraldine James, Dalila Bela, Lucas Jade Zumann, Aymeric Jett Montaz, Kyla Matthews, Cory Gruter-Andrew, Dalmar Abuzeid
Gênero: Drama/Romance
Ano: 2018
Duração: 50min
Classificação: +12
Nota:★★★★★
Sinopse: Diante de uma falência iminente dos Cuthbert, a residência de Green Gables recebe dois novos misteriosos pensionistas: Nathaniel (Taras Lavren) e Sr. Dunlop (Shane Carty). Enquanto isso, Anne (Amybeth McNulty) estreita laços com Diana (Dalila Bela), Ruby (Kyla Matthews) e Gilbert (Lucas Jade Zumann), que faz um novo amigo estrangeiro.

Nessa segunda temporada, Anne já está melhor adaptada à vida em Avolea, assim como já conseguiu cultivar a simpatia e a amizade de algumas meninas da escola, e de Cole, que já se acostumaram com o jeitinho peculiar dela. Dessa vez, depois da perderem a colheita inteira num naufrágio, os Cuthbert estavam a beira da falência e, além de terem começado a vender seus pertences para conseguirem algum dinheiro, criaram um anúncio no jornal local oferecendo quartos em Green Glabes. Não demorou para que dois pensionistas misteriosos aparecem interessados no aluguel, mas ninguém sabe quais são as reais intenções deles alí, principalmente quando eles afirmam que existe ouro naquelas terras. Longe da cidade, Gilbert arranjou um emprego num barco, o que pra ele é uma aventura, e acaba fazendo amizade com Bash, um homem negro, pobre, e que tem uma experiência de vida bem diferente do garoto.


Com um roteiro mais maduro, se compararmos com a primeira temporada, Anne with an "E" traz uma trama que, mesmo se passando no século 18, aborda temas que resultam em reviravoltas interessantes e promove reflexões relevantes no espectador, que não remetem somente ao feminismo típico da série e a maneira como Anne tenta se encaixar quando ela é claramente diferente das outras meninas da sua idade, mas também ao machismo, ao racismo e a homofobia. Numa época onde a escravidão era permitida, a ideia de um homem negro ser livre e conviver entre brancos era absurda em meio a sociedade, assim como a homossexualidade era mau vista e tratada como uma doença, uma aberração, criando barreiras sociais e psicológicas, e impossibilitando a própria pessoa nessa condição a se assumir. Outra coisa bem interessante é a inserção de uma nova professora que tem métodos nada convencionais de ensino, e somando isso ao fato de ela ser mulher, também tem que aturar poucas e boas da população, pois o machismo também está entranhado no pensamento das próprias mulheres. E a série aborda isso de uma forma única, mostrando tanto os ataques, a forma de combate a esses preconceitos, e a reação de quem sofre com eles, o que emociona e surpreende bastante.


Anne, apesar de não ser perfeita, continua muito carismática, seja por ser sonhadora ou muito inteligente, o que a deixava a frente de sua época. A distância de Gilbert e a forma como ela se preocupa em manter contato com ele através de cartas, só reforça a ideia de que mais cedo ou mais tarde esses dois vão acabar juntos.

Além disso, também podemos voltar ao passado de Marilla e Matthew, o que nos permite entender porque ela se tornou uma mulher tão dura e que não demonstra seus sentimentos. Ter perdido um irmão e a mãe pouco tempo depois, fez com que ela assumisse o papel de responsável pela casa e por criar Matthew, logo ela se viu presa aquela condição e não pôde viver a própria vida da forma como ela gostaria por não ter outra escolha. Receber os pensionistas também é algo que lhe dá um choque de realidade, pois as pessoas nem sempre são aquilo que aparentam ser, e criar expectativas ou confiar demais pode gerar muitas decepções, infelizmente. A vida não é um mar de rosas.


Diante desses pontos e de novas experiências, é interessante ver como essa temporada consegue transitar entre a infância e a perda da inocência diante de alguma situação delicada mas que faz parte da realidade e do início de um amadurecimento necessário. Muita coisa que aprendemos vem com a dor, seja a nossa ou daqueles com quem nos importamos, e é preciso saber lidar com tudo isso pra seguir com a vida.
Há um episódio bem legal onde Anne, Diana e Cole vão a uma festa na casa de Tia Jô e se deparam com um pessoal bem diferente daqueles que vivem em Avonlea, e isso acaba expandindo a visão deles de que a vida é muito mais do que o que aprenderam naquela cidadezinha conservadora e que não evolui em nada, e que eles tem uma infinidade de opções a seguir além das tradições familiares ou sociais de se casar, ter filhos e viver nesse ciclo que parece reger a vida nessa sociedade.


Tirando alguns efeitos especiais bem mal feitos e nada a ver, o cenário e o visual no geral é muito bonito e inspirador, e é impossível não sentir vontade de visitar uma fazenda, fazer um passeio por um campo ou experimentar algumas das delícias feitas na cozinha de Green Gable.

Pra quem procura por uma série inspiradora, que emociona e trata de temas importantes com bastante delicadeza através de uma garotinha que está descobrindo o mundo à sua maneira, é série mais do que recomendada!

Na Telinha - Anne with an "E" (1ª Temporada)

7 de fevereiro de 2020

Título: Anne with an "E"
Temporada: 1 | Episódios: 7
Elenco: Amybeth McNulty, R.H. Thomson, Geraldine James, Dalila Bela, Lucas Jade Zumann, Aymeric Jett Montaz
Gênero: Drama/Romance
Ano: 2017
Duração: 50min
Classificação: +12
Nota:★★★★★
Sinopse: Depois de treze anos sofrendo no sistema de assistência social, a orfã Anne é mandada para morar com uma solteirona e seu irmão. Munida de sua imaginação e de seu intelecto, a pequena Anne vai transformar a vida de sua família adotiva e da cidade que lhe abrigou, lutando pela sua aceitação e pelo seu lugar no mundo.

Baseada no romance Anne of Green Gables, de Lucy Maud Montgomery, a série se passa na vila fictícia de Avonlea, situada na Ilha de Príncipe Eduardo, uma província no Canadá, no final do século XIX, e acompanha a vida da orfã Anne Shirley, uma garotinha sonhadora, muito falante, e dona de um vocabulário invejável pra idade que tem.


No século XIX, era comum as crianças trabalharem desde bem pequenas, e muitas delas, principalmente as de famílias mais pobres, eram vistas pelos pais como um verdadeiro fardo do qual tinham que se livrar o quanto antes, e para quem era órfão, a situação era ainda pior. Numa sociedade onde homens e mulheres têm papéis definidos desde o nascimento, qualquer tentativa de fugir desses padrões é vista com preconceito e desdém.

Nesse cenário, várias famílias já adotaram a pobre Anne, mas em vez dela ser recebida com amor e tratada com carinho, tinha que trabalhar duro para "agradecer" o favor de ter sido adotada, e por ser órfã, o desprezo com que sempre foi tratada acabou lhe causando alguns traumas, e fazendo com que ela aprendesse e tivesse contato com algumas coisas que uma criança jamais deveria saber. Diante disso, Anne escolheu usar a imaginação como válvula de escape para lidar com essa dura realidade, então ela sempre se imagina sendo uma mulher forte e corajosa que, embora passe por vários obstáculos, consegue vencer as adversidades para se tornar uma grande heroína. Ela inclusive adora ler, e seu livro favorito de onde tira várias citações memoráveis é Jane Eyre, de Charlotte Brontë.


Tudo começa quando os irmãos Marilla e Matthew Cuthbert, já idosos, decidem adotar um menino para ajudar com os afazeres da fazenda, mas quando Matthew vai buscar a criança, se depara com Anne na estação de trem e a leva para Green Gable. Porém, por estar esperando um menino, Marilla, decepcionada, não tem outra reação a não ser querer resolver esse equívoco devolvendo a menina para o orfanato. Tendo sido rejeitada outra vez, Anne desaba e perde as esperanças de ter um família acolhedora onde ela pudesse ser feliz, mas Marilla não tem intenção de deixá-la na mesma situação de antes e acaba lhe dando uma chance, mas ela teria que provar ser merecedora de ficar.
Embora Matthew já tivesse a aceitado e ficado encantado com seu jeito peculiar de ser, não seria uma tarefa fácil pra Anne conquistar Marilla, que sempre demonstra ser uma fortaleza de gelo. Anne não é perfeita. Ela é irritante, não para de falar um minuto, suas falas e atitudes são exageradas e floreadas a ponto de serem cafonas, e ela parece ser incapaz de cativar as pessoas, mas tudo é proposital e compreensível.


Os episódios trazem algumas cenas com flashbacks do passado de Anne, mostrando o quanto sua vida foi difícil ao trabalhar para algumas famílias, ou o que acontecia em sua estadia no orfanato, contextualizando, assim, algumas de suas reações frente a atitudes preconceituosas, humilhantes, lamentáveis e revoltantes com que adultos e crianças a tratam com frequência. Apesar de tristes e impactantes, esses flashbacks não destoam da série e nem tiram sua leveza, só colaboram ainda mais pra nos deixar emocionados.


Quando Anne começa a ir pra escola, ela percebe que seu comportamento não é aceito pelos colegas e pelo professor, um homem odioso que parece existir somente pra descontar suas frustrações nas crianças. Ela sofre bullying por ser órfã, por ser ruiva e ter sardas, e constantemente ela fala que se sente feia e seu maior sonho é ser bonita. Mesmo que ela consiga fazer amizade com Diana, que mora na fazenda vizinha e vive tentando amenizar as ofensas das outras meninas contra Anne, ela se sente excluída, deslocada, e não sabe o que fazer pra se aproximar das outras crianças que vivem rindo ou debochando dela. Quando ela conhece Gilbert, um garoto da escola que a defende de várias humilhações, ela começa a se afastar dele porque uma das meninas da escola sonha em se casar com ele um dia (???). Anne passa a evitar o garoto para não ter problemas com as outras meninas, mas por aí a gente já sabe que eles vão se aproximar mais cedo ou mais tarde... Gilbert é fofo, não trata ninguém mal e nem gosta de injustiças. Onde os outros enxergam uma garota feia e sem modos, ele enxerga uma menina inteligente e adorável.


Seu apoio seria os Cuthbert, sua família, mas Marilla, sempre tão dura, não tem paciência para as "ladainhas" da garota. E medida que Marilla vai conhecendo Anne mais a fundo, ela vai amolecendo e o amor pela garota fica evidente a ponto de ela passar a questionar seu papel como mulher na sociedade. Se antes ela era conhecida como a solteirona que dedica a vida a casa e ao irmão, agora ela é mãe e tem alguém a quem proteger e servir de exemplo.
Matthew é mais paciente e tolerante com os dilemas de Anne, o problema com ele é a questão dele já estar velho, aparentando ter alguma doença grave, e sua preocupação é não dar conta de ajudar a manter a família.

Talvez o único ponto estranho da série é a forma como ela acaba. Por passar de uma forma tão sensível e lúdica temas tão pesados, o esperado para o final é uma cena bonita em família ou coisa do tipo, mas o gancho negativo representando alguma ameaça e causando a "necessidade" de uma continuação, não combinou muito bem.


Apesar da vida de Anne não ter sido fácil e ela ainda passar por várias provações com uma sociedade cujo preconceito é enraizado e a visão de mundo é tão limitada, a série tem um clima mágico e consegue abordar com sensibilidade temas como identidade, aceitação e esperança de uma forma leve, emocionante e gostosa de assistir. Anne with an E é uma série sensível, com um cenário inspirador e com uma linguagem bastante rica. Se você gosta de histórias de época que abordam os desafios que uma garotinha tem que enfrentar na vida para encontrar seu lugar no mundo, recomendo muito.

Na Telinha - Euphoria (1ª temporada)

27 de dezembro de 2019

Título: Euphoria
Temporada: 1 | Episódios: 8
Elenco: Zendaya, Hunter Schafer, Jacob Elordi, Sydney Sweeney, Barbie Ferreira, Alexa Demie
Gênero: Drama
Ano: 2019
Duração: 58min
Classificação: +18
Nota:★★★★★
Sinopse: Rue (Zendaya) é uma adolescente de 17 anos dependente química que acaba de sair da reabilitação. A medida que ela tenta voltar à rotina, percebe que seus colegas de escola também enfrentam os próprios desafios, envolvendo sexo, drogas, traumas e mídias sociais.

Rue é uma adolescente de dezessete anos que, desde pequena, já demonstrava ter uma percepção de mundo diferente das outras crianças. Mas, com a morte precoce do seu pai, ela acaba se viciando em drogas como forma de lidar com a perda e se "anestesiar", o que é agravado com seus problemas de ansiedade e bipolaridade. Depois de um episódio crítico, Rue vai pra reabilitação, mas ela não está nada preocupada em melhorar e não hesita em trapacear em exames que comprovam sua sobriedade. Ao voltar pra casa, sua vida ainda é marcada pela chegada de Jules no bairro, uma garota trans - e linda - com um histórico de vida super traumático. As duas logo se tornam melhores amigas e Rue acaba desenvolvendo uma certa dependência de Jules, mas será que elas vão ficar juntas até o fim para superar os vários obstáculos pessoais e sociais que aparecerão pelo caminho?


Rue é quem faz a narrativa dos acontecimentos, e, por ser viciada em drogas, fica meio implícito que ela pode não ser uma voz tão confiável para narrar os fatos, principalmente quando algumas cenas são baseadas em pensamentos ou alguma viagem muito louca dela.

Basicamente a série vai mostrar a vida de um grupo de adolescentes que fazem parte do círculo de amizade de Rue e que estão prestes a deixar o ensino médio, mas que já acumularam algumas experiências pessoais, amorosas e familiares pesadas o suficiente para moldar suas personalidades e influenciar em suas escolhas na vida, assim como as consequências bem amargas de todas elas. Experiências envolvendo drogas, sexo e sexualidade, abuso, saúde mental, exposição, vingança, violência e as expectativas que os pais depositam nos filhos e que nem sempre são superadas.


Um exemplo disso é as cenas em que Rue "ensina" a limpar o organismo ou burlar o resultado de um teste antidrogas, mas logo em seguida ela também mostra como o preço a ser pago por isso, seja física ou emocionalmente, pode ser alto demais. Ou como Jules, que tem um histórico delicado de depressão e automutilação, usa sua sexualidade pra provar o que quer que seja pra si mesma e ainda assim sempre aparece como alguém pura e iluminada, principalmente quando ela se torna um tipo de "cura" para Rue, que começa a deixar as drogas de lado, mas acaba criando uma certa dependência da amiga.
Os demais personagens também tem arcos fortes e bem construídos, que vão desde abandono, preconceitos sofridos, depressão, e traumas insuperáveis que colaboram na formação (e na corrupção) do caráter do indivíduo, princialmente nessa fase da adolescência que a série aborda, o que, consequentemente, pode gerar vários gatilhos.


Cada episódio se aprofunda um pouco mais no passado de algum personagem, explicando que um possível trauma desencadeou um determinado tipo de comportamento, mostrando que, querendo ou não, somos reflexos daquilo que vivenciamos e aprendemos na infância. Assim, cada personagem vai ganhando mais camadas, e é possível entender suas motivações na maioria das vezes, mesmo que não concordemos com eles por fazerem coisas condenáveis e absurdas.
A ordem cronológica não é muito exata, há uma transição constante entre passado e presente, e não dá pra saber ao certo se algumas cenas acontecem antes ou depois de um determinado evento, mas, fazendo um apanhado geral, dá pra compreender bem o que se passa.


O trabalho de fotografia é fantástico. As cores sempre se contrastam e evidenciam traços, o azul, o rosa e o vermelho se destacam bastante e geralmente se opõe ao laranja e ao verde. A iluminação sempre favorece todo tipo de brilho, seja nos cenários ou nas maquiagens, que, diga-se de passagem, são todas incríveis, e é impossível pensar na série sem pensar no visual maravilhoso. A série é indicada para maiores de dezoito anos tanto pelos temas pesados e delicados que abordados, quanto pelas cenas de sexo e nudez, e aqui a HBO ainda quebra alguns paradigmas e estereótipos quando não mostra apenas nudez feminina, mas a masculina, com pintos de todas as cores e tamanhos. Por que é "natural" quando mulheres aparecem nuas na TV, mas quando são homens as pessoas ainda ficam loucas? A naturalidade com que a nudez é tratada aqui é impressionante, principalmente por não ser "glamourizada". Outro ponto a ser destacado é a trilha sonora impecável dessa série, que ajuda a deixar tudo ainda mais intenso e emocionante. Sério: assistam e ouçam!


Ao final, a impressão que fica é que Euphoria não é só mais uma série em meio a tantas outras, mas uma verdadeira experiência crua e realista com esse "universo" adolescente cheio de representatividade, e regado a drogas, sexualidade a flor da pele e autodescobertas. Quero a segunda temporada na minha mesa agora, HBO! Nunca te pedi nada.

O Aprendiz de Assassino - Robin Hobb

6 de novembro de 2019

Título: O Aprendiz de Assassino - Saga do Assassino #1
Autora: Robin Hobb
Editora: Suma de Letras
Gênero: Fantasia/Drama
Ano: 2018
Páginas: 450
Nota:★★★★☆
Sinopse: Fitz tem seis anos de idade quando seu avô o joga aos pés de um guarda real e anuncia que a partir de então o pai deve cuidar do bastardo que produziu ― e o pai de Fitz é ninguém menos que Chilvary Farseer, o príncipe herdeiro dos Seis Ducados.
Excluído pela realeza, mas importante demais para ser abandonado, Fitz é criado à sombra da corte, protegido pelo mestre dos estábulos e crescendo em meio aos criados e plebeus da Cidade de Torre do Cervo.
No entanto, um bastardo real é uma peça perigosa, e o rei Shrewd não demora a convocá-lo. Carregando no sangue a magia ancestral do Talento e uma habilidade ainda mais instintiva de se comunicar com os animais, Fitz passa a ser treinado para se tornar um assassino a serviço do rei.
Quando saqueadores selvagens começam a atacar as regiões costeiras dos Seis Ducados, Fitz recebe sua primeira missão. Embora alguns o vejam como uma ameaça, o jovem bastardo vai provar que pode ser a chave para a sobrevivência do reino.

Resenha: O Aprendiz de Assassino é o primeiro livro da Saga do Assassino (The Farseer Trilogy), a primeira de cinco sagas que faz parte da enorme série O Reino dos Antigos, da autora Robin Hobb. O livro já havia sido publicado pela Editora Leya anteriormente, mas agora ganhou uma repaginada e foi relançado pela Suma sob novo projeto gráfico e nova revisão/tradução.

Fitz é um garotinho de seis anos de idade, filho bastardo do príncipe Chivarly Farseer, o herdeiro do rei Shrewd Farseer, dos Seis Ducados, que mais tarde abdicou do trono colocando seus irmãos mais novos, Verity e Regal, na linha de sucessão. Fitz foi excluído da vida da realeza por ser um bastardo, mas por ser importante demais (ou perigoso demais para os interesses reais) pra ser simplesmente abandonado à própria sorte, ele foi criado às sombras da corte em meio a criados e animais pelo mestre dos estábulos da Torre do Cervo, Burrich. Fiz herdou o Talento, uma magia ancestral que lhe dá a habilidade de se comunicar com os animais, e posteriormente ele é aceito pela família real, recebendo as devidas instruções, mas também sendo secretamente treinado a se tornar um assassino silencioso a serviço do rei Shrwed.
Até que um grande grupo de saqueadores bárbaros começam a ameaçar os Seis Ducados, e Fitz é enviado para sua primeira missão, mas ele acaba em meio a vários segredos numa trama misteriosa e cheia de reviravoltas.
"A minha vida tem sido uma teia de segredos, segredos que mesmo agora são perigosos de compartilhar. Devo colocá-los neste fino papel para fazer deles apenas chamas e cinzas? Talvez."
- Pág. 12
O livro é narrado em primeira pessoa, e a quantidade de detalhes e descrições é tão adorável quanto cansativa. Não que isso seja um ponto negativo no caso desse livro em particular, até mesmo porque a escrita poética da autora é bastante fluída e rica a ponto de a todo momento nos surpreender com a forma incrível que ela tem de expressar alguma emoção ou acontecimento através de uma frase genial, mas esse excesso de floreios, embora importante dentro do contexto, acaba tornando a leitura mais demorada do que o esperado, mostrando, lenta e gradualmente, cada passo da infância cheia de tribulações, dificuldades, privações e sofrimento do pequeno Fitz. Talvez a narrativa foi feita dessa forma de propósito, pois da mesma forma que o protagonista beira a exaustão com tantas experiências trágicas, os leitores também acabam ficando com o emocional desgastado ao acompanhar essa peleja sem fim.

Num primeiro momento, como leitora, eu me senti um pouco incomodada com a narrativa em primeira pessoa e como as lembranças da infância dele eram tão vívidas, pois, inevitavelmente, ficamos limitados ao ponto de vista e às experiências de Fitz, que conta sua longa jornada nos mínimos detalhes, desde sua primeira lembrança aos seis anos quando foi levado para os estábulos até mais velho. Muito tempo é investido em descrever as experiências de Fitz, e no final das contas, com esse ritmo devagar, quase parando, a sensação é de que vários anos se passaram durante tudo aquilo, como se compartilhássemos o peso que recaiu sobre os ombros do protagonista.

Sobre a parte gráfica, só tenho elogios. A capa, embora destaque bem o nome o nome da autora em prateado, é bem simples e bonita, fazendo referência a Cidade da Torre do Cervo.
Um ponto bastante relevante sobre esta edição da Suma de Letras em particular, diferente das edições publicadas anteriormente pela Editora Leya, é que os nomes dos personagens, que podem moldar ou definir a personalidade deles, não foram traduzidos a fim de manter a originalidade, e graças a Deus que fizeram isso aqui. Inclusive há um glossário no final do livro com o significado de cada nome.

No mais, O Aprendiz de Assassino é uma excelente introdução à série e ao universo fantástico e grandioso criado por Robin Hobb, entregando uma história sobre confiança, amor e lealdade sem igual, e ainda levantando questões interessantes sobre a importância do sangue, e se devemos confiar plenamente em alguém só por causa do bendito parentesco. O livro superou, sim, todas as minhas expectativas, e estou bastante ansiosa pra continuar lendo os próximos volumes. Não é todo dia que a gente encontra um livro de fantasia desse calibre. Super recomendado!

Na Telinha - Gilmore Girls (3ª Temporada)

4 de novembro de 2019

Título: Gilmore Girls (Gilmore Girls)
Temporada: 3 | Episódios: 22
Elenco: Lauren Graham, Alexis Bledel, Melissa McCarthy, Keiko Agena, Scott Patterson, Yanic Truesdale, Kelly Bishop, Edward Herrmann, Liza Weil, Milo Ventimiglia, Jared Padalecki
Gênero: Família/Comédia/Drama
Ano: 2002
Duração: 44min
Classificação: +12
Nota: ★★★★☆
Sinopse: As adoradas Gilmore Girls estão de volta para uma terceira temporada de charme, diálogos inteligentes e engraçados e momentos dramáticos de tirar o fôlego. Para Lorelai e Rory, mãe e filha, este é um ano de mudanças. As expectativas são grandes, princialmente com a formatura de Rory e sua ansiedade para receber uma resposta positiva das faculdades. Mas não é só isso. Rory e Lorelai precisam lidar com seus relacionamentos e os impactos que eles causam em suas vidas.

Faz um tempinho que maratonei a série, mas como pretendo resenhar todas as temporadas em ordem aqui no blog, revi alguns episódios e li alguns resumos pra poder me lembrar melhor dos acontecimentos e poder comentar com o mínimo de propriedade.


Mais um ano cheio de idas e vindas na vida das garotas Gilmore. Último ano de Rory na Chilton, preocupações a mil, e aquela indecisão eterna sobre qual faculdade escolher: Harvard ou Yale.
Rory se sente cada vez menos encantada por Dean, e mais atraída por Jess, enquanto ele desfila por aí com uma nova namorada que não deixa a boca dele em paz nenhum segundo sequer. Pelo menos, estudiosa como é, Rory está bastante focada em sua formatura e na escolha na faculdade. De outro lado, Lorelai e Sookie querem seguir um grande sonho, e planejam inaugurar a própria pousada. É legal acompanhar como cada uma tem um desafio diferente a ser enfrentado, mas que só vem a acrescentar em suas vidas.


Não digo que essa temporada foi a melhor até então, mesmo que a expectativa estivesse alta depois do final da temporada anterior. Houveram momentos emocionantes e outros bem importantes pra podermos entender a questão da causa e efeito que envolve o relacionamento de Lorelai com seus pais e com Chris, pai da Rory, e que tudo o que aconteceu no passado acabou interferindo na pessoa que ela se tornou, mesmo que eu ainda não me simpatize totalmente com ela e essa sua "independência". Mas, o que me fez revirar os olhos mil vezes, foi a questão da quizumba amorosa entre Rory, Jess e Dean, e o quanto esses três conseguem ser ridículos de tantas formas diferentes.


Se antes Jess era aquele garoto inteligente e misterioso, metido a bad boy que despertou a curiosidade de Rory e que se encaixaria como uma luva como seu oposto perfeito, agora que ele finalmente conseguiu "derrotar" Dean e colocado as mãos nesse troféu, vulgo Rory, o moleque se transformou num completo babaca. Esses dois juntos é a coisa mais sem graça que já vi na minha vida, desde o ciúme proposital e forçado que Jess causou nela namorando outra menina nada a ver, até a ideia dele se distanciar pelo motivo de "porque sim". A falta de química é tão evidente, que a ideia dos atores (Alexis Bledel e Milo Ventimiglia) terem namorado na vida real chega a ser inacreditável. Deve ter alguma coisa a ver com a teoria da química amorosa do Joey, de Friends, não é possível...
A cada episódio que abordava esse relacionamento murcho, as coisas pareciam se perder cada vez mais e no final das contas, além de Rory se mostrar um tanto dependente dele, o relacionamento parece só ter existido para que a garota pudesse ter adquirido uma experiência a mais a fim de ser capaz de detectar prováveis embustes.
E nem ouso a falar muito de Dean, porque se antes ele demonstrou ser possessivo, inseguro e mega ciumento, agora ele aparece mais preocupado com Rory pra dar aquele ar de "só dá valor quando perde", mas me arruma uma noiva pra se casar com dezoito fucking anos. Se a ideia do roteiro era dar um jeito de afastar o ator porque ele seguiria outro rumo em outro seriado (Hi, Supernatural!), haviam infinitas alternativas de se fazer isso em vez de enfiá-lo num casamento ridículo com uma menina nada a ver, claramente fadado ao fracasso.


Já Lorelai, por mais que tenha se mostrado vulnerável em vários momentos, precisou sair da sua zona de conforto e encarar de frente várias situações, desde relacionamentos nada a ver, quanto escolhas profissionais, e o próprio orgulho de ver Rory se formando e indo pra faculdade, o que consequentemente separaria as duas. Claro que elas sentiriam muita falta uma da outra, mas a distância acaba gerando uma dinâmica nova e bem interessante entre as duas. Pra elas que sempre estiveram juntas, ficarem separadas por alguns anos era algo totalmente novo, e embora esperado, não era algo que estavam, de fato, prontas pra lidar. Lorelai sabe o quanto vai ser difícil lidar com a ausência da filha enquanto Rory parte para novas e mais interessantes experiências.
Mas o auge mesmo é o relacionamento com Luke, que não engata nunca mais e só faz a gente morrer de ansiedade por essa união que é mais do que óbvia. Então, colocar Luke namorando com uma moça aqui, ou Lorelai ficar dividida entre outro alí, é inútil.


Um episódio dessa temporada (esqueci qual) mostra o passado de Lorelai, quando ela tinha seus dezesseis anos e estava grávida de Rory, e qual foi a reação dos familiares quando descobriram. Ele funciona meio que como um contraste de como foi a espera e o nascimento de Rory, com o nascimento da filha de Chris com sua esposa. Mesmo que não tenha achado que o episódio tenha sido o melhor, atémesmo porque ele tem os momentos presentes com esses flashbacks, ele foi muito importante para esclarecer alguns pontos que dizem respeito a Lorelai adulta. A ideia de uma gravidez na adolescência da filha apavorava Richard e Emily, assim como os pais de Chris. Era algo terrível o bastante para manchar a reputação das duas famílias e todas as escolhas passaram a ser deles, sem que Lorelai fosse consultada em momento algum. Assim, deixar de ter voz e abrir mão do seu poder de escolha, foi o que fez Lorelai se rebelar, desistir do luxo que seus pais lhe proporcionava e poder, enfim, provar que ela poderia se dar bem sozinha e tomando as próprias decisões, sem que ninguém dissesse o que ela deveria fazer. É claro que isso causou problemas e um abismo enorme entre ela e seus pais, mas é o que justifica ela ser assim e o quanto sua liberdade é importante, mesmo que ela ainda sofra internamente por ter feito essa escolha de seguir sozinha com Rory. Isso acaba refletindo também em Richard e Emily, pois por mais que a forma como eles criavam Lorelai pudesse ser "contraditória" para a gente, para eles era o certo a se fazer, então é difícil se colocar no lugar deles e imaginar como é pra eles se sentirem excluídos e afastados das duas meninas que eles mais amavam. Logo, embora Lorelai faça por obrigação e necessidade, Rory tenta ser o mais paciente e compreensiva com eles, talvez a fim de compensar essa "perda". Eles são chatos, claro, mas agora dá pra pelo menos entender o motivo.


Claro que não posso deixar de fazer algumas menções honrosas pra alguns personagens secundários que também ajudar a movimentar essa história, desde Michel, um dos meus preferidos por causa do seu deboche eterno, até Kirk com sua onipresença hilária em Stars Hollow.
Eu gosto da Lane e da sua amizade desinteressada com Rory, mas esse lance de viver em função das leis da mãe por causa de cultura coreana, ou sabe-se lá Deus o quê, é a coisa mais século 18 que existe. Chega a ser irritante as coisas que ela precisa se sujeitar para dar suas escapulidas e poder viver. Não vejo a hora dela enfrentar a Sra. Kim e cuidar da própria vida.


Confesso que eu não gosto muito da Paris, e ela está totalmente surtada nessa temporada. Ela demonstra um lado mais humano, mas continua competitiva demais, principalmente porque parece gostar de esfregar o quanto é inteligente na cara dos outros. Rory tem que ter paciência de Jó pra aguentar essa amizade, mas depois a gente vê que Paris é assim pela necessidade de chamar atenção depois de se dar conta que seus pais estão sempre ocupados demais cuidando de outros assuntos e não dando a mínima pra ela. Sua imagem de mãe é sua babá, e ela ter ido na formatura da garota prestigiar e sentir orgulho de quem ela criou, e vendo onde ela conseguiu chegar, é muito bonito de se ver.

Enfim, já disse antes e repito: Gilmore Gils não é minha série preferida, mas tenho que concordar que ela rende momentos de descontração e até reflexão sobre os dramas que envolvem todo tipo de relacionamentos familiares e amorosos.

Na Telinha - Coringa

21 de outubro de 2019

Título: Coringa (Joker)
Elenco: Joaquin Phoenix, Robert De Niro, Zazie Beetz, Frances Conroy
Gênero: Drama/Thriller
Ano: 2019
Duração: 2h 02min
Classificação: +16
Nota:★★★★★
Sinopse: Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) trabalha como palhaço para uma agência de talentos e, toda semana, precisa comparecer a uma agente social, devido aos seus conhecidos problemas mentais. Após ser demitido, Fleck reage mal à gozação de três homens em pleno metrô e os mata. Os assassinatos iniciam um movimento popular contra a elite de Gotham City, da qual Thomas Wayne (Brett Cullen) é seu maior representante.

Ok, embora eu não seja muito fã do universo da DC, não me contive quando anunciaram o lançamento de Coringa, filme este que se encarregaria de falar um pouco mais sobre as origens de um dos maiores e mais icônicos vilões dos quadrinhos até então.


Final dos anos 70. Arthur Fleck é um homem que sofre com um transtorno psicológico bastante peculiar. Ele não consegue controlar suas emoções, é esquisito e ri descontroladamente nos momentos mais inapropriados que se possa imaginar, despertando, assim, o desprezo, o preconceito e até a violência alheia por ele ser "diferente". Seu maior sonho era se tornar um palhaço para fazer as pessoas rirem, mas por causa de sua doença, as coisas não poderiam sair conforme o planejado.
Arthur mora com a mãe, que também sofre de transtornos mentais, e eles vivem uma vida miserável. Ele depende da ajuda do governo para tratar seu transtorno, mas tudo muda quando Gothan entra numa espécie de colapso político, e a verba destinada a saúde é cortada, deixando Arthur desamparado.


Isso acaba causando uma reação muito negativa em Arthur, que faz com que ele mate a tiros três completos imbecis que estavam assediando uma mulher no metrô e que reagem com violência a uma das crises de riso nervosas de Arthur, e o espancam sem piedade. Esses assassinatos, até então sem um suspeito, acabam desencadeando um movimento popular de extrema revolta em Gothan City, que, na época, era representada por ninguém menos que Thomas Wayne, o pai daquele que futuramente viria a ser o Batman, o pequeno Bruce Wayne. Essa luta de classes pela reivindicação dos direitos do povo é trabalhada de uma forma bastante orgânica, mostrando o contraste existente entre a elite e os pobres oprimidos que levaram Gothan ao caos, e, através desse conflito, o filme acaba dando um novo e original ponto de vista para a origem do Batman, sem nunca se desviar do foco de seu arqui-inimigo, e ainda brincando com os expectadores ao sugerir certos tipos de ligações entre os personagens que surpreendem demais.


Obviamente não é possível falar sobre o filme sem elogiar e aplaudir de pé a atuação magnífica de Joaquin Phoenix, que entregou ao público um personagem peculiar e totalmente doentio com a devida maestria. Além dos vários quilos que ele perdeu para interpretar o Coringa, sua atuação vai além do físico arqueado e pavoroso, chegando a ser perturbadora. É impressionante como ele conseguiu criar risadas diferentes para cada reação que ele tem, mas todas elas são tão maníacas quanto assustadoras.


Este personagem em particular foi construído sem maiores referências para que a história pudesse ser reinventada de uma forma original, mas ainda mantendo a sua essência. A doença de Arthur não é romantizada, ele é tratado como o doente mental que ele é, em que o lado real e obscuro enfrentado por ele sempre ficam em evidência; o seu ponto de vista deturpado, com direito à projeções do que ele idealiza, mas que nem sempre correspondem à realidade; e a forma como ele "abraça" sua loucura se tornando, assim, o Coringa. Sua personalidade é visceral, e é moldada de acordo com as experiências trágicas e amargas nessa sociedade imunda.


Inicialmente ele é apresentado como um homem fracassado, injustiçado, incompreendido, solitário e fraco, mas cada acontecimento trágico enfrentado por ele é responsável por uma mudança que acarreta numa transformação gradual, assim o personagem é desenvolvido no tempo certo e acompanhamos a evolução de alguém no fundo do poço e sem perspectiva alguma, para alguém que, em meio a loucura, ao caos e a anarquia, finalmente se encontrou, se libertou dessas amarras e se tornou tão ameaçador e perigoso.


O filme é impactante e reflete as piores consequências não só de um sonho que não pôde ser alcançado, mas de alguém que aprendeu a se alimentar do caos para espalhar o que há de pior sobre essa sociedade tão doente e podre quanto.
A gente sai do cinema pensando "meudeusdocéu, que espetáculo de filme sensacional". Uma obra prima, um dos melhores filmes da década, sim e com certeza.

Na Telinha - O Rei do Show

17 de outubro de 2019

Título: O Rei do Show (The Greatest Showman)
Elenco: Hugh Jackman, Zac Efron, Michelle Williams, Rebecca Ferguson, Zendaya, Keala Settle
Gênero: Drama/Musical
Ano: 2017
Duração: 1h 44min
Classificação: +12
Nota:★★★★☆
Sinopse: De origem humilde e desde a infância sonhando com um mundo mágico, P.T. Barnum (Hugh Jackman) desafia as barreiras sociais se casando com a filha do patrão do pai e dá o pontapé inicial na realização de seu maior desejo abrindo uma espécie de museu de curiosidades. O empreendimento fracassa, mas ele logo vislumbra uma ousada saída: produzir um grande show estrelado por freaks, fraudes, bizarrices e rejeitados de todos os tipos.

O Rei do Show é baseado nos feitos de P.T. Barnum, um empresário visionário do século 19 que não só ficou conhecido por ter sido o fundador do circo moderno e da história do entretenimento, mas também por apresentar ao público artistas com alguma característica física ou habilidades diferentes que os tornavam "aberrações", mas que na verdade eram completas fraudes. Acho válido ressaltar que, no filme, Barnum, interpretado pelo ator Hugh Jackman, ganhou uma versão bastante romanceada e até fantasiosa sobre as verdadeiras origens desse oportunista que fez fama e fortuna com suas apresentações, principalmente por se tratar de um musical que, consequentemente, faz com que tudo pareça um conto de fadas do século 19 onde, embora haja inúmeras dificuldades na trajetória que ele teve, há esperança de que no final, tudo vai dar certo.


Assim, vamos acompanhando a história de P.T., que era um garotinho pobre e sem perspectiva, apaixonado por Charity, uma garota de classe social bem superior a sua, com o sonho de melhorar de vida para poder se casar com ela, seu grande amor. Agora, depois de adulto, ele enfim se casa com ela, mas por não ter condições financeiras, a família vive cheia de dificuldades e apertos até ele ter a ideia de criar o espetáculo com apresentações musicais, com direito à atrações únicas que ele passa a recrutar, como a mulher barbada, acrobatas, albinos, siameses, o homem mais gordo do mundo, e afins, que juntos trazem uma diversidade étnica sem igual que, querendo ou não, não deixa de ser uma forma de representatividade muito bacana.


Mas, mesmo que o filme reforce que deve-se seguir o coração, lutar incansavelmente para alcançar os sonhos, e que, por mais que a vida seja difícil, no final haverá uma recompensa, o que se sobrepõe é a ideia de que a sociedade trata as pessoas com alguma diferença com desprezo, a ponto de elas viverem às margens e serem excluídas, ofendidas e até atacadas. Qualquer semelhança com a realidade da nossa atualidade não é mera coincidência.



O problema maior é que a mensagem sobre a luta contra o preconceito fica explícita e, até certo ponto, é muito bonita e emocionante, mas não há profundidade alguma nos personagens e a história é tão superficial e foca tanto no conto de fadas e do felizes para sempre, que chega a dar dó. São personagens interessantes, que parecem ter uma bagagem de vida sofrida e que renderiam camadas incríveis, mas que não foram trabalhados para que os conhecêssemos mais a fundo e sentíssemos mais empatia por cada um deles. Alguns até que mostram de onde vieram ou como chegaram no espetáculo, como é o caso da mulher barbada ou do anão que quer ser general, mas os outros só estão lá pra preencher a "vaga" e nada mais. Ninguém sabe de onde vem, o que fazem, como, quando, porquê... Só sabemos que são diferentes e que sofrem com o preconceito da sociedade, e procuraram refúgio no circo, onde, enfim, se sentiram em casa com seus "iguais".


A questão do romance e dos dramas é até bem trabalhada, e em alguns pontos dá pra se emocionar, pois fala do amor verdadeiro de uma forma bem direta e bonita. P.T. Barnum, a fim de dar uma vida melhor pra sua esposa e suas filhas, se concentra exclusivamente no trabalho e deixa a família de lado, e sua ausência devido ao trabalho constante acaba interferindo naquilo que ele construiu e sonhou, colocando seu próprio casamento em risco, logo fica no ar a questão do trabalho vs família, e que é preciso conciliar as coisas pra haver equilíbrio, afinal, não adianta nada conquistar tudo e viver uma vida de luxo quando o sentimento de solidão de uma das partes toma conta.


Phillip Carlyle (Zac Efron) também é um personagem que acrescenta bastante, pois ele já vem de uma família abastada e jamais poderia colocar sua reputação em risco, mas resolve abrir mão de tudo para seguir o que o faz feliz, incluindo se envolver com Anne Wheeler (Zendaya). O relacionamento não tem muita profundidade, mas também serve pra mostrar o preconceito não só da sociedade, mas da própria família. Naquela época quase ninguém se casava por amor, e os casamentos costumavam ser arranjados entre as famílias de mesma classe social, logo um rapaz branco e rico se envolver com uma moça pobre e negra era inaceitável, praticamente repulsivo. E os dois mostram que é possível, sim, superar esse tipo de barreira, desde que enfrentem tais imposições absurdas com força e coragem. No final, o amor sempre fala mais alto.

A trilha sonora acaba sustentando boa parte dessa atmosfera "mágica", e por mais que a coreografia e o estilo musical não tenham nada a ver com o estilo da época que a história se passa, elas fazem sentido de acordo com os propósitos dos personagens, e sempre trazem letras cheias de significado e que tem a ver com a situação enfrentada pelos personagens. E nem preciso dizer que This is Me, cantada por Keala Settle (que interpreta Lettie Lutz, a mulher barbada) é aquele tipo de música que a gente ouve e não pára de cantar nunca mais, tanto pela canção ser envolvente e quanto pela letra ser inspiradora e cheia de empoderamento sobre autoaceitação.



No mais, mesmo que eu não seja fã de musicais (e tenha achado que Hugh Jackman, como cantor, passaria fome), O Rei do Show passa uma mensagem muito legal sobre superação diante de uma sociedade excludente e que oprime as diferenças, além de abordar temas como amizade, amor e superação de forma simples e direta, mesmo que bastante superficial.

Na Telinha - Inacreditável

16 de setembro de 2019

Título: Inacreditável (Unbelievable)
Temporada: 1 | Episódios: 8
Distribuidora: Netflix
Elenco: Kaitlyn Dever, Merritt Wever, Toni Collette, Danielle Macdonald
Gênero: Drama/Policial
Ano: 2019
Duração: 45min
Classificação: +16
Nota: ★★★★★
Sinopse: Uma jovem é acusada de falsa denúncia de estupro. Anos depois, duas investigadoras encaram casos assustadoramente parecidos.

Inacreditável é uma minissérie cujo roteiro foi uma adaptação bem fiel do livro Falsa acusação: Uma história verdadeira (publicado pela Editora Leya), baseado numa história real. Ela conta os detalhes da injustiça sofrida em 2008 por Marie Adler, uma jovem de dezoito anos que decide denunciar ter sido vítima de um estupro, mas além de ter sido desacreditada pela policia e por pessoas próximas, ainda foi levada a mudar seu depoimento inicial como se ela estivesse mentindo, e depois foi processada por falta acusação. Três anos depois, outro caso de estupro bem semelhante ao de Marie foi denunciado por outra jovem, mas agora, com Karen Duvall - uma mulher - a frente do caso, tudo é tratado de forma bem diferente. Durante as investigações, Karen encontra um padrão e acaba sendo levada a outros casos parecidos que ocorreram em outros distritos, e assim ela une forças com a investigadora Grace Rasmussen numa tentativa de não só descobrirem quem é o maníaco a solta que anda atacando mulheres, como também dar apoio às vítimas que carregariam as sequelas desses ataques para o resto de suas vidas.


Com um tema tão delicado sendo abordado, é impossível assistir à minissérie sem sofrer junto com as personagens, seja pela forma como elas lidam com essa tragédia, ou como as pessoas reagem a isso.
Marie Adler, que sempre viveu em lares adotivos, já não tinha uma vida muito fácil. Ela sempre foi uma garota introspectiva, sem muitos amigos e sem ter com quem contar. Com a agressão que sofreu, ela fica totalmente abalada, mas em vez de receber apoio, só recebe críticas, julgamentos e questionamentos acerca de seu depoimento que, pra polícia, "não faz sentido". Os investigadores não tem pistas do agressor, não há testemunhas, eles ficam insistindo a todo momento para que ela repita o mesmo relato por incontáveis vezes em busca de inconsistências - mas fazendo com que ela reviva aqueles momentos pavorosos em sua cabeça -,sua mãe adotiva a condena por ter um comportamento inadequado fazendo comentários desnecessários e levantando dúvidas diante dos investigadores sobre que tipo de garota ela é, ela passa por diversos procedimentos e exames médicos incômodos e invasivos em busca de provas, mas a única coisa que ela queria era que tudo aquilo acabasse. Mas, por sua reação ter sido considerada "inadequada", os policiais, totalmente incompetentes e sem terem a menor ideia do que fazer para pegar o criminoso por não haver pistas, começam a pressioná-la para que ela confesse que tudo não passou de invenção, que ela só fez aquilo para chamar atenção, e assim eles pudessem encerrar o caso. E Marie, acaba cedendo à pressão. Com isso ela passa a ser evitada por amigos por causa de sua "mentira", começa a ter problemas no trabalho, pensa em suicídio, suas feições mudam e a dor, a impotência e a apatia ficam estampadas em seu rosto, ela precisa se mudar de casa pra tentar se afastar dos julgamentos alheios, se sente perseguida e insegura a todo momento, sofre com as notícias sobre sua falsa acusação na mídia, e sua vida, além de ter ficado marcada pra sempre devido a agressão, ainda vira um verdadeiro inferno.


Em contrapartida, o tom dos episódios é bastante diferente quando são as mulheres que estão liderando as investigações dos demais casos de estupro. A sensibilidade em conversar com as vítimas, lhes dando tempo e compreendendo que cada uma reage de uma forma, e sem duvidar da palavra delas em momento algum, independente de quem sejam, mostra que só as mulheres realmente entendem o que é passar por algo do tipo. O empenho delas durante as investigações é incrível, e por mais que seja um trabalho muito exaustivo e que faz com que elas abram mão de boa parte de suas vidas sociais, mostra que a ideia é ajudar as mulheres a se sentirem mais seguras ao tirar esse maníaco de cena para que ele não faça mais vítimas. E, nesse caso, as vítimas não seguiam um padrão. Foram mulheres mais novas ou mais velhas; negras, ou brancas; gordas ou magras... não importava quem fosse, desde que ele pudesse estar no controle as tratando como presas, e cada uma lidou de forma diferente com o ocorrido. É impossível não ficar agoniada torcendo para que o canalha seja encontrado logo e apodreça atrás das grades para pagar por tudo o que fez a elas.


No desenrolar na série, mesmo que não seja o foco, há várias cenas e diálogos que levantam reflexões, apontando casos como exemplo em que há mulheres que só querem prejudicar o homem com quem se envolveram e o acusam falsamente, enfraquecendo o movimento ou fazendo com que a polícia perca tempo com mentiras, enquanto casos de verdade são desacreditados ou não tratados por causa desses outros. Porém, dentro do contexto da série, são informações dadas por homens, esses machistas idiotas e depravados que acham que se a mulher é estuprada foi porque ela "mereceu", porque se comportou de forma "imprópria", porque bebeu demais, porque se vestiu de forma "inadequada", e coisas do tipo. E é triste saber que também há mulheres que tem o mesmo pensamento, e a mãe adotiva de Marie é exemplo disso. Logo, fica claro que quando são homens que estão a frente do caso, o crime não é tratado da forma que deveria ser e muitas vezes em vez de ajudar, só piora tudo.


O único ponto que eu cheguei a considerar negativo na minissérie, foi alguns diálogos com exposições baratas contendo explicações para alguns procedimentos investigativos. Não sou nenhuma crítica de cinema profissional, mas eu reparo em várias coisas que podem ser consideradas "técnicas" e que acabam interferindo na minha experiência. O que quero dizer com isso é que alguns diálogos servem para que as personagens expliquem, por exemplo, o que é ou como funciona algum tipo de teste, exame, ou o que quer que seja que a policia faça na tentativa de identificar um suspeito, porém, essas explicações são dadas dentro de um contexto onde as personagens, que já são profissionais, não precisariam de explicações pois já sabem como funciona. Quem precisa de explicações é o público, logo essas informações poderiam ser dadas de forma diferente, para um personagem que não tivesse ligação com o trabalho da polícia ou que não tenha conhecimento sobre aquilo para que essas informações tenham uma verdadeira utilidade e a cena pareça mais crível.


No mais, a minissérie é excelente e muito realista, daquelas que mexem com nosso psicológico por dias a fio. A forma como as investigações são conduzidas até conseguirem chegar ao criminoso (com muita dificuldade por sinal) é genial, e a ligação que Marie tem com as investigadoras ao final é emocionante e recompensadora. Tudo mostra que quando são mulheres fazendo um trabalho para mulheres, as coisas mudam de figura e funcionam como deveria, pois só uma mulher consegue se colocar no lugar de outra e imaginar o que esse tipo de trauma pode causar. Pode ser um pouco difícil, doloroso e revoltante acompanhar os episódios, vendo as injustiças sofridas por Marie e como as vítimas tiveram suas vidas marcadas por essa tragédia, mas talvez seja necessário pra que muitas pessoas, inclusive homens, consigam enxergar o quanto esse trauma é devastador na vida da vítima.

Na Telinha - Big Little Lies (2ª Temporada)

21 de agosto de 2019

Título: Big Little Lies
Temporada: 2 | Episódios: 7
Distribuidora: HBO
Elenco: Reese Whiterspoon, Nicole Kidman, Shailene Woodley, Laura Dern, Zoë Kravitz, Meryl Streep
Gênero: Drama/Suspense
Ano: 2019
Duração: 52min
Classificação: +16
Nota: ★★★★☆
Sinopse: As Cinco de Monterey precisam enfrentar as consequências de manter o grande segredo sobre o assassinato mas tudo se torna mais complicado com a chegada de Mary Louise (Meryl Streep), a mãe de Perry, que está determinada a descobrir o que realmente aconteceu com o seu filho.

Embora o livro no qual a série homônima tenha se baseado seja único, o universo e as personagens femininas criados por Liane Moriarty era intrigante demais pra ter acabado alí. Assim, quando a HBO anunciou uma segunda temporada para dar continuidade à história, eu logo me empolguei.


Agora, as Cinco de Monterrey, Madeleine, Celeste, Jane, Bonnie e Renata, estão de volta não só para mostrar mais de suas vidas (im)perfeitas e como elas estão lidando com o segredo da morte de Perry, como também introduzir Mary Louise Wright (interpretada por Maryl Streep), a mãe do falecido que não está sabendo lidar com a morte do filho e acaba sendo um tipo de "vilã" da série, sendo invasiva, inconveniente, e atormentando a vida de todo mundo. Se na primeira temporada tivemos um foco maior sobre os dilemas do trio Madeleine, Celeste e Jane, aqui, embora Celeste ainda tenha seu espaço (devido a ligação maior com a sogra), os maiores destaques ficam com Renata, Bonnie e a própria Mary Louise.


O espectador se vê em meio a uma trama envolvendo o segredo e as mentiras acerca da morte de Perry, mas o que acaba se sobrepondo é a raiva e o incômodo que Mary Louise nos causa com suas intromissões e falta de noção ao invadir a vida de Celeste e seus filhos, ou tentar bater de frente com as outras mulheres que não abaixam a cabeça pra ninguém.

Madeleine continua tentando reconstruir seu casamento e recuperar a confiança do marido, mostrando seu lado mais humano, e Jane segue tentando ser uma boa mãe para seu filho enquanto tenta investir num novo relacionamento, apesar de ainda carregar o trauma do estupro e não conseguir se soltar.


O passado trágico de Bonnie começa a ser revelado, mostrando que ela sofreu alguns abusos psicológicos e físicos cometidos pela própria mãe, e agora ela não só tenta lidar com a mágoa que ela sente, como também com a culpa que carrega por ter se envolvido diretamente com a morte de Perry.
Renata, que antes apareceu só como uma excêntrica advogada bem sucedida e que tenta compensar sua ausência dando tudo do bom e do melhor para sua filha, agora tem a vida mais abordada e seu relacionamento com o marido é pra matar qualquer um de desgosto. Não por não ter sido bem construído, muito pelo contrário, mas por mostrar o quão tóxico e oportunista esse homem foi, fazendo besteiras atrás de besteiras, a ponto de levar a família à falência e levar Renata a loucura.


Cega pelo luto e inconformada com a morte do filho que ela pensava ser um exemplo de bom homem e marido, Mary Louise não acredita que a morte dele tenha sido mero acidente e quer provar isso pra polícia, e, com seus pensamentos machistas, tenta encontrar no comportamento de Celeste justificativas para provar que ela não é boa mãe, que não é capaz de criar os próprios filhos, que ela mentiu sobre as violências que sofria, e ainda se acha no direito de julgar todo mundo com quem se depara da forma mais asquerosa que se possa imaginar, principalmente Jane, cujo filho foi fruto do estupro cometido por Perry no passado.


No mais, a série serviu para matarmos a saudade de Monterrey, e compreender um pouco mais das personagens através da forma como elas estão seguindo com a vida e lidando com segredos e problemas. Talvez a série pudesse ter sido mais enxuta a fim de evitar enrolação em cenas desnecessárias até que chegasse o final realmente empolgante, onde esperei ansiosamente por Mary Louise ter algum tipo de castigo digno, ou uma redenção. Mas, no fim das contas, posso dizer que embora tenha seus defeitos, a série foi muito boa de se acompanhar, seja pelas excelentes interpretações de todo o elenco, pela trilha sonora maravilhosa, pela forma de se conduzir os dramas (de forma direta ou através de cenas abstratas que sugerem algo que não se concretiza), ou pela curiosidade de saber mais sobre a vida cheia de altos e baixos dessas mulheres tão marcantes.