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O Livro de Memórias - Lara Avery

19 de agosto de 2016

Título: O Livro de Memórias
Autora: Lara Avery
Editora: Seguinte
Gênero: YA/Sick-lit
Ano: 2016
Páginas: 352
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Sammie sempre teve um plano: se formar no ensino médio como a melhor aluna da classe e sair da cidade pequena onde mora o mais rápido possível. E nada vai ficar em seu caminho - nem mesmo uma rara doença genética que aos poucos vai apagar sua memória e acabar com sua saúde física. Ela só precisa de um novo plano. É assim que Sammie começa a escrever o livro de memórias: anotações para ela mesma poder ler no futuro e jamais esquecer. Ali, a garota registra cada detalhe de seu primeiro encontro perfeito com Stuart, um jovem escritor por quem sempre foi apaixonada, e admite o quanto sente falta de Cooper, seu melhor amigo de infância de quem acabou se afastando. Porém, mesmo com esse registro diário, manter suas lembranças e conquistar seus sonhos pode ser mais difícil do que ela esperava.
Resenha: O Livro de Memórias, escrito pela autora Lara Avery e publicado no Brasil pela Seguinte é um YA que conta a história de Samantha McCoy, uma adolescente muito inteligente, dedicada e ambiciosa. Seu maior sonho é se formar no ensino médio e sair da cidadezinha onde mora para ir fazer faculdade em Nova York. Sammie foi diagnosticada com uma doença genética rara mas nem isso seria o suficiente para fazer com que ela desistisse de seu maior objetivo, ela só precisaria de outros recursos. Logo ela tem a ideia de escrever um livro para a Sam do futuro, colocando anotações sobre seus feitos, sua rotina e tudo o que ela vem passando para que pudesse ler um dia e nunca se esquecer. São registros detalhados sobre seus sentimentos e experiências das quais nunca havia experimentado antes, mas a medida que a doença avança, manter tais lembranças pode ser uma tarefa muito mais difícil do que ela imaginou.

O livro é um sick-lit que traz uma protagonista acometida pela Niemann-Pick C (NP-C), uma doença degenerativa e fatal, que faz com que haja um acúmulo de colesterol ruim no fígado e no baço. Esse acúmulo causa obstruções no cérebro, o que interfere na cognição, na função motora, na memória, no metabolismo e no funcionamento do corpo humano de forma geral. É como se o corpo ficasse falhando e estivesse sendo desligado aos poucos, e os sintomas são terríveis e catastróficos, tanto pra quem sofre com a doença como para quem está ao redor dela...
O diferencial da história desse livro em comparação com outras do gênero é que Sam sabe as consequências da doença e pouco se importa com o que será de seu corpo, sua maior preocupação é não permitir que sua mente brilhante seja apagada. Logo o que fica bastante evidente não é o drama em si somente devido à doença, mas a força de vontade de Sam e sua forma racional de lidar com o inevitável. A doença é o que move a personagem, que faz com que ela recorra a alternativas para tentar não deixar que seus planos sejam destruídos, mas são suas escolhas e o seu modo de encarar as coisas que dão desenvolvimento à trama.
"Por que não posso definhar lentamente e andar por aí em uma cadeira de rodas automática, declamando meu brilhantismo por meio de uma caixa de voz computadorizada, como Stephen Hawking?"
- Pág. 17
A história é narrada em primeira pessoa e tem um ritmo bastante agradável. No começo não me simpatizei muito com Sam por ainda não ter formado uma opinião sobre ela, mas com o desenrolar das coisas a leitura se tornou mais fluída e pude me apegar mais aos personagens.
É a própria Sam quem escreve cada página desse diário composto por memórias e muitas vezes ela se refere a si mesma como "você", pois seria ela lendo tudo aquilo num futuro. É possível ainda conferir intervensões de outros personagens em alguns capítulos, pois devido a doença, Sam, às vezes, está em um estado de completa confusão, e suas crises são muito realistas e comoventes.
Eu me identifiquei com Sammie em diversos pontos: sua nerdice, sua paixão por livros e seu senso de humor recheado de ironia. A presença da família de Sam também é algo que enriquece a trama, e está alí para dar apoio e fazer diferença em sua vida, mostrando que a dinâmica familiar é importante e pode fazer com que a história tenha um algo a mais que valha a pena acompanhar.
"A vida não é só uma série de conquistas.
Eu me pergunto quantas noites de filme perdi para estudar ou debater ou só reclamar. Não quero perder mais nenhuma."
- Pág. 234
O único ponto do livro que não foi muito favorável pra mim, por questão de gosto pessoal, foi a construção de um "triângulo amoroso", que ao meu ver, foi desnecessário. Sammie se interessa por Stuart, um garoto fofo e que é escritor. Mas quando Cooper, um amigo de infância que havia se afastado, entra em cena as coisas soaram um pouco forçadas e até convenientes. Não vou me aprofundar nesse ponto para não dar spoilers, mas posso dizer que entre Stuart e Cooper, fico com Cooper, pois embora tenha sido apresentado como um maconheiro espertinho, ele é doce e realmente se importa com Sam tanto quanto a família dela.

Em suma, O Livro de Memórias é um livro incrível e realista, que aborda uma doença triste com uma sutileza ímpar, e nos deixa acompanhar uma Sam cheia de coragem rumo a um destino inevitável. É comovente e talvez vá arrancar algumas lágrimas ao fim, e pra quem gosta de histórias do tipo, é leitura mais do que recomendada.

Zac & Mia - A.J. Betts

14 de outubro de 2015

Título: Zac & Mia
Autora: A.J. Betts
Editora: Novo Conceito
Gênero: Sick-lit/YA
Ano: 2015
Páginas: 288
Nota: ★★★★☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: A última pessoa que Zac esperava encontrar em seu quarto de hospital era uma garota como Mia - bonita, irritante, mal-humorada e com um gosto musical duvidoso.
No mundo real, ele nunca poderia ser amigo de uma pessoa como ela.
Mas no hospital as regras são diferentes. Uma batida na parede do seu quarto se transforma em uma amizade surpreendente.
Será que Mia precisa de Zac? Será que Zac precisa de Mia? Será que eles precisam tanto um do outro?
Contada sob a perspectiva de ambos, Zac e Mia é a história tocante de dois adolescentes comuns em circunstâncias extraordinárias. 

Resenha: Zac & Mia é um sick-lit voltado ao público jovem adulto escrito pela autora A.J. Betts e publicado no Brasil pela Editora Novo Conceito.

Zac Meier é um jovem de dezessete anos e tem leucemia. Ele já luta contra a doença há vários meses e a rotina do hospital se tornou algo comum pra ele. Dessa vez em que foi internado, Zac foi submetido a um transplante de medula e, enquanto se recuperava, ficava de olho em seu tablet procurando informações sobre estatísticas, expectativa de vida e afins para pessoas transplantadas. Soa melancólico, mas por ser uma pessoa extremamente lógica, era com isso que Zac passava o tempo e lidava com sua doença. Ele quer sair do hospital e quer lutar por sua vida, que voltar pra casa logo, mas por enquanto não tem outra alternativa a não ser fazer suas pesquisas. Ele então compartilha sua história de superação com seus amigos e familiares no Facebook.
Sua estadia no hospital parecia ser como todas as outras, mas uma nova paciente é sua vizinha do quarto ao lado. Mia. Uma garota bonita, mas furiosa e revoltada por não se conformar em ter que ficar presa ali enquanto a vida passa. Ela acha que está perdendo tudo o que poderia aproveitar. Mia vivia discutindo e brigando com a mãe e fazendo de tudo para esconder a situação dos amigos, fazendo parecer que tudo estava bem com ela quando na verdade não estava. Mia quer fugir da realidade em que se encontra a todo custo.
Zac decide então se aproximar... batidas na parede, um pedido de amizade do Facebook, conversas durante a madrugada... Ele encontra alí uma missão: ajudá-la a passar por essa fase tão difícil.

Se você pensa "lá vem mais um livro que vai me fazer chorar litros sobre um casal que está morrendo de câncer", pare - agora -. Se compararmos com outros livros do gênero, a única coisa em comum é a doença e nada mais. O comportamento dos personagens e o rumo que eles dão à história é simplesmente incrível e único. Zac e Mia possuem perspectivas e vibrações diferentes, seja na forma de encarar a doença, na forma de verem as coisas ou de agir diante do que está a frente.

O livro é narrado em primeira pessoa e isso permite ao leitor uma proximidade maior com os personagens, com seus medos, anseios e seus dilemas. Dividido em três partes, os capítulos se intercalam entre os protagonistas, assim podemos saber dos pontos de vista de cada um deles para cada situação que eles enfrentam. Ainda que o tema seja delicado, a leitura é leve e flui muito bem.
Foi adorável acompanhar os encontros desajeitados de Zac e Mia e como as diferenças que eles possuem foram as responsáveis por fazer surgir uma grande amizade entre os dois. É comum que em história do tipo surja um romance que vem a partir da amizade, mas neste livro as coisas permanecem da mesma forma, a amizade ganha força e ultrapassa todas as barreiras.
Eu gostei da construção dos personagens, não apenas por eles serem o total oposto um do outro, mas porque eles estão no mesmo barco, lutando pela vida, ainda que exista um preço a pagar...
A escrita da autora também é ótima pois ela construiu diálogos espirituosos dentro de um drama que envolve e desperta a esperança em qualquer um.

Zac é um expert no que diz respeito ao tratamento contra o câncer. São muitos meses indo e vindo do hospital e ele acabou adquirindo uma inevitável experiência no assunto. Além de tolerante e muito amável, ele é muito lógico, tem facilidade com números e uma memória incrível. Todas as pesquisas que ele faz sobre o câncer, taxas de sobrevivência e afins lhe são úteis e servem de argumento - e esperança -. Sua família e todos que estão a sua voltam sabem de sua doença e não hesitam em apoiá-lo, e sua situação acaba contrastando com a de Mia, pois ela é curta e grossa, egoísta, irresponsável e não é má somente com os outros que estão a sua volta, mas com ela própria. Ela não aceita muito bem sua condição e acha que só sua mãe deve saber da doença, insiste que sua vida não deveria mudar, além de parecer não se dar ao respeito e quer agir com agressividade, talvez para mascarar sua fragilidade. Esse comportamento dela é irritante mas, até certo ponto, compreensível visto que ela precisa lidar com um câncer terrível que, querendo ou não, pode despertar o pior que há nela.
E por mais que Mia seja tão intragável, Zac decide salvá-la. E o melhor é que ele não a salva do câncer propriamente dito, mas ele a salva de si mesma... As decisões que ele toma são sempre impulsionadas pela lógica, mas quando se trata de Mia, ele age com o coração. Ela tenta afastá-lo mas é inútil pois não havia pessoa que pudesse entender melhor o que ela estava passando do que ele. E Zac queria estar lá, pra ela e por ela. É muito bacana saber que uma vida tão amarga pode se tornar doce a partir de pequenas atitudes e incentivos vindos de quem não se deixa intimidar...
Um ponto que acho válido destacar é o assunto do câncer e a forma como ele é abordado pelas pessoas no Facebook, e um trecho em especial em que Mia pergunta o que acontece com perfis de pessoas mortas. É algo válido para se refletir acerca da perda, da morte e do luto na era digital em que vivemos, onde tudo é movido via redes sociais.

A capa do livro é muito bacana e chamativa e o trabalho gráfico do livro em geral está muito bem feito. A página de cada início de capítulo tem as pétalas da capa e a mesma fonte descolada. As páginas são amarelas e o tamanho da fonte é agradável. Percebi alguns erros na revisão do livro, mas nada que interferisse na leitura a ponto de incomodar.

O livro é ótimo, sem dúvidas. A história mostra realidades bem parecidas, porém vistas sob olhares diferentes. Zac é lógico e realista, e Mia se deixa levar pelo momento, pela emoção da vez, geralmente a raiva, e isso sempre causa conflitos. Como dois adolescentes que são o oposto um do outro podem conviver numa boa?
Pra quem quer ler sobre uma história muito bonita e comovente sobre sofrimento e superação, mas principalmente sobre amizade verdadeira de dois jovens que encontram um ao outro sob as piores circunstâncias, recomendo!

Uma História de Amor e TOC - Corey Ann Haydu

9 de julho de 2015

Lido em: Junho de 2015
Título: Uma História de Amor e TOC
Autora: Corey Ann Haydu
Editora: Galera Record
Gênero: YA/Sick-lit/Romance
Ano: 2015
Páginas: 320
Nota: ★★★★☆
Sinopse: Bea foi diagnosticada com transtorno obsessivo-compulsivo. De uns tempos pra cá, desenvolveu algumas manias que podem se tornar bem graves quando se trata de... garotos! Ela jura que está melhorando, que está tudo sob controle. Até começar a se apaixonar por Beck, um menino que também tem TOC. Enquanto ele lava as mãos oito vezes depois de beijá-la, ela persegue outro cara nos intervalos dos encontros. Mas eles sabem que são a única esperança um do outro. Afinal, se existem tantos casais complicados por aí, por que as coisas não dariam certo para um casal obsessivo-compulsivo? No fundo, esta é só mais uma história de amor... e TOC.

Resenha: Uma História de Amor e TOC, escrito pela autora Corey Ann Haydu e lançado no Brasil pela Galera Record conta a história de Bea, uma adolescente diagnosticada com transtorno obsessivo-compulsivo e que, segundo a definição dela própria, é alguém muito peculiar. Devido ao seu problema, ela perseguiu e acabou afastando o primeiro namorado que teve de sua vida, Kurt. Sua obsessão saiu fora de controle após ter sido dispensada por ele e Bea começou a fazer sessões de terapia.

Há um tempo atrás, enquanto esperava mais uma de suas sessões com a Dra. Pat, Bea, sem querer, ouve a conversa conturbada do casal Sylvia e Austin. Isso despertou o interesse da garota e, de certa forma, acaba ajudando-a a controlar sua ansiedade a mantendo calma, principalmente porque tudo parecia uma grande novela... Traição, mágoa, sentimento de culpa, falta de amor próprio e outros problemas de relacionamento do tipo são abordados pelo casal em conversas sórdidas, pesadas e carregadas de rancor, mas eles ainda tinham esperanças de fazer o casamento dar certo com ajuda da terapia. Mas a partir daí, Bea não consegue mais viver se não puder chegar mais cedo na sessão só para ouvir a conversa do casal, pois só assim ela pode ter certeza que tudo ficará bem e o mundo não vai se autodestruir matando a todos. Ela ainda precisa registrar tudo que ouve num diário cor-de-rosa com uma estrela enorme super cafona que ganhou do pai, para poder eternizar aqueles momentos e jamais esquecer do caso deles. E, além de ser uma completa stalker, Bea ainda tem outras "manias"...

Ela vive beliscando as próprias pernas em momentos de nervosismo, fala o que pensa pra estranhos mesmo que aquilo soe ofensivo, não consegue dirigir a mais de 50km/h, sente uma necessidade enorme de passar na mesma rua duas vezes para se certificar de que não atropelou nenhuma criança, e garantir a segurança ficando sempre alerta para que não haja nada pontiagudo e perigoso por perto que a faça acabar matando alguém... E Bea vai levando sua vida aprendendo a lidar com essa neura até que numa festa ela consegue acalmar um garoto desconhecido que teve um ataque de pânico após todos ficarem no escuro devido a uma queda de energia, mas, o que ela não esperava era que após a Dra. Pat sugerir que ela participasse de terapia em grupo, reencontraria Beck, o garoto que ajudou na festa, e tão problemático quanto. Beck tem compulsão por malhar e é obcecado por limpeza e pelo número 8. TUDO que ele faz se repete por exatas 8 vezes ou tem duração de 8 minutos.
E essa aproximação vai render alguns momentos tão loucos quanto adoráveis quando ao mesmo tempo em que encaram o tratamento, descobrem que se entendem e que irão encontrar um no outro a única esperança de terem algum progresso.

Ao iniciar a leitura desse livro, a primeira coisa que me chamou atenção foi a capa linda linda. A frase "não vou stalker esse cara" parece algo engraçado e dá ideia de alguém tentando controlar seu comportamento mostrando bem a questão da obsessão. Antes de ler, levei a sinopse em consideração e acreditei se tratar de um livro cômico que fizesse algum tipo de piada com a ideia de um casal com transtorno obsessivo-compulsivo manterem um relacionamento fofo mas maluco, com manias mais malucas ainda, mas não foi bem isso o que encontrei aqui...

Narrado em primeira pessoa pelo ponto de vista de Bea acompanhamos de forma lenta e gradual uma garota muito problemática, e, a medida que o tempo passa, só se torna pior no que diz respeito às compulsões e obsessões que tem. Bea enxerga problemas nos colegas de terapia e acredita que, mesmo sendo louca, ou melhor, peculiar, não há nada de errado com ela e que tudo está sob controle. Foi fundamental que a narrativa seguisse sob os olhos da protagonista, pois assim o leitor acaba sentindo na própria pele todas as sensações de Bea, mesmo que sejam incômodas.
Na terapia, Bea convive com outros adolescentes, cada um com seu próprio TOC, e saber um pouco mais sobre esses personagens foi algo que me causou agonia e gastura extrema, mas, ainda que tenha sido um sofrimento acompanhá-los, a autora consegue descrever com maestria a obsessão bizarra de cada um deles. Isso foi algo que me deixou agoniada por saber que mesmo fora da ficção, existem pessoas tão problemáticas quanto, ou até piores, e como deve ser terrível viver dessa forma. Imagine alguém como a personagem Jenny, que simplesmente arranca tufos do próprio cabelo!

O que mais me chamou atenção nessa história foi o fato de que fica claro que as pessoas que têm TOC acreditam que seus comportamentos lhes trarão a sensação de segurança, ordem e tranquilidade quando na verdade estão muito distantes de alcançarem isso... Outro ponto que percebi foi a ideia das pessoas serem capazes de reparar os erros alheios ou apontar o dedo para os outros em forma de julgamento, sem enxergar os próprios defeitos, ou não levar em consideração a ideia de que ninguém é perfeito. Não que Bea seja hipócrita, afinal, ela sofre de um transtorno que teve início a partir de um grande trauma e, teoricamente, ela não percebe essa compulsão e obsessão justamente por não ter conseguido superar seus problemas. Apesar de ela, aparentemente, ser alguém normal, ela é uma pessoa doente e que precisa de muita ajuda por pensar e fazer coisas completamente absurdas. E justamente por isso alguns leitores podem não aceitar bem sua construção e acabarem não sentindo a menor simpatia por ela. Mas pelo exemplo dela é possível perceber que nem sempre é necessário que alguém sofra de TOC, ou tenha sido diagnosticado com qualquer outro problema psicológico ou ainda que tenha vivenciado algum trauma para deixar que a hipocrisia reine criticando os outros sem olhar pra si mesmo e para os próprios erros.

Talvez a intenção da autora tenha sido mostrar de forma crua e verdadeira como é a vida de uma pessoa obsessiva para vermos esse lado complexo de quem sofre desses transtornos. Talvez a ideia seja mostrar como isso interfere na vida de quem a cerca de forma que seja possível entender um pouco sobre como é difícil pra todos os envolvidos lidar com esse problema. Bea persegue o casal e acha isso algo normal e que faz bem a ela... mas como deve ser a sensação de descobrir que alguém que você nunca viu sabe seus segredos mais íntimos?

Uma História de Amor e TOC é um daqueles livros que beiram o brilhantismo e que só ao final paramos pra analisar se realmente gostamos ou não. Com ele é possível aprender sobre TOC quase de forma didática. Ele retrata de forma real, honesta e sensível como funciona a cabeça de uma pessoa obsessiva e do que ela, de forma consciente ou não, é capaz de fazer só para tentar seguir em frente, ou dar passos cada vez maiores pra trás...

Antes eu pensava que tinha algum TOC por ter mania de organização, mas essa leitura me pôs no meu devido lugar... Meu caso é frescura perto do que encontrei aqui...
Pra mim o livro não mostra necessariamente uma história de amor feliz, pois por mais que Bea e Beck se entendam e consigam, do jeito deles, ajudar um ao outro, não acredito que nada de bom, pelo menos a longo prazo, possa vir de um romance entre duas pessoas cujas mentes não estão sãs. Entendo que mesmo na dificuldade eles descobrem a paixão e se completam de acordo com seus problemas e necessidades emocionais, mas isso ainda é diferente de amor. O amor é um sentimento que vai além do que eles são capazes de administrar no momento...

Talvez a história de amor em questão não seja necessariamente a de Bea e Beck, mas de Austin e Sylvia, que mesmo sendo personagens secundários tendo a vida explorada por quem os está perseguindo, buscam ajuda para reascender a chama de um relacionamento que foi estragado por alguns erros cometidos, afinal, é válido tentar consertar as coisas antes de desistir de vez...
Não acho que seja um livro indicado a todos pois só quem é dotado de muita sensibilidade e paciência vai conseguir aceitar, entender ou ter afeição por Bea pela forma como ela é, mesmo que não concorde ou se assuste com suas atitudes desagradáveis... O tema abordado é sério pois a obsessão não é algo saudável. É uma leitura que causa desconforto e pode ser emocionalmente dolorosa, confesso, mas posso dizer que, a partir do que absorvi, vai trazer reflexões profundas e intensas sobre a tentativa de compreensão do comportamento das pessoas ao nosso redor.