La Belle Sauvage - Philip Pullman

11 de janeiro de 2018

Título: La Belle Sauvage - O Livro das Sombras #1
Autor: Philip Pullman
Editora: Suma de Letras
Gênero: Fantasia
Ano: 2017
Páginas: 434
Nota:★★★★★
Sinopse: Malcolm e seu deamon, Asta, têm onze anos e vivem na estalagem A Truta, perto de Oxford. Do outro lado do rio, fica o convento de Godstow. Certo dia, Malcolm entreouve que as freiras estão recebendo uma nova hóspede: uma bebê chamada Lyra. O encanto que ele sente por ela é quase imediato, e sua curiosidade é aguçada pelo fato de que outras pessoas - importantes e perigosas - também parecem interessadas na criança.
Malcolm pode não saber por que Lyra é importante, mas quando uma tempestade desaba e inunda o país, ele precisa tomar uma decisão rápida para salvar a vida dela. Com a chuva caindo e as ruas da cidade transformadas em rios, Malcolm conduz sua canoa tentando levar Lyra para um lugar seguro. Mesmo que, no caminho, precise enfrentar fadas, feiticeiras, deuses e assassinos.
Neste primeiro volume da trilogia O Livro das Sombras, Philip Pullman leva os leitores de volta ao mundo de Fronteiras do Universo, contando a história da pequena Lyra anos antes dos eventos de A Bússola de Ouro.

Resenha: La Belle Sauvage é o primeiro volume da trilogia O Livro das Sombras (The Book of Dust) do autor Philip Pullman. O livro é um prequel da trilogia Fronteiras do Universo e traz de volta o universo dos deamons dez anos antes dos acontecimentos que se passaram em A Bússola de Ouro.

Malcolm Polstead é um garotinho ruivo de onze anos que, junto com seu deamon, Asta, mora e trabalha servindo hóspedes n'A Truta, a estalagem da família próxima de Oxford. Ele também passa o tempo ignorando a irritante Alice, que também trabalha na estalagem, faz pequenos serviços para as freiras do convento de Godstow ou atravessa as pessoas pelo rio em sua canoa, chamada de La Belle Sauvage.
Um dia o garoto descobre a presença de um bebê no convento e as conversas sobre o lugar que ouvia na estalagem enquanto servia os hóspedes começam a deixá-lo ainda mais curioso. Malcolm conhece Lyra, a misteriosa criança, e é inegável o quanto ela fica encantado e preocupado em protegê-la.
O que ele não sabia e os que as freiras não explicavam sobre Lyra era um mistério, e o interesse repentino de novos hóspedes pelo convento e por um suposto bebê o deixam intrigado.
Malcolm e Asta, junto com a odiada Alice e seu deamon Ben, embarcam numa jornada em sua canoa para proteger Lyra e Pantalaimon, mas não esperava viver uma grande e perigosa aventura assim como enfrentar a maior e mais surpreendente enchente de sua vida...

Narrado em terceira pessoa e com uma escrita rica e muito fluída, o leitor mergulha no mundo fantástico de Pullman e é capaz de compreender um pouco mais do funcionamento desse universo incrível assim como a importância do aletiômetro, uma relíquia que mais tarde pertenceria à Lyra para auxiliá-la em sua própria jornada.

Como os demais livros do autor, este também traz crianças como personagens principais em meio a uma trama cheia de camadas, com detalhes incríveis e um enredo muito inteligente, o que não faz do livro algo voltado ao público mais infantil, muito pelo contrário. O autor é mestre em explorar o mundo da fantasia e envolver o leitor no universo que criou, e assim como em Fronteiras do Universo, não deixou os temas e as críticas acerca de religião e política de fora. A questão da religião é o que move os personagens, principalmente os vilões, a lutarem por seus objetivos, e o Magisterium, assim como outros personagens doutrinados de acordo com os próprios objetivos que são tão assustadores quanto, já representava uma grande ameaça.

Embora o protagonista seja Malcolm, Lyra é a figura central para o desenvolvimento da história no que diz respeito aos conflitos gerados entre aqueles que têm poder, assim como faz parte de uma profecia. Embora não faça ideia do que está acontecendo por ser um bebê, ela é disputada como se nem fosse uma pessoa, mas sim um objeto, e ao mesmo tempo que é perseguida, é protegida com muito afinco pelo seu mais recente e jovem guardião.

A mitologia presente no enredo é incrível, principalmente quando o assunto é o misterioso Pó, e embora tenha seres fantásticos como os deamons, as bruxas e os ursos de armadura, o foco maior fica sobre as figuras angelicais, o que acaba expandindo ainda mais o dito universo onde a trama se passa.

Enfim, não é preciso que a primeira trilogia seja lida para compreender esta nova, mas confesso que a experiência será muito mais completa, agradável e satisfatória com tal conhecimento prévio. O autor mais uma vez não decepciona ao presentear os leitores com uma história com detalhes tão sombrios quanto iluminados, tornando La Belle Sauvage um livro que emociona e fascina.

Vulgo Grace - Margaret Atwood

8 de janeiro de 2018

Título: Vulgo Grace
Autora: Margaret Atwood
Editora: Rocco
Gênero: Drama
Ano: 2017
Páginas: 496
Nota:★★★★★
Sinopse: Inspirado num caso real, Vulgo Grace conta a trajetória de Grace Marks, uma criada condenada à prisão perpétua por ter ajudado a assassinar o patrão e a governanta da casa onde trabalhava, na Toronto do século XIX. Com uma narrativa repleta de sutilezas que revelam um pouco da personalidade e do passado da personagem, estimulando o leitor a formar sua própria opinião sobre ela, Atwood guarda as respostas definitivas para o fim. Afinal, o que teria levado Grace Marks a cometer o crime? Ou será que ela estaria sendo vitima de uma injustiça?

Resenha: Vulgo Grace é um romance de ficção especulativa baseado no caso real de Grace Marks, uma jovem imigrante irlandesa de dezesseis anos que, junto com James McDermott, foi acusada de ter assassinado seu empregador, Thomas Kinnear e sua governanta/amante Nancy Montgomery, no Canadá de 1843. Embora ambos tenham sido condenados da acusação, talvez pela falta de provas concretas, somente Grace escapou da pena de morte, mas passou muitos anos da sua vida em um manicômio e em numa prisão, até ter sido libertada e desaparecido. O fato é que, por mais que haja vários registros históricos sobre Grace, o caso da bela criada ainda é um mistério devido às várias contradições existentes em confissões, relatos, entrevistas, artigos e afins escritos sobre ela.
Grace foi uma jovem intrigante em varios sentidos, e por ter sido retratada como dona de várias personalidades distintas, nunca ficou claro se ela sofria de algum distúrbio mental ou se ela era uma manipuladora mentirosa e fatal.

Assim, utilizando o caso como base, a renomada escritora Margaret Atwood construiu uma trama fascinante onde o leitor é desafiado a descobrir o que faz ou não parte a ficção, quando é convidado a acompanhar o jovem psiquiatra Dr. Simon Jordan, que fora contratado por uma comissão local que quer provar a inocência da condenada, em uma tentativa de não só desbloquear várias memórias desaparecidas, como desvendar os mistérios da mente de Grace.
"De qualquer modo, Assassina é uma palavra forte para estar associada à sua pessoa. Tem um odor característico, essa palavra, almiscarado e sufocante, como flores mortas em um vaso. Às vezes, à noite, eu a sussurro para mim mesma: Assassina, Assassina. Ela produz um som farfalhante, como uma saia de tafetá pelo assoalho."
- Pág. 33
A escrita de Margaret Atwood é poética, com detalhes e descrições que transportam o leitor para a atmosfera que ela construiu através dos olhos de Grace. Embora tudo seja descrito com perfeição, seja os fragmentos dos fatos pesquisados ou ficção, há momentos em que nos questionamos sobre a veracidade do que Grace, como personagem, diz e cada frase pode ter um significado oculto que poderá fazer diferença no futuro...
É interessante acompanhar a problemática de Grace, que devido a falta de memória, não consegue distinguir se ela realmente matou o casal ou se foi apenas uma cúmplice do verdadeiro assassino. E tanto por sua beleza como pela forma como ela narra os acontecimentos, Dr. Jordan se impressiona e parece que o interesse vai além do que somente investigar a mente da mulher. Ele fica tão envolvido com o caso que começa a ser afetado de uma forma curiosa e bem intrigante, e isso é perceptível através de seus atos e pensamentos.

Além dos elementos verídicos, a história se completa com poemas, sonetos, documentos, citações e afins intercalados em meio a narrativa de forma a construir uma trama plausível e muito convincente, principalmente quando a cultura e os costumes da época são evidenciados a fim de tornar a história muito mais rica do que parece.

Este é o segundo livro que li da autora, o primeiro foi O Conto da Aia, e assim como ele, Atwood incorpora questões envolvendo o patriarcado, a sociedade machista, a opressão, os abusos que as mulheres sofrem, e Grace não fica de fora disso. É aquele tipo de leitura que fere, que causa indignação e repulsa, mas ainda assim serve para abrir os nossos olhos.
Muito do que as mulheres sofriam na mãos dos homens era encarado como algo normal da época, e na maioria das vezes a culpa sempre recaía sobre a mulher pelo simples fato de ela ser mulher.

Enfim, a história tem todo um clima de mistério e é impossível não se envolver com o caso e com os personagens, por mais complexos e imperfeitos que sejam. Confesso que devido ao excesso de detalhes a leitura em alguns momentos é um pouco cansativa e lenta, mas penso que sejam necessários para retratar o século XIX com a devida fidelidade e situar o leitor à época. Vulgo Grace é uma leitura imperdível sobre uma das mulheres mais enigmáticas da época cujo mistério ainda causa fascinação.


Wishlist #17 - Funko Pop - The 100

7 de janeiro de 2018

Quem já passou raiva assistindo The 100 levanta a mão!
Spoiler alert!
Não aguento a Clarke com suas caras e bocas de piedade e sofrimento eterno, e dou graças a Deus que o Jasper, o pelinha mor da série, tenha morrido na temporada 4, mas adoro e assisto todos os episódios de uma vez feito uma maníaca passa-fome, como se o mundo fosse acabar amanhã, e depois fico a ver navios sendo obrigada a esperar mais um ano inteiro com cara de tacho. Nem preciso dizer que os funkos de The 100 têm que fazer parte da coleção (que já está quase completa, inclusive).

Em novembro eu comprei a Clarke e a Lexa no Ebay por uns U$10,00 cada (e a Lexa que achei lá nesse preço foi a versão Chase, que aqui custa uns R$250,00 mais ou menos *o*), e acredito que devam chegar em janeiro ou fevereiro. E tô aqui rezando pra não serem taxadas (e mesmo se forem vai valer a pena, pq elas não andam com preços muito bons por aqui, não)...

PS.: Adoro como eles são "sujos"! *o*


Tash e Tolstói - Kathryn Ormsbee

6 de janeiro de 2018

Título: Tash e Tolstói
Autora: Kathryn Ormsbee
Editora: Seguinte
Gênero: Jovem Adulto/Romance
Ano: 2017
Páginas: 376
Nota:★★★★★
Sinopse: Natasha Zelenka é apaixonada por filmes antigos, livros clássicos e pelo escritor russo Liev Tolstói. Tanto que Famílias Infelizes, a websérie que a garota produz no YouTube com Jack, sua melhor amiga, é uma adaptação moderna de Anna Kariênina. Quando o canal viraliza da noite para o dia, a súbita fama rende milhares de seguidores e, para surpresa de todos, uma indicação à Tuba Dourada, o Oscar das webséries. Esse evento é a grande chance de Tash conhecer pessoalmente Thom, um youtuber de quem sempre foi a fim. Agora, só falta criar coragem para contar a ele que é uma assexual romântica ou seja, ela se interessa romanticamente por garotos, mas não sente atração sexual por eles. O que Tash mais gostaria de saber é: o que Tolstói faria?

Resenha: Natasha Zelenka, mais conhecida como Tash, é uma adolescente de dezessete anos que, aparentemente, não é muito diferente das outras garotas da sua idade, a não ser por ser fã de Liev Tolstói, o autor de Anna Kariênina, a quem ela carinhosamente chama de "Leo". Sua paixão por ele é tanta que ela, a melhor amiga, Jack Harlow, e o irmão dela, Paul, fizeram uma adaptação da obra e gravaram a websérie deprimente "Famílias Infelizes" para o canal delas no Youtube. O trabalho não foi nada fácil, e ver que as visualizações não cresciam não era nada animador. Até que Taylor Mears, uma das youtubers mais conhecidas e respeitadas da rede, recomenda a série em seu canal e o vídeo viraliza, rendendo a elas milhares de seguidores, incontáveis visualizações, uma indicação ao Tuba Dourada (uma espécie de Oscar das webséries com direito a evento de entrega de prêmio e tudo mais) e, claro, fama.
Mas, junto com essa fama inesperada vem os haters ridículos e suas críticas maldosas, e Tash não consegue lidar com esses "ataques". Ela também fica maluca com a ideia de continuar produzindo conteúdo de qualidade para agradar os fãs, e isso acaba causando vários conflitos com Jack, sua amiga. Agora, Tash precisa se preparar para o evento da Tuba Dourada, e lá ela teria a oportunidade de conhecer Thom Causer, um youtuber de quem ela sempre foi a fim. Porém, com o início dessa aproximação e um possível envolvimento, Tash precisa criar coragem para contar que, embora ela tenha interesse romântico por ele, ela é assexual, ou seja, ela não tem o menor interesse sexual por ninguém.

O livro é narrado em primeira pessoa e é tão fluído que quando a gente começa a ler não vê o tempo passar. A leitura é muito envolvente, e mesmo que Tash tenha problemas típicos da idade dela, não há aquela sensação de que esses problemas são bobos já que muitos adolescentes devem viver um pouco do que ela vive e podem se identificar.
Eu não gostei muito de Tash no começo pois ela é muito egoísta, exagerada e parece que não tem muita consideração pelos outros, ainda mais quando está surtada com coisas que ela ainda não aprendeu a lidar. Todo mundo trabalha duro no projeto da série, mas pra ela isso nunca é o bastante. Mas gostei de ver que com as experiências que ela teve após essa fama e, em nome da amizade muito bonita entre ela e Jack, ela cresceu e aprendeu com os próprios erros, e ter humildade para reconhecê-los é uma coisa muito importante. A sexualidade dela também é uma coisa muito legal, pois aqui a autora entrega uma personagem que se aceita do jeitinho que é, e sua preocupação é assumir isso para os outros que estão fora do seu círculo de amizade e que, talvez, poderiam não entender ou aceitar sua condição.

Outro ponto bem legal na trama é a forma como a autora mostra que a internet hoje em dia faz parte da vida de todo mundo, mas nem sempre é o mar de rosas que muitos pensam, ainda mais quando os bastidores são revelados. Por mais incríveis que as redes sociais possam ser, sempre há o lado negativo da coisa, principalmente quando a pessoa se torna um criador de conteúdo ou um formador de opinião e precisa encarar comentários de todos os tipos, todo santo dia, e ainda ficar na expectativa de agradar o seu público e correr o enorme risco de sair frustrado, e geralmente com gente que deveria ser ignorada.

Eu adorei a capa do livro, principalmente por trazer as cores da bandeira do orgulho assexual. O título e os detalhes da barba tem uma textura mais áspera e são um diferencial bem bacana.

Os conflitos adolescentes e os temas abordados são bem interessantes, e mostram um pouco dos problemas familiares, a importância da amizade, a rotina e as consequências de se ter fama na internet, e até as tristezas de se enfrentar a dor da perda, e o tema mais original e bacana do livro é com relação a assexualidade da protagonista, que não deixa de ser uma representatividade que eu nunca tinha visto em obras do gênero e é super importante para levar um pouco desta realidade aos leitores, mesmo que não seja tão aprofundada quanto eu imaginei, principalmente para quebrar alguns preconceitos bobos e mostrar que o interesse sexual por outras pessoas nem sempre é algo que deve fazer parte da vida, afinal, cada um é cada um.