Stalker - Tarryn Fisher

25 de janeiro de 2019

Título: Stalker
Autora: Tarryn Fisher
Editora: Faro Editorial
Gênero: Suspense/Mistério
Ano: 2018
Páginas: 256
Nota:★★★☆☆
Sinopse: Deprimida após sofrer um aborto espontâneo, Fig Coxbury passa seu tempo em praças observando as crianças que poderiam ser a sua filha. Até que uma menininha brincando com a mãe desperta uma obsessão. Logo, Fig se vê mudando de casa e de bairro não por necessidade, mas porque a casa vizinha oferece tudo o que ela mais deseja: a filha, o marido e a vida que pertence a outra pessoa.

Resenha: Depois de sofrer um aborto, Fig se tornou uma mulher extremamente perturbada que passou a acreditar que sua filha reencarnaria em alguma criança próxima. Assim, ela passa seu tempo em parques e praças observando crianças com intuito de encontrar sua filha em uma delas. Mercy, filha de Jolene, chama a atenção de Fig, que começa observando e tirando algumas fotos da menina, mas logo ela se muda para a casa ao lado da de Jolene para ficar mais próxima de sua família. A aproximação gera uma amizade, e não demora para que Fig copie tudo que Jolene faz na intenção de fazer melhor, pois segundo ela, Jolene é uma Mãe Desnaturada que não merece a vida e a família que tem. Jolene não enxerga o problema e acredita que o comportamento de Fig foi desencadeado pela perda da filha e pela solidão, e que ela só precisa ser compreendida. Até que Darius, psicólogo e marido apaixonado de Jolene, percebe que existe algo de errado: Fig está obcecada não só por sua esposa, mas pela vida que ela construiu.

O livro é dividido em três partes destinadas ao ponto de vista de cada personagem, Fig, Jolene e Darius. Num primeiro momento conhecemos Fig e como ela se tornou tão obsessiva, porém as descrições e seu desenvolvimento se estendem mais do que o necessário, tornando esta parte longa, arrastada e muito repetitiva em alguns pontos.
Jolene é uma mulher que, embora se esforce, é um tanto ingênua por preferir enxergar o lado que ela acredita ser bom nas pessoas. Por mais que ela seja alertada sobre o comportamento questionável e perigoso de Fig, ela sempre encontra justificativas, se nega a enxergar o problema e continua dando a mão para a nova "amiga" sempre que necessário.
Já o ponto de vista de Darius é o mais interessante e esclarecedor, talvez por ele ser psicólogo e ter conseguido identificar melhor as características doentias de Fig. Ela inclusive acredita que ele seja o homem e marido perfeito que Jolene não valoriza, mas pelos olhos de Darius percebemos que ele é um homem que também tem, seus defeitos.

A história foi baseada em acontecimentos reais da vida da própria autora, o que torna tudo ainda mais assustador. A trama em si é interessante e, mesmo que com vários problemas de construção e desenvolvimento, mostra um lado bastante perturbador do que é ser uma sociopata, assim como ser perseguida por uma stalker, porém existem muitos pontos confusos e sem as devidas explicações que só fazem milhões de pontos de interrogação pairar sobre nossas cabeças. Um deles é sobre o marido de Fig, que embora exista, é totalmente esquecido, aparecendo num pequeno momento por questão de conveniência.
A sensação que tive com essa leitura foi a de acompanhar fragmentos de uma situação problemática por três pontos de vista diferentes, como se a história estivesse sendo contada faltando pedaços e a obrigação do leitor é montar esse quebra-cabeças maluco. O final também é totalmente WTF, surreal, e a impressão é de estar ali só pra deixar aquela sensação de amargo na boca.

Enfim, este foi um livro ok, com mais falhas do que méritos, mas ainda assim vale a leitura pelo tema delicado. Stalker é uma história interessante, porém mal executada, sobre o desejo de se ter o que não deveria estar ao alcance, e que consegue mostrar um pouco da fraqueza humana, da sociopatia, da psicopatia, e que a mesma história pode ter a mesma versão, só depende do ponto de vista de quem vê.


A Livraria dos Finais Felizes - Katarina Bivald

10 de janeiro de 2019

Título: A Livraria dos Finais Felizes
Autora: Katarina Bivald
Editora: Suma de Letras
Gênero: Romance
Ano: 2016
Páginas: 336
Nota:★★★★☆
Sinopse: Sara tem 28 anos e nunca saiu da Suécia — a não ser através dos (vários) livros que lê. Quando sua amiga Amy, uma senhora com quem troca livros pelo correio há anos, a convida para visitá-la na cidade de Broken Wheel, Iowa, Sara decide se aventurar. Mas ao chegar lá, descobre que Amy faleceu. Sara se vê desacompanhada na casa da amiga, em uma cidade muito pequena, e começa a pensar que talvez esse não seja o tipo de férias que havia planejado. Com o tempo, Sara descobre que não está sozinha. Nessa cidade isolada e antiga, estão todas as pessoas que ela conheceu através das cartas da amiga: o pobre George, a destemida Grace, a certinha Caroline e Tom, o amado sobrinho de Amy. Logo Sara percebe que Broken Wheel precisa desesperadamente de alguma aventura, um pouquinho de autoajuda e talvez uma pitada de romance. Resumindo: a cidade precisa de uma livraria.

Resenha: Embora nunca tenham se encontrado, Sara e Amy são grandes amigas. Elas foram unidas pelo amor à leitura, e além de cartas, também trocam livros pelo correio. Sara tem vinte e oito anos e nunca sequer se imaginou fora da Suécia, e suas aventuras se concentravam nas viagens feitas através das histórias que tanto gosta de ler. Amy é uma senhora que mora na cidadezinha de Broken Wheel, Iowa, nos EUA.
Sara decide viajar para os EUA para conhecer a amiga, mas ao chegar lá, se depara com a trágica notícia do falecimento de Amy. Sara, então, decide ficar na casa de Amy e abrir uma pequena livraria naquela cidadezinha isolada de uma rua só, e acaba descobrindo que é possível encontrar histórias emocionantes fora das páginas...

Assim, vamos acompanhando não só o impacto que a nova - e única - livraria vai causar em Broken Wheel, mas também o envolvimento de Sara com a cidade e seus moradores, que ela inclusive já conhecia através das cartas de Amy.
Não posso negar que a escrita da autora é um tanto arrastada e cansativa, mas a história em si é totalmente mágica, e é impossível ler sem um sorriso no canto da boca, principalmente com tantas referências literárias. Aos poucos Sara vai se enturmando com o pessoal da cidade, e ela mesma se surpreende consigo mesma, já que na Suécia ela nunca se sentia parte de alguma coisa. Os livros acabam lhe dando um novo sentido para viver, como se ela tivesse recebido uma nova chance para recomeçar.

Um ponto que achei super legal nessa história foi a própria Amy, que mesmo tendo morrido continua viva através das cartas que enviou para Sara, e através da enorme quantidades de livros que deixou pra trás, e não posso negar que ela foi uma senhora adorável e incrível. A lembrança dela jamais seria apagada.
Os demais personagens também são bacanas, eu só senti falta de um pouco mais de aprofundamento em alguns deles pois suas histórias são bem interessantes e fiquei com aquele gostinho de quero mais.

A Livraria dos Finais Felizes é um livro encantador que fala sobre o amor aos livros, desde os clássicos aos contemporâneos, e como a leitura não só proporciona diversão e momentos inesquecíveis, mas também engrandece a alma de quem lê e muda suas vidas para sempre.

Sempre Vivemos no Castelo - Shirley Jackson

8 de janeiro de 2019

Título: Sempre Vivemos no Castelo
Autora: Shirley Jackson
Editora: Suma de Letras
Gênero: Mistério
Ano: 2017
Páginas: 200
Nota:★★★★☆
Sinopse: Merricat Blackwood vive com a irmã Constance e o tio Julian. Há algum tempo existiam sete membros na família Blackwood, até que uma dose fatal de arsênico colocada no pote de açúcar matou quase todos. Acusada e posteriormente inocentada pelas mortes, Constance volta para a casa da família, onde Merricat a protege da hostilidade dos habitantes da cidade. Os três vivem isolados e felizes, até que o primo Charles resolve fazer uma visita que quebra o frágil equilíbrio encontrado pelas irmãs Blakcwood. Merricat é a única que pressente o iminente perigo desse distúrbio, e fará o que for necessário para proteger Constance. Sempre vivemos no castelo leva o leitor a um labirinto sombrio de medo e suspense, um livro perturbador e perverso, onde o isolamento e a neurose são trabalhados com maestria por Shirley Jackson.

Resenha: Os Blackwood são uma família endinheirada e bem esquisita, e nunca foram bem vistos no vilarejo onde moram. Cochichos e fofocas sempre rodearam esta família peculiar, mas as coisas pioraram quando a filha mais velha, Constance, foi acusada de matar quase toda a família envenenada. Constance foi inocentada mais tarde, mas deixou de sair de casa, passou a sofrer de agorafobia, e quem ficou responsável por ir até a cidade para fazer compras da casa foi Merricat, a irmã de dezoito anos, já que Tio Julian não sai de casa por ser paraplégico e esclerosado. E toda semana, quando Merricat vai até a cidade para fazer compras ou visitar a biblioteca, ela ouve várias ofensas de todo tipo de gente maldosa que vive na cidade, e seu ódio é tanto que o mínimo que ela deseja para todos eles é a morte. Ela só quer viver feliz com seu gato, sua irmã e seu tio sem que nada nem ninguém atrapalhe.
Até que um dia, o primo Charles aparece na residência, quebrando aquele frágil equilíbrio que resistiu a tanta hostilidade, e ele logo começa a ditar ordens. Merricat, pressentindo o perigo e convencida de que ele está acabando com a alegria de todos, vai fazer qualquer coisa para defender a irmã.

A narrativa é feita em primeira pessoa pelo ponto de vista fantasioso, imaturo e nem um pouco confiável de Merricat. Embora ela tenha dezoito anos, a impressão que fica é que se trata de uma criança de cinco anos de idade contando o que está acontecendo sem que tenha um pingo de credibilidade.
Merricat é cheia de manias absurdas e irritantes, vive sonhando acordada, e seu único intuito é o de manter a harmonia na casa a qualquer custo.
Parte da narrativa é feita por tio Julian, que vai contar o que aconteceu com a família, mas as lembranças dele são tão confiáveis quanto as da protagonista. Assim vamos acompanhando a rotina da família que precisa ser mantida a qualquer custo, o quanto Merricat odeia e amaldiçoa cada morador do vilarejo, o quanto se preocupa com a irmã, suas desconfianças com a presença do primo Charles, suas simpatias e rituais de proteção para cuidar da casa e da família e afastar as outras pessoas de suas vidas, e a dúvida que todos tem: Quem matou os Blackwood?

Há alguns pontos questionáveis, como por exemplo, a reação das pessoas diante de algo feito por Merricat quando anteriormente ela só estava pensando em fazer algo, ou a ideia dela passar um tempo na biblioteca mas nunca estar lendo nada, ou até elementos sobrenaturais que parecem estar alí sem um sentido maior. Já o mistério que cerca a história, e os dramas que as meninas vivem por causa da tragédia e também por serem consideradas diferentes é, sim, interessante. Por esse ponto vemos um pouco do lado de quem se sente rejeitado e excluído da sociedade, por mais maluca que essa pessoa seja.

Como o livro é fininho, não é possível contar muito mais sem que spoilers sejam dados, mas posso dizer que a autora soube, sim, inserir boas doses de terror na história com intenção de causar incômodo e perturbação, mas a ideia do amor entre irmãs estar alí, fazendo com que elas tirem forças sabe-se lá de onde para cuidarem uma da outra já que não podem contar com mais ninguém, é simplesmente adorável. Até onde alguém vai para proteger e manter próximo quem se ama?
O fato dos personagens terem comportamentos estranhos, dificilmente vão conquistar a simpatia dos leitores, mas talvez a boa ideia de Shirley Jackson tenha sido exatamente essa, fugir de estereótipos de mocinhos e vilões para trazer personagens irritantemente interessantes.

Pra quem gosta de narrativas poéticas e diferentes, com toques de terror, mistério e humor negro, é leitura mais do que indicada.

Na Telinha - Tully

7 de janeiro de 2019

Título: Tully (Tully)
Distribuidora: Diamond Films
Elenco: Charlize Theron, Mackenzie Davis, Ron Livingston
Gênero: Drama
Ano: 2018
Duração: 1h 36min
Classificação: +14
Nota:★★
Sinopse: Marlo (Charlize Theron), mãe de três filhos, sendo um deles um recém-nascido, vive uma vida muito atarefada, e, certo dia, ganha de presente de seu irmão: uma babá para cuidar das crianças durante a noite. Antes um pouco hesitante, Marlo acaba se surpreendendo com Tully (Mackenzie Davis).

Marlo é uma mulher de quarenta anos, mãe de dois filhos e a espera do terceiro, não planejado. Esgotada pelo peso da maternidade e das tarefas domésticas, a exaustão está estampada em seu rosto como uma tatuagem. Marlo tem que lidar com os problemas escolares e o comportamento diferente do filho, lidar com os julgamentos alheios sobre suas escolhas, e ainda precisa contornar todas as situações de casa com muita paciência e jogo de cintura enquanto seu marido trabalha.
Depois do nascimento da bebê, a rotina difícil só piora e as noites passadas sem dormir deixam Marlo a beira do colapso. Ela não tem qualquer perspectiva de vida que não seja esta e se sente numa prisão. Até que seu irmão dá a ideia de presenteá-la com uma babá noturna, assim ela poderia ter um tempinho para si e dormir, enquanto a babá tomava conta de Mia durante a noite.


Inicialmente Marlo não gosta muito da ideia pois não poderia confiar a filha de poucos dias aos cuidados de uma estranha, mas, seu desespero chega num nível tão crítico, que ela acaba cedendo.
Quando Tully, a babá, chega, Marlo fica frente a frente com uma jovem feliz, divertida, sorridente, descolada e cheia de vida, que cuida da bebê - e da mãe também -, lhe tirando muito do peso que ela carregava nas costas sozinha. A partir daí, sua vida começa a mudar, pois Marlo acaba percebendo que elas tem muitas coisas em comum, mas também muitas diferenças, e vai redescobrindo um lado que ela tinha mas que havia esquecido, enquanto pensa em todas as escolhas que fez na vida para ter chegado onde chegou.


Não dá pra falar muito sobre o enredo e sobre a relação sincera que Marlo e Tully desenvolvem sem dar spoilers, mas posso dizer que Tully é aquele tipo de filme que mostra um lado tão real e cru da maternidade, com alguns toques de bom humor e ironia pra não deixá-lo tão pesado, que é impossível não se identificar, sentir empatia pela protagonista ou, como foi meu caso, chorar litros por ter me identificado com a situação dela. Logo nos primeiros minutos do filme eu já me enxerguei na pele de Marlo e soltei um "socorro, essa mulher sou eu!": exausta, deprimida, estressada, com uma olheira que bate no pescoço, desleixada, impaciente, acima do peso e sem vontade nenhuma de viver. Ela só está ali por que não tem outra escolha já que os filhos não só dependem dela, como a consomem totalmente, mas ninguém enxerga ou valoriza nada do que ela faz e do que abriu mão para ser mãe (a ponto de ter se transformado em outra pessoa), e nem se preocupa em estender a mão pra ajudar. Ela nem sabe o que é ter ajuda, já se acostumou a ficar com a carga pesada nas costas, por isso fica relutante com a ideia do irmão de aceitar a babá. Logo após o nascimento da terceira filha, ela já está num nível tão crítico de cansaço que ela não consegue sequer sentir felicidade pela chegada do novo bebê.
- Bom, você me parece uma ótima mãe.
- Ótimas mães organizam festas e noites de cassino. Fazem cupcakes que parecem Minions. Coisas que eu estou cansada demais para fazer. Sinceramente, até me vestir parece cansativo. Eu abro o armário e penso "Eu não acabei de fazer isso?"
O marido, Drew, no fundo, não é uma má pessoa, ele até acredita que está ajudando sendo "pai", mas em casa ele é desatento, sua única preocupação é jogar vídeo game e dormir tranquilo, não liga pra vida sexual inexistente que tem com a mulher, acha que ela não está fazendo nada além do que cumprir com seu papel de mãe e dona de casa, e ainda acha que ela,"aparentemente", está ótima. Ele olha pra ela todos os dias, mas não a vê realmente. Drew claramente representa a grande maioria dos maridos e pais por esse mundo: insensíveis, despreocupados, folgados e sem o menor senso.


Uma curiosidade que descobri sobre o filme é que a atriz Charlize Theron engordou 23kg para interpretar a personagem, e posso dizer que foi um dos melhores papeis que ela já fez, tanto que está concorrendo ao Oscar. Ela mostra com fidelidade o quanto é desgastante lidar com tantas cobranças e com a rotina de ser mãe quando não se tem ajuda, assim como deixa evidente a sensação de estar sozinha mesmo cercada de gente.
Os diálogos são sensíveis e afiados, muitos dele sugerem bem o que o desfecho da história reserva, e muito do que é dito pode ser levado pra vida.
- ...Garotas não se recuperam.
- Se recuperam, sim.
- Não, não nos recuperamos. Podemos parecer que estamos melhores, mas se olhar de perto, estamos cobertas de corretivo.
- Porra.
Se você é mãe, assista. Se você é pai, assista. Se você acha que a vida de uma mãe é fácil, assista. O realismo acerca da pressão e os sacrifícios, tanto físicos quanto mentais, sofridos pela mãe é tanto, que é impossível não sentir empatia, não se comover, e não ficar com os olhos cheios de lágrimas.


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