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Sejamos Todos Feministas - Chimamanda Ngozi Adichie

9 de março de 2016

Título: Sejamos Todos Feministas
Autora: Chimamanda Ngozi Adichie
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Não ficção
Ano: 2015
Páginas: 64
Nota: ★★★★★
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Chimamanda Ngozi Adichie ainda se lembra exatamente do dia em que a chamaram de feminista pela primeira vez. Foi durante uma discussão com seu amigo de infância Okoloma. "Não era um elogio. Percebi pelo tom da voz dele; era como se dissesse: 'Você apoia o terrorismo!'". Apesar do tom de desaprovação de Okoloma, Adichie abraçou o termo e começou a se intitular uma "feminista feliz e africana que não odeia homens, e que gosta de usar batom e salto alto para si mesma, e não para os homens". Sejamos todos feministas é uma adaptação do discurso feito pela autora no TEDx Euston, que conta com mais de 1,5 milhão de visualizações e foi musicado por Beyoncé.

Resenha: Chimamanda Ngozi Adichie é uma escritora nigeriana que ficou conhecida como uma das autoras mais influentes no que diz respeito a suas obras de cunho feminista.
Sejamos Todos Feministas é um livro com apenas 64 páginas, adaptado e baseado em um discurso que a autora fez no TEDxEuston em 2012, um evento destinado a palestras dedicadas à ideias inspiradoras sobre questões políticas, sociais ou ambientais.
O discurso se referiu à sua própria experiência e teve tanta repercursão que em 2013 foi incorporado na música Flawless, da cantora Beyoncé, ganhando ainda mais notoriedade e visibilidade.
O livro foi publicado pela Companhia das Letras e está disponível para download gratuito no site da Amazon.

Somos Todos Feministas é um tipo de conversa com o leitor onde a autora expõe suas experiências, seus pensamentos e sua opnião sobre a problemática que se refere às questões de gênero tão polêmicas presentes na sociedade com bastante leveza, legividade e de forma direta dando uma ótima perspectiva sobre o tema.

"...os homens não pensam na questão de gênero, nem notam que ela existe."
- Pág. 44

Quantas vezes as mulheres foram taxadas de forma negativa apenas por serem mulheres?
O fato é que o feminismo ainda é mal interpretado, e muitas vezes é considerado como um conceito negativo, e a autora começa seu discurso assim, contando uma ocasião em que um amigo a chamou de feminista pela primeira vez, em tom acusatório e desaprovador. E ao descobrir que o feminismo é um movimento que busca e luta pela igualdade do gênero, onde homens e mulheres devem ter os mesmos direitos, ela abraçou o conceito e passou a levá-lo como um lema em sua vida.

Hoje em dia vemos vários movimentos que apoiam a causa, enquanto há quem seja contra por simplesmente não entender do que se trata sem ao menos se dar ao trabalho de procurar saber seu funcionamento e seu real objetivo.
Até quando as mulheres serão diminuidas ou privadas de direitos, escolhas e conquistas que a sociedade acredita serem destinadas exclusivamente aos homens? Até quando se submeterão a certos tipos de coisas somente para superar ou cumprir as expectativas alheias?
O problema, no meu ponto de vista, é que pra cada ação há uma reação e a luta das mulheres em busca de direitos iguais talvez seja encarada pelos homens como um desafio, uma afronta. Seria porque a ideia de perder o título de "dominador" seja incômoda e dê a impressão de fracasso ou de submissão? É difícil para alguns entender ou aceitar conceitos que não foram inseridos na educação desde a infância e, dessa forma, crescem acreditando que cada um tem um papel definido na sociedade, na família, no trabalho e afins, e o que foge disso é anormal ou errado...

Basta entender que o feminismo não é o oposto de machismo, muito pelo contrário. O feminismo tenta mudar a realidade das mulheres que vivem constantemente sendo discriminadas por sua condição de ter nascido mulher, enquanto o machismo se baseia na crença de que os homens são superiores a elas, como se isso lhes dessem o "direito" de humilhá-las, abusá-las e colocá-las em seu lugar. Mas o que me pergunto é qual lugar seria este na cabeça desses pobres coitados?

Sou mulher e meu lugar é onde eu quero estar. Trabalho e cuido da casa e dos filhos, sim, mas tenho opinião própria, falo palavrão, jogo video game, não dependo de ninguém pra nada, não me deixo levar por influências que considero negativas, cuido da minha vida sem interferir na vida de ninguém e ser respeitada por ser quem eu sou é o mínimo, é simples. E se isso incomoda aqueles que discordam ou pensam que o lugar da mulher é na cozinha, é uma pena. Não vou mudar, e as mulheres que querem respeito por serem quem são e por suas escolhas também não.

Sejamos Todos Feministas é um livro curto, sim, mas com um conteúdo grandioso, poderoso e de utilidade pública.

Confira o discurso da autora (em inglês, sem legendas) que já conta com mais de 2,5 milhões de visualizações atualmente:





Americanah - Chimamanda Ngozi Adichie

22 de janeiro de 2016

Título: Americanah
Autora: Chimamanda Ngozi Adichie
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Romance/Ficção
Ano: 2015
Páginas: 516
Nota: ★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Lagos, anos 1990. Enquanto Ifemelu e Obinze vivem o idílio do primeiro amor, a Nigéria enfrenta tempos sombrios sob um governo militar. Em busca de alternativas às universidades nacionais, paralisadas por sucessivas greves, a jovem Ifemelu muda-se para os Estados Unidos. Ao mesmo tempo que se destaca no meio acadêmico, ela se depara pela primeira vez com a questão racial e com as agruras da vida de imigrante, mulher e negra. Quinze anos mais tarde, Ifemelu é uma blogueira aclamada nos Estados Unidos, mas o tempo e o sucesso não atenuaram o apego à sua terra natal, tampouco anularam sua ligação com Obinze. Quando ela volta para a Nigéria, terá de encontrar seu lugar num país muito diferente do que deixou e na vida de seu companheiro de adolescência. Chimamanda Ngozi Adichie parte de uma história de amor para debater questões prementes e universais como imigração, preconceito racial e desigualdade de gênero.

Resenha: A autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie é bem conhecida por suas publicações que abordam o feminismo de uma forma bastante direta, e Americanah, um romance político publicado no Brasil pela Companhia das Letras, não é exceção.

A Nigéria de 1990 enfrentava tempos difíceis sob um regime militar bastante rígido que fazia inclusive com que as universidades ficassem em greve por períodos indeterminados, prejudicando estudantes e impedindo que realizassem seus sonhos. Ifemelu, em busca de melhores oportunidades, resolve deixar sua família e seu primeiro amor pra trás, e parte para os Estados Unidos. Mas anos depois, formada em comunicação e blogueira de sucesso, ela decide voltar às raízes, e, secretamente, para Obinze.

O livro é narrado em terceira pessoa através das memórias da protagonista que se desenrolam de forma não linear além de capítulos intercalados que se referem a Obinze, que namorava Ifemelu no ensino médio antes dela deixar seu país. A escrita da autora é bastante fácil e fluída e através das ironias e dos toques de humor podemos perceber as diversas formas de preconceito, mesmo as mais sutis. O que move a trama é a ideia de Ifemelu voltar a Nigéria e os motivos que a leveram a tomar tal decisão.
Em suma, a vida de Ifemelu, desde a infância até a fase adulta, é descrita com perfeição no que diz respeito a detalhes e situações que ela viveu, pois a personagem é aprofundada de tal forma que não nos limitamos a conhecer somente ela, mas também seus pais, sua cultura e estilo de vida que levava no cotidiano até ter decidido deixar tudo pra traz, desfazendo laços e abrindo mão do amor em nome de um sonho que pra ela era maior, mas ao ir embora, Ifemelu se depara com uma realidade totalmente diferente da qual estava acostumada, pois enquanto na Nigéria ela era uma jovem comum que não era tratada com nenhuma distinção em meio as demais pessoas, nos Estados Unidos ela acaba se "descobrindo" negra, e que diante dos outros, isso a tornava diferente, inferior ou pior já que a cor de sua pele ou o aspecto de seu cabelo são fatores determinantes para definí-la. Como ela mesma diz, ela nunca havia pensado nela como uma pessoa negra por nunca ter levado a raça em consideração. Ela "se tornou" negra quando pós os pés na América e percebeu que lá as pessoas tem outros conceitos que até então ela desconhecia.

Um ponto a ser destacado é sobre o blog mantido por ela, o Racenteeth. Lá ela escrevia crônicas irônicas e bem humoradas sobre situações que envolviam o racismo e como tais casos causam impacto. Alguns posts do blog podem ser lidos ao longos dos capítulos para que o leitor fique por dentro do que exatamente Ifem trata, e tais posts são ótimos já que acabam até tornando a escrita mais dinâmica ao ter esse diferencial.

Devido à narrativa que se alterna entre passado e presente, conhecemos diferentes versões dos personagens, ora mais jovens e ora mais velhos, o que possibilita ainda mais conhecê-los a ponto de entendermos suas motivações.
Ifemelu é uma personagem complexa, mas demonstra ser forte, daquele tipo que corre atrás do que quer sem medo de arriscar, e passei a admirá-la bastante. Nos EUA ela não tem estabilidade, e além de imigrante e negra, ainda é mulher, o que colabora ainda mais para julgamentos alheios.
Os personagens secundários também são ótimos e bem construídos, têm profundidade e realmente fazem diferença na representação dos menores detalhes.

Posso afirmar que Americanah é um livro notável, reflexivo e cheio de verdades. Ele aborda questões que envolvem a desigualdade social e o preconceito, a imigração e o racismo, a autoaceitação, a mudança e até mesmo a identidade cultural. É aquele tipo de livro que abala estruturas, quebra conceitos e fica na memória mesmo que tenha chegado ao fim, e permanece com a gente, nos fazendo refletir sobre o mundo em que vivemos.

O livro é muito realista e apesar de abordar um assunto sério e polêmico, ainda tem toques de muito bom humor. Os diálogos são ótimos e remetem à pessoas comuns tornando tudo muito próximo à realidade. Podemos acompanhar Ifem se adequando às condições que lhe são impostas, sendo obrigada, por exemplo, a abrir mão de seu penteado afro e alisar o cabelo para conseguir emprego. E tais cenas nos fazem refletir, nos colocam na pele dos personagens de forma que tenhamos a oportunidade de enxergar a situação pelo olhar de quem é negro e vive (e atura) tudo aquilo.
A autora também faz descrições perfeitas acerca das cidades onde Ifemelu vai sendo possível até mesmo visualizar tais lugares.

A capa é simples, mas já dá ideia do que se trata ao trazer uma silhueta (e branca) de uma mulher com uma enorme cabeleira crespa. As cores dos EUA na capa também tem significado, e o próprio título representa a adequação aos padrões americanos. A parte intrna da capa traz figuras geométricas na cor laranja que lembram a cultura africana completando e dando um toque super especial à obra.
As páginas são amarelas e a diagramação é simples. Os diálogos são apresentados com aspas e não encontrei erros de revisão.

Americanah explora a estrutura das classes americanas, trata das questões raciais e das críticas sociais com maestria e é um verdadeiro tapa na cara que nos abre os olhos para o funcionamento do mundo, principalmente aqueles que ainda se recusam a enxergar ou a entender, mas também traz uma história de amor que, apesar de não ser o fator principal, serve como um verdadeiro fio condutor, aquele verdadeiro e bonito que apesar de todos os obstáculos, perdura e se fortalece.