Objetos Cortantes - Gillian Flynn

18 de março de 2017

Título: Objetos Cortantes
Autora: Gillian Flynn
Editora: Intrínseca
Gênero: Thriller/Suspense/Mistério
Ano: 2015
Páginas: 254
Nota:★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas | Amazon
Sinopse: Recém-saída de um hospital psiquiátrico, onde foi internada para tratar a tendência à automutilação que deixou seu corpo todo marcado, a repórter de um jornal sem prestígio em Chicago, Camille Preaker, tem um novo desafio pela frente. Frank Curry, o editor-chefe da publicação, pede que ela retorne à cidade onde nasceu para cobrir o caso de uma menina assassinada e outra misteriosamente desaparecida.
Desde que deixou a pequena Wind Gap, no Missouri, oito anos antes, Camille quase não falou com a mãe neurótica, o padrasto e a meia-irmã, praticamente uma desconhecida. Mas, sem recursos para se hospedar na cidade, é obrigada a ficar na casa da família e lidar com todas as reminiscências de seu passado.
Entrevistando velhos conhecidos e recém-chegados a fim de aprofundar as investigações e elaborar sua matéria, a jornalista relembra a infância e a adolescência conturbadas e aos poucos desvenda os segredos de sua família, quase tão macabros quanto as cicatrizes sob suas roupas.

Resenha: Depois do sucesso estrondoso de Garota Exemplar, a autora Gillian Flynn teve outras obras publicadas pela Intrínseca aqui no Brasil.
Objetos Cortantes narra a história de Camille, uma repórter de um jornal em Chicago. A morte de duas garotas em sua cidade natal, Wind Gap, a faz retornar para lá a fim de investigar o ocorrido e redigir uma reportagem para seu editor. Esse retorno, entretanto, gera mais do que uma simples investigação: além de descobrir a identidade do assassino, Camille terá que lidar com os fantasmas do seu passado.

A capacidade de Gillian trabalhar o modo psicológico em seus livros fica evidente a cada obra lançada pela autora. Enquanto em Garota Exemplar a insanidade de uma mulher é mostrada ao decorrer da história, em Objetos Cortantes temos também várias figuras femininas como principais no enredo. Pouco a pouco a personalidade delas é trabalhada e desenvolvida, mas há um mistério excelente na relação das personagens e isso instiga muito, criando dúvidas quanto ao papel desempenhado por cada uma delas. Flynn consegue construir figuras interessantes em cada obra sua, de modo que o necessário é mostrado e o principal é escondido e guardado para o final.

A narrativa é feita em primeira pessoa por Camille, uma mulher de trinta e poucos anos que carrega um passado turbulento e cheio de "marcas". A personagem é complexa, tem uma personalidade profunda e é até meio similar a Amy Exemplar. O contato o dela com a mãe, Adora, é o que há de mais interessante em Objetos Cortantes. Espera-se de relação mãe versus filha algo cheio de amor e compreensão, mas entre as duas não há nada além de frieza. É estranho ver com as duas se relacionam. Gradativamente, Flynn vai esmiuçando os diversos pontos dessa proximidade maternal tão peculiar e surpreende ao mostrar o modo como isso se originou.

Outra personagem que tem grande importância é Amma, filha de Adora e meia-irmã de Camille. A representatividade da precocidade juvenil é evidente nela. Com apenas treze anos, muitos seios e uma sexualidade já aflorada, a garota é tudo o que não espera-se de uma menina tão jovem.  Mas além disso, a forma como ela se porta diante de diversas situações é muito medonha. Em diversos momentos ela profana coisas horríveis para irmã e em outros está calma e doce. Uma verdadeira bipolar.

Objetos Cortantes é um livro curto de leitura fácil e rápida. A história instiga não pelo fato de seu desenvolvimento acelerado e investigação policial, mas, sim, por ter acontecimentos intrigantes em torno da protagonista. A história tem um foco maior no teor psicológico e é isso que a torna tão boa. Por que Amma se comporta de maneira tão estranha? Por que Adora não gosta da própria filha? Por que Camille usava objetos para cortar-se? Perguntas como essas surgem e se arrastam até o final. O desfecho surpreende e deixa uma moral: nem tudo que parece realmente é.

O Coração da Esfinge - Colleen Houck

17 de março de 2017

Título: O Coração da Esfinge - Deuses do Egito #2
Autora: Colleen Houck
Editora: Arqueiro
Gênero: Fantasia/Aventura/YA
Ano: 2016
Páginas: 368
Nota:★★☆☆☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas | Amazon
Sinopse: Lily Young achou que viajar pelo mundo com um príncipe egípcio tinha sido sua maior aventura. Mas a grande jornada de sua vida ainda está para começar.
Depois que Amon e Lily se separaram de maneira trágica, ele se transportou para o mundo dos mortos – aquilo que os mortais chamam de inferno. Atormentado pela perda de seu grande e único amor, ele prefere viver em agonia a recorrer à energia vital dela mais uma vez.
Arrasada, Lily vai se refugiar na fazenda da avó. Mesmo em outra dimensão, ela ainda consegue sentir a dor de Amon, e nunca deixa de sonhar com o sofrimento infinito de seu amado. Isso porque, antes de partir, Amon deu uma coisa muito especial a ela: um amuleto que os conecta, mesmo em mundos opostos.
Com a ajuda do deus da mumificação, Lily vai descobrir que deve usar esse objeto para libertar o príncipe egípcio e salvar seus reinos da escuridão e do caos. Resta saber se ela estará pronta para fazer o que for preciso.
Nesta sequência de O Despertar do Príncipe, o lado mais sombrio e secreto da mitologia egípcia é explorado com um romance apaixonante, cenas de tirar o fôlego e reviravoltas assombrosas.

Resenha: O Coração da Esfinge é o segundo volume da série Deuses do Egito escrita pela autora Colleen Houck e publicado no Brasil pela Editora Arqueiro.

Em O Despertar do Príncipe, primeiro volume da série, conhecemos Lily Young, uma jovem infeliz de dezessete anos que tem a vida totalmente controlada pelos pais até ter a oportunidade de se libertar ao embarcar numa viagem louca rumo ao Egito com uma múmia de milhares de anos que despertou num museu e passou a usar a energia vital dela para cumprir com sua missão de impedir Seth, o deus do caos, de destruir a Terra.
Então, dando continuidade a esses acontecimentos, e sem dar spoilers gritantes, Amon se rebelou contra os deuses egípcios e decidiu se transportar para o mundo dos mortos, e, com isso, Lily, arrasada, foi passar um tempo na fazenda da avó. Mas além de sofrer com a ausência do seu amado, ela ainda tem pesadelos tumultuados onde o vê lutando frequentemente contra várias criaturas monstruosas, e nem sempre levando a melhor. O que restou a ela foi um artefato que Amon havia lhe entregado antes de partir e que representa seu coração. Esse artefato criou um elo entre os dois, fazendo com que Lily seja capaz de encontrar - e salvar - Amon onde quer que ele estivesse, já que eles estão conectados independente do mundo em que estejam. E quando Anúbis faz uma visita a ela lhe dando a missão de ajudar Amon, ela não hesita em aceitar. Mas Lily não poderia ir até o mundo dos mortos como uma simples humana, ela deveria se transformar num esfinge, desde que provasse seu valor ao encarar provas difíceis e convencesse os deuses de que é digna de adentrar outro mundo.

Quem leu minha resenha de O Despertar do Príncipe percebeu que o livro foi uma completa decepção pra mim. Mas a culpa é toda minha, afinal, quem mandou insistir em ler todos os livros da autora sabendo que apenas um único mísero me agradou em meio a todos que desgraçaram a série inteira?
Narrado em primeira pessoa, lá vamos nós acompanhar Lily em mais uma tarefa impossível cheia de aventuras, perigos, reviravoltas loucas, e muitos detalhes sobre a mitologia egípcia, que dessa vez está bem mais sombria do que antes. A parte da mitologia é ótima, não nego, mas não salva a história...

Colleen Houck tem uma habilidade ótima de fazer o leitor viajar pra longe e imaginar tudo com muita perfeição através de sua narrativa fluída, detalhada e rica, isso eu posso afirmar com toda a certeza do mundo, mas é só. Não adianta ler uma história se a única coisa que pode ser aproveitada é esse fator, e só posso dizer que o que essa autora escreve não deve ser pra mim, mesmo. Penso seriamente em parar por aqui já que não consigo mais engolir tanta patifaria. Pena que descobri isso tarde...
Apesar de eu não ir muito com a cara de Amon, tenho que confessar que, no primeiro livro, com o passar do tempo o romance ele entre e Lily começou a ficar mais aceitável, ele demonstrando ser fofo e tudo mais, mas aí decidir que fugir de suas obrigações e largar sua amada pra trás pra ir pro meio no inferno seria uma boa ideia é demais. Mais egoísta impossível. A impressão que tive é que ele não considerou uma vez sequer o que essa escolha infeliz traria como consequência para a vida dele, de Lily, dos seus irmãos, de quem o cerca e do mundo inteiro que continuava sendo alvo de Seth.

E Lily? Meu Deus do céu... Há tentativas inúteis para justificar o novo comportamento que a protagonista passa a ter, que é questionável e nada confiável se levarmos em consideração que ela agora está dividindo o próprio corpo com a leoa Tia, mas saber que o amor que sente por Amon ainda é muito forte pra querer salvá-lo da situação trágica em que ele se encontra colocando a própria vida em risco e usando toda a sua coragem e força, e ainda assim achar que está tudo certo se ela se sentir atraída por outros homens, flertar com eles, beijar, deixar ser beijada e sabe-se lá mais o quê... É, no mínimo, desleal e vergonhoso. Não importa que Tia também tenha algum controle sobre ela e às vezes algumas atitudes se "confudam" devido a alguma influência que Lily possa estar sofrendo, mas a partir do momento em que ela mesma se questiona sobre o que sente, não tive mais dúvidas do caráter péssimo dessa personagem. E o respeito, cadê? E nem vou falar sobre o artefato que Amon lhe deu que faz com que ela se torne irresistível, sedutora, gostosona, pra qualquer um que cruze seu caminho...

Não sei que ideia estrambólica é essa de criar um clima romântico (e doentio) entre Lily e Amon no primeiro livro e no segundo já inventar um monte de besteiras pra enfiar os irmãos dele no meio do romance pra "movimentar" as coisas criando triângulos, quartetos ou um verdadeiro "bacanal amoroso", tornando a protagonista, que antes era um símbolo de fragilidade, em uma criatura fácil e que atira pra todos os lados, como se isso fosse algum tipo de "empoderamento", girlpower ou que nome tenha, como se o sentimento fosse uma brincadeira ou qualquer coisa a ser jogada no lixo. E o pior de tudo é que a coisa toda é inútil, encheção de linguiça pura, afinal, todos nós estamos cansados de saber com quem a mocinha vai ficar no final, né? Então pra que perder tempo irritando os leitores com tanta babaquice? O nome desse livro deveria ser "Manual de Como Destruir uma História".
E o pior é que mesmo assim, eu, idiota, continuei insistindo na leitura sabendo que nada poderia salvar essa palhaçada toda já que a autora parece insistir na mesmíssima fórmula da Saga do Tigre (que pra mim foi miserável de tão ruim) e ainda deixar o final aberto de um jeito que a interpretação possa ser considerada ambígua, para meu desgosto eterno. Argh... Pra mim já chega.


O Despertar do Príncipe - Colleen Houck

Título: O Despertar do Príncipe - Deuses do Egito #1
Autora: Colleen Houck
Editora: Arqueiro
Gênero: Fantasia/Aventura/YA
Ano: 2015
Páginas: 384
Nota:★★☆☆☆
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas | Amazon
Sinopse: Aos 17 anos, Liliana Young tem uma vida aparentemente invejável. Ela mora em um luxuoso hotel de Nova York com os pais ricos e bem-sucedidos, só usa roupas de grife, recebe uma generosa mesada e tem liberdade para explorar a cidade.
Mas para isso ela precisa seguir algumas regras: só tirar notas altas no colégio, apresentar-se adequadamente nas festas com os pais e fazer amizade apenas com quem eles aprovarem.
Um dia, na seção egípcia do Metropolitan Museum of Art, Lily está pensando numa maneira de convencer os pais a deixá-la escolher a própria carreira, quando uma figura espantosa cruza o seu caminho: uma múmia — na verdade, um príncipe egípcio com poderes divinos que acaba de despertar de um sono de mil anos.
A partir daí, a vida solitária e super-regrada de Lily sofre uma reviravolta. Uma força irresistível a leva a seguir o príncipe Amon até o lendário Vale dos Reis, no Egito, em busca dos outros dois irmãos adormecidos, numa luta contra o tempo para realizar a cerimônia que é a última esperança para salvar a humanidade do maligno deus Seth.

Resenha: O Despertar do Príncipe é o primeiro volume da série Deuses do Egito (Reawakened) escrita pela autora Colleen Houck (a mesma da Saga do Tigre) e publicado pela Editora Arqueiro no Brasil.

Liliana Young é uma jovem de dezessete anos que não anda muito satisfeita com sua vida, embora possa ter tudo o que o dinheiro pode comprar. Seus pais são influentes, ricos e bem sucedidos, moram numa cobertura em Nova York, mas controlam a filha com rigor. Em troca de um pouco de "liberdade", Lily tem que viver de forma regrada, seus pais controlam seus horários, o que come, onde vai, o que estuda e tudo mais, para que ela seja um exemplo de filha, mas estão sempre ausentes e ocupados com o trabalho. Lily queria muito ter um pouco de atenção por parte deles, queria poder escolher o prório curso na universidade e seguir uma carreira que esteja ligada ao que ela realmente gosta, mas isso parece impossível já que seus sonhos não correspondem com aquilo que seus pais querem pra ela.
Por gostar muito de arte, um dos hobbies que ela tem é visitar o Metropolitan Museum of Art, pois lá além de apreciar as obras, ainda pode refletir sobre a situação pela qual está passando sem maiores interferências, mas o que ela não esperava era passar por uma experiência "sobrenatural" alí. Na sessão egípcia, Lily se depara com uma múmia milenar perambulando pelo museu! E não se trata de uma múmia qualquer, mas sim de Amon, um dos príncipes do Egito que fora amaldiçoado a despertar a cada mil anos para se unir aos seus irmãos e impedir o retorno de Seth, o deus do caos, que devastaria a Terra. Mas o sucesso do despertar total de Amon para que ele cumpra sua missão depende muito de seus vasos canópicos, relíquias que guardavam seus órgãos no processo de mumificação e que são a fonte de sua energia vital e habilidades divinas, e esses objetos se encontravam no Egito, muito, muito longe dalí... Sem os vasos Amon ficaria vulnerável e fraco, e ele precisaria de algo pra substituir o que estava fora de seu alcance. Com Lily tão próxima, Amon não tem outra alternativa a não ser usá-la como sua fonte de energia até que possa retornar ao Egito, mas ele precisaria dela ao seu lado para se manter forte o bastante até encontrar o que precisa para continuar sozinho.
Mesmo asssustada e incrédula com o ocorrido, Lily aceita partir numa viagem rumo ao Egito para ajudar Amon com sua importante tarefa de salvar o mundo da destruição, e acaba não só vivendo a maior aventura de sua vida, mas um amor completamente improvável e impossível...

A princípio a premissa da história soa muito interessante, mesmo que clichê: Garota bonita, rica, esclarecida, diferente das outras meninas da sua idade, que pode ter tudo o que quer e ainda assim é humilde, mas vive deprimida por ter o emocional abalado devido a família, e que, por ironia do destino, se depara com alguém - um homem lindo e maravilhoso - que a tiraria de sua zona de conforto e mudaria sua vida da água pro vinho, da noite pro dia.

A escrita da autora é muito boa, cheia de detalhes sobre a aparência dos personagens e os locais por onde passam, evidenciando culturas distintas (mas não retratadas com a fidelidade que deveriam), comidas exóticas (vindo de Colleen Houck é algo que jamais poderia faltar, claro) e despertando o interesse do leitor para uma mitologia fantástica e cheia de particularidades (e mesmo cheia de buracos e inconsistências preferi relevar já que se trata de ficção).
Porém, uma evidente pesquisa sobre a mitologia egípcia (a mitologia, não a cultura propriamente dita), os detalhes e a fluidez da escrita (que mescla refinamento com casualidade), não são fatores suficientes para que a história seja realmente boa se o pano de fundo e os personagens não forem bem construídos, se vivem sendo beneficiados com inúmeras conveniências, se são estereotipados ou se não forem convincentes em seus propósitos a fim de tornar a trama plausível, e O Despertar do Príncipe acabou se tornando uma decepção pra mim.

Entendo que Lily é aquela típica adolescente que se sentia infeliz devido aos pais serem opressores e controladores, mas, levando em consideração seu grau de instrução e inteligência, não consigo enxergar uma atitude "rebelde" desse nível partindo dela, principalmente porque ela demonstra estar fragilizada a todo e qualquer momento, por mais que tenha tido coragem de fazer alguma coisa nova em sua vida. A experiência foi emocionante, serviu para que ela pudesse se arriscar, pra que se sentisse livre e amadurecesse suas ideias, pra que deixasse de ser tão insegura e submissa tornando-a dona de si mesma e do próprio destino, como se tudo o que estava reprimido por causa do domínio dos seus pais, enfim, pudesse ser libertado, mas ainda assim não consegui engolir, principalmente por que o que deu a entender é que em meio ao possível fim do mundo a única coisa com o que ela passa a se preocupar é com o beijo de amor verdadeiro do príncipe lindo dos olhos verdes estonteantes e ainda está inteirasso mesmo tendo milhares e milhares de anos.

Amon pode ser o príncipe mais bonito e encantador ever, e pode possuir um dialeto poético vindo de outra era que desperta a atenção da mulherada (e é super cafona, convenhamos), mas a ideia de que a criatura é capaz de manipular as pessoas com o poder da mente já mostra o quanto ele pode ser perigoso. O que ele fez com Lily, ao meu ver, não foi nada respeitoso. Ele se conecta a ela feito um parasita e essa ligação louca é responsável pelos sentimentos mais esquisitos e controversos que já pude acompanhar na história do YA. Aquilo foi abusivo e praticamente um sequestro, e a tonta simplesmente se deixou levar pela ideia de ter uma oportunidade única de viajar pra longe com um completo maluco desconhecido e fugir do que tanto a afligia (o controle dos pais, no caso). Ver aquele sujeito se sentindo perdido no meio da selva de pedras que é Nova York depois de mil anos, vagando praticamente pelado, tentando aprender as coisas na marra ou fazendo perguntas idiotas, e sem entender como as coisas evoluíram tanto ao mesmo tempo que "invade" a tecnologia de câmeras de segurança, aparelhos celulares e a própria mente das pessoas com quem ele cruza para controlar, manipular, conseguir e fazer o que quiser, foi, no mínimo, triste. Eles vão pra onde querem, de táxi ou avião, e sequer gastam um centavo porque Amon faz as pessoas acreditarem que ele é alguém que simplesmente não tem que pagar por nada. Oi? Lily tem dinheiro de sobra que não lhe faria falta. Ela poderia bancar tudo e ser recompensada depois já que quis participar dessa furada, mas não...
E outra.. Porque diabos todos os "príncipes" da autora tem que ter os olhos claros? Primeiro foi o indiano dos olhos azuis, agora o egípcio dos olhos verdes (ou que cor clara seja já que o homem parece um metamorfo e faz até crescer cabelo na própria cabeça careca com intuito de chamar menos atenção por onde passa)... Qual o problema com os olhos castanhos, que é o que deveria ser mais comum no povo desses lugares? Por que fazer alterações desnecessárias pra encaixar os personagens num padrão de beleza que não condiz com a realidade de onde vieram?

Só posso dizer que, com excessão de poucas passagens que realmente considerei válidas, relevantes e interessantes, o melhor do livro é a capa. Ela tem um efeito metalizado, o título é destacado em alto-relevo e o trabalho gráfico da obra de forma geral é maravilhoso.

Enfim, sei que muitos leitores adoraram a história, os detalhes, a mitologia, o romance e a viagem única que a autora proporcionou (assim como foi com a Saga do Tigre), conseguindo tirar do livro algo totalmente diferente do que eu, mas pra mim não funcionou tão bem assim, infelizmente. A sensação final que tive é que tudo foi enfadonho e se resumiu a uma grande viagem turística com direito a hotel 5 estrelas, boates animadas e areia, muita areia, e a verdadeira condição do Egito da atualidade e suas verdadeiras características foram totalmente ignoradas. Não acho que ninguém deva elevar as expectativas como eu fiz antes de ler esse livro, pois o resultado pode ser o contrário do esperado...

República de Ladrões - Scott Lynch

16 de março de 2017

Título: República de Ladrões - Nobres Vigaristas #3
Autor: Scott Lynch
Editora: Arqueiro
Gênero: Ficção
Ano: 2015
Páginas: 544
Nota:★★★★★
Onde Comprar: Saraiva | Submarino | Americanas | Amazon
Sinopse: Envenenado e à beira da morte, Locke Lamora segue para o norte com seu parceiro, Jean Tannen, em busca de refúgio e de um alquimista para curá-lo. Porém, a verdade é que ninguém pode salvá-lo. Com a sorte, o dinheiro e a esperança esgotados, os Nobres Vigaristas recebem uma oferta de seus arquirrivais, os Magos-Servidores.
As eleições do conselho dos magos se aproximam e as facções precisam de alguém para fazer o trabalho sujo, manipulando votos. Se Locke aceitar, o veneno será purgado de seu corpo com o uso de magia – mas o processo será tão excruciante que ele vai desejar morrer.
Locke acaba cedendo ao saber que o partido da oposição contará com uma mulher do seu passado: Sabeta Belacoros, a única pessoa capaz de se igualar a ele nas habilidades criminosas e mandar em seu coração. Novamente em uma disputa para ver quem é o mais inteligente, Locke precisa se decidir entre enfrentar Sabeta ou cortejá-la, e a vida dos dois pode depender dessa decisão.

Resenha: República de Ladrões é o terceiro volume da série Nobres Vigaristas do autor Scott Lynch e publicado pela Arqueiro.

Depois de se envolverem com o ardiloso Stragos para servirem seu plano de tomar a cidade de Tal Verrar, Locke Lamora e Jean Tannen conseguem fugir para Lashane, mas a principal preocupação de Tannen, que está desesperado, é encontrar um alquimista para curar o amigo, que está morrendo após ter sido envenenado e não ter mais acesso ao antídoto. O problema é que naquela cidade ninguém parece ter conhecimento o bastante para ajudá-lo até a salvação surgir da forma mais inesperada que eles poderiam imaginar. Locke e Jean são abordados pela Maga-Servidora que lhes oferece a cura através de magia, porém eles teriam que fazer algo sujo em troca: Fraudar as eleições do Conselho dos Magos, subornando eleitores e manipulando seus votos, para que seu partido, o Raízes Profundas consiga vencer seu oponente, o Íris Negra. O que Locke não esperava era que o Íris Negra tivesse contratado Sabeta Belacoros, ex-integrante dos Nobres Vigaristas que possui habilidades equiparadas as do próprio Locke. E como se não bastasse Sabeta ser um grande obstáculo nessa tarefa, mesmo depois de tanto tempo, ela ainda é dona do coração de Lamora...

Narrado em terceira pessoa, o livro é dividido da mesma forma que os demais da série. Partes denominadas "Livros", divididos por capítulos subdivididos por cenas e interlúdios que intercalam passado e presente tanto de Locke, quanto dos Nobres Vigaristas e do mistério que gira em torno de Sabeta a quem não sabemos quase nada, para que tais acontecimentos preencham as lacunas da história dos personagens, evidenciando o que aconteceu até que eles tenham se tornando as pessoas que são hoje e, de certa forma, tornando o enredo mais rico e completo. O diferencial é que alguns dos personagens marcantes do primeiro livro apareceram de uma forma mais interessante, como o lendário Correntes (o antigo líder e fundador dos Nobre Vigaristas), o Aliciador (antigo "dono" de Locke) e a própria Sabeta. Inclusive o autor dá muito espaço para desenvolver a relação que Lamora e Sabeta construíram no passado, coisa que não havia sido nada aprofundada até então. Algumas cenas dos capítulos são apresentadas inteiramente em forma de diálogos, sem maiores descrições feitas pelo narrador. Alguns dos diálogos são entre os magos e através do que é dito o leitor fica a par dos reais motivos da eleição que envolve facções rivais e seus objetivos.

Enfim, neste livro, ficamos sabendo mais sobre o passado misterioso que envolve as origens de Locke, e também de Sabeta, mas isso não significa que seja algo bom... Ela é uma trapaceira nata, que não hesita em fazer o que for necessário para se dar bem sobre quem ou o que estiver em seu caminho, e tem uma habilidade sem igual de virar o jogo a seu favor. Tudo isso seria muito bom no contexto da história em si, se não fosse pelo fato de ela usar os sentimentos de Locke como se fossem descartáveis. Confesso que me irritei inúmeras vezes com o comportamento dele ser tão inconstante na presença dessa mulher, pois ser retratado como alguém perdidamente apaixonado a ponto de isso poder ser considerado uma fraqueza de alguma forma, não foi nada legal de se ver, mesmo que ele não parecesse se importar...
Então, por mais que esse livro tenha sido uma adição empolgante para a série e, assim como os demais, ter sido um dos melhores livros que já li do gênero, não me empolguei tanto quanto gostaria como foi com os livros anteriores, principalmente por que, embora haja vários vilões pimpões ao longo da trama, o vilão verdadeiramente maligno, aquele que espreme suas vítimas na mão e depois sopra só o pó, está guardado para aparecer no final, então a ansiedade fica pela espera do próximo livro, socorro.

A capa combina com os volumes anteriores no que diz respeito aos tons, a fonte utilizada e aos detalhes, mas por ter um ar maior de mistério achei a mais bonita das três até então.

No mais, a história é super bem construída, bem escrita, cheia de ação e reviravoltas, muitas surpresas e revelações bombásticas de fazer o queixo cair, e claro, o típico bom humor que consegue equilibrar a tensão e o desespero das situações malucas ou perigosas que os personagens se encontram.