Adeus, por enquanto - Laurie Frankel

19 de outubro de 2015

Título: Adeus, por enquanto
Autora: Laurie Frankel
Editora: Paralela
Gênero: Romance/Drama
Ano: 2013
Páginas: 320
Nota: ★★★★☆
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: A talentosa autora de O Atlas do amor inova em seu segundo romance, no qual conta a história do jovem casal que estendeu seu amor para além dos limites da vida. Não é milagre e nem magia, é pura ciência da computação. Graças ao software que Sam Elling, um divertido programador do MIT, desenvolve, torna-se possível conversar com projeções perfeitas de pessoas queridas que morreram. Assim, ele ajuda sua namorada a superar a perda recente da avó, mas não esperava que um dia fosse precisar se tornar usuário de seu próprio programa...

Resenha: Adeus, por enquanto me ganhou com seu título, que sugere uma despedida, uma separação inaceitável. Em seu segundo romance, a autora de O Atlas do Amor aborda alguns temas que teoricamente seriam incapazes de coexistir: amor, morte e ciência da computação.
Mas esperem, antes de mais nada devo alertá-los para NÃO LER A SINOPSE!!! Ela tem um dos maiores spoilers que já li em minha vida, sim, ela conta um fato que ocorre somente no final do livro e nos tira, completamente o impacto que essa informação nos deva causar. É lamentável, mas remediável! Agora sim, vamos lá.

Sam Elling é um nerd que trabalha com programação e algoritmos em uma empresa criadora de um famoso site de relacionamentos. Desafiados a criar um algoritmo que melhore o desempenho da empresa, Sam cria o algoritmo perfeito que estuda os dados que os candidatos ocultam no preenchimento do perfil, baseando-se em seus hábitos, com informações obtidas através de compras em cartões de créditos, e-mails, etc...
Para testar Sam cadastra-se no site que indica que o seu par perfeito é Meredith, do departamento de Marketing de sua empresa. À primeira vista ela é, nada menos, que seu oposto, contudo, em pouco tempo o algoritmo mostra que funcionou melhor do que imaginavam, a ponto de causar um prejuízo financeiro à empresa à longo prazo, uma vez que a arrecadação com as matrículas aumentou exponencialmente, contudo, a taxa de permanência e assinatura mensal diminuiu, levando consigo "a esperança" dos usuários em encontrar sua alma gêmea.

"Acontece que arrumar namorado para as pessoas não é o que nos dá dinheiro. É não arrumar namorado, mas dar a elas esperança de conseguí-lo."
- Pág. 30

Criador de um sucesso, porém desempregado, Sam tenta agora se adaptar à vida a dois e a ajudar Merde a superar sua enorme perda, a da avó Livie. Sam não aguenta mais assistir a dor de Merde, que desencadeia sua dor pela ausência da mãe que morrera quando ele ainda tinha 18 meses e resolve criar um programa que responde e-mails com base nas palavras chaves e e-mails antigos trocados entre Livie e Meredith. Será que isso será capaz de consolar ou aumentará a ferida? Como lidar com a ânsia de ver novamente um ente querido que já morreu mas responde seus e-mails?
Será que a ciência da computação é capaz de lidar, responder e realizar essas e tantas outras perguntas e expectativas daqueles que ficam? Como você reagiria a isso? Leia Adeus, por enquanto e descubra, reflita e chore muito!

Laurie foi infinitamente feliz em escrever esse livro, contudo temos que entender que é um drama e não um romance romântico, ele vai falar de perda, de luto, de apoio, de superação e das maneiras que isso acontece. Cada um de nós reage de uma determinada maneira e tem x ou y coisas a dizer em seu Adeus e essa foi a grandiosidade da obra, mostrar que enquanto algumas pessoas deixam uma saudade incrívelmente dolorosa, outras deixam mágoas e coisas não ditas.

O programa de Sam, supera tudo isso e permite que todos possam resolver suas pendências com aqueles que já partiram. Quem não gostaria de falar mais uma vez, apenas mais uma vez com aquele ente querido? Confesso que eu pediria à minha avó o segredo de sua receita de charuto de folha de uva, além de dizer o demonstrado mas nunca dito "Eu te amo". Culpas, é disso que Adeus por enquanto vai falar também.
Mas nem tudo são rosas, aliviar um pouco essa dor, fingir que a partida é parcial, é iludir-se e quão amargo pode ser esse enfrentamento? a dor da segunda perda não seria ainda pior? Um paleativo funciona por quanto tempo, já que somos fadados a sempre desejar mais?
Um tema pesado tratado de uma forma respeitosamente leve, dinâmica, porém, inevitavelmente dramática. Eu acreditei na proposta do livro porque minhas expectativas foram atendidas. É claro que, me senti um tanto quanto incomodada com a ideia não crível que se desenrola quando Meredith já não se conforma apenas com a troca de e-mails (optei por não colocá-la aqui, já que faz parte de mais da metade do livro), mas quem pode prever que isso um dia não exista de verdade, não é mesmo?!

Outra reflexão interessante trazida para o livro e que analogicamente pode ser aplicada àqueles que ainda estão vivos, é o quanto o virtual nos afasta do real? Chegamos ao ponto de preferir conversar com alguém pela internet a fazê-lo pessoalmente, é ou não é verdade?

"Não sou só eu - todo mundo passa a maior parte do tempo com amigos virtuais hoje em dia. Todo mundo passa mais tempo no Facebook do que com pessoas, mais tempo clicando em perfis do que saindo, mais tempo jogando tênis no videogame do que tênis de verdade, e tocando guitarra no videogame do que guitarra de verdade. As redes sociais não são tão sociais assim. Na verdade, é isolamento. Na verdade, é ficar sozinho."
- Pág. 281

Eu simplesmente amo livros que me fazem pensar, refletir, suspirar, que mexem com meu mundo, que me desestabilizam, me incomodam, sim, muita coisa nesse livro me incomodou, mas de uma forma positiva, de uma forma a sair da minha zona de conforto e mudar, para não me arrepender, para não entristecer ao lembrar que ainda não poderemos trocar e-mail com aqueles que nos deixaram, ainda que de mentirinha.

A capa do livro está totalmente relacionada ao tema do livro, quando apresenta um casal de costas com seus computadores e entre eles uma árvore, que respresenta a vida. A Árvore e o rapaz possuem sombra, enquanto que a moça não a tem. Adoro capas interpretativas e desenhadas. A diagramação está excelente, não percebi erros de revisão, a fonte tem um tamanho médio e as páginas são amareladas, o que no conjunto propiciou uma leitura bastante agradável.

Leiam, leiam e leiam, é só o que me resta fazer agora, além de chorar.

Um comentário

  1. Oi!!! Sou apaixonada pela capa desse livro!! Percebi exatamente o que você disse sobre as sombras. Li a sinopse, mas não foi algo que não esperava. Porque para mim isso já está evidente na capa do livro.
    Quero muito ler. Sua resenha ficou muito boa e me deixou com mais vontade ainda!! Gosto de livros que fazem esse paralelo e que tratam assuntos de forma tão delicada. Espero poder ler em breve. Beijos!!
    Quer falar de livros?

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