Título: É Assim que Acaba - It Ends with Us #1 Autora: Colleen Hoover
Editora: Galera Record
Gênero: Romance/Drama
Ano: 2018
Páginas: 368
Nota:★★★★★♥
Sinopse: Lily é uma jovem que se mudou de uma cidadezinha do Maine para Boston, se formou em marketing e abriu a própria floricultura. E é em um dos terraços de Boston que ela conhece Ryle, um neurocirurgião confiante, teimoso e talvez até um pouco arrogante, com uma grande aversão a relacionamentos, mas que se sente muito atraído por ela. Quando os dois se apaixonam, Lily se vê no meio de um relacionamento turbulento que não é o que ela esperava. Mas será que ela conseguirá enxergar isso, por mais doloroso que seja?
Resenha: Lily Bloom é uma jovem de vinte e três anos, apaixonada por plantas, que saiu de uma cidadezinha no Maine e se mudou para Boston há dois anos e mora com sua colega de apartyamento, Lucy. Lily é fã de Ellen DeGeneres desde criança, e, até seus dezesseis anos, escrevia cartas pessoais em forma de diário (o que ela chamava de
Diários de Ellen) onde contava os acontecimentos de sua vida sem a menor intenção de enviá-las. No diário ela escrevia como se estivesse conversando com a própria Ellen, contando sobre seu cotidiano, sobre os episódios envolvendo seu pai e sua mãe, sobre ideias que ela tinha para o programa, e sobre Atlas, um garoto sem teto que invadiu uma casa abandonada da vizinhaça a quem ela resolveu ajudar. Formada em marketing, agora ela quer abrir a própria floricultura numa tentativa de ter uma vida estável fazendo o que gosta. Quando o pai de Lily morre, sua mãe lhe pede para que ela faça um discurso fúnebre para falar de cinco coisas boas que ele fez em vida, mas Lily acaba não sendo capaz de se lembrar de nada realmente bom que seu pai tenha feito... Ela sai do velório e vai até o terraço de um prédio para espairecer, e talvez chorar um pouco. E é lá que ela conhece Ryle Kincaid, um jovem neurocirurgião rico, muito bonito e bem sucedido que parece ter aversão a relacionamentos e tem como principal objetivo de vida ser brilhante em sua carreira.
A atração é inevitável, eles parecem ser perfeitos um para o outro, mas cada um segue seu caminho a partir dalí sem que nada acontecesse entre eles. Seis meses depois, Lily saiu do emprego e está lidando com os preparativos para, finalmente, abrir sua floricultura, e é onde ela conhece Allysa, que se oferece para trabalhar pra ela. Elas logo se tornam melhores amigas enquanto conversavam e davam uma geral no lugar. Mas Lily sofre um pequeno acidente e Allysa liga para seu marido e seu irmão, que estavam juntos num bar próximo, pra virem ajudar, e para surpresa de Lily, o irmão de Allysa era ninguém menos do que Ryle. Teria sido o destino? Talvez, mas essa reaproximação acabou fazendo com que Ryle se rendesse aos encantos de Lily, passando a ter sentimentos por ela dos quais ele nunca sentiu por mais ninguém, e não demora muito até que eles comecem um relacionamento mais sério. Mas da mesma forma que Lily traz traumas de um passado conturbado em família enquanto protege suas lembranças de Atlas como seu primeiro amor, Ryle também carrega traumas de um passado que ele esconde e tenta esquecer, mas que ainda reflete em quem ele se tornou...
Sabe quando a gente termina uma leitura e fica baqueada pelo impacto que ela tem, ou fica sem encontrar as palavras certas para falar sobre? Pois é... Pra ler os livros da
Collen Hoover é preciso ter a mão um kit emergencial pra recomposição, pois as lágrimas e os soluços são inevitáveis (quando li
Um Caso Perdido eu quase morri). Demorei séculos pra tomar coragem, mas resolvi ler sem procurar saber do que se tratava, e sequer li a sinopse, logo, foi quase como levar um soco no estômago acompanhar essa jornada de Lily.
A escrita de Colleen é um negócio surreal. Ela é capaz de transportar o leitor pra dentro da história, de fazer com que a gente sinta na pele o que os personagens sentem e vivem, tornando a experiência de leitura marcante e indelével. A narrativa é feita em primeira pessoa e se alterna entre presente, com o desenvolvimento do relacionamento entre Lily e Ryle; e passado, onde ela relembra as situações envolvendo seu pai, sua mãe, e Atlas. E quando, no presente, Atlas reaparece, as coisas começam a tomar um rumo bastante inesperado. A existência de Atlas já é o suficiente para afetar Ryle de uma forma assombrosa e, consequentemente, o relacionamento dele com Lily.
O tema central do livro é a violência doméstica e a forma como a vítima fica totalmente dividida entre o amor que ela sente, a ideia da primeira agressão ter sido um caso isolado, e o pensamento de que a ferida aberta é algo irreversível. A nota da autora inclusive fala sobre sua própria e emocionante experiência (o que torna este o seu livro mais pessoal), e sobre o livro ser instrutivo, pra mostrar um pouco da realidade de quem vive essas agressões, de como a pessoa vive num tipo de prisão, criando milhares de desculpas pra justificar o comportamento do agressor, e como isso além de afetar a mulher em todos os aspectos, a mantém num círculo sem fim quando ela se recusa a enxergar a realidade, o que foi o caso de Jenny, a mãe de Lily.
Embora haja o lado romântico entre Lily e Ryle, esse romance é apenas um elemento que serve pra mostrar como ele se instala devagarinho, até começar a revelar seu lado mais obscuro e perturbador. Mesmo que o tema seja pesadíssimo, ele foi escrito de uma forma leve e muito delicada, mas não com intuito de amenizar a dor ou a gravidade que é esse tipo de violência, e sim como forma de mostrar que é com simpatia e leveza que o agressor conquista a mulher até qualquer coisa servir de gatilho para mostrar seu eu verdadeiro e do que ele é capaz. Existe amor, mas se esse amor é demonstrado da pior forma possível, as decepções e o sentimento de impotência se sobrepõe a todo o resto, e ninguém merece ou deve ser destruída por esse sentimento. Não adianta acreditar que as coisas irão mudar se elas sempre se repetem, independente de quantos pedidos de desculpas e demonstrações de arrependimento comoventes intercalem as agressões... Amor e abusos juntos resultam num relacionamento tóxico, a confusão de sentimentos e pensamentos que surgem disso muitas vezes vão impedir que a vítima raciocine com clareza, e é para esses fatos que a autora chama a nossa atenção.
"No futuro, se por algum milagre você achar que é capaz de se apaixonar de novo, se apaixone por mim."
Lily é uma personagem muito cativante, engraçada, altruísta, inteligente, determinada, compreensiva e amorosa, e é impossível não gostar e não sentir empatia por ela. Ela sempre tenta agir com a razão, mesmo que o coração às vezes atrapalhe seus pensamentos. Talvez seja uma das melhores e mais marcantes personagens que já acompanhei nessa minha vida de leitora.
Ryle também é apaixonante, e isso é um enorme problema quando ele começa a ter seus surtos, pois da mesma forma que Lily acredita que ele jamais seria capaz de machucá-la por ele ama-la, eu também acreditei nele, e fiquei na expectativa de que ele mudasse ou tivesse seu momento de redenção, presa na ideia de que não é possível esse tipo de atitude abominável partir de um cara tão legal e que faz tudo pela pessoa que ele ama. Lá vem Colleen estapeando nossas caras mostrando como as mulheres, por mais firmes e esclarecidas que sejam, podem se deixar levar e cair nesse tipo de cilada. E só quem vive sabe como é e como é difícil sair.
Atlas é outro personagem incrível digno de admiração. Ele também teve seus traumas no passado que o quebraram em mil pedaços, mas ele conseguiu superar, mesmo que jamais tenha esquecido o que viveu com Lily. Ele é forte, batalhador, gentil e acaba se tornando o porto seguro dela. É muito bonito ver como ele lhe estende a mão, como ele se preocupa, e como ele só quer que ela fique bem e seja feliz.
Os personagens secundários também são maravilhosos e muito bem construídos. Allysa, por mais endinheirada que seja, é totalmente desprendida das coisas. Ela se mostrou uma amiga maravilhosa, que não só apoia Lily, como também lhe dá conselhos e alertas inteligentes e importantes. Ela inclusive trabalha pra Lily ~de graça~ só pra ocupar seu tempo, ter algo pra fazer e com quem conversar, e não cair na depressão.
Enfim, o livro vai trazer uma reflexão sobre a coragem necessária pra se quebrar esse padrão, sobre se ter empatia com quem está numa situação dessas, e sobre tentar compreender que, embora as pessoas lidem com seus traumas das mais diversas maneiras, nada justifica a violência e que alguma coisa tem que ser feita pra isso chegar ao fim.
É Assim que Acaba é um drama poderoso, inspirador e emocionante, já entrou na lista de melhores livros que já li na minha vida, que vai tocar os leitores de uma forma indescritível, mostrando que é preciso tirar forças do além pra se fazer a escolha certa quando se está nas situações mais complicadas.