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Como Enfrentar o Ódio - Felipe Neto

10 de setembro de 2024

Título:
Como Enfrentar o Ódio
Autor: Felipe Neto
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Não ficção/Política
Ano: 2024
Páginas: 376
Nota:★★★★★
Sinopse: Ainda em 2009, Felipe Neto se tornou um fenômeno da internet no país. Seu conteúdo, agressivo mas bem-humorado, se direcionava inicialmente às tendências da época, mas logo se voltou também à política, em especial ao governo do Partido dos Trabalhadores (PT). No entanto, com o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, a crescente aproximação da extrema direita ao poder e o recrudescimento de discursos de ódio contra minorias, Felipe passou a questionar suas convicções.
Em Como enfrentar o ódio , ele retrata seu processo de tomada de consciência política ― tão semelhante ao de milhões de brasileiros ― e o papel do ódio em sua vida, primeiro como força propulsora de sua carreira e depois como ferramenta de que ele próprio se tornou vítima, em especial durante o governo de Jair Bolsonaro. Entrelaçando sua história aos principais acontecimentos dos últimos quinze anos e oferecendo uma perspectiva única sobre a internet e seu papel na manipulação dos usuários, Felipe nos convida a usar a boa comunicação para combater o obscurantismo, o retrocesso e o ódio que assola a sociedade.
 
Resenha: Depois de mais de uma década atuando na internet e se tornando um dos maiores influenciadores do Brasil e do mundo, Felipe Neto conta um pouco da sua trajetória pessoal e política, explica como e por que houve mudanças em seu viés político, aborda os momentos mais marcantes e problemáticos em sua carreira, fala dos seus erros e acertos e, acima de tudo, aponta os piores momentos da História recente do país e o que precisou enfrentar diante de ataques, perseguições, tentativas de silenciamento, ameaças de todo tipo e muito ódio vindos do governo do ex-presidente e seus apoidores.

O livro todo é um relato de vários acontecimentos em sua vida, desde as dificuldades que passava na infância com a família, até começar a fazer sucesso no YouTube com seus videos bem humorados (ou indignados) onde ele encarnava um personagem super agressivo e boca suja (eu acompanhava inclusive). E aproveitando essa pegada de reclamar, xingar, expor ao ridículo e apontar tudo o que ele achava absurdo, Felipe também descia a lenha no governo do PT e não hesitava em gravar videos xingando Lula e Dilma dos piores nomes possíveis justamente por ter crescido acreditando em tudo aquilo que a direita faz questão de convencer as pessoas a espalharem por aí (sem se preocupar com os fatos): "a esquerda é suja, a esquerda rouba, a esquerda quebra o país, a esquerda gera gente folgada, esquerda é viés de gente que não trabalha, a esquerda é satanista, a esquerda quer implantar o comunismo no Brasil, a esquerda é a escória" e por aí vai...

Olhando pra realidade e reconhecendo que sua opinião influencia milhões de pessoas, ele passou a questionar se tudo aquilo que foi levado a acreditar com relação a política - e que ele esbravejava e replicava em seus videos - realmente fazia algum sentido, e entre gravar videos pro seu canal e participar de reuniões de trabalho, ele encontrava tempo para ler e aprender mais sobre política, e muito coisa refutava o que ele acreditava. Alguns processos que corriam no país na época deixavam muito claro que era impossível não questionar não só a legalidade, mas também e integridade daquilo, como foi com a Lava-Jato e a condução parcial - e sem provas - do caso pelo ex-juiz Sérgio Moro contra Lula, ou o golpe que Dilma Rousseff sofreu pra ser tirada da presidência, por exemplo.

Assim, Felipe uniu essa nova percepção política às mudanças que ele entendeu serem necessárias em sua vida, como a adequação do seu conteúdo ao seu novo público e a mudança ética e moral onde ele percebeu que os xingamentos e piadas que costumava fazer não cabem mais na sociedade que vivemos. Por reconhecer os erros cometidos e aprendido com eles, os haters passaram a chamá-lo de hipócrita, mas ter se tornado um crítico ferrenho do governo Bolsonaro, principalmente diante das barbaridades que aconteceram durante a pandemia do Covid-19, fez Felipe Neto se tornar um dos principais alvos da perseguição da extrema direita.

Confesso que apesar do livro se chamar "Como Enfrentar o Ódio", é impossível ler sem morrer de ódio. Através de capítulos curtos, Felipe explica de forma clara, fluída, objetiva e com provas, como é o modus operandi da família Bolsonaro e aliados, como eles fazem uma mentira contada muitas vezes se tornar uma "verdade", e como ele foi vítima desse desgoverno. É impossível não se indignar com essa extrema direita: ataques coordenados, montagens bizarras e descaradas, recortes descontextualizados de trechos de videos que se encaixam em mentiras absurdas, uso da religião para manipulação das massas, ameaças horríveis contra opositores, incontáveis campanhas e fake news fabricadas e espalhadas para destruir a reputação dos "inimigos" e que alcançam milhões de pessoas, tentativas de imputações de crimes horríveis que jamais existiram e, claro, o uso do poder para interferir onde for possível para saírem ilesos como se nada tivesse acontecido. E Felipe conta com detalhes como teve que enfrentar tudo isso.

É possível perceber toda a sinceridade nas palavras de Felipe quando ele explica como caiu em si e decidiu mudar, e isso demonstrou o quanto ele é corajoso no meio dessa selva que é a internet, onde a cultura do cancelamento é quase uma lei e ninguém sai ileso.
Diferente de outros influenciadores grandes e vários artistas que se mantiveram em cima do muro para não serem massacrados e perderem dinheiro, Felipe Neto decidiu travar essa batalha pela verdade e pela justiça praticamente sozinho, e por mais que apanhe muito, ele também bate. Bate e rebate com a verdade e com provas, coisa que a direita jamais fará, já que dependem da mentira para atingir opositores ou manipular eleitores a seu favor.
Enfim, relembrar de alguns fatos escandalosos e descobrir outros que eu desconhecia foi como tomar um soco no meio da cara. Chega a ser inacreditável. Também é inacreditável e absurdo ver como os bolsonaristas insistem em descrever como "censura" a remoção de perfis propagadores de desinformação e publicações cheias de mentiras nas redes sociais, protestam contra a "ditadura do STF" e querem Alexandre de Morais na cadeia. Felipe ainda fala sobre sua luta em prol de uma lei para que as midias sociais sejam regulamentadas justamente para que essa prática suja e baixa seja extinta. Mas sair espalhando que Felipe Neto é a favor da censura e é contra a liberdade de expressão dá mais combustível para inflamar ainda mais essa máquina de ódio.

Acho que a única coisa que senti falta durante a leitura foi uma explicação, mesmo que breve, sobre o que é e como funciona o comunismo já que é muito mencionado pela direita, que faz questão de deturpar o conceito para fazer com que os outros acreditem que seja a maior ameaça que existe. E não é bem assim, convenhamos... O que ferra o pobre é o capitalismo.
O triste em tudo isso é saber que pessoas que ainda apoiam o ex-presidente e tem essa mentalidade extremista e contrária à esquerda jamais lerão algo do tipo, pois isso entraria em conflito com o que acreditam cegamente. Não aceitam ser confrontados com a verdade e, quando são, tentam justificar e partem pro ataque usando qualquer mentira que foi compartilhada no grupo do zap. Preferem continuar infernizando a vida dos outros com coisas que já foram desmentidas e esclarecidas, pois é a única "munição" que têm. Enxergar a verdade é difícil, mudar é difícil, assumir erros e injustiças cometidas é difícil... E quando a pessoa não está aberta a olhar pra frente e ouvir opiniões contrárias, é praticamente impossível que ela ceda de alguma forma.

No mais, Como Enfrentar o Ódio é um convite à transformação, é aquele tipo de livro necessário pra entender não só o processo admirável de mudança e amadurecimento do Felipe Neto, mas também ficar por dentro dessa época tenebrosa da História do Brasil, entender o que o bolsonarismo é capaz de fazer e o quão baixo puderam ir contra quem ousasse criticar, e como combater a desinformação com a verdade.

Pessoas Normais - Sally Rooney

11 de março de 2024

Título:
 Pessoas Normais
Autora: Sally Rooney
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Romance
Ano: 2019
Páginas: 264
Nota:★★★☆☆
Sinopse: Na escola, no interior da Irlanda, Connell e Marianne fingem não se conhecer. Ele é a estrela do time de futebol, ela é solitária e preza por sua privacidade. Mas a mãe de Connell trabalha como empregada na casa dos pais de Marianne, e quando o garoto vai buscar a mãe depois do expediente, uma conexão estranha e indelével cresce entre os dois adolescentes ― contudo, um deles está determinado a esconder a relação.
Um ano depois, ambos estão na universidade, em Dublin. Marianne encontrou seu lugar em um novo mundo enquanto Connell fica à margem, tímido e inseguro. Ao longo dos anos da graduação, os dois permanecem próximos, como linhas que se encontram e separam conforme as oportunidades da vida. Porém, enquanto Marianne se embrenha em um espiral de autodestruição e Connell começa a duvidar do sentido de suas escolhas, eles precisam entender até que ponto estão dispostos a ir para salvar um ao outro. Uma história de amor entre duas pessoas que tentam ficar separadas, mas descobrem que isso pode ser mais difícil do que tinham imaginado.

Resenha: Pessoas Normais, da autora Sally Rooney, conta a história do relacionamento de Marianne e Connell. Eles estão no ensino médio e nunca trocaram uma palavra, até que acabam se aproximando mais quando Connell vai buscar a mãe, que trabalha como empregada na mansão onde Mariane mora, e começam a se relacionar secretamente. Mas, Connell tem muito receio de que seus migos descubram sobre sua proximidade com Marianne, e tudo parece ir ladeira abaixo. E é essa premissa que vai impulsionando a trama até eles irem pra faculdade e iniciarem a vida adulta cheia de encontros e desencontros, enquanto alguns conflitos que envolvem questões de classes sociais e outros fatores vão surgindo. A dinâmica entre eles é moldada de acordo com o círculo social e com o ambiente que estão inseridos, mas quando Marianne começa a afundar e Connell passa a questionar suas escolhas, eles precisam definir até onde serão capazes de ir para ajudar um ao outro mesmo que façam de tudo pra ficarem separados...

A escrita da autora não é a melhor com a qual já me deparei e tive que recorrer ao audiobook pra terminar porque a sensação é que a história não desenvolve. Não é o tipo de narrativa que prendeu minha atenção, e a falta da travessão pra identificar os diálogos dos personagens foi um tanto estranho pra mim. Ela mescla situações do cotidiano com momentos sensíveis mas, talvez por se tratar de adolescentes muito "especiais", que lêem Marx por diversão, discutem política e estão intelectualmente acima dos outros porque sim, achei as coisas meio genéricas e artificiais demais. Mesmo que a autora sempre evidencie que Marianne e Connell são diferentes dos outros jovens, senti falta de mais camadas, mais profundidade e, acima de tudo, menos romantização das dificuldades e problemas que eles enfrentam.

Marianne é a adolescente rica e mais inteligente da escola que não se mistura com os outros e não liga pro que pensam dela (pelo menos até o término de um relacionamento falido). Ela vem de uma família abusiva que, obviamente, desencadeia vários traumas nela.
Connell foi criado pela mãe e, apesar de ser popular na escola, ele sofre de depressão e crises de ansiedade. São problemas delicados e bastante realistas, incluindo as diferenças gritantes de classes dos dois, que ambos tem dificuldade em lidar, mas a autora parece tentar levar isso pro lado do "inevitável", como se tudo se justificasse e tivesse que ser compreensível, principalmente quando os personagens começam a demonstrar o quanto são egoístas e de caráter duvidoso. Eles se relacionam sexualmente e vivem experiências memoráveis, mas ninguém pode saber, logo se afastam e não sabem porquê. Depois se envolvem com outras pessoas sem a menor relevância cujos relacionamentos são totalmente descartáveis e esquecíveis, mas não se libertam e não esquecem um do outro. Eles nunca oficializam o que construíram, mas sempre surgem na vida um do outro trazendo momentos significativos e, relativamente, importantes.

Uma coisa que percebi é que a maioria dos problemas que os protagonistas enfrentam são causados devido à pressão que sofrem pelas pessoas que os cercam, pela necessidade de impressionar os outros, pela importância que dão para o que os outros pensam deles, e pelas expectativas sociais, ou seja, tudo gira em torno de terceiros. A autora traz essa ideia de que, por mais que duas pessoas tenham uma ligação forte, se entendam e se gostem, elas podem ter uma dificuldade de comunicação gigantesca que pode desencadear vários desencontros, e ainda desistir da outra por não conseguirem lidar com essa pressão e com a forma como isso pode parecer pra quem vê de fora.

Os personagens secundários parecem estar alí só pra movimentar o drama dos protagonistas e não tem oputros propósitos. A família de Marianne é um nojo, com uma mãe esnobe que trata tudo e todos com indiferença, e um irmão malicioso que não tenho nem adjetivos pra descrever, como se todo mundo que fosse rico fosse obrigado a tratar os outros com desdém e crueldade.

Talvez a ideia da autora fosse mostrar essa parte realista e humana de personagens com mais falhas do que virtudes, que preferem se autosabotar e se comportarem como se fossem incapazes de aprender alguma coisa com a vida. Talvez isso justifique que nada do que aconteceu serviu como fator de amadurecimento e crescimento pra nenhum deles, mas não nego que é frustrante acompanhar a história toda pra, no final, a recompensa ser nada.

Pessoas Normais, no final das contas, se mostrou um romance bem deprimente que conta uma história de amor triste e de muita solidão. É uma história sobre duas pessoas muito diferentes e com uma enorme conexão que, entre altos e baixos, se encontram uma na outra.

Por Lugares Devastados - John Boyne

18 de dezembro de 2023

Título:
 Por Lugares Devastados - O Menino do Pijama Listrado #2
Autor: John Boyne
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Drama
Ano: 2024
Páginas: 224
Nota:★★★★★
Sinopse: Gretel Fernsby conseguiu escapar da Alemanha nazista e há décadas leva uma vida pacata em Londres. Em seu íntimo estão as marcas de um passado obscuro e perturbador, e ela esconde a todo custo que é a filha do comandante de um dos mais notórios campos de concentração nazistas. Tudo muda, porém, com a chegada de um novo vizinho ― Henry, de nove anos ―, de quem se torna amiga. Certa noite, Gretel presencia uma discussão violenta entre a mãe e o pai do garoto e se vê diante de uma encruzilhada: pode salvar a criança, mas a decisão implica revelar sua verdadeira identidade para o mundo.
Sequência do aclamado O menino do pijama listrado, Por lugares devastados investiga as consequências da guerra e como um acontecimento pode moldar um ser humano. É uma história emocionante e devastadora sobre uma mulher que precisa enfrentar seus erros pregressos e agir com coragem no presente.

Resenha: Por Lugares Devastados, do autor John Boyne, veio para dar continuidade à história do livro O Menino do Pijama Listrado, lançado há quase vinte anos, porém sob o ponto de vista de Gretel Fernsby, a irmã mais velha de Bruno.
A história se passa no ano de 2022, oito décadas depois que ela e a mãe conseguiram escapar da Alemanha nazista. Gretel agora é uma senhora de 91 anos e mora num belíssimo apartamento em frente do Hyde Park, em Londres.
O que ninguém sabe é que, por trás dessa senhorinha um tanto chata e antissocial, há um passado perturbador onde ela esconde a todo custo que é a filha do comandante do campo de concentração de Auschwitz e, assim, ela vai levando a vida, tentando passar despercebida, mas sem esquecer tudo o que viveu no passado.
Mas as coisas pra ela mudam quando novos vizinhos se mudam para o apartamento abaixo do seu. É um casal com um filho de 9 anos, Henry, de quem Gretel acaba se aproximando e ficando amiga. E quando ela presencia uma briga bastante violenta entre os pais do menino, ela precisa decidir se vai intervir para salvá-lo e evitar que o pior aconteça, mas essa decisão faria com que sua verdadeira identidade e seu passado fossem revelados para as pessoas. E agora?

O livro é narrado por Gretel, intercalando fatos de seu presente, onde ela enfrentra alguns problemas com seu filho que quer que ela vá para uma clínica de idosos para vender seu apartamento, e do passado, onde ela fala de sua trajetória e o que aconteceu após a fuga da Alemanha, incluindo o medo que ela e a mãe tinham de serem descobertas pela proximidade e "participação" que tiveram num dos piores eventos que a humanidade já viu.
A protagonista é uma personagem bastante complexa e com diversas camadas que vão sendo reveladas aos poucos, a cada nova informação que ela fornece sobre sua vida. É um misto de pena, raiva e um pouco de admiração por todas as situações que ela foi condicionada a viver, que por mais injustas que pareçam, são um reflexo da criação que ela teve, vivendo numa realidade em meio ao regime nazista onde ela não tinha outra opção a não ser seguir as regras. 

O que o autor levanta aqui é a questão da culpa que Gretel carrega e de que ela não é uma pessoa perfeita, fazendo o leitor refletir sobre a ideia dela entender ou não a complexidade do que estava acontecendo, se se arrependeu, se era conivente ou se apenas estava obedecendo e seguindo os ensinamentos do pai. E será que, levando tudo em consideração, ela pode ser julgada pelo que ele fez?

Boyne cria situações delicadas e bastante difíceis, desde as relatadas por Gretel que mostram as consequências de uma guerra mundial e uma vida cheia de mentiras e culpa, até as cenas presentes com os vizinhos que envolvem violência doméstica, e é impossível não se colocar no lugar dela, imaginando o que faríamos se fosse com a gente.

Não vou me alongar muito dando mais detalhes porque, assim como o primeiro livro, este é uma experiência literária que deve ser absorvida ao máximo pelo leitor para que ele seja surpreendido com os acontecimentos, as reflexões e as reviravoltas incríveis que acontecem.

Percebi alguns problemas na tradução e na linha do tempo que fugiram do que foi feito no primeiro livro, mas ainda dá pra entender sem atrapalhar a leitura, só achei válido pontuar.

Por Lugares Devastados é uma leitura comovente que não só complementa o livro anterior com questões sensíveis sobre culpa, cumplicidade e redenção, como tráz reflexões brutais sobre a banalidade da maldade e suas consequências.

A Invasão do Povo do Espírito - Juan Pablo Villalobos

15 de outubro de 2023

Título:
 A Invasão do Povo do Espírito
Autor: Juan Pablo Villalobos
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Romance
Ano: 2023
Páginas: 224
Nota:★★★★☆
Sinopse: No novo romance de uma das vozes mais vibrantes e engraçadas da literatura contemporânea, dois imigrantes precisam lidar com uma dura crise existencial em meio a burocracias, teorias da conspiração e uma doença terminal.



Resenha: A Invasão do Povo do Espírito, romance do autor mexicano Juan Pablo Villalobos, traz a história de Gastón, um homem na faixa dos cinquenta anos de idade que administra uma horta; seu melhor amigo e dono de um restaurante falido, Max; Pol, um cientista filho de Max; e Gato, o cachorro moribundo e fiel de Gastón que está com o pé na cova, coitado. Enquanto lida com a doença do cachorro e tenta ajudar o amigo deprimido a salvar seu restaurante depois de trinta anos de dedicação, Gastón quer descobrir por que Pol, a quem ele considera como um filho, abandonou seu trabalho onde se investigava o surgimento de vida extraterrestre, de repente.

A história se passa numa cidade que lembra uma Barcelona, que vivencia a imigração e suas diferentes etinias, enquanto lida com a ascensão do neofascismo e com a xenofobia e o racismo.
Gastón e Max são imigrantes que, devido à sua longa permanência, estão bem integrados e adaptados ao bairro onde vivem. Apesar de serem filhos de vítimas, os dois não compartilham com seus vizinho e os demais moradores os sentimentos de racismo e xenofobia que ressurgem na comunidade devido à chegada de uma nova onda de imigrantes. A agitação causada por essa "invasão estrangeira" começa a mobilizar os moradores, que convidam Gastón e Max a participar do movimento, esquecendo que eles também são estrangeiros e que, assim como os recém chegados, já foram vítimas de preconceito em algum momento de suas vidas. Enquanto lidam com a chegada desses imigrantes, eles enfrentam suas próprias experiências além de serem apresentados à possibilidade de vida extraterreste entre eles.

Esse é o primeiro livro do autor que fiquei curiosa pra ler e já adianto que não me lembro de já ter lido um livro como esse. A leitura é rápida pelo livro ser curtinho, a narrativa é habilidosa, e tão estranha quanto interessante, pois é uma mistura de temas delicados e relevantes contados com muita detreza pelo autor, que quebra a quarta parede e faz descrições curiosas sobre os lugares mencionados. Villalobos nunca dá nome aos locais, ele sempre usa algumas referências e dá coordenadas que fazem com que o leitor apenas suponha onde fica, e isso torna a leitura bem divertida, instigando até mesmo algumas pesquisas.

A Invasão do Povo do Espírito é um livro politicamente engajado, curioso e atemporal, que explora a amizade e os laços humanos com o diferente e o desconhecido, que aborda temas importantes para a sociedade e desafia tudo aquilo que fundamenta o fascismo. Pra quem curte leituras mais "clássicas" que promovem reflexões sobre amizade, preconceito, corrupção, gentrificação, territorialidade e imigração, é leitura mais do que indicada.

75 anos de Paulo Coelho

24 de agosto de 2022


75 ANOS DO ESCRITOR PAULO COELHO • 35 ANOS DA PUBLICAÇÃO DE O DIÁRIO DE UM MAGO
O ALQUIMISTA HÁ 650 SEMANAS NA LISTA DO USA TODAY

O brasileiro vivo com maior influência internacional - e um dos escritores mais lidos do mundo -, Paulo Coelho comemora seus 75 anos no dia 24 de agosto.

Em 2022, celebram-se também os 35 anos da publicação de O Diário de um Mago, seu primeiro best-seller. O livro foi escrito após a peregrinação do autor, em 1986, pelo caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, e lançando pela editora Eco, do Rio de Janeiro, no ano seguinte. A experiência pelo caminho de Santiago de Compostela foi transcendental na vida do autor, e o grande sucesso internacional de O Diário de um Mago após sua publicação contribuiu para aumentar substancialmente o número de peregrinos à cidade da Galícia, na Espanha — tanto que, em 1999, Paulo Coelho foi condecorado com a medalha de Oro de Galicia por parte do Conselho de Estado da Espanha e, em 2008, a prefeitura local prestou homenagem ao escritor brasileiro dando seu nome a uma das ruas da cidade.

Os livros de Paulo Coelho publicados mundialmente atingiram a assombrosa marca de cerca de 320 milhões de exemplares vendidos em mais de 170 países - o autor mais traduzido da língua portuguesa é publicado em 88 línguas diferentes, entre elas o albanês, o estoniano, o persa (a jornalista Patrícia Campos Mello descobriu versões de O Diário de um Mago nessa língua entre prisioneiros na fortaleza norte-americana de Guantánamo, em Cuba), o hindi, o malaiala (falado no sul da Índia), o marati (falado na costa central ocidental da Índia), o vietnamita e o suaíli (uma das línguas oficiais do Quênia). No Brasil, Paulo Coelho chegou a ter cinco títulos na mesma lista de livros mais vendidos, uma façanha que nenhum outro autor conseguiu realizar.

O Alquimista, seu livro de maior sucesso, foi lançado em junho de 1988, inicialmente pela mesma editora Eco. Como o publisher da editora não acreditava muito no sucesso do título, a reedição de O Alquimista saiu pela editora Rocco - e se transformou rapidamente em um dos maiores fenômenos de venda do Brasil. A saída da Eco também marca o momento em que Paulo Coelho começou a trabalhar com Mônica Antunes, sua agente exclusiva até hoje, proprietária da Sant Jordi, com sede em Barcelona. O livro vende cerca de 1 milhão de exemplares todos os anos somente nos Estados Unidos, sendo o mais presenteado a estudantes que terminam o ensino médio no país. Ainda nos Estados Unidos, o maior mercado de livros do mundo, O Alquimista tem o recorde de ter permanecido por 427 semanas consecutivas na lista de mais vendidos do jornal The New York Times - a relação de best-sellers mais prestigiada da indústria internacional do livro. Em agosto de 2022, o livro alcançou a extraordinária marca de 650 semanas consecutivas na lista de mais vendidos do jornal USA Today. A inspiração para o bestseller foi uma história persa aproveitada pelo escritor argentino Jorge Luis Borges em seu livro de contos História universal da infâmia.

O Alquimista é elogiado e recomendado por líderes mundiais como o ex-presidente americano Barack Obama, a ativista paquistanesa e prêmio Nobel da Paz Malala Yousafzai e o ex-secretário geral das Nações Unidas, o sul-coreano Ban Ki-moon, além de muitos outros; por escritores de renome internacional, como o italiano Umberto Eco e o japonês Kenzaburo Oe, ganhador do prêmio Nobel de Literatura; por personalidades como Gisele Bündchen e Oprah Winfrey, apresentadora e líder de um dos maiores clubes de leitura do mundo; e até por esportistas como o heptacampeão mundial de Fórmula 1 Lewis Hamilton e os superastros da NBA LeBron James e Kobe Bryant — com quem Paulo Coelho planejava escrever um livro para crianças, plano infelizmente impedido pela morte trágica do jogador de basquete. No mercado norte-americano, há um audiobook de O Alquimista narrado pelo grande ator inglês Jeremy Irons, vencedor do Oscar de Melhor Ator em 1991.

Com 21 obras e algumas centenas de milhões de exemplares vendidos, Paulo Coelho é publicado pelas mais importantes editoras do mundo, como a Knopf e a Harper Collins, nos Estados Unidos, a Flammarion, na França, a Planeta, na Espanha, a Penguin Random House, no México, e a Kadokawa, no Japão. No Brasil, é publicado pelo selo Paralela, da Companhia das Letras, desde 2016, quando lançou A Espiã, inspirado na vida misteriosa de Mata Hari, mulher nascida nos Países Baixos e fuzilada durante a Primeira Guerra Mundial. Em 2010, Paulo Coelho organizou para editora inglesa Penguin uma antologia de textos que foram fonte de inspiração para ele; entre os trechos selecionados, estão passagens De Profundis, de Oscar Wilde, Eichmann em Jerusalém, de Hannah Arendt (em 1982, uma visita aos escombros do campo de concentração nazista de Dachau, na Alemanha, se transforma em uma das experiências mais marcantes da vida do autor e reforça suas convicções de sempre lutar contra os autoritarismos de qualquer matiz ideológico), O Príncipe, de Maquiavel, Ficções, de Jorge Luis Borges, e Os Manuscritos do Mar Morto. Desde o lançamento de seus primeiros best-sellers, O Diário de um Mago e O AlquimistaPaulo Coelho cuida zelosamente de detalhes da divulgação e da distribuição de seus livros em todo o mundo, assim como da relação com seus leitores.

       

Em 1996, Paulo Coelho recebeu a comenda Chevalier da Ordem Nacional da Legião de Honra, concedida pelo presidente da França Jacques Chirac, e, no mesmo país, recebeu o título de Officier dans l’Ordre des Arts e des Lettres em 2003. Ele ocupa a cadeira de número 21 da Academia Brasileira de Letras desde 2002 e, em 2007, tornou-se Mensageiro da Paz das Nações Unidas. Paulo Coelho ganhou cerca de 115 premiações e homenagens de dimensões internacionais, entre as quais o prêmio Grinzane Cavour (Itália, 1996; também concedido a escritores como José Saramago, Doris Lessing e Ian McEwan), o prêmio Goldene Feder (Hamburgo, 2005) e o Hans Christian Andersen Award, concedido pelo International Board on Books for Young People (2010).

Paulo Coelho é conselheiro da Unesco para o Programme on Spiritual Convergences and Intercultural Dialogues e foi membro do board da Fundação Schwab, que promove o Fórum de Davos, e do International Advisory Council do Harvard International Negotiation Program.

Em 2003, O Alquimista conquistou o Guinness World Record como o livro que teve mais traduções para outros idiomas; em 2009, Paulo Coelho obteve um novo Guinness World Record como o autor mais traduzido pelo mesmo livro. Ele foi um dos primeiros escritores a usar as redes sociais e, em pesquisa realizada pela agência de relações públicas americana JCPR em 2009, estava entre as cem personalidades mundiais mais seguidas no Twitter (apenas cinco das cem pessoas mencionadas não eram norte-americanas). Em 2017, o escritor foi escolhido como um dos cem pensadores de influência mundial pela Fundação Albert Einstein, do Canadá, que preserva o acervo do gênio da física alemão.

Paulo Coelho sonhava ser escritor desde a adolescência no Rio de Janeiro. Na juventude, já fazia comentários por escrito sobre os livros que lia (aos 25 anos, tinha feito anotações sobre mais de quinhentos livros) e enviava poemas para os críticos literários que tinham colunas de literatura em jornais. Trabalhou em teatro (chegando a dar aulas de direção e interpretação) e em jornais de grande circulação — como O Globo, do Rio de Janeiro —, foi editor de periódicos da contracultura (também chamada de “udigrudi” no Brasil) e trabalhou nas gravadoras Polygram e CBS. Em 1970, influenciado pelos movimentos místicos e alternativos, pegou o Trem da Morte para ir até a Bolívia e a Machu Picchu, no Peru. Depois foi para Amsterdã, na Holanda, a capital mundial do movimento hippie. De lá, de ônibus, fez sua primeira excursão ao Oriente, experiência que relata no livro autobiográfico Hippie, lançado em 2018.

No início da década de 1970, cruzou com o roqueiro baiano Raul Seixas, e o encontro mudou sua vida. Juntos, os dois compuseram mais de quarenta canções, algumas de imenso sucesso e que se tornaram para sempre clássicos do rock brasileiro, como “Gita” (grande hit também na voz de Maria Bethânia), “Eu nasci há dez mil anos atrás” e “Sociedade Alternativa”. Faria ainda letras para outros importantes compositores brasileiros, como Rita Lee e Zé Rodrix, e até para um dos fundadores da bossa nova, Roberto Menescal, um de seus grandes amigos; ao todo seriam cerca de 120 letras para canções. Sua última participação no universo da canção foi a versão do bolero mexicano “Me vuelves loco”, de Armando Manzanero, grande sucesso no Brasil na voz de Elis Regina como “Me deixas louca”. A versão voltaria a ser gravada pela filha de Elis, a cantora Maria Rita, em 2012.

O espírito livre e ousado de Paulo Coelho custou a ele vários momentos de restrição violenta de sua liberdade: seus pais o internaram em clínicas de tratamento psiquiátrico, onde recebeu inclusive choques elétricos (experiência que narra no livro Veronika Decide Morrer, que motivou um projeto de lei do então senador Eduardo Suplicy proibindo as internações psiquiátricas arbitrárias no Brasil, e ele foi detido duas vezes pela repressão da ditadura civil-militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985. A primeira vez foi em 1969, quando voltava da uma viagem do Paraguai com a namorada e dois amigos para ver um jogo da seleção brasileira de futebol. A segunda foi em 28 de maio de 1974, no período mais terrível da ditadura: Paulo Coelho foi primeiro detido pelo Dops, o órgão responsável pela repressão, e, depois de liberado, sequestrado do táxi que o levava para casa, detido e torturado.

Em 1980, Paulo Coelho se casou com a artista plástica Christina Oiticica, que fez as capas de seus primeiros livros e com quem ele vive até hoje em Genebra, na Suíça. Naquela década, o casal fundou e dirigiu a editora Shogun, no Rio de Janeiro. Em 2014, criaram a fundação, com sede naquela cidade, que leva o nome dos dois e que, entre outras atividades, apoia o Solar Menino de Luz, uma obra social no complexo de favelas Pavão, Pavãozinho e Cantagalo. Em 2021, diante da negativa, sob argumentos políticos, ao pedido de que o Festival de Jazz de Capão pudesse ter acesso aos incentivos da Lei Rouanet, a Fundação Paulo Coelho e Christina Oiticica financiou o festival de música da cidade, localizada na Chapada Diamantina. Em julho do mesmo ano, anunciou-se a adaptação para o cinema do livro O Alquimista, em que o ator inglês Sebastian de Souza fará o papel de Santiago.

As obras de Paulo Coelho publicadas pela editora Paralela são:

• A Espiã
• O Alquimista
• O Diário de Um Mago
• Veronika Decide Morrer
• Onze Minutos
• Na Margem do Rio Piedra Eu Sentei e Chorei
• O Demônio e a Srta. Prym
• A Bruxa de Portobello
• Hippie
• O Dom Supremo
• O Monte Cinco
• O Vencedor Está Só
• Ser Como o Rio Que Flui
• Aleph
• As Valkírias
• Adultério
• Manuscrito Encontrado em Accra
• Maktub
• Manual do Guerreiro da Luz
• Brida
• O Zahir

Fonte: Companhia das Letras

Novidades Agosto - Companhia das Letras

5 de agosto de 2022

Bom Dia, Verônica - Raphael Montes e Ilana Casoy (22/08/2022 - nova edição)
Verônica Torres trabalha no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa, da Polícia Civil em São Paulo. É secretária de Carvana, um delegado pouco confiável, e filha de um respeitado policial, que teve um fim trágico e não totalmente esclarecido.
Verônica está afastada de qualquer tipo de investigação, mas, ao presenciar o suicídio de uma mulher em seu trabalho, a fragilidade da vítima e as estranhas circunstâncias que a levaram à delegacia a colocam na trilha de um abusador com requintes de crueldade. Quando recebe uma ligação anônima de uma mulher desesperada, ela seguirá as pistas de uma série de crimes ainda mais sombrios.
Janete é uma dona de casa devotada, que obedece Brandão, seu marido, pelo absoluto terror que nutre por ele. Policial militar, ele está acima do bem e do mal e pratica crimes sexuais de extrema violência e sadismo, em que ela é obrigada a participar – primeiro, aliciando mulheres; depois, acompanhando o desenrolar de suas mortes.
As vidas de Verônica e Janete se entrecruzam e as levam aos limites da violência e da loucura. Ao narrar suas histórias, Ilana Casoy e Raphael Montes criam um thriller sem paralelos na literatura policial brasileira, com uma trama complexa – e uma investigadora inesquecível.

Fim de Verão - Paulo Henriques Britto (19/08/2022)
"Pensar é coisa trabalhosa. A ignorância/ é o sumo bem dos cidadãos de bem,/ é a verdadeira marca dos eleitos./ Ter sucesso é não ter que saber. Saber cansa", escreve Paulo Henriques Britto no poema "Vers de circonstance (Brasil, 2020)". Com ceticismo e sarcasmo, o poeta alia verve ao rigor da forma fixa em um de seus livros mais mordazes – e em muitos momentos retrata diretamente os dias que correm, pautados pela fé cega e pelo desprezo pela racionalidade.




Noite no Paraíso - Mais contos - Lucia Berlin (18/08/2022)
Uma rifa sendo vendida durante a Segunda Guerra. Um Natal em cima de um telhado. Um acidente de moto. Uma primeira experiência sexual desastrosa. Em tramas passadas no Texas, no Novo México, em Nova York ou no Chile – lugares onde Lucia Berlin morou – os contos de Noite no paraíso parecem contrariar o título sob o qual foram reunidos. Aqui tudo é solar nas descrições dos ambientes, nos desvios anedóticos que os textos fazem para marcar o próprio ritmo, e ao mesmo tempo há algo de inadequado, às vezes de trágico, na psicologia dos personagens. Trata-se da mistura que consagrou a autora, capaz de equilibrar leveza e densidade no modo como lida com temas recorrentes e também autobiográficos – alcoolismo, solidão, traumas familiares. Noite no paraíso traz essa sabedoria múltipla, fundada na mais fina técnica narrativa e numa experiência distante do mundo intelectual: conhecida por um pequeno público literário durante o tempo em que viveu, Berlin teve uma trajetória ricamente atribulada, trabalhando como enfermeira, telefonista e assistente num consultório médico enquanto criava quatro filhos de três casamentos.
Na esteira do sucesso de Manual da faxineira, coletânea póstuma que firmou o nome de Berlin na moderna tradição do conto americano, Noite no paraíso nos mostra como a familiaridade é sempre uma aparência. Basta olhar para tudo com atenção e um novo mundo se revela. Nele, a urgência da vida é uma "massa trêmula" cheia de "beleza e amor", mas que cobra um preço quando se caminha no escuro produzindo "ecos altos, nostálgicos", como "num velho ginásio vazio ou numa estação de trem tarde da noite".

Diorama - Carol Bensimon (30/08/2022)
Uma caçada em família no pampa gaúcho. Uma taxidermista restaurando animais em um museu de história natural. Um deputado morto com um tiro de espingarda na retomada da democracia brasileira. Um romance que precisa ser mantido em segredo devido ao preconceito. Essas cenas tão vívidas são apenas algumas das que se entrelaçam em um livro sensível e envolvente, o primeiro desde que Carol Bensimon venceu o prêmio Jabuti de melhor romance com O clube dos jardineiros de fumaça.
Narrado por Cecília Matzenbacher, Diorama percorre os meandros de uma existência marcada por um crime brutal. Enquanto a protagonista adulta tenta manter de pé a vida refeita nos Estados Unidos, sua versão criança leva o leitor de volta à Porto Alegre dos anos 1980, revelando pouco a pouco os detalhes íntimos e políticos de um assassinato que marcou o Rio Grande do Sul. Somam-se a isso múltiplas vozes de testemunhas e envolvidos, que erguem um universo agridoce de relações estilhaçadas, segredos e violência sempre à espreita.
Em uma prosa cinematográfica, embalada a rock e entremeada por reflexões sobre a natureza e sobre as fraturas que carregamos, Bensimon constrói em Diorama uma comovente história familiar.

Lula - Volume 1: Biografia - Fernando Morais

4 de janeiro de 2022

Título:
Lula - Volume 1: Biografia
Autor: Fernando Morais
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Biografia/Não Ficção/Política
Ano: 2021
Páginas: 416
Nota:★★★★☆
Compre: Amazon
Sinopse: Para além de juízos ou paixões, Lula está entre as maiores figuras políticas da história brasileira. Único presidente do país com origens operárias, e campo magnético de um partido profundamente original em suas raízes, exerceu o poder carismático e a influência de modo mais duradouro que qualquer outro homem público no período republicano, salvo talvez Getúlio Vargas – com quem também compartilha a virulência dos adversários.
Desde 2011, Fernando Morais ganhou acesso direto, franco e frequente a Lula. A essas dezenas de horas de depoimentos, somou o faro de repórter e a prosa cativante para compor projeto biográfico que traz um painel do personagem em toda sua grandeza e complexidade.
Em narrativa que faz uso de recuos e avanços cronológicos para manter um ritmo eletrizante, neste primeiro volume Morais vai da infância de Lula até o anulamento de suas condenações, em 2021 ― passando pelo novo sindicalismo, as greves do ABC, a fundação do PT e a primeira campanha eleitoral. 

Resenha: Quem leu a resenha que fiz do livro "Política é Para Todos", da Gabriela Prioli, viu o motivo de eu começar a me interessar por política nessa altura do campeonato. Sendo assim, quando tenho oportunidade de ler algo que considero que vá acrescentar, que vá dismitificar conceitos, que vá ampliar meu conhecimento, que vá trazer informações úteis, ou mesmo que ainda vá defender o indefensável, eu leio pra poder formar minha opinião (além de tentar entender como funciona a cabeça dos fanáticos independente de que lado estejam).

Então, ler o primeiro volume de Lula - Biografia, escrito pelo jornalista Fernando Morais, me acrescentou informações que vieram a calhar nesse momento, porém com algumas ressalvas. Não vou entrar em questões acerca do meu posicionamento político aqui (até mesmo porque estou desacreditada e com esperanças zero de que as coisas por aqui melhorem), pois a leitura que fiz foi a título de conhecimento e informação. Nada tem a ver com querer que Lula volte ou não, se ele é ladrão ou não, enfim... Independente da opinião pública, as pessoas gostando dele ou não, Lula foi presidente desse país, vai fazer parte da História do Brasil pra sempre, logo ter acesso a uma leitura que expõe fatos é algo praticamente obrigatório pra quem quer entender o que aconteceu e ter o mínimo de propriedade pra falar sobre o assunto (inclusive fiquei curiosa pra ler o livro "Lava Jato", de Vladimir Netto pra ter um outro ponto de vista).

Por mais que o autor discorra sobre a prisão de Lula até sua soltura, a impressão é de que o texto em si é, sim, parcial. O autor relata como Sérgio Moro ultrapassou os limites da ética e agiu com imparcialidade na famigerada Operação Lava Jato para não só enfiar e manter o ex presidente na cadeia para que ficasse fora de cena, como também fazer com que ele se tornasse inelegível nas próximas eleições. O autor também vai intercalando o texto com alguns acontecimentos, lembranças ou frases ditas por pessoas relevantes no cenário político e artístico. A narrativa foi montada de forma que o leitor fique indignado por tamanha injustiça, e pendendo pro lado de Lula, que é retratado como alguém cuja história de vida e de luta é admirável, dotado de coragem e garra, e que é amado e idolatrado pelo povo, praticamente um salvador da pátria. Eu admito que a história de vida de Lula é realmente impressionante, não duvido que a intenção dele seja ajudar o povo porque ele demonstra ter uma humanidade e uma consideração que a maioria dos políticos não tem (não duvido, mas também não boto minha mão no fogo por ele), e nas palavras do autor essa história ganha um tom dramático e cheio de emoção, digna de ser transformada em filme inclusive, mas eu esperava uma imparcialidade clara pra que pessoas curiosas por política (ou por quem faz a política), assim como eu, pudessem formar a própria opinião sem que sejam influenciadas por narrativas calorosas onde a opinião do autor ganha evidência.

O livro não segue a cronologia dos fatos. Com várias fotos para ilustrar os eventos citados, ele começa exatamente dois dias antes da sentença de prisão, em 5 de abril de 2018, onde, em seus seis primeiros capítulos, o autor discorre sobre o tempo em que Lula se abriga no Sindicato até decidir o que fazer, assim como as dificuldades que ele enfrentou pra sair de lá e se entregar à polícia. Milhares de pessoas tomaram as ruas em volta do sindicato e obstruíram a passagem numa enorme manifestação em sua defesa. Todo o caos foi televisionado. Durante os 581 dias em que ficou preso, Lula nunca ficou sozinho, seus apoiadores sempre estavam alí, se fazendo ouvir e revezando numa vigília pra mostrarem que a luta não tinha acabado, afinal, ele foi preso baseado em acusações quando nada que pudesse incriminá-lo foi encontrado, o que mostra que houve muitas falhas nesse processo.

Nesse meio tempo também acompanhamos os fatos que levaram Donald Trump à presidência, e que a estratégia baseada em fake news usada por ele pra vencer as eleições contra Hillary Clinton nos EUA foi a mesma que Bolsonaro usou aqui no Brasil ("kit gay", "mamadeira de piroca", e até a suposta facada no bucho viraram meme). Temos também como foi feita a escolha de Haddad pra sucedê-lo e como se deu a ação do hacker que vazou uma infinidade de documentos que, não só inocentou e libertou o ex presidente em 8 de novembro de 2019, como ainda o tornou elegível para o desgosto da direita.

Após todos os eventos relacionados a prisão de Lula, o autor corta pra década de 80, onde apresenta o cenário político brasileiro em meio as tragédias pessoais de quem seria o futuro presidente do país. Eventos como sua primeira prisão em 1980 que leva o leitor a compreender como ele veio a se tornar uma pessoa pública, como ele e os irmãos saíram do sertão de Permambuco rumo a São Paulo, o surgimento do sindicalismo e o Sindicato dos Metalúrgicos, a criação do PT, a perseguição e as prisões ilegais na época da Ditadura Militar, enfim... São várias informações muito bem detalhadas, como se o autor fizesse um grande raio-x do Brasil, que fazem com que o leitor entenda que os fatos do passado são essenciais para se compreender o presente, e o que virá pela frente.

Sabemos que Lula é o tipo de homem que divide opiniões, opiniões na maioria das vezes muito extremas pro meu gosto, é tão amado quanto odiado, mas seu poder de liderança é inegável. Li a Biografia em dois dias, pois a fluidez e os acontecimentos prendem - e muito - a atenção. Fico no aguardo do segundo volume dessa biografia onde acredito que o autor vai abordar o mandato de Lula quando presidiu o país, assim como seus erros e acertos.

O Livro dos Pequenos Nãos - Heloisa Seixas

2 de janeiro de 2022

Título:
O Livro dos Pequenos Nãos
Autora: Heloisa Seixas
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Romance/Literatura Nacional
Ano: 2021
Páginas: 144
Nota:★★★☆☆
Compre: Amazon
Sinopse: Em O livro dos pequenos nãos, Heloisa Seixas explora o poder das escolhas, da sorte e do acaso. O livro acompanha a história de Lia ao longo de uma noite ― enquanto ela revive as lembranças de seu relacionamento conturbado com Tito ― e abre janelas para anos pregressos, apresentando outros personagens que, cada um à sua maneira, tiveram suas histórias reescritas.
Com uma prosa que seduz e prende o leitor até a última página e com a habilidade de quem transita pelos mais diversos gêneros da ficção, a autora entrelaça passado e presente e tece uma narrativa sensível sobre o impacto das decisões ― conscientes ou não ― que acabam não apenas por definir nosso destino, mas também por nos tornar quem somos. 

Resenha: Quando Lia se encontra com a amiga Ana num bar para tomarem um chope e terem um momento de diversão, a conversa descontraída começa a tomar um rumo mais reflexivo: Ana começa a falar sobre a morte trágica de um grande poeta; sobre as mudanças que ocorrem com tal tragédia e o que se é perdido além da vida; e no famigerado "e se", explorando o poder das escolhas, da sorte e do acaso...
"- Esse vazio estranho que se cria a partir de bifurcações, do momento em que se escolhe ir para um lado e não para o outro e que..."
- Pág. 10
Ao longo da noite, relembrando as conturbações de seu relacionamento e como se sente em relação a isso enquanto volta pra casa, Lia segue numa divagação profunda e intensa, uma viagem cheia de experiências (que inclusive são um risco pra ela mesma) onde aborda o poder imensurável de se tomar uma decisão, seja ela consciente ou inconsciente, e como ela não apenas define o destino, como molda as pessoas a serem quem elas são.

O livro é narrado em terceira pessoa, com descrições bem trabalhadas e poéticas sobre os elementos da trama, algumas se extendem demais nas descrições e nos "floreios" narrativos, mas é o que dá uma intensidade maior aos sentimentos e às sensações dos personagens. Os capítulos são curtos e entre os destinados à Lia há histórias de outros personagens, de outras épocas, que tem ligações familiares uns com os outros e dão continuidade aos "causos", e que também remetem às consequências de determinadas decisões. A primeira história se passa em 1897, onde acompanhamos João Alexandre, um médico do exército que viveu de perto e sobreviveu à Guerra de Canudos, no interior da Bahia. E a partir daí, os demais capítulos com os outros personagens vão ganhando elementos do que fez parte da história do Brasil, alguns com toques sobrenaturais que lembram muito aqueles contos do interior, passando por assombranção até Lampião. E o mais incrível é o desfecho que liga a autora diretamente aos personagens, mostrando que as decisões tomadas vão, inclusive, impactar na vida de seus descendentes, afinal, não estaríamos aqui se nossos avós, se nossos pais não tivessem se conhecido e tido um relacionamento.

E toda a trajetória desses personagens leva o leitor a refletir sobre questões como "minha vida seria diferente SE eu tivesse feito outras escolhas?", "Hoje eu estaria onde estou SE eu tivesse seguido por outro caminho?" São perguntas cujas respostas não possuímos. Ao fazermos uma decisão, acabamos escolhendo uma coisa e abrindo mão de outra, e como não é possível voltar atrás, não temos como saber o que seria, e nem por isso devemos nos prender ao que poderia ter sido, mas sim viver o presente enquanto lidamos com nossas decisões e suas consequências, sejam elas boas ou não, sem "culpar" o destino. E independente do evento, da ocasião, da situação, são as escolhas que definem o desfecho, e às vezes uma escolha simples (mesmo que não seja um caminho simples pra se tomar) nos liberta do que nos aprisiona.

Inferno - Dante Alighieri

30 de dezembro de 2021

Título:
Inferno - Comédia #1
Autor: Dante Alighieri
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Clássico/Romance/Ficção
Ano: 2021
Páginas: 560
Nota:★★★★★
Compre: Amazon
Sinopse: Primeira parte da Comédia de Dante, Inferno é uma viagem às profundezas, para onde foram condenados os que não agiram de acordo com a ética cristã. O poeta romano Virgílio será o responsável por guiar Dante nesse trajeto.
Contando a história de uma alma cristã que parte da consciência do pecado (Inferno), passa pela purificação interior (Purgatório) e chega à visão de Deus (Paraíso), Dante dialoga com as tradições da poesia clássica greco-latina, dos textos bíblicos e até do pensamento árabe ― em uma obra de tal força que ainda hoje mantém o seu vigor literário e nos convoca a relê-la.

Resenha: Existem livros que marcam época e se tornam atemporais, e por esse motivo acabam se tornando clássicos da literatura. E se podemos falar de um poema épico que se tornou um clássico, e séculos depois, apesar de diversas interpretações e traduções ainda se mantém detentor de uma fagulha lírica e emocionante, esse poema é a Comédia do autor italiano Dante Alighieri, que recentemente recebeu uma nova e belíssima tradução e edição pela Companhia das Letras.
Comédia será relançada em três partes, e a primeira delas é Inferno.

 Acompanhamos Dante, que aqui além de autor é o próprio personagem (Dante gosta de fazer isso em seus trabalhos e esse, sem dúvida, é o mais pessoal). Em uma jornada onde busca se purificar dos pecados e ascender aos maiores ideais cristãos, ele usará a poesia para fazer críticas à sociedade da roça, a personagens famosos e principalmente aqueles que ele julga terem se entregado aos pecados e abandonado todos aqueles que contavam com eles. Ele é um andarilho e de tal forma, diante de um lugar perigoso e animalesco ele tem ao seu lado como guia o poeta Virgílio, por quem sempre teve admiração.

Dante passa pelos 9 círculos Infernais, cada um deles dedicados a um tipo específico de punição e contendo pecadores muitas vezes famosos, estes que ao longo da jornada ele encontra tanto de sua época (Florentinos famosos) como personagem clássicos. Como cada círculo do inferno é baseado nos pecados capitais e às crenças cristãs, fica o alerta para o tema.

A jornada de Dante é poesia, mas também critica, é uma jornada onde ele caminha guiado pelo pensamento racional, mas almejando um crescimento espiritual. Para a leitura ser mais agradável, é aconselhável já ter em mente que foi escrito séculos atrás, com bases morais que atualmente podem sequer mais serem aceitas como corretas, porém, ainda permanece sendo uma leitura inteligente e fascinante. Provavelmente não seria um conteúdo indicado para um iniciante no mundo lírico da poesia, mas indicado para quem já está familiarizado com o estilo de escrita e que gosta desse jogo de palavras que são expressões artísticas.

A obra é bilíngue, com tradução para o português lado a lado com a "original" em italiano 
O projeto gráfico é soberbo, todos os tons da paleta escolhida e gravuras pelo artista estão incríveis.
Comédia é composta por 14.233 versos que são divididos em três canções: Inferno, Purgatório e Paraíso, e cada canção tem 33 cantos.

Um ótimo livro clássico em edição de luxo e para colecionadores, também tem uma excelente tradução e texto apoio. Essa nova edição de Inferno entrega à nova geração um texto poderoso e que merece ser lido. Já quero as próximas duas partes!

Política é para Todos - Gabriela Prioli

6 de dezembro de 2021

Título:
Política é para Todos
Autora: Gabriela Prioli
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Política/Ciências Sociais
Ano: 2021
Páginas: 272
Nota:★★★★☆
Compre: Amazon
Sinopse: Em seu primeiro livro, Gabriela Prioli oferece uma introdução acessível sobre como funciona a política ― e como debatê-la de forma racional e sem achismos.
O que é uma democracia e para que serve uma constituição? Quais são as atribuições de cada uma das três esferas de poder e como garantir que elas se mantenham em harmonia? Como funcionam as eleições e qual a importância das fake news nesse cenário?
Em Política é para todos, a advogada e apresentadora Gabriela Prioli responde a essas e outras questões imprescindíveis para a compreensão do funcionamento da política ― sobretudo a brasileira ―, mas que muitas pessoas têm receio ou vergonha de perguntar. Com a linguagem descomplicada que fez dela uma das personalidades mais populares do país, a autora mostra como cada um de nós pode se engajar para construir a sociedade que queremos, debatendo os assuntos relevantes com opiniões próprias e argumentos racionais.

Resenha: Vou ser sincera em afirmar que até meados de 2017 eu não me interessava por política. Na verdade, eu odiava política. Ter que sair de casa pra votar, pra mim, era um martírio absoluto, um castigo, e quando eu não ia na cidade do lado justificar o voto, eu votava em branco ou em qualquer candidato que tivesse zero chances de ser eleito. Na minha cabeça, não achava que eu tinha que participar desse circo de horrores que é a política nesse país e só queria distância desse bando de vagabundos, que em vez de cumprirem suas promessas, só acabam com a vida do povo enquanto enchem os próprios bolsos.

Continuo achando que todos os políticos, ou pelo menos 99% deles, sofrem de algum tipo de vagabundagem crônica, e se a gente parar pra ler meia dúzia de notícias isso fica mais óbvio do que nunca, mas eu admito que meu preconceito, minha antipatia, e a minha visão limitada sobre o assunto acabavam me impedindo de entender muita coisa que aconteceu no passado ou que estava acontecendo no presente, e que, talvez, se as pessoas se interessassem pra entenderem o básico de como tudo funciona para votarem de forma racional e consciente, o país não estaria nesse buraco sem fundo.

Então, quando as campanhas pras eleições presidenciais começaram, todas aquelas tretas absurdas, a quantidade de canais no youtube que surgiram pra defender candidato x ou candidato y, o monte de informações sobre os governos passados que começaram a vir à tona para justificar a escolha do voto pra um ou pra outro e etc, me fizeram começar a refletir sobre a importância do tema e como uma eleição acaba afetando a vida de todo mundo, seja pra beneficiar ou pra prejudicar. E eu ainda não tinha me dado conta de que afeta minha vida inclusive. Um dos canais que descobri nessa empreitada foi o da Gabriela Prioli, e achei muito interessante a forma como ela abordava a política e analisava os candidatos, e a partir dela, comecei a ver alguns outros canais, tanto de esquerda quanto de direita, pra poder ter uma visão mais ampla da situação toda, entender o que esses influenciadores tinham a dizer e de onde tiram argumentos pra apoiar ou reclamar desses políticos. Claro que o choque de ver tanta desinformação foi grande, mas pelo menos comecei a me inteirar e começar a entender que a coisa vai muito além.

E por que escrevi esse textão antes da resenha propriamente dita? Porque hoje penso que se a política fosse um tema que já fizesse parte das bases da sociedade no quesito educação, fazendo parte da grade escolar por exemplo, se fosse algo mais acessível, e se tivesse uma linguagem de fácil compreensão, talvez as pessoas, como cidadãs, teriam mais informações, talvez pensassem com mais racionalidade na hora de eleger candidatos, talvez não ignorassem e odiassem a política como eu mesma fazia, e talvez as coisas fossem diferentes de como é hoje.

E levando tudo isso em consideração, penso que livros como esse da Gabriela são fundamentais e muito importantes para esse tipo de aprendizado, pois ele se propõe a oferecer uma introdução bem acessível sobre o funcionamento da política (englobando formação de partidos, atribuições dos poderes e afins) e fugindo de ideologias pra qualquer um, e como debatê-la com coesão para que os cidadãos fiquem por dentro das decisões e possam, assim, votar com consciência e fazer as cobranças que lhes cabem.

Alguns tópicos são muito esclarecedores e se estendem bastante, outros carecem de maior aprofundamento, mas acredito que a ideia é fazer com que as pessoas pensem por si só, que fiquem curiosas, que estudem e busquem por mais informações e conhecimento, até mesmo porque as explicações sobre os aspectos políticos tão importantes para a democracia são tão boas que envolvem o leitor na leitura de tal forma que queremos saber cada vez mais. Encontramos significados para os termos mais conhecidos além de informações sobre o contexto político na História e como isso influencia no cenário atual, e por mais que seja um conhecimento básico, após a leitura e entendimento do livro, qualquer um consegue tem informações suficientes pra poder falar sobre o tema com alguma propriedade.

Novidade de Julho - Companhia das Letras - #DiadosAvós

26 de julho de 2021

Na próxima sexta-feira (30), chega às livrarias e lojas on-line o novo livro de Djamila Ribeiro, Cartas para Minha Avó, e, junto à autora, a Cia das Letras promovendo uma campanha que incentiva os leitores a falarem sobre sua ancestralidade.

Na obra, através de cartas para a saudosa avó Antônia – carinhosa e amorosa, conhecedora de ervas curativas e benzedeira muito requisitada –, Djamila retorna a sua infância e adolescência para discutir temas como ancestralidade, feminismo e antirracismo na criação dos filhos.

Para celebrar o lançamento e o Dia dos Avós, que é comemorado nesta segunda-feira (26), convidamos leitores e leitoras a mergulharem nas histórias de seus antepassados, compartilhando depoimentos e homenagens com a hashtag #CartasParaMinhaAvó e marcando @djamilaribeiro1 e @companhiadasletras. Ao longo do dia 26/7, alguns desses relatos serão respostados nos stories da editora.

Participem!

#NaJanelaFestival - Jornadas Antirracistas

25 de junho de 2020


Nos dias 26, 27 e 28 de junho, seis bate-papos e uma intervenção poética colocam em foco um debate premente para a construção de uma democracia plena: a ampliação das vozes e da luta antirracista. Com a participação de escritores, educadores, jornalistas, ativistas, pesquisadores e empreendedores, as #JornadasAntirracistas vão discutir temas diversos e prestar uma homenagem a Sueli Carneiro, uma de nossas maiores intelectuais contemporâneas, ativista e feminista antirracista.

As conversas acontecem ao vivo canal do YouTube da Companhia das Letras e os leitores podem contribuir com perguntas.

Confira abaixo a programação completa do #NaJanelaFestival e se programe para conferir:

📅 Sexta-feira, 26 de de junho
18h | Abertura: Performance de lançamento do livro “Não pararei de gritar”, com Carlos de Assumpção. Mediação: Paulo Sabino

📅 Sábado, 27 de junho
15h | Educação e infâncias negras
Com Bel Santos, Kiusam de Oliveira e Otávio Júnior. Mediação: Juê Olívia

17h | Racismo estrutural e institucional
Com Cida Bento, Jurema Werneck e Silvio Almeida. Mediação: Ronilso Pacheco

19h | Feminismos negros: Uma homenagem aos 70 anos de Sueli Carneiro
Com Sueli Carneiro, Bianca Santana e Djamila Ribeiro. Mediação: Flávia Oliveira

📅 Domingo, 28 de junho
15h | Ficções contemporâneas
Com Jarid Arraes, Jeferson Tenório e Jessé Andarilho. Mediação: Adriana Couto

17h | Cultura, ativismo e empreendedorismo
Com Eliane Dias, Monique Evelle e Nina Silva. Mediação: Flavia Lima

19h | Qual democracia?
Com Acauam Oliveira, Samuel Gomes e Thiago Amparo. Mediação: Flavia Rios


E não deixe de acessar também a página do festival na Amazon, com descontos em vários títulos do catálogo da Cia das Letras!

#NaJanelaFestival - Festival de Não Ficção

20 de maio de 2020


Vamos falar sobre não ficção?
Durante a segunda edição do Na Janela, doze escritores da casa participam de uma série de bate-papos on-line sobre literatura de não ficção no canal do YouTube da Companhia das Letras. Além disso, o festival terá uma pré-estreia especial na quinta-feira, 21, quando será lançada a gravação do evento realizado com Yuval Noah Harari em novembro do ano passado.

Confira abaixo a programação completa do #NaJanelaFestival e se programe para conferir:

📅 Quinta-feira, 21 de maio
- 19h | Pré-estreia: Uma entrevista com Yuval Noah Harari. Mediação de André Petry.

📅 Sexta-feira, 22 de maio
- 17h | A república em frangalhos
Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa M. Starling. Mediação de Patrícia Campos Mello.

📅 Sábado, 23 de maio
- 15h | Cultura popular e repressão
Laura Mattos e Adriana Negreiros. Mediação de Thiago Amparo.
- 17h | Feminismos
Heloisa Buarque de Hollanda e Djamila Ribeiro. Mediação de Giulliana Bianconi.
- 19h | Histórias negras
Flávio dos Santos Gomes e Wlamyra R. de Albuquerque. Mediação de João José Reis.

📅 Domingo, 24 de maio
- 15h | Biografias brasileiras
Mário Magalhães e Lira Neto. Mediação de Karla Monteiro.
- 17h | Sonhos para adiar o fim do mundo
Ailton Krenak e Sidarta Ribeiro. Mediação de Carol Pires.

A participação é livre e os leitores poderão contribuir com perguntas no evento do Facebook, no Twitter usando a #NaJanelaFestival ou no próprio YouTube, durante a conversa. Para se manter atualizado sobre lives e novos conteúdos, inscreva-se no canal e ative as notificações apertando no sininho.



E não deixe de conferir também a página do festival na Amazon Brasil, com descontos em mais de 100 títulos de não ficção!

Para mais informações, acesse o Instagram da Companhia das Letras.

Novidades de Março/10 - Companhia das Letras

12 de março de 2020

Tudo em seu Lugar - Oliver Sacks
Neste livro, o leitor terá acesso às várias facetas de Oliver Sacks, um dos cientistas mais acessíveis de todos os tempos. Desde sua paixão por plantas, museus e peixes, até histórias pungentes sobre pacientes com esquizofrenia, demência e Alzheimer.
Oliver Sacks foi um grande contador de histórias, amado pelos leitores tanto por seus relatos como neurocientista quanto pelo fascínio com o comportamento humano em sua acepção mais ampla. Tudo em seu lugar é uma celebração dos inúmeros interesses do autor, contados com a beleza e a erudição particulares de sua prosa luminosa.

Não Pararei de Gritar - Carlos de Assumpção
"Senhores/ O sangue dos meus avós/ Que corre nas minhas veias/ São gritos de rebeldia", declara Carlos de Assumpção no emblemático "Protesto". Escrito em 1956, o poema causou furor quando foi apresentado ao público pela primeira vez, na Associação Cultural do Negro, em São Paulo. Seus versos reescrevem a diáspora africana e denunciam um Brasil que traz na sua origem as marcas da injustiça, da desigualdade e da discriminação social. Décadas mais tarde, sua atualidade se mantém.
Com dor e revolta, mas também com vitalidade e esperança na construção de um país mais justo, a poesia de Carlos de Assumpção é um testemunho poderoso sobre os tempos em que vivemos, um símbolo de luta contra o silenciamento e a opressão histórica.
Esta edição conta com organização e posfácio de Alberto Pucheu.
"Esta publicação mostra a potência de seguir os caminhos trilhados por quem já rompeu muitos silêncios. Além de um presente para as próximas gerações, é canção para sonhar liberdades." – Djamila Ribeiro

Apátridas - Alejandro Chacoff
Depois de passar a infância na Filadélfia, o narrador de Apátridas retorna com sua mãe e irmã ao Centro-Oeste brasileiro. Numa pequena cidade do Mato Grosso, ele vai travar contato com sua família materna, principalmente seu avô, José, que fez fortuna como dono de cartório. A sombra do pai ausente, um homem de moral duvidosa, parece estar em tudo. À medida que acompanhamos as histórias do clã, somos enredados numa prosa que vai e vem no tempo, sem nunca perder a intensidade. Nesse primeiro romance, Alejandro Chacoff não idealiza; ao contrário, desdramatiza. Num Brasil violento e indiferente, cujo vazio das planícies é também o vazio histórico e de narrativas, ele busca os matizes da memória e constrói um romance inesquecível.

Amorhumorumor - Alice Ruiz S e Rodolfo W. Guttilla
Ao resgatar, atualizar e subverter as regras do haikai e do senryu, formas japonesas clássicas construídas por três versos, Alice Ruiz S e Rodolfo Guttilla estabelecem um diálogo delicioso, ágil e surpreendente. Com humor e inteligência, as palavras cintilam e reluzem no papel – de poeta para poeta.

O Fazedor de Velhos 5.0 - Rodrigo Lacerda
Prestes a completar cinquenta anos, parte da vida adulta de Pedro já se passou, e, como costuma acontecer, incluiu um punhado de tristezas e fracassos. Seu casamento com Mayumi não correu como o esperado, mas eles tiveram três filhos: Carlos, o mais velho, é também o mais problemático; Estela, a do meio, é uma estudante universitária, politicamente engajada e confrontada com um grande desafio de amadurecimento; e André, o caçula, é, nas palavras do pai, "uma mistura química de resultados imprevisíveis". A eles se juntam novos e incríveis personagens, como Filomena, uma milionária excêntrica, de coração ainda maior do que sua conta bancária; Rodolfinho "Puccini", um editor e colecionador de arte; e, por fim, José Roberto, o namorado de Estela, líder estudantil em um cenário político conturbado, que guarda ecos das manifestações de 2013 e de tudo que o Brasil viveu desde então. Embora este O Fazedor de Velhos 5.0 seja independente do livro anterior, o leitor terá a chance de constatar, não sem ternura, que a autodescoberta e o amadurecimento se dão em todas as idades. Nunca cessamos de aprender e de mudar – é o que parece nos dizer a todo momento este romance emocionante, escrito por um dos principais autores da literatura contemporânea brasileira.

O Braço Direito - Otto Lara Resende
Laurindo Flores é o zelador do Asilo da Misericórdia, na fictícia Lagedo, pequena cidade em Minas Gerais. Em seu diário, ele descreve seu dia a dia num casarão condenado, prestes a desabar, cuidando de crianças órfãs. Ao mesmo tempo que é capaz de praticar gestos covardes, e até mesmo atrozes, o protagonista alimenta o sonho de apagar seus erros e alcançar a redenção.
"Poderoso e estranho", com linguagem "habilmente construída pelo romancista", nas palavras do professor Antonio Candido, O braço direito é um romance magistral. Otto Lara Resende convida o leitor a mergulhar nos pensamentos de um personagem tacanho e conhecer um universo engenhosamente lapidado, feito de ressentimento e insignificância. O volume inclui posfácio da escritora Ana Miranda, que trabalhou arduamente, junto com o autor, na revisão final do livro.

Novidades de Fevereiro/20 - Companhia das Letras

12 de fevereiro de 2020

O Inominável Atual - Roberto Calasso
Turistas, terroristas, secularistas, fundamentalistas, hackers. Todos esses personagens habitam e movimentam o inominável atual – um mundo ilusório, que parece ignorar seu passado, mas cuja forma já fora prenunciada entre 1933 e 1945, quando tudo parecia se voltar para a autoaniquilação.
Nesse livro iluminador, o italiano Roberto Calasso – chamado de "instituição literária" pela The Paris Review – oferece uma elegante reflexão sobre as transformações que ocorrem nas sociedades de hoje, em que a era da ansiedade de W. H. Auden dá lugar a algo muito mais perturbador: a era da inconsistência.


Contra a Interpretação e outros ensaios - Susan Sontag
Uma série de discussões provocativas sobre os temas culturais mais prementes da década de 1960, este livro é a coletânea definitiva dos trabalhos mais conhecidos e importantes de Susan Sontag e foi a obra que a consagrou como uma das pensadoras mais incisivas do nosso tempo.
Publicada pela primeira vez em 1966, esta coletânea de ensaios nunca saiu de catálogo e influenciou profundamente muitas gerações de leitores, assim como o campo da crítica cultural no mundo todo. Inclui os textos revolucionários "Notas sobre o camp" e "Contra a interpretação", e também o debate acalorado de Sontag sobre autores como Sartre, Camus, Weil, Godard, Beckett, Lévi-Strauss, a psicanálise, filmes de ficção científica e o pensamento religioso contemporâneo.
Além da nova tradução, esta edição traz o posfácio "Trinta anos depois", no qual Sontag reafirmou os termos de sua batalha contra os filisteus, contra uma ética frágil e contra a indiferença.

1984 - George Orwell (Edição Especial)

14 de janeiro de 2020

Título: 1984 (Edição Especial)
Autor: George Orwell
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Distopia/Romance/Clássico
Ano: 2019
Páginas: 544
Nota: ★★★★★
Sinopse: "1984" não é apenas mais um livro sobre política, mas uma metáfora do mundo que estamos inexoravelmente construindo. Invasão de privacidade, avanços tecnológicos que propiciam o controle total dos indivíduos, destruição ou manipulação da memória histórica dos povos e guerras para assegurar a paz já fazem parte da realidade. Se essa realidade caminhar para o cenário antevisto em 1984 , o indivíduo não terá qualquer defesa. Aí reside a importância de se ler Orwell, porque seus escritos são capazes de alertar as gerações presentes e futuras do perigo que correm e de mobilizá-las pela humanização do mundo.

Resenha: No final de 2019 a Companhia das Letras lançou a edição especial de "1984"em comemoração aos setenta anos desde a primeira publicação. Mesmo tendo sido publicada em 1949, pouco antes da morte do autor, George Orwell, a obra continua sendo muito influente devido a crítica explícita ao totalitarismo e não deixa de ser um tipo de protesto contra os estratagemas do governo.


O mundo foi dividido em três superpotências que estão em guerra entre si desde sempre: Oceânia, Lestásia e Eurásia. A história se passa no ano de 1984, em Oceânia, uma sociedade estática, rígida e controlada pelo "Partido", cujo líder é um ditador "invisível", mas amado, reverenciado, idolatrado, nunca contradito e que, além de ser considerado um grande salvador, sempre está de olho você: O "Grande Irmão" (ou Big Brother).
É uma sociedade onde tudo é feito coletivamente mas, ao mesmo tempo, todos estão sozinhos, pois medo é um sentimento que domina a população, constantemente vigiada e controlada pelo Partido, seja no que diz respeito ao que vestem, ao que comem, ao que fazem e até mesmo ao que pensam. O Partido dita suas vidas, todos devem obedecer, e, se, porventura, alguém se opor, sofrerá todas as consequências possíveis e inimagináveis.

"Novafala" é a língua do país, que irá substituir a "Velhafala" até 2050. É uma linguagem desenvolvida para que as pessoas, em hipótese alguma, possam se opor ao Partido, e tudo seja direcionado a uma coisa só, a fim de extinguir opiniões diversas ou contraditórias sobre o governo, distorcer e canalizar o pensamento em uma única direção: a palavra absoluta e verdadeira do Grande Irmão.
O "duplipensamento" é um exemplo, e é definido como "o poder de sustentar duas crenças contraditórias na mente simultaneamente, aceitando as duas." 2+2 nem sempre resultará em 4 pois isso depende do que o sujeito acredita, ou no que alguém o levou a acreditar.
"Guerra é paz
Liberdade é escravidão
Ignorância é força"
- pág. 57
Através das "teletelas", as pessoas assistem paralisadas a um programa, "Dois Minutos de Ódio", patrocinado pelo Grande Irmão, cuja única finalidade é odiar e condenar tudo e todos que ousarem se opor ao Partido. Até as crianças agem como "fiscais", e aprendem a vigiar e entregar os próprios pais ao menor indício de comportamento suspeito ou inadequado que demonstrem.


Neste cenário aterrorizante, somos apresentados a Winston Smith, um homem beirando a meia idade, infeliz e medíocre, que trabalha em um dos Ministérios criados, o "Ministério da Verdade" (ou seria da Mentira?) e é responsável por manipular notícias, apagando verdades ou criando mentiras a favor da conveniência do Partido. Quem determina o que é verdade, ou não, é o Grande Irmão e ninguém mais... Mas Winston está cansado de se submeter a tudo isso, não concorda mais com toda essa ditadura e só quer ser um homem livre...
Eis que surge Julia, uma mulher de espírito livre, jovem e rebelde que não tem o menor interesse ou respeito pela política, vive desafiando o sistema e quebrando regras, mas que nunca foi descoberta, caso contrário já teria se tornado uma "despessoa" (alguém "apagado" da existência para que não haja nenhuma evidência relacionada a oposição, e consequentemente, algo que poderia comprometer os ideais do Partido se fosse à tona)... Winston se arrisca num romance proibido, e até criminoso, quando se depara e se deixa envolver intimamente com alguém bem diferente de sua ex esposa, que tem coragem para pensar e fazer tudo o que ele nunca teve, mesmo que escondido... Julia, de certa forma, representa a coragem, a alegria e a vida que Winston sempre sonhou, mas que nunca teria...
Outros Ministérios, como o Ministério do Amor, responsável por condenar e reprimir desejos ou aproximações mais íntimas, o Ministério da Paz, que tem controle sobre a guerra sem fim e a administra, e até o Ministério da Fartura, responsável pelo controle da alimentação da população, distribuindo as rações necessárias para a sobrevivência, são "departamentos" desse governo totalitário e opressor.

É difícil falar sobre a obra de forma resumida devido aos incontáveis elementos que ela possui. É necessário ler para que tudo seja entendido, absorvido e apreciado, e, por mais que seja chocante, intragável e inaceitável, é algo necessário para abrir os olhos de muitos que vivem estagnados, influenciados pelo que vêem, e entorpecidos, ou até enganados, por palavras fáceis, mas que nem sempre são compreendidas em sua totalidade...


Essa edição em particular está um espetáculo de linda. Além da capa dura e texturizada que parece ser um tipo de tecido, ainda conta com ilustrações que compõe um belíssimo ensaio visual de Regina Silveira, uma apresentação bastante esclarecedora da obra escrita por Marcelo Pen, vários modelos de capas (em cores) de diversas edições do livro que já foram publicados em diversos países nesses setenta anos, e algumas análises cirúrgicas feitas por alguns críticos da literatura, escritores, mestres e filósofos de renome.

1984 traz uma história pesada, cruel, complexa e perturbadora, e é capaz de fazer o leitor refletir acerca do poder totalitário e da manipulação a qual a sociedade está sujeita, mesmo que de forma inconsciente. O que vemos na TV é a realidade, ou o que querem nos impor como verdade? Somos cidadãos livres, ou estamos sob vigilância constante? Estamos acordando e fazendo algum progresso através de manifestações, ou o Estado se alimenta da ignorância do povo com propósito de deter e manter o poder?
É a imagem do autor para um futuro trágico, que mesmo ultrapassado há quase 30 anos, ainda é claramente perceptível nos dias de hoje aos olhos dos mais atenciosos...

A leitura dessa obra é indispensável, e para o velho e bom colecionador literário, essa edição é obrigatória.