Schulz & Peanuts - David Michaelis

23 de janeiro de 2016

Título: Schulz & Peanuts - A biografia do criador do Snoopy
Autor: David Michaelis
Editora: Seoman
Gênero: Biografia
Ano: 2015
Páginas: 592
Nota: ★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino
Sinopse: Charles M. Schulz, o cartunista mais publicado e amado de todos os tempos, é também uma das figuras menos compreendidas da cultura americana. Agora, o aclamado biógrafo David Michaelis nos dá a primeira biografia completa desse artista complexo, generoso, humilde, mas fervorosamente sério, apresentando um homem tão digno de admiração quanto francamente humano. Baseado em anos de pesquisas, incluindo entrevistas exclusivas com os familiares, amigos e colegas de Schulz, acesso aos arquivos do estúdio do cartunista e cartas pessoais e desenhos até então desconhecidos, 'Schulz & Peanuts' é a biografia épica definitiva de um ícone americano e dos inesquecíveis personagens que criou.

Resenha: Schulz & Peanuts começou a ser escrito por David Michaelis alguns meses depois da morte de Charles M. Schulz, em 2000. A biografia foi originalmente publicada em 2007 nos Estados Unidos mas somente em 2015 foi lançada no Brasil pelo selo Seoman, do Grupo Editorial Pensamento.
Charlie Brown, Snoopy, Woodstock e todo o resto da turma dos Peanuts (ou A Turma do Charlie Brown, como ficou conhecido no Brasil), falam uma língua universal sendo um dos quadrinhos mais populares e notáveis do mundo. Todo mundo gosta, e se alguém ainda não conhece, basta um único contato para passar a admirar, é fato. Esta biografia de Charles M. Schulz, o criador desses personagens únicos e tão amados no mundo todo, revela suas influências pessoais desde sua infância, a época utilizada para servir de inspiração ao criar suas tirinhas, até quando perdeu a luta contra o câncer e morreu pouco antes de sua última tirinha ser publicada.


Schulz (ou Sparky, como era chamado), era um jovem tímido, reservado e bastante humilde. Ele carregava em torno de si um ar de mistério quando se tratava das outras pessoas, mas colocou no papel suas inseguranças, suas alegrias e seus sonhos, e todos os acontecimentos marcantes de sua vida, assim como pessoas que fizeram parte dela, serviram de exemplo para criar suas histórias.
Além do livro ser biográfico, o autor, após tanta pesquisa sobre a vida de Schulz, também faz sua próprias críticas sobre a vida desse homem que se tornou um verdadeiro ícone. A ideia de usar algumas tirinhas para evidenciar e realçar os acontecimentos da vida do cartunista, onde ele expressava sentimentos e pensamentos próprios a fim de canalizá-los nos quadrinhos, faz do livro uma obra bastante intrigante e até mesmo revolucionária.
O livro é dividido em seis partes com momentos que se iniciam na infância do artista, bem como o ambiente social no qual ele cresceu, a morte da mãe, a ausência do pai devido ao trabalho, o cachorro que era o mascote da família e afins, e talvez devido aos vários anos de pesquisa para que esta biografia fosse escrita e finalizada, é possível perceber que, por tantos detalhes, a leitura se torna bastante carregada e exaustiva em algumas partes, mas ainda assim muito rica em detalhes e bastante reveladora.


Acredito que a análise do autor acerca de cada personagem foi um dos melhores pontos da obra pois é possível perceber que o desenho, apesar de gracioso e cômico, tem uma enorme carga de melancolia embutida em expressões e diálogos, e tal aspecto pessimista, e até bastante depressivo, ilustra fatores que podem ser compreendidos ao sabermos sobre a vida de seu criador. Depois de tudo o que viu e viveu, é possível enxergarmos que Schulz era um homem complexo, com feridas profundas o bastante para não serem totalmente apagadas e nem omitidas de suas criações.
Embora Schulz tenha sido um pouco apagado como sujeito biográfico, Michaelis fez um trabalho respeitoso e de excelência ao capturar as fases da vida dele, assim como as motivações que o impulsionaram em sua trajetória.
"Minha aparência comum foi um disfarce perfeito." - Charles M. Schulz
- Pag. 65



O projeto gráfico do livro é muito caprichado. A casinha do próprio Snoopy, que na capa ainda tem detalhes em alto relevo, dá todo um significado à obra. As páginas são amarelas e a diagramação é super caprichada pois, além de tirinhas e ilustrações de Peanuts, há também fotografias pessoais de Schulz num papel diferenciado com uma textura mais lisa que lembra aqueles encontrados em revistas.

Talvez não seja incorreto afirmar que a biografia escrita por David Michaelis não tenha sido a primeira sobre a vida de Schulz, pois ele próprio afirmava que para conhecê-lo bem, bastava que suas tirinhas fossem lidas... E ao analisar o comportamento de seus personagens tão peculiares, é possível enxergar um pouco do cartunista em cada um deles, sem sombra de dúvidas...




Americanah - Chimamanda Ngozi Adichie

22 de janeiro de 2016

Título: Americanah
Autora: Chimamanda Ngozi Adichie
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Romance/Ficção
Ano: 2015
Páginas: 516
Nota: ★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Lagos, anos 1990. Enquanto Ifemelu e Obinze vivem o idílio do primeiro amor, a Nigéria enfrenta tempos sombrios sob um governo militar. Em busca de alternativas às universidades nacionais, paralisadas por sucessivas greves, a jovem Ifemelu muda-se para os Estados Unidos. Ao mesmo tempo que se destaca no meio acadêmico, ela se depara pela primeira vez com a questão racial e com as agruras da vida de imigrante, mulher e negra. Quinze anos mais tarde, Ifemelu é uma blogueira aclamada nos Estados Unidos, mas o tempo e o sucesso não atenuaram o apego à sua terra natal, tampouco anularam sua ligação com Obinze. Quando ela volta para a Nigéria, terá de encontrar seu lugar num país muito diferente do que deixou e na vida de seu companheiro de adolescência. Chimamanda Ngozi Adichie parte de uma história de amor para debater questões prementes e universais como imigração, preconceito racial e desigualdade de gênero.

Resenha: A autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie é bem conhecida por suas publicações que abordam o feminismo de uma forma bastante direta, e Americanah, um romance político publicado no Brasil pela Companhia das Letras, não é exceção.

A Nigéria de 1990 enfrentava tempos difíceis sob um regime militar bastante rígido que fazia inclusive com que as universidades ficassem em greve por períodos indeterminados, prejudicando estudantes e impedindo que realizassem seus sonhos. Ifemelu, em busca de melhores oportunidades, resolve deixar sua família e seu primeiro amor pra trás, e parte para os Estados Unidos. Mas anos depois, formada em comunicação e blogueira de sucesso, ela decide voltar às raízes, e, secretamente, para Obinze.

O livro é narrado em terceira pessoa através das memórias da protagonista que se desenrolam de forma não linear além de capítulos intercalados que se referem a Obinze, que namorava Ifemelu no ensino médio antes dela deixar seu país. A escrita da autora é bastante fácil e fluída e através das ironias e dos toques de humor podemos perceber as diversas formas de preconceito, mesmo as mais sutis. O que move a trama é a ideia de Ifemelu voltar a Nigéria e os motivos que a leveram a tomar tal decisão.
Em suma, a vida de Ifemelu, desde a infância até a fase adulta, é descrita com perfeição no que diz respeito a detalhes e situações que ela viveu, pois a personagem é aprofundada de tal forma que não nos limitamos a conhecer somente ela, mas também seus pais, sua cultura e estilo de vida que levava no cotidiano até ter decidido deixar tudo pra traz, desfazendo laços e abrindo mão do amor em nome de um sonho que pra ela era maior, mas ao ir embora, Ifemelu se depara com uma realidade totalmente diferente da qual estava acostumada, pois enquanto na Nigéria ela era uma jovem comum que não era tratada com nenhuma distinção em meio as demais pessoas, nos Estados Unidos ela acaba se "descobrindo" negra, e que diante dos outros, isso a tornava diferente, inferior ou pior já que a cor de sua pele ou o aspecto de seu cabelo são fatores determinantes para definí-la. Como ela mesma diz, ela nunca havia pensado nela como uma pessoa negra por nunca ter levado a raça em consideração. Ela "se tornou" negra quando pós os pés na América e percebeu que lá as pessoas tem outros conceitos que até então ela desconhecia.

Um ponto a ser destacado é sobre o blog mantido por ela, o Racenteeth. Lá ela escrevia crônicas irônicas e bem humoradas sobre situações que envolviam o racismo e como tais casos causam impacto. Alguns posts do blog podem ser lidos ao longos dos capítulos para que o leitor fique por dentro do que exatamente Ifem trata, e tais posts são ótimos já que acabam até tornando a escrita mais dinâmica ao ter esse diferencial.

Devido à narrativa que se alterna entre passado e presente, conhecemos diferentes versões dos personagens, ora mais jovens e ora mais velhos, o que possibilita ainda mais conhecê-los a ponto de entendermos suas motivações.
Ifemelu é uma personagem complexa, mas demonstra ser forte, daquele tipo que corre atrás do que quer sem medo de arriscar, e passei a admirá-la bastante. Nos EUA ela não tem estabilidade, e além de imigrante e negra, ainda é mulher, o que colabora ainda mais para julgamentos alheios.
Os personagens secundários também são ótimos e bem construídos, têm profundidade e realmente fazem diferença na representação dos menores detalhes.

Posso afirmar que Americanah é um livro notável, reflexivo e cheio de verdades. Ele aborda questões que envolvem a desigualdade social e o preconceito, a imigração e o racismo, a autoaceitação, a mudança e até mesmo a identidade cultural. É aquele tipo de livro que abala estruturas, quebra conceitos e fica na memória mesmo que tenha chegado ao fim, e permanece com a gente, nos fazendo refletir sobre o mundo em que vivemos.

O livro é muito realista e apesar de abordar um assunto sério e polêmico, ainda tem toques de muito bom humor. Os diálogos são ótimos e remetem à pessoas comuns tornando tudo muito próximo à realidade. Podemos acompanhar Ifem se adequando às condições que lhe são impostas, sendo obrigada, por exemplo, a abrir mão de seu penteado afro e alisar o cabelo para conseguir emprego. E tais cenas nos fazem refletir, nos colocam na pele dos personagens de forma que tenhamos a oportunidade de enxergar a situação pelo olhar de quem é negro e vive (e atura) tudo aquilo.
A autora também faz descrições perfeitas acerca das cidades onde Ifemelu vai sendo possível até mesmo visualizar tais lugares.

A capa é simples, mas já dá ideia do que se trata ao trazer uma silhueta (e branca) de uma mulher com uma enorme cabeleira crespa. As cores dos EUA na capa também tem significado, e o próprio título representa a adequação aos padrões americanos. A parte intrna da capa traz figuras geométricas na cor laranja que lembram a cultura africana completando e dando um toque super especial à obra.
As páginas são amarelas e a diagramação é simples. Os diálogos são apresentados com aspas e não encontrei erros de revisão.

Americanah explora a estrutura das classes americanas, trata das questões raciais e das críticas sociais com maestria e é um verdadeiro tapa na cara que nos abre os olhos para o funcionamento do mundo, principalmente aqueles que ainda se recusam a enxergar ou a entender, mas também traz uma história de amor que, apesar de não ser o fator principal, serve como um verdadeiro fio condutor, aquele verdadeiro e bonito que apesar de todos os obstáculos, perdura e se fortalece.


Sorteio - A Sereia

21 de janeiro de 2016


Ei, pessoal!
Aproveitando a véspera do lançamento de um dos livros mais aguardados do ano, em parceria com a Editora Seguinte, o blog vai sortear um exemplar de A Sereia pra vocês!!
Todos comemoram!
E pra participar é mega fácil, confira as regrinhas abaixo:
Termos e condições:
- Ter endereço de entrega em território nacional;
- Perfis fakes ou exclusivos pra promoções não serão aceitos. Caso constatado, o ganhador será desclassificado sem aviso prévio;
- Não nos responsabilizamos por danos ou extravios por parte dos correios, nem por um segundo envio em caso de devolução por erro nos dados informados ou entrega sem sucesso;
- Após o resultado o ganhador será comunicado por email (o mesmo do formulário). O prazo para responder com os dados é de até 48 horas, caso contrário um novo sorteio será realizado. Em caso de falta de resposta por parte do ganhador, o sorteio será refeito por no máximo 3 vezes. Caso ninguém responda em tempo hábil, o sorteio será cancelado;
- Caso o ganhador seja sorteado com uma entrada extra que não tenha sido cumprida, estes serão desclassificados e será feito novo sorteio;
- O envio do livro será feito em até 30 dias úteis pela Editora Seuinte após o recebimento dos dados do ganhador;

a Rafflecopter giveaway
Boa sorte!!!

A Sereia - Kiera cass

20 de janeiro de 2016

Título: A Sereia
Autora: Kiera Cass
Editora: Seguinte
Gênero: Fantasia/YA
Ano: 2016
Páginas: 328
Nota: ★★★★☆
Onde comprar (pré venda): Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Anos atrás, Kahlen foi salva de um naufrágio pela própria Água. Para pagar sua dívida, a garota se tornou uma sereia e, durante cem anos, precisa usar sua voz para atrair as pessoas para se afogarem no mar. Kahlen está decidida a cumprir sua sentença à risca, até que ela conhece Akinli. Lindo, carinhoso e gentil, o garoto é tudo o que Kahlen sempre sonhou. Apesar de não poderem conversar - pois a voz da sereia é fatal -, logo surge uma conexão intensa entre os dois. É contra as regras se apaixonar por um humano, e se a Água descobrir, Kahlen será obrigada a abandonar Akinli para sempre. Mas pela primeira vez em muitos anos de obediência, ela está determinada a seguir seu coração.

Resenha: Kahlen, uma jovem de dezenove anos, estava com a família a bordo de um navio até ter ouvido algo diferente no ar... Uma canção entorpecente atraiu a tripulação até o convés e todos ficaram em transe, sentindo uma enorme necessidade de se jogarem na água. Em meio ao naufrágio, Kahlen recobrou a consciência e lutou para voltar a superfície. Ela não queria morrer, não estava pronta, e desesperada ela ouviu uma voz... Kahlen foi puxada pra longe, foi salva pela própria Água, mas sair ilesa teria um preço a se pagar: Ela se tornaria uma sereia pelos próximos cem anos, e usaria a voz apenas para cantar e atrair as pessoas para o mar, assim como ela havia sido atraída. Somente após os término dos cem anos ela poderia usar a voz e teria a liberdade outra vez, e dentro desse tempo permaneceria sempre jovem, saudável e bonita. Oitenta anos se passaram desde então e, junto com Aisling, Elizabeth e Miaka, suas irmãs sereias, Kahlen cumpria sua sentença à risca, servindo à Água a cada chamado.
Até conhecer Akinli e tudo ficar diferente...
"Eu queria ser capaz de explicar como a interrupção de uma vida plena era melhor do que o prolongamento de uma vida vazia."
- Pág. 20
Kierra Cass trouxe a mitologia das sereias com uma construção inteiramente nova e original no que diz respeito aos costumes e até mesmo à aparência. A cauda deu lugar as pernas mas a voz e o canto continuam fatais. Embora elas sejam sentenciadas a passar cem anos servindo à Água, elas vivem como pessoas comuns, fazem planos e se ocupam com atividades rotineiras, mas carregar o fardo de serem as responsáveis por tantas mortes é algo que não é nada fácil e Kahlen é a que mais sofre com isso. Sua sentença está chegando ao fim, mas após oitenta anos de devoção e obediência ela sente que vive uma vida que não lhe pertence, se culpa pelo que faz e não consegue ser feliz.

A narrativa é feita em primeira pessoa pelo ponto de vista de Kahlen, então ficamos a par de seus pensamentos e seus dilemas, sendo possível perceber claramente o quanto sua história é difícil e carregada de melancolia. O relacionamento com suas irmãs é algo muito bonito de se acompanhar pois elas são amigas, confidentes, cúmplices uma da outra e sempre estão alí quando necessário, mas embora tenham essa afinidade, Kahlen se sente deslocada por ter outros sonhos.

Ao conhecer Akinli, ela se apaixona e tudo o que passa a sentir ao compartilhar pequenos momentos junto a ele é forte o bastante para mudar tudo o que ela acreditava até então. Com relação a essa questão fiquei me questionando sobre a vida dela, pois tudo o que ela mais queria era encontrar alguém, se casar e ser feliz com o que pra ela era mais do que suficiente: o amor. Pode parecer estranho ela ser tão diferente das irmãs, que apesar de fazerem parte dessa irmandade carregada de segredos, vão pra balada e querem curtir a vida como podem, tirando proveito das brechas dessa prisão, mas embora ela pudesse ter usado toda a sua experiência de vida para atualizar sua concepção e fazer o mesmo, ela preferiu se recolher e acreditar que o que ela precisava era alguém a quem ela pudesse amar, da mesma forma como pudesse ser amada.
Uma entidade pode amá-la e cuidar dela e de suas irmãs como filhas, mas não é a mesma coisa que ter alguém de carne e osso que possa lhe completar. Se a Água a ama, porque não a manteve livre? Por que era necessário evidenciar a superioridade e o poder para impor regras e obediência daquelas que lhe deviam a vida a troco de ferir suas almas com o que eram obrigadas a fazer? Quando as coisas são feitas por obrigação, logo se cria resistência, e com Kahlen não foi diferente... Por amor ela resistiria, mas quem em seu lugar não faria o mesmo?

Talvez algumas pessoas possam achar que a mensagem passada remete ao machismo, que seja errada, ou ainda que ensine jovens a se prenderem aos estereótipos ditados pela sociedade de que o casamento ainda é algo necessário quando não é, mas quem somos nós para julgar atos, desejos ou pensamentos que não interferem em nada no direito de ir e vir alheio? Kahlen é uma personagem, mas e se fosse alguém real? Ela seria condenada por querer se casar em vez de se dedicar aos estudos ou a uma carreira que ela simplesmente não se identifica só pelo fato de que hoje em dia o pensamento é diferente do que era oitenta anos atrás?
Talvez seja possível perceber um certo exagero na questão da necessidade de Kahlen e Akinli ficarem juntos, como se fossem morrer se houver a menor distância entre eles, mas acho que podemos levar em consideração de que se trata da primeira experiência de ambos nesse quesito. Só a experiência dentro do relacionamento pode servir como exemplo para futuras escolhas caso a primeira não dê certo. Só é possível saber, de fato, se algo vale ou não a pena se tivermos a oportunidade de vivermos a situação, e se Kahlen nunca viveu, que viva e tire as próprias conclusões.
A preocupação maior seria se os valores de Kahlen fossem distorcidos o suficiente a ponto de prejudicar alguém, mas não é esse o caso. Sua ligação com Akinli foi forte e intensa o bastante para despertar nela o amor desinsteressado, puro e verdadeiro, um sentimento que qualquer um está sujeito a viver, desde que também encontre isso em outra pessoa.
"Talvez o segredo para eu poder seguir em frente não fosse eliminar tudo o que eu sentia. Talvez só precisasse me concentrar no único sentimento que fazia todos os outros parecerem menores."
- Pág. 62 
Um ponto que achei muito válido para se destacar é a questão dos personagens e como todos tem um papel importante para o desenrolar da trama. Suas histórias de vida são tristes e muitas das escolhas que fazem são baseadas no que viveram. Juro que ficaria muito agradecida se Kiera retornasse à história para escrever um livro destinado a cada uma das irmãs. Aisling é admirável por ter conseguido suportar tanta carga dramática e emocional em sua vida, e a personalidade de Elisabeth é marcante o bastante para despertar a curiosidade por uma história contada a partir de sua visão.

A autora soube trabalhar a fragilidade de uma alma antiga e delicada, que, mesmo devastada pelo que era obrigada a fazer, tirou forças de onde menos esperava para lutar por aquilo que queria e pelo que acreditava, e tudo isso foi feito de forma leve, com abordagens sutis, com cenas memoráveis e emocionantes que só ela é capaz de descrever. Onde há tragédia é possível encontrar a esperança, e quando tudo parece estar perdido basta acreditar que as coisas vão se revolver, mesmo que seja necessário paciência.