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O Urso e o Rouxinol - Katherine Arden

16 de outubro de 2017

Título: O Urso e o Rouxinol - The Winternight #1
Autora: Katherine Arden
Editora: Fábrica231
Gênero: Fantasia
Ano: 2017
Páginas: 320
Nota:★★★★★
Sinopse: O urso e o rouxinol mistura aventura, fantasia e mitologia ao acompanhar a jornada da jovem Vasya, criada, junto aos irmãos, num vilarejo próximo de uma floresta, e que cresceu ouvindo de sua ama contos e lendas sobre criaturas que vivem nas matas e que precisam receber oferendas para manter o mal adormecido em seu interior. Mas a chegada de Anna, madrasta de Vasya vinda da capital, de hábitos católicos, e de um padre ortodoxo que resolve instituir as práticas cristãs no vilarejo, provoca uma mudança na rotina da menina e abre as portas para uma terrível catástrofe. Sensível e determinada, Vasya é a única que consegue enxergar e conversar com esses seres fantásticos e torna-se a última esperança para salvar o povoado onde nasceu da destruição.

Resenha: O Urso e o Rouxinol é o primeiro livro da trilogia The Winternight, baseada no folclore russo, escrita pela autora estreante Katherine Arden e publicado no Brasil pelo selo Fábrica231 da Editora Rocco.

Ambientada na época medieval, nas terras distantes do norte da Rússia, onde o clima gelado castiga os aldeões e os animais, conhecemos Vasya, uma adorável garotinha com espírito livre e que odeia qualquer tipo de limitações.
Vasya vive com seus irmãos mais velhos e protetores, e é sempre agraciada por contos fantásticos que Dunya, a ama, lhes conta para espantar o frio e chamar o sono. São histórias sobre o temido Rei do Inverno, que é considerado a própria Morte, e também seu irmão gêmeo, o Urso, que se alimenta do medo e das guerras ficando cada vez mais forte. Embora Dunya sempre tenha ensinado que os espíritos que protegem sua família devem ser honrados para que a proteção não se quebre, Vazya acredita que os gêmeos são reais e representam uma ameaça terrível para seu povo.

Depois que a mãe de Vasya morre, seu pai, Pyotr, parte para Moscou, mas a vida despreocupada e feliz da garota chega ao fim quando ele retorna com Anna, uma nova esposa. Isso não só surpreende a família, como traz consequências terríveis para toda a comunidade. Anna também é capaz de ver os espíritos da terra, assim como Vasya, mas ao contrário fa garota, ela os considera como demônios. Assim, Anna alimenta as próprias crenças e repreende o que for diferente do que ela acredita, assim, os espíritos guardiões que os protegem começam a ser desonrados... Movidas pelas crenças cristãs pregadas por Konstantin, um jovem padre que veio à comunidade pregar contra as crenças locais a pedido de Anna, as pessoas começam a abandonar suas crenças e seus espíritos guardiões, a intolerância gera caos e discórdia, e a medida que os espíritos se enfraquecem, coisas assombrosas que assolam toda a aldeia começam a acontecer.
A pedido da Anna, um jovem padre chamado Konstantin vem à comunidade e começa a pregar contra as antigas crenças locais, o que gera discórdias e afeta os espíritos guardiões, que, enfraquecidos, se tornam vulneráveis a um inimigo demoníaco.
Agora Vasya deverá correr contra o tempo e lutar pelo que seu povo acredita, antes que seja tarde.

Narrado em terceira pessoa, a trama se desenvolve de forma lenta e gradual, mas é intrigante e envolvente o bastante para manter o leitor atraído a cada página. Os nomes dos personagens e alguns termos utilizados podem soar estranhos à primeira vista devido a serem de origem russa, mas a atmosfera criada pela autora é muito rica, digna de contos de fada, tão mágica quanto sombria, e a pequena aldeia num bosque ao norte da Rússia é cenário mais do que perfeito para o desenrolar da história. As descrições da vida cotidiana na época medieval são bem realistas e as metáforas embutidas nas histórias contadas pela ama só enriquecem ainda mais o enredo.

Vasya é uma garota determinada, rebelde e teimosa, mas também tem um coração enorme e cheio de amor. Sua conexão com a natureza é intensa e é como se uma fizesse parte da outra. Suas crenças pagãs acabam despertando a fúria de sua madrasta, que decide controlar a menina baseada nas próprias crenças que ela acredita tão cegamente.
Os personagens, então, passam a acreditar na religião moderna, o cristianismo, mas muitas ainda não perderam a ligação com as histórias antigas, e é através disso que a autora traz reflexões relevantes acerca da fé e o que as pessoas fazem em nome dela, da intolerância perante outras práticas religiosas, e ate mesmo do feminismo frente a uma sociedade totalmente machista. Ela mostra o estrago causado quando as pessoas são movidas a acreditarem em algo pelo medo, principalmente quando elas se encontram num estado de fraqueza, e que há uma diferença enorme quando a devoção religiosa é despertada pelo terror em vez do amor...

O Urso e o Rouxinol é uma história incrível e necessária, por ser capaz de abordar temas atuais de forma delicada e reflexiva, e que questiona papeis sociais mostrando como a intolerância e os discursos de ódio são prejudiciais para as pessoas, e tudo isso através de uma mitologia que envolve os mais assombrosos e fascinantes contos de fadas.