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Na Telinha - Anne with an "E" (2ª Temporada)

6 de março de 2020

Título: Anne with an "E"
Temporada: 2 | Episódios: 10
Elenco: Amybeth McNulty, R.H. Thomson, Geraldine James, Dalila Bela, Lucas Jade Zumann, Aymeric Jett Montaz, Kyla Matthews, Cory Gruter-Andrew, Dalmar Abuzeid
Gênero: Drama/Romance
Ano: 2018
Duração: 50min
Classificação: +12
Nota:★★★★★
Sinopse: Diante de uma falência iminente dos Cuthbert, a residência de Green Gables recebe dois novos misteriosos pensionistas: Nathaniel (Taras Lavren) e Sr. Dunlop (Shane Carty). Enquanto isso, Anne (Amybeth McNulty) estreita laços com Diana (Dalila Bela), Ruby (Kyla Matthews) e Gilbert (Lucas Jade Zumann), que faz um novo amigo estrangeiro.

Nessa segunda temporada, Anne já está melhor adaptada à vida em Avolea, assim como já conseguiu cultivar a simpatia e a amizade de algumas meninas da escola, e de Cole, que já se acostumaram com o jeitinho peculiar dela. Dessa vez, depois da perderem a colheita inteira num naufrágio, os Cuthbert estavam a beira da falência e, além de terem começado a vender seus pertences para conseguirem algum dinheiro, criaram um anúncio no jornal local oferecendo quartos em Green Glabes. Não demorou para que dois pensionistas misteriosos aparecem interessados no aluguel, mas ninguém sabe quais são as reais intenções deles alí, principalmente quando eles afirmam que existe ouro naquelas terras. Longe da cidade, Gilbert arranjou um emprego num barco, o que pra ele é uma aventura, e acaba fazendo amizade com Bash, um homem negro, pobre, e que tem uma experiência de vida bem diferente do garoto.


Com um roteiro mais maduro, se compararmos com a primeira temporada, Anne with an "E" traz uma trama que, mesmo se passando no século 18, aborda temas que resultam em reviravoltas interessantes e promove reflexões relevantes no espectador, que não remetem somente ao feminismo típico da série e a maneira como Anne tenta se encaixar quando ela é claramente diferente das outras meninas da sua idade, mas também ao machismo, ao racismo e a homofobia. Numa época onde a escravidão era permitida, a ideia de um homem negro ser livre e conviver entre brancos era absurda em meio a sociedade, assim como a homossexualidade era mau vista e tratada como uma doença, uma aberração, criando barreiras sociais e psicológicas, e impossibilitando a própria pessoa nessa condição a se assumir. Outra coisa bem interessante é a inserção de uma nova professora que tem métodos nada convencionais de ensino, e somando isso ao fato de ela ser mulher, também tem que aturar poucas e boas da população, pois o machismo também está entranhado no pensamento das próprias mulheres. E a série aborda isso de uma forma única, mostrando tanto os ataques, a forma de combate a esses preconceitos, e a reação de quem sofre com eles, o que emociona e surpreende bastante.


Anne, apesar de não ser perfeita, continua muito carismática, seja por ser sonhadora ou muito inteligente, o que a deixava a frente de sua época. A distância de Gilbert e a forma como ela se preocupa em manter contato com ele através de cartas, só reforça a ideia de que mais cedo ou mais tarde esses dois vão acabar juntos.

Além disso, também podemos voltar ao passado de Marilla e Matthew, o que nos permite entender porque ela se tornou uma mulher tão dura e que não demonstra seus sentimentos. Ter perdido um irmão e a mãe pouco tempo depois, fez com que ela assumisse o papel de responsável pela casa e por criar Matthew, logo ela se viu presa aquela condição e não pôde viver a própria vida da forma como ela gostaria por não ter outra escolha. Receber os pensionistas também é algo que lhe dá um choque de realidade, pois as pessoas nem sempre são aquilo que aparentam ser, e criar expectativas ou confiar demais pode gerar muitas decepções, infelizmente. A vida não é um mar de rosas.


Diante desses pontos e de novas experiências, é interessante ver como essa temporada consegue transitar entre a infância e a perda da inocência diante de alguma situação delicada mas que faz parte da realidade e do início de um amadurecimento necessário. Muita coisa que aprendemos vem com a dor, seja a nossa ou daqueles com quem nos importamos, e é preciso saber lidar com tudo isso pra seguir com a vida.
Há um episódio bem legal onde Anne, Diana e Cole vão a uma festa na casa de Tia Jô e se deparam com um pessoal bem diferente daqueles que vivem em Avonlea, e isso acaba expandindo a visão deles de que a vida é muito mais do que o que aprenderam naquela cidadezinha conservadora e que não evolui em nada, e que eles tem uma infinidade de opções a seguir além das tradições familiares ou sociais de se casar, ter filhos e viver nesse ciclo que parece reger a vida nessa sociedade.


Tirando alguns efeitos especiais bem mal feitos e nada a ver, o cenário e o visual no geral é muito bonito e inspirador, e é impossível não sentir vontade de visitar uma fazenda, fazer um passeio por um campo ou experimentar algumas das delícias feitas na cozinha de Green Gable.

Pra quem procura por uma série inspiradora, que emociona e trata de temas importantes com bastante delicadeza através de uma garotinha que está descobrindo o mundo à sua maneira, é série mais do que recomendada!

Na Telinha - Abominável

25 de fevereiro de 2020

Título: Abominável (Abominable)
Elenco: Chloe Bennet, Albert Tsai, Tenzing Norgay Trainor, Eddie Izzard, Sarah Paulson
Gênero: Animação/Fantasia/Aventura
Ano: 2019
Duração: 1h 37min
Classificação: Livre
Nota★★★☆☆
Sinopse: Shanghai, China. Yi (Chloe Bennet) é uma adolescente que, certo dia, descobre que um yeti está no telhado do prédio em que ela mora. A partir disso, ela e seus colegas passam a chamar a criatura mística de "Everest" e, ao criarem laços com o animal, decidem levá-lo até sua família, que está no topo do planeta. Porém, os três amigos terão que conseguir despistar o ganancioso Burnish (Eddie Izzard) e a zoóloga Dra. Zara (Sarah Paulson), que querem pegar o yeti a qualquer custo.

Em parceria com a produtora chinesa Pearl, a DreamWorks trouxe para o público mais uma aventura envolvendo uma jornada mágica e com vários perigos que se passa na China.
Yi é uma adolescente que perdeu o pai há um tempo e mora com a mãe e a vó. O sonho dela é realizar o que o pai não pode fazer ainda em vida, que seria viajar numa grande aventura pela China, e por isso vive ocupada fora de casa, fazendo diversos trabalhos para juntar dinheiro.
Num laboratório longe dalí, uma criatura enjaulada consegue escapar e acaba indo parar no telhado do prédio onde Yi mora, e quando a garota o encontra, percebe que ele é um yeti muito dorminhoco com algumas habilidades especiais e que só quer voltar pra casa, no monte Everest. Yi passa a chama-lo de "Everest", e parte com ele e mais dois amigos numa viagem cheia de aventuras pela China enquanto são seguidos pelo dono megalomaníaco do laboratório, Sr. Burnish, e pela zoóloga responsável, Dra. Zara, que querem capturar o yeti a qualquer custo.


Partindo dessa premissa, temos aquela trama bem clichê e previsível de um grupinho de amigos que precisam salvar alguém recém conhecido, e no meio do caminho passam por maus bocados até chegar ao destino. Talvez pela produtora ser a mesma, é impossível não notar uma enorme similaridade com o dragão Banguela, de Como Treinar seu Dragão. Everest é o dito "pé-grande", o "abominável-homem-das-neves", mas de assustador ele não tem nada, muito pelo contrário. Sua boca gigante faz com que ele pareça mais um cachorro feliz que adora enfiar a cabeça pra fora da janela do carro enquanto a língua voa, e ser muito peludo e fofinho reforça ainda mais essa característica. Só faltava o pobre latir.



Everest consegue controlar a natureza para que ela se mova a seu favor. Ele pode fazer as plantas florescerem e dar frutos gigantes, pode criar um verdadeiro tsunami e destruir tudo, e pode inclusive invocar nuvens e vento, logo, não entendi a real necessidade dele ter companhia de crianças que correm risco de vida ao entrarem nessa e serem perseguidas pelos agentes do Sr. Burnish e da Dra. Zara, sendo que pra voltar pra casa bastava que Everest fosse voando e pronto. A impressão que fica é que os momentos reservados ao uso desse dom são utilizados somente nas horas convenientes pra dar aquele clímax e impressionar, mas o efeito acaba sendo o contrário por ser óbvio.

Ainda assim, não nego que há algumas cenas fofas e encantadoras que podem divertir, inclusive aquelas envolvendo Yi tocando o violino que ela herdou do pai, e o que a motiva fazer tudo o que ela faz, é justamente por causa da morte e do luto por ele, e da homenagem que ela deseja prestar ao tornar esse sonho de viajar pela China que ele tinha em algo real, mas da forma que foi colocado, a ligação propriamente dita entre essa questão e o yeti, eu não acho que as crianças podem captar essa ideia de uma forma muito clara, mas, sim, fiquem ligadas à fofura de Everest e aos poderes dele que promovem os melhores efeitos visuais do filme.


Os amigos de Yi não tem muitos atrativos, visto que um deles não dava muita bola pra Yi por ela não ser popular, é viciado em redes sociais e selfies e só se preocupa com isso na vida, e o outro mais novo que adora basquete acaba sendo mais engraçadinho, mas, claro, a partir da aventura, eles acabam tendo uma visão de mundo diferente. Apesar de fracos, eles movimentam a trama dando toques de bom humor e trazendo alguma pouca tensão, já que algumas coisas dão errado, e mostrando que uma amizade improvável pode surgir e se fortalecer nessa dinâmica, onde a união em prol de algo maior é a única coisa que lhes resta.

Já não posso falar a mesma coisa dos "vilões", que não tem motivações convincentes pra seguir com seus planos "malignos", ou que causam "reviravoltas" inexplicáveis pra mudarem de lado numa tentativa bem xulé de causar qualquer emoção no público. Sei que em animações infantis é comum que as coisas se resolvam - e elas sempre se resolvem - de uma forma feliz, mas quando isso é feito de forma preguiçosa eu morro de dó.


Abominável traz uma aventura até divertida abordando temas como amizade, família, luto e autodescoberta num visual bem bacana e utilizando uma trilha sonora tocante e muito legal, mas a animação em si não traz nada de inesquecível, pra ser sincera.

Na Telinha - Anne with an "E" (1ª Temporada)

7 de fevereiro de 2020

Título: Anne with an "E"
Temporada: 1 | Episódios: 7
Elenco: Amybeth McNulty, R.H. Thomson, Geraldine James, Dalila Bela, Lucas Jade Zumann, Aymeric Jett Montaz
Gênero: Drama/Romance
Ano: 2017
Duração: 50min
Classificação: +12
Nota:★★★★★
Sinopse: Depois de treze anos sofrendo no sistema de assistência social, a orfã Anne é mandada para morar com uma solteirona e seu irmão. Munida de sua imaginação e de seu intelecto, a pequena Anne vai transformar a vida de sua família adotiva e da cidade que lhe abrigou, lutando pela sua aceitação e pelo seu lugar no mundo.

Baseada no romance Anne of Green Gables, de Lucy Maud Montgomery, a série se passa na vila fictícia de Avonlea, situada na Ilha de Príncipe Eduardo, uma província no Canadá, no final do século XIX, e acompanha a vida da orfã Anne Shirley, uma garotinha sonhadora, muito falante, e dona de um vocabulário invejável pra idade que tem.


No século XIX, era comum as crianças trabalharem desde bem pequenas, e muitas delas, principalmente as de famílias mais pobres, eram vistas pelos pais como um verdadeiro fardo do qual tinham que se livrar o quanto antes, e para quem era órfão, a situação era ainda pior. Numa sociedade onde homens e mulheres têm papéis definidos desde o nascimento, qualquer tentativa de fugir desses padrões é vista com preconceito e desdém.

Nesse cenário, várias famílias já adotaram a pobre Anne, mas em vez dela ser recebida com amor e tratada com carinho, tinha que trabalhar duro para "agradecer" o favor de ter sido adotada, e por ser órfã, o desprezo com que sempre foi tratada acabou lhe causando alguns traumas, e fazendo com que ela aprendesse e tivesse contato com algumas coisas que uma criança jamais deveria saber. Diante disso, Anne escolheu usar a imaginação como válvula de escape para lidar com essa dura realidade, então ela sempre se imagina sendo uma mulher forte e corajosa que, embora passe por vários obstáculos, consegue vencer as adversidades para se tornar uma grande heroína. Ela inclusive adora ler, e seu livro favorito de onde tira várias citações memoráveis é Jane Eyre, de Charlotte Brontë.


Tudo começa quando os irmãos Marilla e Matthew Cuthbert, já idosos, decidem adotar um menino para ajudar com os afazeres da fazenda, mas quando Matthew vai buscar a criança, se depara com Anne na estação de trem e a leva para Green Gable. Porém, por estar esperando um menino, Marilla, decepcionada, não tem outra reação a não ser querer resolver esse equívoco devolvendo a menina para o orfanato. Tendo sido rejeitada outra vez, Anne desaba e perde as esperanças de ter um família acolhedora onde ela pudesse ser feliz, mas Marilla não tem intenção de deixá-la na mesma situação de antes e acaba lhe dando uma chance, mas ela teria que provar ser merecedora de ficar.
Embora Matthew já tivesse a aceitado e ficado encantado com seu jeito peculiar de ser, não seria uma tarefa fácil pra Anne conquistar Marilla, que sempre demonstra ser uma fortaleza de gelo. Anne não é perfeita. Ela é irritante, não para de falar um minuto, suas falas e atitudes são exageradas e floreadas a ponto de serem cafonas, e ela parece ser incapaz de cativar as pessoas, mas tudo é proposital e compreensível.


Os episódios trazem algumas cenas com flashbacks do passado de Anne, mostrando o quanto sua vida foi difícil ao trabalhar para algumas famílias, ou o que acontecia em sua estadia no orfanato, contextualizando, assim, algumas de suas reações frente a atitudes preconceituosas, humilhantes, lamentáveis e revoltantes com que adultos e crianças a tratam com frequência. Apesar de tristes e impactantes, esses flashbacks não destoam da série e nem tiram sua leveza, só colaboram ainda mais pra nos deixar emocionados.


Quando Anne começa a ir pra escola, ela percebe que seu comportamento não é aceito pelos colegas e pelo professor, um homem odioso que parece existir somente pra descontar suas frustrações nas crianças. Ela sofre bullying por ser órfã, por ser ruiva e ter sardas, e constantemente ela fala que se sente feia e seu maior sonho é ser bonita. Mesmo que ela consiga fazer amizade com Diana, que mora na fazenda vizinha e vive tentando amenizar as ofensas das outras meninas contra Anne, ela se sente excluída, deslocada, e não sabe o que fazer pra se aproximar das outras crianças que vivem rindo ou debochando dela. Quando ela conhece Gilbert, um garoto da escola que a defende de várias humilhações, ela começa a se afastar dele porque uma das meninas da escola sonha em se casar com ele um dia (???). Anne passa a evitar o garoto para não ter problemas com as outras meninas, mas por aí a gente já sabe que eles vão se aproximar mais cedo ou mais tarde... Gilbert é fofo, não trata ninguém mal e nem gosta de injustiças. Onde os outros enxergam uma garota feia e sem modos, ele enxerga uma menina inteligente e adorável.


Seu apoio seria os Cuthbert, sua família, mas Marilla, sempre tão dura, não tem paciência para as "ladainhas" da garota. E medida que Marilla vai conhecendo Anne mais a fundo, ela vai amolecendo e o amor pela garota fica evidente a ponto de ela passar a questionar seu papel como mulher na sociedade. Se antes ela era conhecida como a solteirona que dedica a vida a casa e ao irmão, agora ela é mãe e tem alguém a quem proteger e servir de exemplo.
Matthew é mais paciente e tolerante com os dilemas de Anne, o problema com ele é a questão dele já estar velho, aparentando ter alguma doença grave, e sua preocupação é não dar conta de ajudar a manter a família.

Talvez o único ponto estranho da série é a forma como ela acaba. Por passar de uma forma tão sensível e lúdica temas tão pesados, o esperado para o final é uma cena bonita em família ou coisa do tipo, mas o gancho negativo representando alguma ameaça e causando a "necessidade" de uma continuação, não combinou muito bem.


Apesar da vida de Anne não ter sido fácil e ela ainda passar por várias provações com uma sociedade cujo preconceito é enraizado e a visão de mundo é tão limitada, a série tem um clima mágico e consegue abordar com sensibilidade temas como identidade, aceitação e esperança de uma forma leve, emocionante e gostosa de assistir. Anne with an E é uma série sensível, com um cenário inspirador e com uma linguagem bastante rica. Se você gosta de histórias de época que abordam os desafios que uma garotinha tem que enfrentar na vida para encontrar seu lugar no mundo, recomendo muito.

Na Telinha - Frozen II: O Reino do Gelo

18 de janeiro de 2020

Título: Frozen II: O Reino do Gelo (Frozen II)
Elenco: Kristen Bell, Idina Menzel, Josh Gad, Jonathan Groff
Gênero: Fantasia/Animação/Musical
Ano: 2019
Duração: 1h 44min
Classificação: Livre
Nota:★★★★☆
Sinopse: De volta à infância de Elsa e Anna, as duas garotas descobrem uma história do pai, quando ainda era príncipe de Arendelle. Ele conta às meninas a história de uma visita à floresta dos elementos, onde um acontecimento inesperado teria provocado a separação dos habitantes da cidade com os quatro elementos fundamentais: ar, fogo, terra e água. Esta revelação ajudará Elsa a compreender a origem de seus poderes.

As coisas em Arendelle parecem estar caminhando bem depois de Elsa ter voltado do Castelo de Gelo e revertido o inverno eterno. Elsa se tornou uma rainha justa e amada por todos, e Anna engatou um namoro fofo com Kristoff. Mas, depois de Elsa ouvir um misterioso chamado (que só ela escuta), ela e a irmã, em companhia de Kristoff, Sven e Olaf, vão embarcar numa jornada em busca de respostas sobre o passado do reino para impedir a destruição de Arendelle.


Como qualquer sequência, esperamos que ela acrescente pontos à história que façam alguma diferença e responda perguntas que ficaram sem respostas, e Frozen 2 cumpriu isso em partes. A animação se passa seis anos após a morte do Rei Agnarr e da Rainha Iduna (o que na cronologia deve corresponder por volta de uns 3 anos desde que Elsa foi coroada como Rainha de Arendelle), e tem uma pegada mais adulta, talvez pelos personagens terem tido experiências que os moldaram e os tornaram mais maduros, o que é bastante abordado inclusive, e a trama transita entre presente, flashbacks e momentos que surgem através de esculturas de gelo afim de contar a história e trazer maiores informações acerca das lendas locais e dos laços familiares entre os personagens..


Tudo começa quando Elsa e Anna ainda são crianças e o pai delas, o Rei Agnarr, conta a história de uma floresta encantada regida por espíritos que representam os quatro elementos, terra, fogo, ar e água, onde vivia o povo Northuldra, ou o Povo do Sol. Os Northuldra eram amigáveis e viviam em sintonia com a natureza, até que um terrível conflito entre eles o Rei Runeard, o pai de Agnarr, causou a ira dos espíritos e a floresta foi tomada por uma densa névoa que impede qualquer um de sair ou entrar nela. Trinta e quatro anos se passaram desde então, e a floresta continua sob a maldição da névoa, prendendo todos dentro de seus limites. Agora, após o chamado, Elsa e Anna partem para a floresta e além, numa tentativa de descobrir a verdade sobre o que causou o conflito, dissipar a névoa, libertar o povo e salvar o reino de Arendelle de uma grande ameaça.


Elsa e Anna continuam com a forte ligação entre irmãs que sempre as manteve unidas, mesmo que estivessem distantes, mas o amadurecimento de ambas, que é bastante destacado na trama, faz com que elas entendam melhor o que esse relacionamento fraternal significa, mesmo que pareçam depender uma da outra. Uma sempre vai estar lá pela outra, independente dos obstáculos que precisem enfrentar. Porém, apesar disso, Anna continua meio inconsequente, sempre agindo por impulso de acordo com o que ela pensa, fazendo suposições apressadas, talvez com intenção de fazer o espectador rir, mas não funciona muito bem. Em alguns momentos isso rende algumas cenas de tensão, outras de bom humor, mas num geral, ela não está tão diferente do que vimos no primeiro longa.


O alívio cômico da animação continua sendo Olaf, que embora não tenha ganhado o devido espaço que merece, também aparece mais maduro, reflexivo, fazendo questionamentos existenciais sobre ele mesmo, assim como sobre os sentimentos que o invadem. Ele continua engraçado e fofo, e é impossível não gostar desse boneco de neve falante.


Não curti muito o desenvolvimento de Kristoff. O jovem está tão preocupado em ficar junto de Anna pra sempre, que o que parece é que ele se coloca abaixo dela, criando uma dependência emocional meio doentia. Suas tentativas fracassadas de pedi-la em casamento só me fizeram revirar os olhos. Sven consegue ser muito mais cativante que ele.

Tanto se falou em novos personagens, mas os mesmos não foram muito aprofundados. O que parece é que foram apresentados dando a entender que fariam alguma coisa importante, mas acabaram ficando esquecidos e levantaram mais perguntas do que qualquer outra coisa. Um deles inclusive é uma versão idêntica do próprio Kristoff. A salamandra super fofa que conquistou geral nos trailers só tem a função de ser fofa e nada mais. Outra coisa é que fiquei me perguntando como diabos o exército de Arandelle, que ficou preso na floresta depois da batalha, passou mais de trinta anos usando a mesma roupa (???) quando as protagonistas aparecem com um look diferente, um mais lindo e esvoaçante do que o outro, a cada minuto. Pra mim foi impossível não ficar com aquela sensação de frustração por ter criado expectativas sobre as novidades.


Elsa continua forte e corajosa, mas parece que ainda está num processo de autoconhecimento. Por tudo o que acontece, ela continua em busca de uma liberdade que ela não pode ter devido as responsabilidades que precisa cumprir. A ideia dela seguir adiante em busca de respostas, preocupada em proteger Anna do perigo e salvar a todos, mostra o quanto ela coloca os outros em primeiro lugar em sua vida, mas também mostra que ela tem uma necessidade de ser livre.


Sobre a parte musical, com exceção de Into the Unknown, achei que as músicas não foram tão marcantes como Let it go e afins, e embora apareçam do nada e de forma muito excessiva, o que pode tornar a experiência com a animação um tanto cansativa, elas possuem letras que realmente tem algo a dizer, que contam algo importante para a história, logo é válido prestar atenção para um maior entendimento da trama e das lendas que a cercam. O visual e o cenário, como sempre, dispensam comentários. Dessa vez, em vez de focar exclusivamente em tons de azul e branco do gelo, os tons mais usados são laranja e rosa, evidenciando a floresta encantada e lembrando muito o outono. É um cenário deslumbrante e de encher os olhos.


Li em algum lugar que o longa teria vários minutos a mais, mas que pra não ficar muito extenso, várias cenas foram cortadas. Acho que isso explica o motivo dos personagens aparecerem em certos locais do nada sem que pudéssemos acompanhar como e porquê chegaram lá.
No mais, embora não tenha achado melhor do que o primeiro, achei que Frozen 2 foi uma boa sequência. Não respondeu todas as perguntas, levantou algumas outras mais, mas no geral, é animação mais do que obrigatória pra qualquer fã da Disney. As irmãs continuam empoderadas, não se deixam intimidar e nem se limitar por ninguém, e sempre surpreendem com coragem e determinação.

Na Telinha - Frozen: Uma Aventura Congelante

17 de janeiro de 2020

Título: Frozen: Uma Aventura Congelante (Frozen)
Elenco: Kristen Bell, Idina Menzel, Josh Gad, Jonathan Groff
Gênero: Fantasia/Animação/Musical
Ano: 2013
Duração: 1h 42min
Classificação: Livre
Nota:★★★★★
Sinopse: Acompanhada por um vendedor de gelo, a jovem e destemida princesa Anna parte em uma jornada por perigosas montanhas de gelo na esperança de encontrar sua irmã, a rainha Elsa, e acabar com a terrível maldição de inverno eterno, que está provocando o congelamento do reino.

Ok, sei que essa crítica está com um atraso de uns seis anos, mas, com o lançamento de Frozen 2, resolvi postar as críticas na sequência, pra ficarem bonitinhas e organizadas aqui no blogdoce.

Frozen é a 53° animação musical dos Clássicos Disney inspirado no conto de fadas A Rainha da Neve, de Hans Christian Andersen. Apesar de bastante modificado, o longa vai contar a história de Elsa e Anna, as irmãs reais de Arendelle.

Elsa, a irmã mais velha, nasceu com poderes mágicos e é capaz de criar neve, gelo e provocar geadas, e o passatempo preferido das meninas era criar neve nas mais diversas formas para poderem brincar. Porém, numa dessas brincadeiras, Elsa fere Anna, a irmã mais nova, acidentalmente, e seus pais logo buscam ajuda de Pabbie, o rei Troll, para que Anna pudesse ser curada. Para evitar maiores problemas, a memória de Anna é alterada por Pabbie para que ela esqueça de tudo ligado à magia da irmã, elas são separadas e o castelo fechado a mando do rei, até que Elsa conseguisse controlar seus poderes. Com medo de ferir a irmã, Elsa fica isolada, mas Anna não entende o motivo do afastamento já que não se lembra do acidente e nem dos poderes de gelo.

Alguns anos se passam, as meninas já são adolescentes, mas acabam perdendo os pais num naufrágio. Quando Elsa completa 21 anos, ela se prepara para ser coroada como Rainha de Arendelle, momento mais do que esperado por Anna, que, finalmente, iria poder reencontrar e se reaproximar da irmã. Mas, durante a festa, as duas acabam discutindo, Elsa perde o controle e expõe seus poderes em público, causando espanto em todo mundo. Com medo de ferir as pessoas por considerar que seus poderes são perigosos, Elsa foge para as Montanhas do Norte se exilando do próprio reino, mas não sem antes instaurar um inverno eterno na cidade, sem querer. Anna não quer perder a irmã mais uma vez e nem quer deixar Arendelle congelada, então ela parte atrás de Elsa para que ela possa voltar pra casa e também desfazer a maldição.
No meio do caminho, Anna vai conhecer Kristoff e sua rena Sven, além de Olaf, o boneco de neve criado por Elsa que ganhou vida tornando a jornada uma verdadeira aventura.


Antes de mais nada, Frozen é um espetáculo visual. Os tons em azul e branco do cenário, que se remetem ao gelo e a neve, se contrastam com as cores fortes e coloridas das roupas ou das características físicas dos personagens formando uma combinação de cores de encher os olhos.
Como sempre, não poderia faltar musicas num clássico da Disney, e todas as músicas são divertidas e marcantes, principalmente o fenômeno Let it go que virou hit mundial. É a música cantada por Elsa, quando ela se exila, se liberta de sua "amarras", se aceita como é, e vai morar sozinha num castelo de gelo construído por ela mesma. Até hoje eu fico emocionada quando ouço - e canto - essa bendita música, sério.



Elsa é uma personagem incrível, é justa e bondosa, mas é uma vítima de sua condição já que ter crescido com tanta repressão e isolamento, e por ter sido levada a acreditar que seus poderes eram uma maldição, a fez ter medo de machucar os outros o tempo todo, e ela não consegue entender isso porque ainda não sabe lidar com a ideia de que o amor é o que transforma, e não o medo.


Anna é divertida e corajosa, mas muito impulsiva. Depois de ter passado tantos anos sozinha, ela se tornou muito carente e toma decisões sem pensar nas consequências, como ficar noiva de Hanz, um cara vindo das Ilhas do Sul que acabou de conhecer, ou sair sozinha no escuro em meio a nevasca atrás da irmã. Se não fosse por Kristoff e Sven, que a ajudaram, ela estaria lascada. Mas Anna mostra que tem um coração enorme, e tudo o que ela quer é ajudar os outros e ficar bem ao lado da irmã que ela tanto ama, mesmo depois do afastamento.


Os personagens secundários são ótimos, mas não são muito explorados. Olaf, o boneco de neve criado por Elsa, encanta qualquer um com sua fofura e seu jeito engraçado de ser e de encarar a vida, principalmente quando seu maior sonho é aproveitar o calor do verão. Um boneco de neve debaixo do sol é, no mínimo, hilário.

Kristoff não é príncipe, é meio desajeitado, é pobre e ganha a vida vendendo gelo (e a cidade ter ficado congelada arruinou seu negócio), seus únicos amigos são Sven e os trolls da floresta, ele não tem muito jeito com as mulheres, e as cenas das pequenas brigas que ele e Anna têm são bem engraçadinhas. E por mais que a aproximação entre os dois sugira um provável romance, o foco aqui não é esse.


Vou ser sincera em dizer que a trama em si é bastante simples e até previsível, principalmente no que diz respeito ao "vilão" (que não é bem um vilão, só um ganancioso e oportunista que obviamente não teria vez). A parte da fantasia podia ser melhor trabalhada, assim como algumas origens explicadas para que não ficássemos boiando. Os trolls, por exemplo, aparecem como seres mágicos (e pesados) que ajudam o rei e a rainha, e acolhem Kristoff quando ele ainda era uma criança (mas sem explicações do que aconteceu com ele pra ter ficado sozinho no mundo sendo tão pequeno e só ter Sven como companhia), mas não há maiores informações de onde vieram ou o que fazem, de fato. A falta da explicação das origens dos poderes de Elsa, que é a única em todo o reino que tem poderes, só faz com que a gente fique na expectativa para continuação nos esclarecer isso.

Mas, apesar de alguns buracos, o que fica evidente, e o que acabou revolucionando as animações das Princesas da Disney e contrariando estereótipos, foi o fato de que o amor verdadeiro não precisa ser necessariamente algo lindo e romântico entre um casal, ou com um príncipe encantado e destemido que aparece pra salvar a princesa em apuros, mas o amor fraternal entre duas irmãs, que é o sentimento mais forte e verdadeiro que há aqui.


No mais, Frozen é uma animação surpreendente, seja pelo visual com tons que se destacam, cheio de brilhos e texturas, pelas belas canções memoráveis, ou pela ideia da liberdade e do amor entre irmãs ser o grande fio condutor da trama. Não é a toa que o longa foi record de bilheteria, faturou bilhões e ainda foi indicado ao Oscar e ganhou como Melhor Canção Original e Melhor Animação.
Você quer brincar na neve?

Na Telinha - Euphoria (1ª temporada)

27 de dezembro de 2019

Título: Euphoria
Temporada: 1 | Episódios: 8
Elenco: Zendaya, Hunter Schafer, Jacob Elordi, Sydney Sweeney, Barbie Ferreira, Alexa Demie
Gênero: Drama
Ano: 2019
Duração: 58min
Classificação: +18
Nota:★★★★★
Sinopse: Rue (Zendaya) é uma adolescente de 17 anos dependente química que acaba de sair da reabilitação. A medida que ela tenta voltar à rotina, percebe que seus colegas de escola também enfrentam os próprios desafios, envolvendo sexo, drogas, traumas e mídias sociais.

Rue é uma adolescente de dezessete anos que, desde pequena, já demonstrava ter uma percepção de mundo diferente das outras crianças. Mas, com a morte precoce do seu pai, ela acaba se viciando em drogas como forma de lidar com a perda e se "anestesiar", o que é agravado com seus problemas de ansiedade e bipolaridade. Depois de um episódio crítico, Rue vai pra reabilitação, mas ela não está nada preocupada em melhorar e não hesita em trapacear em exames que comprovam sua sobriedade. Ao voltar pra casa, sua vida ainda é marcada pela chegada de Jules no bairro, uma garota trans - e linda - com um histórico de vida super traumático. As duas logo se tornam melhores amigas e Rue acaba desenvolvendo uma certa dependência de Jules, mas será que elas vão ficar juntas até o fim para superar os vários obstáculos pessoais e sociais que aparecerão pelo caminho?


Rue é quem faz a narrativa dos acontecimentos, e, por ser viciada em drogas, fica meio implícito que ela pode não ser uma voz tão confiável para narrar os fatos, principalmente quando algumas cenas são baseadas em pensamentos ou alguma viagem muito louca dela.

Basicamente a série vai mostrar a vida de um grupo de adolescentes que fazem parte do círculo de amizade de Rue e que estão prestes a deixar o ensino médio, mas que já acumularam algumas experiências pessoais, amorosas e familiares pesadas o suficiente para moldar suas personalidades e influenciar em suas escolhas na vida, assim como as consequências bem amargas de todas elas. Experiências envolvendo drogas, sexo e sexualidade, abuso, saúde mental, exposição, vingança, violência e as expectativas que os pais depositam nos filhos e que nem sempre são superadas.


Um exemplo disso é as cenas em que Rue "ensina" a limpar o organismo ou burlar o resultado de um teste antidrogas, mas logo em seguida ela também mostra como o preço a ser pago por isso, seja física ou emocionalmente, pode ser alto demais. Ou como Jules, que tem um histórico delicado de depressão e automutilação, usa sua sexualidade pra provar o que quer que seja pra si mesma e ainda assim sempre aparece como alguém pura e iluminada, principalmente quando ela se torna um tipo de "cura" para Rue, que começa a deixar as drogas de lado, mas acaba criando uma certa dependência da amiga.
Os demais personagens também tem arcos fortes e bem construídos, que vão desde abandono, preconceitos sofridos, depressão, e traumas insuperáveis que colaboram na formação (e na corrupção) do caráter do indivíduo, princialmente nessa fase da adolescência que a série aborda, o que, consequentemente, pode gerar vários gatilhos.


Cada episódio se aprofunda um pouco mais no passado de algum personagem, explicando que um possível trauma desencadeou um determinado tipo de comportamento, mostrando que, querendo ou não, somos reflexos daquilo que vivenciamos e aprendemos na infância. Assim, cada personagem vai ganhando mais camadas, e é possível entender suas motivações na maioria das vezes, mesmo que não concordemos com eles por fazerem coisas condenáveis e absurdas.
A ordem cronológica não é muito exata, há uma transição constante entre passado e presente, e não dá pra saber ao certo se algumas cenas acontecem antes ou depois de um determinado evento, mas, fazendo um apanhado geral, dá pra compreender bem o que se passa.


O trabalho de fotografia é fantástico. As cores sempre se contrastam e evidenciam traços, o azul, o rosa e o vermelho se destacam bastante e geralmente se opõe ao laranja e ao verde. A iluminação sempre favorece todo tipo de brilho, seja nos cenários ou nas maquiagens, que, diga-se de passagem, são todas incríveis, e é impossível pensar na série sem pensar no visual maravilhoso. A série é indicada para maiores de dezoito anos tanto pelos temas pesados e delicados que abordados, quanto pelas cenas de sexo e nudez, e aqui a HBO ainda quebra alguns paradigmas e estereótipos quando não mostra apenas nudez feminina, mas a masculina, com pintos de todas as cores e tamanhos. Por que é "natural" quando mulheres aparecem nuas na TV, mas quando são homens as pessoas ainda ficam loucas? A naturalidade com que a nudez é tratada aqui é impressionante, principalmente por não ser "glamourizada". Outro ponto a ser destacado é a trilha sonora impecável dessa série, que ajuda a deixar tudo ainda mais intenso e emocionante. Sério: assistam e ouçam!


Ao final, a impressão que fica é que Euphoria não é só mais uma série em meio a tantas outras, mas uma verdadeira experiência crua e realista com esse "universo" adolescente cheio de representatividade, e regado a drogas, sexualidade a flor da pele e autodescobertas. Quero a segunda temporada na minha mesa agora, HBO! Nunca te pedi nada.

Na Telinha - Klaus

20 de dezembro de 2019

Título: Klaus
Elenco: Jason Schwartzman, J.K. Simmons, Rashida Jones, Joan Cusack
Gênero: Animação
Ano: 2019
Duração: 1h38min
Classificação: +10
Nota:★★★★★
Sinopse: Em Smeerensburg, remota ilha localizada acima do Círculo Ártico, Jesper é um estudante da Academia Postal que enfrenta um sério problema: os habitantes da cidade brigam o tempo todo, sem demonstrar o menor interesse por cartas. Prestes a desistir da profissão, ele encontra apoio na professora Alva e no misterioso carpinteiro Klaus, que vive sozinho em sua casa repleta de brinquedos feitos a mão.

Jesper é um jovem aprendiz de carteiro na Academia Postal. Muito mimado e preguiçoso, ele quer viver as custas do pai, que é presidente da Academia, usufruindo do bom e do melhor enquanto os outros trabalham duro. Até que seu pai, cansado dessa folga sem fim, lhe dá um ultimato: ou Jesper vai para Smeeresnburg, um vilarejo nórdico, afastado e esquecido do mundo para fazer o envio de seis mil cartas no prazo de um ano, ou perderá seu direito na herança. Contrariado e sem mais escolhas, Jesper parte para o vilarejo e, ao chegar ao local, ele percebe que um conflito entre os clãs Krum e Ellingboes desencadeou não só uma briga centenária entre os habitantes, como deixou o local desolado e caindo aos pedaços.


A questão é: como um bando de pessoas que vivem em pé de guerra, sem sequer se lembrarem do motivo que iniciou essa confusão, e que só pensam em matar uns aos outros, usarão os serviços postais para que Jesper cumpra seu objetivo? Assim, sem muitas perspectivas e prestes a desistir, Jesper descobre um morador misterioso que vive sozinho numa casinha cheia de brinquedos que ele mesmo construiu e, ao fazer uma visita, descobre que ele poderia ser muito útil nessa sua missão.
A trama, então, se desenrola de forma fluída, levantando uma hipótese bastante criativa sobre as origens do bom velhinho.

Além dos toques de bom humor e sensibilidade que emocionam, a animação é muito bonita, com um estilo gráfico de encher os olhos e personagens bastante expressivos e que cativam o espectador. As paletas escuras e frias que gradualmente vão mudando pra cores mais quentes e alegres mostram a aproximação entre os moradores e a alegria que começa a surgir num local tão inóspito como é a Smeeresnburg. O trabalho de iluminação na animação é super bonito e caprichado, e é um dos desenhos mais bonitos que já vi em se tratando de visual e gráficos.



O vilarejo parece ser um personagem a parte. A medida que o plano de Jesper pra entregar as milhares de cartas é posto em prática, a cidade vai ganhando vida e as partes da história do Papai Noel começa a ganhar forma. De onde surgiram as cartinhas e os presentes, como começaram a ser recebidos pelas crianças, de onde vieram as renas, os ajudantes, e as roupas vermelhas e afins. É bastante criativo e bem amarrado.


Um ponto bastante interessante é a forma como a animação abordou a ideia da educação e da gentileza entre as pessoas. Como o ódio entre os clãs é uma coisa que passa através das gerações, as crianças acabam gastando o tempo que têm para fazerem travessuras e bolando planos para atacar seus rivais em vez de irem pra escola, o que fez com que Alva, a única professora da cidade, desistisse e transformasse o lugar num depósito de peixes fedidos até que pudesse dar o fora dali. Mas, como pra ganhar um presente as crianças precisam escrever uma carta para enviar a Klaus, consequentemente elas também precisam aprender a ler e a escrever, e onde mais aprenderiam isso se não for na escola? Alva deixa de ser uma moça amargurada e vai ganhando vida, esperança e passa a ter certeza de que as coisas, finalmente, vão mudar pra melhor. Essa evolução acaba fazendo com que a mudança parta das crianças, de forma que elas se tornem além de mais inteligentes, mais gentis, solícitas e amáveis umas com as outras, já que agora passaram a ter acesso a educação. E o mais legal é que isso passa para os seus familiares, que passa pros seus vizinhos, e a gentileza gera mais gentileza. A educação realmente transforma as pessoas, não dá pra negar.


Em alguns pontos, a animação lembra bastante A Nova Onda do Imperador, da Disney, com aquela ideia do protagonista egoísta que faz as coisas visando o benefício próprio, mas que acaba se redescobrindo através da jornada com um companheiro, e encontrando bondade em si mesmo. A amizade entre Jesper e Noel é construída de forma orgânica, acaba mudando a forma como os dois encaram a vida, e se torna um gás a mais que os impulsiona a continuar fazendo o bem, levando alegria pra quem precisa e merece.


No final, achei muito válido pensar que o Natal é uma época para aproximar as pessoas e despertar o que há de bom em cada um de nós. Klaus é uma animação divertida, encantadora, cheia de surpresas e reviravoltas dignas dos mais famosos clássicos, e é tão legal quanto as festividades em família.

Na Telinha - Bojack Horseman (3ª Temporada)

3 de dezembro de 2019

Título: Bojack Horseman
Temporada: 3 | Episódios: 12
Elenco: Will Arnett, Alison Brie, Amy Sedaris, Paul F. Tompkins, Aaron Paul
Gênero: Animação/Comédia/Drama/Fantasia
Ano: 2016
Duração: 25min
Classificação: +16
Nota
Sinopse: Com o enorme sucesso de "Secretariat", BoJack finalmente se sente importante na indústria. Mas quando o assunto é vida pessoal, ele ainda fracassa em tudo o que se propõe a fazer.

Depois de duas temporadas recheadas de humor ácido essa terceira temporada manteve a narrativa subversiva, e trouxe críticas sociais inacreditáveis, que cutucam até a alma da sociedade. O roteiro se aproveita de sutilezas acerca de questões sociais, morais e éticas, e é capaz de enfiar reflexões nas cabeças alheias, principalmente devido ao toque de drama que tornou essa temporada bem mais pesada que as demais.



BoJack voltou aos tempos de glória, conseguiu recuperar a fama perdida e agora fica imaginando como será sua vida quando receber seu cobiçado troféu. Porém, seus defeitos superam qualquer virtude que ele possa ter e chega a ser doloroso acompanhar um personagem que faz tanta merda num espaço de tempo tão curto. Por mais que ele sempre esteja rodeado de gente, é nítido o quanto ele é um cara sozinho e impotente quando precisa lidar com algo mais sério. Mesmo que Princesa Carolyn e Diane estejam alí o aconselhando da melhor forma possível, ele continua tomando decisões questionáveis e dignas de puro repúdio.


Uma coisa que acho super interessante nesse seriado é o fato de que a grande maioria dos personagens antropomórficos tem características da própria espécie. É como se, por mais que eles tenham evoluído a ponto de conviver lado a lado dos humanos como iguais, eles ainda mantiveram hábitos clássicos dos animais que representam. Um exemplo é Mr. Peanuttbutter, que por ser um cachorro, é leal, meio abobalhado, bastante agitado, fica com a língua pra fora e outros comportamentos caninos do tipo. Uma cena interessante é quando BoJack observa um grupo de cavalos correndo juntos e levantando poeira numa pradaria, coisa que animais de outra espécie não tem costume de fazer. A cena, além de demonstrar essa característica, também evidencia o quanto BoJack é solitário, infeliz e almeja por uma vida que está bem distante de sua realidade. O episódio onde BoJack vai pra um evento no fundo do mar e podemos acompanhar, entre outras coisas, um pouco da vida de um cavalo marinho, que como pai é responsável pela gestação e criação dos filhos, também é um dos mais filosóficos e interessantes da temporada, principalmente por não ter quase nenhum diálogo, e as ações falam por si.



Em contrapartida e como exceção à regra, Princesa Carolyn, que é uma gata, precisa lidar com sua vida profissional que toma todo seu tempo e a isenta de uma vida social. Ela mal tem tempo pra comer e dormir, mas ainda sonha com um relacionamento duradouro.
E falando em relacionamentos, é interessante acompanhar o relacionamento entre Diane e Mr. Peanuttbutter e como o casamento deles vai de mal a pior, mostrando que nada é perfeito por mais que eles pareçam ser feitos um pro outro. Todd, que é o maior alívio cômico da série com sua total falta de noção, reencontra uma antiga colega de escola e dá um novo vislumbre à série acerca de sua sexualidade.



A série aborda temas contemporâneos e controversos sem rodeios, mostrando uma verdade crua sobre os bastidores da fama e levantando questões sobre a objetificação da mulher, aborto, abandono, drogas e até a morte, mas sempre com aquele humor negro e típico da série, além das referências hilárias de outros atores, como "Jurj Clooners", ou cenas clássicas de princesas de desenhos animados famosos reproduzidas por Sarah Lynn, que está tentando se manter sóbria e falhando miseravelmente pois a companhia e a má influência de BoJack é a pior que existe, por mais que suas observações e comentários sejam geniais.
"Viu, Sarah Lynn? Não estamos condenados. No panorama geral das coisas, somos apenas partículas mínimas que, um dia, serão esquecidas. Então, não importa o que fizemos no passado, ou como vamos ser lembrados. A única coisa que importa é o presente. Este momento. Este momento único e espetacular que estamos compartilhando. Certo, Sarah Lynn? Sarah Lynn? Sarah Lynn?''
- Temporada 03, episódio 11
É impossível não se identificar de alguma forma, refletir com os tapas na cara que vem com as verdades cômicas e amargas, e/ou sentir a dor dos personagens devido aos dramas que vivem. A oscilação entre o trágico e o cômico é evidente, e é quase impossível não sentir a ferida sendo cutucada com tudo que o roteiro aborda. No mais, BoJack Horseman é um retrato fiel à tragicidade daquilo que há de mais depreciativo na sociedade e que está tão presente na vida de muitos nos dias de hoje.