Resumo do Mês - Dezembro (2021, vai com Deus, meu chapa!)

1 de janeiro de 2022


Eu achei que não fosse dar conta. E admito que deixei muita coisa atrasada e pra última hora. E nem foi só pela falta de ânimo e tempo, mas também procrastinei até não poder mais ao longo do ano. Mas o que importa é que entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Acho que tudo o que deixei de fazer durante o ano eu fiz em Dezembro, mas pra me dedicar às pendências do blog, eu acabei tendo que deixar de fazer algumas coisas que eu devia ou queria ter feito, incluindo enrolar séculos pra arrumar a casa, e até dei uma pausa do Desafio das Décadas senão não ia dar conta de terminar as leituras pra resenhar. Teve livro que comecei a ler no meio do ano mas só fui terminar agora (oie, Destruidor de Mundos!), então dá pra ter noção. Dia 24, por exemplo, tava eu lá na cozinha sofrendo pra fazer as comidas tudo sozinha de um lado, e de outro lado, com o kindle na mão. Um olho no livro e outro nas panelas.

Também fiquei aqui dando graças por minha vó ter ficado uns dias aqui em casa me dando um help, dei conta de tanta coisa que me senti lá no início do blog, quando eu lia de 15 a 20 livros no mês bem tranquila e serelepe, mas depois que a penca foi nascendo e me pondo louca, eu nunca mais pude fazer isso.

Queria poder manter esse ritmo, mas nem vou criar expectativas pra não morrer de frustração.
O Desafio Literário da Seguinte eu só não completei por causa de 1 único livro, que foi o livro que comprei há mais de 2 anos. Poderia ter pegado um livro fininho esquecido na estante e ler rapidão pra contar como feito? Poderia, mas não fiz. Mas já foi um avanço ter chegado até aqui levando em consideração que o Desafio que fiz ano passado eu não cheguei nem perto da metade.

Enfim, pra ano que vem ainda tenho 3 pendências pra poder entregar, com prazo curtíssimo que eu nunca tinha visto na minha vida, então já tô aqui pensando que tô escrevendo demais enquanto o tempo que deveria estar aproveitando pra ler, passa.
E por falar em tempo, até que enfim esse ano acabou, ninguém aguenta mais. Vamo ver se em 2022 a gente pode ter esperança de que as coisas vão melhorar, porque tá difícil...

Caixa de Correio #118 - Dezembro

31 de dezembro de 2021

Eu não sei o que aconteceu de Agosto pra cá. A sensação é de 4 meses terem se passado em 4 minutos. Esse mês chegaram nossos livritchos, e no meio deles veio Inferno, de Dante Alighieri que eu super queria quando soube do lançamento (já tem resenha dele no bloguito, inclusive). Comprei 3 decks de tarô na Amazon que já estavam na minha wishlist mas não comprava porque sempre estava o olho da cara. Baixou o preço e lá fui eu. E nada ainda dos popinhos que encomendei há uns 3 meses. Espero que cheguem no mês que vem. Até agora eu tô sem acreditar que consegui ficar mais de 3 meses sem comprar Funko Pop, Brasil! O último foi em setembro, se não me engano, da Lilo com a Xêpa. Sei que lançou muita coisa interessante nesse período (quem coleciona pops não tem um minuto de paz porque é lançamento a cada 5 minutos), mas preferi nem procurar saber, e nem cheguei a fazer wishlists (mas vou ter que fazer dos popinhos de Encanto).
As considerações finais, vou deixar pro resumo de amanhã.
Espiem o que teve nessa caixinha:

Inferno - Dante Alighieri

30 de dezembro de 2021

Título:
Inferno - Comédia #1
Autor: Dante Alighieri
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Clássico/Romance/Ficção
Ano: 2021
Páginas: 560
Nota:★★★★★
Compre: Amazon
Sinopse: Primeira parte da Comédia de Dante, Inferno é uma viagem às profundezas, para onde foram condenados os que não agiram de acordo com a ética cristã. O poeta romano Virgílio será o responsável por guiar Dante nesse trajeto.
Contando a história de uma alma cristã que parte da consciência do pecado (Inferno), passa pela purificação interior (Purgatório) e chega à visão de Deus (Paraíso), Dante dialoga com as tradições da poesia clássica greco-latina, dos textos bíblicos e até do pensamento árabe ― em uma obra de tal força que ainda hoje mantém o seu vigor literário e nos convoca a relê-la.

Resenha: Existem livros que marcam época e se tornam atemporais, e por esse motivo acabam se tornando clássicos da literatura. E se podemos falar de um poema épico que se tornou um clássico, e séculos depois, apesar de diversas interpretações e traduções ainda se mantém detentor de uma fagulha lírica e emocionante, esse poema é a Comédia do autor italiano Dante Alighieri, que recentemente recebeu uma nova e belíssima tradução e edição pela Companhia das Letras.
Comédia será relançada em três partes, e a primeira delas é Inferno.

 Acompanhamos Dante, que aqui além de autor é o próprio personagem (Dante gosta de fazer isso em seus trabalhos e esse, sem dúvida, é o mais pessoal). Em uma jornada onde busca se purificar dos pecados e ascender aos maiores ideais cristãos, ele usará a poesia para fazer críticas à sociedade da roça, a personagens famosos e principalmente aqueles que ele julga terem se entregado aos pecados e abandonado todos aqueles que contavam com eles. Ele é um andarilho e de tal forma, diante de um lugar perigoso e animalesco ele tem ao seu lado como guia o poeta Virgílio, por quem sempre teve admiração.

Dante passa pelos 9 círculos Infernais, cada um deles dedicados a um tipo específico de punição e contendo pecadores muitas vezes famosos, estes que ao longo da jornada ele encontra tanto de sua época (Florentinos famosos) como personagem clássicos. Como cada círculo do inferno é baseado nos pecados capitais e às crenças cristãs, fica o alerta para o tema.

A jornada de Dante é poesia, mas também critica, é uma jornada onde ele caminha guiado pelo pensamento racional, mas almejando um crescimento espiritual. Para a leitura ser mais agradável, é aconselhável já ter em mente que foi escrito séculos atrás, com bases morais que atualmente podem sequer mais serem aceitas como corretas, porém, ainda permanece sendo uma leitura inteligente e fascinante. Provavelmente não seria um conteúdo indicado para um iniciante no mundo lírico da poesia, mas indicado para quem já está familiarizado com o estilo de escrita e que gosta desse jogo de palavras que são expressões artísticas.

A obra é bilíngue, com tradução para o português lado a lado com a "original" em italiano 
O projeto gráfico é soberbo, todos os tons da paleta escolhida e gravuras pelo artista estão incríveis.
Comédia é composta por 14.233 versos que são divididos em três canções: Inferno, Purgatório e Paraíso, e cada canção tem 33 cantos.

Um ótimo livro clássico em edição de luxo e para colecionadores, também tem uma excelente tradução e texto apoio. Essa nova edição de Inferno entrega à nova geração um texto poderoso e que merece ser lido. Já quero as próximas duas partes!

Minha Pessoa Favorita - Alice Oseman

28 de dezembro de 2021

Título: Minha Pessoa Favorita - Heartstopper #2
Autora: Alice Oseman
Editora: Seguinte
Gênero: HQ/Romance/Juvenil
Ano: 2021
Páginas: 320
Nota:★★★★★
Compre: Amazon
Sinopse: No segundo volume da série Heartstopper, Charlie e Nick precisam entender o que um beijo significa para a relação dos dois ― e, principalmente, para eles mesmos.
Charlie e Nick são melhores amigos, mas tudo muda depois que eles se beijam em uma festa. Charlie acredita que cometeu um grande erro e arruinou a amizade dos dois para sempre, e Nick está mais confuso do que nunca.
Mas aos poucos Nick começa a enxergar o mundo sob uma nova perspectiva e, com a ajuda de Charlie, descobre muitas coisas sobre o mundo que o cerca, sobre seus amigos ― e, principalmente, sobre ele mesmo.
Resenha: Depois de se beijarem na festa de aniversário de um dos colegas de escola, Charlie e Nick ficaram super confusos com seus sentimentos e com o que aconteceu. Enquanto Charlie acredita que o beijo destruiu essa amizade tão bonita e fica se martirizando, Nick só quer entender como lidar com seus sentimentos e o que fazer pra assumir que gosta de Charlie. Mas sabendo que os garotos da escola são uns imbecis, e sabendo que é algo novo, ele ainda não se sente confiante o bastante pra isso, ele precisa de tempo pra se situar em meio a essa fase totalmente diferente do que estava acostumado, começa a pesquisar sobre a bissexualidade e, inicialmente, acha que é onde ele se encaixa.
O aniversário de quinze anos de Charlie está chegando, e aí está mais um momento super especial que eles vão passar juntos.


O que acontece é que quando a pessoa é gay, é bi, ou como quer que ela se identifique, não é questão de escolha, pois ela já nasce assim, é questão de tempo até se descobrir. Pra uns levam menos tempo, pra outros levam mais tempo dependendo da família, do círculo de amigos, das crenças, enfim, mas uma hora vai acontecer. Pode ser como Charlie, que desde criança já sabia de sua orientação, mas pode ser que nem Nick, que gostava de garotas até se envolver com Charlie e descobrir que essa relação é o que o faz verdadeiramente feliz, onde ele se sente seguro pra poder ser quem é, sem filtros. E aqui temos um Nick que está descobrindo isso, sobre quem ele é e sobre como ele deseja se identificar, mas ainda tem medo de assumir uma nova orientação, e Charlie entende e respeita a necessidade desse tempo. E tudo isso enquanto os dois enfrentam o drama de um relacionamento adolescente e gay.

Mantendo o mesmo estilo de narrativa, nesse segundo volume podemos acompanhar os meninos passando mais tempo juntos, se entendendo cada vez mais, intensificando as demonstrações de afeto um pelo outro, mas ainda mantendo o lance deles em segredo até que Nick saiba o que realmente está acontecendo com ele. Conhecemos Tao, que ajudou Charlie na época em que ele sofria bullying no colégio, e Ellie, sua amiga trans que estuda num colégio para meninas, trazendo ainda mais representatividade para a história.

Claro que a autora não é hipócrita de contar uma história de dois garotos apaixonados que remete somente a contos de fadas onde tudo são flores. A realidade às vezes é muito dura e o público LGBTQIA+ ainda sofre muito com pessoas homofóbicas, preconceituosas e odiosas, e com Charlie e Nick as coisas não são muito diferentes, o que mostra que, embora o amor seja imenso e tente superar tudo, eles ainda precisam enfrentar muita gente intolerante e lidar com muito hate gratuito, e aqui o maior imbecil é Harry, um dos meninos que estuda no colégio junto com eles. As "piadinhas" ofensivas e sem a menor graça são terríveis e juro que fiquei super triste quando Charlie fala que "já está acostumado". Mas por que esse tipo de comportamento deveria ser aceitável a ponto dos outros se acostumarem? Não vejo a hora desse Harry ter seu castigo por ser esse grande idiota.

No mais, enquanto o primeiro volume traz os dois se conhecendo, em Minha Pessoa Favorita, Nick está se descobrindo enquanto Charlie o apoia com toda a paciência que só uma pessoa tão adorável e sensível como ele é capaz.
Já disse e repito: é um livro fofo, pra deixar o coração quentinho, um sorriso no cantinho da boca e uma vontade imensa de sair abraçando todo mundo que a gente ama. O único defeito desse livro é que ele acaba muito rápido e a gente só quer mais um pouquinho de Charlie e Nick. Voltem, meninos!

Dois Garotos, Um Encontro - Alice Oseman

27 de dezembro de 2021

Título: Dois garotos, Um Encontro - Heartstopper #1
Autora: Alice Oseman
Editora: Seguinte
Gênero: HQ/Romance/Juvenil
Ano: 2021
Páginas: 304
Nota:★★★★★
Compre: Amazon
Sinopse: Charlie Spring e Nick Nelson não têm quase nada em comum. Charlie é um aluno dedicado e bastante inseguro por conta do bullying que sofre no colégio desde que se assumiu gay. Já Nick é superpopular, especialmente querido por ser um ótimo jogador de rúgbi. Quando os dois passam a sentar um ao lado do outro toda manhã, uma amizade intensa se desenvolve, e eles ficam cada vez mais próximos.
Charlie logo começa a se sentir diferente a respeito do novo amigo, apesar de saber que se apaixonar por um garoto hétero só vai gerar frustrações. Mas o próprio Nick está em dúvida sobre o que sente – e talvez os garotos estejam prestes a descobrir que, quando menos se espera, o amor pode funcionar das formas mais incríveis e surpreendentes.

Resenha: Charlie Spring é um garoto de 14 anos que estuda no Colégio Truham para Rapazes. Ele é tímido e muito inseguro, pois desde que os garotos descobriram que ele é gay, passaram a importuná-lo em qualquer oportunidade. 
Quando Charlie recebe um comunicado da escola de que deveria comparecer aos grupos interséries para a chamada, ele acaba se sentando ao lado de Nick Nelson, um jogador de rúgbi do segundo ano e super popular. Como eles se sentavam juntos todos os dias, os dois acabaram desenvolvendo uma amizade, ficando cada vez mais próximos. Não demora pra Charlie começar a se sentir diferente com a presença do amigo. Nick é super legal, é um amigo leal, respeitoso e super protetor, mas Charlie sabe que gostar de um garoto hétero só vai machucar seu coração. Ainda assim eles passam o tempo juntos se divertindo e fortalecendo ainda mais essa amizade, até Nick começar a se sentir confuso com seus sentimentos em relação a Charlie...

Eu sou daquelas que ama de paixão histórias contadas em formato de HQ, principalmente essas que deixam o coração quentinho. Dois Garotos, Um Encontro é o primeiro volume de Heartstopper, que vai introduzir o leitor nesse mundinho de descobertas e paixão em sua forma mais pura entre Charlie e Nick.

Enquanto Charlie já sabia sobre sua sexualidade e estava convivendo com isso da melhor forma que podia (mesmo que seja super inseguro e viva pedindo desculpas por tudo), Nick foi pego de surpresa e começou a ter que lidar com esse turbilhão de sensações e sentimentos, além de ficar cheio de dúvidas sobre quem ele é de verdade, o que fazer ou o que dizer. É tão fofa a parte onde ele começa a pesquisar na internet como saber se ele é gay já que começou a se sentir diferente com a presença de Charlie, ou quando eles estão trocando mensagens, digitam toda a frase mas não tem coragem de enviar, que a vontade é de enfiar os dois num potinho, cuidar e proteger pra sempre.
A história é adorável e mostra como é a experiência de se ter um primeiro amor e como ele vai se desenvolvendo aos poucos, dos sentimentos que causam euforia e frio na barriga, da ansiedade de querer ver a pessoa e se sentir bem pertinho dela. A autora consegue tratar do romance com naturalidade e transporta as emoções pro papel de uma forma super delicada e verdadeira, sem romantizar as cenas envolvendo assédio, preconceitos depressão e dependência emocional, com ilustrações que captam a emoção e os conflitos dos personagens com simplicidade e muita perfeição. E é tudo tão fluído e envolvente que mesmo que tenha 300 páginas pode ser lido em questão de minutos.

Uma coisa que achei genial que se refere a diagramação dos quadrinhos é sobre as conversas em grupo e a forma como ela indica quem está falando. Em vez de fazer vários quadrinhos avulsos com vários personagens, ela coloca os balões de conversa alinhados com a cabecinha do personagem indicando que é ele quem está falando. Outro ponto bacana são os quadrinhos se "desfazendo" como folhas ao vento pra formar os próximos, ligando os quadros e os personagens uns nos outros, ou ainda indicando as passagens do tempo. A forma de criação dos quadrinhos foi super bem feita e inteligente.
Pelo que pude perceber a história é uma só e foi dividida em 4 volumes formando a série (por enquanto só os dois primeiros volumes foram traduzidos aqui no Brasil pela Seguinte), e é como se cada volume correspondesse a uma fase, a um passo além que Charlie e Nick dão nesse relacionamento. Essa primeira fase é a fase da aproximação, da amizade que vai sendo construída e fortalecida, dos sentimentos aflorando naturalmente, da curiosidade natural, da ansiedade de não saber o que fazer, e dos questinamentos sobre algo, até então, desconhecido.

Dois Garotos, Um Encontro é uma introdução muito fofa à história de Charlie e Nick, abordando a necessidade do autoconhecimento, as inseguranças relacionadas a sexualidade e a descoberta daquilo que não apenas te faz feliz, mas que te faz se encontrar e ser quem você é.

Na Telinha - Encanto

26 de dezembro de 2021

Título
: Encanto (Encanto)
Elenco: Stephanie Beatriz, John Leguizamo, María Cecilia Botero, Diane Guerrero, Angie Cepeda, Jessica Darrow, Ravi-Cabot Convers
Gênero: Animação/Fantasia/Musical
Ano: 2021
Duração: 1h 43min
Classificação: Livre
Nota★★★★★
Sinopse: Encanto é a nova animação da Disney situada na Colômbia, sobre a extraordinária família Madrigal, que vive escondida em uma região montanhosa isolada, conhecido como Encanto. A magia da região abençoou todos os meninos e meninas membros da família com poderes mágicos, desde superforça até o dom da cura. Mirabel é a única que não tem um dom mágico. Mas, quando descobre que a magia que cerca o Encanto está em perigo, ela decide que pode ser a última esperança de sua família excepcional.

Por volta de 50 anos atrás, o casal Alma e Pedro Madrigal, junto com seus trigêmeos, precisaram abandonar o vilarejo onde viviam devido a alguns ataques que colocavam a vida de todos em risco. Eles precisavam encontrar um lugar seguro pra recomerçar a vida, e várias pessoas os seguiram em busca da mesma coisa. No caminho, numa tentativa de proteger as pessoas dos invasores, Pedro ficou pra trás e acabou sendo morto, e Alma, com seu espírito de proteção materno, viu com os próprios olhos a vela que carregava ganhar poderes mágicos, afastar os inimigos e construir uma enorme proteção em volta do vale para que ela, os filhos e as demais pessoas ficassem seguras. A chama da vela mágica não se apagaria mais, Alma, que mais tarde ficaria conhecida como Abuela, a protegeria assim como protegeria os filhos, e a casa (ou casita) dos Madrigal, que foi construída com o poder mágico da vela, ganhou vida, vai aumentando e se adaptando a cada membro da família que recebe seu poder, e se tornou uma referência na vila que ganhou o nome de Encanto.



Quando os três filhos de Alma se tornaram crianças, eles receberam um dom, e a família Madrigal começou a usar esses poderes pra ajudar os moradores do vilarejo e todos viverem felizes e em harmonia. Julieta tinha o poder de curar as pessoas com a comida que ela preparava com muito amor, Pepa era capaz de controlar o tempo de acordo com suas emoções, e Bruno tinha o dom da visão, ele enxergava o futuro. O tempo passou, Julieta e Pepa se casaram e tiveram filhos, que quando crianças também receberam seus dons. O poder de Bruno não agradava as pessoas pois ninguém queria ouvir sobre as coisas ruins que iriam acontecer, e por medo de suas previsões catastróficas serem prejudiciais, ele acabou desaparecendo da família e ninguém nunca mais ousou falar sobre ele.


Pepa e seu marido Félix tiveram três filhos: Dolores, que consegue ouvir qualquer coisa independente da distância, então sabe tudo da vida de todo mundo; Camilo, que consegue mudar de forma e se transformar em quem quiser; e o pequeno Antonio, que ama animais e está prestes a passar pela cerimônia para receber seu dom.
Julieta e Augustin tiveram três filhas: A encantadora e irresistível Isabela, que além de conjurar flores e as fazer desabrocharem, tem sucesso em tudo que faz; Luisa, que ganhou o dom da superforça e faz todo e qualquer trabalho pesado em casa e na vila; e Mirabel que para a surpresa/desgosto de Abuela, foi a única da família que não foi agraciada com o dom magia.



Como Mirabel, agora com seus quinze anos, não tem poderes, ela não se sente especial seja na família ou na comunidade, principalmente por ser bem desastrada, e passa seus dias tendo que lidar com o que pra ela, e pra Abuela, parece ser um problema. Como ela é adolescente, as coisas tomam uma proporção ainda maiores do que deviam... E partindo dessa premissa, vamos acompanhando toda a animação dos Madrigal nos preparativos da cerimônia de Antonio, até Mirabel começar a ver a casita se enchendo de rachaduras e a vela mágica em perigo, com sua chama brilhante prestes a se apagar. Ao tentar avisar à família, ela é repreendida, mas Mirabel está decidida a ignorar os avisos e descobrir porque viu isso acontecer, e porque os poderes de sua família parecem estar tão fragilizados.



Ambientado na Colômbia, Encanto é realmente um encanto de se ver. É tudo muito colorido e cheio de vida, tudo muito mágico e de encher os olhos. A trilha sonora é bem divertida e acaba servindo pra contar as partes da história que o público precisa saber pra entender alguma particularidade, conexão ou característica dos personagens, mas que não aparece em forma de acontecimento. O único problema é que algumas delas soam um pouco confusas devido a enorme quantidade de informações, e a primeira música que explica a árvore genealógica da família, por exemplo, só ficou clara pra mim quando fui assistir a animação pela segunda vez, depois de já saber quem é quem. Também não teve nenhuma música que entrou na cabeça a ponto de me fazer sair cantando por aí, como foi com Frozen ou Moana. Não que isso seja um problema, mas quando a gente ouve falar em Disney e animações musicais, a gente logo imagina e espera mais um "hit".

Sobre os personagens, eu fico cada vez mais impressionada de ver como a Disney vem se superando em apresentar pessoas reais do tipo "gente como a gente", com dilemas relevantes que causam uma reflexão super importante, independente da idade de quem esteja assistindo. Essa coisa de que numa história é preciso ter um relacionamento amoroso pra se ter um feliz para sempre, ou um vilão caricato pra acabar com os planos dos personagens está ficando cada vez mais deixada de lado, ainda bem.

Através de Mirabel, percebemos como temos o hábito de nos compararmos aos outros em relação a habilidades e propósitos, de como às vezes nos sentirmos inferiores frente a pessoas que tem algum talento ou sucesso, e como demoramos a entender que todos temos nossas qualidades, e elas são tão importantes quanto a de qualquer outro. A busca pela identidade, pelo amor próprio, e pelo sentimento de pertencimento é uma busca de todos que precisam dar valor a quem são, e como são.



Isabela e Luisa são personagens super interessantes e opostas uma da outra. Isabela, a irmã mais velha, representa a delicadeza e graciosidade, inicialmente demonstrando ser aquele arquétipo de clássica princesa Disney com direito a cabelo esvoaçante em câmera lenta e tudo, mas que tem camadas que vão sendo exploradas ao longo da história que mostram que ela está longe de ser assim. Luisa, a irmã do meio, representa a força e a resistência, aquela de quem todos esperam ajuda e socorro por se mostrar alguém inabalável, mas que no fundo se apavora com a ideia de falhar ou de não conseguir ajudar alguém. Independente disso, elas mostram como as mulheres ainda sofrem uma grande pressão na sociedade para corresponderem às expectativas e agradar os outros enquanto, por dentro, se frustram ou vivem infelizes, até enxergarem que não precisam se preocupar com os outros podendo ser livres pra serem quem quiserem ser, além de poderem tomar as próprias decisões.



Não posso deixar de falar sobre as personalidades dos demais membros da família e como eles podem representar qualquer parente nosso (isso se um deles não representa a nós mesmos). Julieta é a mãe preocupada, carinhosa, que quer manter todos felizes e de barriga cheia. Pepa é um tanto dramática, uma hora está feliz, outra hora está full pistola, fica andando pra lá e pra cá totalmente descontrolada e suas emoções vão de 0 a 100 em questão de segundos. Félix é o típico tiozão que só quer saber de diversão, dança e comilança. Dolores é a prima fofoqueira que sabe da vida de todo mundo, e por aí vai...



Abuela Alma também é uma personagem muito importante para o desenvolvimento e desfecho da história, pois ela, como a grande matriarca e base da família, representa a estrutura, estrutura esta que acabou se estendendo à própria casa por causa da magia. Desentendimentos, falta de compreensão, falta de diálogo e qualquer outra situação negativa em família que acabe colocando em risco a integridade dessa estrutura só vai machucar as pessoas e desencadear mais e mais problemas, e tudo começa quando a família rejeita as visões do futuro trágicas de Bruno sem sequer considerar ver o outro lado, como se quisessem varrer os problemas pra debaixo do tapete com a ideia de que se não podem ver é porque não existe, e se não existe, tá tudo bem. Nem se deram ao trabalho de irem procurá-lo quando ele sumiu. Depois vem Mirabel, que por não ter poderes não é a pessoa que esperavam que fosse a ponto dela se sentir culpada e até excluída por isso. Quantas famílias por aí vivem um inferno por falta de comunicação, pelo excesso de controle e zero abertura para tentar resolver as coisas com diálogo? Talvez a gente possa considerar essa questão como o "vilão" da situação toda.



Encanto é sobre isso, é sobre lidar com nossas falhas, pois ninguém é perfeito. É sobre aprender que uma coisa não pode anular a outra e que é preciso equilíbrio. É um espaço familiar, seguro e acolhedor, mas ao mesmo tempo cheio de pressão, intolerância e assuntos mal resolvidos, afinal, não é preciso ter poderes mágicos pra fazer a diferença. Uma boa conversa e atitudes positivas podem ser capazes de reparar as piores rachaduras...