Caixa de Correio #65 - Julho

31 de julho de 2017

Útimo dia do mês, pra variar, é dia de caixinha! Esse mês recebi algumas cortesias que andava de olho e comprei um livro só, já que ando mais pobre que tudo XD
Espiem:

Mil Beijos de Garoto - Tillie Cole

29 de julho de 2017

Título: Mil Beijos de Garoto
Autora: Tillie Cole
Editora: Planeta
Gênero: Romance/Young Adult
Ano: 2017
Páginas: 400
Nota:★★☆☆☆
Sinopse: Um beijo dura um instante. Mas mil beijos podem durar uma vida inteira. Um garoto. Uma garota. Um vínculo que é definido num momento e se prolonga por uma década. Um vínculo que nem o tempo nem a distância podem romper. Um vínculo que vai durar para sempre. Ao menos era o que eles imaginavam. Quando, aos dezessete anos, Rune Kristiansen retorna da Noruega para o lugar onde passou a infância – a cidade americana de Blossom Grove, na Geórgia –, ele só tem uma coisa em mente: reencontrar Poppy Litchfield, a garota que era sua cara-metade e que tinha prometido esperar fielmente por seu retorno. E ele quer descobrir por que, nos dois anos em que esteve fora, ela o deletou de sua vida sem dar nenhuma explicação.

Resenha: Aos cinco anos de idade, Poppy e Rune se tornaram amigos inseparáveis desde quando ele veio da Noruega e se mudou pra casa ao lado da dela, em Blossom Grove, na Georgia. Aos oito, quando a avó de Poppy estava prestes a morrer, ela entrega um jarro cheio de corações de papel para a neta e lhe dá uma missão: preencher o jarro com mil beijos de garoto. E Rune é o garoto ideal para ajudar Poppy nessa tarefa ao longo dos anos, e nada poderá atrapalhar.

A leitura é fácil mas não fluiu muito bem pra mim. A história é relativamente simples pra se estender por 400 páginas já que tudo é repetitivo e minuciado demais, o que considero bastante cafona pois, claramente, as coisas parecem estar alí para fazer com que o leitor imagine as cenas românticas e se impressione com as belezas descritas, como por exemplo, pétalas das flores caindo lentamente, vento leve que bate e revela o olhar misterioso, hálito mentolado e fresco, sentimento que não cabe em mim, corações explodindo de tanto amor, e por aí vai...
Mas o que não consegui engolir mesmo, além do romance ser meloso e maçante por não ter nada que alivie ou desvie o foco da obsessão que é aquele sentimento que existe alí, foi a incredulidade que a construção dos personagens me passou. Eles são adolescentes mas a forma como se comportam não é crível - nem aceitável pra mim. O drama que a autora inseriu pra evidenciar e reforçar a ideia de um amor eterno não me convenceu pois é exagerado demais.

Até concordo que a ideia de um sentimento que vem crescendo desde a infância e dura pra sempre é bonitinha, mas quando esse amor não parece ser amor, mas sim uma coisa bem doentia que beira a obsessão, tudo muda de figura. A começar pelo "Poppymin" que, literalmente, significa "minha Poppy", a Poppy que pertence a Rune, ou a antipatia que ele tem das meninas da escola que ficam tentando "roubá-lo" de sua amada. Em determinado ponto Rune deve voltar a Noruega e os dois precisam se distanciar, mas a impressão que dá é que o mundo vai acabar alí mesmo tamanha a sofrência. A vida de Rune não vale mais nada, ele não tem mais motivos pra sorrir ou pra viver, e a melhor coisa a se fazer depois dessa desgraça terrível é se transformar num rebelde sem causa porque a única coisa que lhe trazia luz era sua Poppy e, sem ela, agora só resta trevas. O moleque só tem quinze anos, socorro! Aquele meme do Batman metendo a mão na cara do Robin pode ser inserido aqui.
O amor é tão "épico" que não há brechas nem pra supormos que em algum momento um deles poderia cogitar a hipótese de aceitar outras pessoas em suas vidas, independente do motivo. Eles se pertencem pra sempre e amém. Assim, senti que os personagens não eram "naturais", não pareciam ser reais e em momento algum eu consegui acreditar no que estava acontecendo.
Não existe personagens além dos protagonistas que chamam a atenção ou estão alí pra colaborar com o desenvolvimento da trama. Todos estão alí como meros figurantes com aparições pontuais, convenientes e relevância zero.

O projeto gráfico desse livro é a coisa mais linda e tenho orgulho em dizer que é uma das capas mais bonitas que ja vi. Simples, fiel ao conteúdo, com cores pastéis, delicadas e agradáveis de se ver, mas é uma pena quando a capa supera a história.

E sim, no final de tudo entendi que existem relacionamentos que vão além do plano físico, que é algo espiritual como se as pessoas não se conhecessem por acaso e estivessem num tipo de missão umas com as outras, e a tarefa aqui não é exatamente a dada pela falecida avó, mas algo maior e ligado ao destino dos envolvidos. O jarro de corações foi só um artifício utilizado para se atingir o "grandioso fim". Porém, por mais intenso e bonito que tudo isso possa parecer, a forma como a história foi desenvolvida e apresentada talvez não seja para qualquer tipo de público, e já no início percebi que eu não faria parte do time que amou Poppy e Rune, principalmente porque fiquei com uma impressão bem negativa de achar que a autora tentou romantizar a obsessão de Rune por Poppy quando sabemos que uma pessoa ciumenta e controladora ao extremo não pode trazer algo de bom pra ninguém...

Em suma, pra quem curte um romance adolescente piegas, Mil Beijos de Garoto deverá agradar muito. É o tipo de livro que parece ter sido escrito para fazer os leitores se deprimirem e se debulharem em lágrimas, porém, o efeito causado em mim foi outro...

Novidades de Julho - Verus

26 de julho de 2017

Esposa Até Segunda - Noivas da Semana #2 - Catherine Bybee

O segundo livro da série Noivas da Semana. Carter Billings: com seus cabelos loiros, olhos azuis e beleza hollywoodiana, ele pode ter a mulher que quiser. Mas, quando decide concorrer à vaga de governador do estado da Califórnia, Carter sabe que vai precisar abandonar a vida de solteiro e se tornar um homem de família. E para isso ele precisa de uma esposa. Entra Eliza Havens, que gerencia a agência de casamentos Alliance. Eliza Havens: ela está feliz por sua amiga Sam ter arrumado um marido rico e atraente. Só tem um detalhe que a deixa louca da vida: o melhor amigo dele, o sexy e ousado Carter Billings. Eliza nunca brigou tanto com um homem — e nunca conheceu alguém que mexesse tanto com ela. Juntar pessoas solitárias é a maneira como Eliza ganha a vida, porém um obscuro segredo do passado a faz descartar totalmente a possibilidade de se casar. Pelo menos foi assim até agora...

Mate o Próximo - Federico Axat

Ted McKay tem tudo: uma mulher linda, duas filhas, um alto salário. Após ser diagnosticado com um tumor cerebral, ele toma a drástica decisão de tirar a própria vida. Quando está prestes a apertar o gatilho, Ted é interrompido pelo toque insistente da campainha. E, ao olhar para sua mesa no escritório, encontra o seguinte bilhete: “Abra a porta. É sua última saída”.
Intrigado, Ted deixa a arma de lado e abre a porta. E então mergulha em um pesadelo arrepiante, que vai fazê-lo duvidar da própria sanidade. À sua frente está um desconhecido chamado Justin Lynch, que não apenas sabe o que Ted estava prestes a cometer como lhe faz uma proposta difícil de recusar, um plano para evitar que sua família sofra as consequências devastadoras de um suicídio.
Ted aceita a proposta do estranho homem, sem imaginar que o bilhete em seu escritório e a oferta de Lynch são apenas o começo de um jogo macabro de manipulações. Alguém plantou um caminho de migalhas, que Ted vai recolher. Alguém que o conhece melhor que ninguém, que o fará duvidar de suas próprias motivações e também das pessoas que o cercam.
Às vezes, nós só podemos confiar em nós mesmos. E, em algumas ocasiões, nem mesmo isso.

O Fugitivo de Oza-Gora - Oníria #2 - B. F. Parry

Neste segundo volume da série Oníria, Eliott, acompanhado de seus fiéis amigos Farjo e Katsia, chega ao maravilhoso reino de Oza-Gora, onde finalmente vai encontrar o Mercador de Areia, a única pessoa que pode revelar a este segundo volume da série Oníria, Eliott, acompanhado de seus fiéis amigos Farjo e Katsia, chega ao maravilhoso reino de Oza-Gora, onde finalmente vai encontrar o Mercador de Areia, a única pessoa que pode revelar a origem do sonho mortífero no qual seu pai está preso há meses. Mas, para libertar o pai, o garoto precisará localizar Jabus, o mais perigoso dos aprendizes do Mercador de Areia.
Sua missão é ainda mais arriscada porque acontece em meio à terrível revolução dos pesadelos. À frente dessa revolta está a Besta, que capturou a princesa Aanor e está decidido a se casar com ela à força, a fim de consolidar seus planos maquiavélicos.
Eliott, então, se vê diante de um dilema: salvar seu pai ou a princesa por quem está apaixonado? Os rebeldes imploram que o garoto não tente nenhuma loucura — ele deve permanecer escondido, é uma questão de vida ou morte. Mas Eliott é determinado demais para desistir, e não pode abandonar Aanor ou o pai à própria sorte...

Só Se Vive Uma Vez - Pense Rápido #2 - Bridie Clark

Um livro interativo em que você decide o rumo da história. Clark constrói habilmente a história para que, não importa a sua escolha, você esteja destinada a ter um ano frenético
Você sobreviveu ao primeiro ano na Academia Kings, a prestigiosa escola de elite nas colinas de New Hampshire, mas espere um pouco para comemorar — parece que o segundo ano vai ser o real problema. Você terá de lidar com o estresse de se manter em dia com uma quantidade insana de lição de casa. Sem contar que suas colegas de classe estão dando festas incríveis de dezesseis anos e, se você quiser ter uma também, vai precisar arrumar um emprego.
Você vai escolher o trabalho como babá na cidade (e fingir não notar o flerte descarado do pai da criança)? Ou vai conseguir um estágio no New York Times — oferecido a você como um suborno —, além de ficar com um universitário?
Recheado de caminhos e reviravoltas surpreendentes, este pode acabar sendo o melhor ano da sua vida... ou pode fazer você voltar aos prantos para casa. Quaisquer que sejam as decisões que você tomar, o ano promete ser inesquecível. Mas escolhas devem ser feitas rapidamente, e você terá de decidir que riscos correr para conseguir status social, aventuras, sucesso e amor.

Três Coroas Negras - Kendare Blake

25 de julho de 2017

Título: Três Coroas Negras - Três Coroas Negras #1
Autora: Kendare Blake
Editora: Globo Alt
Gênero: Fantasia/Young Adult
Ano: 2017
Páginas: 304
Nota:★★★★☆
Sinopse: Três herdeiras da coroa, cada uma com um poder mágico especial. Mirabella é uma elemental, capaz de produzir chamas e tempestades com um estalar de dedos. Katharine é uma envenenadora, com o poder de manipular os venenos mais mortais. E Arsinoe é uma naturalista, que tem a capacidade de fazer florescer a rosa mais vermelha e também controlar o mais feroz dos leões.
Mas para coroar-se rainha, não basta ter nascido na família real. Cada irmã deve lutar por esse posto, no que não é apenas um jogo de ganhar ou perder: é uma batalha de vida ou morte. Na noite em que completam dezesseis anos, a batalha começa.

Resenha: Comecei a ler o livro Três Coroas Negras, escrito por Kendare Blake e publicado pela Globo Alt, sem grandes pretensões. Meio que sabia do que se tratava: três irmãs que competiam pela coroa. Era isso! Que nada, tem muito mais!

Uma Rainha gera trigêmeas, cada uma com uma dádiva. Elas vivem juntas até os seis anos de idade, quando são separadas e criadas em outros lugares, com outras famílias.
Katherine vai viver em Greavesdrake Manor, com Natalia e sua irmã Genevieve. Ela é uma envenenadora. Consegue envenenar e consumir vários venenos sem morrer.
Arsinoe, uma naturalista que vai viver com Jules e sua mãe em Wolf Spring. Sua dádiva faz com ela faça florescer, amadurecer frutos e controlar animais.
E Mirabella, uma elemental que consegue controlar os elementos. Pode criar tempestades incríveis, controlar o fogo, a água e a terra. Foi viver em Rolanth com Luca, outra elemental.

Cada uma das irmãs vai viver no lugar onde o povo local tem a mesma dádiva, para poder treinar as meninas de maneira adequada. Neste treinamento, elas aprendem, inclusive, a odiar as irmãs, porque não podem ter bons sentimentos por elas pois a irmã que se revelar mais forte será a que de fato se tornará A Rainha, que tem como primeiro, e mais importante, objetivo, assassinar as duas irmãs mais fracas.

Elas estão com dezesseis anos, têm um ano para o prazo final, para, finalmente, uma delas ser coroada. Sem contato e sem mais se reconhecerem, as trigêmeas treinam suas dádivas e seu ódio. A mais forte até então é Mirabella. Porém, por três gerações, os envenenadores estão no poder e é assim que todos querem que continue. Todos os envenenadores, claro!

Tempos antes, há uma espécie de reunião onde cada uma vai mostrar seus poderes, e quem ainda não os conquistou, vai ter que dar um jeito de enganar as outras. Por causa de uma manobra política muito bem feita, cada uma pensa o pior da outra, cada uma delas pensa que a outra é mais forte e cada uma delas vai fazer de tudo, tudo mesmo, para superar as irmãs!
Na tal reunião, tudo desanda. Traidores surgem, tentativas de assassinato acontecem, e quem a gente acha que está de um lado, está de outro. Uma confusão acontece, e se o ódio que elas sentiam entre si era grande, tudo mudou. Nesta reunião, máscaras caem e outras surgem, uma trama muito bem arquitetada se consolida, e me parece que tudo ruiu mais por sorte do que por arquitetação política.

Mas gente, que livro é esse??? Ainda não sei se amei ou odiei. Não, não odiei, fiquei surpresa isso sim, porque agora eu quero ler a sequência e... cadê ela???  Uma coisa que me incomodou foi que essas meninas são tomadas por rainhas, tratadas como tal e ao mesmo tempo, maltratadas por suas tutoras pois a única coisa que interessa é o poder. É o objetivo de que a sua rainha seja a mais forte sem medir consequências é o que importa.

Há uma trama política maior do que parece. Eu fiquei com a impressão de que o jogo nem começou e daqui pra frente a coisa vai piorar. Queria que essas meninas se unissem e espero mesmo que isso aconteça, apesar de não ver sinal nenhum disso aqui.

A leitura não é leve, é tudo bem intrincado, bem emaranhado e quando achamos que a história está tomando um rumo, ela vira para outro lado, porém é fluída e prende a gente. O início é bastante explicativo para que o leitor possa ser introduzido a este universo e isso pode ser um pouco cansativo, mas no decorrer da leitura o ritmo melhora bastante. A autora soube trazer um tema pesado de uma forma agradável de ler e a cada hora nos vemos torcendo para uma das irmãs. Sinceramente, terminei o livro sem saber por qual delas torcer.

Cada capítulo traz o ponto de vista de uma das irmãs e isso nos deixa a vontade para conhecê-las, amar ou odiar cada uma delas e suas tutoras!
Achei a capa muito bonita e condizente com o conteúdo do livro. A diagramação é ótima, as páginas são amarelas e não percebi erros durante a leitura.

A leitura é indicada não somente para os fãs de fantasia, mas também para aqueles que procuram por livros que trazem críticas sociais, religiosas e políticas, assim como levanta a questão do amor fraternal dissolvido em prol da busca pelo poder.

A Química que Há Entre Nós - Krystal Sutherland

24 de julho de 2017

Título: A Química que Há Entre Nós
Autora: Krystal Sutherland
Editora: Globo Alt
Gênero: Romance/Young Adult
Ano: 2017
Páginas: 272
Nota:★★★★☆
Sinopse: Grace Town é esquisita. E não é apenas por suas roupas masculinas, seu desleixo e a bengala que usa para andar. Ela também age de modo estranho: não quer se enturmar com ninguém e faz perguntas nada comuns.
Mas, por algum motivo inexplicável, Henry Page gosta muito dela. E cada vez mais ele quer estar por perto e viver esse sentimento que não sabe definir. Só que quanto mais próximos eles ficam, mais os segredos de Grace parecem obscuros.
Mesmo que pareça um romance fadado ao fracasso, Henry insiste em mergulhar nesse universo misterioso, do qual nunca poderia sair o mesmo. Com o tempo, fica claro para ele que o amor é uma grande confusão, mas uma confusão que ele quer desesperadamente viver.

Resenha: A Química que Há Entre Nós é o primeiro romance da escritora australiana Krystal Sutherland.
O livro conta a história de Henry Isaac Page, um adolescente de dezessete anos que está no último ano do ensino médio. Ele tem o dom para a gramática e está interessado no cargo de editor do jornal da escola há anos. Quando ele finalmente consegue, não contava que teria que dividir a responsabilidade com outra pessoa, mas que nega a oferta... Grace Town. Grace é muito diferente das outras meninas da escola. Ela tem um comportamento estranho e até sombrio, sempre está desleixada aparentando estar doente, usa roupas masculinas folgadas que não lhe servem, manca e ainda usa uma begala pra andar. E mesmo assim, inexplicavelmente, Henry se sentiu atraído pela menina cuja aparência encobre vários mistérios. Grace é uma incógnita e isso só faz com que Henry queira saber o que a levou a ficar assim, e a medida que ele se envolve e começa a conhecê-la melhor com intuito de desvendá-la, seus sentimentos só aumentam e, quando menos espera, ele se vê apaixonado. Mas será que quando a verdade vier à tona as coisas vão melhorar?
"Então esta, com certeza, não é uma história de amor à primeira vista.
Mas esta é uma história de amor.
Bom.
Mais ou menos."
- Pág. 8
Esse é aquele tipo de livro que se ama ou se odeia. É difícil ficar no meio termo, seja pelo desenvolvimento da história no que diz respeito às motivações dos personagens, quanto pelo estilo orgânico de escrita cheia de expressividade da autora e que lembra muito John Green (e olha que não sou fã de John Green, mas virei fã de Krystal Sutherland).

Narrado em primeira pessoa, Henry conversa com o leitor ao descrever os acontecimentos e revelar o que está sentindo de forma bastante dinâmica. Há inúmeras frases de impacto, do tipo que é possível fazer um apanhado e dedicar uma postagem só pra elas, e através delas podemos refletir sobre nossa forma de enxergar o mundo, as pessoas que nos rodeiam, como levamos nossa vida, e claro, o amor.

A trama foge de clichês e é até bastante imprevisível. O próprio relacionamento de Henry e Grace não é trabalhado de forma que faça com que alguém pense que tudo vai ficar bem. É uma relação complicada e pouco saudável, onde somente um dos lados está disposto a fazer a coisa dar certo enquanto o outro está quebrado demais pra conseguir retribuir e tornar o sentimento recíproco. E quando o mistério sobre Grace, enfim, é revelado, a sensação é de choque e incredulidade. Não que o conceito de amor tenha sido deturpado, mas, nessas circunstâncias, o sentimento veio pra pessoa certa, só que da forma errada, e desde o princípio Henry sabia disso...
Parece uma história desgraçada de infeliz, mas não se enganem. Da mesma forma que ela é triste, também nos arranca risadas com diálogos e situações carregados de sarcasmo e muito engraçados. Henry é impagável e, mesmo que prove que quando tudo parece estar perdido ainda pode piorar, ele consegue ter humor o bastante para continuar levando as coisas da melhor forma possível, mesmo que isso seja incrivelmente doloroso.

Eu gostei dos personagens secundários, da mensagem bacana sobre amizade verdadeira e do conceito de família unida para que houvesse outros pontos da vida dos personagens a serem explorarados de forma mais ampla. Assim, houve um equilíbro com os temas abordados, mostrando que, apesar de estarem vivendo um momento único e difícil, os personagens possuem raízes, uma história e uma vida que não se concentra em um lugar ou uma pessoa só, o que permite que novas subtramas possam ser desenvolvidas.

Um ponto que achei mais do que válido ressaltar é a respeito do título do livro, que talvez possa ser interpretado como a química entre um casal de personagens e etc, mas ao meu ver, depois de tudo que li e pude absorver, acho que seria só um termo para descrever o amor como uma reação química que acontece com alguém, mas não necessariamente ao mesmo tempo que acontece com outra pessoa, ou com a mesma intensidade. E como toda reação, ela pode ter forças para crescer, desde que haja o devido impulso, ou simplesmente se extinguir.

Pra quem procura por uma história sobre amor, o que é diferente de uma história de amor, seja para refletir, questionar ou apenas saber o quanto é difícil conseguir se libertar, principalmente quando há conformidade e a vida se torna vazia e estagnada, é recomendado, mesmo que isso possa soar um tanto mórbido... A Química que Há Entre Nós é um livro que aborda perdas inesperadas, corações partidos e a incapacidade de superação, mas acima disso, a vontade de se tentar consertar uma alma em pedaços em busca de libertação.

Graça Infinita - David Foster Wallace

21 de julho de 2017

Título: Graça Infinita
Autor: David Foster Wallace
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Romance
Ano: 2014
Páginas: 1144
Nota:★★★★★
Sinopse: Os Estados Unidos e o Canadá já não existem: eles foram substituídos pela poderosa ONAN, a Organização de Nações Norte Americanas. Uma enorme porção do continente se tornou um depósito de lixo tóxico. Separatistas quebequenses praticam atos terroristas e a contagem dos anos foi vendida às grandes corporações.
Graça Infinita foi o último grande romance do século XX e, como o Ulysses de James Joyce, teve um impacto duradouro e ainda difícil de ser aferido. Ora cômico, ora doloroso, ele encapsulou uma geração ligada à ironia e ao entretenimento, mas desconectada da imaginação, da solidariedade e da empatia.
No romance, seguimos os passos dos irmãos Hal, Orin e Mario Incandenza membros da família mais disfuncional da literatura contemporânea, conforme tentam dar conta do legado do patriarca James Incandenza, um cientista de óptica que se tornou cineasta e cometeu suicídio depois de produzir um misterioso filme que, pela alta voltagem de entretenimento, levava seus espectadores à inanição e à morte.
Enquanto organizações governamentais e terroristas querem usar o filme como arma de guerra, os Incandenza vão se embrenhar numa cômica e filosófica busca pelo sentido da vida. Graça Infinita dobra todas as regras da ficção sem jamais sacrificar seu próprio valor de entretenimento. É uma exuberante e original investigação do que nos torna humanos e um desses raros livros que renovam a ideia do que um romance pode ser.

Resenha: Num futuro não tão distante, EUA, México e Canadá formaram a ONAN (Organização das Nações da América do Norte), boa parte do continente (o Canadá no caso) foi destinado ao despejo de lixo tóxico e até os calendários viraram alvo de publicidade depois que a contagem dos anos se tornou um trabalho remunerado.
Tendo essa noção de cenário escatológico, o autor tece uma trama com vários núcleos de personagens que estão alí para ilustrar temas delicados e a forma como abordados, da forma mais bizarra e genial que alguém pode ter noção.
Embora exista a trama geopolítica, o que importa, de fato, é o que está acontecendo em dois lugares que ficam lado a lado: a Escola de Tênis Enfield e a Clínica de Recuperação Ennet. Na primeira, estão os jovens privilegiados socialmente, atletas cheios de talento que fazem do tênis uma oportunidade para seus futuros. Na segunda, estão os viciados que, como última esperança, agarraram a chance de tentarem se recuperar alí. E por mais que um grupo seja tão distinto do outro, todos estão em busca do sucesso no que estão fazendo.

A família Incandenza é um dos núcleos. Uma família disfuncional com membros excêntricos cujas atitudes são sempre questionáveis. James Incandenza, o patriarca alcoólatra, fundou a academia de tênis na qual seus filhos "privilegiados" estão, mas também se dedicava a ser um cineasta experimental antes de sua morte, e "Graça Infinita" foi um dos seus projetos cinematográficos inacabados. O poder de entretenimento do dito filme é tanto que passa a ser considerado uma arma cultural de massa pelos terroristas de grupos separatistas que pretendem disseminá-lo pelo mundo e acabar com os americanos, pois quem assiste fica tão vidrado na televisão que não é capaz de fazer mais nada na vida, até que morra. Daí o nome é autoexplicativo, pois a graça que as pessoas vêem naquilo, e a forma como exaltam o filme acima de qualquer coisa, não tem fim.
A busca pelo filme impulsiona a trama pois há toda uma questão que envolve a queda da ONAN, mas a família em si e a ligação entre os personagens entre os dois locais é o que a rege.

Orin, o irmão mais velho, é aquele popular jogador de futebol americano com interesses depravados que envolvem até sexo com mães. Ele acredita que mulher é um objeto que se usa e joga no lixo. Orin é odioso, mentiroso, oportunista e só pensa em si mesmo.
Hal é um superdotado chato que se deixa consumir pela alienação social e passa os dias usando drogas. Sendo o personagem principal da família, ele chama atenção pro fato do vício em drogas (Hal é um atleta, joga tênis, mas também é um maconheiro de carteirinha). O que leva alguém a usar, o que os motiva, o que esperam da vida são tratados com profundidade, assim como a overdose é descrita de forma crua e assustadora. O que ele faz e o tempo que passa se dedicando ao esquema para burlar exames antidoping chega a ser um insulto. Esses fatores levam o leitor a querer matar Hal e seus colegas (mas ainda assim levando em consideração as críticas sociais do autor), pois como alguém dotado de tanta inteligência perde tanto tempo da vida se dedicando a esse tipo de mirabolância inútil?
E Mario, o irmão do meio e, dentre todos, é o melhor personagem do livro. Ele é extremamente bondoso, é incapaz de zombar dos outros, e por mais que as pessoas sejam podres, ele procura enxergar o melhor nelas. É como se ele transparecesse exatamente aquilo que falta nas pessoas hoje em dia: a empatia.

Don Gately é um outro personagem que tem ligação com praticamente todas as subtramas do enredo, mesmo que de forma sutil ou até obscura. Ele é membro do AA (Alcoólicos Anônimos) e trabalha na casa de recuperação pra dependentes. Seu arco é aquele que mostra um pobre coitado vindo de uma família destruída que consequentemente se tornará um marginal, mas ele quer mudar, mesmo que tenha feito muitas escolhas erradas na vida. Gately inclusive é apaixonado por Joelle van Dyne, atriz que protagonizou alguns filmes de James, incluindo o Graça Infinita e está na clínica de recuperação.

A escrita é bem verborrágica (aprendi essa palavra no canal "Meus 2 Centavos" e não tem palavra melhor pra descrever a bendita escrita), a linguagem não é muito simples, a complexidade da estrutura e o anacronismo dos acontecimentos não colabora para um entendimento fácil, mas usar a essência da cultura norte-americana, mesmo em sua forma mais bizarra, é simplesmente genial. O autor faz com que o leitor fique por dentro das particularidades do enredo que, ao considerar tal cultura, compreenderá a critica que ele quis inserir aqui.
A narrativa se alterna entre os personagens, que fazem descrições nos mínimos detalhes e em letras miudas que ocupam dezenas de páginas, dando ao leitor uma visão muito, mas muito ampla sobre coisas inimagináveis, das mais simples as mais terríveis e chocantes.
Tantas descrições exaustivas e intermináveis podem ser interpretadas como pura encheção de linguiça pra engrossar o livro que, literalmente, pode ser chamado de ~tijolo~, mas no caso de Graça Infinita a coisa toda é proposital, compreensível e até mesmo necessária. A leitura é pesada, incômoda e não é pra qualquer um, mesmo que a reflexão - e a ressaca - que traga seja válida pra todos, mas a experiência com o livro, de forma geral, parece fazer parte da ideia de diversão e entretenimento do autor. Então, justamente por fazer parte da proposta, não vejo como a história poderia ter sido contada de forma mais simples e com menos páginas, mesmo que isso a torne extremamente cansativa.

É impossível não elogiar o trabalho gráfico que foi feito na obra. A capa minimalista não tráz nada além de linhas finas que traçam uma caveira, e as lombadas externas é que cedem espaço para título e nome do autor dando um diferencial todo especial ao livro.

Embora a história traga muitos pontos chocantes, entendi que foi uma forma do autor mostrar aos leitores sua visão de mundo, de que não importa o quão fundo se cave, sempre é possível recomeçar, e talvez tentar fazer com que as pessoas reflitam sobre como enxergam e lidam com as coisas também. O vício está diretamente ligado ao excesso, e tudo que é demais é prejudicial. Tais vícios, independente do que sejam ou da forma como venham, sempre vão ter como finalidade a busca pela felicidade, pelo conforto, pelo prazer e afins, mas muitos não enxergam o embuste em que estão ao acharem que existe algum atalho para tornar o caminho mais rápido e fácil.

Graça Infinita é um livro que requer muito tempo e dedicação, e até falar sobre ele não é uma tarefa fácil. Suas 1144 páginas de texto maciço e prolixo, com detalhes que se estendem à beira da exaustão, e cuja estrutura desordenada é um completo desafio para o leitor, trazem um romance relevante e necessário, cujo foco recai na devoção que o entretenimento proporciona a ponto de levar os outros do vício à solidão, mas também sobre a excentricidade que não se estende apenas aos personagens irônicos, excêntricos e individualistas, mas às suas próprias consciências que acabam tornando-os prisioneiros de si mesmos.