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O Chamado de Cthulhu e outras histórias - H.P. Lovecraft

28 de dezembro de 2019

Título: O Chamado de Cthulhu e outras histórias - Biblioteca H.P. Lovecraft #1
Autor: H.P. Lovecraft
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Horror/Contos
Ano: 2019
Páginas: 448
Nota:★★★★★
Sinopse: Nascido em 1890, Howard Phillips Lovecraft revolucionou o gênero literário do horror ao inserir em suas histórias elementos típicos da fantasia e da ficção científica. Com um estilo de escrita único, por vezes de vocabulário e ortografia conservadores, Lovecraft elevou o terror a um patamar literário poucas vezes visto. Assim como Edgar Allan Poe no século XIX, Lovecraft é visto por autores como Neil Gaiman, Joyce Carol Oates e Stephen King como um dos principais autores de terror do século XX.
Neste primeiro volume da série "Biblioteca Lovecraft", traduzida e organizada por Guilherme da Silva Braga, encontramos textos clássicos como "O chamado de Cthulhu" e "A sombra de Innsmouth", e também textos menos conhecidos como "Dagon" (espécie de breve preâmbulo aos mitos de Cthulhu).

Resenha:  Nascido em 1890 e falecido em 1937, H.P. Lovecraft é considerado um dos principais autores do gênero de terror, reunindo não só admiradores de suas obras, como também inspirando autores de renome da literatura em todo o mundo. Neste primeiro volume da série "Biblioteca Lovecraft", encontramos dez textos clássicos do autor traduzidos e organizados por Guilherme da Silva Braga: Dagon, Ar frio, O modelo de Pickman, A música de Erich Zann, O assombro das trevas, O chamado de Cthullu, O horror de Dunwich, A sombra vinda do tempo, A casa temida, e A sombra de Innsmouth.

Os contos são curtos, alguns são narrados em primeira, e outros em terceira pessoa. Alguns inclusive parecem ter uma ligação com outros devido a algumas referências, e acabam se complementando ou preparando o leitor para algo que está por vir. Utilizando de uma escrita rebuscada, mas ainda assim um tanto fluída e cheia de detalhes e descrições minuciosas, é impossível desgrudar da leitura, mesmo que alguns trechos causem um enorme desconforto devido às descrições ora bizarras, ora sugestivas, ou ora assustadoras, mas que são capazes de despertar muita admiração e curiosidade em quem lê. Eu confesso que ainda não tinha tido oportunidade de ler nada do autor até então, mas posso dizer que o livro superou minhas expectativas pois foi bem além do que esperava encontrar.

Para os fãs do mestre do horror cósmico, ou pra quem gosta de contos de terror bizarros que se misturam com fantasia, é leitura mais do que indicada. Essa edição em particular, com capa dura e excelente diagramação é obra digna de se manter na coleção, pra ser lida e relida.

Abaixo um resumo do que se trata os contos do autor:

A Terra Inabitável - David Wallace-Wells

2 de setembro de 2019

Título: A Terra Inabitável
Autor: David Wallace-Wells
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Não ficção
Ano: 2019
Páginas: 384
Nota: ★★★★☆
Sinopse: É pior, muito pior do que você imagina. O ritmo lento atribuído à mudança climática é um mito; talvez tão pernicioso quanto aquele que nega sua existência por completo. Mortes por calor, fome, enchentes, queimadas, queda da qualidade do ar, desertificação, colapso econômico... Essa é só uma amostra do que está por vir. E a mudança acontecerá muito rápido. Se não revolucionarmos por completo o modo como vivem bilhões de seres humanos, partes extensas do planeta se tornarão inabitáveis, e outras serão inóspitas, ao fim deste século que vivemos.
Nesta projeção do nosso futuro próximo, David Wallace-Wells joga luz sobre os problemas climáticos que nos aguardam: falta de alimentos, emergências em campos de refugiados, enchentes, destruição de florestas e desertificação do solo. Mas ele também fala de mudanças políticas e culturais que afetarão o mundo ainda neste século ― uma mudança radical na forma como entendemos a vida. A Terra Inabitável é uma história da devastação que trouxemos a nós mesmos, e também um chamado à ação.

Resenha: Em tempos de aquecimento global, desmatamento desenfreado, mudanças climáticas drásticas e ouras atrocidades que o homem comete contra o meio ambiente, A Terra Inabitável, escrito por David Wallace-Wells e publicado pela Companhia das Letras no Brasil, mostra a gravidade da situação de forma lírica e objetiva, mas ao mesmo tempo aterrorizante.

O autor aborda de forma bem didática, e um tanto alarmista, o que está acontecendo, como o problema afeta os países e o que pode resultar, quais as estratégias e medidas políticas estão sendo tomadas pelos governantes mais poderosos com relação aos problemas climáticos, por que os o projeto de ser humano continua destruindo tudo sem se importar com o futuro sombrio que o reserva, e o quê, a curto ou longo prazo, poderá ser desencadeado, nos levando por todas as catástrofes que, mais cedo ou mais tarde, irão condenar toda forma de vida e arrasar o planeta. Porém, por mais sério e convincente que ele possa ser, ele frisa bastante que seus apontamentos ainda são especulações.

Durante a narrativa, que acaba sendo bastante repetitiva, o autor expõe os fatores que estão desencadeando esse desastre global, que está ocorrendo mais rápido do que pensamos, e se concentra nas consequências de se viver num planeta que estará em risco, praticamente devastado, até o ano de 2100, enquanto as pessoas seguem complacentes e incapazes de enxergar o que está diante nos próprios olhos, mesmo que isso signifique que o futuro esteja destinado a ser um caos completo. O problema irá aumentar e se desenvolver cada vez mais, e daqui a algumas poucas décadas se tornará a realidade para os que estiverem começando a entender o mundo: os filhos dos nossos filhos, e seus filhos...

É impossível terminar esse livro sem ficar em choque, ou não se preocupar que a mudança é urgente e que cada um precisa fazer sua parte. Porém, o autor não traz soluções ou ideias do que pode ser feito, e nem toma a ciência como base para sua narrativa. São somente avisos e previsões do que poderá vir a acontecer daqui uns oitenta anos, e isso, em alguns momentos, pode ser um pouco desanimador pelo fato de que se não pudermos fazer nada pra impedir esse fim do mundo, então não adianta muito nos preocuparmos, até mesmo por que é perfeitamente possível que até lá alguma tecnologia nova possa ser desenvolvida para auxiliar nessas questões.

Mas apesar de pessimista, acho que a leitura é super válida. Se você não tem ideia da gravidade da situação, ler esse livro é um bom ponto de partida. É impossível não ter uma visão clara de um futuro apavorante que ninguém quer ter, mas que ninguém parece se importar em mudar...

Novidades de Agosto - Companhia das Letras

8 de agosto de 2019

Ganhadores - João José Reis

Em Ganhadores, o historiador João José Reis reconstitui a história dos negros de ganho, ou ganhadores, protagonistas de uma insólita greve que paralisou o transporte na capital baiana durante vários dias em 1857.
Esses trabalhadores escravizados, libertos ou livres, todos africanos ou seus descendentes, se organizavam em grupos de trabalho e percorriam a cidade de cima a baixo fazendo todo tipo de serviço, sobretudo o carrego de pessoas e objetos ou a venda de alimentos e outras mercadorias. Em 1857, porém, a Câmara Municipal baixou uma postura impondo-lhes medidas que combinavam arrocho fiscal e controle policial. Mas os ganhadores, que já viviam dia e noite sob a vigilância e a violência de autoridades, senhores e “cidadãos de bem”, não se deixariam abater. O resultado foi a primeira mobilização grevista no Brasil a paralisar todo um setor vital da economia urbana. Baseado em ampla investigação em documentos escritos, impressos e iconográficos, Ganhadores é um livro revelador e essencial para se compreender a intrincada rede de relações sociais, econômicas e culturais que estruturava a sociedade baiana do século XIX, ancorada na instituição da escravidão e caracterizada por um sistema de controle baseado numa economia de favores e domínio paternalista.
Se o episódio de resistência aqui narrado trata mais especificamente da Bahia do século XIX, ele tem muito a dizer sobre as relações e opressões sociais e raciais no Brasil de hoje.

Hoje Estarás Comigo no Paraíso - Bruno Amaral

Neste poderoso romance autobiográfico, Bruno Vieira Amaral apaga a fronteira entre realidade e ficção e faz da literatura o instrumento para reconstituir um episódio de sua infância: o assassinato de seu primo João Jorge, em 1985, num bairro de uma periferia de Portugal. Ao rememorar o vilarejo em que cresceu, a relação com o pai ausente e o peso de nossa herança familiar, ele destrincha não apenas os acontecimentos relacionados ao crime, mas também os elementos que constituem sua própria história.
Um verdadeiro elogio ao poder da linguagem, este livro ultrapassa a investigação factual ao trazer à tona um narrador observador e inquieto, sempre desconfiado das artimanhas da memória.

A Fúria - Silvina Ocampo

Finalmente vemos chegar ao Brasil um livro de Silvina Ocampo, que está entre os escritores mais surpreendentes e intensos do continente. Publicado em 1959, A fúria é considerado “o mais ocampiano” dos livros de Silvina, obra em que a autora encontra sua voz única e inaugura seu universo alucinado. “Nos seus contos há algo que não consigo compreender: um estranho amor por certa crueldade inocente e oblíqua”, escreveu o amigo Jorge Luis Borges. Saídas do que Roberto Bolaño chamou de “uma limpa cozinha literária”, suas histórias misturam elegância e excesso, distanciamento e intensidade, calma e horror. Há a influência macabra que a antiga dona de uma casa exerce na nova inquilina (“A casa de açúcar”, o conto favorito de Julio Cortázar); adivinhos e premonições (“A sibila” e “Magush”); amores loucos (“A paciente e o médico”); a festa de aniversário de uma jovem paralítica (“As fotografias”); e uma profusão de crianças malignas, como a que incendeia cruelmente uma amiga no conto que dá título ao livro. Revalorizada com entusiasmo nos últimos anos, a literatura de Silvina Ocampo é singular, complexa, envolvente e nos convida, como poucas, à fantasia e à imaginação.

O Perigo de uma História Única - Chimamanda Ngozi Adichie

O que sabemos sobre outras pessoas? Como criamos a imagem que temos de cada povo? Nosso conhecimento é construído pelas histórias que escutamos, e quanto maior for o número de narrativas diversas, mais completa será nossa compreensão sobre determinado assunto.
É propondo essa ideia, de diversificarmos as fontes do conhecimento e sermos cautelosos ao ouvir somente uma versão da história, que Chimamanda Ngozi Adichie constrói a palestra que foi adaptada para livro. O perigo de uma história única é uma versão da primeira fala feita por Chimamanda no programa TED Talk, em 2009. Dez anos depois, o vídeo é um dos mais acessados da plataforma, com cerca de 18 milhões de visualizações.
Responsável por encantar o mundo com suas narrativas ficcionais, Chimamanda também se mostra uma excelente pensadora do mundo contemporâneo, construindo pontes para um entendimento mais profundo entre culturas.

A Vida de Vernon Subutex - Volume 1 - Virginie Despentes

Vernon Subutex faz parte de uma espécie em vias de extinção: dono de uma loja de vinis, aproveitou tudo o que os anos anteriores tinham a oferecer — sexo, drogas e rock ‘n’ roll estão no seu sangue. Mas agora, nos inóspitos anos 2000, ele precisa enfrentar um novo mundo: sua loja já não vende mais o suficiente para que ele consiga sobreviver, a maioria dos seus amigos já morreu e Alex Bleach — músico de sucesso que sempre o ajudou em suas crises — acaba de ser vitimado por uma overdose.
Sem emprego, sem casa e sem amigos, Vernon passa a viver nas ruas de Paris. Ele já não consegue mais pagar um plano de internet, e por isso não sabe que, graças a um comentário deixado no Facebook, todos estão à sua procura.
Com a sorte prestes a mudar, Vernon se vê enredado numa trama de estrelas pornô, fãs enlouquecidos e magnatas da indústria fonográfica. Todos tentam sobreviver na selva da cidade grande, enquanto mantêm um pouco de seu coração intacto — nem que seja através de um pouco de loucura.

Origens - David Christian

Como passamos do big bang à complexidade impressionante de hoje, em que 7 bilhões de seres humanos estão conectados por redes poderosas o suficiente para transformar o planeta?
David Christian oferece essas respostas com uma saborosa narrativa cosmológica que amplia nossos horizontes, contada na maior escala possível. Criador do projeto Big History, que tem Bill Gates como um de seus grandes apoiadores, ele traça como, em oito momentos fundamentais, as condições certas permitiram que novas formas de complexidade surgissem — das estrelas às galáxias, da Terra ao Homo sapiens, da agricultura aos combustíveis fósseis. Esta última grande inovação nos deu uma bonança energética que trouxe enormes benefícios para a humanidade, mas que também ameaça abalar tudo o que criamos.
Com um escopo panorâmico e uma narrativa cativante, Origens revela o que podemos aprender sobre a existência humana quando a consideramos a partir de uma escala universal.

A Noite dos Olhos - Heloisa Seixas

Ao longo de sua carreira, Heloisa Seixas transitou com habilidade pelos mais diversos gêneros literários. Após publicar dois romances em sequência — O oitavo selo e Agora e na hora —, a escritora carioca volta às formas breves, que marcaram sua estreia na literatura, com este volume de contos.
Em A noite dos olhos, Heloisa explora diferentes narradores, estilos e cenários para retratar situações ora cotidianas, ora inesperadas. Embora independentes, essas histórias têm em comum uma prosa apurada, e se aproximam por fios invisíveis.
Entremeadas aos dezesseis textos mais longos, o livro inclui duas seções de microcontos que transmitem toda a potência do gênero em sua forma mínima. Fruto de pleno domínio dos artifícios da ficção, esta é uma coleção de narrativas inquietantes, capaz de capturar o leitor do início ao fim.

Do que é Feita Uma Garota - Caitlin Moran

3 de abril de 2019

Título: Do que é Feita Uma Garota
Autora: Caitlin Moran
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Romance
Ano: 2015
Páginas: 390
Nota:★★★★★
Sinopse: “Wolverhampton, em 1990, parece uma cidade a que algo terrível aconteceu.”
Talvez tenha acontecido de fato. Talvez seja o governo de Margaret Thatcher, talvez seja a vergonha que Johanna Morrigan passou num programa da TV local aos catorze anos. Imitar o Scooby Doo ao vivo foi uma péssima ideia. A narradora percebe que não faz mais sentido seguir como Johanna e decide se reinventar como Dolly Wilde - heroína gótica, garota "roqueira e beberrona", loquaz e Aventureira do Sexo, que salvará a família da pobreza com sua literatura. Como Jo de Mulherzinhas ou as irmãs Brontë, tirando a morte precoce.
Aos dezesseis anos, Dolly já fuma, bebe, trabalha para uma revista de música, manda cartas pornográficas para rock stars, transa com todo tipo de homem e ganha por palavra que escreve para destruir uma banda. Mas e se Johanna tiver feito Dolly com as peças erradas? Afinal, ser[a que uma caixa cheia de discos, uma parede cheia de pôsteres e uma cabeça cheia de livros são suficientes para se fazer uma garota?
Recheado de saborosas referências da cultura pop e do cenário indie dos anos 1990 da Inglaterra, Do que é feita uma garota é um romance hilário, picante e mordaz, que retrata com primor a iniciação de uma garota no universo adulto. 

Resenha: Década de 90, Wolverhampton, Inglaterra. Johanna é uma adolescente de quatorze anos que, para sua total falta de privacidade, divide o quarto com os irmãos, ajuda a mãe a enfrentar uma depressão pós parto de gêmeos, e espera que o pai, que trabalha na indústria musical, em breve vai conseguir tirar a família do buraco. Mas devido a pouca idade, Johanna acredita mesmo que o pai vai ter algum sucesso, como se a fase ruim em que a família se encontra fosse algo passageiro, e que não iria demorar para que as promessas dele de uma vida melhor logo iriam se concretizar. Mas, quando ela percebe que a ruína está muito mais próxima do que o dinheiro e a "glória eterna", Johanna decide que precisa fazer alguma coisa pela família e por si mesma.

Então, depois de ouvir todos os discos indies possíveis, sob o pseudônimo de Dolly Wilde, Johanna começa a ganhar dinheiro para fazer resenhas negativas de bandas locais para uma revista nacional, e aos dezessete anos ela se tornou uma garota totalmente diferente daquela de quatorze da qual ela costumava ser. Ela entende muito de música, fuma feito uma chaminé, bebe igual um Opala, ganhou fama de encrenqueira e dorme com qualquer cara que aparece. É a típica "riot grrrl", sexo, drogas e rock'n roll. No início ela acreditava que esse era o tipo de pessoa que ela deveria ser, mas a medida que o tempo passa, ela percebe que Dolly talvez não corresponda exatamente com quem ela é, de fato.

Sabe aquele tipo de livro que você fica interessada logo quando vê que foi lançado, mas fica adiando a leitura eternamente sem nenhum motivo aparente e quando, enfim, pega pra ler, se arrepende até a alma por não ter lido antes? Pois é...
Do que é Feita Uma Garota é narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Johanna e, ao longo da trama, ela vai construindo Dolly aos poucos, mas a partir daí descobre mais sobre si mesma com as experiências que tem, sua sexualidade, suas preferências, assim o que é preciso para se reinventar.

Assim, com toques muito bem humorados, alguns palavreados bem colocados pro estilo de narrativa, e usando elementos que se remetem à música underground dos anos 90, a autora desenvolve a história com muita naturalidade pela ótica de uma adolescente bastante precoce com seu jeito próprio, ingênuo, positivo e peculiar de enxergar o mundo, e como ela lida com as mais diversas situações que aparecem em cada momento de altos e baixos nessa fase de sua vida.
Através de Johanna/Dolly, a autora aborda temas como a descoberta da sexualidade, da importância da família, do primeiro amor, de adquirir responsabilidades e como todos esses elementos são responsáveis por construir uma pessoa e determinar quem ela poderá vir a ser no futuro, e tudo isso levando em consideração que as mudanças são constantes, mas a essência de cada um permanece.
Embora ela seja adolescente, foi bem bacana acompanhar sua forma de agir, de pensar e de resolver as coisas, pois ela arrisca, aprende com os erros - e não são poucos - e não desiste. Talvez devido a pouca idade que ela tem, é um pouco desconfortável acompanhá-la vivendo uma vida tão "desregrada", cheia de vícios, com uma vida sexual mais ativa do que podemos imaginar, se perdendo nos próprios devaneios, contando mentiras e se metendo em confusões, mas são esses os fatores que a tornam uma garota real, é o que faz dela quem ela é, com algumas virtudes, sim, mas também com muitos defeitos. Em vários momentos, ela se sente confusa por não saber exatamente o que está acontecendo ao ser redor, mas o aprendizado é a lição mais importante.

Johanna questiona várias questões machistas e estereótipos impostos pela sociedade, não concorda com a ideia de os meninos terem mais liberdade pra determinadas coisas do que as meninas, de os homens poderem fazer tudo e se as mulheres fizerem o mesmo, serão recriminadas.

Me arrisco a dizer que esse livro vai fazer com que muitas mulheres adultas se identifiquem com a protagonista pelo lado dos dilemas adolescentes, pelo ponto em que enquanto somos adolescentes nos sentimos confusas, descrente ou iludidas com os garotos, mutas vezes injustiçadas, e acreditamos sermos donas da razão em assuntos que não compreendíamos totalmente, mas hoje, ao olharmos pra trás, percebemos o quanto fomos ingênuas e bobas (no bom sentido da coisa) e que tínhamos um longo caminho para aprendermos muito do que a vida ensina, e ainda vai ensinar.

Embora seja trabalhado com muita sutileza, é possível perceber que a autora também inseriu o feminismo como tema na trama, e a história acabou tendo um significado ainda mais relevante e não deixa de trazer várias reflexões. A postura de Johanna frente aos homens em alguns pontos é ridícula e questionável nos dias de hoje, principalmente por ela passar um bom tempo tentando agradá-los acompanhando o comportamento da sociedade da época. Pensamentos como "se a garota tem uma vida sexual ativa, é vadia; o sexo é uma via de mão única, e o que realmente importa é a satisfação masculina; garotas gordas são encalhadas", são algumas das ideias expostas que permeiam a trama e, assim como fizeram a protagonista questionar, vão nos fazer questionar e refletir sobre os "privilégios" dos homens e o quanto as mulheres acreditavam que esse tipo de coisa era normal e aceitável, coisa que já está sendo desconstruída na atualidade, graças a Deus.

Pra quem aproveitou os anos 90 e sente falta da época, ou tem curiosidade pra saber ou relembrar como as pessoas aproveitavam a vida antes do boom da internet e das redes sociais, é leitura mais do que recomendada.

Novidades de Julho - Grupo Companhia das Letras

16 de julho de 2018

Companhia das Letras

A um passo - Elvira Vigna
Considerada uma das maiores escritoras brasileiras contemporâneas, Elvira Vigna costumava declarar que A um passo era seu romance preferido. O livro fragmentado e bastante experimental foi publicado originalmente em 1990, com o título A um passo de Eldorado, e depois teve uma nova edição, com uma série de mudanças — inclusive o título —, em 2004. A obra é pouco conhecida e passou despercebida pela imprensa à época, razão pela qual Vigna dizia tê-la como favorita.
Nos capítulos curtos, cada personagem conta a história do outro, tornando explícita as dificuldades do próprio narrar. Há um suposto crime de assassinato, em que dois amantes estariam envolvidos, e a vingança por um abuso sofrido na infância, mas são o banal e o cotidiano que irão fornecer a matéria para construir uma recusa da lógica previsível das coisas. Com sua típica ironia mordaz, a autora de Nada a dizer e Como se estivéssemos em palimpsesto de putas constrói a trama como um jogo de xadrez inusitado e fascinante.

Ciência na Alma - Richard Dawkins
Apesar de abarcar três décadas de produção escrita, este livro não poderia ser mais atual e urgente, num mundo cada vez mais irracional e hostil aos fatos. Já na sua introdução apaixonada, Richard Dawkins faz um alerta insistindo para que a razão volte a ser protagonista e que os sentimentos — mesmo aqueles que não representam coisas abjetas como a xenofobia, a misoginia e outros preconceitos — fiquem de fora das escolhas eleitorais. Em mais de quarenta ensaios, artigos, palestras e cartas, recentemente revistos pelo autor, são escrutinadas uma série de questões, entre elas a importância das evidências empíricas, e há uma crítica enfática da má ciência, da presença da religião nas escolas e de movimentos como os que negam a gravidade das mudanças climáticas. Com o ardor de sempre, o cientista defende “a verdade sagrada da natureza” e homenageia as glórias e as complexidades do mundo natural com seu virtuosismo típico.
Neste momento em que pessoas nos altos cargos dos governos questionam a evolução, Dawkins se pergunta o que Darwin pensaria de seu próprio legado e celebra a ciência, que possui muitas virtudes das religiões, mas está livre do lado negativo da superstição e do preconceito.

Dinheiro, Eleições e Poder - Bruno Carazza
Especialista em direito e economia, Bruno Carazza criou uma metodologia original para destrinchar as engrenagens do sistema político brasileiro. Para escrever Dinheiro, eleições e poder, ele compilou e cruzou um volume imenso de dados sobre doações de campanhas eleitorais, tramitação de projetos, votações e atuação parlamentar, que são contextualizados por fragmentos das delações premiadas e dos depoimentos de testemunhas ouvidas nas várias fases da Operação Lava Jato e do julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE.
O autor mostra como o perfil do financiamento eleitoral no Brasil foi se concentrando em grandes doadores, que seguem uma lógica estritamente empresarial – muito mais que ideológica. Baseado em dados sobre participação em frentes parlamentares, propositura de emendas e posicionamento nas principais votações, Carazza analisa como os eleitos tendem a retribuir as doações recebidas das grandes empresas. Por fim, o autor apresenta alternativas para baratear nossas eleições, combater práticas como o “caixa dois” e diminuir a influência econômica em nossa democracia.

Mac e Seu Contratempo - Enrique Vila-Matas
Mac é um entediado homem de meia-idade, desempregado, que vive às custas da mulher, ocupando seus dias com caminhadas pelo Coyote, fictício bairro de Barcelona, e com leituras paranoicas do horóscopo — que acredita conter mensagens codificadas direcionadas a ele. Como costuma ocorrer nos romances de Enrique Vila-Matas, a única saída para o protagonista é a literatura: somente os livros podem salvar Mac desta vida. É assim que surge a ideia amalucada de tentar reescrever o primeiro livro de Sánchez, um escritor de sucesso que, por acaso, é seu vizinho. O que está em jogo aqui é a ideia de repetição, e o que Vila-Matas parece assinalar é que toda escrita é repetição e que a criação literária é sempre evocação de algo que se leu um dia. A jornada literária deste personagem quixotesco arremessará o leitor num tornado de citações e de livros dentro do livro capaz de questionar os conceitos do que é escrever (e ler) literatura nos dias de hoje.

Companhia das Letrinhas

Vamos dar a volta ao mundo? - Marina Klink
O planeta Terra é muito grande. Nele há surpresas maravilhosas como rios, mares, florestas, geleiras, desertos e polos nevados. Existe muito a ser descoberto! Durantes as viagens em família, Marina Klink sempre incentivou as filhas a se divertirem enquanto aprendem sobre o meio ambiente.
Neste livro, Marina compartilha suas experiências de viagens com o leitor, que conhecerá paisagens emblemáticas, identificando alguns dos seus habitantes. Durante a leitura, é possível descobrir como é escorregar na neve na Antártica, mergulhar numa floresta escura e conhecer os bugios; aprender a reconhecer o deserto e seus habitantes e também saber a diferença entre Auroras Austrais e Boreais.
Nesta viagem ilustrada por CárcamO, é inevitável se apaixonar pelos ecossistemas e pelas espécies do planeta e aprender de maneira divertida e instigante como é importante cuidarmos da Terra.

Poemas com Macarrão - Fabrício Corsaletti
Tomar banho de chuva, ficar descalço ou de chinelo o dia inteiro, olhar um cavalo como se fosse a coisa mais linda do mundo, se imaginar mergulhando em uma piscina cheia de sorvete… E macarrão. Comer muito macarrão!
Os poemas deste livro falam sobre essas coisas que toda criança — e adulto! — gosta de fazer. Com suas rimas criativas, o premiado poeta Fabrício Corsaletti faz uma viagem pelas melhores experiências e sabores da infância, que ganham ainda mais vida com as ilustrações de Jana Glatt.



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A Louca dos Gatos - Sarah Andersen
Os quadrinhos de Sarah Andersen são para todos que precisam lidar com níveis de ansiedade cada vez mais alarmantes, que sentem que o mundo está à beira do colapso e que se esforçam para sair ao menos um centimetrozinho da zona de conforto. Ou seja, é basicamente um manual de sobrevivência para os dias de hoje.
Além de suas tirinhas sagazes e encantadoras, a autora, que já reuniu mais de 2 milhões de fãs no Facebook, traz também ensaios ilustrados com dicas para os artistas aspirantes aprenderem a lidar com críticas, ignorarem os trolls na internet e não desistirem de mostrar seu trabalho.

Graça e Fúria - Graça e Fúria #1 - Tracy Banghart
Em Viridia, as mulheres não têm direitos. Em vez de rainhas, os governantes escolhem periodicamente três graças — jovens que viveriam ao seu dispor. Serina Tessaro treinou a vida inteira para se tornar uma graça, mas é Nomi, sua irmã mais nova, quem acaba sendo escolhida pelo herdeiro.
Nomi nunca aceitou as regras que lhe eram impostas e aprendeu a ler, apesar de a leitura ser proibida para as mulheres. Seu fascínio por livros a levou a roubar um exemplar da biblioteca real — mas é Serina quem acaba sendo pega com ele nas mãos. Como punição, a garota é enviada a uma ilha que serve de prisão para mulheres rebeldes.
Agora, Serina e Nomi estão presas a destinos que nunca desejaram — e farão de tudo para se reencontrar.

Suma de Letras

Minecraft: O Acidente - Minecraft #2 - Tracey Baptiste
Bianca nunca foi muito boa em seguir regras... Sempre impulsiva e descuidada, ela aprende do jeito mais difícil que toda ação tem uma consequência, quando junto com Lonnie, seu melhor amigo, sofre um terrível acidente de carro.
Ao acordar no hospital, paralisada pelas lesões, Bianca se vê em uma realidade com a qual não está preparada para lidar. Por isso, escolhe participar da nova versão de Minecraft e mergulhar em um mundo virtual onde todos os seus desejos estão ao alcance. Ao explorar aquele universo, ela se depara com um avatar mudo e defeituoso que acredita ser Lonnie. Então Bianca se une a Esme e Anton, outros dois jovens que jogam no servidor do hospital, para salvar seu amigo.
Mas essa jornada também tem seus perigos, e eles são perseguidos por mobs que parecem gerados por seus próprios medos e inseguranças. Agora Bianca precisa lidar com todas as incertezas que a consomem: será que Lonnie está mesmo no jogo? E será possível levá-lo de volta à vida real?

Graça Infinita - David Foster Wallace

21 de julho de 2017

Título: Graça Infinita
Autor: David Foster Wallace
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Romance
Ano: 2014
Páginas: 1144
Nota:★★★★★
Sinopse: Os Estados Unidos e o Canadá já não existem: eles foram substituídos pela poderosa ONAN, a Organização de Nações Norte Americanas. Uma enorme porção do continente se tornou um depósito de lixo tóxico. Separatistas quebequenses praticam atos terroristas e a contagem dos anos foi vendida às grandes corporações.
Graça Infinita foi o último grande romance do século XX e, como o Ulysses de James Joyce, teve um impacto duradouro e ainda difícil de ser aferido. Ora cômico, ora doloroso, ele encapsulou uma geração ligada à ironia e ao entretenimento, mas desconectada da imaginação, da solidariedade e da empatia.
No romance, seguimos os passos dos irmãos Hal, Orin e Mario Incandenza membros da família mais disfuncional da literatura contemporânea, conforme tentam dar conta do legado do patriarca James Incandenza, um cientista de óptica que se tornou cineasta e cometeu suicídio depois de produzir um misterioso filme que, pela alta voltagem de entretenimento, levava seus espectadores à inanição e à morte.
Enquanto organizações governamentais e terroristas querem usar o filme como arma de guerra, os Incandenza vão se embrenhar numa cômica e filosófica busca pelo sentido da vida. Graça Infinita dobra todas as regras da ficção sem jamais sacrificar seu próprio valor de entretenimento. É uma exuberante e original investigação do que nos torna humanos e um desses raros livros que renovam a ideia do que um romance pode ser.

Resenha: Num futuro não tão distante, EUA, México e Canadá formaram a ONAN (Organização das Nações da América do Norte), boa parte do continente (o Canadá no caso) foi destinado ao despejo de lixo tóxico e até os calendários viraram alvo de publicidade depois que a contagem dos anos se tornou um trabalho remunerado.
Tendo essa noção de cenário escatológico, o autor tece uma trama com vários núcleos de personagens que estão alí para ilustrar temas delicados e a forma como abordados, da forma mais bizarra e genial que alguém pode ter noção.
Embora exista a trama geopolítica, o que importa, de fato, é o que está acontecendo em dois lugares que ficam lado a lado: a Escola de Tênis Enfield e a Clínica de Recuperação Ennet. Na primeira, estão os jovens privilegiados socialmente, atletas cheios de talento que fazem do tênis uma oportunidade para seus futuros. Na segunda, estão os viciados que, como última esperança, agarraram a chance de tentarem se recuperar alí. E por mais que um grupo seja tão distinto do outro, todos estão em busca do sucesso no que estão fazendo.

A família Incandenza é um dos núcleos. Uma família disfuncional com membros excêntricos cujas atitudes são sempre questionáveis. James Incandenza, o patriarca alcoólatra, fundou a academia de tênis na qual seus filhos "privilegiados" estão, mas também se dedicava a ser um cineasta experimental antes de sua morte, e "Graça Infinita" foi um dos seus projetos cinematográficos inacabados. O poder de entretenimento do dito filme é tanto que passa a ser considerado uma arma cultural de massa pelos terroristas de grupos separatistas que pretendem disseminá-lo pelo mundo e acabar com os americanos, pois quem assiste fica tão vidrado na televisão que não é capaz de fazer mais nada na vida, até que morra. Daí o nome é autoexplicativo, pois a graça que as pessoas vêem naquilo, e a forma como exaltam o filme acima de qualquer coisa, não tem fim.
A busca pelo filme impulsiona a trama pois há toda uma questão que envolve a queda da ONAN, mas a família em si e a ligação entre os personagens entre os dois locais é o que a rege.

Orin, o irmão mais velho, é aquele popular jogador de futebol americano com interesses depravados que envolvem até sexo com mães. Ele acredita que mulher é um objeto que se usa e joga no lixo. Orin é odioso, mentiroso, oportunista e só pensa em si mesmo.
Hal é um superdotado chato que se deixa consumir pela alienação social e passa os dias usando drogas. Sendo o personagem principal da família, ele chama atenção pro fato do vício em drogas (Hal é um atleta, joga tênis, mas também é um maconheiro de carteirinha). O que leva alguém a usar, o que os motiva, o que esperam da vida são tratados com profundidade, assim como a overdose é descrita de forma crua e assustadora. O que ele faz e o tempo que passa se dedicando ao esquema para burlar exames antidoping chega a ser um insulto. Esses fatores levam o leitor a querer matar Hal e seus colegas (mas ainda assim levando em consideração as críticas sociais do autor), pois como alguém dotado de tanta inteligência perde tanto tempo da vida se dedicando a esse tipo de mirabolância inútil?
E Mario, o irmão do meio e, dentre todos, é o melhor personagem do livro. Ele é extremamente bondoso, é incapaz de zombar dos outros, e por mais que as pessoas sejam podres, ele procura enxergar o melhor nelas. É como se ele transparecesse exatamente aquilo que falta nas pessoas hoje em dia: a empatia.

Don Gately é um outro personagem que tem ligação com praticamente todas as subtramas do enredo, mesmo que de forma sutil ou até obscura. Ele é membro do AA (Alcoólicos Anônimos) e trabalha na casa de recuperação pra dependentes. Seu arco é aquele que mostra um pobre coitado vindo de uma família destruída que consequentemente se tornará um marginal, mas ele quer mudar, mesmo que tenha feito muitas escolhas erradas na vida. Gately inclusive é apaixonado por Joelle van Dyne, atriz que protagonizou alguns filmes de James, incluindo o Graça Infinita e está na clínica de recuperação.

A escrita é bem verborrágica (aprendi essa palavra no canal "Meus 2 Centavos" e não tem palavra melhor pra descrever a bendita escrita), a linguagem não é muito simples, a complexidade da estrutura e o anacronismo dos acontecimentos não colabora para um entendimento fácil, mas usar a essência da cultura norte-americana, mesmo em sua forma mais bizarra, é simplesmente genial. O autor faz com que o leitor fique por dentro das particularidades do enredo que, ao considerar tal cultura, compreenderá a critica que ele quis inserir aqui.
A narrativa se alterna entre os personagens, que fazem descrições nos mínimos detalhes e em letras miudas que ocupam dezenas de páginas, dando ao leitor uma visão muito, mas muito ampla sobre coisas inimagináveis, das mais simples as mais terríveis e chocantes.
Tantas descrições exaustivas e intermináveis podem ser interpretadas como pura encheção de linguiça pra engrossar o livro que, literalmente, pode ser chamado de ~tijolo~, mas no caso de Graça Infinita a coisa toda é proposital, compreensível e até mesmo necessária. A leitura é pesada, incômoda e não é pra qualquer um, mesmo que a reflexão - e a ressaca - que traga seja válida pra todos, mas a experiência com o livro, de forma geral, parece fazer parte da ideia de diversão e entretenimento do autor. Então, justamente por fazer parte da proposta, não vejo como a história poderia ter sido contada de forma mais simples e com menos páginas, mesmo que isso a torne extremamente cansativa.

É impossível não elogiar o trabalho gráfico que foi feito na obra. A capa minimalista não tráz nada além de linhas finas que traçam uma caveira, e as lombadas externas é que cedem espaço para título e nome do autor dando um diferencial todo especial ao livro.

Embora a história traga muitos pontos chocantes, entendi que foi uma forma do autor mostrar aos leitores sua visão de mundo, de que não importa o quão fundo se cave, sempre é possível recomeçar, e talvez tentar fazer com que as pessoas reflitam sobre como enxergam e lidam com as coisas também. O vício está diretamente ligado ao excesso, e tudo que é demais é prejudicial. Tais vícios, independente do que sejam ou da forma como venham, sempre vão ter como finalidade a busca pela felicidade, pelo conforto, pelo prazer e afins, mas muitos não enxergam o embuste em que estão ao acharem que existe algum atalho para tornar o caminho mais rápido e fácil.

Graça Infinita é um livro que requer muito tempo e dedicação, e até falar sobre ele não é uma tarefa fácil. Suas 1144 páginas de texto maciço e prolixo, com detalhes que se estendem à beira da exaustão, e cuja estrutura desordenada é um completo desafio para o leitor, trazem um romance relevante e necessário, cujo foco recai na devoção que o entretenimento proporciona a ponto de levar os outros do vício à solidão, mas também sobre a excentricidade que não se estende apenas aos personagens irônicos, excêntricos e individualistas, mas às suas próprias consciências que acabam tornando-os prisioneiros de si mesmos.


Novidades de Maio - Companhia das Letras

16 de maio de 2017

Em Teu Ventre - José Luís Peixoto

As aparições de Nossa Senhora a três crianças em Fátima, interior de Portugal, entre maio e outubro de 1917, são o pano de fundo deste delicado romance de José Luís Peixoto, que lança um olhar inusitado sobre um dos episódios mais emblemáticos do século XX no país. Tomando como protagonista a mãe de Lúcia, a mais velha dos três pastorinhos que teriam presenciado o milagre, o autor investiga questões profundas de fé e de ruralidade, mas sobretudo a relação entre mães e filhos. A maternidade, como bem indica o título, é o ponto fundamental deste livro. Com rigor histórico e extrema beleza ficcional, esta é uma história permeada de assombro, milagre e poesia.

Detetives da Aviação - Christine Negroni

Nos acidentes aéreos descritos em Detetives da aviação, a autora mostra como cada aspecto do treinamento de pilotos, ou o funcionamento das companhias aéreas e até o design dos aviões, são peças fundamentais no quebra-cabeça que pode evitar um desastre. Unindo ciência da aviação, psicologia comportamental e entrevistas com engenheiros, sobreviventes, pilotos, especialistas em fatores humanos e outros, o livro mostra como as investigações são processos complexos, suscetíveis a manipulações e falhas pelos mais diversos motivos - políticos, econômicos e até mesmo pessoais. Um livro fascinante, de linguagem simples e clara, que pode não curar o medo de voar, mas certamente transformará os leitores em passageiros mais bem-informados.

Prisioneiras - Drauzio Varella

O trabalho de Drauzio Varella como médico voluntário em penitenciárias começou em 1989, na extinta Casa de Detenção de São Paulo, o Carandiru. Os anos de clínica e as histórias dos presos, dos funcionários e da própria cadeia seriam retratados nos aclamados livros Estação Carandiru (1999) e Carcereiros (2012). Em 2017, Drauzio encerra sua trilogia literária sobre o sistema carcerário brasileiro com Prisioneiras. Alçando as mulheres encarceradas a protagonistas, o médico rememora os últimos onze anos de atendimento na Penitenciária Feminina da Capital, que abriga mais de duas mil detentas. São histórias de mulheres que não raro entram para o crime por conta de seus parceiros - inclusive tentando levar drogas aos companheiros nas penitenciárias masculinas em dias de visita -, mas que são esquecidas quando estão atrás das grades. As famílias conseguem tolerar um encarcerado, mas não uma mãe, irmã, filha ou esposa na cadeia. No ambiente carcerário feminino, há elementos comuns às penitenciárias masculinas. Assim como no Carandiru, um código de leis não escrito rege as prisioneiras; o Primeiro Comando da Capital (PCC) está presente e mostra sua força através das mulheres que integram a facção; e a relação entre aquelas que habitam as cadeias não é menos complexa. As casas de detenção femininas, no entanto, guardam suas particularidades - diferenças às quais o médico paulistano dedica atenção especial em sua narrativa. Desde a dinâmica dos atendimentos e a escassez de visitas até os relacionamentos entre as presas, fica nítido que a realidade das prisões escapa ao imaginário de quem vive fora delas. Prisioneiras é um relato franco, sem julgamentos morais, que não perde o senso crítico em relação às mazelas da sociedade brasileira. Nesse encerramento de ciclo, Drauzio Varella reafirma seu talento de escritor do cotidiano, retratando sua experiência e a vida dessas mulheres com a mesma disposição, coragem e sensibilidade que empreendeu ao iniciar seu trabalho nas prisões há quase três décadas.

A História Secreta de Twin Peaks - Mark Frost

Lançada em 1990, a cultuada série Twin Peaks, de David Lynch e Mark Frost, tem milhares de fãs pelo mundo. Após o anúncio da terceira temporada, retomada 25 anos depois do assassinato de Laura Palmer, Mark Frost lança A história secreta de Twin Peaks, livro imperdível para fãs e curiosos. A obra, escrita numa narrativa inventiva e nada convencional, apresenta um dossiê compilado por um Arquivista desconhecido e enviado pelo FBI para a agente TP, com o intuito de descobrir a identidade por trás da montagem dessa documentação. Com recortes de jornal, trechos de diários, informações secretas e arquivos do FBI, o livro conta com informações valiosas para que o leitor possa ir fundo e saber mais do que ninguém sobre episódios e personagens da série. E, quem sabe, desvendar tudo o que está por trás dos misteriosos acontecimentos nessa icônica cidade do noroeste americano.

As Primeiras Vítimas de Hitler - Timothy W. Ryback

Combinando uma extensa pesquisa historiográfica a uma narrativa em ritmo de thriller, Timothy W. Ryback conta em As primeiras vítimas de Hitler a impressionante história de Josef Hartinger, um jovem promotor alemão que lutou para esclarecer a controversa morte de quatro jovens judeus inocentes no campo de concentração de Dachau, a poucos quilômetros de Munique, em abril de 1933. O caso, que teria sido uma reação dos guardas a uma suposta fuga, já indicava os primeiros sinais do projeto brutal de extermínio que marcaria o regime de Adolf Hitler e que encontraria em Hartinger um dos primeiros opositores a arriscar a própria vida e a carreira em busca de justiça.

Neve na Manhã de São Paulo - José Roberto Walker

Uma das histórias mais encantadoras - e menos contadas - do modernismo paulista é a da garçonnière mantida por Oswald de Andrade entre 1917 e 1919 no centro de São Paulo. Por ali passaram figuras que anos depois transformariam a cena literária e artística brasileira, tais como, Guilherme de Almeida, Monteiro Lobato, Menotti del Picchia, e o desenhista Ferrignac. Eles mantiveram um diário coletivo batizado de "O perfeito cozinheiro das almas deste mundo", no qual esse cotidiano boêmio era registrado em pormenores. No pequeno apartamento da Libero Badaró, jovens amigos se reuniam para discutir literatura, política, ouvir música, fazer saraus e, claro, namorar. Foi nesses dias que Oswald encontrou uma estudante de dezessete anos com quem se envolveu de imediato. Diferente em tudo das moças que aqueles rapazes conheciam, Daisy, ou Miss Cyclone, logo se integrou ao grupo como se fosse um deles. Esse amor, no entanto, desafiou Oswald de várias maneiras. A presença marcante de Daisy e o romance trágico ficaram claramente documentados no diário. Cabe a Pedro, amigo de infância de Oswald, e o único do grupo que não alcançou a fama nem se tornou escritor, o papel de narrador do drama do qual foi um dos personagens. A partir de sólida pesquisa documental, José Roberto Walker recria de maneira notável a atmosfera vibrante da cidade de São Paulo no início do século XX. Neve na manhã de São Paulo joga uma nova luz sobre personagens-chave desse período e mostra com brilho como o modernismo paulista - que surgiria com a Semana de 22 - já estava a mil.

Nada Como Ter Amigos Influentes - Donna Leon

Quando o commissario Guido Brunetti recebe a visita de um jovem burocrata designado para investigar uma irregularidade na construção de seu apartamento, realizada anos atrás, sua primeira reação é pensar em quem ele conhece no departamento do governo local a fim de contornar a situação. Quando, porém, o funcionário é encontrado morto, fica claro que há algo a mais em jogo do que apenas o destino do apartamento de Guido. As investigações de Brunetti o levam a aspectos pouco familiares da vida veneziana, envolvendo o abuso do consumo de drogas e a agiotagem, ao passo que a morte de dois jovens viciados e a prisão de um homem suspeito de traficar drogas revelam, mais uma vez, o quanto é importante contar, nesta cidade, com a ajuda de amigos influentes.

Novidades de Abril - Cia das Letras

10 de abril de 2017

Distraídos Venceremos - Paulo Leminski

Última obra poética publicada em vida, Distraídos venceremos foi lançado em 1987 e rapidamente se tornou um clássico contemporâneo. Para a poeta Alice Ruiz - a quem o livro é dedicado -, embora o título desta seleta escrita ao longo de quatro anos remeta ao livro anterior, Caprichos e relaxos, "o teor dos poemas aponta para um maior ceticismo". Estão aqui a experimentação, a coloquialidade e o constante diálogo com as poesias concreta e marginal, além do flerte com a cultura oriental, que marca a parte final do volume. Incluído em Toda poesia, Distraídos venceremos traz Leminski em sua melhor forma: "Tudo o que eu faço/ alguém em mim que eu desprezo/ sempre acha o máximo./ Mal rabisco,/ não dá mais pra mudar nada./ Já é um clássico".

A Insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera

Neste que é sem dúvida um dos romances mais importantes do século xx, ficção e filosofia se entrelaçam por meio da história de quatro adultos capazes de quase tudo para vivenciar o erotismo que desejam para si. Como limite, encontram um tempo histórico politicamente opressivo e o caráter enigmático da existência humana. Infidelidade, amor, compaixão, eterno retorno, acaso e arbítrio são alguns dos grandes temas que Kundera articula num romance de ideias e paixões, em que o leitor percorre conceitos filosóficos de braços dados com cada um dos personagens - Tereza, Tomas, Sabina e Franz - e acompanha suas histórias de vida com a profundidade de um estudo. O resultado é uma obra em tudo original, um clássico da literatura contemporânea.

Manual da Faxineira - Lucia Berlin

Lucia Berlin teve uma vida repleta de eventos e reviravoltas. Aos 32 anos, já havia vivido em diversas cidades e países, passado por três casamentos e trabalhado como professora, telefonista, faxineira e enfermeira para sustentar os quatro filhos. Lutou contra o alcoolismo por anos antes de superar o vício e tornou-se uma aclamada professora universitária em seus últimos anos de vida. Desse vasto repertório pessoal, Berlin tira inspiração para escrever os contos que a consagraram como uma mestre do gênero. Com a bravura de Raymond Carver, o humor de Grace Paley e uma mistura de inteligência e melancolia, Berlin retrata milagres da vida cotidiana, desvendando momentos de graça em lavanderias, clínicas de desintoxicação e residências de classe alta da Bay Area.

O Que é Fascismo? - George Orwell

Romancista celebrado pelas distopias de 1984 e A revolução dos bichos, George Orwell também foi um prolífico repórter e colunista. Entre as décadas de 1930 e 1940, o autor de O que é fascismo? colaborou em diversos veículos da imprensa britânica. Nesta coletânea de 24 ensaios publicados em revistas e jornais, organizado por Sérgio Augusto, Orwell explora um amplo espectro de assuntos, sempre perpassados pela política, sua principal obsessão intelectual e literária. Com temas que variam de Adolf Hitler à pornografia, de W. B. Yeats a O grande ditador, os textos selecionados pelo jornalista Sérgio Augusto compõem um inteligente mosaico das opiniões de Orwell durante o período crítico da Segunda Guerra Mundial e do início da Guerra Fria. Com sua visão irônica do mundo conflagrado da época, os ensaios demonstram a potência criativa do "socialismo democrático" adotado pelo escritor como credo político após sua experiência na Guerra Civil Espanhola, em contraposição aos totalitarismos de esquerda e de direita então em voga.

Biografia Involuntária dos Amantes - João Tordo

Numa estrada da Galiza, na Espanha, dois amigos atropelam um javali. Enquanto resolvem os trâmites burocráticos, o poeta mexicano Saldaña Paris pede ao companheiro de viagem, um professor universitário, que leia um manuscrito deixado por Teresa, sua ex-mulher e grande paixão de sua vida. A leitura dessa intrigante herança vai levar o professor a tentar entender não só a origem da tristeza do amigo, mas a reconstituir a então fragmentada história desses amantes. O que ele não imaginava, porém, era que as páginas também seriam capazes de mudar a sua vida. Neste romance magistral, o jovem português João Tordo escreve sobre o amor, os desejos, as obsessões e as marcas indeléveis das relações que construímos ao longo da vida. Um trabalho profundo que o consolida como uma das novas vozes da literatura portuguesa contemporânea.

Agora e na Hora - Heloisa Seixas

Um escritor fracassado decide fazer um livro de contos sobre a morte e, em seguida, se matar. Seria essa sua vingança contra aqueles que sempre o ignoraram: fazer da própria morte o ponto final do livro, tombando sem vida sobre os originais. Para ele, um desfecho insuperável, inédito na literatura. Seus planos, porém, caem por terra ao descobrir que tem um tumor e que seus dias estão contados. Não poderá mais ser o senhor da própria morte. Correndo contra o tempo, o autor, ao longo de uma madrugada, revê sua trajetória, misturando-a com seus contos terminais, na certeza de que, antes de o sol nascer, usará um revólver para se matar. No entanto, algo inesperado acontece, e ele perde o controle do livro - e da própria vida. Em Agora e na hora, Heloisa Seixas constrói um poderoso embate de vida e morte entre um escritor e seu personagem. Um trabalho original que é, sobretudo, uma celebração da literatura e do ofício de escritor.

Romances de Patrick Melrose - Edward St. Aubyn

Por quase duas décadas, Edward St. Aubyn inspirou?se na própria história para retratar a vida de Patrick Melrose e o universo da elite inglesa numa aclamada empreitada literária. Mantendo a elegância e a inteligência características do primeiro volume, esta continuação dos Romances de Patrick Melrose reúne os dois títulos que encerram a série. Em O leite da mãe, Patrick, agora casado e pai de dois meninos, teme que a relação conturbada que teve com o pai envenene o seu próprio exercício de paternidade. Ao mesmo tempo, sua esposa Mary volta-se inteiramente ao cuidado das crianças; sua mãe, Eleanor, deseja realizar um suicídio assistido; e os filhos sempre parecem entender muito mais do que deveriam. O último livro, Enfim, é ambientado no funeral de Eleanor Melrose. Enquanto encara a perda da mãe, Patrick começa a aceitar e compreender os motivos que tornaram seus pais o que foram. Sozinho em seu quarto, pode finalmente vislumbrar a perspectiva de liberdade que há tanto tempo almeja.

A Garota Corvo - Erik Axl Sund

Tudo começa em um parque da cidade de Estocolmo, onde o corpo de um menino é encontrado. A detetive Jeanette Kihlberg lidera a investigação, lutando contra um promotor apático e uma força policial burocrática que não quer dedicar recursos para resolver o assassinato de uma criança imigrante. Todavia, com a descoberta dos cadáveres mutilados de mais duas crianças, fica claro que um serial killer está à solta. A superintendente Kihlberg procura a psicóloga Sofia Zetterlund, uma especialista em recuperar crianças que sofreram violência, e as vidas das duas mulheres se entrelaçam de forma quase instantânea - profissional e pessoalmente. À medida que se aproximam da verdade sobre os assassinatos, as duas vão aos poucos perceber que os crimes escondem um mal subterrâneo que parece abraçar toda sociedade sueca. Na veia da série Millenium, A garota-corvo é um thriller sombrio e de tirar o fôlego, e uma investigação dos recantos mais sombrios da mente humana.

Da Poesia - Hilda Hilst

A intensa e prolífica atividade literária de Hilda Hilst se desdobrou em livros de ficção e em peças de teatro, mas foi na poesia que ela deu início à sua carreira. Ao longo de 45 anos, entre 1950 e 1995, a poeta publicou em pequenas tiragens graças ao entusiasmo de editoras independentes, com destaque para Massao Ohno, seu amigo e principal divulgador. No início dos anos 2000, os títulos de Hilda começaram a ser editados pela Globo. A partir desse momento, a sua escrita - até então considerada marginal e hermética - passou a ter ampla divulgação e a receber o interesse de uma legião de leitores e estudiosos. Agora, a Companhia das Letras reúne, pela primeira vez, toda a lavra poética da autora de Bufólicas em um só livro, que inclui, além de mais de 20 títulos, uma seção de inéditos e fortuna crítica. O material contém posfácio de Victor Heringer, carta de Caio Fernando Abreu para Hilda, dois trechos de Lygia Fagundes Telles sobre a amiga e uma entrevista cedida a Vilma Arêas e a Berta Waldman, publicada no Jornal do Brasil em 1989. A poesia de Hilda - que ganha forma em cantigas, baladas, sonetos e poemas de verso livre - explora a morte, a solidão, o amor erótico, a loucura e o misticismo. Ao fundir o sagrado e o profano, a poeta se firmou como uma das vozes mais transgressoras da literatura brasileira do século XX.

A Oeste do Éden - Jean Stein

Jean Stein passou a infância rodeada de atrizes, diretores, produtores e personalidades de Hollywood. Filha de Jules Stein, fundador do gigantesco estúdio de música, cinema e televisão MCA, Jean pertence a um dos cinco clãs de Los Angeles que fizeram fortuna em seu tempo. Em A oeste do Éden, Stein sobrevoa a cidade de sua infância por meio da história oral de suas cinco famílias mais poderosas. Pelos saborosos relatos que a autora compila e mescla com outras fontes históricas, o leitor descobrirá as engrenagens de uma máquina movida pela fama, ambição, poder e fantasia. Após a leitura deste livro, a mítica cidade de Los Angeles, que sozinha protagoniza um dos principais capítulos da história cultural norte-americana, nunca mais será a mesma.

Bíblia - Novo Testamento - Vários Autores

Com apresentação, tradução e notas de Frederico Lourenço, tradutor premiado que já verteu para o português obras clássicas como Ilíada e Odisseia, esta edição, que será composta por seis volumes, toma por base o texto original do Novo Testamento, com seus 27 livros, e a versão grega do Antigo Testamento, também conhecida como "Bíblia dos Setenta", composta por 53 livros originalmente escritos em hebraico e traduzidos para o grego no século III a.C. Trata-se, portanto, da versão mais completa que há da Bíblia, na qual figuram inclusive partes que viriam a ser excluídas do cânone definitivo. Além disso, a versão grega traz sutis diferenças em relação à hebraica, de modo que ler o livro de Gênesis ou o Cântico dos Cânticos numa tradução que toma como base a variante grega é ler um novo texto. Marco fundamental da história do judaísmo, uma vez que simboliza o momento em que a cultura judaica se internacionaliza ao ser vertida para a língua franca de então, a Bíblia dos Setenta é também de inestimável importância para o estudo da história do cristianismo, uma vez que era a Bíblia das primitivas comunidades cristãs. É a partir dessa versão do Antigo Testamento que Jesus Cristo, pela mão dos evangelistas, cita a Escritura. Por meio de uma atitude ponderada e desprovida de preconceitos face aos problemas linguísticos suscitados, Lourenço oferece notas que esclarecem e contextualizam, respeitando com isso a sensibilidade dos leitores religiosos que desejam aprofundar seu conhecimento das Escrituras sem deixar de cumprir as expectativas daqueles interessados num olhar mais objetivo. Neste primeiro volume, o leitor encontrará os quatro evangelhos do Novo Testamento, e poderá desfrutar das particularidades da voz de cada Evangelista. A tradução rigorosa, marcada pela busca do sentido mais profundo das palavras originais, ressalta a dimensão literária deste que é o maior livro de todos os tempos.

Novidades de Fevereiro - Companhia das Letras

9 de fevereiro de 2017

O Fazedor de Velhos - Rodrigo Lacerda

Lançado originalmente em 2008, O fazedor de velhos conta a história de Pedro, um garoto inteligente que está às portas da vida adulta. Com o amadurecimento, chegam questões fundamentais: que profissão escolher? Como lidar com os amores frustrados, os amigos deixados pra trás, os sentimentos confusos que teimam em perturbar? Quem guia o garoto em meio a esses dilemas é Nabuco, um professor experiente, excêntrico e misterioso. Insatisfeito com a faculdade de História, Pedro encontra na literatura um destino possível. Mas essa não é uma descoberta simples - e para chegar até ela é preciso trilhar um caminho de perda e sofrimento.

O Livro de Moriarty - Arthur Conan Doyle

O Napoleão do crime. É assim que Arthur Conan Doyle define o professor James Moriarty, arquirrival de Sherlock Holmes e um dos grandes vilões da literatura universal. Não há crime em Londres, do mais banal dos roubos ao mais terrível dos assassinatos, que não tenha sua mão.
Na obra de Doyle, Moriarty aparece como uma sombra: raramente o protagonista de uma história, sempre atrás das cortinas, em breves menções e alusões. Este volume reúne todas as histórias de Sherlock Holmes em que o professor dá as caras. São cinco contos e um romance que mostram a construção deste que acabaria se tornando um modelo de vilão e o personagem mais emblemático de Doyle depois do seu rival Sherlock Holmes e de John Watson.

Senhor D. - Alan Lightman

Depois de uma longa existência no Vazio, o onipotente Senhor D. resolve experimentar e criar o tempo, o espaço e a matéria. Aos poucos, surgem também os astros celestes, as primeiras formas de vida e os seres pensantes. E com eles, os dilemas inesperados até mesmo para o Criador - que parecia ter tudo sob controle. Como lidar com os anseios e as incertezas dessas criaturas? Qual o sentido de sua existência? Até que ponto Ele consegue - e deve - intervir nesse novo mundo? Em Senhor D., Alan Lightman constrói um romance encantador e original sobre o surgimento do universo, narrado justamente pelo responsável por criá-lo. Uma fábula que discute com delicadeza questões de ciência, filosofia, religião e de nossa existência.

O Espírito da Ficção Científica - Roberto Bolaño

Ambientado na Cidade do México nos anos 1970, O espírito da ficção científica conta a história de Remo Morán e Jan Schrella, dois jovens escritores obcecados por poesia e ficção científica. Enquanto o primeiro tenta incansavelmente encontrar seu espaço na literatura, o segundo passa os dias enviando cartas delirantes a seus autores favoritos de ficção científica. Escrito nos anos 1980 e descoberto agora, esse romance traz todos os elementos que fariam de Bolaño um dos autores mais célebres e importantes da literatura latino-americana. Seus fãs encontrão aqui não apenas a prosa tão facilmente reconhecível - e tão absolutamente inesperada - como também seus temas mais caros, como a literatura, o amor, a juventude, a amizade, o humor e a rebeldia.

Jantar Secreto - Raphael Montes

17 de janeiro de 2017

Título: Jantar Secreto
Autor: Raphael Montes
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Thriller/Suspense/Literatura nacional
Ano: 2016
Páginas: 360
Nota:★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Um grupo de jovens deixa uma pequena cidade no Paraná para viver no Rio de Janeiro. Eles alugam um apartamento em Copacabana e fazem o possível para pagar a faculdade e manter vivos seus sonhos de sucesso na capital fluminense. Mas o dinheiro está curto e o aluguel está vencido. Para sair do buraco e manter o apartamento, os amigos adotam uma estratégia heterodoxa: arrecadar fundos por meio de jantares secretos, divulgados pela internet para uma clientela exclusiva da elite carioca. No cardápio: carne humana. A partir daí, eles se envolvem numa espiral de crimes, descobrem uma rede de contrabando de corpos, matadouros clandestinos, grã-finos excêntricos e levam ao limite uma índole perversa que jamais imaginaram existir em cada um deles.

Resenha: Jantar Secreto, do mesmo autor de Dias Perfeitos, conta - com direito a muito sangue e canibalismo - a história de Dante, Miguel, Leitão e Hugo. Os amigos sempre tiveram o sonho de viver numa cidade grande e realizar sonhos, mas a vida não é um conto de fadas. Com frustrações que surgem aos poucos para cada um, vem o desânimo e a vontade de desistir. Um problema inesperado, que exige muito dinheiro para ser resolvido, coloca os jovens num beco sem saída. A solução mais fácil encontrada para levantar a grana é promover jantares de carne humana.

Raphael Montes, jovem autor que teve seu livro Dias Perfeitos traduzido e comercializado no exterior, dá mais um passo na carreira com Jantar Secreto. Classificado no gênero policial, a obra caminha mais para o lado do suspense psicológico do que uma trama investigativa. Aos fãs de investigação, que sempre buscam por um quebra-cabeça complexo para ser resolvido, saibam que a jornada de Dante e seus amigos é mais um drama psicológico recheado a muito sangue.

A narração é feita por Dante, numa espécie de diário, relatando como os fatos se sucederam até chegarem aos jantares secretos. A personalidade do rapaz é moldada a partir dos anseios e medos que um jovem de vinte e poucos anos tem, em uma cidade nova, frustrado com sua carreira profissional e sem uma boa visão do futuro. Em uma prosa simples e direta, o autor desenvolveu em Dante um personagem complexo que tem certa fragilidade. Ele é altos e baixos o tempo todo, e essa personalidade instável é garantia de reviravoltas a qualquer momento. O que faltou foi, com certeza. descobrir mais sobre os seus amigos. Como todos fazem parte de um grande esquema e se envolvem muito nisso, seria esperado ter um ponto de vista deles, mesmo que curto, para entender melhor cada um. Tudo que se sabe dos outros é o que Dante enxergava, mesmo que nem ele mesmo pudesse concluir muito a respeito. Miguel, por exemplo, seria de grande proveito se tivesse tido um espaço maior. Apenas Cora, com suas falas afiadas e humor mordaz, consegue se sobressair no grupo.

Muito da capacidade de desenvolver uma história que se torne dinâmica vem da narrativa, e Raphael Montes sabe como fazer isso. A forma de escrita é muito simples e concisa, com capítulos que passam rapidamente sob os olhos, com um texto polido. Entretanto, essa velocidade. às vezes, atropela um pouco o que poderia ter ganhado mais atenção. Aqui, voltamos ao ponto de que, apesar de ser classificado como policial, o livro passa longe disso. O protagonista é um jovem com problemas psicológicos e fica nítida sua fragilidade emocional. Ele, o Dante, é sim bem explorado em suas nuances. No mais, uma boa parte da história, logo após a metade, é inconclusiva demais. A motivação para o crime não é forte o suficiente, os acontecimentos se desenvolvem de maneira rasa e sem muita argumentação e num epilogo, que serve para dar um desfecho a um mistério um tanto que irrelevante, fica evidente que o autor precisa dar mais atenção em como terminar suas tramas. Inesperado, mas não surpreendente, a conclusão parece ter sido escrita às pressas e sem nenhuma preocupação com seguir o nível que todo o conjunto teve. A leitura é como andar de montanha-russa, e o final parece apenas algumas voltinhas num carrossel.

Jantar Secreto é um prato cheio de muito sangue num submundo do canibalismo ambientado na cidade maravilhosa. O talento do autor é evidente, e isso se mostra mais uma vez com esta obra. Exceto por alguns fatos e pelo final que é caricato demais (parecendo até uma cena de um filme de terror categoria B), a leitura é mais que indicada. Para quem gosta de muita tensão psicológica, vá fundo, mas cuidado: você irá se deparar com muito sangue e corpos mutilados.

Novidades de Outubro - Companhia das Letras

14 de outubro de 2016

The 42nd St. Band - Romance de uma banda imaginária - Renato Russo

Entre os quinze e os dezesseis anos, enquanto convalescia de epifisiólise (rara doença óssea), Renato Russo - à época, ainda chamado Renato Manfredini Jr., em Brasília - criou a história de um grupo de rock formado em 1974, em Londres, a partir do encontro de ícones como Mick Taylor, dos Rolling Stones, e outros roqueiros imaginados pelo futuro líder da Legião Urbana.
Da origem à separação da banda, passando por momentos de sucesso astronômico, Renato pensou em cada detalhe. A partir do personagem Eric Russell, figura central da 42nd St. Band, nasceria Renato Russo, um dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos, que tem, portanto, sua gênese revelada neste estrondoso romance inédito.


A Arte do Romance - Milan Kundera

Primeiro livro de não ficção do autor de A insustentável leveza do ser, A arte do romance é a confissão nascida da experiência prática do romancista. Nele são discutidas em profundidade a evolução do romance e seus aspectos centrais (de Cervantes a Proust, passando por Hermann Broch e Kafka), pelo olhar subjetivo de um artífice que vê ameaçada a continuidade de seu trabalho.
Escritos ainda sob o forte impacto da crítica francesa da época do Nouveau Roman e dos ataques pós-modernos, os ensaios procuram restaurar o sentido do romance como gênero autônomo, após o esgotamento da experimentação modernista, sem ceder às tentações que desejavam a recuperação da narrativa romanesca do século XIX.

Freud (1901-1905) - Obras completas Volume 6 - Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, análise fragmentária de uma histeria ("O caso Dora" ) e outros textos (1901 - 1905) - Sigmund Freud

Este sexto volume das obras completas de Freud traz textos fundamentais para o entendimento da psicanálise, como Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, que recorre a sexólogos contemporâneos do psicanalista e às observações feitas a partir de seus pacientes para enfatizar a centralidade do sexo na vida humana. Tratando das aberrações sexuais, da sexualidade infantil e adulta, Freud amplia e reformula o conceito de sexualidade.
Outro grande texto deste volume é “O caso Dora”, primeiro dos cinco casos clínicos mais importantes de Freud. Interpretando dois sonhos de “Dora”, ele procura desvendar seus sintomas histéricos e sua correlação com a recusa do sexo.



Baladas - Fabrício Corsaletti

À primeira vista, este livro fala da balada urbana e boêmia. Assim como em seu livro anterior, Quadras paulistanas, o autor nos apresenta os chapas e as minas, toma uma média, uma cerveja, um saquê na Liberdade, sonha com uma apresentadora de “olhos de Nutella” e teme o destino solitário de Michael Corleone. Tudo isso em bem cuidadas redondilhas maiores. A balada, mais que uma experiência boêmia, é também uma forma poética tradicional, que Corsaletti mostra, neste livro, dominar à perfeição.
Ilustradas pelo sempre irreverente Caco Galhardo, essas Baladas vivem do vaivém entre a farra e a ressaca, a gíria e a métrica, o brilho do momento presente e o afã melancólico de fixá-lo antes que seja tarde.

Brownies, Cookies, Tortas e Afins - 60 receitas sensacionais para fazer num piscar de olhos - Editores do Food52

Recheado com a sabedoria culinária de diversas gerações, belas fotografias e dicas às quais você vai recorrer com frequência, Brownies, cookies, tortas e afins é o livro de receitas perfeito para quem quer preparar algo saboroso todos os dias.
Organizado pelos editores do site Food52, este livro vai ajudar você a fazer doces caseiros muito saborosos - mesmo quando você estiver ocupado demais para ligar o forno. Do cupcake-brownie de manteiga noisette à torta de pêssego e blueberry, estas sessenta receitas fáceis e certeiras não exigirão que você saia em busca de utensílios específicos ou ingredientes difíceis de encontrar. E, melhor ainda, não deixarão sua cozinha coberta de farinha nem sua pia cheia de tigelas para lavar.