Caixa de Correio #45 - Novembro

30 de novembro de 2015

Oie, gente!
Na correria pra colocar postagens e resenhas em dia quase esqueço da caixa!
Novembro foi um mês cheio de surpresas e livros divos que chegaram! Bora dar uma espiada?

Perdidos por aí - Adi Alsaid

29 de novembro de 2015

Título: Perdidos por aí
Autor: Adi Alsaid
Editora: Verus
Gênero: YA
Ano: 2015
Páginas: 294
Nota: ★★★★★
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Quatro jovens ao redor do país têm apenas uma coisa em comum: uma garota chamada Leila. Ela entra na vida de cada um com seu carro absurdamente vermelho no momento em que eles mais precisam de alguém.
Entre eles está Hudson, mecânico em uma cidadezinha, que está disposto a jogar fora seus sonhos de amor verdadeiro. E Bree, uma garota que fugiu de casa e curte todas as terças-feiras — além de algumas transgressões ao longo do caminho. Elliot acredita em finais felizes... até sua vida sair totalmente do script. Enquanto isso, Sonia pensa que, quando perdeu o namorado, também perdeu a capacidade de amar.
Hudson, Bree, Elliot e Sonia encontram uma amiga em Leila. E, quando ela vai embora, a vida de cada um deles está transformada para sempre. Mas é durante sua própria jornada de quase sete mil quilômetros através do país que Leila descobre a verdade mais importante: às vezes, aquilo de que você mais precisa está exatamente no ponto onde começou. E talvez a única maneira de encontrar o que você está procurando seja se perder ao longo do caminho.

Resenha: Perdidos por aí, escrito pelo autor Adi Alsaid é um livro composto por um conjunto de cinco histórias curtas sobre quatro jovens ao redor do país, Hudson, Bree, Elliot e Sonia. A única coisa que eles têm em comum é Leila, uma adolescente texana que resolveu viajar em seu velho Plymouth Acclaim e acaba se esbarrando com cada um deles em sua longa viagem rumo ao Alasca a fim de fotografar a aurora boreal para, segundo ela, um projeto do colégio.

Observação: Como vocês verão a seguir, optei por separar a resenha em partes, destinando um pequeno resumo seguido da minha impressão das histórias individuais dos personagens, mostrando o que pude absorver de cada uma delas. A resenha ficou imensa (acho que a maior que já escrevi na vida), mas vale a pena ser lida, confiram:

Hudson
A primeira história é a de Hudson, um jovem mecânico que mora em Vicksburg, Mississipi e que trabalha na oficina do pai reparando carros. Ele sonha com uma bolsa de estudos para que possa fazer faculdade de medicina e ter um futuro. Na manhã do dia seguinte ele teria uma entrevista com o reitor da faculdade. Até que Leila vai até a oficina pois seu carro andava fazendo muito barulho, saindo de seu trajeto com a desculpa de que Hudson seria o melhor mecânico da região.
Obviamente o garoto não deixa de reparar em como Leila é bonita e chama atenção, e conversa vai, conversa vem, eles resolvem dar um passeio pela cidade para que ela pudesse conhecer os pontos turísticos e acabam tendo um breve envolvimento romântico que marcaria a vida dele pra sempre.

Esta primeira história, na minha opinião, faz com que o leitor reflita sobre oportunidades e acasos, pois nem sempre perder o que desejamos significa o fracasso. Às vezes, acreditamos que algo é o melhor, mas no fundo aquilo pode ser uma coisa que não queremos de verdade, só não nos damos conta até que algo aconteça para nos fazer enxergar, mesmo que de forma tardia. Temos que investir no que gostamos para vivermos os nossos próprios sonhos em vez dos sonhos dos outros...

Bree
A segunda história é a de Bree, uma jovem aventureira que caminhava pelo acostamento de uma estrada no Kansas. Eis que Leila surge com seu carro velho e vermelho na estrada e oferece a carona que Bree precisava. Ao questionar sobre sua história, Leila descobre que Bree é o tipo de garota que vive cada dia como se fosse o último, gosta da adrenalina e gosta de se sentir viva, nem que pra isso tenha que transgredir algumas leis de vez em quando.
Depois de ter fugido de casa há alguns meses por ter se desentendido com sua irmã mais velha, Alexis, Bree não pensa em mais nada a não ser se jogar no mundo e fazer o que tem vontade quando e como quer.
Quando as duas se metem em encrenca, só uma pessoa poderia ajudá-las, e, a partir daí, revelações e sentimentos enterrados há muito tempo acabam vindo à tona.

A história de Bree é triste e confesso ter ficado com os olhos cheio de lágrimas. Bree é uma adolescente imprudente que só pensa em si mesma. Ela nunca considera que suas atitudes podem magoar alguém e acredito que muitas vezes isso acontece na vida real, com pessoas próximas ou com quem nos importamos muito. Mas também acredito que, às vezes, certos tipos de comportamentos não passam de mera fachada. Há pessoas que se apegam à coisas que elas pensam que precisam ou gostam, quando na verdade estão mascarando seus sentimentos para não assumirem que são humanas e passíveis de erros, fingindo serem quem não são, e a história de Bree reflete exatamente esse tipo de situação.
Existem problemas que são reversíveis, magoar aqueles que queremos bem não é a solução pra nada, e quando há oportunidade para voltar atrás, nem que pra isso seja necessário engolir o orgulho, ser humilde e fazer um pedido sincero de desculpas, não se deve pensar duas vezes. As coisas se ajeitam, basta que os erros sejam reconhecidos...

Elliot
Elliot levou um fora de Maribel durante o baile e ficou arrasado. A velha história do "cara, eu gosto de você... como amigo". Andando pelas ruas de Minneapolis, Minnesota, ele sentia que a cidade inteira ria da sua desgraça, sua única vontade era encher a cara de uísque a fim de tentar esquecer que seu coração fora destruído e voltar para Burnsville o mais rápido possível. Até que ele foi vitima de um quase atropelamento, o desvio é rápido o bastante para não acertá-lo em cheio, mas o retrovisor do carro acaba acertando sua garrafa espalhando cacos pra todo lado e fazendo sua mão sangrar muito. A caminho do hospital ele descobre quem é a motorista que "quase o matou" mas, não deixou de prestar-lhe socorro mesmo contra sua vontade: Leila. Ela então fica curiosa por saber um pouco mais da história de Elliot e o motivo dele ter estado na sarjeta, bêbado e quase fora de si, e quando descobre que o problema era uma triste desilusão amorosa, um caso de amor não correspondido, ela decide ajudá-lo a encontrar Maribel com seus planos mirabolantes para que ele pudesse conquistá-la. E os dois partem a procura dela noite adentro com a ideia de que finais felizes existem, pois Elliot acredita neles.

Elliot representa muito bem aquele momento quando pensamos que tudo está perdido porque a pessoa por quem somos apaixonados há anos e anos não corresponde aos nossos sentimentos... Mas será que está perdido mesmo?
Penso que sofrer uma primeira e única desilusão amorosa não significa que o mundo acabou e iremos morrer encalhados depois de vivermos a vida criando gatos. Quando se é jovem e se tem a vida inteira pela frente, descobrimos que nem sempre o amor é um só, e se ele não puder ser encontrado em uma pessoa específica, não quer dizer que não será encontrado em outra, ou em outra, ou em outra... O que é nosso está guardado e quando vem, desde que seja verdadeiro, é pra ficar...
Talvez um "não" não signifique o fim. Talvez seja exatamente o que precisamos ouvir no momento para descobrimos uma força dentro de nós que é responsável pelo impulso que precisamos para lutar pelo que achamos que vale a pena. Assim podemos nos conhecer melhor, saber do que somos capazes e, quem sabe, surpreender muita gente por aí...

PS.: Nota para o fato de que Elliot é um grande fã de músicas e filmes dos anos 80, logo a história dele me trouxe uma nostalgia bastante doce sobre essa época, principalmente quando ele menciona filmes como "Curtindo a Vida Adoidado" e canta na festa se sentindo o próprio Ferris Bueller! Genial!

Sonia
Sonia não consegue esquecer Sam. Ela namorou com ele durante dois anos, mas o rapaz sofreu um colapso num jogo de basquete e não resistiu. A partir daí Sonia ficou com o coração em pedaços e os laços dela com a família de Sam se estreitaram ainda mais.
Sete meses depois, em Hope, uma cidadezinha de British Columbia no Canadá, Sonia partiu para o casamento de Liz, que era irmã de Sam, e, diante disso, se sente uma completa traidora por ter deixado Jeremiah, o irmão mais novo do noivo de Liz, entrar em sua vida depois de tão pouco tempo.
Embora os momentos que Sonia passe com Jeremiah sejam intensos e os dois se gostem muito, ela se sente culpada pela memória de Sam, incapaz de continuar a seguir com sua vida e assumir que encontrou o amor em outra pessoa por medo de ser rejeitada pela família. Jeremiah não aguenta mais manter esse relacionamento em segredo e caso Sonia não assuma em público que eles estão juntos, ele prefere por um fim nessa história.
Inconsolável e sem saber o que fazer, ela sai praticamente sem rumo e ao chegar numa loja de conveniência, se apoia num carro e começa a chorar. Leila, a dona do carro, pergunta se está tudo bem e lhe oferece ajuda. Sonia só quer ficar longe daquele lugar e Leila lhe dá uma carona, mas depois de atravessarem a fronteira de volta para os EUA, ela enfim atende as insistentes ligações de Jeremiah, que havia ligado pedindo que ela voltasse pois as alianças do casamento estavam no bolso do casaco que ela estava usando. O problema é que, quando o assunto é atravessar a fronteira de um país pra outro, as coisas não são tão simples quanto parecem e as duas acabam embarcando numa grande aventura para tentarem voltar pra Hope.

O que as pessoas vão pensar das nossas escolhas importa até que ponto? Sonia é uma boa pessoa e nunca quis magoar ninguém. Ter se envolvido com Jeremiah poucos meses após a morte de Sam não quer dizer que ela é uma vagabunda insensível. Ela perdeu o namorado mas isso não significa que ela tivesse obrigação de viver infeliz, num luto eterno, em vez de seguir em frente. Não é porque perdemos uma pessoa querida que ela deixará de ter um lugar especial em nossos corações. Dar uma nova chance ao amor quando se decide seguir em frente não fará com que o lugar daquela pessoa seja substituído. Pessoas passam pelas nossas vidas, muitas aparecem pra ficar, outras se vão, mas nenhuma delas é substituível. A vida segue e o que se vive com alguém permanece enquanto a memória permitir.

Leila
Leila é um completo mistério desde o início. Ao acompanhar as histórias de Hudson, Bree, Elliot e Sonia percebemos que a garota tem bastante curiosidade pela vida deles e se desdobra para fazer alguma diferença enquanto também vivencia momentos memoráves, mas não fala nada sobre a sua própria história. E agora os reais motivos que a levaram ao Alasca em busca da aurora boreal vem à tona.
A viagem de Leila dura alguns poucos meses, mas os momentos que ela tem com cada personagem são curtos, geralmente acontecem de um dia pro outro até ela ir embora.

Sem dar spoilers, só posso dizer que me emocionei muito com a história de Leila, por tudo o que ela precisou enfrentar sendo tão jovem. Mas se inteirar da vida de desconhecidos com intuito de preencher buracos, embora isso possa servir de exemplo e experiência, não faz com que tais vivências sejam nossas e, talvez, só nos damos conta de que temos que nos agarrar ao pouco que temos para construir nosso futuro, quando nos perdemos. Só assim podemos nos encontrar... A vida vai nos surpreender, é certeza...

Analisando o livro de forma geral
O livro é narrado em terceira pessoa e a leitura é super leve e gostosa de se acompanhar. As descrições dos cenários também são feitas com perfeição e a sensação é de estar viajando junto com Leila. Ao longo das histórias conhecemos esses adolescentes e como eles tiveram a vida mudada quando ela aparece num determinado momento em que eles realmente precisavam de ajuda para abrirem os olhos para o que estavam passando. Confesso que esse ponto me soou um pouco surreal, pois uma adolescente disposta a qualquer coisa pra ajudar um desconhecido aparecer do nada, ou estar sempre no momento e no local exato em que alguém com problemas precisa, não convenceram tanto assim, mas se analisarmos as histórias de forma individual, percebemos que, às vezes, o que acontece é exatamente isso. Pra mim isso mostrou que por mais breve que alguém passe por nossas vidas, nada acontece por acaso e talvez essa passagem aconteça só pra enxergarmos com clareza o que está diante de nós mas não víamos seja pelo motivo que for.

A capa é uma graça e mostra o carrinho vermelho de Leila percorrendo uma estrada. A diagramação é simples, cada história traz o nome do personagem da vez e pelo fato de os capítulos serem poucos, a leitura é feita em questão de poucas horas. Ao fim de cada história há um "cartão postal" enviado por Leila para alguém.

As histórias não tem tanto aprofundamento assim nos personagens a ponto de conhecermos todos eles tão a fundo, mas o pouco que conta já é o bastante pra servir de exemplo pra que a mensagem seja passada adiante. O final não foi tão previsível quanto imaginei. Ele reserva algumas boas surpresas e emociona. Só fiquei com uma leve impressão de que por mais que as histórias tragam mensagens profundas sobre perda, amor, amizade e esperança, elas têm um toque sutil de autoajuda que são capazes de fazer com que o leitor reflita sobre algumas situações reais que podem acontecer com qualquer um, inclusive com nós mesmos, mas as pessoas nem sempre param pra pensar se as escolhas e atitudes que tomam diante daquilo são as melhores.

O Projeto Ascendant - Drew Chapman

28 de novembro de 2015

Título: O Projeto Ascendant - Garrett Reilly #1
Autor: Drew Chapman
Editora: Record
Gênero: Ação/Thriller
Ano: 2015
Páginas: 476
Nota: ★★★★☆
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Números não mentem. Governos, sim.
Garrett Reilly, aos 26 anos, tem poucas preocupações na vida: fumar maconha, jogar videogame e ganhar muito dinheiro como o melhor funcionário de uma corretora de Wall Street. Ele tem uma habilidade especial: reconhece padrões onde pessoas comuns veem apenas o caos. E é assim que percebe uma torrente de títulos da dívida pública do governo dos Estados Unidos sendo oferecida de uma só vez no mercado, o que causaria a ruína da economia norte-americana... Mas isso pode representar algo ainda mais grave.
Há uma guerra sendo travada, e ninguém foi capaz de notá-la. Quedas nas bolsas de valores, enormes desvalorizações imobiliárias, caos e destruição em servidores do Google. Sem dúvida, um inimigo poderoso está por trás de todas essas ações. E, para combater essa ameaça, as Forças Armadas precisam de alguém diferente, alguém preparado para desafios mais complexos em tempos mais difíceis. Em meio a um mundo de incertezas, resta a grande dúvida: seria Garrett Reilly o homem certo para salvar os Estados Unidos?

Resenha: Garret Reilly tem 26 anos e, além de ser mulherengo, obcecado por tecnologia e ter poucas preocupações na vida, já que vive fumando maconha e jogando video game, possui uma habilidade especial que faz com que ele seja o melhor funcionário da Jenkins & Altshuler, uma corretora de Wall Street em que trabalha: Ele possui uma incrível memória fotográfica e, sem esforço algum, consegue "ler" os números, decorando, hierarquizando, distribuindo em categorias, organizando e enxergando padrões de forma que tudo aquilo faça sentido e tenha significado. Não é nada que ele realmente quisesse fazer, mas sua cabeça simplesmente funciona assim e enquanto não consegue ver os padrões com clareza para descobrir do que se trata, se sente incomodado, cheio de formigamentos. Quanto mais claro o padrão fica após sua análise, mais relaxado e tranquilo ele ficava. A única outra forma dele se sentir relaxado e livre do tal formigamento era fumando maconha pois, ao ficar chapado, ele sentia que era uma pessoa comum e se via livre desse dom.

Num dia "monótono" de trabalho ele percebe um padrão ao analisar códigos referentes a títulos da dívida pública dos EUA. Os títulos estavam sendo vendidos em pequenos lotes e totalizavam 200 bilhões de dólares, o que causaria o caos na economia norte-americana. Tudo indicava que a China estava envolvida e a descoberta de Garret serve como um alerta que ajuda a impedir o início da ruína econômica. Mas isso é somente o início do que viria por aí... Quando a bolsa de valores começa a sofrer enormes quedas, o mercado imobiliário quebra e até os servidores do Google são destruídos, fica claro que há um inimigo poderoso lá fora... Uma guerra parece existir mas até agora ninguém havia sido capaz de perceber o que estava acontecendo, e com uma situação tão preocupante quanto esta, a solução seria o Projeto Ascendant, um programa experimental criado pelo governo. que precisava de alguém diferente para liderá-lo. Alguém como Garret. E ao lado de uma equipe composta por militares e civis, ele lidera o projeto e embarca na tarefa de salvar os EUA dessa guerra onde não se derrama sangue.

Antes de mais nada, acho importante frisar que O Projeto Ascendant está mais pra roteiro de um filme de ação do que pra uma obra literária. O autor inclusive é roteirista e sua carreira gira em torno da TV. É bem perceptível que os capítulos funcionam como tomadas de cenas, daquelas que sempre terminam de forma decisiva deixando quem assiste morto de curiosidade pra saber o que vem a seguir. Só achei que o autor peca pelo excesso na questão das descrições e detalhamentos quase aleatórios na narrativa. É estranho ler, por exemplo, que fulana se ajoelhou, tem 32 anos e fecha seus olhos castanhos, ou que ciclana é programadora, tem 1,63m, pesa 90kg e mandou alguém a merda. São muitos detalhes que se repetem e envolvem caracterização e cenários que são totalmente descartáveis e acabam tornando a leitura um pouco cansativa por não acrescentaram nada de realmente relevante, por mais que a história em si seja interessante.
Tendo isso em mente, e desde que se ignore esses pontos que poderiam ter sido melhor lapidados, é possível se deixar levar nesse mundo caótico e surpreendente que envolve política, guerras invisíveis e tecnologia tendo como cenário Wall Street, Las Vegas e até a zona rural da China

Garret é um personagem que vai despertar vários sentimentos e reação no leitor. Eu gostei dele, mas também desgostei já que mais exagerado do que ele nunca vi. Ele vive com raiva, odeia tudo e todos, não aceita receber ordens, é extremamente convencido, exibido e arrogante por se achar superior aos outros por causa da sua inteligência e percepção fora do comum, trata os outros com desdém e deboche, só se importa e demonstra interesse naquilo que lhe convém e o resto que se dane. Ele é completamente irritante com a "habilidade" que tem de saber quem é, o que quer, de onde veio, pra onde vai e o que a tal pessoa faz da vida só de bater o olho nela e analisar suas roupas, postura, modo de falar e afins... Os padrões com os quais ele lida são se limitam a apenas números e códigos.
A impressão que tive é que ele foi construído nessa forma de anti-herói para fugir do estereótipo de mocinho, mas caiu em outro estereótipo: Algo como "ele é odioso, mas a salvação dos EUA está nas mãos desse maconheiro genial. Aceitem que dói menos, bitches."

Assim, ele é apresentado como alguém insuportável, um completo idiota, mas tirado e fodástico o bastante pra despertar - de uma forma meio forçada - nossa simpatia.
Os demais personagens, apesar de terem a devida importância na trama, também são bastante batidos e Alexis, uma militar aparentemente durona, obviamente não resiste aos "encantos" desse maluco, talvez pra dar um ar de romance na história e fugir um pouco de tanta tensão/ação. Clichê...

Uma coisa que percebi é que o autor parece entender bastante, ou ter pesquisado muito, sobre economia e tecnologia. As cenas são bastante autênticas, mas um leitor sem muita noção sobre situações que envolvam o mercado acionário, tesouro público e a bolsa de valores, por exemplo, pode ficar um pouco confuso com termos utilizados e até a forma com que os personagens se preocupam com o caos que se instala ali. É necessário uma atenção maior durante a leitura devido a complexidade da trama.
É uma boa história e faz com que o leitor reflita sobre o quanto a mídia e o governo fazem de tudo para manter o povo alheio e ignorante a assuntos importantes e que afetam a vida de todos, direta ou indiretamente, abordando elementos como as consequências de se impedir cidadãos de seus direitos em nome da "segurança", os estragos que um hacker é capaz de fazer quando invade e manipula sistemas de utilidade pública e até a questão dos trabalhadores de países subdesenvolvidos e a mão de obra escrava que fornecem para grandes potências.

Indico pra quem gosta de livros no estilo de autores como Dan Brown, cujo ritmo é frenético, possui toques de bom humor e mostra conspirações e situações mirabolantes que meros mortais jamais pensaram que pudesse existir. Mas indico ainda mais pra quem gosta de filmes como A Identidade Bourne (Matt Damon), A Rede (Sandra Bullock) e até Busca Implacável (Liam Neeson).
Eu gostei do livro e recomendo, e ao saber que os direitos da obra foram comprados pela Fox para uma futura série de TV, fiquei muito mais curiosa por este formato em especial.

Vida Após o Roubo - Aprilynne Pike

27 de novembro de 2015

Título: Vida Após o Roubo
Autora: Aprilynne Pike
Editora: Bertrand Brasil
Gênero: Jovem adulto/Sobrenatural
Ano: 2015
Páginas: 264
Nota: ★★★★★
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: Kimberlee Schaffer talvez fosse linda de morrer... só que ela acabou morrendo mesmo, há mais de um ano. Agora, precisa da ajuda de Jeff para resolver alguns assuntos pendentes. E não vai aceitar um "não" como resposta. Quando estava viva, Kimberlee não era apenas uma menina maldosa; era, também, cleptomaníaca. Portanto, se Jeff não quiser ser assombrado pelo fantasma dela até o dia de sua formatura, terá de ajudá-la a devolver tudo que roubou. Rapidamente, porém, ele descobre que é muito mais fácil roubar do que devolver. Pagar pelos erros cometidos adquire um significado completamente novo nesta versão moderna e inteligente do clássico Pimpinela Escarlate, criada por Aprilynne Pike.

Resenha: Jeff não estava nada feliz com a escola nova, estava odiando tudo alí, mas em seu primeiro dia de aula ele acaba vendo uma garota deitada no meio do corredor, despreocupada com tudo e mascando um chiclete. Preocupado com o bem estar dela, Jeff oferece ajuda mas o que viria a seguir era algo que ele jamais imaginaria... Kimberlee Schaffer ficou chocada por Jeff tê-la visto, incrédula, pois, até então, ninguém mais podia. Ela havia se afogado acidentalmente há um ano e meio e morreu, e desde então se manteve presa no mundo dos vivos, um fantasma, completamente solitária, acreditando que não havia atravessado por ter pendências a serem resolvidas. Jeff se recusou a acreditar no que estava acontecendo, por mais que Kimberlee tivesse provado. Pra ele tudo não passava de uma brincadeira de mau gosto da qual ele estava ficando de saco cheio. Mas como Jeff era o único que podia vê-la e ouví-la, para seu tormento, Kimberlee passou a seguí-lo em todos os cantos sem a menor intenção de deixá-lo pois ele era o único que podia ajudá-la com seus assuntos pendentes. Quando era viva, além de maldosa, Kimberlee havia roubado várias e várias coisas dos estudantes de Whitestone e, acreditando que este era o motivo que a mantenve presa, afinal, nos livros e filmes quando um fantasma não vai embora é porque tem assuntos pendentes, sua ideia era convencer Jeff a devolver as coisas aos seus verdadeiros donos, e, obviamente, ela não iria aceitar um "não" como resposta.
Mas quando as sacolas começam a aparecer "misteriosamente" para que fossem entregues aos donos, Jeff percebe que as coisas não poderiam ser tão simples e fáceis quanto ele pensou...

O livro é narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Jeff, e isso já foi um ponto diferente e bastante positivo pois geralmente esperamos que num Young Adult a versão dos fatos seja dado pelo ponto de vista feminino.
A escrita é muito leve e divertida e flui muito bem, cheia de sarcasmo nos diálogos enquanto acompanhamos Jeff em sua rotina adolescente, sua adaptação numa cidade nova, seu interesse amoroso por Serafina, a "Menina Linda", que avistou na escola e logo lhe chamou atenção, e tudo isso enquanto ele é obrigado a lidar com a esnobe garota fantasma que enche seu saco.
As situações em que Jeff e Kimberlee se encontram são bem críveis e realistas, exceto pelo relacionamento entre Jeff e seus pais. Achei que, talvez por eles serem jovens, eles eram despreocupados demais com os assuntos do filho revelando ideais que não condizem muito com a realidade. Sei que devem existir pais e mães malucos e que acham tudo normal, mas não consigo ver isso com muita naturalidade. Eu até cheguei a comparar algumas características dos pais de Jeff com a mãe da personagem Regina George do filme Garotas Malvadas.
Já o sobrenatural não foi algo que eu tenha considerado algo como um fator de destaque visto que ao que parece, a abordagem tende pro caminho da crença no desconhecido e do questionamento da fé.

Jeff é um personagem ótimo pois é exemplo de bom filho, bom aluno mas tem o pé no chão e não se deixa influenciar tão facilmente por nada nem ninguém. Ele faz o estilo meio nerd mas não é bobo nem se deixa fazer de bobo, ele só está tentando se adaptar ao novo estilo de vida que tem após ter vivido dificuldades e agora ser rico, pois seu pai conseguiu fazer um grande negócio na carreira e acertou uma bolada. Jeff sempre dá sua opinião sincera, e, às vezes, de forma debochada, tornando-o um personagem bastante agradável. Ele é engraçado e descontraído e sempre tenta enxergar o que há de melhor nos outros, por mais que não pareça existir nada de bom. Ele percebe que precisa ajudar Kimberlee e acaba gostando de ajudar as pessoas que foram roubadas por ela.

Kimberlee é o completo oposto. Ela faz o estilo patricinha, a típica menina rica e bonita, cheia de não me toques e sua arrogância passa dos limites, tanto que por ser insuportável em vida, ninguém sentiu sua falta quando morreu. Mas mesmo tendo morrido ela não aprendeu com seus erros e não mudou em nada seu jeito de ser, continuava se desfazendo dos outros e se comportando como uma eterna bitch. Ser cleptomaníaca era algo que a fazia infeliz, ela reconhecia que era sua fraqueza, mas Kim precisava manter a pose a qualquer custo. Ela tentou parar de roubar mas não conseguiu, e isso resultou em uma caverna cheia de coisas roubadas que jamais poderiam ser devolvidas depois de ela ter morrido, pelo menos não sem a ajuda de Jeff. E pra isso precisou engolir o próprio orgulho. Ela é bastante irritante e vive de ironias e sarcasmo, mas não posso negar que com o desenrolar da história sua aproximação maior com Jeff faz com que ela acabe tendo seus momentos de redenção aprendendo que ser controladora, manipuladora e mentirosa nunca a levaria a lugar algum na vida, e muito menos na morte...

O enredo fica ainda mais legal quando Jeff começa sua tarefa de devolver as coisas. Ele ganha aliados que não esperava e, claro, conquista a inimizade de alguns, mas em meio a essa missão ele descobre um sentimento bem forte. Uma coisa que me agradou bastante é que o romance não acontece entre os protagonistas, o que faz com que a história fuja completamente do clichê. Há sim momentos do tipo, mas não são reservados a Jeff e Kim, e é aí que entra Serafina. O problema é que a garota começa a demonstrar sinais de que não está sendo muito honesta, e Jeff chega a ficar em conflito com seus sentimentos acreditando que as garotas não são confiáveis.

A capa ilustrada é linda e bastante significativa pois o reflexo dos óculos escuros de Kimberlee mostram um local bastante importante da história. Ela é fosca com aplicação de verniz nas lentes do óculos e no título.
As páginas são brancas, a fonte tem um tamanho agradável e não percebi erros na revisão.

Vida Após o Roubo foi uma das leituras mais divertidas e com umas das melhores mensagens passadas que tive o prazer de ler. O enredo trata de um tema delicado com leveza e espirituosidade, os personagens são muito bem construídos e memoráveis e, apesar de um pouco previsível, a história reserva muitas surpresas ao leitor.
A autora consegue abordar o dilema da adolescência ao que se refere a amor, amizade, a descoberta da sexualidade, assim como o bullying, o abuso de drogas e a dificuldade da adaptação a uma vida totalmente diferente do costume, mas o principal é a ideia de que pra todas as nossas escolhas tomadas, há consequências que não afetam somente o indivíduo principal, mas também as pessoas que o cerca. A mensagem fica nas entrelinhas e é perfeita pois mostra que por mais que possamos vir a cometer erros, sempre temos escolhas e sempre podemos voltar atrás para recomeçarmos e reparamos o que fizemos de mal pra alguém, de forma intencional ou não, a fim de sermos pessoas melhores.