Resumo do Mês - Dezembro

1 de janeiro de 2024

Esse mês é aquela correria de sempre, Natal, aniversário da Vivi, desespero, dedo no cool e gritaria... Mais um Dezembro com tudo dentro da normalidade daqui de casa... O problema é que um belo dia desses fui inventar de carregar o Ian pra levar ele pra cama, porque a benção tinha dormido num colchão que coloquei o chão da sala, mas não pensei que além de eu estar toda dolorida por causa da pintura das paredes que não tinha fim, a criança pesa quase 30kg e ainda ficou fazendo pirraça porque não queria ir pra cama, e ficou se jogando no chão pra eu largar ele. Resultado disso foi que minha coluna deve ter se esgoelado e saído do lugar, porque o estalo que ouvi e a dor que passei a sentir a partir desse episódio fatídico me rendeu uma visita no pronto-socorro, duas injeções na bunda, um pedido de ressonância pra investigar a lombalgia, e remédios que não acabam mais. E aproveitando esses dias de molho com o corpo duro, eu li. Li como se não houvesse amanhã, e percebi que há males que vem pra bem, porque se eu não parasse, nem que fosse por mal, eu talvez não daria conta de por as leituras em dia e acabar o ano sem pendências. Mas por causa dessa gracinha não terminei de pintar as paredes e nem de organizar a bagunça, e nem sei quando vou dar conta de fazer isso, meudeusdocéu.

Uma notícia maravilhosa foi que saiu a sentença da juíza sobre meu processo contra o Facebook pela minha página que foi roubada e, mesmo fazendo tudo sozinha e sem advogado, a decisão foi a meu favor. Além da indenização por danos morais pela falta de suporte e descaso que tiveram comigo, ainda vão ser obrigados a me devolver minha página, porém, com o recesso do final de ano, vou ter que esperar um pouco mais. Mas pra quem já esperou até agora, dá pra aguentar mais umas semanas.

Enfim... Em 2024 tem mais.

Resenhas

Wishlist de Board Game

 




Caixa de Correio #141 - Dezembro - Adios, 2023!

31 de dezembro de 2023

Esse mês não comprei muita coisa por motivos das prioridades de fim de ano. Niver da Vivi, Natal, comilanças e gostosuras, fora a trabalheira danada pra organizar e fazer tudo praticamente sozinha. Daqui a pouco é ano novo e tô aqui, atrasada, fazendo um pudim e esperando algum milagre que faça o bendito ficar pronto a tempo.
Só aproveitei umas míseras promoções de jogos e um deck da minha lista e os ivros vieram da parceria (que já tem resenhas publicadas  inclusive).

Mestre dos Djinns - P. Djèlí Clark

27 de dezembro de 2023

Título:
 Mestre dos Djinns - Dead Djinn Universe #1
Autor: P. Djèlí Clark
Editora: Suma
Gênero: Fantasia Urbana/Steampunk
Ano: 2023
Páginas: 352
Nota:★★★☆☆
Sinopse: Cairo, 1912. Fatma el-Sha’arawi é a mais jovem mulher a trabalhar para o Ministério de Alquimia, Encantamentos e Entidades Sobrenaturais. Mas ela certamente não é nenhuma novata, ainda mais depois de ter impedido a destruição do universo no último verão.
Após um assassinato envolvendo os membros da Sociedade Hermética de Al-Jahiz, irmandade secreta dedicada ao homem mais famoso da história, a agente é convocada para investigar o caso. Quarenta anos antes, al-Jahiz abriu o véu que isolava o mundo mágico ― trazendo os djinns, ou gênios, para a realidade humana ― e desapareceu sem deixar vestígios. Agora, o assassino alega ser o próprio al-Jahiz, que voltou para punir a sociedade moderna por suas injustiças sociais.
Na companhia de Hadia, sua nova assistente, e de Siti, sua namorada e devota dos antigos deuses egípcios, Fatma precisará desvendar a identidade do impostor ― se é que ele é mesmo um impostor ― para reestabelecer a paz.

Resenha: Mestre dos Djinns, escrito pelo autor P. Djèlí Clark, se passa na cidade de Cairo de 1912, num Egito alternativo e steampunk que se transformou numa superpotência política, a frente até mesmo de países europeus. Esse destaque do Egito ocorreu há quarenta anos, após o lendário al-Jahiz ter abrido o véu que separava o mundo real do sobrenatural e causado uma revolução mágica. Djinns e outras criaturas fantásticas adentraram o mundo real mas, logo em seguida, al-Jahiz desapareceu sem deixar rastros. Com a presença das criaturas, a magia se tornou parte da realidade e passou a ser algo comum.

Quando um assassinato misterioso envolvendo a aristocracia britânica e os membros da Sociedade Hermética de Al-Jahiz (uma irmandade secreta dedicada a al-Jahiz) acontece, Fatma el-Sha'arawi, uma detetive "bastante experiente" de vinte e poucos anos, entra em cena.
Numa época onde o sufrágio feminino está avançando pelo Egito, Fatma é a mulher mais jovem e uma das poucas a trabalhar no Ministério da Alquimia, Encantamentos e Entidades Sobrenaturais. Agora ela foi designada a investigar esse assassinato que acaba a levando a uma pessoa que alega ser o próprio al-Jahiz. Fatma embarca nessa missão determinada a desmascarar o impostor com a ajuda de Hadia, sua assistente que é super comprometida com o trabalho.

O livro é narrado em terceira pessoa e a escrita do autor é relaticamente boa, porém com ressalvas. Algumas descrições e palavras são floreadas demais, outras carecem de O cenário e a construção de mundo em si é incrível e, apesar de bastante criativo, achei que o enredo e a construção dos personagens estavam com várias falhas que acabaram deixando a história dispersa e com pontos que pareciam só estarem alí pra desviar a atenção do leitor. Uma coisa que dificultou a leitura pra mim foi o excesso de palavras da cultura egípcia, como roupas, comidas ou objetos. Não tenho nada contra a cultura em si, mas pra quem não está acostumado ou não sabe o que são essas coisas descritas pelo autor, ou vai precisar interromper a leitura e ir pesquisar, ou vai ignorar e fingir que sabe, e seja o que Deus quiser. Alguns elementos foram inseridos na intenção de aumentar a tensão e os problemas pra se enfrentar, mas não havia a menor necessidade visto que deixou mais perguntas do que respostas e que, talvez, serão aprofundadas num próximo volume. Outra coisa é que num universo onde as pessoas já se habituaram ao sobrenatural, Fatma - que trabalha no Ministério - não parece enxergar o óbvio algumas vezes, e suas reações diante de algo que ela já deveria estar acostumada e tratar como algo rotineiro, não parecem ser reais.

Fatma, como aquela protagonista que dá a ideia de ser alguém super fodona, competente e habilidosa, não passa de uma abençoada totalmente superficial, arrogante e desatenta que se aproveita das conveniências do enredo e da boa vontade das testemunhas que aparecem em seu caminho pra lhe dizer exatamente o que fazer, e se não fosse isso, ela não chegaria a lugar nenhum, nunca. Sua falta de competencia em várias situações desencadeiam conflitos que, ao meu ver, não deveriam existir. Acho que sua assistente é muita mais profissional do que ela. Não sei se isso foi algo proposital feito pelo autor, mas a impressão que tive era que ele focou mais na sua obsessão por roupas estilosas e relacionamento amoroso pra dar um toque de bom humor (?) do que a missão investigativa que, ao meu ver, era o que importava alí.
Siti, a namorada de Fatma, é uma personagem cheia de camadas e foi uma pena que não foi tão explorada como eu gostaria. Ela tem sua importância no enredo, seja com relação ao mistério como também para o desenvolvimento de Fatma, além de abordagens bem adequadas que criticam temas delicados como racismo e intolerância religiosa.

Embora haja muita tensão em cenas mirabolantes e cheias de perigos, as coisas não parecem manter um ritmo padronizado, pois várias situações sofrem reviravoltas mas são resolvidas de formas relativamente simples pra todo o alvoroço apresentado, e a sensação é de desorientação e aleatoriedade. O vilão também é super caricato (e tenho certeza que foi feito assim de propósito) com suas motivações e discursos ridículos enquanto gira o próprio bigode.

Em meio à trama, achei interessante a forma como o autor abordou a questão do espaço e dos direitos que as mulheres começaram a ter numa época onde, embora houvesse um pouco de tolerância, a misoginia ainda tinha muita força, e não só isso, como também o racismo, a xenofobia e o elitismo dos quais ele aproveita pra fazer uma excelente crítica. Fatma representa um pouco desse progresso, principalmente por ela ser lésbica, mas fica evidente que tudo poderia ser melhor, ainda mais se formos considerar que é um universo alternativo e que não precisa seguir a risca a nossa realidade...

Mestre dos Djinns traz uma história com um estilo alternativo e engenhoso bastante interessante de um Egito que ascendeu com a ajuda do sobrenatural. Pra quem gosta de boas contruções de mundo, do estilo steampunk com aquela pegada de magia, suspense, caos e investigações em meio a cultura a mitologia egípcias, e ficou curioso pra acompanhar uma detetive com habilidades duvidosas mas com gosto requintado para ternos, é leitura mais do que indicada.

Eu Nasci Pra Isso - Alice Oseman

22 de dezembro de 2023

Título:
 Eu Nasci Pra Isso
Autora: Alice Oseman
Editora: Seguinte
Gênero: Romance/Jovem Adulto
Ano: 2023
Páginas: 368
Nota:★★★★☆
Sinopse: Angel Rahimi está prestes a realizar o sonho de qualquer garota: ir para Londres com a melhor amiga para assistir ao show do Ark, sua boyband favorita. Angel faz parte do fandom da banda há anos, e foi ali ― em meio a fóruns, fanfics e postagens nas redes sociais ― que encontrou amizades verdadeiras e um lugar no mundo.
Jimmy Kaga-Ricci é o vocalista do Ark, e deve tudo o que tem ao grupo. Shows lotados, fãs apaixonados e festas com celebridades são comuns em sua rotina, mas o sucesso cobra um preço caro, e ele sofre cada vez mais com crises de ansiedade e paranoia.
Os caminhos de Jimmy e Angel se cruzam justo quando ele começa a questionar se a fama é algo que realmente deseja, e ela a se perguntar se o amor que sente pelo Ark só é tão grande porque a ajuda a fugir de seus problemas. Entre conversas sobre música e surpresas inesperadas, esta é uma história sobre o poder de acreditar em alguma coisa ― especialmente em si mesmo.

Resenha: Saindo do universo de Heartstopper, Alice Oseman trouxe Eu Nasci pra Isso, publicado no Brasil pela Seguinte, que vai contar a história de Angel e Jimmy.

Fereshteh Rahimi (ou Angel, que é o apelido que ela usa na internet e como prefere ser chamada) é muçulmana, tem 18 anos, acabou de se formar no ensino médio e pretende fazer faculdade de psicologia. Já faz anos que Angel faz parte do fandom da sua boyband favorita de pop rock, a banda Ark, que ela vive pra idolatrar. Como ela não conhecia ninguém que dividisse esse amor pela banda como ela, Angel passou a investir seu tempo em fóruns e postagens em redes sociais pra procurar saber tudo sobre os meninos e poder conversar sobre eles com quem também tivesse o mesmo interesse, e foi nesse espaço virtual que ela se encontrou e podia ser e agir como ela mesma. Numa dessas, ela conheceu Juliet, que compartilhava da mesma paixão pela banda e se tornou sua melhor amiga. As duas tem a mesma idade e levam essa amizade movida pelo Ark já faz dois anos, e agora Angel e Juliet estão prestes a realizar o maior sonho de suas vidas: Viajar para Londres para assistir ao show da banda.
Do outro lado, Jimmy faz parte do Ark e nao está sabendo lidar muito bem com a ideia de ser uma celebridade adorada, e sofre cada vez mais com crises de ansiedade, ataques de pânico e paranoia.
Até que os caminhos de Angel e Jimmy se cruzam num momento onde eles passam a se questionar sobre o que querem da vida, e se o que estão vivendo vale a pena...

A história se passa num período de uma semana e pra cada dia há os pontos de vista intercalados de Angel e Jimmy para o que vai acontecendo. Os capítulos (o dia da semana) são iniciados com alguma citação de Joana D'arc e parece servir de referência para uma música da banda, a "Joan of Arc".
A narrativa é feita em primeira pessoa e é bem leve e fluída, mas é bem diferente das HQs da série Heartstopper da autora. Acho que não teria como ser de outra forma já que, aqui, ela precisou concentrar num único volume as descrições mais detalhadas de personalidade e percepção de mundo dos personagens. Não sei se o livro faz parte de uma série, mas até aqui achei tudo em apresentado e bem definido.

Angel é "estranha", seus pensamentos vivem se atropelando e ela guarda pra si a maioria deles. Às vezes, ela prefere ficar desconfortável numa situação do que pôr pra fora o que pensa e sente mas, em outras vezes, fala demais a ponto de passar dos limites, e isso é um pouco irritante.
Jimmy é um jovem trans, guitarrista da banda, que sofre de ansiedade e ataques de pânico. Ele parece não ter se acostumado com o sucesso da banda e agora precisa lidar com toda a pressão que a fama trouxe para a sua vida.
Rowan e Lister são os outros dois membros do Ark que também tem seus dilemas com relação a fama e à vida pessoal deles, que diga-se de passagem, é tão interessante quanto as dos protagonistas. Seus arcos e personalidades foram muito bem construídos e o conjunto de amizade e fama dos três forma uma dinamica muito legal de se acompanhar.

Embora cada um tenha um tipo de representatividade com relaçaõ à sexualidade, isso nao é o que os define como pessoas ou o que define os aspectos de suas vidas, apenas faz parte de quem eles são. O que entra em jogo aqui, além das questões psicológicas que eles enfrentam, é a dinâmica entre celebridade e fã, o que é um excelente ponto de reflexão para os leitores numa época em que a gente vê o que acontece e tem exemplos, na maioria das vezes, bem desagradáveis. O livro explora muito bem a questão da relação entre fã e ídolo, mostrando os dois lados da história. Enquanto Angel ama fazer parte do fandom, ela descobriu alí algo que a faz feliz e fez amigos verdadeiros mas, por outro lado, toda essa paixão e intensidade dos fãs, fez com que ele se sentisse sufocado, e Jimmy - assim como seus amigos - acabou sendo afetado de forma muito negativa, principalmente pelo fato de que sempre há aquele tipo de midia oportunista que sai divulgando toda e qualquer "notícia" da forma mais conveniente pra eles, visando cliques e lucro por saber que há um bando de desmiolados que consome esse tipo de conteúdo como se não houvesse amanhã, e azar se alguém vai sofrer com isso ou não.

Percebi que a autora sempre tem uma forma diferente, num contexto diferente, e com personagens diferentes, para falar de representatividade LGBTQIA+ e saúde mental, e sempre da forma mais compreensível possível, e com o devido respeito, pra que possa fazer todo mundo que lê suas obras poder refletir sobre a importância do tema.

Não vou dizer que foi meu livro preferido da autora pois, por mais que eu também tenha vivido essa fase de ser fã de boybands na adolescência (Backstreet Boys e Hanson quem o diga), eu nunca tive essa obsessão a ponto de fazer parte de clubinhos, fandons, ir em shows e afins, logo, apesar de entender essa paixão, não pude me identificar tanto assim. Outra coisa que ainda não sei se, pra mim, foi positiva ou não é que, por mais que os personagens passem por uma experiência que faz com que eles amadureçam e entendam várias coisas da vida, não significa que eles tenham um final feliz. Claro que na vida real é o mais óbvio de se acontecer, mas às vezes a gente só quer ler algo pra fugir da realidade, e não que essa realidade fictícia nos dê mais uns tapas na cara. Mas, posso dizer que é um livro bem legal e que aborda temas super atuais, como a vida online ser bem diferente da vida real, sobre música, sobre consequências de se ter obsessão por celebridades e a necessidade de fazer parte de algo pra se sentir aceito, sobre ter a vida virada de cabeça pra baixo quando a fama vem muito rápido, e claro, sobre saúde mental, e, tudo isso, focando no quanto os personagens são muito humanos e no desenvolvimento da amizade que eles cultivam, em vez do romance convencional. E isso pra mim foi um respiro longe dos clichês tradicionais.

Para o Trono - Hannah Whitten

20 de dezembro de 2023

Título:
 Para o Trono - Wilderwood #2
Autora: Hannah Whitten
Editora: Suma
Gênero: Dark Fantasy
Ano: 2023
Páginas: 416
Nota:★★★☆☆
Sinopse: Cumprindo seu destino como a Segunda Filha do reino de Valleyda, Red se entregou à floresta de Wilderwood, onde descobriu a verdade por trás das lendas. Com a ajuda do Lobo, ela conteve a ameaça dos Cinco Reis, mas o custo foi alto demais, e sua irmã Neve ficou presa na Terra das Sombras.
Perdida em um território desconhecido, Neve encontra um aliado improvável: Solmir, alguém com quem a Primeira Filha preferiria nunca mais ter contato. Juntos, os dois partem numa jornada perigosa em busca da Árvore do Coração, para enfim reivindicar os poderes sombrios dos deuses.

Resenha: Depois de cumprir com seu destino, Red, a Segunda Filha, descobriu a verdade por trás das lendas ao se entregar à floresta de Wilderwood. Com a ajuda do Lobo, ela conseguiu controlar e conter a ameada dos Cinco Reis, porém o custo foi sua irmã, Neve, ter ficado presa na Terra das Sombras.
Agora, presa, perdida e contra sua vontade, Neve precisa unir forças a Solmir, o vilão do livro anterior, para partirem numa jornada cheia de perigos numa tentativa de caçar deuses e reinvindicarem seus poderes sombrios para, enfim, impedirem o retorno dos Reis.

Enquanto isso, em Wilderwood, Red e o Lobo estão conectados com a floresta, e a Segunda Filha está determinada a salvar a irmã, mesmo que não saiba como fazer isso. De um lado Red tenta descobrir o que as visões que ela tem significam e como ela pode encontrar a irmã, e do outro lado, Neve, em companhia de Solmir, corre contra o tempo para reinvindicar os poderes dos deuses.

Diferente do volume anterior, mesmo que haja os capítulos intercalados com Red assumindo a narração, Para o Trono traz como questão principal a perspectiva do ponto de vista de Neverah, e isso mostra um aprofundamento maior com relação à personalidade, as decisões e a situação em que se encontra a Primeira Filha. Neve ainda é assombrada pelos erros que cometeu mas, mesmo sentido culpa, ela não cede de jeito nenhum, quer ter a última palavra sempre e não poderia ser mais irritante. Não digo que Neve é uma vilã pelas coisas que fez, ela me soa mais como uma anti-heroína que está numa jornada de aprendizado, auto conhecimento e descobertas. Ela teve um amadurecimento considerável e uma evolução boa se comparada a quem ela era no começo.
Solmir foi uma grata surpresa e arrisco a dizer que ele acabou sendo o personagem que mais gostei. Ao mesmo tempo que ele estava sempre melancólico ele demonstrava ironia, e os diálogos dele com Neve, onde eles viviam trocando farpas, foram os mais divertidos de se acompanhar. A convivência entre os dois também é responsável por uní-los cada vez mais, e é legal acompanhar o carinho que eles vão nutrindo um pelo outro, mas não nego que a construção gradual - e muito lenta -  desse "relacionamento" me soou forçada e acho que a história ficaria mais interessante e menos clichê se o romance não existisse.
Apesar de ter esse problema sério com o ritmo e com a fluidez, o livro entrega interações muito divertidas entre inimigos que se tornam aliados em nome de um bem maior enquanto rola tensão sexual, olhares sedutores e paixonites um tanto óbvias e debochadas.

A construção de mundo fica mais complexa com a inclusão da Terra das Sombras e da Árvore do Coração, e como a autora dá muitas voltas nos detalhes, senti que perdi muita coisa e deixei de entender (e me importar) com outras.

Embora tenha os momentos divertidos e os outros de pura tensão, a autora não mudou o estilo de escrita com muitos detalhes excessivos e capítulos que pareciam não ter fim. Tudo é descrito de forma tão lenta e demorada que a leitura acaba se tornando arrastada em alguns pontos e até repetitiva, e o que deveria ser uma experiência interessantíssima acaba se tornando cansativa. A forma como os capítulos destinados a Red cortam os de Neverah e ficam repetindo as mesmas informações e diálogos, dão a impressão de que há um espaço onde nada acontece e nada sái do lugar, e isso acabou quebrando o ritmo da leitura a ponto de me fazer abandonar o livro por diversas vezes enquanto eu lia outros no intervalo. A autora também destina alguns capítulos sob o ponto de vista de Raffe, mas é mais uma coisa que não acrescenta em nada e não tráz nada de interessante.
Como Red e Eammon já foram explorados à exaustão no livro anterior, achei que aqui eles não tinham quase nada a oferecer. Se a autora fosse direta, focasse exclusivamente no ponto de vista de Neve e não tivesse ficado repetindo as coisas e dando voltas e mais voltas, penso que a leitura teria fluído muito melhor.

Releituras de contos de fadas com essa pegada sombria sempre são interessantes e chamam a atenção, e acredito que aqui, com todos esses rodeios e detalhes infinitos, a autora quis promover um tipo de imersão obscura no leitor além de fazer esse contraste de luz e trevas quando comparamos as duas irmãs. Mesmo que não seja perfeita, ainda acho que a história é bastante interessante pelos elementos diferentes e pelos assuntos abordados que combinaram bem com todo esse universo. Magia, amor, perdas e sacrifícios são ingredientes que na maioria das vezes funcionam bem dentro do gênero, mas no caso da duologia Wilderwood, é preciso ter paciência e bastante tempo pra se dedicar à leitura e poder aproveitar. É aquele tipo de leitura demorada, mas que no final vale a pena.

Por Lugares Devastados - John Boyne

18 de dezembro de 2023

Título:
 Por Lugares Devastados - O Menino do Pijama Listrado #2
Autor: John Boyne
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Drama
Ano: 2024
Páginas: 224
Nota:★★★★★
Sinopse: Gretel Fernsby conseguiu escapar da Alemanha nazista e há décadas leva uma vida pacata em Londres. Em seu íntimo estão as marcas de um passado obscuro e perturbador, e ela esconde a todo custo que é a filha do comandante de um dos mais notórios campos de concentração nazistas. Tudo muda, porém, com a chegada de um novo vizinho ― Henry, de nove anos ―, de quem se torna amiga. Certa noite, Gretel presencia uma discussão violenta entre a mãe e o pai do garoto e se vê diante de uma encruzilhada: pode salvar a criança, mas a decisão implica revelar sua verdadeira identidade para o mundo.
Sequência do aclamado O menino do pijama listrado, Por lugares devastados investiga as consequências da guerra e como um acontecimento pode moldar um ser humano. É uma história emocionante e devastadora sobre uma mulher que precisa enfrentar seus erros pregressos e agir com coragem no presente.

Resenha: Por Lugares Devastados, do autor John Boyne, veio para dar continuidade à história do livro O Menino do Pijama Listrado, lançado há quase vinte anos, porém sob o ponto de vista de Gretel Fernsby, a irmã mais velha de Bruno.
A história se passa no ano de 2022, oito décadas depois que ela e a mãe conseguiram escapar da Alemanha nazista. Gretel agora é uma senhora de 91 anos e mora num belíssimo apartamento em frente do Hyde Park, em Londres.
O que ninguém sabe é que, por trás dessa senhorinha um tanto chata e antissocial, há um passado perturbador onde ela esconde a todo custo que é a filha do comandante do campo de concentração de Auschwitz e, assim, ela vai levando a vida, tentando passar despercebida, mas sem esquecer tudo o que viveu no passado.
Mas as coisas pra ela mudam quando novos vizinhos se mudam para o apartamento abaixo do seu. É um casal com um filho de 9 anos, Henry, de quem Gretel acaba se aproximando e ficando amiga. E quando ela presencia uma briga bastante violenta entre os pais do menino, ela precisa decidir se vai intervir para salvá-lo e evitar que o pior aconteça, mas essa decisão faria com que sua verdadeira identidade e seu passado fossem revelados para as pessoas. E agora?

O livro é narrado por Gretel, intercalando fatos de seu presente, onde ela enfrentra alguns problemas com seu filho que quer que ela vá para uma clínica de idosos para vender seu apartamento, e do passado, onde ela fala de sua trajetória e o que aconteceu após a fuga da Alemanha, incluindo o medo que ela e a mãe tinham de serem descobertas pela proximidade e "participação" que tiveram num dos piores eventos que a humanidade já viu.
A protagonista é uma personagem bastante complexa e com diversas camadas que vão sendo reveladas aos poucos, a cada nova informação que ela fornece sobre sua vida. É um misto de pena, raiva e um pouco de admiração por todas as situações que ela foi condicionada a viver, que por mais injustas que pareçam, são um reflexo da criação que ela teve, vivendo numa realidade em meio ao regime nazista onde ela não tinha outra opção a não ser seguir as regras. 

O que o autor levanta aqui é a questão da culpa que Gretel carrega e de que ela não é uma pessoa perfeita, fazendo o leitor refletir sobre a ideia dela entender ou não a complexidade do que estava acontecendo, se se arrependeu, se era conivente ou se apenas estava obedecendo e seguindo os ensinamentos do pai. E será que, levando tudo em consideração, ela pode ser julgada pelo que ele fez?

Boyne cria situações delicadas e bastante difíceis, desde as relatadas por Gretel que mostram as consequências de uma guerra mundial e uma vida cheia de mentiras e culpa, até as cenas presentes com os vizinhos que envolvem violência doméstica, e é impossível não se colocar no lugar dela, imaginando o que faríamos se fosse com a gente.

Não vou me alongar muito dando mais detalhes porque, assim como o primeiro livro, este é uma experiência literária que deve ser absorvida ao máximo pelo leitor para que ele seja surpreendido com os acontecimentos, as reflexões e as reviravoltas incríveis que acontecem.

Percebi alguns problemas na tradução e na linha do tempo que fugiram do que foi feito no primeiro livro, mas ainda dá pra entender sem atrapalhar a leitura, só achei válido pontuar.

Por Lugares Devastados é uma leitura comovente que não só complementa o livro anterior com questões sensíveis sobre culpa, cumplicidade e redenção, como tráz reflexões brutais sobre a banalidade da maldade e suas consequências.