O Destino de Tearling - Erika Johansen

12 de novembro de 2018

Título: O Destino de Tearling - A Rainha de Tearling #3
Autora: Erika Johansen
Editora: Suma de Letras
Gênero: Fantasia/Jovem Adulto
Ano: 2018
Páginas: 360
Nota:★★☆☆☆
Sinopse: Desde que assumiu o trono de Tearling, Kelsea Glynn passou de princesa inexperiente a rainha destemida. Sua busca por justiça fez com que todo o reino mudasse com ela, mas quando os inimigos que fez ao longo do caminho ameaçam destruir seu povo, ela toma uma decisão inimaginável: se rende à Rainha Vermelha em troca de salvar Tearling. Sem as safiras, sem seus homens de confiança e trancafiada em Mortmesne, Kelsea precisa de novo recorrer ao passado, às experiências de mulheres que viveram antes dela, buscando em suas histórias a saída para uma situação impossível. O jogo está para terminar, e o futuro de Tearling será revelado de uma vez por todas.

Resenha: Numa tentativa de salvar o reino de Tearling, Kelsea se entrega à Rainha Vermelha e deixa Clava como governante do seu povo. Kelsea agora é prisioneira em Mortmesne, e, mesmo sem as joias, continua desenvolvendo seus poderes. Os reinos estão se enfrentando e todos estão sobre diversas conspirações que podem por tudo em risco. Agora ela precisa recorrer ao passado para buscar nas histórias das mulheres que viveram antes delas respostas que possam ajudá-la a salvar todo o reino.

Confesso que eu andava numa vibe tão boa com as minhas últimas leituras, e, considerando que eu gostei demais dos livros anteriores a este, eu esperava um final totalmente destruidor, daqueles que deixam uma ressaca tão braba que só uma dose cavalar de Meg Cabot pode curar, mas, embora o livro tenha, sim, alguns pontos muito positivos, o que a autora decidiu fazer aqui foi a coisa mais WTF que eu já me deparei em toda minha vida literária. Vamos primeiro aos pontos positivos, porque tenho que reconhecer que, apesar da minha reação, o livro não foi um fracasso total e teve seus méritos. Poucos, mas teve.

O feminismo e a forma como ele foi trabalhado na trama é algo super válido e importante, principalmente nos dias de hoje quando o assunto, querendo ou não, ainda é um tabu nessa sociedade lixo que vivemos. A representação feminina é tão forte quanto admirável, e os tópicos que a história levanta sobre abuso, cultura do estupro, controle de natalidade, autoaceitação da própria imagem, corrupção e afins são responsáveis por várias reflexões relevantes. Por mais que as mulheres tenham uma vida difícil, sejam abusadas, sofram humilhações de todo tipo e ainda sejam dominadas, elas conseguem  demonstrar o quanto podem ser fortes e corajosas.

Outra coisa é que a trama em si, embora seja uma fantasia, tem muitas semelhanças com a realidade e em alguns pontos a coisa chega a ser bem assustadora. A autora não poupa esforços em fazer críticas sociais, religiosas e políticas, mostrando que algumas ideologias e crenças simplesmente não dão certo quando quem está no poder quer continuar no poder. Não vou me aprofundar nessas questões pois minha visão política e religiosa não vem ao caso, mas basicamente a igualdade é pro povo, geralmente estando bem miserável, e quem está no poder sempre estará se aproveitando e tendo muito mais privilégios.

Acho que o ponto que salvou boa parte da história pra mim, pela mensagem que passa, foi a ideia de que embora pais e filhos estejam ligados pelo sangue, isso não significa que seja obrigatório existir uma conexão entre eles. Não é por que mãe ou pai são uns trastes que fazem coisas horrendas e condenáveis, que o filho também vai seguir os mesmos passos, por "herança". Há toda uma luta pessoal de Kelsea contra isso e isso, sim, me marcou bastante pois ela é uma personagem ótima, e tem tantas qualidades quanto defeitos. Isso é um ponto positivo, pois ninguém pode ser tão bom ou tão ruim, mesmo que tenha sido mal utilizada dessa vez. As pessoas sempre são motivadas por alguma coisa, e isso depende de uma formação pessoal ou de uma concepção bem íntima que não cabe a ninguém julgar. A forma como ela foi construída e desenvolvida ao longo da história, sua moral cheia de ambiguidades, tudo isso só provou o quanto ela é humana, e o quanto aprendeu com os próprios erros. Talvez o final, se analisado de uma forma mais abrangente, possa ser encarado como bom, pois ela não pensava duas vezes em abrir mão do que fosse pensando num bem maior, mas não foi suficiente para reparar os buracos e tudo que a autora desprezou sem mais nem menos. Foram tantos elementos tão bons criados pra no final das contas nada ter ligação com nada.

Não sei se foi só comigo, mas eu fiquei com uma mega impressão de que esse livro foi escrito sem o devido cuidado, com situações avulsas que simplesmente não se encaixam em lugar nenhum, e outras que nem deveriam estar alí. A sensação é de que a autora tinha tudo nas mãos pra dar um desfecho perfeito, bastava trabalhar um pouquinho pra amarrar as pontas soltas, mas preferiu ir pelo caminho mais fácil, entregando uma peruca colorida e uma bolota vermelha pra todos nós usarmos no nariz. E sabemos que o caminho mais fácil nem sempre é o melhor, convenhamos...
Muitas das questões que haviam sido levantadas anteriormente e que pareciam ser cruciais para uma futura resolução satisfatória, ou tiveram respostas irrisórias, ou simplesmente foram descartadas e esquecidas como se não fossem nada.

Minha decepção maior se deu por ter acreditado na história, que anteriormente havia dado a entender que esta trilogia seria uma das melhores que já tive o prazer de ler, independente se fosse feliz ou trágico, e me enchi de expectativas e esperanças pra algo realmente grandioso e memorável. Não vou entrar em detalhes sobre cada personagem pra não deixar a resenha muito extensa, mas a sensação foi a de que algo estava errado, eles estavam muito distantes do que foram, e até mesmo a própria Kelsea serviu de muleta em várias situações de forma bem conveniente.
Eu depois de terminar esse livro
Enfim, a sensação que ficou no final dessa leitura foi de eu ter caído numa cilada, Bino. Recomendei os outros livros, feliz da vida, crente que a coisa toda só iria melhorar porque realmente tudo que a autora tinha feito era genial, mas agora preciso abrir meu coração e ser muito sincera em dizer: não percam tempo. Acho que seria um pouco arriscado, e até hipócrita, recomendar uma trilogia que nos deixa envolvidos de corpo e alma nos dois primeiros volumes, mas que no final não nos dá nenhuma recompensa, e tudo acaba tendo sido em vão... Me desculpem, mas não...

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