Novidades de Março - Paralela

12 de março de 2016

A Cadeira da Sereia - Sue Monk Kidd
Na abadia de santa Senara, batizada com o nome de uma santa celta que fora sereia antes de ser convertida, existe uma cadeira encantada. Reza a lenda que quem tomar assento e fizer um pedido a santa Senara será ouvido. Quando Jessie Sullivan precisa retornar à ilha para cuidar de sua mãe, deixando o marido, Hugh, para trás, é forçada a encarar uma série de dúvidas sobre o seu casamento. Apesar do amor cordial que sente pelo companheiro, ela se vê atraída por um monge, o irmão Thomas, que está prestes a fazer seus votos solenes. Em meio ao mistério que envolve os poderes da “santa pecadora”, Jessie luta contra os desejos que parecem tomar conta de sua vida. Ao ser tocada pela liberdade que a Ilha inspira, seria Jessie capaz de deixar de lado a responsabilidade e o conforto do lar que criou ao lado de Hugh? Uma história comovente sobre espiritualidade e as escolhas que precisamos fazer.

Before - After #6 - Anna Todd
“No momento em que os lábios dela tocaram os seus pela primeira vez, ele sentiu. Sentiu uma mudança no fundo da alma, em algum ponto escondido e coberto pela poeira.”
Antes de Tessa, Hardin era um jovem rude e, às vezes, cruel. O que será que fez com que ele se tornasse esse bad boy tão revoltado? E o que se passava em sua cabeça naqueles primeiros momentos com Tessa, a menina irritantemente certinha de quem ele não conseguia ficar longe? Contado sob o ponto de vista de Hardin e de outros personagens da série, Before acompanha de perto esse complexo e cativante personagem, desde seus problemas de infância até sua turbulenta juventude. O livro traz também passagens inéditas do romance de Tessa e Hardin e revela, ao fim, o futuro desse casal intenso que conquistou o coração de leitores no mundo inteiro!

Romance Moderno - Uma investigação sobre relacionamentos na era digital - Aziz Ansari e Eric Klinenberg
Alguns dos problemas de relacionamento que temos hoje são bem específicos da nossa era: “Por que esse cara me mandou um emoji de pizza?”; “Devo sair com essa menina apesar de ela dizer que Torcida é seu petisco preferido? Torcida, jura?!”; “Minha namorada acabou de receber uma mensagem de um fulano chamado Daniel. Quem é Daniel? Será que ele mandou uma foto do pau dele? Devo olhar só para garantir?”.
No entanto, a transformação da nossa vida amorosa não se resume à tecnologia. Em um curto período de tempo, as formas de se buscar o amor mudaram drasticamente.
Algumas décadas atrás, os casamentos aconteciam entre pessoas que moravam no mesmo bairro. Suas famílias se encontravam e, depois de constatar que nenhuma das partes era um assassino em potencial, os pretendentes se casavam e tinham filhos. Tudo antes de completar 24 anos. Hoje, as pessoas se casam mais tarde do que nunca e passam anos à procurado par perfeito. Aziz Ansari tem discutido os romances modernos há tempos em suas apresentações de stand-up e no seriado Master of None, escrito, dirigido e protagonizado por ele. Mas agora, em Romance moderno, decidiu levar o assunto a outro nível. Aziz se juntou ao sociólogo Eric Klinenberg para desenvolver um projeto de pesquisa que se estendeu de Tóquio a Buenos Aires, passando por Paris, Doha e Wichita. Com o auxílio dos mais renomados pesquisadores, a dupla analisou dados comportamentais, entrevistou centenas de pessoas e criou um fórum no site Reddit, obtendo milhares de respostas. O resultado é um livro único, em que o humor irreverente de Aziz é veículo para pesquisas sociais inovadoras. Um tour pelo nosso universo romântico como nunca visto antes.

Novidades de Março - Companhia das Letras

11 de março de 2016

Mais um dia magnífico no mar - Geoff Dyer
O inglês Geoff Dyer é conhecido pela capacidade de transcender gêneros - é autor de romances que podem ser lidos como não ficção e de ensaios que parecem pura imaginação. É esse escritor sem fronteiras que encontramos novamente neste livro. Dyer relata aqui a experiência de passar duas semanas num porta-aviões norte-americano. Em 45 pequenos capítulos, escritos no estilo elegante e divertido que o tornou célebre, Dyer descreve cada aspecto da vida num navio de guerra - os marinheiros encarregados de administrar freezers gigantescos de comida processada, a academia de ginástica repleta de oficiais obcecados por musculação, o bloco prisional ocioso, que transforma os vigias em verdadeiros cativos obrigados a supervisionar celas vazias. É um cotidiano completamente oposto aos hábitos do autor. Alto, magro, incapaz de andar no convés sem se curvar, é também, em suas próprias palavras, um ranzinza cheio de restrições alimentares, com aversão a motores, ruído e combustível, e disposto a infernizar a tripulação até conseguir uma cabine privativa - luxo impensável a bordo de um porta-aviões. Ainda assim, seu relato é leve e generoso, cheio de curiosidade e respeito pelo trabalho incansável dos tripulantes: consertar aviões, lançá-los ao céu e recebê-los quando voltam da missão. Um inglês típico frente a um mundo profundamente americano, com suas constantes incitações ao sucesso e à superação, Dyer registra com brilho o cotidiano no navio. O porta-aviões é a representação de uma sociedade em que disciplina, conformidade, dedicação e otimismo se transmutam em formas de identidade.
Mais um dia magnífico no mar deixa claro por que Geoff Dyer tem sido largamente celebrado como uma das vozes mais originais - e engraçadas - da literatura contemporânea.

De mim já nem se lembra - Luiz Ruffato
Luiz Ruffato ocupa um lugar único na literatura brasileira. Seu Eles eram muitos cavalos marcou época e hoje, mais de uma década depois de sua publicação, tornou-se um romance cultuado, que registrou numa prosa moderna e incomum as muitas vozes da cidade de São Paulo. O projeto Inferno provisório, saga composta de cinco volumes, tem poucos paralelos nas nossas letras: ambicioso, vasto e singular, acompanha por décadas a trajetória de vários personagens de classe média baixa. De mim já nem se lembra trata de assuntos caros ao autor: a família, o tempo, a memória. Mais uma vez, Ruffato irá transformar um pequeno episódio familiar em oportunidade para falar de seu país e de sua sociedade. Ao abrir uma pequena caixa encontrada no quarto da mãe falecida, a caixa na qual ela “abrigara seu coração esfrangalhado”, o narrador se depara com um maço de cartas cuidadosamente atadas por um cordel. Escritas pelo irmão, vitimado por um acidente automobilístico, e dirigidas à mãe, essas cinquenta cartas reconstituem um passado: ao mesmo tempo que ilustram as mudanças políticas, econômicas e culturais durante a ditadura militar brasileira, convidam o leitor a espreitar a memória de uma família com “olhos derramando saudades”.
Neste livro, o autor recupera a antiga tradição do romance epistolar, transfigurando-a - em vez de uma troca de correspondência ordenada cronologicamente, em De mim já nem se lembra há apenas uma voz, no espaço e tempo imprecisos da ausência.

Esta Terra Selvagem - Isabel Moustakas
João é um repórter policial de um grande jornal paulistano. Aos trinta e dois anos, já coleciona um casamento fracassado e ainda não fez nada de muito grandioso na profissão. Mas o envolvimento na investigação de um crime hediondo irá transformar sua vida de modo devastador. Uma jovem que assistiu à tortura e ao assassinato brutal dos pais - um boliviano e uma descendente de italianos -, e que depois fora abusada das piores maneiras, ainda não havia falado com a imprensa. Sete meses após esses crimes, João é o primeiro jornalista a ouvir o relato de cada detalhe perturbador do que ela havia presenciado. Ao final do depoimento, a garota tira a própria vida diante dos olhos dele.
A partir deste terrível episódio, o repórter irá seguir pistas que o levarão a um suposto grupo racista que vem cometendo atrocidades contra imigrantes, negros, judeus, nordestinos, gays e quaisquer pessoas que considera impuras. O pouco do que se sabe sobre eles é que usam coturnos pretos com cadarço verde-amarelo. Neste romance de estreia, Isabel Moustakas cria uma trama extremamente ágil e violenta, que mal permite um respiro do leitor.

Para Poder Viver - A jornada de uma garota norte-coreana para a liberdade - Yeonmi Park
Yeonmi Park não sonhava com a liberdade quando fugiu da Coreia do Norte. Ela nem sequer conhecia o significado dessa palavra. Tudo o que sabia era que fugir era a única maneira de sobreviver. Se ela e sua família ficassem na terra natal, todos morreriam - de fome, adoentados ou mesmo executados.
Park cresceu achando normal que seus vizinhos desaparecessem de repente. Acostumou-se a ingerir plantas selvagens na falta de comida. Acreditava que o líder de seu país era capaz de ler seus pensamentos.
Aos treze anos, quando a fome e a prisão do pai tornaram a vida impossível, Yeonmi deixou a Coreia da Norte. Era o começo de um périplo que a levaria pelo submundo chinês de traficantes e contrabandistas de pessoas, a uma travessia pela China através do deserto de Gobi até a Mongólia, à entrada na Coreia do Sul e, enfim, à liberdade.
Neste livro, Yeonmi conta essa história impressionante pela primeira vez. Uma história repleta de coragem, dignidade - e até humor.
Para poder viver é um testamento da perseverança do espírito humano. Até que ponto estamos dispostos a sofrer em nome da liberdade? Poucas vezes a resposta foi dada de modo tão eloquente.

Os Buddenbrook - Thomas Mann
Primeiro romance de Thomas Mann, publicado em 1901, este livro monumental acompanha a saga dos Buddenbrook, uma família de comerciantes abastada do norte da Alemanha. Quatro gerações são retratadas na crônica familiar inspirada na linhagem do próprio escritor e situada numa cidade com todas as características de Lübeck, a terra natal dos Mann. Com personagens vívidos, diálogos brilhantes e elevada riqueza de detalhes, o autor lança um olhar preciso sobre a vida da burguesia alemã - entre nascimentos e funerais; casamentos e separações; desentendimentos e rivalidades; sucessos e fracassos. Esses acontecimentos sucedem-se ao longo dos anos, mas à medida que os Buddenbrook sucumbem à sedução da modernidade, o declínio moral e financeiro parece estabelecido. O leitor contemporâneo encontra intactos o frescor e o fascínio deste que é considerado um dos principais romances do século XX.

Memória por correspondência - Emma Reyes
Em 23 cartas enviadas entre 1969 e 1997 a seu amigo e confidente Germán Arciniegas, a artista plástica Emma Reyes relata as adversidades que viveu durante sua infância na Colômbia. Emma era filha ilegítima e, nesta autobiografia epistolar, conta desde suas lembranças mais antigas até o momento em que deixou o convento onde passou sua juventude, sem ao menos saber ler. Estes textos não só expõem um belíssimo relato pessoal, mas também descrevem o contexto da sociedade colombiana na década de 1930. Emma Reyes foi vítima de uma sociedade hipócrita e do mundo sombrio das comunidades religiosas, mas isso não impediu que ela construísse uma reconhecida carreira artística na França quando adulta.


Linha M - Patti Smith
Depois do cultuado Só garotos, a lendária cantora e escritora Patti Smith volta à sua odisseia pessoal neste Linha M, que ela chama de “um mapa para minha vida”. O livro começa no Greenwich Village, o bairro que tanto marcou sua história. Todos os dias a artista vai ao mesmo café e, munida de seu caderno de anotações, registra suas impressões sobre o passado e o presente, a arte e a vida, o amor e a perda. É desse café que ela nos conduz ao México, onde visita a Casa Azul de Frida Kahlo em Coyoacán; a uma conferência dos membros do Instituto Alfred Wegener em Bremen, na Alemanha; e ao bangalô em Rockaway Beach que ela compra pouco tempo antes de o furacão Sandy atingir o país.
Patti Smith, uma leitora voraz, nos conduz também pelo labirinto de suas paixões literárias. Conhecemos, de um ponto de vista privilegiado, sua opinião sobre escritores como Murakami, Jean Genet, Sylvia Plath e Rimbaud. As ideias de Smith abrem uma janela para sua arte e seu processo de criação, que são revelados com candura sinceridade tocantes. Em meio a essas leituras, ela costura também as próprias memórias, desde a vida em Michigan até a dor irremediável pela perda do marido, Fred Sonic Smith, num depoimento ao mesmo tempo emocionante e honesto sobre o amor.
Num tom que transita entre a desolação e a esperança - e amplamente ilustrado com suas icônicas polaroides -, Linha M é uma reflexão sobre viagens, séries de detetives, literatura e café. Um livro poderoso e comovente de uma das mais multifacetadas artistas em atividade.

Sim, Eu Digo sim - Uma visita ao Ulysses de James Joyce - Caetano Waldrigues Galindo
Depois de publicar Ulysses, James Joyce disse que a receita para se tornar imortal era simples: bastava manter os críticos literários ocupados por décadas a fio. Foi a partir dessa ideia que Caetano Galindo, cuja tradução do Ulysses venceu os prêmios Jabuti, APCA e da Academia Brasileira de Letras, pensou neste guia.
O leitor conhecerá melhor os passos de Bloom, Stephen e Molly naquele 16 de junho de 1904, mas também irá aprender sobre a própria natureza do romance e mais dezenas de assuntos que povoam essas páginas. Irá, sobretudo, ter um contato privilegiado com a leitura de um dos maiores especialistas em Joyce no Brasil, uma leitura calorosa, erudita e, mais que tudo, surpreendente.

Dois Anos, Oito Meses E 28 Noites - Salman Rushdie
Depois de uma tempestade em Nova York, fatos estranhos começam a ocorrer. Um jardineiro percebe que seus pés não tocam mais o chão. Um quadrinista acorda ao lado de um personagem que parece um de seus desenhos.
Ambos são descendentes dos djins, figuras mágicas que vivem num mundo apartado do nosso por um véu invisível. Séculos atrás, Bunia, princesa dos djins, apaixonou-se por um filósofo. Juntos, tiveram filhos que se espalharam pelo mundo humano. Quando o véu é rompido, tem início uma guerra que se estende por mil e uma noites - ou dois anos, oito meses e vinte e oito noites. Mais uma vez, Salman Rushdie cria uma obra prima sobre os conflitos ancestrais que permanecem no mundo contemporâneo.

As Meninas Ocultas de Cabul - Jenny Nordberg
Durante cinco anos de pesquisas no Afeganistão, a repórter Jenny Nordberg descobriu que algumas famílias criam suas filhas como se fossem meninos, tentando fazer com que a comunidade acredite que as crianças são de fato do sexo masculino. A prática, conhecida como “bacha posh”, foi revelada por Jenny em reportagem de grande repercussão no New York Times. Embora o Talibã tenha deixado o poder em 2001, muito do que aquela milícia fundamentalista acreditava sobre as mulheres continua em voga. Este livro mostra em detalhe os horrores de um ambiente machista, e serve de alerta para a comunidade internacional sobre um crime que nenhum relativismo cultural é capaz de atenuar.


A Gafieira de Dois Tostões - Georges Simenon
Antes de ser executado, o condenado Jean Lenoir confessa ao comissário Maigret que foi testemunha de um crime seis anos antes - e que acaba de descobrir o paradeiro do assassino: a Gafieira de Dois Tostões, um bar ordinário à margem do rio Sena. Em pleno verão, em meio à insistência de Madame Maigret para que o comissário saia de férias, Maigret segue a pista do condenado e se vê envolvido num emaranhado de intrigas que ainda vai custar um punhado de vítimas.





Terra Negra - O Holocausto como história e advertência - Timothy Snyder
Neste épico de extermínio e sobrevivência, Timothy Snyder apresenta uma nova explicação sobre o Holocausto e revela os riscos que corremos no século XXI. Com base em novas fontes e testemunhos, Terra negra descreve o extermínio de judeus como um evento mais compreensível do que gostaríamos de admitir, e por isso mais aterrorizante.
O início do século XXI se parece com o início do século XX na medida em que preocupações crescentes com alimentos e água acompanham desafios ideológicos à ordem global. Nosso mundo se aproxima do de Hitler, e preservá-lo pede que encaremos o Holocausto como ele foi. Inovador e envolvente, Terra negra revela um Holocausto que não é apenas história, mas também advertência.

A Mulher que Roubou a Minha Vida - Marian Keyes

10 de março de 2016

Título: A Mulher que Roubou a Minha Vida
Autora: Marian Keyes
Editora: Bertrand
Gênero: Romance/Chick-lit
Ano: 2015
Páginas: 476
Nota: ★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Um dia, andando de carro em meio ao tráfego pesado de Dublin, Stella Sweeney, mãe e esposa dedicada, resolve fazer uma boa ação. O acidente de carro que resulta disso muda sua vida. Porque ela conhece um homem que lhe pede o número do seu celular para o seguro, plantando a semente de algo que levará Stella muitos quilômetros para longe de sua antiga rotina, transformando-a em uma superestrela e também, nesse processo, virando a sua vida e a de sua família de cabeça para baixo. Em seu novo e divertido romance, Marian Keyes narra a história de uma mudança de vida. É tudo muito bom quando se passa de um cotidiano banal para dias cheios de eventos glamorosos - mas, quando essa vida de sonhos é ameaçada, pode-se (ou deve-se) voltar a ser a pessoa que se costumava ser?

Resenha: A Mulher que Roubou a Minha Vida é o mais novo chick-lit escrito pela autora irlandesa Marian Keys. O livro foi publicado no Brasil pela Bertrand.

Stella Sweeney é mãe e esposa dedicada, já passou dos quarenta anos e está tentando vencer um bloqueio criativo a fim de escrever seu segundo livro. "Uma piscada de cada vez", seu primeiro livro de autoajuda, teve seus momentos de auge e se tornou best-seller, mas acabou não tendo todo o sucesso que era esperado e caiu no esquecimento... Stella quer dar a volta por cima depois de ter passados por maus bocados, mas as coisas não são tão fáceis quando há problemas na vida que parecem se sobrepor a todo o resto.

Depois de ter lido outros livros da autora, cheguei a conclusão que apesar do desenvolvimento e dos acontecimentos seres distintos, existe uma "fórmula" para os enredos criados por ela. Não que a fórmula seja algo ruim, muito pelo contrário, o que acontece é que o desfecho ou certos tipos de acontecimentos se tornam um pouco previsíveis pra quem conhece o estilo de Marian Keyes então algumas coisas perdem o fator surpresa que esperamos encontrar: Histórias ambientadas em Dublin, Irlanda, com protagonistas mais velhas, na casa dos trinta ou quarenta anos, que estão enfrentando algum problema ou crise séria enquanto tentam, na maioria das vezes, levar, firmar ou até se livrar de um relacionamento amoroso. Logo, acompanhamos a saga da personagem para superar todas as adversidades que a vida lhe impôs de uma forma leve e até descontraída, e mesmo que durante esse percurso nos deparemos com pitadas de bom humor ou situações malucas e engraçadas, há uma mistura com problemas delicados e difíceis, proporcionando também momentos de tensão ou tristeza ao leitor. A Mulher que Roubou a Minha Vida não foge muito dessa fórmula mas, claro, possui alguns diferenciais.

O que inicialmente move a trama é um pequeno acidente de carro, e logo depois uma doença grave que acomete Stella e faz com que ela fique internada por vários meses, a Síndrome Guillain-Barré. Ela fica totalmente paralizada mas sua consciência se mantém intacta, o que a faz prisioneira do próprio corpo. Ambos os acontecimentos a ligam a Mannix Taylor, o médico neurologista que passa a acompanhá-la em busca da cura. O problema é que com a ausência de Stella em casa devido a doença, as coisas com seu marido e filhos começam a sair do controle pois eles simplesmente não sabem se virar sem a presença dela. E mesmo incapacitada ela ainda se sente culpada por ter ficado doente e deixado a família na mão. Nos momentos que se extendem sobre sua condição no hospital, a leitura é inevitavelmente angustiante, pois além de ela se sentir sozinha e desconfortável, a única forma de Stella se comunicar é através de piscadas (que serve de inspiração para o título do livro) que somente Mannix consegue decifrar, os demais não entendem ou simplesmente não tem paciência, inclusive Ryan, o marido dela.

O livro é narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Stella, e a história se revela aos poucos sem respeitar uma ordem cronológica, mesclando flashbacks e momentos presentes, o que pode deixar a história muito, mas muito confusa no início. Ficamos limitados ao ponto de vista dela para tudo o que acontece. Todas as interpretações para determinados acontecimentos e pela forma que ela tem de pensar e enxergar as coisas são unicamente dela, e por ela se submeter a coisas que muitos julgam inadimissíveis, ela acaba sendo uma protagonista que não vai necessariamente despertar a simpatia de qualquer um de forma fácil e, mesmo que sua condição seja difícil, também não desperta nossa compaixão, mas ainda assim fica a curiosidade para desvendarmos o que realmente lhe aconteceu. A demora para as coisas acontecerem é algo que torna a história um pouco cansativa de se acompanhar e mesmo que ela tenha seus picos de fluidez, empolgação e momentos em que não conseguimos parar de ler, na maioria das vezes o ritmo é lento e cheio de informações que não fazem tanta diferença assim e poderiam ser descartados sem que fizessem falta na trama. Há vários personagens secundários que são importantes e suas personalidades e motivações despertam nossa curiosidade, mas ganham pouco aprofundamento e espaço.

Stella é uma personagem que possui características que irritam. Mesmo que ela seja a responsável por manter sua casa em pleno funcionamento, ela não é respeitada como mãe ou mulher e podemos ver isso quando seu marido, que não tem o menor senso de noção, a culpa por tudo, inclusive pelo fracasso do casamento por ela ter ficado doente, ou quando a recrimina por coisas que, na teoria, ele deveria apoiá-la. Seus filhos são ingratos, exigentes, mal educados e mal acostumados e também a condenam por coisas que eles nem ao menos deveriam se intrometer. E o que Stella faz diante de tudo isso? Se desculpa e se conforma, pois ela realmente acredita que a falha é dela. Então quando sua situação muda e a vida de todos vira de pernas pro ar, ela se vê obrigada a encarar uma outra realidade, saindo de sua zona de conforto e submissão a fim de por a vida nos eixos e colher alguns louros. Com a publicação de seu livro ela se muda pra Nova York, se envolve com pessoas ambiciosas e gananciosas do meio literário que a obriga a fazer coisas das quais ela não está acostumada, desconhece e nem mesmo concorda, e aí que as coisas saem fora de controle mesmo. Ela só tem uma pessoa com quem contar, mas diante da situação em que se encontra, passa a duvidar de sua própria capacidade, seja pessoal ou profissional.
Passei o livro inteiro querendo estapear Stella na cara, torcendo para ela dar um basta naquilo tudo para tomar as rédeas da própria vida, mas essa mudança não ocorre da forma que esperei. Talvez porque na vida as coisas não aconteçam da forma como gostaríamos, mas sim como se deve ser... Devagar, ao seu tempo, tendo surpresas agradáveis mas também passando por decepções, infortúnios e até mesmo traições, mas basta ter esperança e correr atrás do prejuízo para que tudo se encaixe. Por esse motivo, apesar de toda a frustração que senti com Stella, entendi que a autora criou uma história real e humana, que poderia ser vivida por pessoas comuns, principalmente no que diz respeito a parte romântica da história. É mais fácil do que parece encontrarmos pessoas tão complacentes como Stella por aí e não podemos julgar se não conhecemos sua verdadeira história.

É uma boa história, apesar de eu não ter mexido comigo, mas ficou a mensagem de que além de ser importante correr atrás daquilo que nos faz feliz, é preciso deixar de se submeter aos caprichos alheios ao ponto de esquecermos de nós mesmos.
Em suma, A Mulher que Roubou a Minha Vida não tem foco na superação dos problemas, mas sim em como a protagonista tenta lidar e se adaptar às mudanças que surgem em sua vida e acredito que isso é algo que todos nós estamos passíveis em algum momento.
Então, mesmo que não seja o melhor livro da autora que li, recomendo.

Sejamos Todos Feministas - Chimamanda Ngozi Adichie

9 de março de 2016

Título: Sejamos Todos Feministas
Autora: Chimamanda Ngozi Adichie
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Não ficção
Ano: 2015
Páginas: 64
Nota: ★★★★★
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Chimamanda Ngozi Adichie ainda se lembra exatamente do dia em que a chamaram de feminista pela primeira vez. Foi durante uma discussão com seu amigo de infância Okoloma. "Não era um elogio. Percebi pelo tom da voz dele; era como se dissesse: 'Você apoia o terrorismo!'". Apesar do tom de desaprovação de Okoloma, Adichie abraçou o termo e começou a se intitular uma "feminista feliz e africana que não odeia homens, e que gosta de usar batom e salto alto para si mesma, e não para os homens". Sejamos todos feministas é uma adaptação do discurso feito pela autora no TEDx Euston, que conta com mais de 1,5 milhão de visualizações e foi musicado por Beyoncé.

Resenha: Chimamanda Ngozi Adichie é uma escritora nigeriana que ficou conhecida como uma das autoras mais influentes no que diz respeito a suas obras de cunho feminista.
Sejamos Todos Feministas é um livro com apenas 64 páginas, adaptado e baseado em um discurso que a autora fez no TEDxEuston em 2012, um evento destinado a palestras dedicadas à ideias inspiradoras sobre questões políticas, sociais ou ambientais.
O discurso se referiu à sua própria experiência e teve tanta repercursão que em 2013 foi incorporado na música Flawless, da cantora Beyoncé, ganhando ainda mais notoriedade e visibilidade.
O livro foi publicado pela Companhia das Letras e está disponível para download gratuito no site da Amazon.

Somos Todos Feministas é um tipo de conversa com o leitor onde a autora expõe suas experiências, seus pensamentos e sua opnião sobre a problemática que se refere às questões de gênero tão polêmicas presentes na sociedade com bastante leveza, legividade e de forma direta dando uma ótima perspectiva sobre o tema.

"...os homens não pensam na questão de gênero, nem notam que ela existe."
- Pág. 44

Quantas vezes as mulheres foram taxadas de forma negativa apenas por serem mulheres?
O fato é que o feminismo ainda é mal interpretado, e muitas vezes é considerado como um conceito negativo, e a autora começa seu discurso assim, contando uma ocasião em que um amigo a chamou de feminista pela primeira vez, em tom acusatório e desaprovador. E ao descobrir que o feminismo é um movimento que busca e luta pela igualdade do gênero, onde homens e mulheres devem ter os mesmos direitos, ela abraçou o conceito e passou a levá-lo como um lema em sua vida.

Hoje em dia vemos vários movimentos que apoiam a causa, enquanto há quem seja contra por simplesmente não entender do que se trata sem ao menos se dar ao trabalho de procurar saber seu funcionamento e seu real objetivo.
Até quando as mulheres serão diminuidas ou privadas de direitos, escolhas e conquistas que a sociedade acredita serem destinadas exclusivamente aos homens? Até quando se submeterão a certos tipos de coisas somente para superar ou cumprir as expectativas alheias?
O problema, no meu ponto de vista, é que pra cada ação há uma reação e a luta das mulheres em busca de direitos iguais talvez seja encarada pelos homens como um desafio, uma afronta. Seria porque a ideia de perder o título de "dominador" seja incômoda e dê a impressão de fracasso ou de submissão? É difícil para alguns entender ou aceitar conceitos que não foram inseridos na educação desde a infância e, dessa forma, crescem acreditando que cada um tem um papel definido na sociedade, na família, no trabalho e afins, e o que foge disso é anormal ou errado...

Basta entender que o feminismo não é o oposto de machismo, muito pelo contrário. O feminismo tenta mudar a realidade das mulheres que vivem constantemente sendo discriminadas por sua condição de ter nascido mulher, enquanto o machismo se baseia na crença de que os homens são superiores a elas, como se isso lhes dessem o "direito" de humilhá-las, abusá-las e colocá-las em seu lugar. Mas o que me pergunto é qual lugar seria este na cabeça desses pobres coitados?

Sou mulher e meu lugar é onde eu quero estar. Trabalho e cuido da casa e dos filhos, sim, mas tenho opinião própria, falo palavrão, jogo video game, não dependo de ninguém pra nada, não me deixo levar por influências que considero negativas, cuido da minha vida sem interferir na vida de ninguém e ser respeitada por ser quem eu sou é o mínimo, é simples. E se isso incomoda aqueles que discordam ou pensam que o lugar da mulher é na cozinha, é uma pena. Não vou mudar, e as mulheres que querem respeito por serem quem são e por suas escolhas também não.

Sejamos Todos Feministas é um livro curto, sim, mas com um conteúdo grandioso, poderoso e de utilidade pública.

Confira o discurso da autora (em inglês, sem legendas) que já conta com mais de 2,5 milhões de visualizações atualmente: