Novidades de Março/10 - Companhia das Letras

12 de março de 2020

Tudo em seu Lugar - Oliver Sacks
Neste livro, o leitor terá acesso às várias facetas de Oliver Sacks, um dos cientistas mais acessíveis de todos os tempos. Desde sua paixão por plantas, museus e peixes, até histórias pungentes sobre pacientes com esquizofrenia, demência e Alzheimer.
Oliver Sacks foi um grande contador de histórias, amado pelos leitores tanto por seus relatos como neurocientista quanto pelo fascínio com o comportamento humano em sua acepção mais ampla. Tudo em seu lugar é uma celebração dos inúmeros interesses do autor, contados com a beleza e a erudição particulares de sua prosa luminosa.

Não Pararei de Gritar - Carlos de Assumpção
"Senhores/ O sangue dos meus avós/ Que corre nas minhas veias/ São gritos de rebeldia", declara Carlos de Assumpção no emblemático "Protesto". Escrito em 1956, o poema causou furor quando foi apresentado ao público pela primeira vez, na Associação Cultural do Negro, em São Paulo. Seus versos reescrevem a diáspora africana e denunciam um Brasil que traz na sua origem as marcas da injustiça, da desigualdade e da discriminação social. Décadas mais tarde, sua atualidade se mantém.
Com dor e revolta, mas também com vitalidade e esperança na construção de um país mais justo, a poesia de Carlos de Assumpção é um testemunho poderoso sobre os tempos em que vivemos, um símbolo de luta contra o silenciamento e a opressão histórica.
Esta edição conta com organização e posfácio de Alberto Pucheu.
"Esta publicação mostra a potência de seguir os caminhos trilhados por quem já rompeu muitos silêncios. Além de um presente para as próximas gerações, é canção para sonhar liberdades." – Djamila Ribeiro

Apátridas - Alejandro Chacoff
Depois de passar a infância na Filadélfia, o narrador de Apátridas retorna com sua mãe e irmã ao Centro-Oeste brasileiro. Numa pequena cidade do Mato Grosso, ele vai travar contato com sua família materna, principalmente seu avô, José, que fez fortuna como dono de cartório. A sombra do pai ausente, um homem de moral duvidosa, parece estar em tudo. À medida que acompanhamos as histórias do clã, somos enredados numa prosa que vai e vem no tempo, sem nunca perder a intensidade. Nesse primeiro romance, Alejandro Chacoff não idealiza; ao contrário, desdramatiza. Num Brasil violento e indiferente, cujo vazio das planícies é também o vazio histórico e de narrativas, ele busca os matizes da memória e constrói um romance inesquecível.

Amorhumorumor - Alice Ruiz S e Rodolfo W. Guttilla
Ao resgatar, atualizar e subverter as regras do haikai e do senryu, formas japonesas clássicas construídas por três versos, Alice Ruiz S e Rodolfo Guttilla estabelecem um diálogo delicioso, ágil e surpreendente. Com humor e inteligência, as palavras cintilam e reluzem no papel – de poeta para poeta.

O Fazedor de Velhos 5.0 - Rodrigo Lacerda
Prestes a completar cinquenta anos, parte da vida adulta de Pedro já se passou, e, como costuma acontecer, incluiu um punhado de tristezas e fracassos. Seu casamento com Mayumi não correu como o esperado, mas eles tiveram três filhos: Carlos, o mais velho, é também o mais problemático; Estela, a do meio, é uma estudante universitária, politicamente engajada e confrontada com um grande desafio de amadurecimento; e André, o caçula, é, nas palavras do pai, "uma mistura química de resultados imprevisíveis". A eles se juntam novos e incríveis personagens, como Filomena, uma milionária excêntrica, de coração ainda maior do que sua conta bancária; Rodolfinho "Puccini", um editor e colecionador de arte; e, por fim, José Roberto, o namorado de Estela, líder estudantil em um cenário político conturbado, que guarda ecos das manifestações de 2013 e de tudo que o Brasil viveu desde então. Embora este O Fazedor de Velhos 5.0 seja independente do livro anterior, o leitor terá a chance de constatar, não sem ternura, que a autodescoberta e o amadurecimento se dão em todas as idades. Nunca cessamos de aprender e de mudar – é o que parece nos dizer a todo momento este romance emocionante, escrito por um dos principais autores da literatura contemporânea brasileira.

O Braço Direito - Otto Lara Resende
Laurindo Flores é o zelador do Asilo da Misericórdia, na fictícia Lagedo, pequena cidade em Minas Gerais. Em seu diário, ele descreve seu dia a dia num casarão condenado, prestes a desabar, cuidando de crianças órfãs. Ao mesmo tempo que é capaz de praticar gestos covardes, e até mesmo atrozes, o protagonista alimenta o sonho de apagar seus erros e alcançar a redenção.
"Poderoso e estranho", com linguagem "habilmente construída pelo romancista", nas palavras do professor Antonio Candido, O braço direito é um romance magistral. Otto Lara Resende convida o leitor a mergulhar nos pensamentos de um personagem tacanho e conhecer um universo engenhosamente lapidado, feito de ressentimento e insignificância. O volume inclui posfácio da escritora Ana Miranda, que trabalhou arduamente, junto com o autor, na revisão final do livro.

Na Telinha - Bojack Horseman (4ª Temporada)

10 de março de 2020

Título: Bojack Horseman
Temporada: 4 | Episódios: 12
Elenco: Will Arnett, Alison Brie, Amy Sedaris, Paul F. Tompkins, Aaron Paul
Gênero: Animação/Comédia/Drama/Fantasia
Ano: 2017
Duração: 25min
Classificação: +16
Nota★★★★☆
Sinopse: Enquanto BoJack enfrenta a auto-sabotagem e aversão de sempre, além do sentimento de perda, Mr. Peanutbutter recebe a ajuda de Todd para concorrer ao cargo de governador da Califórnia, e Diane consegue um novo emprego.


Mantendo o tom ácido e carregada de humor negro, a quarta temporada de BoJack Horseman arriscou - e acertou em cheio, mesmo não sendo algo totalmente novo - ao abordar não só os dilemas, a autossabotagem e as crises do protagonista, que está desaparecido após os acontecimentos da temporada anterior, mas também ao tratar a política e o quanto o sistema é falido em todos os aspectos, tratando de temas relevantes da forma mais cômica e absurda possível.


Como sempre, o roteiro foge da zona de conforto quando trata do comportamento e da personalidade de BoJack. Ele é um retrato bastante fiel de como alguém inconsequente pode lidar com os próprios defeitos, seu pessimismo, com a culpa e com a ansiedade, tentando fazer com que a responsabilidade recaia sobre os outros ao invés de assumir que o problema é com ele mesmo.
Ao iniciar a temporada com BoJack afastado, há espaço para aprofundar os personagens secundários, e com exceção de Todd, que está pra lá de perdido nesse contexto, o resultado é ótimo. Mr. Peanutbutter está concorrendo ao governo da Califórnia e com isso podemos esperar tudo; Diane mostra como é difícil ser mulher nessa sociedade tóxica; e Princess Carolyn vê a vida desmoronar diante de seus olhos, mesmo após tanto esforço, e é impossível não sentir empatia e se compadecer pela coitada.


Nessa temporada a mãe de BoJack, Beatrice, dá as caras, e percebemos o quanto o retorno dessa mãe narcisista que trabalha as suas origens é algo que afeta o protagonista. Se antes ela pôde ser vista como alguém que parecia existir só pra menosprezar o filho, agora vemos que ela possui várias camadas e que é bastante vulnerável devido aos seus problemas psicológicos e seu passado difícil que não eram do conhecimento de BoJack, o que fazia com que julgar a mãe pelas suas atitudes com ele (que não digo serem as melhores) fossem mais conveniente.


Essa temporada, embora tenha o típico humor ácido e as referências ao mundo das celebridades, traz algumas piadinhas e trocadilhos sobre assuntos da atualidade que não acrescentam muita coisa e nem arrancam risadas, e parece um tanto forçado dando impressão de que estão tentando pegar carona no que está na moda, fazendo com que o drama particular de cada personagem, e a forma como é abordado, ganhe uma importância maior e supere quaisquer questões políticas.

No que remete a política, chega a ser cômico, pra não dizer que é trágico, como a série mostra que candidatos ou pessoas que já estão inseridos nesse meio fazem qualquer coisa para conquistarem eleitores e garantirem a vitória, optando por usar frases de efeito ou mantendo determinado posicionamento sem que haja a menor preocupação em mostrar a verdade ou um histórico dos seus feitos, afinal, manter as aparências ou criar um ilusão qualquer para agradar o público é muito mais válido e vantajoso. Fica bem evidente que a série faz várias referências às eleições americanas quando o atual - e laranjado - presidente dos EUA concorria à presidência.


Em suma, não digo que essa foi a melhor temporada até agora, mas ela é importante pra mostrar como muitas vezes as coisas boas ou ruins da vida acontecem sem que necessariamente os envolvidos tenham alguma culpa, mas é sempre possível tirar algo de positivo de qualquer experiência.

Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban - J.K. Rowling

9 de março de 2020

Título: Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban - Harry Potter #3
Autora: J.K. Rowling
Ilustrações: Jim Kay
Editora: Rocco
Gênero: Fantasia/Infanto juvenil
Ano: 2018
Páginas: 336
Nota:★★★★★
Sinopse: Durante 12 anos o forte de Azkaban guardou o prisioneiro Sirius Black, acusado de matar 13 pessoas e ser o principal ajudante de Voldemort, o Senhor das Trevas. Agora ele conseguiu escapar, deixando apenas uma pista: seu destino é a escola de Hogwarts, em busca de Harry Potter. Neste livro o leitor estará mais uma vez mergulhando no mundo mágico de Hogwarts e participando de aventuras repletas de imaginação, humor e emoção, que repetem o encantamento proporcionado pelos livros anteriores dessa maravilhosa série de J. K. Rowling.


Resenha: Depois de aturar a irmã do tio Válter, tia Guida, que ficara hospedada por uma longa e eterna semana na casa dos Dursley, Harry se desentende com a intragável mulher por ela não parar de falar abobrinhas para humilhar o garoto, a transforma num balão que sai voando pelos céus de Londres afora, e foge de casa no meio da noite. No meio do caminho ele se depara com um enorme cão preto que parecia vigiá-lo, mas acaba sendo salvo pelo Nôitibus Andante, um transporte bastante peculiar que resgata bruxos que se encontram em casos de emergência. Harry vai para o Caldeirão Furado, no Beco Diagonal, e fica por lá até que as aulas comecem. Ao tomar o Expresso de Hogwarts, Harry, Rony e Hermione se deparam com uma das criaturas mais malignas que habitam no mundo, os Dementadores, seres sombrios que se alimentam da felicidade das pessoas e guardam a Prisão de Azkaban.


Os Dementadores estavam vasculhando o expresso em busca do notório assassino e partidário do Lorde das Trevas, que fugiu da prisão, Sirius Black. Os rumores contam que Sirius, além de ter sido acusado de matar treze pessoas e ter destruído um bruxo de nome Pedro Pettigrew, e que a única coisa que sobrou do coitado foi um único dedinho encontrado, foi o maior responsável pela morte de Lílian e Tiago Potter, os pais de Harry, quando ele os traiu e os entregou a Lord Voldemort. E agora, com sua fuga de Azkaban, ele iria atrás de Harry para, enfim, terminar o serviço.


Agora, em seu terceiro ano em Hogwarts, Harry vai lidar com os novos desafios e matérias da escola, vai ter Hagrid como o novo professor de Trato das Criaturas Mágicas, a excêntrica Sibila Trelawney como a professora de Adivinhação, o misterioso Remo Lupin como o novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas (nenhum professor dura mais de um ano nesse cargo amaldiçoado), e ainda vai precisar se proteger da suposta ameaça que corre ao ser caçado por Sirius.
Quando Harry ganha o curioso Mapa do Maroto dos gêmeos Weasley para poder ver não só todas as passagens secretas da escola, mas também o local onde estão e o que todos na escola estão fazendo para escapar de Hogwarts e visitar o povoado bruxo de Hogsmead com sua capa da invisibilidade, ele percebe que o nome de Pedro aparece no mapa. Mas como poderia se ele foi morto? Será que o mapa mágico está com algum defeito? Ou será que há muito mais coisas escondidas por trás da história de Sirius que ninguém ainda não sabe? E o que significa esse cão, chamado de Sinistro, que parece estar sempre a espreita?


Esse volume é um dos melhores da série, seja por ter muito mais toques de bom humor, por trazer mais elementos desse universo mágico que se expandiu pra fora da escola, quanto pela introdução de Sirius Black e a importância que ele traz pra série de uma forma geral, assim como Lupin com suas frases inteligentes e de efeito (só não tanto quanto as de Dumbledore) e tudo o que ele tem a ensinar a Harry e as crianças.
Com treze anos, Harry já é um adolescente, e mesmo que tenha preocupações em aprender as matérias da escola, e agora que pensa estar correndo risco de vida, ele também começa a se interessar por garotas, mostrando que ele também tem características e comportamentos comuns de garotos dessa idade.
Rony continua engraçado e meio sonso, e está bem preocupado com Perebas, seu rato de estimação que anda se comportando de forma estranha ultimamente, principalmente agora que Hermione arrumou um novo bicho de estimação, Bichento, um gato amarelo de focinho achatado que não deixa o rato em paz e é muito inteligente.


Hermione, estudante voraz, de alguma forma misteriosa anda frequentando todas as aulas para não perder nenhum tipo de conteúdo e aprender tudo sobre esse universo, mas o que ninguém sabe é como ela pode estar em mais de uma aula ao mesmo tempo. Ela continua afiada com toda sua inteligência e lógica, e sempre age com a razão, alertando e repreendendo Harry mesmo que isso o contradiga e faça com que os meninos passem a ignorá-la deixando-a arrasada. Ela inclusive perde a paciência com a professora de Adivinhação, pois pra ela, tudo que Sibila diz não passa de falácia e charlatanismo, mas no final descobrimos que, por mais que ela seja exagerada em suas falas e pareça mesmo uma fraude, ela tem grande importância na história de vida do próprio Harry.
Agora que Hagrid se tornou professor de Hogwarts, ele, com todo o seu amor pelas criaturas mágicas, quer impressionar os alunos e mostrar a beleza desses bichos, e aí é que entra o hipogrifo Bicuço, que também tem uma grande participação e importância na trama.


O professor Lupin foi considerado o melhor professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, seja pela sua forma de ensino divertida quanto por ele mesmo ser um homem inteligente, legal e bastante compreensivo, o problema é que ele parece guardar um segredo, de vez em quando se ausenta e ninguém sabe pra onde ele vai, o que acaba sendo visto com desconfiança pelo trio de amigos. Através de Lupin, Harry consegue entender o que são e o que realmente fazem os Dementadores, descobre porque ele é mais afetado do que os outros na presença deles, e aprende um feitiço avançado chamado "Expecto Patronun", que conjura um Patrono para combater essas criaturas. Cada bruxo tem um Patrono representado por um animal que tem algum tipo de ligação com sua personalidade ou experiência de vida. É um feitiço bastante avançado pra idade de Harry, mas Lupin acredita no potencial do garoto.

Um dos pontos mais interessantes do livro é a ideia de que a autora, enquanto o escrevia, passava por uma época bastante pesada em que sofria de depressão, e os Dementadores foram criados baseados nessa condição. Uma criatura que suga a felicidade das pessoas até que ela definhe por completo, trazendo suas piores lembranças à tona e fazendo com que a pessoa perca a vontade de viver. Logo a forma de combater os dementadores com Patrono, que deve ser conjurado através de uma lembrança feliz, não foi por acaso. Até na pior situação, J.K. consegue ser genial, é incrível.


O quadribol também é bastante explorado, mostrando o quanto esse esporte é importante para Harry e a equipe da Grifinória.
Talvez esse seja o livro cuja adaptação cinematográfica foi a que mais "sofreu", pois são tantas coisas que ficaram de fora e/ou foram modificadas e resumidas para contar a história, que chega a dar desgosto. Uma das coisas que senti falta foi Sir Cadogan, um cavaleiro de armadura, baixinho e invocado que perambula pelos quadros mágicos da escola e que usa de um vocabulário "rebuscado" e hilário para tratar os garotos, brandindo sua espada para enfrentá-los, chamando-os de "patifes", "cães desprezíveis", "vilões" e coisas do tipo. Quando ele precisa substituir a Mulher Gorda, as cenas são impagáveis, pois ele vive dificultando a vida dos alunos.

A edição ilustrada e em capa dura dispensa maiores comentários. Pra quem é fã, é artigo essencial na coleção. Não digo que a revisão é perfeita, porque é comum encontrarmos um monte de erros, mas a história é tão boa e prende tanto que supera esse detalhe.


Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban traz muitas informações novas sobre o mundo bruxo, sobre Hogwarts, sobre o passado de Harry e sobre o passado de Tiago Potter e sua turma enquanto eles eram estudantes da escola. Mesmo que as descobertas de Harry e os acontecimentos envolvendo Sirius representam algo muito maior, fica evidente que Lord Voldemort está conseguindo retornar e que as coisas tendem a ficar bem mais perigosas a partir daqui.

Na Telinha - Anne with an "E" (2ª Temporada)

6 de março de 2020

Título: Anne with an "E"
Temporada: 2 | Episódios: 10
Elenco: Amybeth McNulty, R.H. Thomson, Geraldine James, Dalila Bela, Lucas Jade Zumann, Aymeric Jett Montaz, Kyla Matthews, Cory Gruter-Andrew, Dalmar Abuzeid
Gênero: Drama/Romance
Ano: 2018
Duração: 50min
Classificação: +12
Nota:★★★★★
Sinopse: Diante de uma falência iminente dos Cuthbert, a residência de Green Gables recebe dois novos misteriosos pensionistas: Nathaniel (Taras Lavren) e Sr. Dunlop (Shane Carty). Enquanto isso, Anne (Amybeth McNulty) estreita laços com Diana (Dalila Bela), Ruby (Kyla Matthews) e Gilbert (Lucas Jade Zumann), que faz um novo amigo estrangeiro.

Nessa segunda temporada, Anne já está melhor adaptada à vida em Avolea, assim como já conseguiu cultivar a simpatia e a amizade de algumas meninas da escola, e de Cole, que já se acostumaram com o jeitinho peculiar dela. Dessa vez, depois da perderem a colheita inteira num naufrágio, os Cuthbert estavam a beira da falência e, além de terem começado a vender seus pertences para conseguirem algum dinheiro, criaram um anúncio no jornal local oferecendo quartos em Green Glabes. Não demorou para que dois pensionistas misteriosos aparecem interessados no aluguel, mas ninguém sabe quais são as reais intenções deles alí, principalmente quando eles afirmam que existe ouro naquelas terras. Longe da cidade, Gilbert arranjou um emprego num barco, o que pra ele é uma aventura, e acaba fazendo amizade com Bash, um homem negro, pobre, e que tem uma experiência de vida bem diferente do garoto.


Com um roteiro mais maduro, se compararmos com a primeira temporada, Anne with an "E" traz uma trama que, mesmo se passando no século 18, aborda temas que resultam em reviravoltas interessantes e promove reflexões relevantes no espectador, que não remetem somente ao feminismo típico da série e a maneira como Anne tenta se encaixar quando ela é claramente diferente das outras meninas da sua idade, mas também ao machismo, ao racismo e a homofobia. Numa época onde a escravidão era permitida, a ideia de um homem negro ser livre e conviver entre brancos era absurda em meio a sociedade, assim como a homossexualidade era mau vista e tratada como uma doença, uma aberração, criando barreiras sociais e psicológicas, e impossibilitando a própria pessoa nessa condição a se assumir. Outra coisa bem interessante é a inserção de uma nova professora que tem métodos nada convencionais de ensino, e somando isso ao fato de ela ser mulher, também tem que aturar poucas e boas da população, pois o machismo também está entranhado no pensamento das próprias mulheres. E a série aborda isso de uma forma única, mostrando tanto os ataques, a forma de combate a esses preconceitos, e a reação de quem sofre com eles, o que emociona e surpreende bastante.


Anne, apesar de não ser perfeita, continua muito carismática, seja por ser sonhadora ou muito inteligente, o que a deixava a frente de sua época. A distância de Gilbert e a forma como ela se preocupa em manter contato com ele através de cartas, só reforça a ideia de que mais cedo ou mais tarde esses dois vão acabar juntos.

Além disso, também podemos voltar ao passado de Marilla e Matthew, o que nos permite entender porque ela se tornou uma mulher tão dura e que não demonstra seus sentimentos. Ter perdido um irmão e a mãe pouco tempo depois, fez com que ela assumisse o papel de responsável pela casa e por criar Matthew, logo ela se viu presa aquela condição e não pôde viver a própria vida da forma como ela gostaria por não ter outra escolha. Receber os pensionistas também é algo que lhe dá um choque de realidade, pois as pessoas nem sempre são aquilo que aparentam ser, e criar expectativas ou confiar demais pode gerar muitas decepções, infelizmente. A vida não é um mar de rosas.


Diante desses pontos e de novas experiências, é interessante ver como essa temporada consegue transitar entre a infância e a perda da inocência diante de alguma situação delicada mas que faz parte da realidade e do início de um amadurecimento necessário. Muita coisa que aprendemos vem com a dor, seja a nossa ou daqueles com quem nos importamos, e é preciso saber lidar com tudo isso pra seguir com a vida.
Há um episódio bem legal onde Anne, Diana e Cole vão a uma festa na casa de Tia Jô e se deparam com um pessoal bem diferente daqueles que vivem em Avonlea, e isso acaba expandindo a visão deles de que a vida é muito mais do que o que aprenderam naquela cidadezinha conservadora e que não evolui em nada, e que eles tem uma infinidade de opções a seguir além das tradições familiares ou sociais de se casar, ter filhos e viver nesse ciclo que parece reger a vida nessa sociedade.


Tirando alguns efeitos especiais bem mal feitos e nada a ver, o cenário e o visual no geral é muito bonito e inspirador, e é impossível não sentir vontade de visitar uma fazenda, fazer um passeio por um campo ou experimentar algumas das delícias feitas na cozinha de Green Gable.

Pra quem procura por uma série inspiradora, que emociona e trata de temas importantes com bastante delicadeza através de uma garotinha que está descobrindo o mundo à sua maneira, é série mais do que recomendada!