Um Novo Mundo - Bibi Tatto

24 de julho de 2016

Título: Um Novo Mundo: Gagui joined the game
Autora: Bibi Tatto
Editora: Novo Conceito
Gênero: Infantojuvenil
Ano: 2016
Páginas: 144
Nota: ★★☆☆☆
Onde Comprar: Saraiva
Sinopse: O tempo está correndo e Bibi precisa alcançar logo seu irmão, Gagui, senão... Você conhece o mundo do Minecraft? Então certamente sabe quem é a Bianca Tatto, ou melhor, Bibi! Ela tem hoje um dos canais mais importantes no Youtube sobre Minecraft, com dicas e experiências que divide com um grupo de mais de um milhão de inscritos que a segue e comenta tudo que posta. Também é considerada a garota gamer mais assistida entre os youtubers do Brasil, além de uma das maiores do mundo. Neste livro, Bibi apresenta uma incrível competição entre o avatar dela e o do Gagui dentro de um novo mundo que ela criou no jogo. Enquanto isso, alterna a história com momentos divertidos de sua vida e confusões reais que se meteu durante seus dezesseis anos de idade. Se você faz parte do público que curte Minecraft e procura por uma empolgante história, não pode deixar de saber quem sairá vencedor dessa perseguição! Preparado para a aventura?
Resenha: Ainda na incansável (mas rentável) onda de livros de youtubers, a Editora Novo Conceito resolveu apostar em Bianca Tatto. Bibi tem um canal desde dezembro de 2014 onde fala principalmente sobre o jogo Minecraft que, atualmente, mesmo sendo relativamente recente, já passou de 1,7 milhão de inscritos. Ela também compõe músicas e faz videos sobre viagens e seu dia a dia em geral.

Bibi se inspirava muito no youtuber Pedro Afonso, mais conhecido como Rezendeevil, e quando ela escreveu e gravou uma música em homenagem a ele, a repercussão foi tanta que, desde então, Bibi ficou conhecida entre o público destinado aos gamers no Youtube e seu canal não parou de crescer a ponto de ela ser considerada uma das gamers mais assistidas entre os youtubers desse segmento. Ela é bastante articulada e consciente do público que tem, e achei bem bacana que, mesmo que os videos sejam sobre o jogo, ela também sempre fala sobre a importância dos estudos para a criançada.
Em Um Novo Mundo, Bibi faz um misto sobre alguns episódios engraçados de sua própria vida ao mesmo tempo em que narra uma competição entre seu avatar e o de Gagui, seu irmão (que foi quem apresentou o jogo pra ela) num mundo novo criado por ela dentro de Minecraft.


Minecraft é um dos jogos mais populares da atualidade e conquistou milhões de fãs por todo o mundo. Ele permite usar e abusar da criatividade permitindo ao jogador viver grandes aventuras, enfrentando aranhas gigantes, zumbis e outros monstros malucos, enquanto cenários e objetos com seu visual em formato de blocos bastante característico são criados a partir dos materiais coletados pelo mundo afora.
O livro é todo narrado por Bibi e a intenção é fazer parecer que ela está conversando com o leitor, cumprimentando, explicando sobre o jogo, soltando vários "kkkkkkk's" e contando sobre alguns momentos "incríveis" de sua vida.
Como o público do canal dela é composto em sua grande maioria por crianças, é tudo contado de forma muito leve, didática e descontraída, logo o livro é voltado exclusivamente pra esse mesmo público.
Acredito que pelo conteúdo, as histórias e os casos podem soar bastante engraçados e divertidos para os fãs de Bibi na faixa dos dez anos de idade ou menos, mas eu particularmente achei tudo infantil ao extremo e até um pouco forçado na questão da interação e da graça do que é contado, até mesmo pra alguém da idade dela.

O projeto gráfico do livro é bem caprichado. A capa mostra Bibi no universo do jogo com detalhes quadriculados e em forma de blocos. A digramação também é bem legal, a fonte é grande e o livro é cheio de fotos de Bibi e de ilustrações dos elementos de Minecraft.

Não sou o público alvo do canal e acredito que só quem é fã deva curtir o conteúdo do livro. Apesar de ter revirado os olhos quando o assunto era algum caso vivido por ela, o livro pode ser uma oportunidade bacana para as crianças adentrarem o universo literário e começarem a se interessar mais por leitura.

Felizmente, o Leite - Neil Gaiman

23 de julho de 2016

Título: Felizmente, o Leite
Autor: Neil Gaiman
Ilustrações: Skottie Young
Tradutor: Edmo Suassuna
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Fantasia/Infantojuvenil
Ano: 2016
Páginas: 128
Nota: ★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Uma prosaica ida até o mercado se transforma numa incrível aventura no mais recente livro infantil do celebrado escritor britânico Neil Gaiman, que coloca um estranho objeto prateado no caminho de um pai que só queria comprar um pouco de leite para o café da manhã. Aliás, aquele disco prateado gigantesco estacionado em plena rua Marshall, com seres verdes um tanto gosmentos e bastante ranzinzas querendo reformar o (nosso) mundo, é só a primeira de muitas surpresas que esperam pelo zeloso pai de família na história, que inclui ainda viagens no tempo e no espaço num balão, um dinossauro inventor, navios piratas, vulcões e outras maluquices. Será que o café da manhã das crianças está a salvo? Com ilustrações incríveis de Skottie Young, Felizmente, o leite é uma história de fantasia com uma boa dose de nonsense e o senso de humor peculiar de Neil Gaiman.
Resenha: Felizmente, o Leite, escrito pelo ilustre autor britânico Neil Gaiman e graciosamente ilustrado pelo artista Skottie Young, é uma aventura hilária que traz uma metáfora bastante inteligente e apropriada para várias questões familiares e contemporâneas.

Tudo começa quando uma tradicional família fica desfalcada da mãe, que precisa viajar a trabalho e deixa o casal de filhos sob os cuidados do pai. Antes de ir ela deixa instruções sobre o funcionamento da casa e da rotina dos filhos, mas tudo indica que o pai parece estar perdido e não faz ideia do que fazer. Na primeira manhã, quando as crianças vão tomar café, elas se deparam com uma tragédia: O leite para o cereal acabou!
O pai, então, precisa sair para comprar o bendito leite, mas demora tanto que é questionado pelos filhos. Ele não tem outra saída a não ser contar sobre todas as aventuras mirabolantes pelas quais passou para conseguir trazer a garrafinha do precioso leite são e salvo e garantir o sucesso do café matinal e a satisfação das crianças.

A narrativa é feita pelo filho mais velho, desconfiado da história do pai, que inventa as mais fantasiosas e absurdas desculpas pela demora praticamente eterna em trazer o leite que as crianças tanto precisam. A filha mais nova adora essa história incrível e se deixa levar pelas mais malucas situações que o pai viveu enquanto trazia e protegia a garrafinha de leite, numa jornada inusitada com direito a abdução alienígena, dinossauro inventor, piratas, aborígenes, pôneis, viagens em máquinas do tempo e muitas confusões impossíveis e repletas de reviravoltas e outras improbabilidades.

Embora seja voltado ao público infantil, a história é muito bem construída e vai arrancar risadas e levar reflexões até mesmo para os mais velhos, mostrando que as responsabilidades pela casa e pelos filhos não devem cair exclusivamente sobre a mãe e que o casal precisa achar um equilíbrio, dividindo as tarefas domésticas e sendo responsáveis por igual pelas crianças, tudo isso através de uma narrativa lúdica, leve, recheada de criatividade e muito divertida!
As ilustrações também não ficam atrás, pois o artista consegue acompanhar e ilustrar perfeitamente bem e de forma cômica e encantadora, passando as ideias geniais de Gaiman para o papel.

Neil Gaiman não cansa de nos surpreender. Felizmente, o Leite é uma aventura divertida e super nonsense que vai agradar leitores de todas as idades.
Já li para meus pequenos e eles adoraram e riram tanto quanto eu! ♥


Porno - Irvine Welsh

22 de julho de 2016

Título: Porno - Trainspotting #2
Autor: Irvine Welsh
Tradução: Galera & Pellizzari
Editora: Rocco
Gênero: Ficção/Romance
Ano: 2016
Páginas: 480
Nota: ★★★★★
Onde Comprar: Livraria Cultura
Sinopse: As anfetaminas, os ansiolíticos, a metadona, o ácido lisérgico, nada disso faz mais efeito. Morfina, adeus! Novos vícios para novos tempos. E, agora, eles estão em todos os lugares. Em qualquer cinema pulguento, nos classificados dos jornais, nas esquinas, ao alcance de um único clique no mouse. Todos os dias. Vinte e quatro horas. Toda a perversão, todo o desespero e toda a doença em troca de um único barato: pornografia. Quem precisa de heroína quando nunca foi tão fácil obter um orgasmo?
Resenha: Porno foi lançado pela primeira vez em 2006 no Brasil, dando continuidade a Trainspotting, onde conhecemos a história de Mark Renton, Sick Boy, Spud e Begbi, jovens inconsequentes, desajustados e viciados em drogas que viviam no suburbio de Edimburgo, se envolveram em várias confusões e arruinavam as próprias vidas enquanto ansiavam pela próxima onda. Dez anos se passaram desde então, eles estão na casa dos trinta, têm responsabilidades de pessoas adultas, filhos e estão diversificando os próprios interesses, até toparem com o assunto do momento: a indústria pornográfica.
O livro do autor escocês Irvine Welsh foi relançado pela Editora Rocco nessse ano de 2016 sob novo, muito mais bonito e menos sugestivo, projeto gráfico.

Sick Boy, ou melhor, Simon, ganha o foco maior nessa sequência. Ele se tornou um empreendedor ambicioso e oportunista que não mede esforços para ganhar muito dinheiro, nem que para isso ele execute falcatruas ou qualquer outro projeto arriscado e que ainda sirva para alimentar seu próprio ego. E então, sem deixar de lado a ideia de que quer se vingar de Renton por algo que aconteceu no passado, ele decide produzir um filme pornô e todos os seus antigos compaheiros se envolvem no dito projeto. E enquanto isso, Begbie está prestes a ser libertado da prisão e quer descontar sua raiva em todos os outros.

A narrativa é feita em primeira pessoa e assim como acontece em seu antecessor, não há nenhum indicativo sobre quem é o personagem com a voz ativa da vez, mas a medida que vamos nos acostumando com as particularidades de cada um, fica fácil saber quem é quem e considero isso como sendo um ponto super favorável ao autor, que demonstra sua incrível habilidade de diferenciar personagens lhes dando personalidade própria, cada qual com sua narrativa individual e única, sendo possível conhecermos cada um deles apenas pelo modo de falar e/ou agir. O ritmo da escrita é constante, mais focado e não apresenta tantos elementos caóticos deixando a estrutura da trama menos confusa já que é linear, mas ainda seguindo quase o mesmo padrão de diálogos coloquiais e formas de expressão simplistas e abreviadas.
Essa ideia de "amadurecimento" dos personagens onde eles agora aparecem em sua versão adulta pode até fazer com que o leitor pense que a trama está tendendo para algo totalmente novo e diferente do que foi visto anteriormente, mas no fundo os personagens ainda conservam suas características marcantes, por piores e mais depravadas que sejam, que os tornaram inesquecíveis.
Não posso deixar de falar sobre Spud, que tem que lidar com seus pensamentos insanos e autodestrutivos, mas agora tem uma família pra cuidar. A forma como seu personagem é retratado faz com que o ele seja alguém muito próximo a realidade, com problemas pertinentes e preocupantes que cercam a vida de muita gente por aí.

Uma coisa que pude perceber é que a história, em geral, faz uma crítica sobre o funcionamento da cultura do sexo na sociedade e o autor consegue evidenciar todos os absurdos desse meio através dos personagens, incorporando características únicas em cada um deles para que eles possam fazer uma representação fiel do que acontece quando o assunto é sexo e o que se pode tirar de vantagens dos outros por meio dele.
A sensação ao ler e finalizar Porno foi de uma enorme nostalgia, aquela satisfação em poder saber o destino daqueles garotos deliquentes e o que mais o autor tinha a dizer sobre eles, e de quebra ainda conhecer novos personagens numa trama tão inteligente e bem construída quanto a primeira, com o diferencial de ter um toque de humor muito maior.
Porno é um retrato realista das facetas humanas, das melhores até as piores, trazendo elementos como sexo, vingança, drogas e violência misturados de forma bastante satisfatória. Confesso que alguns podem considerar várias cenas bastante incômodas, seja pelo teor sexual explícito ou sobre as duras verdades acerca da podridão da sociedade e daqueles que parecem pensar que o mundo funciona na base predadores ou presas, mas o livro superou minhas expectativas e é umas melhores sequências que já acompanhei com um tema pertinente e que proporciona diversão na medida certa. Chega a ser cômico que persnagens tão imorais consigam trazer reflexões sobre moralidade e valores aos leitores, e o que posso dizer sobre isso? É genial!

P.S. É possível ler esse livro mesmo sem ter lido o primeiro, mas eu particularmente recomendo que a leitura seja feita na ordem a fim de conhecermos o íntimo e as experiências vividas por esse grupo de jovens irresponsáveis e desajustados. Com certeza a leitura será mais proveitosa e valerá muito mais a pena.

Trainspotting - Irvine Welsh

21 de julho de 2016

Título: Trainspotting - Trainspotting #1
Autor: Irvine Welsh
Tradução: Galera & Pellizzari
Editora: Rocco
Gênero: Ficção/Romance
Ano: 2016
Páginas: 288
Nota: ★★★★★
Onde Comprar: Livraria Cultura
Sinopse: Para que ter um emprego? Para que ter uma casa de dois andares em uma rua arborizada? Para que uma cafeteira, uma máquina d elevar, um bilhete de metrô? Abrir uma conta no banco, ter um cartão de crédito, assinar contratos? Despertador, TV a cabo, férias na Riviera? Crianças na escola, carro do ano, comida na geladeira? Quem disse que a vida precisa ser só isso? É essa vida que você escolheu? Tem certeza de que você precisa disso? Relaxe. Sinta o sangue correndo em suas veias. Feche os olhos. E prepare-se para a viagem.
Resenha: Trainspotting, escrito pelo autor escocês Irvine Welsh, ganhou uma grande repercussão devido a temática junkie/trash utilizada que engloba o submundo das drogas e de como era a vida de jovens que usavam a heroína de forma impensada e inconsequente (como qualquer viciado em drogas faz). O livro é de 1993, foi lançado no Brasil em 2004 e Editora Rocco relançou a obra nesse ano de 2016 sob novo - e infinitamente melhor - projeto gráfico.

A história se passa nos anos 90, no subúrbio de Edimburgo, Escócia, e retrata a época com bastante fidelidade através de jovens amigos que se perdem na vida ao fazerem escolhas erradas por não quererem viver de acordo com os moldes impostos pela sociedade considerados como "corretos".
É um livro de conteúdo explícito, sórdido, vulgar e sujo que mostra como alguém pode arruinar a si próprio, degradando-se lentamente em meio a marginalidade, passando o dia deitado numa poça da urina ou merda e ainda correndo riscos de contaminação por doenças incuráveis como a AIDS, que teve seu auge na época, devido as práticas nada higiênicas que são adotadas pelo grupo dos drogados.
A história é contada por um grupo de amigos, Mark Renton, Sick Boy, Spud, Tommy e Begbie, dentre outros, cada um com características únicas mas com uma coisa em comum: Eles são viciados e contam como chegaram ao fundo do poço pelo uso desenfreado da heroína.

O livro é dividido em partes - que pelos títulos resumem bem a vida de um viciado (Largando, Voltando, Largando de novo, Cagando tudo, Exílio, Lar, Saída) - e cada uma delas possuem capítulos sem sentido e aleatórios que parecem não ter ligação nenhuma com o anterior ou o seguinte, principalmente por não serem lineares e nem respeitarem uma ordem cronológica certa, e a narrativa em primeira pessoa se alterna sem que fique claro quem é o personagem da vez. Somente após o leitor se familiarizar com a forma de falar de cada um deles é possível se atentar a essas características particulares e saber a quem pertence a voz ativa que narra o capítulo em questão. Vamos ficando íntimos deles, sabendo de seus medos e anseios quando eles compartilham suas opiniões acerca da vida e do que lhes acontecem, sendo possível conhecer a essência de cada um deles. De início parece muito confuso e a impressão é de que a própria estrutura narrativa é um amontoado desconexo, mas posteriormente fica claro que a ideia foi genial levando em consideração que a vida desses jovens e como suas cabeças funcionam num estado de torpor (ou da falta dele) é a personificação do próprio caos.

Embora o tema seja pesado, há muitas passages cômicas e até despretenciosas que dão espaço para que o leitor "respire", fugindo um pouco de tanta tragédia, mas as críticas à sociedade estão lá, em trechos reflexivos que nos colocam pra pensar sobre as consequências de nossas escolhas além de dar uma visão sobre alguns fatores que pode levar alguém a ir pelo caminho das drogas. A sociedade fede, é hipócrita, preconceituosa, e a desilusão que as pessoas nutrem por esperarem por um futuro sem perspectivas de coisa alguma acaba fazendo com que alguns procurem por válvulas de escape como forma de distração. O problema é que algumas delas são ilegais, levam esses sujeitos à marginalização e na grande maioria das vezes, é um caminho irreversível e sem volta, logo qualquer indício de que o futuro poderia ser promissor, acaba sendo destruído por uma escolha ruim.

Penso como a tradução dessa obra deve ter sido um trabalho árduo para os tradutores pois o autor recria a linguagem oral falada pela população da classe baixa de Edimburgo e a passa para a forma escrita, procurando escrever da mesma forma que se fala, focando em sotaques e entonações. É uma mistura de inglês clássico com o dialeto usado do sul da Escócia e por mais que a grafia seja "incorreta" é possível entender o que se fala pela através da parte fonética. Na tradução e adaptação para o português, a forma para evidenciar esse linguajar pobre e chulo foi usando uma escrita bem informal e com erros ortográficos propositais, e ao mesmo tempo descartando o uso de gírias regionais, pois dessa forma qualquer um pode ler sem maiores dificuldades no entendimento. Porém, em outros casos onde são utilizados termos mais complexos relacionados a elementos específicos da região onde os personagens vivem, foi necessário a criação de um glossário para não fugir dos padrões da escrita traduzida e facilitar nossas vidas, além das notas de rodapé com observações sobre alguns termos usados pontualmente.
O título também foi mantido em inglês de forma proposital já que além do significado literal (conferindo os trens), ele faz uma referência ampla a atividades sem sentido ou sem utilidade que implique em uma total "perda de tempo", o que na minha opinião não poderia ser mais adequado visto que a vida que esses pobres coitados escolheram não os leva a nada... Acho que inclusive o livro deveria ser de leitura obrigatória em escolas a fim de conscientizar e abrir os olhos dessa geração que não é tão diferente daquela que viveu nos anos 90...

Em suma, Trainspotting é uma obra ácida, recheada de obscuridade, agressiva e muito, muito suja, mas tráz uma história contada de forma única, intrigante, agradável, divertida e despretenciosa e que vai se tornar inesquecível e trazer questionamento e reflexões devido a profundidade com que os dilemas daqueles que possuem vícios são abordados.

Temporada dos Ossos - Samantha Shannon

20 de julho de 2016

Título: Temporada de Ossos - Bone Season #1
Autora: Samantha Shannon
Editora: Fantástica/Rocco
Gênero: Fantasia Urbana/Sobrenatural/Distopia
Ano: 2016
Páginas: 448
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Ambientada em 2059, a trama acompanha a protagonista Paige Mahoney, uma andarilha onírica, alguém capaz de entrar na mente das pessoas e captar pensamentos e fragmentos de sonhos. Considerada traidora pelo governo, Paige paga por seu dom com a sua liberdade e é enviada para uma prisão secreta em Oxford. Lá, ela conhece os Rephaim, criaturas de uma raça antiga que desejam controlar a clarividência de Paige e de outros como ela, e precisará aprender a confiar em aliados improváveis não só para reconquistar a liberdade, mas garantir a própria sobrevivência. Considerada um dos principais nomes da literatura de fantasia dos últimos tempos, Samantha Shannon entrega aos leitores um romance surpreendente e arrebatador.

Resenha: Temporada de Ossos é o primeiro volume da série Bone Season escrita pela autora inglesa Samantha Shannon e publicado no Brasil pelo selo Fantástica, da Editora Rocco.

O ano é 2059 e o mundo já não é mais o mesmo. Aqueles que são dotados da paranormalidade são temidos pela sociedade e o governo partiu numa caça desenfreada aos clarividentes. Scion é uma das cidades mais seguras para as pessoas normais viverem e a vigilância constante contra os poderes mentais dos clarividentes é constante. Devido a isso, vários grupos clandestinos de desnaturais, divididos em cortes e sessões, foram formados no submundo. Essas pessoas precisam viver incógnitas, precisam evitar que suspeitas sejam levantadas sobre elas para que não sejam capturadas. Num desses grupos está Paige Mahoney, uma jovem de dezenove anos com o poder de entrar na mente das pessoas e captar pensamentos e fragmentos de sonhos. Ela é uma Andarilha Onírica e é uma das mais poderosas de sua classe. Em troca das suas habilidades, ela recebe proteção ao ser concubina de Jaxon Hall, o Mime-Lorde que lidera os Sete Selos, seu grupo de elite. Esses líderes são como mafiosos, e embora ele dê abrigo a Paige, ela sabe que está longe do perigo... Após alguns acontecimentos, Paige é capturada e levada para uma torre em Sheol I, conhecida como Oxford, onde é mantida presa secretamente pelos Rephaim, criaturas que culpam os desnaturais por vários problemas que foram desencadeados através do uso de seus dons e que por isso os escreviza a fim de controlar a clarividência que eles possuem. Resta a Paige lidar com a verdade obscura que descobre enquanto tenta aprender o suficiente para sobreviver, fugir e reconquistar sua liberdade.

A história é narrada em primeira pessoa através da perspectiva de Paige, sob uma escrita precisa, densa, com ritmo lento para os acontecimentos e muito descritiva, e sendo classificada como uma distopia, temos um governo totalmente opressor e uma classe social igualmente oprimida, e como consequência, aqueles que lutam para sobreviver e/ou combaterem essa falta de liberdade, e claro, vivendo na ilegalidade. A impressão que tive foi que a autora uniu vários elementos conhecidos de outras histórias da literatura e tornou tudo mais complexo, adicionando alguns elementos novos, criando ramificações afim de subdividir classes e determinadas características dos personagens e dando muitas explicações como forma de introduzir o leitor nesse universo repleto de camadas intrincadas e bem interessantes, mas em alguns pontos isso torna a leitura lenta e cansativa devido a essa grande quantidade de informações cheias de detalhes que acabaram me deixando um pouco confusa. Confesso que demorei a me situar na trama por causa disso, pois memorizar o funcionamento do sindicato do crime no submundo, quais as punições dadas aos criminosos capturados, me familiarizar com nomenclaturas e termos diferentes para cada coisa, e até mesmo como funciona o tipo raro de clarividência de Paige não foi uma tarefa muito fácil já que a história continua seguindo. Juro que eu iria gostar muito se o livro fosse adaptado para as telinhas para que a visualização do funcionamento desse universo fosse compreendida de forma mais fácil.
Eu acredito que o ritmo lento da trama foi um fator proposital, pois assim o final acabou funcionando muito melhor. São muitas coisas acontecendo e a cada página a sensação é que mais e mais informações nos são jogadas, sendo necessário uma atenção redobrada para não perder detalhes.

Paige é uma protagonista inteligente, cheia de determinação e ambições. Ela também não é apresentada como uma personagem perfeita, pois por ser impulsiva e teimosa, nem sempre age com razão, e pelos seus erros, ela dá uma sensação de realidade, de gente como a gente, em meio a fantasia. Ela tem espaço para crescer e a medida que a história se desenrola ela é muito bem desenvolvida. Apesar dos membros dos Sete Selos terem sido bem trabalhados, mostrando particularidades e características importantes, eles não tiveram muito espaço e senti falta de um maior desenvolvimento para eles.
Eu gostei bastante da construção dos Rephaim. A cultura da sociedade, seus costumes e a forma como vivem são bem intrigantes, e Nashira, a líder, é uma personagem ótima, mesmo que ardilosa e cruel.

O projeto gráfico do livro é lindo! A capa é simples mas tem efeitos bastante caprichados e que lembram uma textura de jeans, o título é dourado e a parte interna da capa é de um laranja bastante vivo. A diagramação é simples, a fonte é pequena, cada início de capítulo tem o mesmo símbolo presente na capa e podemos contar com o mapa da Colônia Penal de Sheol 1, a classificação completa dos sete tipos e subtipos de clarividentes e um glossário ao fim do livro explicando vários termos utilizados.

Temporada dos Ossos é o primeiro volume de uma série composta por sete livros e é indicada para os fãs de distopia e fantasia sobrenatural que procuram por tramas complexas e bem construídas. A história é criativa, divertida, tem um grande impacto e, mesmo que complexa, desperta o interesse e faz querer mais. Super recomendo!

Silêncio - Richelle Mead

19 de julho de 2016

Título: Silêncio
Autora: Richelle Mead
Editora: Galera Record
Gênero: YA/Fantasia
Ano: 2016
Páginas: 280
Nota: ★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Pelo que Fei se lembra, nunca houve um ruído em seu vilarejo - todos são surdos. Na montanha, ou se trabalha nas minas ou na escola, e as castas devem ser respeitadas. Quando algumas pessoas começam também a perder a visão, inclusive a irmã de Fei, ela se vê obrigada a agir e a desrespeitar algumas leis.
O que ninguém sabe é que, de repente, ela ganha um aliado: o som, e ele se torna sua principal arma. Ao seu lado, segue também um belo e revolucionário minerador, um amigo de infância há muito afastado em função do sistema de castas.
Os dois embarcam em uma jornada grandiosa, deixando a montanha para chegar ao vale de Beiguo, onde uma surpreendente verdade mudará suas vidas para sempre. Fei não demora a entender quem é o verdadeiro inimigo, e descobre que não se pode controlar o coração.

Resenha: Há muitos séculos um pequeno povoado habita o alto de uma montanha, um vilarejo conhecido como Paço do Pavão, onde, todos são surdos e vivem em absoluto silêncio. O lugar é cercado por pedras que impedem os moradores de saírem dalí os tornando dependentes de um sistema de trocas com as pessoas que vivem no vale de Beiguo, ao pé da montanha. Através de uma tirolesa, eles enviam os minérios coletados das minas e recebem mantimentos para sobreviverem, pois o solo não é fértil e eles não conseguem cultivar plantas nem criar animais. A pequena sociedade foi dividida em castas e as pessoas só poderiam ter três tipos de trabalhos: os artistas, os mais respeitados na hierarquia que são responsáveis por representar os acontecimentos cotidianos através das pituras a fim de deixarem tudo registrado na História; os mineradores, responsáveis pela escavação e extração dos minérios que são enviados a troco dos alimentos; e os fornecedores de suprimentos, responsáveis por dividir de forma justa a comida que recebem.
Fei é uma das aprendizes de artista mais promissoras e habilidosas do povoado. Ela e a irmã, Zhang Jing, vieram de uma família de mineradores que morreram bem jovens, mas por possuirem o dom da arte conseguiram uma posição melhor na sociedade ao se tornarem aprendizes. O problema é que algumas pessoas começaram a perder a visão, se tornando dependentes da caridade alheia e sendo obrigadas a viverem as margens por deixarem de ser "úteis", e quando Jing começa a ser afetada e sua visão começa a falhar, Fei se desespera com medo da irmã perder o posto e ter um destino sofrido e miserável e não hesita em enganar os tutores fazendo o trabalho de Jing quando ela não consegue executá-lo com a perfeição exigida.
A cegueira que afetou os mineradores acabou trazendo problemas para todo o povoado, pois em consequência da produção ter caído muito, os mantimentos que chegavam pela tirolesa também diminuiram proporcionalmente, e com a ideia de que isso mais cedo ou mais tarde levaria os habitantes à morte, Li Wei, um jovem minerador que foi amigo de infância de Fei mas foi obrigado a se afastar devido ao sistema de castas, decide se rebelar e descer a montanha numa tentativa desesperada de reverter a situação. Porém, em meio a aflição do povoado, Fei, inexplicavelmente, começa a ouvir, e o que inicialmente a assusta, acaba sendo seu maior aliado quando ela resolve ajudar Li Wei nessa jornada cheia de perigos em busca de ajuda e de respostas para a sobrevivência de seu povo.

Richelle Mead utilizou da mitologia e do folclore chinês para construir uma história original e envolvente o bastante para causar uma das maiores ressacas literárias que já enfrentei até então. Nem sei quanto tempo faz que um livro não me prendia desse jeito. É o tipo de livro que me animou a ponto de me fazer sair comentando dele pra todo mundo que via pela frente feito uma louca.
A escrita é fluída, gostosa de se acompanhar, descritiva na medida certa e intinstigante a ponto de ter me feito devorar cada página sem vontade nenhuma de parar.
A narrativa é feita em primeira pessoa a partir do ponto de vista de Fei, mas pelo fato de todos no povoado serem surdos, os diálogos são feitos através da linguagem de sinais e aparecem em itálico para se diferenciarem do restante do texto, e este é um dos pontos mais incríveis que a história apresenta, pois a partir disso o leitor adentra um universo diferenciado e entende melhor as reações daqueles que desconhecem o que é ouvir qualquer tipo de som, assim como as limitações que eles possuem e como são afetados por isso, e como a própria Fei lida com a ideia totalmente nova de ter sido acometida pela audição.

Sobre os personagens, não há muito o que comentar pois o que fica mais evidente são os sentimentos em vez da personalidade propriamente dita, e a situação em que Fei se encontra explica bem isso. Ela e a irmã conseguiram um posto na casta dos artistas, mas isso teve um preço. Ela sempre amou Li Wei e nunca o esqueceu, desde quando era criança, mas ao mudar de posição na hierarquia social foi impedida de se relacionar com ele e até foi prometida para outra pessoa a quem ela jamais amaria. Fei viveria numa posição melhor, daria conforto e segurança à irmã (a quem ela sentia necessidade constante de cuidar e proteger), mas abriu mão de sua felicidade em nome disso.
"Você não deveria ter que se casar porque outra pessoa quer que seja assim, ou porque parece ser a melhor escolha. Tem que se casar com alguém que ame você. Alguém que a ame a ponto de ser capaz de mudar o mundo por sua causa."
- Pág. 122
A medida que Fei e Li Wei descem a montanha e se deparam com um mundo totalmente novo, o leitor acompanha uma trama recheada de aventura e mistério, assim como embarca num romance doce que faz com que torçamos pelos dois ficarem juntos, e também pra tudo ficar bem e que todas as injustiças que eles descobrem que existem alí tenham um fim.
"Acho que somos bons nessa coisa de fazer o impossível."
- Pág. 189
A abordagem sutil que a autora utilizou para criticar a desigualdade social e a exploração alheia foi fantástica, e por mais inaceitável e cruel que seja, serve para abrir nossos olhos para enxergarmos que situações assim não ocorrem somente na ficção.
O livro foi classificado como sendo do gênero fantástico, mas posso dizer que esse elemento só aparece mesmo no desfecho da história. O foco maior recai sobre a estrutura da sociedade e como cada um tem um papel específico a desempenhar nela, assim como as descobertas que Fei e Li fazem acerca de seu povo ao se aventurarem para fora dos limites do vilarejo. As lendas locais sobre criaturas míticas sempre são mencionadas ou são perceptíveis de alguma forma, mas nada aprofundado o bastante até descobrirmos que estes elementos são as respostas para todos os questionamentos levantados durante a leitura. Num primeiro momento fiquei com a impressão de que as coisas saíram do contexto e foram muito convenientes, mas depois pensei bem e considerei que o folclore faz parte da história do povo desde os primórdios e nada mais justo do que ele ser a solução para os seus problemas.

A capa ilustra bem a protagonista e o alto da montanha como pano de fundo. Os detalhes em dourado também dão um destaque maior fazendo com que o trabalho gráfico tenha ficado muito caprichado e bonito. A diagramação é simples, as páginas são amarelas, os capítulos são curtos, a fonte e a margem possuem um tamanho agradável e encontrei alguns poucos erros na revisão, mas nada que tenha atrapalhado minha concentração e meu envolvimento com a história.

No mais, Silêncio é uma história única e intrigante com romance, aventura e mistério, e traz uma abordagem nova e original sobre os aspectos da vida humana e sobre o que as pessoas são capazes de fazer, uns pelo bem estar de quem amam, e outros por se manterem no poder.