A Menina Que Brincava Com Fogo - Stieg Larsson

18 de junho de 2015

Lido em: Junho de 2015
Título: A Menina Que Brincava Com Fogo - Millennium #2
Autor: Stieg Larsson
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Ficção Policial
Ano: 2009
Páginas: 611
Nota: ★★★★★
Sinopse: Nada é o que parece ser nas histórias de Larsson. A própria Lisbeth parece uma garota frágil, mas é uma mulher determinada, ardilosa, perita tanto nas artimanhas da ciberpirataria quanto nas táticas do pugilismo, que sabe atacar com precisão quando se vê acuada. Mikael Blomkvist pode parecer apenas um jornalista em busca de um furo, mas no fundo é um investigador obstinado em desenterrar os crimes obscuros da sociedade sueca, sejam os cometidos por repórteres sensacionalistas, sejam os praticados por magistrados corruptos ou ainda aqueles perpetrados por lobos em pele de cordeiro. Um destes, o tutor de Lisbeth, foi mor-to a tiros. Na mesma noite, contudo, dois cordeiros também foram assassinados: um jornalista e uma criminologista que estavam prestes a denunciar uma rede de tráfico de mulheres. A arma usada nos crimes - um Colt 45 Magnum - não só foi a mesma como nela foram encontradas as impressões digitais de Lisbeth. Procurada por triplo homicídio, a moça desaparece. Mikael sabe que ela apenas está esperando o momento certo para provar que não é culpada e fazer justiça a seu modo. Mas ele também sabe que precisa encontrá-la o mais rapidamente possível, pois mesmo uma jovem tão talentosa pode deparar-se com inimigos muito mais formidáveis - e que, se a polícia ou os bandidos a acharem primeiro, o resultado pode ser funesto, para ambos os lados.

Resenha: A Menina que Brincava com Fogo, é o segundo livro da série Millennium. Stieg Larsson, falecido logo após entregar o manuscrito da saga de Lisbeth Salander, criouuma incrível aventura sobre um jornalista metido a detetive, Mikael Blomkvist, e uma garota excepcional.

A continuação de Os Homens que Não Amavam as Mulheres traz Lisbeth com um papel maior de protagonista, junto com Mikael. O caso dos Vanger se encerrou dando lugar a um dilema da própria Salander: ela agora é acusada de um triplo assassinato. É com esse pano de fundo que a trama começou a se desenrolar (ou seria enrolar?) e prender a atenção de quem lê.

O livro pode ser separados em duas partes: no começo o ritmo é lento, bem introdutório, conduzindo o leitor a relembrar alguns fatos do volume anterior e as férias de Lisbeth por alguns lugares do mundo. Logo após, a bomba dos assassinatos cai diretamente sobre Salander e a partir disso a trama ganha um ritmo semelhante ao que o volume antecessor teve no final.

O tema central gira em torno do abuso sexual contra a mulher. Tanto no primeiro quanto no segundo temos, em diferentes situações, retratos do sofrimento das figuras femininas e a busca por justiça. Stieg criou nos protagonistas figuras de heroísmo e perspicácia. Não só em Mikael ou Lisbeth; mas também em Erika, Bublanski, Sonja, Malu, Mimmi Wu e outros. Dessa mesma forma ele teve a habilidade para criar vilões bem convincentes. A Menina que Brincava com Fogo tem um abismo que separa seus protagonistas: aqueles nos quais devemos nos espelhar e uns que detém um caráter duvidoso e atitudes tampouco humanas.

A prosa de Larsson é fabulosa. A narrativa é sempre crucial para tornar um livro atrativo, até porque mais de seiscentas páginas não são lidas de uma vez só. Mas Stieg, na construção do texto, criou um dinamismo que torna a leitura agradável e cheia de mistérios que motivam a ir a diante para descobrir o que acontecerá com Lisbeth. Perto do final, principalmente, os capítulos começam a ficar mais curtos e mostram situações diferentes de maneira rápida e eficaz. É bem clichê dizer isso, mas chega a um momento que se tornou impossível largar a leitura.

A protagonista é uma "diva", a seu próprio modo. Lisbeth tem um quê de malícia, é inteligente ao extremo e deixa clara suas intenções: quem com o ferro fere, com fogo será queimado. Estamos tão acostumado com mais fragilidade partindo de personagens femininas que é surpreendente como Stieg personificou tanta força nessa moça. Salander tem fibra e coragem de sobra. É pouco óbvio que ela fosse mostrar algum tipo de vulnerabilidade ao logo da série, mas ela o faz. Assim, o sentimento de torcida pela garota só aumenta.

Toda livraria deveria vir com um cartaz em algum lugar advertindo o visitante a comprar a trilogia Millenium. A Menina que Brincava com Fogo é incrível, sendo ainda melhor que o primeiro. O sucesso de vendas é merecido e ler uma obra como esta é gratificante a qualquer leitor. As últimas páginas trazem a certeza que esta é uma das histórias mais inesquecíveis e bem escritas da literatura contemporânea.

Novidades de Junho - Grupo Pensamento

Cultrix
Você Pode Curar a Si Mesmo - Julie Silver
Neste livro prático e inspirador, a Dra. Julie Silver, médica especialista em medicina física e reabilitação da Escola de Medicina de Harvard, lança mão da sua experiência clínica e pessoal, como sobrevivente de um câncer, para condensar uma quantidade incrível de conhecimento sobre alguns princípios básicos que nos ajudam a mobilizar os nossos próprios recursos de cura e elevar o nosso nível de saúde, fazendo-nos sentir física e emocionalmente mais fortes.






Entre Deuses e Heróis - David Mulroy
Entre Deuses e Heróis traz os mais importantes mitos e lendas condensados a partir de suas fontes primárias. As histórias escolhidas para este livro não estão adaptadas e nem entremeadas pela interpretação que o autor faz delas. O livro apresenta as histórias de maneira acessível e agradável, preservando a dramaticidade, a ironia e as paixões (pathos) dos originais. Esta é uma obra voltada a um público amplo e satisfaz uma necessidade real, poupando tempo ao leitor interessado, que vai tomar conhecimento de toda a gama de lendas e mitos clássicos gregos e romanos de um modo eficiente e prazeroso.




Pensamento
O Último Papa - Robert Howells
Com base em seu vasto conhecimento da história política e espiritual da Igreja Católica, o historiador Rob Howells examina, a partir de perspectivas religiosas, históricas, psicológicas e científicas, as profecias de São Malaquias, que revela as identidades de 111 papas da Idade Média até o presente, incluindo aquele que será testemunha da ruína da Igreja Católica e é chamado de "Papa do Juízo Final". A eleição de Francisco tem sido anunciada como um novo começo para a instituição sitiada, mas Howells oferece uma interpretação incrivelmente diferente: que Francisco será o último papa da Igreja Católica.





Seoman
Casa Versace - Deborah Ball
Casa Versace conta como Gianni Versace, ao lado de sua irmã Donatella, juntou seu enorme talento a uma ambição extraordinária para criar quase sozinho este império da moda. A jornalista Deborah Ball apresenta a história vista de dentro, baseada em entrevistas com membros da família Versace; com parceiros e rivais de Gianni; modelos internacionais e ícones da indústria da moda. Gianni Versace estava no auge quando foi assassinado em Miami, fato que ocupou as primeiras páginas dos jornais de todo o mundo e a caçada ao assassino virou uma obsessão da mídia. Ball relata vividamente os esforços de Donatella ao assumir o controle da Versace e tentar se colocar à altura da genialidade de Gianni, se livrar das drogas, suas disputas com seu irmão Santo e o mistério de por que Gianni deixou o controle de sua empresa para sua sobrinha, Allegra.

Jangada
Origem - J.t Brannan
A pesquisadora científica Evelyn Edwards e sua equipe descobrem um corpo de 40 mil anos enterrado sob a calota polar da Antártida. Mas, quando começam a extrair o corpo do gelo, o sonho se transforma em um horrível pesadelo, quando todos são marcados para a morte por alguém que quer manter enterrado esse segredo. Evelyn mal consegue escapar com vida. Ela pede ajuda a seu ex-marido Matt Adams, antigo membro de uma unidade de elite do governo. Logo eles se veem envolvidos em uma corrida alucinante contra o tempo, que os leva ao Grande Colisor de Hádrons, em Genebra, enquanto tentam desvendar a maior conspiração de todos os tempos, antes que seja tarde demais para a espécie humana. Se a humanidade achava que conhecia suas origens, chegou a hora de repensar tudo, por que todas as crenças estão a ponto de ser questionadas.

A Odisseia de Tibor Lobato - Gustavo Rosseb
Depois de perder os pais num terrível incêndio no acampamento cigano onde moravam e passar dois anos num orfanato, Tibor Lobato e sua irmã Sátir são encontrados pela avó e vão morar no seu sítio. Ali fazem amizade com Rurique, um garoto conhecedor das lendas e histórias de assombração do lugar. Durante a quaresma, coisas muito estranhas começam a acontecer na região e seres fantásticos do folclore - como a Mula Sem Cabeça, o Boitatá e a Cuca -, ganham vida e começam a assombrar os habitantes dos Sete Vilarejos. Os três começam a correr perigo quando descobrem segredos que ligam a família dos irmãos a esses seres fantásticos e a um lendário Oitavo Vilarejo. A partir daí inicia-se uma odisseia cheia de magia, que levará os três amigos a reconhecerem e valorizarem virtudes como lealdade, coragem, esperança e amizade.

Eu, Você e a Garota que Vai Morrer - Jesse Andrews

17 de junho de 2015

Lido em: Junho de 2015
Título: Eu, Você e a Garota que Vai Morrer
Autor: Jesse Andrews
Editora: Fábrica 231/Rocco
Tradutora: Ana Resende
Gênero: YA/Drama/Humor
Ano: 2015
Páginas: 288
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Greg Gaines é socialmente invisível, Earl Jackson vem de um lar desajustado e Rachel Kushner tem câncer, mas Eu, você e a garota que vai morrer está longe de ser mais um dramalhão lacrimoso. Subvertendo clichês, o autor Jesse Andrews oferece um romance de formação que, com um estilo pop e original, consegue juntar irreverência e sensibilidade ao tratar dessa coisa maluca chamada morte. 

Resenha: Eu, Você e a garota que Vai Morrer é um livro "escrito" pelo seu protagonista, Greg Gaines. Greg é um garoto de dezessete anos que está no último ano do ensino médio e na época era aspirante a cineasta, mas como ele deixou essa ideia de lado por só fazer filmes terríveis, ele decidiu escrever um livro, mesmo que não tenha ideia do que estivesse fazendo, mas, ainda assim, ele quer contar sua história. Por achar o colegial uma droga, Greg tentava a todo custo passar por ele sem maiores problemas, e por isso resolveu que deveria se manter alheio não fazendo partes de "tribos" e grupos específicos para manter uma amizade com todos - mas acabou não tendo amizade com ninguém - assim ele não seria "rotulado" e nem prejudicado ao manter sua estratégia de sobrevivência. Seu único amigo era Earl, um garoto desprovido de altura, com personalidade ácida, opinião própria - direta, crua, grotesca e quase sempre ofensiva - que passava o tempo sendo zoado pelos irmãos e que vivia puto da vida. Mas eles eram amigos da maneira deles, estavam acostumados com todas aquelas besteiras e, ainda assim, a amizade permaneceu sólida, mesmo que "pontual", tosca, esquisita e sem fazer o menor sentido. Por que pontual? A amizade deles funcionava mais como um "trabalho em equipe" pois o único interesse que eles descobriram ter em comum era um filme que eles adoraram desde a primeira vez que assistiram quando eram crianças: Aguire, a cólera dos deuses, e foi por causa desse filme que eles começaram a fazer seus próprios filmes caseiros e super amadores dos quais Greg tem vergonha e gostaria de manter em segredo eternamente.
Até que tudo muda quando no primeiro dia de aula, após chegar em casa, lá estava Greg tranquilo da vida lendo um conto para a escola - vendo foto de peitos -, e tendo a concentração interrompida pelo próprio pau duro sem explicação, a mãe dele aparece choramingando com a triste notícia de que Rachel, uma namorada de infância que Greg teve há seis anos atrás, foi diagnosticada com leucemia e o garoto deveria voltar a falar com ela para ajudá-la a passar por essa barra. Na verdade, ele é intimado pela mãe a voltar a ser amigo de Rachel pois quanto mais tempo ele passasse com ela, maior seria a diferença no que lhe restava de vida. Greg nem sabia o que era leucemia e não fazia ideia de como se aproximar de Rachel, mas um telefonema acaba mudando tudo...
" - Oi.
- Ei.
- ...
- Eu telefonei para o médico, e ele disse que você precisava de uma receita de Greg-acil.
- E isso é o quê?
- Sou eu.
- Pág. 48
O livro possui uma narrativa em primeira pessoa pelo ponto de vista de Greg e além de ser bastante descontraída e direcionada ao leitor já que se trata de seu livro, consegue ser muito real e atingir uma sinceridade ímpar. O protagonista não mede as palavras e sempre tem pensamentos sinceros sobre a situação em que se encontra por mais que soe ofensivo ou inadequado. Alguns trechos são em forma de roteiro e em terceira pessoa, e por isso a diagramação é diferente nessas partes. E confesso ter achado genial essa ideia de mesclar a escrita com roteiros pois é algo que faz parte da história e da vida de Greg e de Earl. Ele também faz listas pra enumerar as coisas que quer explicar e é bem engraçado. Como a história é escrita por Greg, ele sempre se refere ao livro como "essa bosta de livro", "esse livro desgraçado" e por aí vai.

Os diálogos são naturais, muitas vezes são cheios de palavrões e o autor não poupa o leitor de detalhes ou manias de linguagem que os personagens tem. Em momentos de hesitação, ou de certa dificuldade em falar algo que possa ser considerado constrangedor, Greg sempre enrola com "huumm's" até concluir o que quer dizer. Por um lado achei original por demonstrar o personagem como alguém normal, comum e até indiferente, mas na narrativa, mesmo que não interferisse no meu envolvimento com a história, achei que foi uma característica que impediu a fluidez da leitura nos trechos em que aparece.

Greg é um personagem muito sozinho e não tem o menor espírito de liderança. Ele vive a sombra de Earl mas consegue se dar bem nessa condição porque faz o tipo "caguei e andei". Ele surta mas logo se finge de morto e assim resolve seus problemas. Ele é sarcástico, não liga pra ninguém além dele mesmo, não se importa com o que os outros pensam e azar de quem esteja sofrendo. Ele simplesmente não se importa com nada e fim. Mas o que esse pobre coitado tem de insuportável e chato, ele tem de engraçado. Os foras que ele dá ou os pensamentos impossíveis e impagáveis que se passam em sua cabeça são os responsáveis pelo grande toque de humor da história e por deixá-la tão diferente e original. E claro, através de erros e perdas que enfrenta ele amadurece e acaba enxergando que as coisas não são como ele pensa.

A família de Greg é hilária. Eles não aparecem muito na história, mas adorei a apresentação de cada membro dela, desde a mãe ex-hippie e super sentimental, o pai esquisito, as irmãs mais novas inúteis e até mesmo Cat Stevens, o gato da família que é tratado como uma pessoa.
Talvez o que tenha faltado nesse livro pra eu considerá-lo realmente perfeito nem tenha sido um romance ou um triângulo amoroso na pior das hipóteses, mas, sim, um aprofundamento maior na questão de Rachel estar a beira da morte e a visão dela para o seu lado da história já que ela tem bastante destaque no título. Há explicações e cenas sobre a doença para situar o leitor do que se trata e o que a pessoa enfrenta, fisicamente falando, mas Rachel fica totalmente em segundo plano, como uma figurante mesmo, e o leitor não sabe como ela se sente e nem pelo que ela, de fato, passa emocionalmente, então, pra quem espera por um sick-lit como A Culpa é das Estrelas, que emociona, arranca lágrimas e retrata a superação de alguém com uma doença terrível, triste e incurável, que sofre mas ainda assim encontra o amor, vai quebrar a cara. Leia sim, mas ciente de que esse não é o foco de Eu, Você e a Garota que Vai Morrer. O leitor já sabe pelo título que a garota vai morrer, mas a ideia que prevalece durante todo o desenrolar da história é a que Greg deixou clara lá no início do livro, se trata da história dele e de como ele - sendo o adolescente que é, e com a mentalidade de um - tentou levar um pouco de alegria pra Rachel enquanto segue com a própria vida e descobre um pouco mais de si quando, com a ajuda de Earl, tenta fazer um filme para fazer uma homenagem a ela, mas nada sai como planejado...

A capa colorida tem tudo a ver com a história e é muito bonita. Ela representa os cenários improvisados que os garotos montam na criação de seus filmes malucos. Encontrei um único erro de revisão e gostei da adaptação de alguns termos traduzidos para se adequarem ao português. O título no original é "Me and Earl and the Dying Girl", mas achei bacana a editora adaptar para que houvesse uma "rima" entre "você" e "morrer", como há em "Earl" e "Girl" no inglês.

É um livro que foge completamente de clichês e apresenta um protagonista esquisito e diferente de tudo o que já vi, mas justamente por isso consegue ser incrível, cativante, engraçado e único. Mesmo que eu tenha imaginado uma coisa e ter me deparado com outra, neste caso em particular, curti muito, me surpreendi e o livro superou minhas expectativas.

O livro deu origem ao filme cujos direitos foram adquiridos pela Fox e foi vencedor do Festival Sundance 2015, nas categorias Público e Crítica, espiem o trailer:
Fin.

Vivian Contra o Apocalipse - Katie Coyle

16 de junho de 2015

Lido em: Junho de 2015
Título: Vivian Contra o Apocalipse - Vivian Apple #1
Autora: Katie Coyle
Editora: Agir Now
Gênero: YA
Ano: 2015
Páginas: 240
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Vivian Apple tem 17 anos e mal pode esperar pelo fatídico “Arrebatamento” — ou melhor, mal pode esperar para que ele não aconteça. Seus devotos pais foram escravizados pela Igreja há tempo demais, e ela está ansiosa para que tudo volte ao normal. O problema é que, ao chegar em casa no dia seguinte ao suposto evento, seus pais sumiram e tudo o que restou foram  dois buracos no teto…
Ela está determinada a seguir vivendo normalmente, mas, quando começa a suspeitar que eles ainda podem estar vivos, Vivian percebe que precisa descobrir a verdade. Junto com Harp, sua melhor amiga, Peter, um garoto misterioso que tem os olhos mais azuis do mundo e informações sobre um possível paradeiro dos seguidores da Igreja (ao menos é o que ele diz), e Edie, uma Crente que foi “deixada para trás”, os quatro embarcam em uma road trip pelos Estados Unidos em pleno pré-apocalipse. Mas, depois de atravessar quilômetros enfrentando eventos climáticos bizarros, gangues de fanáticos  religiosos vingativos e um estranho grupo de adolescentes autointitulado “Novos Órfãos”, Vivian logo vai entender que o Arrebatamento foi só o começo. 

Resenha: Vivian e o Apocalipse apresenta uma história com uma versão dos Estados Unidos onde o povo americano parece ter se esquecido de Deus, deram as costas à igreja e à religião e se tornaram arrogantes. Logo, para que as pessoas voltassem a ouvi-Lo, Ele precisaria de um profeta. Alguém rico e cheio de posses para quem Deus pudesse mandar seus anjos para instruí-lo e orientá-lo. Assim, Beaton Frick foi o escolhido pra construir uma igreja em seu nome, a Igreja Americana. Por mais que ele tenha ido às ruas espalhar a notícia de que Deus receberia os Crentes no Reino dos Céus quando a hora chegasse, as pessoas continuaram ignorando e vivendo no pecado. Então, o próprio Deus apareceu para Frick, alegando ter desistido dos americanos e que somente os Abençoados seriam recebidos, e o resto seria Deixado para trás a fim de presenciar o fim do mundo e sofrer as consequências por ter dado as costas a Ele. Frick avisou, mas ninguém quis ouvir nem levar a sério...
Os Estados Unidos sofreram com o calor, com desastres naturais, com ataques terroristas e entraram em guerra e colapso. As pessoas perderam seus empregos, suas casas e se viram vivendo na miséria. Não haveria salvação para a América até que Frick, mais uma vez, pediu que as pessoas que quisessem ser salvas o seguisse, e foi então que, diante de todas aquelas provações das quais ele havia alertado a todos, o povo começou a ouvir, e por medo do Apocalipse, começaram a segui-lo a fim de serem poupados... Todos passaram a viver nesse país dominado por essa religião conservadora e muito poderosa que conseguiu mudar tudo e todos, ou quase todos...

Vivian Apple é uma garota de dezessete anos que não possui crenças religiosas, mas viu o mundo ruir quando seus pais, que até então também não acreditavam em Deus, resolveram entrar para a Igreja Americana se convertendo em Crentes e seguindo o Livro de Frick. E acreditando nos ensinamentos e alertas dele, pensavam que o fim do mundo já tinha dia e hora marcados. Eles tentaram convencer Vivian a se converter, mas falharam miseravelmente pois ela simplesmente não acredita nos ensinamentos da Igreja e nem no que diz o Livro de Frick. Ela estava ansiosa pra chegar o dia do Apocalipse e todos quebrarem a cara com o que não ia acontecer. Até que um dia alguns membros da Igreja desaparecem de forma misteriosa e muitos acreditam se tratar do tão falado Arrebatamento, que é o momento em que Deus resgata os salvos enquanto os que não acreditam ou não O aceitam são Deixados para Trás. Os Crentes que continuam na cidade, que se tornou um verdadeiro caos, esperam ansiosos, mas, outras pessoas desconfiam que se trata de uma grande encenação ou picaretagem para enganar e arrancar dinheiro dos que acreditaram em alguma coisa. Mas independente do que seja, de fato, as pessoas realmente sumiram, e quando Vivian chega em casa depois de uma festa, além de não encontrar os pais, ainda se depara com dois buracos no teto, o que dá a ideia de que seus pais foram mesmo Arrebatados para o Reino do Céu. Vivian ficou para trás e está sozinha no mundo. Mas ela não consegue acreditar no que está acontecendo e esse suposto Arrebatamento é o que faz com que ela surpreenda a si mesma descobrindo um lado que ela não sabia ter. Ela sai junto com seus amigos que estão na mesma situação que ela, e parte numa viagem pelo país em busca de respostas. E ela acaba se surpreendendo com o que encontra pelo caminho...

Vou ser sincera em dizer que não esperava encontrar elementos religiosos nessa história, até mesmo porque minha forma de encarar religião é bem diferente do que considero "tradicional". Pra mim, o livro tratava de outro tipo de fim do mundo e que o Arrebatamento mencionado seria apenas um estopim para o desenrolar das coisas, mas posso afirmar que a mensagem que encontrei aqui foi muito além do que imaginei e no final das contas o livro superou, e muito, as minhas expectativas.
A história é narrada em primeira pessoa pelo ponto de vista de Vivian e é dividida em três partes, que é quando ela fica perdida sem saber o que está acontecendo, quando reúne coragem suficiente e parte em busca de respostas e quando, enfim, descobre o que aconteceu e como lidou com isso, então ficamos limitados à visão e opinião dela acerca do que está acontecendo enquanto tudo está um caos.
Achei interessante que a autora tenha usado algumas palavras com letra maiúscula para evidenciar certos tipos de características ou acontecimentos, como Crentes, Livro, Deixados para Trás, Salvação, Igreja e etc e dessa forma ela não generaliza o assunto nem o leva para além da ficção, por mais que seja possível usar a trama como exemplo vivo do que vivenciamos na vida real. Enxerguei no livro uma crítica ao fanatismo religioso e as consequências terríveis que a lavagem cerebral e a intolerância podem trazer.

Os Crentes, em nome da religião e do que foram levados a acreditar, não medem esforços para afastar ou acabar com tudo o que pode ser considerado impuro ou prejudicial para que a Salvação aconteça, então é comum que, em meio ao caos, Vivian veja ofensas horríveis pintadas em muros e paredes da cidade direcionados a qualquer um que seja "corrompido", assim como perseguições e assassinatos contra gays, ateus e até negros. Soou muito familiar pra mim quando li trechos que mostraram esse tipo de crença que incentiva os ricos a ficarem mais ricos pois "Deus ama o Capitalismo", ou de jovens que engravidaram de alguém da Igreja acreditando estarem mais próximas de Deus ou que seriam salvas assim pra depois ficarem solteiras e sozinhas, que as mulheres devem ser submissas e obedecer aos maridos enquanto ficam em casa cuidando da família, além da combinação de Igreja com Política a fim de facilitar a ingressão de leis que se baseiam em crenças que beneficiem apenas a quem convém.

Parece ser um tema pesado e difícil, mas a autora consegue encaixar esses elementos na trama de uma forma impactante, bastante realista e sem que nada seja ofensivo a alguma religião, além de mesclar com os conflitos dos personagens que mostram seus sentimentos que envolvem amor e amizade de uma forma intensa e verdadeira, e isso é o que move os personagens a seguirem em frente contra todo o absurdo que está acontecendo. A história é contada de uma forma que acredito ser mais reflexiva enquanto Vivian está nessa jornada pela cidade a fim de saber a verdade e o que aconteceu com as pessoas que desapareceram, e cabe ao leitor absorver tudo a sua maneira e, quem sabe, tirar dali algum proveito sobre o assunto.
Vivian é apresentada no início como uma personagem certinha, obediente, estudiosa mas ao longo do livro, diante de tudo o que ela presencia e passa, ela aprende muito sobre esse mundo exterior e amadurece por pensar além e não se deixar influenciar, por se mostrar alguém diferente dos outros e de forma incrível. Ela passa a ter uma outra visão de mundo e a ver as pessoas como elas são na verdade. Ela se torna uma verdadeira heroína no que diz respeito a lutar pelo que acredita ser o certo, principalmente porque sempre está preocupada com quem está a sua volta, sem interferir nas crenças alheias.

Gostei bastante da escrita da autora e da forma como ela aprofundou as relações entre os personagens e os detalhes da história. Todos eles são muito bem construídos, até mesmo aqueles que são os "vilões". A cada parte acontecia alguma reviravolta, algum fato que havia sido mencionado lá no começo vem a tona e alguns segredos são desvendados, e tudo isso colabora para que Vivian tenha as respostas que tanto procurou.
Não vou negar que percebi alguns pequenos furos na história, mas falar sobre eles seriam um spoiler, então, prefiro deixar que quem tiver o prazer de ler chegue a própria conclusão.
É um livro intrigante, chocante e tem seus pontos tristes, mas não deixa de ser bonito e emocionante pois mostra que nem sempre devemos acreditar em tudo que ouvimos, e nem sempre o parece ser realmente é.

Acredito em Deus, sim, mas não sou de rezar nem sigo uma religião, mas sempre acreditei que o respeito é algo que não se pode impor, mas sim algo a ser conquistado. Acho que esse respeito não pode existir quando os outros querem obrigar ou forçar alguém a acreditar no que eles acreditam. As pessoas são diferentes, são livres para escolherem o que acham melhor para suas vidas desde que não prejudiquem ninguém, mas a forma como se comportam com os outros diante de suas crenças é uma das coisas que as definem. Ninguém precisa concordar com as escolhas ou opiniões alheias, basta respeitar para, assim, se dar ao respeito. É uma pena que na prática isso não funcione e em pleno século XXI temos que presenciar situações lamentáveis envolvendo o que algumas pessoas são capazes de fazer, ou de levar outras a fazerem, em nome de Deus.
É um livro que recomendo, tanto pelo entretenimento quanto pela ideia de fazer as pessoas refletirem sobre o tema.