Over the Rainbow - Varios autores

22 de novembro de 2017

Título: Over the Rainbow - Um Livro de Contos de Fadxs
Autores: Milly Lacombe, Renato Plotegher Jr, Eduardo Bressanim, Maicon Santini e Lorelay Fox
Editora: Planeta de Livros
Gênero: Contos/Releitura/Literatura Nacional
Ano: 2016
Páginas: 224
Nota:★★☆☆☆
Sinopse: E se a Cinderela se apaixonasse por uma garota, e não por um príncipe encantado? Ou se os irmãos João e Maria, homossexuais assumidos, enfrentassem a ira de uma madrasta religiosa que só pensa em “curá-los”? Ou, ainda, se a Branca de Neve, abandonada numa cidade bem distante de sua terra natal, fosse acolhida por... sete travestis? Pois pare de imaginar se os contos de fadas fossem revisitados e recebessem uma roupagem LBGTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais). Abra este livro e confira as clássicas histórias da infância de milhões de pessoas contadas sob a ótica de cinco autores que fazem parte desse universo, representado pelas cores do arco-íris. Ou melhor, contos de fadxs, como reza a nova norma de gêneros.

Resenha: Com tanta intolerância com a comunidade LGBT nos dias de hoje, livros que trazem representatividade com objetivo de esclarecer e desconstruir preconceitos são mais do que bem-vindos e necessários. A ideia de ter como base os contos de fadas clássicos da literatura se passando nos dias atuais e com uma roupagem totalmente diferente a fim de incluir o meio LGBT num compilado é simplesmente genial. Partindo daí, a proposta de Over the Rainbow seria ótima, se os pontos negativos da obra não tivessem superado o pouco que teve de bom...

O livro é composto por cinco contos, cada um escrito por um autor, e por mais que eles tenham trazido boa parte da realidade, dos dilemas e das dificuldades enfrentadas pela comunidade LGBT, não me envolvi nem curti a escrita, as narrativas mal construídas que deixaram a trama subdesenvolvida, as cenas de sexo com detalhes dispensáveis, e muito menos o excesso de estereótipos de beleza, status e afins que acabou excluindo classes que também precisam de espaço e representatividade tão quanto qualquer outra, afinal, os LGBTs não são formados só por gente branca, linda, sarada e rica... Concentrando sempre as mesmas características nos personagens, penso que a tentativa de representá-los fica pela "metade" e o alcance acaba sendo inferior do que o esperado, pois a falta de leitores pra se identificarem com eles e com suas experiências para sentirem o mínimo de empatia será grande.

Em Mais do que manteiga com mel, Milly Lacombe traz uma Cinderela lésbica e masculinizada que vive num cubículo da mansão onde mora e ainda é apaixonada pela meia-irmã. Sua madrasta não aceita sua condição e vive pra torturá-la.
O Amargo da intolerância, de Renato Plotegher Jr., traz os irmãos João e Maria numa versão homossexual. Eles moram com o pai e a madrasta, que é uma fanática que quer curá-los dessa "doença" e arrancar a "entidade maligna" que se apossou dos seus corpos de qualquer jeito.
Eduardo Bressanim se baseou na história da Bela e a Fera e escreveu Atormentado, que apresenta um jovem isolado que navega por aplicativos de relacionamento em busca de algo a mais, e acaba conhecendo um jardineiro.
O loirinho do Joá, de Maicon Santini, é uma versão de Rapunzel onde o protagonista é confinado numa clínica quando seu pai descobre que ele é gay.
Lorelay Fox adaptou a história da Branca de Neve e os Sete Anões em A Ressurreição de Júlia, que aborda a temática dos transexuais de uma forma bem interessante e é, de longe, o que não fez da obra um completo fiasco. No conto a madrasta morre de inveja da garota cujo sonho é se submeter a uma cirurgia de mudança de sexo. Porém, ela acaba sendo abandonada com a roupa do corpo e é acolhida por um grupo de sete travestis.

Enfim, com exceção do conto da Branca de Neve, que foi escrito com muito mais sensibilidade e cuidado, percebi que além da escrita amadora e da tentativa falha de florear o texto com palavras mais cultas e rebuscadas (a única pessoa que me vem à mente que conversa daquele jeito ridículo é um tal de Dudu Camargo), não houve muito cuidado com alguns termos utilizados, como "opção sexual" (sério que alguém do próprio meio LGBT não se atentou que quem é gay não escolhe ser gay?), ou com a construção de personagens e enredo para que se tornassem críveis, principalmente pelas histórias se passarem num cenário atual.

Mas mesmo com tantos pontos negativos, eu entendi que talvez a ideia tenha sido mostrar uma realidade crua, difícil e desconfortável de se encarar que muitos desconhecem ou ignoram, e mesmo não tendo sido um livro que superou minhas expectativas e que eu tenha realmente gostado, pode ser uma leitura válida para discutir o tema, levantar questionamentos e trazer uma boa reflexão sobre homofobia, preconceito, bom senso e respeito (que é bom e todo mundo gosta e devia ter).

A Desconhecida - Mary Kubica

21 de novembro de 2017

Título: A Desconhecida
Autora: Mary Kubica
Editora: Planeta
Gênero: Trhiller/Suspense
Ano: 2017
Páginas: 352
Nota:★★★★☆
Sinopse: Todos os dias, a humanitária Heidi pega o trem suspenso de Chicago e se dirige ao trabalho, uma ONG que atende refugiados e pessoas com dificuldades. Em uma dessas viagens diárias ela se compadece de uma adolescente, que vive zanzando pelas estações com um bebê. É fato que as duas vivem nas ruas e estão sofrendo com a fome, a umidade e o frio intenso que castigam Chicago. Num ímpeto, Heidi resolve acolher Willow, a garota, e Ruby, a criança, em sua casa, provocando incômodo em seu marido e sua filha pré-adolescente. Arredia e taciturna, Willow não se abre e parece esconder algo sério ou estar fugindo de alguém. Mas Heidi segue alheia ao perigo de abrigar uma total estranha em casa. Porém Chris, seu marido, e Zoe, sua filha, têm plena convicção de que Willow é um foco de problemas e se mantêm alertas. Em um crescente de tensão, capítulo após capítulo, a verdade é revelada e o leitor irá descobrir quem tem razão.

Resenha: Heidi Wood é uma mulher que trabalha numa ONG auxiliando refugiados e pobres, a maioria imigrantes. Ela também faz serviço comunitário, se preocupa com o meio ambiente, separa o que pode ser reciclado do lixo e é um exemplo de cidadã humanitária e consciente. Até que, a caminho do trabalho, num dia frio e chuvoso, ela vê uma jovem perambulando pela estação de trem com um bebê no colo. Heide se preocupou bastante com aquela mãe tão jovem e sua criança, pois aparentemente não estavam bem agasalhadas naquele tempo frio, deviam estar com fome, e talvez pudessem estar passando por várias dificuldades. No dia seguinte, a chuva havia piorado e Heidi avista a jovem outra vez e, num impulso em ajudá-la, seu instinto materno falou mais alto. Heidi se aproxima, descobre que o nome da garota é Willow e o da bebê é Ruby, e ela acaba levando as duas para dentro da própria casa, achando maravilhoso poder cuidar e dar apoio a elas, mesmo que isso contrarie Chris, seu marido, que acha a ideia de Heidi de levar uma desconhecida pra casa uma completa loucura. Zoe, a filha do casal, também acha que a presença de Willow é um problema e não fica nada confortável com ela alí. Então Chris, mesmo trabalhando e estando sempre muito ausente, vai tentar descobrir quem é, de fato, Willow e o que aconteceu para que ela fosse parar nas ruas com um bebê.

A narrativa não discorre de forma cronológica e alterna os pontos de vista entre Heidi, Chris e Willow. Enquanto o casal conta sobre os momentos atuais, Willow está a frente narrando algo em forma de testemunho, o que dá ideia de que algo de ruim e errado aconteceu, mas ainda não sabemos o quê.
Dar mais detalhes sobre o enredo pode ser um problema, pois cada capítulo não só torna a história mais intensa abordando assuntos bem delicados e pesados, como também vai revelando aos poucos as facetas dos personagens e o que todos querem saber. A medida que a leitura progride, é possível ter uma ideia sólida do rumo que a história vai levar, mas ainda assim é algo que surpreende, principalmente no que diz respeito aos personagens, como nem sempre eles têm em sua essência o que aparentam para os outros, e a forma como suas camadas são exploradas.

O casamento de Heidi e Chris é um exemplo bem nítido da realidade de muitos casais. É como se o tempo tivesse transformado tudo em rotina, todos estão desgastados e não parece haver um interesse recíproco em melhorar as coisas. A ausência do marido, a falta de interesse da filha, o sentimento de solidão da mãe que faz tanto pelos outros e recebe tão pouco de volta... é um misto de comportamentos que desencadeiam sentimentos negativos e, talvez, a ideia de Heidi em levar Willow pra casa tenha sido uma forma de preencher essas lacunas.

Talvez o único ponto que eu não tenha gostado muito a fluidez dos acontecimentos na narrativa. Foi tudo lento e arrastado demais, e isso tornou a história um pouco cansativa, por mais interessante que ela possa ser. E quando as coisas começam a acontecer para que as revelações viessem à tona, é tudo muito rápido, como se a autora quisesse dar um fim no suspense e pronto.

Enfim, é um livro que traz temas sérios como abuso infantil, abandono, perdas, traumas psicológicos e as consequências de não tratá-los, a realidade dos moradores de rua, problemas familiares, matrimoniais e afins, todos eles tratados de uma forma palpável e bem crua, então penso que a intenção da autora não deve ter sido só fazer com que o leitor embarque num thriller psicológico instigante, mas mostrar a realidade difícil e cruel das pessoas mais carentes e que são tão tratadas com tanto descaso e indiferença.

Wishlist #13 - Funkos Pop - Snow White

Branca de Neve não é minha princesa favorita, eu confesso, mas falou em clássico, ainda mais os da Disney, já estou de olho e virando fã.E depois que a Funko lançou essas belezuras é impossível não querer todos numa caixinha de vidro pra ficar namorando sem parar!


A Poção Secreta - Amy Alward

19 de novembro de 2017

Título: A Poção Secreta - Diário de Uma Garota Alquimista #1
Autora: Amy Alward
Editora: Jangada
Gênero: Fantasia/Juvenil
Ano: 2017
Páginas: 368
Nota:★★★☆☆
Sinopse: A Princesa do Reino de Nova toma acidentalmente uma poção do amor, e se apaixona por si mesma! Para encontrar um antídoto que possa curá-la, o rei mobiliza todos numa expedição chamada Caçada Selvagem. Competidores do mundo todo saem em busca dos mais raros ingredientes em florestas mágicas e montanhas geladas, enfrentando perigos e encarando a morte para encontrar a fórmula da poção secreta. Dentre eles, está Samantha, uma garota comum que herdou dos seus ancestrais alquimistas o talento para preparar poções. Esta pode ser a oportunidade para reerguer a decadente loja de poções da família, afinal o mundo todo estará acompanhando a Caçada nas mídias sociais. Será que ela conseguirá descobrir a cura e salvar a Princesa?

Resenha: Em pleno século XXI, o Reino de Nova é um lugar mágico cujos súditos possuem habilidades distintas. Embora convivam juntos, a sociedade é dividida entre Talentosos e Comuns.
No passado, o primeiro monarca de Nova criou a Caçada Selvagem, um evento com a finalidade de encontrar a pessoa mais habilidosa para proteger a família real, dando a ela títulos importantes e muita riqueza. O que sinaliza a necessidade de uma Caçada é um artefato mágico muito poderoso conhecido como Chifre de Alden, e sempre que algum membro da realeza corre qualquer tipo de perigo ele convoca todos aqueles que são aptos à Caçada Selvagem, porém, pela segurança que a realeza veio construindo em torno de si desde então, as Caçadas não são realizadas há sessenta e cinco anos. O reino é cheio de magia e fantasia, mas a tecnologia também é algo que faz parte da vida das pessoas. Eventos importantes são televisionados, a dependência de mídias sociais e celulares é algo normal alí e a própria Caçada é um verdadeiro reality show.

E em meio a esse cenário, conhecemos Samantha, uma jovem de dezoito anos que vive na cidade de Kingstown e descende de uma tradicional família de Alquimistas (são pessoas Comuns que possuem o dom de usar e manipular ingredientes mágicos sem corrompê-los). Ela é aprendiz do avô pois o dom da alquimia pulou uma geração e seu pai nasceu um Comum (sem o dom, os Comuns têm a capacidade de exercer os demais trabalhos envolvendo a tecnologia e afins). A família Kemi tem uma vocação incomparável quando o assunto é alquimia. Eles conhecem poções, distinguem as propriedades de cada ingrediente e são entendedores dos mais diversos tipos de processos de cura. Porém, a glória dos Kemi acabou faz tempo. No passado o avô de Sam venceu a Caçada, mas, desde que perdeu o título, a família tenta tirar o sustento da pequena loja de poções naturais que possui. Mas com o avanço tecnológico e a fabricação sintética de poções da última geração em grandes e sofisticados laboratórios da Corporação ZoroAster, as coisas não estão indo muito bem pra nenhum boticário tradicional na cidade, e a Loja de Poções dos Kemi é a única que restou.

O maior propósito dos Kemi é investir no futuro de Molly, a irmã mais nova de Sam. Ela é uma Talentosa (que possui o dom da magia e consegue canalizá-lo através de algum objeto), e o sonho da família é que ela aproveite todas as oportunidades que seu talento pode oferecer. Pra isso, eles estão investindo tudo o que tem em seus estudos para que ela possa ingressar na Escola Especial de Talentosos e garantir seu futuro. O problema é que com a falta de dinheiro, realizar tal objetivo poderia ser mais difícil do que parece, principalmente com clientes idosos que se recusam a comprar poções sintéticas nas grandes farmácias, mas vivem comprando fiado na botica dos Kemi por terem "esquecido suas carteiras".

Quando a princesa Evelyn completa dezoito anos, um grande concerto seria realizado e televisionado para toda Nova em comemoração ao seu aniversário. Mas os planos da festança acabam indo por água abaixo quando a princesa fica totalmente fora de si. Com intenção de fazer Zain, seu amigo e crush, se apaixonar por ela, Evelyn faz uma poderosa poção do amor, prática que há muito foi proibida, mas em vez de dá-la ao rapaz, ela a bebe por engano e acaba se apaixonando perdidamente por si mesma! Sua mente envenenada faz dela, e de suas obrigações como princesa, uma verdadeira ameaça para o reino. Assim, o Chifre de Alden não demora a perceber o perigo e fazer o chamado para a próxima Caçada Selvagem!

Então, os melhores (e mais inesperados) Alquimistas e Talentosos do Reino de Nova são convocados a fim de descobrirem a cura para Evelyn, e Samantha, claro, está entre eles... O que Sam não esperava era entrar numa competição acirrada e cheia de perigos em busca dos ingredientes raríssimos para a poção que irá salvar a princesa, e cujo prêmio, de quebra, vai deixar o vencedor milionário! Sam não teria uma oportunidade melhor para tentar reerguer a loja de poções de sua família e pagar os estudos da irmã, e não pensa duas vezes ao embarcar nessa aventura. Será que Sam vai conseguir vencer essa competição, salvar a princesa e ajudar a própria família?

A capa desse livro é muuuito fofa, dá vontade de apertar. Eu adoro ilustrações com traços irregulares que parecem ter sido feitos à mão e com detalhes em aquarela, e a tipografia escolhida para o título não poderia combinar mais, deixando tudo ainda mais descolado. As cores em harmonia são uma graça e o detalhe dourado da coroa e dos ornamentos deram um toque de charme ao projeto.

Os capítulos se alternam entre Sam, que são narrados em primeira pessoa, e Evie, em terceira. A escrita da autora é boa mas peca um pouco na narrativa no que diz respeito a detalhes de informações passadas e originalidade. Algumas brincadeiras com palavras também me soaram um tanto infantis. O próprio sobrenome "Kemi", que penso ter sido tirado da pronúncia da palavra em inglês "chemistry", é bem bobinho, mas não tanto quanto "Zoro Aster" e afins. Se o livro fosse infantil, ok, mas não é pra tanto, até mesmo porque os personagens são jovens adultos.

É bem óbvio que a maioria dos elementos utilizados para a construção de mundo não é novidade e a impressão que fica é de que já vimos aquilo em outro lugar. Funções específicas na sociedade, preparo de poções e magia, termos em latim, um artefato mágico que convoca competidores e aceita inscrições, um torneio cheio de fases e perigos, vilões trapaceiros e usurpadores, seres encantados ou assustadores, um tipo de teletransporte como forma de locomoção, e até uma escola especial e requisitada fazem parte desse universo, e mesmo que os personagens tenham sido moldados para seguir por um caminho distinto com propósitos diferentes, e aqui entra a parte contemporânea com tecnologia e reality shows da vida, não consegui deixar de fazer comparações com o mundo de Harry Potter, por mais que eu odeie isso. A narrativa pelo ponto de vista de Samantha em alguns momentos também se tornou um pouco problemática, pois é através dela sabemos os detalhes desse universo e muitas vezes ela interrompe o que está sendo dito para explicar outras coisas que ela (ou a autora) julga necessárias para um melhor entendimento. Já os capítulos de Evelyn, em terceira pessoa, nem sempre acrescentam algo realmente útil e, talvez, se fossem narrados em primeira pessoa, faria com que o leitor pudesse compreender melhor suas motivações, pois partiriam dela e não de um narrador onisciente falando por ela.

Levando em consideração de que se trata de um primeiro livro de trilogia e que este geralmente tem uma função mais introdutória, a história não é de todo ruim, pelo menos não a ideia dela. Alguns pontos até me fizeram refletir bastante, como o próprio envenenamento de Evelyn. Ela está idiotamente apaixonada pelo próprio reflexo, a quem passou a chamar de Lyn, como se fosse outra pessoa. Acho que as conveniências impostas pela autora na história meio que subestimam a inteligência do leitor, principalmente quando quem está em ação é Sam. Em meio a tantos competidores inteligentes e habilidosos, ela é a única que parece se atentar a detalhes, a única que tem intuição e sentido pras coisas, a única que percebe o problema de Evelyn...

A Poção Secreta é uma fantasia contemporânea que, embora peque na originalidade e não apresente personagens totalmente desenvolvidos, é divertida de se ler e ideal para sair de uma ressaca causada por uma leitura anterior mais densa. Pra quem gosta de fantasias que trazem a oportunidade de se explorar a alquimia de uma forma interessante, o livro é indicado.