Novidades de Julho - Companhia das Letras

22 de julho de 2015

Só por Hoje e para Sempre - Diário do recomeço - Renato Russo
“Perdi vinte em vinte e nove amizades/ por conta de uma pedra em minhas mãos”, rezam os versos iniciais do álbum O descobrimento do Brasil, lançado pela Legião Urbana em novembro de 1993. Menos de seis meses antes, em abril do mesmo ano, Renato Russo dava entrada na clínica de reabilitação Vila Serena, no Rio de Janeiro, não só para se desvencilhar do álcool e das drogas, como também para mergulhar numa reflexão profunda sobre sua vida.
Os vinte e nove dias que o músico passou ali internado o marcariam profundamente, tanto em sua trajetória pessoal quanto em sua produção artística, conforme revelam as várias letras subsequentes que, a exemplo de “Vinte e nove”, se referem a essa experiência radical de reclusão.
“Passei vinte e nove meses num navio/ e vinte e nove dias na prisão”, segue a canção, “e aos vinte e nove, com o retorno de Saturno,/ decidi começar a viver.” Perfeccionista e exigente em todas as etapas de seu processo criativo, da composição à execução diante do público, o homem que estava à frente da Legião Urbana - uma das bandas de maior sucesso na história da música brasileira - encarou com a mesma obstinação o Programa dos Doze Passos oferecido pela clínica, seguindo à risca os exercícios terapêuticos de escrita propostos.
É esse material inédito que vem à tona depois de mais de vinte anos em Só por hoje e para sempre, atendendo ao desejo do autor de ter sua obra publicada postumamente. Entremeando as memórias de Renato com passagens de autoanálise e um olhar esperançoso para o futuro, esse relato oferece a seus fãs, além de valioso documento histórico, um contato íntimo com o artista e um exemplo decisivo de superação.
“E vinte e nove anjos me saudaram/ E tive vinte e nove amigos outra vez.”Passados mais de vinte anos, vem à tona relato inédito dos dias que o líder da Legião Urbana passou numa clínica de reabilitação para combater a dependência química e reencontrar o equilíbrio.

Mate Minha Mãe - Jules Feiffer
Somando-se a uma carreira lendária que inclui um Pulitzer, um Oscar, um Obie e outras homenagens da National Cartoonist Society e do Writers Guild of America, Jules Feiffer apresenta agora sua primeira graphic novel.
Mate minha mãe é uma vibrante celebração do cinema noir e dos quadrinhos que embalaram sua juventude. Bebendo de Spirit - HQ em que Will Eisner trabalhou nos anos 1940 -, nas obras de Hammett, Chandler, Cain, John Huston e Billy Wilder, e ainda repleto do humor rápido de Feiffer, o livro conta a história de cinco mulheres formidáveis ligadas fatalmente por um detetive decadente e beberrão.
Nesta sua primeira graphic novel, Feiffer injeta energia e vitalidade no gênero.

Gêmeos - Memórias - Allen Shawn
Quando Allen e sua irmã gêmea, Mary, tinham dois anos, os Shawn começaram a perceber sinais de que havia algo errado com a filha do casal. Aos oito anos, ela foi enviada para passar o verão em uma escola especial. O que era para ser uma ausência temporária acabou se transformando em uma internação permanente sem mais explicações, e Mary nunca voltou a viver no seio familiar. Posteriormente, sua condição seria diagnosticada como autismo acrescido de deficiência intelectual.
Décadas mais tarde, ao investigar as origens de sua agorafobia em seu primeiro livro de memórias, Bem que eu queria ir, o compositor Allen Shawn compreendeu que sua angústia estava inextricavelmente ligada à história de sua família. Nesse relato, ele refaz o percurso de sua relação com Mary, desde o berço partilhado nos primeiros meses de vida até a separação abrupta e radical, a fim de entender o papel que a condição de gêmeo e a perda traumatizante da irmã representaram em sua existência e em sua forma de perceber o mundo. Allen perscruta os segredos e a intimidade de seus progenitores - o pai, William Shawn, era o lendário editor da revista The New Yorker e manteve durante décadas, e com anuência da esposa, um caso extraconjugal com a jornalista Lilian Ross - e analisa que impacto tiveram na dinâmica familiar. Revisita autores e textos clássicos sobre o autismo, expõe de maneira clara as diversas formas de tratamento e ainda apresenta a compreensão sobre a doença na década de 1950, quando Mary foi internada, e hoje.
Franco, emocionante, vívido e delicado, o relato de Shawn vai além daquilo a que se propõe: ao término dessa jornada em busca de um afeto perdido, o leitor partilha com o autor a dor de uma perda tão importante, mas também uma “certa ideia expandida do espectro humano”.

Ai! Que Preguiça!... - O Brasil em 39 poemas fabulosos & alegóricos - Rodolfo W. Guttilla
De Cabral aos protestos de junho de 2013, do Marechal Deodoro à Tropicália, de Getúlio Vargas ao Golpe de 1964: os mais variados aspectos e capítulos da vida brasileira são capturados com leveza pela poesia de Rodolfo Guttilla. Seu livro é uma jornada lírica e graciosa por nossa história. Leitores de todas as idades irão se cativar por essa mistura muito bem-feita de poesia e comentário social.
Tomando de empréstimo como título a famosa frase de Macunaíma, de Mário de Andrade, o livro de Guttilla tem como principais inspirações a obra do autor modernista e os poemas de José Paulo Paes (1926-1998), que tratava de assuntos brasileiros com uma graça que influencia os autores mais jovens até hoje.

O Diário de Guantánamo - Mohamedou Ould Slahi
Desde 2002, Mohamedou Slahi está preso no campo de detenção da Baía de Guantánamo, em Cuba. No entanto, os Estados Unidos nunca o acusaram formalmente de um crime. Um juiz federal ordenou sua libertação em março de 2010, mas o governo americano resistiu à decisão e não há perspectiva de libertá-lo.
Três anos depois de sua prisão, Slahi deu início a um diário em que conta sua vida antes de desaparecer sob a custódia americana, o processo interminável de interrogatório e seu cotidiano como prisioneiro em Guantánamo.
Seu diário não é apenas um registro vívido de um erro da Justiça, mas um livro de memórias denso, multifacetado, aterrorizante, sombrio e autoirônico.

Um Holograma para o Rei - Dave Eggers
Em uma próspera cidade da Arábia Saudita, longe da complicada realidade da recessão que assola os Estados Unidos, um empresário em apuros financeiros realiza uma última e desesperada tentativa de evitar a falência completa, pagar a caríssima faculdadeda filha e, talvez, fazer algo de bom e surpreendente com sua vida.
Em Um holograma para o rei, Dave Eggers nos conduz por uma viagem pelo outro lado do mundo e pela comovente e por vezes cômica jornada de um homem para manter a família unida e a vida nos eixos diante da crise que devasta todos como uma tempestade. Nesse deserto insólito, ele irá se deparar com uma estranha e fascinante galeria de personagens, gente vinda do mundo inteiro para cumprir todo tipo de ambição, como se convergissem para lá os pontos de uma realidade que parece se esfacelar. É nesse espelho quebrado de nacionalidades e aspirações que o protagonista tentará juntar os cacos de sua própria vida e recriar sua existência.
Não por acaso a prestigiosa crítica Michiko Kakutani chamou o romance de “A morte de um caixeiro-viajante globalizado”: a ideia de um povo construindo a imagem de um país, central ao grande romance americano, é invertida aqui pela noção de que este país está agora sendo reconstruído de fora. O protagonista que busca um contrato no deserto saudita para vencer os chineses é um símbolo poderoso dessa mudança, e ninguém mais hábil do que Eggers, um dos grandes prosadores contem-porâneos, para esmiuçar literariamente as ondas de choque que vêm transformando o mundo num ritmo tão vertiginoso.
Num romance carregado de tensão, Eggers realiza uma poderosa elegia aos tempos modernos, uma história não apenas sobre tempos atuais, mas um retrato tocante e sensível de como chegamos até aqui.

Sempre em Movimento - Uma vida - Oliver Sacks
Quando Oliver Sacks tinha doze anos, um professor bastante sagaz escreveu num relatório: “Sacks vai longe, se não for longe demais”. Hoje está absolutamente claro que Sacks jamais parou de ir. Desde as primeiras páginas deste comovente livro de memórias, em que relata sua paixão de juventude pelas motos e pela velocidade, Sempre em movimento parece estar carregado dessa energia. Conforme fala de sua experiência como jovem neurologista no início dos anos 1960 - primeiro na Califórnia, onde lutou contra o vício em drogas, e depois em Nova York, onde começa a despontar como pesquisador -, vemos como sua relação com os pacientes veio a definir sua vida.
A ideia de estar sempre em movimento alimentou não apenas suas pesquisas, mas também sua vida. Quando revelou à família que era homossexual, ouviu de volta da mãe que ele era “uma abominação”. A mãe foi eventualmente perdoada, mas a sentença o fez abandonar a Inglaterra e o colocou na estrada. Nessas viagens, cruzando de ponta a ponta um país tão familiar quanto estrangeiro, surge o médico que viemos a conhecer: apaixonado, obstinado e perpetuamente curioso com o mundo.
Com a honestidade e o humor que lhe são característicos, Sacks nos mostra como a mesma energia que motiva suas paixões “físicas” - levantamento de peso e natação - alimenta suas paixões cerebrais. Ele escreve a respeito de seus casos de amor, tanto os românticos quanto os intelectuais, sobre a culpa de abandonar a família para ir aos Estados Unidos, sua ligação com o irmão esquizofrênico e os escritores e cientistas que o influenciaram - Thom Gunn, A. R. Lúria, W. H. Auden, Gerald M. Edelman, Francis Crick. Sempre em movimento é a história de um pensador brilhante e nada convencional, o homem que iluminou as muitas formas com que o cérebro nos faz humanos.

O Poder Ultrajovem - E mais 79 textos em prosa e verso - Carlos Drummond de Andrade
O poder ultrajovem reúne textos publicados por Carlos Drummond de Andrade na imprensa entre o final da década de 1960 e o início da década de 1970. Trata-se de um poderoso conjunto de prosa e verso - sempre pendendo para os domínios da crônica, gênero que o grande escritor mineiro praticou como poucos -, em que o olhar maduro e algo desencantado (mas com muita ironia) do autor se debruça sobre os mais diversos aspectos da vida e da sociedade daquela época.
Temas como a amizade, a história do Brasil, a vida no Rio de Janeiro, as artes, o Carnaval, o futebol e até mesmo a ecologia aparecem no estilo leve e sempre afiado de Drummond. As crianças e os jovens ocupam um espaço à parte no livro, pois são agudos os apontamentos a respeito das transformações pelas quais meninos e meninas atravessavam naqueles tempos conturbados em que conviviam, ao menos no Brasil, os hippies e um regime antidemocrático instaurado em 1964 (tendo ficado ainda mais duro e violento justamente na passagem para os anos 1970), a pobreza e a exuberância econômica e cultural da Zona Sul do Rio de Janeiro.
Também do ponto de vista da língua portuguesa, os textos de O poder ultrajovem demonstram a riqueza de vozes e estilos captados por Drummond. A gíria e a língua camoniana convivem lado a lado nos textos, a expressão mais solta e viva da fala carioca conversa em pé de igualdade com a dicção mais culta. Prova de que o poeta mineiro tinha ouvido apurado para entender a vida.
Com posfácio do crítico Alcir Pécora, esta nova edição de um dos mais cativantes livros de Drummond é um brinde à vivacidade e à inteligência sutil de um dos nossos mais estimados escritores.

Seis Meses em 1945 - Roosevelt, Stálin, Churchill e Truman - Da Segunda Guerra à Guerra Fria - Michael Dobbs
Poucos pontos de inflexão na história apresentam tantos aspectos dramáticos como os meses entre fevereiro e agosto de 1945, o período entre a Conferência de Yalta e o bombardeio de Hiroshima.
Os Estados Unidos e a União Soviética se tornaram as duas nações mais poderosas do mundo; a Alemanha nazista e o Japão imperial foram derrotados; o Império britânico estava à beira de um colapso econômico. Um presidente morreu; um ditador doentio que quase conquistou o mundo suicidou-se; um primeiro-ministro que havia inspirado seu povo durante os dias mais sombrios de sua história foi derrotado em eleições livres. Golpes de Estado e revoluções tornaram-se corriqueiros; milhões de pessoas foram enterradas em valas comuns; antigas cidades reduziram-se a pilhas de escombros. Um tsar vermelho redesenhou o mapa da Europa, erguendo uma “cortina de ferro” metafórica entre Oriente e Ocidente.
Reunidos na capital do derrotado Terceiro Reich, os vencedores disputavam os despojos da vitória. De maneira inexorável, o fim da Segunda Guerra Mundial conduziu ao início da Guerra Fria. Os meses que separam Yalta de Hiroshima são um ponto de articulação entre duas guerras muito diferentes - e também dois mundos muito diversos. Eles unem a era da artilharia à da bomba atômica, os estertores do império às dores do parto das superpotências.
Celebram também o encontro inevitavelmente fatal, no coração da Europa, entre os exércitos de duas grandes nações oficialmente aliadas porém guiadas por ideologias opostas. Mais de um século antes, Alexis de Tocqueville havia previsto que americanos e russos deixariam as outras nações para trás. “Seus pontos de partida são diferentes, assim como seus percursos não são os mesmos; contudo, cada um deles parece destinado pela vontade dos céus a conduzir o destino de metade do globo.” Essa é a história das pessoas - presidentes e comissários, generais e soldados rasos, vencedores e derrotados - que deram origem à corrida de gigantes que redefiniria os rumos do mundo.

Lançamentos de Julho - Paralela

Como Ser Feliz (Ou, no Mínimo, Menos Triste) - Lee Crutchley
Com perguntas divertidas e instruções surpreendentes, Como ser feliz (ou, no mínimo, menos triste) ajuda os leitores a verem a vida com novos olhos e redescobrir os prazeres simples que trazem alegria.










Cidade Mágica - Lizzie Mary Cullen
Viaje ao redor do mundo na ponta do lápis! Agora é possível pintar Londres, Paris e Rio de Janeiro. Vistas com o olhar único e divertido de Lizzie Mary Cullen.










Casa em Cores - Durell H. Godfrey
Para todos os fãs de livros de colorir, chega uma novidade para todas as idades. As ilustrações de Durell Godfrey do montante de coisas das nossas vidas ocupadas - mesas cobertas, salas caóticas e pilhas de papéis - estão preparadas para ganharem vida com o ato de colorir. Arrumar pode ser terapêutico, mas colorir é muito mais. Um sossego que funciona tanto para arrumadinhos quanto bagunceiros. É só adicionar cores!






De Todas as Mulheres que Amei (e-book) - Renato de Souza
Pedro já passou por momentos melhores na vida, disso não há dúvida. Diante de um grande mistério, ele precisa rever seu passado para encontrar respostas e tentar reconstruir o futuro com a mulher de seus sonhos. Mas será que é tarde demais?

A Fofa do Terceiro Andar - Cléo Busatto

21 de julho de 2015

Lido em: Julho de 2015
Título: A Fofa do Terceiro Andar
Autora: Cléo Busatto
Editora: Galera Record
Gênero: Juvenil/Literatura Nacional
Ano: 2015
Páginas: 144
Nota: ★★★☆☆
Onde comprar: Saraiva | Submarino | Americanas
Sinopse: A fofa do terceiro andar é a história de Ana, uma menina acima do peso, mas cheia de opinião, que se muda para uma escola nova e começa a sofrer bullying dos colegas - o que a deixa bem irritada, além de frustrada. Quando o ano recomeça, ela muda de turma e conhece um menino que não se importa com padrões de beleza. Francisco não é como os outros garotos que ela já conheceu. Ele enxerga o mundo de forma diferente e começa a ensinar Ana a fazer o mesmo. A focar nos aspectos positivos, a ser gentil com si mesma e, principalmente, a não tentar se encaixar em um molde que não é o seu. Afinal, imagina como seria chato se o mundo fosse visto por todos da mesma forma?

Resenha: Ana é uma adolescente de quatorze anos que sempre foi acima do peso. Quando criança ela não tinha muita noção e nem entendia como maldade os apelidos que recebia, mas o tempo passou e ela começou a enxergar as coisas de outra forma quando os colegas de sua nova escola passaram a praticar bullying contra ela. Descobrir que ser "fofa" nem sempre é algo positivo e todas as implicâncias que ela vinha enfrentando devido a ser gordinha desencadearam uma depressão na garota. Cada vez ela se sentia mais desanimada e sozinha, logo, a ansiedade fazia com que ela comesse mais e mais. Até que Ana, que sempre gostou muito de ler, resolveu que manteria um caderno como diário, um confidente, a fim de colocar pra fora seus medos e anseios, uma forma de terapia que poderia ajudá-la a lidar com o que estava passando. Mas um pequeno incidente na escola envolvendo um lanche, um tombo e muita humilhação virou um enorme constrangimento. Isso fez com que Ana ficasse mais arrasada ainda, mas foi o que fez com que ela mudasse de vida: ela iria se esforçar para acabar com todo aquele peso extra que, na cabeça dela, era o responsável por lhe fazer tão mal, por fazê-la ser uma garota tão melancólica e odiar sua vida e tudo o que tem nela. A mudança que ocorre é física, mas também psicológica pois ela se redescobre como pessoa e se mostra alguém determinada a alcançar objetivos.
Mas ao conhecer Francisco, um garoto diferente de todos aqueles que já conheceu, mesmo que Ana esteja mais confiante em si mesma, ela acaba percebendo que a beleza é algo subjetivo e que a vida é muito mais legal quando estamos em companhia de pessoas que aparecem para somar. A aparência realmente importa ou o que vale é quem somos por dentro?

Por ser escrito em forma de diário, o livro é narrado em primeira pessoa e a ideia é fazer o leitor ter acesso aos pensamentos mais íntimos e profundos da protagonista, acompanhando sua trajetória em busca da felicidade. A escrita é bem fluída, muitas vezes poética, e com uma riqueza sem tamanho no que diz respeito a referências culturais.
Apesar de retratar uma personagem que consegue superar os problemas com muita força de vontade mostrando seu progresso incrível e inspirador, o livro me soou como uma obra de autoajuda em vez de uma leitura ficcional comum devido a forma como foi escrito. A impressão é que as palavras de Ana são lições, um passo-a-passo de como encarar os obstáculos da vida em busca de superá-los.
Ana escreve em seu caderno o que vivencia, o que passa e o que pensa, mas tudo descrito com um teor muito maduro pra idade da personagem. Senti que Ana é uma adolescente com um espírito bem adulto, tanto pela forma como escreve, como pela sua percepção em descrever - e analisar - as pessoas a sua volta, quanto pelos seus gostos musicais e literários. Em vários momentos não senti que eu lia o que uma adolescente escreveu. Eu pelo menos não conheço nenhum adolescente na faixa dos quinze anos que seja fã de Beattles, Rita Lee e afins, mesmo que os pais tenham deixado esses gostos como herança...

Ana é uma personagem que, com certeza, fará com que muitas pessoas se identifiquem com ela pois é mais comum do que pensamos existir quem seja insegura e esteja infeliz por não se encaixar nos padrões de beleza que a sociedade impôs. Não só devido à sua característica física, mas também no que diz respeito a parte intelectual. Ana é muito caseira, prefere se aventurar pelas páginas de um livro do que sair com as amigas e tenho certeza que a maioria dos leitores também é assim. Eu mesma me identifiquei com ela, com seus gostos, atitudes e forma de encarar a vida, e pensem que já passei dos 30... logo, acredito que o livro cumpra com o tarefa e possa servir de inspiração para aqueles que têm inseguranças, medos e problemas de autoestima enquanto entram e enfrentam essa fase tão difícil e complicada que é a adolescência,

Talvez a história de Ana dê uma luz àquelas adolescentes que se encaixam nessa situação de desconforto e não saibam por onde começar a mudança em suas vidas. O exemplo dela é mais do que indicado para uma reflexão sobre superação, realização e felicidade, e mais importante do que isso: mostra que devemos correr atrás de mudanças pra sermos felizes, e não para agradar os outros. Quando estamos de bem com nós mesmos, a opinião do resto, principalmente as maldosas, se torna irrelevante.

Feitiço - Nancy Holder e Debbie Viguié

20 de julho de 2015

Título: Feitiço - Wicked #4
Autoras: Nancy Holder e Debbie Viguié
Editora: Jovens Leitores/Rocco
Gênero: Fantasia
Ano: 2015
Páginas: 320
Nota: ★★★☆☆
Sinopse: Desde que descobriu ser a mais nova de uma linhagem de bruxas, a antiga Confraria das Cahors, a vida de Holly Cathers passou por muitas mudanças. E não seria para menos. Sua família vivia há séculos uma rixa com outra confraria de bruxos, os Deveraux, e ela acabou se envolvendo justamente com um deles, o jovem Jer. Depois de Bruxaria, Maldição e Legado, em Feitiço, o quarto livro da série Wicked, Holly terá que enfrentar o líder dos Deveraux, o perigoso Michael. Se ela já salvou a vida de Jer no passado, agora é a vez de o rapaz resgatar sua alma gêmea. Contudo, um novo bruxo chega à cidade. Será que o futuro de Holly está a salvo?

Resenha: Feitiço é o quarto volume da série Wicked, escrita pelas autoras Nancy Holder e Debbie Viguié e publicado no Brasil pelo selo Jovens Leitores da Editora Rocco.

Por se tratar de continuação, a resenha pode ter spoiler dos livros anteriores.

Após os acontecimentos de Legado, em que Holly havia sido possuída por demônios quando saiu do Tempo dos Sonhos, a Confraria Tripla está bastante desorganizada pela ausência dela. O chefe da Suprema Confraria, Sir William Moore, estava satisfeito por todo o caos e mortes dos quais as bruxas de Seattle haviam sido acometidas. O único porém era que três bruxas ainda viviam: Holly e as irmãs gêmeas, Amanda e Nicole. Michael Deveraux ainda não conseguira destruí-las e Sir William tomou a tarefa para si. Com objetivos sombrios, o servo do mal realizou um ritual macabro para enviar seus Golens atrás de Nicole para matá-la.
Enquanto isso, Amanda estava em Seattle com Tommy, confiante por saber que a Deusa sabe do paradeiro dos outros já que Holly estava possuída e louca, e Nicole havia sido levada por Eli e James, os filhos de Michael. Ela agora estava presa em Avalon e se tornara serva de Philippe. Sua única companhia era Astarte, a gata.
Amanda acreditava que Holly pudesse inclusive estar morta mas mal sabia que Michael tinha planos terríveis para controlá-la pois, com a garota sendo subserviente a ele, a hora seria perfeita para tentar tomar o Trono dos Crânios e ser líder da Suprema Confraria.
Diante desta situação desesperadora, resta que Jer tente resgatar Holly, sua alma gêmea, para salvá-la das garras de seu pai. A Confraria Tripla está em perigo e a única salvação é se Holly voltar a si...

Narrado em terceira pessoa e com alguns trechos em itálico evidenciando o pensamento em primeira pessoa de algum personagem, Feitiço segue com a escrita complexa e muitas vezes confusa já que muitos dos fatos presentes são narrados no tempo passado enquanto se misturam com pensamentos atuais. Parece que a ideia é situar ou relembrar o leitor do que se passa, mas a confusão está justamente nessa mistura ao mostrar o que está acontecendo agora, porém, sendo descrito no passado. Tais descrições aparecem com frequência e quando o fato ocorreu há muitos e muitos anos atrás pode-se confundir como sendo algo recente e vice versa, mesmo que haja indicação de tempo e local. É esse o problema com os livros dessa série, pois por mais que o enredo seja interessante e a trama seja muito boa, a narrativa é um fator que atrapalha e confunde devido ao tempo verbal que as autoras utilizam.

A abordagem da magia negra é de arrepiar e não há censura nas descrições macabras ou malignas para os rituais que envolvem espíritos, sangue e morte, o que torna a história bastante pesada para leitores mais jovens ou de estômago fraco.
Nesse volume em especial posso dizer que gostei e me envolvi mais com a história pois várias coisas estão acontecendo ao mesmo tempo e é angustiante ver Holly na posição em que ela se encontra enquanto seu eu interior está aprisionado e ela luta para conseguir escapar das garras dos demônios que estão dentro de seu corpo a controlando, principalmente porque Michael quer controlá-la também.
Alguns pontos me soaram um tanto absurdos, como a gravidez mágica de Nicole que despertou a atenção de Eli a ponto de fazê-lo mudar a própria personalidade de bad boy pra "pai" preocupado quando na verdade sabemos que nem sempre um filho é o real responsável pela mudança de caráter de alguém. Os ataques a Seattle que destruíram a cidade não me convenceram porque a história se passa num mundo onde existem pessoas comuns além das bruxas e acho que tudo deve acontecer dentro da nossa realidade para se tornar crível. As pessoas vêem todo aquele caos e ai?

Enfim... Os vilões estão cada vez mais perigosos e posso afirmar que nunca vi em nenhuma outra série personagens tão malignos e com propósitos tão sombrios como em Wicked. O mal e o caos que os vilões estão dispostos a causar vão além do nível de qualquer maldade que já acompanhei em qualquer história e tudo que eles fazem é de dar medo.
Os personagens secundários, tanto os vivos quanto os espíritos, são bastante bem construídos e enfim os personagens "irrelevantes" tiverem a morte que eu tanto esperei. Acho que o excesso de personagens era um fator que estava colaborando para que a série se tornasse arrastada e confusa com personagens que não tinham um desenvolvimento maior. Alex Carruthers é um personagem que chegou a cidade, bonito e cheio de carisma, e sua presença pode abalar algumas estruturas... Sua intenção é ajudar a salvar a Confraria Tripla mas acaba se envolvendo com coisas e pessoas além do propósito inicial...
Há reviravoltas emocionantes envolvendo redenção de quem menos se esperava, incluindo a morte de um vilão que pensei que não deixaria de atormentar os outros tão cedo. O final é chocante, Holly faz escolhas que jamais imaginei que faria e muitas perguntas sobre personagens e outros acontecimentos ficam no ar.

A capa, seguindo o mesmo padrão das anteriores, é bem bonita e chamativa. Ela é aveludada, com aplicação de verniz no títulos e nomes das autores. A contracapa também tem um efeito em verniz que lembra sangue espirrado e é bem legal. A diagramação é simples, seguindo a mesma linha dos anteriores, os capítulos são iniciados com um cântico, a revisão está ótima e as páginas são amareladas.

Não digo que Wicked seja a melhor série fantástica sobre bruxaria que já li, pois como mencionei anteriormente, a escrita das autoras continua confusa até para os leitores mais atentos. Elas não hesitam em matar personagens sem a menor piedade, ou descrever cenas macabras sem a menor censura, mas vale a leitura pela ideia da história, com certeza.